O NOIVO IDEAL | Livro único (...

By lettiautora

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COMPLETO NA AMAZON · Sinopse completa no livro. · Romance, New Adult, Comédia Romântica. · Obra registrada. ©... More

○ APRESENTAÇÃO ○
○ SINOPSE ○
○ PRÓLOGO ○ (Degustação)
CAPÍTULO 1 ○ A NOIVA (Degustação)
CAPÍTULO 2 ○ O INTRUSO (Degustação)
CAPÍTULO 3 ○ OS NOIVOS (Degustação)

CAPÍTULO 4 ○ AS REGRAS (Degustação)

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By lettiautora

"Atenção! Dizem que o amor e o ódio podem ser confundidos com grande facilidade. Os sintomas de ambos incluem: palpitações no peito, mãos geladas, sensação de desmaio e falta de ar. O autodiagnóstico pode custar a sua vida (romântica). Ao persistirem os sintomas, um programa casamenteiro deverá ser consultado."

○ ○ ○

MARIA FLOR

— Meu nome é Calebe Ventura — ele diz com uma voz rouca e grave que entra pelos meus ouvidos e se esparrama por todo o meu corpo como uma toxina, enquanto eu continuo presa em um espaço-tempo paralelo, tentando encontrar algum sentido na cena que se desenrola na frente dos meus olhos, mas não consigo.

Pensei que ele não tivesse mais o poder de me afetar, porém, minhas mãos trêmulas e geladas dizem o contrário.

Calebe continua o mesmo de sempre, exatamente como me lembrava. Não que tenha se passado tanto tempo assim desde a nossa separação. Pessoas apaixonadas têm a mania boba de guardar na memória cada minuto do dia, das semanas e meses, por serem especiais demais (doce ilusão), mas aquelas tentando se desapaixonar são diferentes. A gente prefere fechar os olhos a enxergar os ponteiros do relógio, torcendo para que isso os faça passar mais depressa.

Bom, aqui vai um spoiler sobre a vida: o tempo não cura, ele no máximo faz a gente esquecer a dor, esperando o momento certo para enfiar o dedo na ferida.

De todas as possibilidades imagináveis, em uma coisa eu estava (ironicamente) certa: o quinto pretendente é tão lindo quanto os anteriores. Fazer o quê? É a triste realidade, posso ser corna, mas não sou hipócrita. Calebe é um homem bonito e ninguém pode negar.

Seu corpo alto e tonificado foge daquele estereótipo bombado que a gente associa aos frequentadores de academias esportivas. Ele tem todos os músculos nos lugares certos, em proporções perfeitas e muito atraentes, e seu estilo meio desleixado, de quem gosta da simplicidade e vive de bem com o mundo, com uma camisa xadrez vermelha e bermuda jeans, tem um charme perigoso. Todo mundo cai na lábia do carinha descolado e gostoso que aplaude o pôr-do-sol e faz amizade com os cachorros da rua.

Eu que o diga!

Saio do meu transe momentâneo e encaro meu ex-noivo com mais atenção, sem acreditar que ele está mesmo entre os cinco candidatos a se casarem comigo. O que essa cria de satanás está fazendo aqui? Ele não tem como saber que sou a noiva — eu espero — e nem se o papa aparecesse agora para abençoar nossa união, eu aceitaria me casar com ele. Então... QUAL O SENTIDO?

É castigo? Será que estou sendo punida por todas as vezes em que me imaginei cometendo um crime contra a virilidade dele?

O choque me deixa paralisada, sem reação. Fantasiei muitas vezes como seria nosso reencontro, mas nunca, nem nos meus pesadelos mais loucos, pensei que seria em um programa de televisão. Não sei o que fazer, ou sentir. Não sei se quero chorar, ou gritar, ou sair correndo de volta para casa como uma criança em busca do colo da mãe. Ou se quero apenas jogar um microfone na cabeça dele como a boa barraqueira que habita em mim.

— Sou proprietário e fundador de uma rede de academias esportivas que conta com mais de cinquenta unidades em todo o Brasil — diz, todo orgulhoso, para Miguel Castro, fazendo uso de seu sorriso torto e dissimulado para cativar a atenção do apresentador e do público que nos assistirá em breve. — Mas meu lance mesmo é praticar ao ar livre, fazer trilha, curtir uma praia nos feriados, acampar no verão. Eu gosto de estar em contato com a natureza, é a minha paixão.

