O Que Fizemos Naquele VerĂŁo

By escritora_biaaguiar

4.8K 635 51

[+18] đŸ„‡ 1Âș LUGAR NA CATEGORIA LGBTQIA+, NO CONCURSO BIGBANG. Naquele verĂŁo, elas estavam no lugar errado, na... More

Notas Iniciais
DedicatĂłria
EpĂ­grafe
PrĂłlogo
PARTE I
CapĂ­tulo 1
CapĂ­tulo 2
CapĂ­tulo 3
CapĂ­tulo 5
CapĂ­tulo 6
CapĂ­tulo 7
CapĂ­tulo 8
CapĂ­tulo 9
PARTE II
CapĂ­tulo 10
CapĂ­tulo 11
CapĂ­tulo 12
CapĂ­tulo 13
PARTE III
CapĂ­tulo 14
CapĂ­tulo 15
CapĂ­tulo 16
CapĂ­tulo 17
CapĂ­tulo 18
CapĂ­tulo 19
CapĂ­tulo 20
CapĂ­tulo 21
CapĂ­tulo 22
EpĂ­logo
Notas Finais
EXTRA!
Agradecimentos
Continue acompanhando!

CapĂ­tulo 4

123 18 0
By escritora_biaaguiar


June, agora consciente do que estava acontecendo, sentiu o corpo paralisar. Os pelos se arrepiando de uma forma macabra e única. Sentiu o coração falhar uma batida e, de repente, a presença de Madison parecia ligeiramente mais distante de suas costas. 

Na estrada arenosa, a silhueta masculina ajustava o corpo adolescente sob seus ombros, procurando a melhor forma de equilibrá-lo. Madison sentiu as lágrimas quentes descerem por suas bochechas maquiadas. Tudo em sua mente gritava, o coração batia rápido demais, bombeando muito sangue para o corpo e dificultando sua respiração, que já estava curta. 

O cérebro gritou avisos frenéticos para correr e Madison não pôde resistir ao impulso de dar alguns passos para trás, afastando-se de June e da cena grotesca. No entanto, o medo e a adrenalina impediram Madison de pensar com clareza e, com mais um passo para trás, ela pisou em um discreto buraco na terra, torcendo o pé dolorosamente. Um grito escapou por seus lábios e ela foi ao chão, choramingando. 

June pulou, em pânico. 

O homem, que se preparava para adentrar a floresta pelo lado oposto de onde estavam, virou-se rapidamente, em alerta. Ele soltou um palavrão e jogou o corpo entre os arbustos sem qualquer cuidado, mas June não se deu ao trabalho de ver mais. 

Correu até a garota que choramingava no chão com o coração quase saindo pela boca. Quis morrer quando viu Madison arrancar os saltos que usava, ainda chorando. 

— Mas que porra, otária! – June praguejou, erguendo Madison com firmeza, que logo protestou, gemendo ao sentir o pé dolorido apoiar no chão terroso. – Por que você veio com salto!?

— Quem está aí? – O homem gritou da estrada. Não se incomodaram em responder. 

June disparou floresta adentro, ignorando a trilha e o fato de não saber para onde estava indo. Com o braço esquerdo de Madison em torno de seu pescoço, ela bufou, sabendo que estavam muito lentas e que ele as alcançaria. 

— Por favor, não me deixa aqui, me leva com você, por favor, por favor....-Madison sussurrava desesperada, em meio ao choro. Com a mão livre, ela segurava as sandálias que foram sua desgraça naquela noite.

June estalou a língua. A adrenalina pulsava em todo seu corpo magro, como se a qualquer momento pudesse explodir. O coração disparado parecia querer nublar sua mente com o medo crescente. Os sons dos passos pesados do algoz em meio aos arbustos deixavam a situação ainda mais desesperadora. 

— Oh meu Deus, ele nos viu, vamos morrer, vamos morrer hoje June.... – Os gemidos sofridos de Madison pareciam não ter fim. 

