O Que Fizemos Naquele VerĂŁo

Por escritora_biaaguiar

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[+18] đŸ„‡ 1Âș LUGAR NA CATEGORIA LGBTQIA+, NO CONCURSO BIGBANG. Naquele verĂŁo, elas estavam no lugar errado, na... MĂĄs

Notas Iniciais
DedicatĂłria
EpĂ­grafe
PrĂłlogo
PARTE I
CapĂ­tulo 1
CapĂ­tulo 2
CapĂ­tulo 3
CapĂ­tulo 4
CapĂ­tulo 5
CapĂ­tulo 6
CapĂ­tulo 7
CapĂ­tulo 8
CapĂ­tulo 9
PARTE II
CapĂ­tulo 10
CapĂ­tulo 11
CapĂ­tulo 12
CapĂ­tulo 13
PARTE III
CapĂ­tulo 14
CapĂ­tulo 15
CapĂ­tulo 16
CapĂ­tulo 17
CapĂ­tulo 18
CapĂ­tulo 19
CapĂ­tulo 20
CapĂ­tulo 21
EpĂ­logo
Notas Finais
EXTRA!
Agradecimentos
Continue acompanhando!

CapĂ­tulo 22

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Por escritora_biaaguiar


Bipbipbip.

June foi despertada pela sintonia hipnótica e constante que insistia em reverberar. Nos primeiros segundos, se permitiu acompanhar o som intruso em meio à escuridão, mas logo aquilo se tornou torturante e ela não teve escolha a não ser despertar sua consciência preguiçosa.

Só não imaginava que aquilo pudesse ser tão difícil.

Quando os controles primários de seu corpo começaram a voltar, trouxeram consigo toda a dor que até então estava longe de sua consciência. O abdômen aparentemente preso em uma cinta apertada parecia triturado, assim como suas costas, delicadamente acolhidas por um colchão macio.

June rapidamente encontrou o caminho até seus lábios e soltou um murmúrio quase inaudível, ao mesmo tempo em que seus dedos tremeram, desesperados para deslizarem até o local ferido, falhando miseravelmente.

— Jun?

A voz melodiosa, ligeiramente distante, era tão inconfundível para June que sua consciência outra vez se recompôs, dando-a o controle parcial sobre os olhos fechados. As pálpebras, por fim, tremeram e ela sentiu uma de suas mãos acolhidas por outras. Era um toque suave, quente.

— Jun! Você está me ouvindo?

A preocupação da voz de Madison era tão real que foi tomada por uma confusão. O que teria acontecido? Onde estava exatamente?

Bip. Bip. Bip.

Profundamente sonolenta, June abriu os olhos e imediatamente irritou-se com a luz forte sobre eles. Um clarão desconfortável insistia em irritar suas retinas, impedindo-a de focar em qualquer coisa que não fosse a luz branca.

Quando estava prestes a desistir da luta silenciosa contra a luz intrometida, seu campo de visão automaticamente escureceu e ela demorou para compreender que alguém havia tampado a luz. Com calma, deixou sua visão se acostumar. O que antes era apenas uma silhueta, começou a tomar forma e o rosto de Madison se revelou, muito próximo do seu, tampando a lâmpada forte.

Inicialmente June deixou-se levar para a garagem, quando viu o rosto alheio de perto, radiante. No entanto, quando a visão se desfez, e o rosto acima do seu ficou claro, ela quase não acreditou.

Madison estava irreconhecível. Sem o sangue cobrindo a extensão dos ferimentos, a pele pode enfim ficar à mostra e, com angústia, notou que o lado ferido estava profundamente inchado, o olho mal abria. Além disso, a pele mostrava grandes hematomas escuros, quase pretos, aparentemente dolorosos.

O que diabos havia acontecido com ela?

Como se o cérebro entendesse que precisava entregar respostas, a mente de June recebeu um turbilhão de imagens e sons. Sangue, dor e violência. Havia água também.

Ofegou.

— Jun, você está me ouvindo? – Madison falava devagar, quase sem mexer os lábios, provavelmente porque não conseguia esticar a pele ferida. – Está tudo bem, estou aqui!

Os olhos verdes – ou pelo menos, o visível – lhe encaravam doloridos. June hidratou os lábios secos, buscando sua voz.