Eu não disse? O golpe aí, cai quem quer.

— E o que exatamente trouxe você até o programa, Calebe?

Traição, respondo mentalmente por ele, e sem vergonhice.

— Eu quero me casar — diz, dando de ombros e piscando inocentemente seus olhos muito verdes que eu gostaria de arrancar com as unhas agora.

Mentiroso filho da mãe!

— Bom, isso é um pouco óbvio — Miguel pontua, instigando Calebe.

— Eu sou bastante óbvio. Estou aqui porque pretendo me casar com a noiva da temporada e provar que sou o homem da vida dela, que sou o noivo ideal. Isso é tudo.

— Não é um pouco extremo? Você, obviamente, não parece ser do tipo que tem problemas para se relacionar com uma mulher, ou várias.

Ah, com certeza ele não tem.

Calebe se remexe no balanço, parecendo desconfortável pela primeira vez.

— Por incrível que pareça, não sou esse tipo de cara — responde, se fazendo de bom moço. — Me inscrevi no programa depois de passar por uma situação pessoal no meu último relacionamento que mudou a minha vida. Acho que eu quero uma chance de fazer diferente.

Eu bufo.

Miguel Castro também.

Posso estar enganada, mas não acho que faça parte do roteiro o apresentador bufar. Será que está irritado com Calebe? Ele não foi tão insistente assim com os outros participantes. Não que eu esteja reclamando, longe de mim. Ver Calebe encurralado me causa uma incrível sensação de prazer.

— Um problema amoroso? E você gostaria de compartilhar com a gente? Não sei a noiva, mas eu estou louco para ouvir essa história.

Miguel nem faz ideia do quão louca eu estou. Faço uma nota mental para agradecê-lo mais tarde pelo mimo de ver a expressão atônita de Calebe. Quero saber como ele pretende escapar dessa agora.

— Foi um mal-entendido. — Calebe olha para o chão, evitando as câmeras.

O estúdio inteiro se cala, esperando por uma explicação mais detalhada, uma revelação dramática e complexa que possa agregar ao programa, afinal, todo mundo gosta de um passado sombrio sendo exposto na televisão. Mas Calebe crispa os lábios e não se deixa levar pela insistência de Miguel.

Ele sempre foi um homem de opinião forte, que consegue manter a mente no lugar mesmo em situações complexas. Uma pena não poder dizer o mesmo das calças.

— Mal-entendido? — Percebo tardiamente que as palavras vieram de mim, junto com um riso sarcástico.

Empurro o espelho por conta própria, ignorando o protesto do diretor e os resmungos da equipe. Sinto as emoções dançarem descalças na superfície incandescente da minha pele, sem se importarem com as queimaduras que isso causa nelas, e me deixo levar pelo ritmo furioso da dança.

Pelo meu ritmo furioso.

Calebe olha diretamente para mim, formando uma conexão entre nossos olhares, uma ponte muito longa que me lembra o quão distante estamos um do outro e o quanto já fomos próximos. Ele salta do balanço, mas não se aproxima, fica ali, parado, com as sobrancelhas caídas, mãos nos bolsos, um véu de seriedade encobrindo suas verdadeiras emoções.

Não parece surpreso ao me ver, como eu fiquei ao vê-lo. Ele já sabia, percebo mentalmente. Não sei como e muito menos porquê, mas Calebe Ventura sabia que eu estaria aqui hoje. Nosso reencontro não é uma coincidência, e essa certeza me deixa ainda mais enfurecida, se é que isso é possível.

— Girassol... — Ele tenta dizer, mas eu o corto, fingindo que o apelido não me atinge em cheio como uma bala perdida no meio do peito.

— Não me chame de Girassol! — Aponto o dedo indicador para ele. — Você não tem mais esse direito. Nem de Girassol, nem de Lírio, nem de Rosa, nem de flor alguma! — vocifero entredentes, referindo-me aos apelidos carinhosos que ele usava para mim quando estávamos juntos. — O que você está fazendo aqui, Calebe?

Ele inspira profundamente, seu pomo de Adão sobe e desce, entregando o nervosismo que tenta esconder com afinco.

— Posso te perguntar o mesmo — responde, evasivo, em um tom de voz novo para mim, mais sério, mais... triste? Não sei definir ao certo, mas vou chamar de tom de Judas.