Sem dar atenção aos lamentos, June se concentrava em escutar os passos que as seguiam e tentava se localizar, mas começou a se desesperar ao notar que não escutava mais os sons da cachoeira. Com um suspiro apavorado, tentou recapitular os passos que haviam feito, procurando entender em que direção estavam indo e se estavam longe demais do acampamento, mas o som do próprio coração atrapalhava os pensamentos urgentes. 

— Ele tá vindo, ele tá chegando, estamos mortas, June.... 

Lutando contra a escuridão opressora, June pensou em qualquer coisa que pudesse fazer para levar o assassino em outra direção e, como se o coração colaborasse, sua mente ficou um pouco mais clara. 

Viu uma árvore derrubada à frente e teve uma ideia. Enquanto arrastava Madison para o imenso tronco arrancado que jazia no chão, forçou os olhos a correrem pelo gramado raso, procurando gravetos ou qualquer coisa que fizesse barulho. Soltando um suspiro exausto, June se colocou atrás do tronco e se abaixou, colocando com gentileza Madison no chão. 

Os olhos verdes se arregalaram, ela estava muito gelada. 

— V-você vai me deixar? Por favor June, não faz isso, por favor... – Ela implorava o mais baixo que podia em meio aos soluços desesperados. 

June se abaixou ao notar, ao longe, a luz de uma lanterna cortando o ar. Só então ela percebeu que estava ofegante e muito suada. Fitou Madison com urgência. 

— Shhh! – O sussurro saiu ríspido. - Eu tive uma ideia, mas preciso que fique quieta, otária. Qualquer barulho e estaremos mortas! 

Madison fungou. Ela tinha olhos tão assustados e frágeis que teve pena. Por fim, ela assentiu, mordendo o lábio para conter qualquer ruído. Assistindo sua reação, June continuou:

— Eu vou tentar despistar ele. Se funcionar, a gente corre na direção oposta, mas você precisa me esperar aqui. Se eu não voltar em trinta minutos, assume que ele me alcançou e dê um jeito de voltar pro acampamento, entendeu? 

Madison comprimiu os lábios, engolindo o choro, e assentiu novamente. June se levantou devagar, ainda enxergando o brilho da lanterna do homem em meio aos arbustos, se aproximando da região onde estavam. Sabia que tinha pouco tempo. Sozinha, ela se esgueirou pelos arbustos rapidamente, tentando ao máximo fazer silêncio. No caminho, pegou alguns galhos relativamente finos e barulhentos. 

Quando estava a uma distância segura de Madison e próxima o suficiente para que o assassino lhe ouvisse, June quebrou o primeiro galho. O som seco ecoou na floresta, seguido por um breve silêncio. Mas logo os passos do homem voltaram em sua direção. 

June correu, tentando gravar todo o caminho que estava fazendo. Não tinha um plano concreto, mas sabia que não conseguiria fugir de volta para o acampamento com Madison pendurada nos ombros e o assassino muito próximo. Precisava afastá-lo. Quando estava ainda mais enfiada nos arbustos, quebrou outro galho e fez um som de escorregão, usando o pé para chutar as folhas no chão. 

Parou por um momento, e notou que ele ainda a seguia. O coração pulou quando escutou a voz masculina, não tão longe dessa vez. 

— É melhor aparecer de uma vez! – Gritou ele. – Não se preocupe, isso não precisa acabar mal, certo? 

Contendo um ímpeto de soltar um palavrão, June encontrou uma árvore alta, com um tronco bem grosso e cheia de galhos. O tipo de árvores que sempre gostou. Eram ótimas para escalar, e esta era a atividade que mais gostava de fazer na vida. Correu até a árvore e a escalou usando toda a experiência que possuía dos treinos da escola, sem se importar em cravar as unhas na madeira. 