— M-maddie.... – Balbuciou, rouca. Há quanto tempo suas cordas vocais estavam abandonadas? – O que houve com você?

O rosto inchado à sua frente seu contorceu da forma como podia, em uma expressão que parecia de alívio.

— Eu tive uma fratura no osso zigomático e precisei fazer algumas cirurgias no rosto, mas o inchaço vai passar. – Ela choramingou. – Você se lembra de algo?

June se perguntou internamente se ela estava se referindo a confusão de eventos que sua mente ainda processava.

— A-acho que sim. – Murmurou, em dúvida.

Como se a posição de repente ficasse desconfortável, Madison se afastou, sentando-se ao lado da cama, o mais próximo que podia. June praguejou quando a luz mais uma vez incomodou seus olhos.

— Até que parte se lembra?

— Eu não sei ao certo. Tudo está tão confuso....- June suspirou.

Madison segurou sua mão com um pouco mais de força, procurando lhe transmitir alguma segurança.

— Está tudo bem, não precisa se esforçar. Eu conto o que aconteceu.

June notou que estava em um quarto de hospital, o que explicou o som insistente da máquina ligada aos seus batimentos cardíacos. Ao lado direito da cama, havia um sofá e no esquerdo uma cadeira, onde Madison estava. Atrás dela, jazia uma mesa repleta de presentes embrulhados e balões.

Madison abriu a boca para começar o resumo dos acontecimentos, mas June a interrompeu, seus lábios se moveram automaticamente:

— A garota... Kim.- Ela virou o rosto para encontrar os olhos verdes. – Eu a encontrei.

Ah sim, a garota morta. O corpo que passaram o verão procurando. A responsável por uni-las outra vez. A garota cujo nome ela nem sabia se era esse.

Madison baixou a cabeça, como se lembrasse de algo que a incomodava muito.

— Não....- ela hesitou. – Não era ela. 

June franziu as sobrancelhas.

— Como assim?

Madison fez uma pausa.

— Jun, você lembra de quando encontramos as fotos na lagoa? – Ela perguntou, séria. June assentiu devagar. – Nós estávamos certas.

— Sobre o quê?

— Estávamos envolvidas em algo maior. – Ela balançou a cabeça desejando expulsar aqueles pensamentos. – Depois que eu saí da casa, fui em direção ao acampamento e encontrei um grupo que estava nos procurando. Eles cuidaram da gente até a polícia chegar.

Madison soltou um gemido dolorido e parou por um momento, colocando com cuidado, uma das mãos sobre o rosto desfigurado.

— A sua colega de quarto ficou com você enquanto os outros voltavam pra buscar os kits de primeiros socorros. Lembra dela?

A imagem da garota alta de cabelos longos preencheu seus pensamentos.

— Julia... – June sussurrou. – Como eles descobriram?

— Notaram nossa falta.

June não procurou responder. De repente, estava imersa nos acontecimentos, procurando organizá-los, compreendê-los, mas Madison não tinha terminado seu relato:

— Eles procuraram na cachoeira e encontraram o corpo lá. Pensaram que pudesse ser uma de nós, mas pelo estado do corpo era muito antigo.

— A garota das fotos que encontramos na lagoa. – June afirmou, sentindo a cabeça doer com as macabras conclusões.

Madison baixou a cabeça.

— E não foi só isso. Um dos monitores encontrou um quarto secreto dentro dos aposentos do diretor. Ele a mantinha lá, a menina das fotos, seu nome era Emily. A polícia encontrou mensagens que eles trocavam no computador do diretor. – Ela mordeu o lábio. – A data da morte dela coincide com a do sequestro da garota que vimos naquela noite, a Kim. Você tinha razão, o sequestro não era recente. Ele só a matou naquele dia porque... me viu.

Madison se encolheu. Ele as trocava, como uma criança que enjoa de um brinquedo.

— Na casa tinha roupas de diferentes tamanhos e alguns quartos pareciam ser de pessoas diferentes. – Ela fechou os olhos. – Nós descobrimos algo grande, Jun. A polícia está ligando o diretor a vários desaparecimentos. O acampamento está sendo virado ao avesso.