Mantenho-me firme no propósito de não surtar, e nem ceder aos encantos de Calebe. É um martírio lidar com a batalha que se forma entre meu corpo, mente e coração, pois cada um deles reage de uma forma diferente à presença desse homem.

— O que eu faço não é da sua conta — digo, erguendo o queixo, enfrentando-o com as lágrimas bem contidas nos olhos.

— Maria Flor — diz, hesitante — precisamos conversar.

— Não, não precisamos. Aliás, você deveria me agradecer pelo direito de permanecer calado, porque qualquer coisa que disser eu terei o prazer de interpretar da maneira mais exagerada, distorcida e errônea possível, para usar contra você da pior forma no pior momento da sua vida, então poupe o nosso tempo, Calebe.

Calebe passa as mãos na cabeça e murmura um xingamento baixo que não consigo escutar. Frustrado, avança alguns poucos passos na minha direção, mas para no meio do caminho assim que ergo a mão, indicando que não o quero por perto.

O problema dele é ser tão perfeito na maioria das coisas.

— Entendo que esteja com raiva e que não queira ver a minha cara nem pintada de ouro...

— Se entendesse mesmo, não estaria na minha frente agora.

— Mas — continua, ignorando minha fala — eu não podia ficar parado vendo você jogar a sua vida... a nossa vida, no lixo, se casando com um cara qualquer que não ama você.

— Não existe mais nossa vida, Calebe! — esbravejo, indignada com a cara de pau dele. Engulo a dor que as palavras me causam e resisto à vontade de chorar. — Existe eu, Maria Flor, com a minha vida, fazendo o que eu bem entendo com ela, obrigada. E, caso não se lembre, quem jogou a nossa vida no lixo, foi você quando achou que seria uma boa ideia acompanhar a sua querida secretária ao motel mais próximo, sabe? Aquele na rua vai com Deus, no bairro para a puta que pariu?

Calebe rola os olhos para trás, começando a se irritar com meu deboche.

Não posso fazer nada, é o meu mecanismo de defesa. Alguns gritam, outros choram, há aqueles que sabem conversar com calma, e os que partem para a violência. Já eu, debocho! Melhor dar uma de maluca do que correr o risco de cair na lábia dele. E Calebe Ventura tem uma lábia tão boa que às vezes até ele acredita nas merdas que fala (e eu também).

— Aquilo foi um mal-entendido — repete.

— Claro, eu imagino. Faz todo sentido mesmo. Como foi? Ela falou que queria uma linguiça e você achou que estavam indo ao açougue?

— Maria Flor! — reclama, como se tivesse o direito. Olha ao redor e dá um sorriso sem graça. — Será que a gente pode conversar em um lugar mais reservado?

— Tipo um cemitério? Enquanto você fala, eu vou cavando a sua cova. Parece ótimo.

— Você é tão quinta série — resmunga, fazendo bico.

Tento manter a compostura diante de sua feição contrariada, mas não consigo e acabo cedendo a um pequeno e rápido sorriso. Lembro-me da época — dois meses atrás — em que a gente se amava e vivíamos implicando um com o outro, fazendo brincadeiras imaturas que ninguém mais entendia, como dois adolescentes bobos.

Sinto falta disso, mesmo não querendo, mesmo lutando para não sentir.

Frustrado, Calebe desiste de argumentar comigo e recorre ao apresentador, que nos assiste (assim como o resto da equipe) como se estivéssemos em um ringue, alternando os olhares entre um e outro.

— Será que a gente pode continuar a gravação? — pede com um arzinho arrogante que, eu sei, é para me alfinetar.

Agressão é crime mesmo?

— Ele não pode participar — intervenho antes que Miguel responda.

Aproximo-me dos dois e paro ao lado de Calebe estoicamente. E daí se ele é cheiroso e seu perfume masculino com notas amadeiradas invade as minhas narinas, trazendo um convite que me enche de saudade? Quem liga?

— Não posso? — Ele me desafia, arqueando as sobrancelhas. — E por que não?

É, Maria Flor, responde essa agora, sua trouxa. Por que não?

