Foi aí que Harry despiu a Capa da Invisibilidade. Muitos gritavam e berravam.
- HARRY! - Kally gritou.
- ELE ESTÁ VIVO! - Alguém mais gritou.
A multidão ficou em silêncio quando Voldemort e Harry se encararam.
- Não quero que mais ninguém tente ajudar. - Harry disse em voz alta, sua voz ecoando. - Tem que ser assim. Tem que ser eu.
- Potter não está falando sério. - Voldemort disse, arregalando os olhos. - Não é assim que ele age, é? Quem você vai usar como escudo hoje, Potter?
- Ninguém. - Harry respondeu. - Não há mais Horcruxes. Só você e eu. Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver, e um de nós está prestes a partir para sempre...
- Um de nós? Você acha que vai ser você, não é, o garoto que sobreviveu por acaso e porque Dumbledore estava puxando os cordões?
- Acaso, foi? Quando minha mãe morreu para me salvar? - Harry desafiou. - Acaso, quando decidi lutar naquele cemitério? Acaso, quando não me defendi hoje à noite e, ainda assim, sobrevivi e retornei para lutar?
- Acasos! - Voldemort berrou. - Acaso e sorte e o fato de você ter se escondido e choramingado atrás das saias de homens e mulheres superiores a você, e me permitido matá-los em seu lugar!
- Você não matará mais ninguém hoje à noite. - Harry disse, olhando-o nos olhos. - Você não será capaz de matar nenhum deles, nunca mais. Você não está entendendo? Eu estive disposto a morrer para impedir que você ferisse essas pessoas...
- Mas você não morreu!
- ... mas tive intenção, e foi isso que fez a diferença. Fiz o que minha mãe fez. Protegi-os de você. Você não reparou que nenhum dos feitiços que lançou neles são duradouros? Você não pode torturá-los. Você não pode atingi-los. Você não aprende com os seus erros, Riddle, não é?
- Você se atreve...
- Me atrevo, sim! Sei coisas que você ignora, Tom Riddle. Sei muitas coisas importantes que você ignora. Quer ouvir algumas, antes de cometer outro grande erro?
- É o amor de novo? - Zombou Voldemort. - A solução favorita de Dumbledore, amor, que ele alegava conquistar a morte, embora o amor não o tivesse impedido de cair da Torre e se quebrar como uma velha estátua de cera? Amor, que não me impediu de matar sua mãe sangue-ruim como uma barata, Potter; e ninguém parece amá-lo o suficiente para se apresentar desta vez e receber a minha maldição. Então, o que vai impedir que você morra agora quando eu atacar?
- Só uma coisa. - Harry respondeu.
- Se não for o amor que irá salvá-lo desta vez, você deve acreditar que é dotado de uma magia que não tenho, ou, então, de uma arma mais poderosa do que a minha? Creio que as duas coisas.
Voldemort começou a rir.
- Você acha que conhece mais magia do que eu? Do que eu, do que Lorde Voldemort, capaz de magia com que o próprio Dumbledore jamais sonhou?
- Ah, ele sonhou, sim, mas sabia mais do que você, sabia o suficiente para não fazer o que você fez.
- Você quer dizer que ele era fraco! - Voldemort berrou. - Fraco demais para ousar, fraco demais para se apoderar do que poderia ser dele, do que será meu!
- Não, ele era mais inteligente do que você, um bruxo melhor e um homem melhor.
- Eu causei a morte de Alvo Dumbledore!
- Você pensa que causou, mas se enganou.
Todos assistiam atentamente os dois, que estavam no centro do salão.
- Dumbledore está morto! O corpo dele está apodrecendo no túmulo de mármore nos jardins deste castelo, eu o vi, Potter, e ele não irá retornar!
- Dumbledore está morto, sim - Harry respondeu calmamente. - Mas não foi você que mandou matá-lo. Ele escolheu como queria morrer, escolheu meses antes de morrer, combinou tudo com o homem que você julgou que era seu servo.
- Que sonho infantil é esse?! - Voldemort exclamou.
- Severo Snape não era homem seu. Snape era de Dumbledore, desde o momento em que você começou a caçar minha mãe. E você nunca percebeu, por causa daquilo que não pode compreender. Você nunca viu Snape conjurar um Patrono, viu, Riddle? - Harry perguntou, mas Voldemort não respondeu. - O Patrono de Snape era uma corça. O mesmo que o de minha mãe, porque ele a amou quase a vida toda, desde que eram crianças. Você devia ter percebido, ele lhe pediu para poupar a vida dela, não foi?
Kally estava surpresa com essa revelação. Nem mesmo ela, filha de Snape, sabia de seu Patrono, muito menos que o Patrono de sua mãe também era uma Corça. Agora fazia todo o sentido seu Patrono ser uma Corça.
