Como todos os outros anos, Kally e os outros alunos colocaram os uniformes no trem, antes de chegarem em Hogwarts. Kally, Gina, Alisson e Luna foram juntos em uma das carruagens até o castelo.
As quatro se separaram ao chegarem no salão principal, cada uma indo para a mesa de sua Casa. Kally foi se juntar a Melia, Astoria, Ella e Megan.
A atmosfera da escola nunca esteve assim antes, sombria. Os alunos mal conversavam, e os poucos que conversavam, faziam no máximo em sussurros. Kally havia notado, tanto na estação e no trem, como agora no salão, que haviam menos alunos do que o normal.
Claro que isso faria sentido visto os acontecimentos recentes e o novo corpo docente da escola, mas agora era obrigatório estudar em Hogwarts. O motivo de terem menos alunos era que a partir de agora o Ministério estava investigando o sangue bruxo em cada família, sendo assim, nascidos-trouxas não eram mais aceitos na escola.
Dino Thomas, Colin e Dennis Creevey, e muitos outros estudantes não voltaram para Hogwarts nesse ano.
Como sempre, antes do banquete o diretor (que nesse ano era Snape), se levantou para dizer algumas coisas. Ele sequer precisou pedir silêncio para os alunos.
- Como muitos de vocês já ficaram sabendo, para aqueles que são ignorantes o suficiente e não leem o jornal, este ano assumirei o cargo de diretor de Hogwarts...
Kally estava de cabeça baixa desde o momento que entrou no salão, não queria fazer contato visual com seu pai.
Megan cutucou Kally, que virou a cabeça de leve, sem precisar olhar para seu pai.
- Ele não para de olhar pra cá. - Megan sussurrou.
Kally teve de vencer sua curiosidade em ver se Severo realmente não tirava os olhos da mesa da Sonserina.
- Temos algumas mudanças para este ano: Estudo dos Trouxas agora se tornou matéria obrigatória, e Aleto Carrow ficará encarregada de lecionar essa aula - uma mulher ruiva toda de preto levantou e rapidamente se sentou. - , e a antiga matéria de Defesa Contra as Artes das Trevas passará a ser Artes das Trevas - ouviram-se sussurros entre os alunos. - e Amico Carrow lecionará essa aula.
Não demorou muito para que o banquete fosse servido e, pela primeira vez em todos os anos de Kally estudando em Hogwarts, os alunos estavam quietos em sua maioria.
Durante esse tempo todo Kally continuou de cabeça baixa, encarando seu prato.
- Ele continua olhando para cá. - Melia observou.
Astoria apertou o braço de Kally como forma de consolo. Kally deu um leve sorriso para a amiga, mas logo retornou à sua expressão séria.
Os alunos saíram do salão em silêncio. No caminho para a Sala Comunal da Sonserina, Kally foi parada por McGonagall.
- Sim, professora?
- Ah, o diretor me pediu para que eu a chamasse. Ele está a sua espera na sala dele. - Minerva disse, com um olhar de pena para Kally.
Suas amigas olharam para Kally.
- Tudo bem... Encontro vocês depois. - ela disse, indo na direção oposto das amigas, e caminhando em silêncio logo atrás da professora de Transfiguração.
Quando chegaram na entrada da sala do diretor, as duas pararam. Minerva pareceu refletir consigo mesma sobre alguma coisa.
Ela disse a senha da entrada, e a gárgula que guarda a entrada começou a se mexer.
Antes de Kally se mexer e entrar, Minerva se aproximou de Kally e a abraçou.
- Obrigada, professora. - Kally disse, uma lágrima caindo de seu olho.
E então Kally entrou na sala do diretor.
- Queria me ver, diretor? - Kally perguntou, sempre de cabeça baixa, sem fazer contato visual com o pai.
- Sabe que entre nós dois eu sou seu pai, e não seu professor ou diretor. - Severo disse.
Kally não falou nada.
- Sente-se.
Ela se sentou de frente para onde ele estava sentado.
- Como foram suas férias, querida?
Kally ponderou por um momento como lidaria com a situação. Segurou as lágrimas e respondeu:
- Boas, na medida do possível. Mas passei com as pessoas que realmente se importam comigo. Meu irmão, os Tonks e os Weasley.
Severo pareceu pensar no que falar.
- Ah, eu queria dizer...
- Se o senhor só queria saber das minhas férias, eu posso ir? Não tem porque ficarmos de papo furado, afinal sou só uma aluna, como qualquer outro estudante, e você é só o diretor, não precisa nem tem o direito de se meter na minha vida... Não mais.
Severo ficou sem palavras.
- Então tá. - Kally disse, levantando e indo embora.
Pela primeira vez em muito tempo, Severo ficou sem saber o que dizer à sua filha. Ela realmente havia dito tudo isso? Ele pensou que teria preferido se ela tivesse gritado ou chorado na frente dele, mas ver sua filha falando com ele com tanta frieza, como se ele só fosse seu professor, isso partiu o coração dele.
É claro que ele não esperava nada de bom dessa conversa, mas havia imaginado que, como todos esses anos já provaram para ele, Kally iria lidar com a situação como Lily teria lidado, como a mãe dela sempre lidava com esse tipo de situação, brigando, gritando por justiça. Mas não, Kally agiu exatamente como ele teria agido nessa situação, com frieza, sem demonstrar nenhuma emoção.