— Por que você... — gaguejo, evitando contato visual. — É você, oras! — Viro-me para Miguel e toda a equipe. — Ele é meu ex-noivo, namoramos por muito tempo e nosso noivado acabou, como vocês já sabem, depois que ele me traiu. Deve haver alguma regra contra a participação dele. Não é justo com os outros pretendentes, Calebe já me conhece, seria uma vantagem enorme. Além do mais, eu deveria ser uma noiva anônima para os cinco, e ele já estragou a dinâmica.

— Eu não traí você.

Ignoro.

— Na verdade — Miguel diz — não é bem assim. Na segunda temporada tivemos um participante que era apaixonado pela noiva desde o jardim de infância, não se lembra?

Puts, agora fodeu!

— Ah, eu... — Engulo em seco, sentindo o suor acumular na minha testa. — É claro, eu me lembro, nossa. Sim! Amei aquela temporada, minha favorita. Muito romântico, amigos de infância, o famoso clichê que todo mundo ama. Foi lindo, tipo, incrível mesmo.

— Pensei que você odiasse o programa — Calebe, o Judas, me provoca.

— E eu pensei que você gostasse de estar vivo — rebato baixinho, rosnando.

Felizmente, Miguel faz de conta que não está prestando atenção ao nosso diálogo e consulta o diretor sobre alguma regra que impeça Calebe de continuar no programa. Para a alegria deles (e meu martírio), ele responde que, desde que fique claro que nenhum de nós dois sabia da participação do outro, não tem problema.

Calebe sabia, mas não tenho como provar.

— Você pode desistir — Calebe sussurra, inclinando sobre o meu ombro para que ninguém mais escute — se quiser.

Sua proximidade repentina faz meu corpo entrar em alerta, como se existisse em mim um sensor especial que detecta apenas Calebe Ventura: quanto mais perto, mais arrepiada e sensível minha pele se torna.

— Como se eu fosse! — vocifero entredentes, sem titubear. — Eu só saio daqui com uma aliança no dedo, meio milhão no bolso, em um avião direto para Paris junto com um marido.

Os olhos de Calebe brilham, vidrados nos meus, e sua expressão pacífica se transmuta em uma máscara de pura rebeldia.

— Desde que seja comigo, por mim, tudo bem — declara com seu maxilar trincado.

— Nem nos seus sonhos — sibilo, empinando o nariz.

Ele me troca por outra e ainda acha que pode aparecer do nada exigindo coisas? Será que bateu a cabeça?

— É o suficiente. — Miguel bate palmas, roubando a atenção para si. Vejo o diretor se afastando. Nem percebi que haviam finalizado a gravação. Uma concordância geral corre entre os câmeras, maquiadores e assistentes e todos começam a se dispersar ao mesmo tempo. — Podemos dispensar a brincadeira, já temos material suficiente para preencher o episódio. Além do mais, não faria sentido usar a venda, já que vocês se conhecem muito bem, não é verdade? Agora, Maria Flor, pense bastante nos seus pretendentes favoritos para a próxima etapa, gravaremos amanhã o rankeamento.

Rankeamento?

Miguel troca um olhar estranho e demorado com Calebe, depois se afasta para conversar com o diretor (e nos dar um pouco de privacidade, apesar de eu não querer).

A próxima etapa será um encontro com cada um de nós — Calebe me lembra, fazendo meus olhos baterem na nuca.

Eu tinha esquecido. Por isso eles querem que eu os classifique com base na minha primeira impressão de cada um, definindo-os como mais ou menos favoritos, por ordem. Os encontros serão individuais, organizados pelos pretendentes, para que possam me conhecer de verdade (exceto Calebe, que está roubando no jogo e já fez bem mais do que me ver).

— Você vai ficar em último lugar — aviso sem olhar para ele.

Calebe ri.

— Eu sei.

— Quem você subornou para entrar no programa? — Cruzo os braços, assistindo a movimentação do estúdio enquanto organizam os equipamentos.

— Algumas pessoas — responde, sincero.

— E quem contou para você que eu estava aqui? — sondo, apesar de ter um palpite bem claro na mente.

— Não posso entregar meus aliados, Copo-de-Leite.

Outra flor.

Viro-me, furiosa — e, se eu for só um pouquinho sincera comigo mesma, com muita vontade de ouvir sua voz sussurrando o apelido no meu ouvido.

— Não me...

Mas Calebe já está se afastando, e eu fico parada, olhando suas costas largas até sumirem de vista.

Não me chame assim, idiota.

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