June absorveu em silêncio as palavras alheias. Pensou em cada momento que viveu na floresta e nas coisas bizarras que encontrou ao lado de Madison. Foram tão ingênuas ao imaginar que encontrar o corpo seria o fim de tudo.

— Há quanto tempo estou aqui? – Perguntou, saindo do breve torpor.

Madison afagou de leve o dorso da mão pálida de June, suas unhas estavam arroxeadas.

— Pouco mais de duas semanas. Os médicos sedaram você por causa das costelas. Por pouco seu pulmão não foi perfurado.

Como se lembrasse de algo importante, ela se afastou um pouco para mexer nos bolsos de seu agasalho. Logo, o brilho rubro do canivete apareceu no campo de visão de June.

— A polícia me entregou. – Disse Madison, estendendo o braço para mostrar o objeto. – Sabia que você iria querer de volta.

Com cuidado, ela colocou o canivete na mão de June, que aproveitou por alguns segundos a textura do objeto em seus dedos. Porém, depois desse breve momento, June estendeu o objeto de volta, com um sorriso leve nos lábios.

— Fique com ele.

Madison piscou, aturdida.

— O quê? – Indagou. – Mas sua tia disse...

— Ela só queria que eu abandonasse o medo. – June a interrompeu, gentilmente. – Eu estou bem agora.

Madison sustentou seu olhar por um momento, em silêncio, procurando indícios de hesitação, mas não encontrou nada além de certezas. Sorriu da forma que conseguiu.

Devagar, colocou o canivete em seu bolso outra vez.

— Agora eu tenho certeza de que carreguei esse canivete por tanto tempo não pra me salvar, mas pra proteger aqueles que eu amo. – Murmurou June, baixo.

Madison esticou um dos braços e afagou suas bochechas arranhadas. No entanto, antes que pudessem aproveitar melhor o carinho, o celular de Madison tocou e ela se afastou.

Com o rosto franzido, ela balbuciou algumas palavras frias com alguém na chamada e June observou toda a aura dela murchar. Entendeu que algo não estava certo. Depois de desligar o telefone, Madison ficou um tempo em silêncio, até que ergueu o rosto ferido.

— Eu tenho que ir. Meus pais ficaram desesperados com toda essa história. 

June sentiu uma pontada no peito.

Despedidas. Outra vez.

Com pesar, ela entendeu que o que mais temia tinha acontecido: o verão acabou. Agora, Madison tinha um caminho diferente a seguir. As coisas voltariam a ser como antes e o que haviam prometido seriam apenas promessas no fim das contas.

Palavras não são nada além de palavras.

— Jun. – Madison a arrancou de seus pensamentos. Os olhos verdes estavam repletos de lágrimas. – Minha família vai embora da cidade.

— O quê? – June balbuciou, a aflição começando a crescer. – Como assim, Maddie? O quão longe vocês vão?

— Eu não sei, mas depois do que aconteceu, eles querem ir pra longe de tudo isso. – Madison gemeu com uma fisgada no rosto. Sabia que não podia exagerar, mas era impossível. – Eu não quero ir, não quero que tudo volte a ser como era...

Ela então chorou, escondendo o rosto nos lençóis brancos na cama. June deixou uma de suas mãos pousarem nos cabelos castanhos, afagando, procurando transmitir uma segurança que nem ela tinha.

Passaram alguns minutos ali, aproveitando – ou lamentando – aquilo que parecia ser uma despedida, até que June, depois de um profundo suspiro, decidiu que não necessariamente as coisas precisavam acabar daquela forma. Ela não precisava ser tão conivente com as escolhas dos outros de novo.

—  Ei, otária.

— Hm? – Madison fungou, ainda escondendo o rosto.

— Está tudo bem. Vai com a sua família. 

Madison ergueu o rosto.

— Como pode dizer isso? Eu não quero ir! Eu prometi pra você...

— Eu sei o que prometeu, Maddie. – June emendou, tentando se manter firme apesar da angústia. – Mas você precisa se recuperar, lidar com tudo isso... Brigar com a sua família não é a solução.

— Mas e você? – Ela hesitou. – E a gente?

— Eu vou atrás de você quando tudo isso passar. Quando terminarmos a escola e irmos pra faculdade, eu posso dar um jeito de viver mais perto de você.