Em cima da árvore, no completo escuro, June viu o brilho da lanterna alheia girar em um círculo, buscando seus rastros. Pegou a lanterna que havia enfiado dentro da blusa e a amarrou em um galho mais escondido com o cordão que regulava o capuz de sua jaqueta. Antes de pular da árvore como um gato desesperado, June ligou a lanterna e empurrou um ramo sobre ela. Aquilo deveria servir como uma distração. Ao ver a lanterna do homem ser desligada e os passos ficarem mais lentos, June entendeu que ele planejava dar o bote ali. 

Correu o mais rápido que podia, enfiando o celular no bolso e sacando o canivete. O sangue pulsava até os ouvidos e tudo o que ela podia escutar agora era um zumbido angustiante. Seguiu o mapa mental que havia montado em meio ao desespero e quase gritou de alívio ao ver a figura fantasmagórica de Madison encolhida no chão, tremendo como um filhote. A outra chorou quando viu June à sua frente e logo se aprontou para sair dali. 

Contudo, se surpreendeu ao ver June virando de costas e abaixando, em um convite silencioso. Lançou um olhar duvidoso. June estalou a língua, impaciente.

— Anda, otária! Sobe nas minhas costas, acho que te aguento por um tempo. 

Madison parou por um segundo, mas logo obedeceu, se encaixando como podia nas costas de June. Ficou surpresa quando viu o corpo magro aguentar seu peso e disparar pela floresta. Madison olhava para trás, aterrorizada com a possibilidade de o homem estar à espreita, porém, não escutou nenhum passo. Segurou com firmeza as sandálias, que agora estavam balançando na frente do busto de June. 

— Tenho certeza de que viemos de lá.... – Madison tentou falar sem soluçar, apontando para uma direção não muito diferente da que seguiam. A outra não respondeu, parecia muito concentrada em sustentar o peso nas suas costas enquanto apressava o passo. 

June sentia as pernas queimarem e o rosto pingando de suor, mas a adrenalina crescente parecia ter lhe dado força de sobra. Manteve uma corrida leve, mas que cobrava cada vez mais energia do corpo pequeno. Sem lanterna, ela acabou batendo em alguns galhos. Madison abraçava com firmeza o pescoço de June, ainda lançando ocasionais olhares para trás. Sabia que o homem não desistiria com facilidade, mas estava um pouco mais calma por não escutar passos, embora, aquilo não tornasse a situação menos desesperadora. 

Com um choramingo de pura alegria, June viu as cercas de arame que cercavam o acampamento e deu suas últimas forças para correr até lá. Quando enfim chegaram na área aberta onde estava o cercado, June abaixou e colocou Madison no chão, com menos gentileza dessa vez. 

O corpo queimava dolorosamente e ela se deu alguns segundos para inspirar e expirar, tentando manter alguma energia. 

— Estamos muito longe dos portões...- Madison falava rapidamente, passando as mãos nos cabelos, como se quisesse arrancá-los. - ... eu não consigo escalar com esse pé.... Oh meu Deus, não vai dar certo...

June engatinhou até o muro de arame, vermelha e sem fôlego. Destravou o canivete e tirou todas as ferramentas, sabendo que haveria um alicate ali. Sem pulmão para responder Madison, começou a cortar a linha de arame, mas sua força estava consideravelmente reduzida e o trabalho era lento. O alicate do canivete parecia cada vez mais frouxo, como se fosse quebrar a qualquer momento. June constatou que ele não havia sido feito para aquela tarefa, mas rezou para ser o suficiente. 

— Ele vai alcançar a gente, ele vai, vamos morrer...

— Madison, cala a boca... – A voz não passou de um sussurro rouco, mas estava exausta e sem paciência para desespero. Os olhos verdes lhe encaram, grandes e molhados. – Me ajuda aqui! Eu estou abrindo um buraco, mas o arame está cravado na terra, vou precisar cortar muito. Vai puxando a tela pra tentar abrir uma passagem! 

