Safira.
Cassian não quis tratar daquele assunto agora, ele saiu cuspindo fogo pelas narinas junto com Nestha, eu me soltei de Aron e passei por Nyx.
Saí correndo atrás dos dois os alcançando ni corredor.
— Não podem destruir o vilarejo! -soluçei ficando na frente deles.
— Não é bem uma coisa que se impeça. -grunhiu Cassian.
— Tem crianças lá! —minha voz falhou— por mais que eu tenha sofrido, eu não quero que elas sofram, e fiquem sem pais igual a mim. -sussurrei.
Eles pararam, me encarando.
— Eles podem me chamar de aberração até sua próxima geração, mas as poucas crianças de lá gostavam de mim. —falei— não quero que elas se machuquem, e fiquem sem pai e sem mãe.
Ouvi um suspiro mais do que pesado e sabia que era de Cassian.
— Por favor. -sussurrei.
— Não vamos matar os renegados. —grunhiu Cassian— vamos dar um susto. -ele passou por mim.
— Fale por você. -bufou Nestha.
Ele a encarou.
— Tá bem, um susto. —ela revirou os olhos— mas quem vai matar o líder deles sou eu.
— Não. —disse Cassian— a família toda vai.
Eu engoli em seco.
Nestha passou por mim, dando um beijo em minha testa antes de se juntar a Cassian, sua expressão assassina voltando.
— Voltamos logo.
E atravessaram.
Eu corri para o quarto, vendo Nyx e Aron sentados na cama.
— Não vai achando que porque é parceiro dela que vai ficar se engraçando pro lado da minha irmã. -bufou Aron.
Pareciam duas crianças chutando a perna um do outro.
— Quem decide isso é ela não você. -rebateu Nyx lhe dando outro pontapé.
— Quem disse? -questionou Aron cruzando os braços.
— Perdão, quem é a minha parceira? Safira ou você? -ele questionou com deboche.
— Aron. -chamei.
Eles ergueram os olhares para mim.
— Eu vou sair. -falei indo até o banheiro e fechando a porta.
— Como é?? -questionaram juntos.
— Nem pensar, está louca? -questionou Nyx.
Eu saí, lembrei que tinha poucas roupas comigo, merda.
— Eu vou, não pedi permissão de nenhum dos dois. -falei remexendo na gaveta.
Eles tinham de estar ali, eu os usava quando cheguei.
— Achei! -sussurrei aliviada.
Pus os dois braceletes e o colar, em cada bracelete um diamante assim como no cordão.
— Vai pra onde? -questionou Nyx encarando as jóias.
Nem tão jóias.
Eu bati em cada sifão e uma armadura negra me cobrou como uma segunda pele, os dois machos me encararam boquiabertos.
— No vilarejo. -falei.
Eu não esperei questionamentos, eu apenas atravessei, a travessia me lançou no céu tempestuoso acima do vilarejo, minhas asas bateram quando comecei a sobrevoar, em busca de algo, e encontrei, seria cega se não visse o fogo por todo o lado, estava nos arredores, mas não atingia as casas, fogo prateado semelhante ao meu.
— Semelhante atraí semelhante. -estremeci.
Pude ver Nestha, ela e Cassian vasculhavam aquele vilarejo como feras selvagens, prontos para matar.
Ouvi pequenos gritos e olhei em direção ao círculo de crianças que estavam longe do conflito, mas... Uma árvore atingida pelas chamas agora ia em sua direção.
Não pensei duas vezes, fechando minhas asas eu mergulhei do céu, com os sifões brilhando eu atingi o chão com um estrondo, desferindo um soco na direção da árvore, formando um escudo de diamante que impediu que atingisse as crianças.
— Safira! -disseram as sete em coro.
— Oi pequenos. -sorri de lado.
O escudo se desfez, e outra árvore estava a caminho, as crianças gritaram e eu me preparei, antes que nos atingisse escuridão nos envolveu, demorei a perceber que estava sendo segurada, eu encarei o macho de olhos azuis violeta que havia formado um escudo de noite ao redor de todos nós.
— Você está bem? -a voz dele soou rouca.
Eu assenti me soltando dele.
— Obrigada. -me esforcei a dizer.
— Oh, ela sabe agradecer? -ele sorriu felino.
— Agora não. -rosnei.
Direcionei a magia do sifão a uma árvore que fora lançada para longe de uma casa.
— O fogo é uma parede. —disse Nyx— tia Nestha não quer que alguém fuja.
— Eu sei quem. -murmurei.
Aron pousou em nossa frente.
— Cuidem das crianças, vou resolver uma coisa. -murmurei me lançando para cima.
Aron e Nyx encararam as crianças.
— Você é feio. -um dos meninos apontou para Nyx.
— O que?? A fumaça deve ter afetado a visão dessas pobres criaturas. -disse Nyx incrédulo.
Aron caiu na gargalhada aplaudindo o garoto.
Eu sobrevoei o fogo, tentando ao máximo não inalar a fumaça, pude ver então, Nestha e Cassian estavam encurralando Brook, podia ver o demônio nos olhos de cada um.
— O que querem aqui? -rosnou Brook.
— Matar você? -tentou Cassian.
Brook olhou para cima, me encarando, ele rosnou furioso.
— Eu ainda te mato, sua vadia. -ele rosnou.
Cassian rugiu para ele, então Brook fez algo que pensei que ele não conseguisse, ele atravessou. Sumindo dali.
Nestha rugiu de raiva.
Eu tossi tentando subir para cima, a fumaça adentrando meus pulmões.
Voei com desleixo, perdendo o controle, eu estava caindo, quando fui pega por um macho, Nyx.
— Inferno mulher! Você é teimosa. -ele grunhiu batendo as asas.