Madison balançou a cabeça, aflita.

— Mas Jun, isso vai demorar anos!

— Eu sei disso. – Respondeu, disfarçando suas próprias tristezas. – Mas é melhor do que arriscar sua recuperação.

A outra não respondeu. Um misto de tristeza, frustração e incapacidade a atingiu, adormecendo qualquer fôlego para ir contra a sua família outra vez. Mas no fundo, ela sabia que poderia contar com June.

Aquilo não precisava ser uma despedida – ao menos não uma definitiva.

— Tudo bem. – Concordou, por fim. – Eu vou esperar você.

June afagou com mais firmeza os cabelos alheios e viu os olhos verdes se fecharem, aproveitando o momento. Porém, como se o destino contribuísse para a separação iminente, o telefone tocou outra vez.

Madison praguejou.

— Está tudo bem, vai lá. – June procurou acalmá-la e enfim trocaram um último olhar.

A dona dos olhos verdes assentiu e se inclinou, depositando um leve encostar de lábios na bochecha de June.

— Eu vou sentir saudades.

— Eu também vou, mas vai ficar tudo bem. Eu prometo.

— Sua mãe está lá fora, esperando eu sair. – Madison lhe fitou intensamente. – Você tem coisas a dizer a ela, não é?

June respondeu seu olhar com a mesma intensidade. Com tantos capítulos se fechando, sentiu que aquele não poderia ficar para trás. Os acontecimentos na casa de Harumi finalmente se tornaram claros e June sabia que não poderia continuar vivendo fingindo que aquilo nunca aconteceu.

Madison se inclinou, mais uma vez, afagando suas bochechas.

— Diga a ela como se sente, como se sentiu. Ela merece saber a verdade sobre aquela noite. Sua tia sabia, não é? – Ela sussurrou. – Ela sabia o que ele tentaria fazer com você quando estivessem sozinhos. Ela sabia que precisava te proteger...

June agarrou então o último fragmento daquela noite. Quando sua tia dissera que ia sair, mas, na verdade, se escondera. Quando o homem lhe chamara até o quarto e ela foi, como um porco caminhando em direção ao abatedouro.

June ofegou, subitamente ansiosa com as memórias, mas Madison se inclinou mais.

— Está tudo bem, eu tô aqui.

— Como você sabe disso? – June balbuciou, com pensamentos frenéticos. Madison lhe fitou com tristeza e compreensão.

— Eu soube desde o primeiro momento em que me contou.

— Como eu pude esquecer isso? – June chorou e sentiu finalmente suas emoções transbordarem por sobre o muro que ela havia criado por tanto tempo. – Ela morreu pra me salvar...

Uma destruição completa. Engrenagens rodando outra vez.

Madison a acolheu em um abraço desengonçado, porém intenso. Por alguns instantes, se permitiu ficar ali, acolhendo aquele tão raro momento de fragilidade. June sentia que seu mundo estava ruindo. Tanta força, tanta aspereza e coragem que escondiam tantas dores e fragilidade.

— Eu quero a minha mãe. – Gemeu, trêmula.

— Eu sei, diga tudo a ela. – Madison se afastou para limpar as lágrimas alheias. – Eu vou ir embora, mas vou estar sempre por perto, como sempre esteve perto de mim.

June não queria que ela se fosse, mas sabia que era o melhor a ser feito. Por isso, aceitou de bom grado um leve selar de lábios antes de, finalmente, Madison caminhar em direção à porta.

Se olharam mais uma vez.

— Até logo. – Os lábios de Madison sussurraram.

Sim, era um "até logo" e não um "adeus". Ela saiu pela porta e não demorou para outra figura adentrar. Izumi parecia tão desolada e deprimida quanto Madison. Os olhos pequenos, circundados por grossas olheiras, se encheram d'água ao encontrar os da filha.

Conversaram com o olhar.

Por fim, abraçaram-se e June, finalmente, deixou desmoronar os últimos pilares de medo que a mantinham ali. Acolhida no abraço materno que tanto lhe fez falta na infância, a garota se permitiu livrar-se do último empecilho que carregava:

— Eu te amo, mãe!

— ... Eu também te amo, Amaya.

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