Madison pareceu voltar a si e se arrastou rapidamente até June, que continuava cortando os arames, mas precisava de muita força para fazer o alicate atravessar o metal, o que estava a esgotando. Com um suspiro, Madison jogou as sandálias por cima do muro de arame e começou a puxar a tela, em um trecho que já estava sendo aberto por June, envergando o início de uma passagem. 

— Por que não gritamos pelos seguranças? Por que não ligamos pra alguém? –Madison balbuciava, urgente. 

June seguia firme com o alicate. As bochechas vermelhas pelo calor e o esforço. 

— O dono dessa merda é um assassino, como podemos confiar nos funcionários!?E se quiser ligar tenta, mas eu prefiro gastar o tempo tentando escapar! 

Madison por fim, resolveu ficar calada. Usando a força que tinha nos braços, puxou a tela profanada e viu que June tinha conseguido abrir uma pequena passagem oval próximo do chão, mas as pontas dos arames que estava fixo dentro do solo, com certeza tornaria a experiência de passar ali, dolorosa. 

— Anda! – June gesticulou para a passagem. 

Madison não precisou de mais nenhuma palavra, se deitou de bruços no chão e se enfiou entre os arames, com pressa. Gemeu com a sensação de ser arranhada de todas as direções pelas pontas afiadas e se amaldiçoou por ter vindo com tanta pele a mostra. Sentiu June empurrando suas pernas, ajudando-a. 

Com um impulso firme, Madison cravou as unhas no chão e puxou o corpo para dentro da cerca, mas logo uma dor aguda a fez gemer. Um arame especialmente pontudo rasgou sua saia e abriu um longo corte na perna pálida, manchando o tecido branco com sangue. 

Mordendo o lábio para não fazer muito barulho, Madison terminou de atravessar e sequer deu atenção para a perna ferida. June esvaziou os bolsos e jogou o celular e o canivete para dentro da passagem antes de deitar-se de bruços e se enfiar ali. 

Os segundos pareciam uma eternidade para ambas. June agradeceu por usar roupas grossas que lhe protegiam dos arames, mas antes que sorrisse aliviada, arregalou os olhos ao notar que por mais força que fizesse não conseguia sair do lugar. 

— Tô presa! – Foi a sua vez de sucumbir ao desespero. - Merda, merda, merda! 

Madison soltou um palavrão e segurou em seus ombros, tentando puxá-la, mas notou que os arames pareciam enraizados no tecido da jaqueta roxa. 

— Tira a jaqueta, anda! – Grunhiu com urgência, mas se calou ao ver, no meio da floresta, o feixe da lanterna. Encarou June com terror. – Tira a porra da jaqueta!!! 

Vendo que Madison fitava algo na floresta, June puxou os braços para trás enquanto a outra segurava as mangas roxas. Os braços finos deslizaram e saíram da jaqueta. Madison puxou June para dentro com toda a força que lhe restava. Se apoiando uma na outra, elas correram pelo gramado verde sem olhar para trás. 

Quando finalmente abriram a porta de madeira do quarto de June e se jogaram para dentro, elas puderam enfim, sucumbir ao pavor. Caíram no chão, exaustas, largando os objetos que carregavam e se enroscando nos braços uma da outra. Ficaram assim por muito tempo, tremendo e escondendo os rostos nos ombros alheios, tentando acalmar os corações disparados. 

Depois de um longo tempo, onde sós e ouvia as respirações ofegantes e soluços, uma voz medrosa se fez presente: 

— E se ele tentar entrar aqui? – Madison sussurrou. 

— Ele não vai. 

— Como sabe? 

— Ele não nos viu. – Respondeu June, em um sussurro, tentando entender se estava querendo confortar Madison ou a si mesma. 

Ambas estavam suadas e sujas de terra, mas não se importaram em desfazer o abraço. O medo e o silêncio da noite as faziam tremer. June percebeu que os ombros de Madison estavam arranhados, com finos filetes de sangue seco. Acolheu o corpo gelado dela com um pouco mais de força, ignorando qualquer desavença e o próprio coração martelando. Foi então que se lembrou da perna ferida e do pé torcido dela. 