— Você não manda em mim, palhaço noturno. -rebati em uma tosse.
Nyx grunhiu, seu poder apagando as chamas ali com um único sopro. Aron subiu, se juntando a nós.
— Safira...
— Eu estou bem. -tossi.
— Engana outro. -bufou Nyx.
— Eu já disse que estou bem. -rebati.
— Está querendo enganar o seu parceiro? -ele arqueou uma sobrancelha.
Eu travei.
— Como pode ter tanta certeza que sou sua parceira? -o confrontei.
— Seria um louco se não soubesse que a jóia que brilha mais do que as estrelas, me pertence. -ele disse.
Eu me calei, e então ele e Aron atravessaram, surgindo em velaris eles subiram a montanha com poder, suas asas pareciam ser inimigas da natureza pois elas conseguia enfrentar até mesmo o ar.
Nyx pousou na sacada do meu quarto.
— Aron, me deixe sozinho com ela. -disse Nyx.
— De jeito nenhum. -protestou ele.
O poder de Nyx o empurrou para fora do quarto, fechando a porta, Nyx me pôs na cama, e então me encarou.
Eu cruzei meus braços, a armadura sumindo.
— Está certo de que eu não suporto você e você não me suporta. -ele disse.
— Você é tão inteligente. -ironizei.
Ele rosnou baixo.
— Mas querendo ou não, somos parceiros. -ele disse.
— A mãe gosta de me castigar sem eu ter feito nada pra ela. -bufei.
— Não precisamos ficar juntos. -declarou Nyx.
Eu o encarei surpresa.
— Mas, cuidaremos um do outro, e fica tudo resolvido. -ele disse.
Eu arqueei uma sobrancelha.
— Você vive sua vida e eu a minha, não precisamos ficar juntos, apenas se um precisar o outro ajuda e visse versa, que tal? -ele questionou.
Eu me mexi na cama.
— Justo. -curvei os lábios para cima.
— Ótimo, preferiria pular de um prédio com as asas amarradas do que beijar você. -ele fez careta.
— E eu perder as asas. -mostrei a língua para ele.
— Então estamos de acordo? -ele grunhiu.
— Estamos. -virei o rosto.
— Ótimo. -dissemos carrancudos.
Aron adentrou o quarto.
— Sabem que não vão conseguir cumprir com isso, não é? -ele questionou entediado.
— Quer apostar? -questionamos.
— Vocês já perderam. -ele sorriu maligno.
— Nos vemos amanhã. -Nyx revirou os olhos antes de se lançar da sacada.
Aron me encarou.
— Quê? -questionei.
— Nada, descanse. -ele beijou minha cabeça, se retirando do quarto.
Eu suspirei, não conseguia parar de pensar nessa loucura de parceria, nem vivi a minha vida direito.
Alguém bate a porta, eu virei meu olhar para Nestha que adentrou o quarto.
— Como foi? -me fiz de desentendida.
— Não dê uma de seu pai, nós sentimos o seu cheiro lá. -ela arqueou uma sobrancelha.
— Se eu não estivesse lá, as crianças teriam morrido esmagadas por uma árvore flamejante. -falei.
Ela assentiu.
— Não consegui controlar o fogo a partir dali. -ela confessou.
Eu assenti.
Ela tocou meu rosto.
— Ele escapou, mas não se preocupe, não vamos descansar até que o encontremos e o façamos pagar por tudo o que você passou. -ela disse.
Eu assenti.
— Cadê o Cassian? -perguntei.
Ela suspirou.
— Ele está irritado por tê-lo deixado fugir, ele não quer que você o veja daquele jeito. -ela disse.
Eu assenti.
— Descanse. -ela beijou minha cabeça.
— Boa noite, Nestha. -falei.
Ela parou na porta.
— B-boa noite. -ela disse contendo a voz embargada.
"Seja feliz como nunca foi".
Ela saiu, e eu fiquei sozinha, por longas horas, eu não dormia, e os trovões agora eram os chicotes, me assustando, peguei no cochilo.
E quando um trovão soou eu abri os olhos, levantando assustada.
Ofegante.
Eu olhei para a porta, como se ainda pudesse vê-la alí, parada, se segurando para não chorar.
Eu caminhei até a porta, levando minha mão a maçaneta, mas eu hesitei.
Me virando para a cama novamente, prestes a me deitar quando uma brisa quente soprou o meu rosto.
"Seja feliz como nunca foi".
Eu suspirei.
"Como nunca foi..."
Um trovão soou e eu dei um salto. Eu peguei o meu lençol.
"Seja feliz como nunca foi".
Eu olhei para a porta decidida, saindo quarto, arrastando meu lençol pelo chão como uma criança, seguindo os seus cheiros.
"Como nunca foi..."
Mais alguns passos.
"Seja feliz..."
— Eu vou. -sussurrei.
Eu abri a porta a minha frente, devagar, vendo o casal dormir.
Eu caminhei devagar, na pontinha dos pés, eu me enfiei por baixo das cobertas ficando no meio deles, eles abriram os olhos, me encarando.
— Mãe? Pai? Posso dormir com vocês? -sussurrei.
Ouvi um soluço da minha mãe, e um fungar do meu pai.
— É claro que pode, meu amor. -sussurrou ela me cobrindo com os lençóis.
Ela me abraçou e eu me aconcheguei nela, meu pai nos abraçou, envolvendo uma das asas sobre nós duas.
Ele beijou minhas cabeça.
— Durma, minha guerreira. -disse ele.
E eu dormi, dormi tranquilamente, como nunca havia dormido na vida.
*Até o próximo capítulo ☄️ deixem seu comentário e seu voto pfvr ☄️*.