- Ele a desejava, nada mais, mas, quando ela se foi, ele concordou que havia outras mulheres, de sangue mais puro, mais dignas dele...
- Naturalmente foi o que Snape lhe disse, mas ele se tornou espião de Dumbledore a partir do momento em que você a ameaçou, e dali em diante trabalhou contra você! Dumbledore já estava morrendo quando Snape o matou!
- Não faz diferença! Não faz diferença se Snape era meu seguidor ou de Dumbledore, ou que mesquinhos obstáculos ele tentou colocar em meu caminho! Eu os esmaguei como esmaguei sua mãe, o pretenso grande amor de Snape! Ah, mas tudo isso faz sentido, Potter, e de modos que você não compreende! Dumbledore tentou me impedir de possuir a Varinha das Varinhas! Queria que Snape fosse o verdadeiro senhor da varinha! Mas passei à sua frente, garotinho: cheguei à varinha antes que você pudesse pôr as mãos nela, compreendi a verdade antes que você a percebesse. Matei Severo Snape há três horas, e a Varinha das Varinhas, a Varinha da Morte, a Varinha do Destino é realmente minha! O último plano de Dumbledore falhou, Harry Potter!
Os olhos de Kally se encheram de lágrimas novamente ao ouvir Voldemort. Ao mesmo tempo, Kally sentiu muito orgulho de seu irmão por defender seu pai.
- É, falhou. Você tem razão. Mas, antes de você tentar me matar, eu o aconselharia a pensar no que fez... pensar, e tentar sentir algum remorso, Riddle...
- Que é isso?
- É a sua última chance, e é só o que lhe resta... vi em que se transformará se não aproveitá-la... seja homem... tente sentir algum remorso...
A mão de Voldemort tremia segurando a Varinha das Varinhas.
- A varinha não está funcionando corretamente para você, porque você matou a pessoa errada. Severo Snape jamais foi o verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas. Ele jamais derrotou Dumbledore.
- Ele matou...
- Você não está prestando atenção? Snape nunca derrotou Dumbledore! A morte de Dumbledore foi planejada pelos dois! Dumbledore pretendia morrer sem ser derrotado, o último e verdadeiro senhor da varinha! Tudo correu conforme ele planejou, o poder da varinha morreria com ele, porque jamais foi arrebatada de suas mãos!
- Mas, então, Potter, Dumbledore praticamente me entregou a varinha! Roubei a varinha do túmulo do seu último senhor! Retirei-a, contrariando o desejo do seu último senhor! O seu poder é meu!
- Você ainda não entendeu, não é, Riddle! Possuir a varinha não é o suficiente! Você não escutou o que Olivaras disse? A varinha escolhe o bruxo... A Varinha das Varinhas reconheceu um novo senhor antes de Dumbledore morrer, alguém que jamais tinha posto a mão nela. O novo senhor tirou a varinha de Dumbledore contra sua vontade, sem perceber exatamente o que tinha feito, ou que a varinha mais perigosa do mundo lhe dedicara a sua fidelidade...
Kally viu que Voldemort estava prestes a lançar a Maldição da Morte em Harry, a qualquer segundo.
- O verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas era Draco Malfoy.
O coração de Kally congelou de repente.
Voldemort ficou em choque por um momento.
- Que diferença faz? Mesmo que você tenha razão, Potter, não faz a menor diferença para você nem para mim. Você não possui mais a varinha de fênix: duelaremos apenas com a perícia... e depois de tê-lo matado, posso cuidar de Draco Malfoy...
- Mas é tarde demais. Você perdeu sua chance. Cheguei primeiro. Subjuguei Draco faz semanas. Arrebatei a varinha dele.
Harry girou a varinha que segurava, era a antiga varinha de Draco.
- Então, a questão se resume nisso, não é? Será que a varinha em sua mão sabe que o seu último senhor foi desarmado? Porque se sabe... eu sou o verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas.
Os dois se olharam por um instante.
- AVADA KEDAVRA!
– EXPELLIARMUS!
O jato verde saiu da Varinha das Varinhas ao encontro do feitiço de Harry. A varinha que Voldemort segurava voou para o alto que Harry a pegou.
Voldemort caiu para trás de braços abertos. Ele havia morrido pelo ricochete de sua própria maldição. Um minuto de silêncio se espalhou pelo salão antes de todos gritarem e comemorarem.
Kally imediatamente correu para os braços do irmão, chorando de felicidade e alívio. Os dois se deram um firme abraço.
Kally, então, deixou os outros cumprimentarem e abraçarem Harry. Foi aí que olhou por todos os cantos do salão à procura de Draco, mas ele e seus pais haviam fugido.