— Otária?

Madison fungou. 

— O que é? 

— Temos que limpar sua perna. 

Madison pareceu não se importar e continuou ali, soluçando baixinho contra seu pescoço. No fundo, June estava com tanto medo quanto ela. Os ombros nus arrepiados pelo frio da madrugada a relembrava da jaqueta que abandonara em meio aos arames. 

Ele deve estar com ela agora, pensou sombria. 

Porém, logo abandonou esses pensamentos. Precisava lidar com os ferimentos de Madison. Com muita dificuldade, conseguiu desvencilhá-la de seus braços e seguir até o banheiro minúsculo. June ligou o chuveiro e molhou o rosto com água gelada, lavando a terra e o suor, trazendo-a mais para a realidade. Madison tirou a saia ensanguentada e analisou o corte na perna. 

— Parece que não é fundo. – A voz melodiosa estava rouca e o rosto sempre impecável estava com a maquiagem borrada e ainda molhado pelas lágrimas. – Mas tá doendo pra porra. 

— E seu tornozelo? – Perguntou June, pegando um elástico, fazendo um coque no cabelo preto e procurando a caixinha de primeiros socorros que tinha em todos os quartos. Madison balançou a cabeça. 

— Eu o sinto inchando. Será que eu quebrei o pé? 

June se abaixou para dar uma olhada. Já tinha torcido o tornozelo antes e, olhando para o de Madison, que realmente estava inchando e ficando roxo, concluiu que provavelmente era só uma torção. 

— Duvido. – Respondeu. Entretanto, parou por um momento. — Mas vai precisar de gelo, acho melhor eu ir à cozinha pegar...

— O quê!? Não! – Madison se exaltou, os olhos se apavorando. – Ele está lá fora! Não podemos ficar sozinhas! 

June a fitou, em silêncio. De fato, era arriscado sair agora. 

— Então pelo menos coloque o pé na água fria, vai aliviar. Madison assentiu e aceitou a ajuda de June para chegar até o chuveiro. Segurou-se na parede enquanto o pé torcido era colocado na água fria. June abaixou-se e limpou o corte na perna de Madison com sabão, recebendo protestos. A última coisa que precisavam era de uma infecção e que alguém descobrisse onde ela conseguira o corte. 

Enquanto deslizava o sabão pela perna lisa, não conseguia deixar de pensar o quanto aquela situação era absurda. Quando terminou a limpeza, deixou Madison terminar sua higiene sozinha e seguiu para escolher uma roupa que lhe servisse. Nada de coisas curtas, apertadas ou coloridas, apenas agasalhos macios e quentes. Alguns minutos depois, Madison estava vestida – bem aquecida, dessa vez – e com o pé cuidadosamente enfaixado com gazes limpas. 

June tirou um tempo para tomar um banho frio sem molhar os cabelos e quando voltou a viu encolhida em sua cama. Madison se ergueu assim que viu June lhe encarar um pouco duvidosa. Os cabelos castanhos estavam presos desajeitadamente e ela parecia bem com o conjunto de moletom que usava. Os olhos verdes a fitaram, muito inseguros. 

— Você se incomoda se eu passar o resto da noite aqui no seu quarto? – A frase não passou de um sussurro, mas June ouviu com clareza. 

Sim, me incomoda muito. 

Era o que gostaria de ter dito, mas os lábios outra vez tiveram vontade própria. 

— Tudo bem, pode ficar. 

Madison assentiu lentamente, meio sem graça com a situação, mas logo voltou a se deitar e a encolher-se mais perto da parede, dando espaço para June se deitar junto com ela. Dividindo o colchão estreito, ambas evitaram contato visual, mas era impossível não sucumbirem à tensão. June agradeceu internamente o fato de Julia ainda estar na festa. 

Algum tempo depois, Madison quebrou o silêncio, virando-se para encará-la, mas não retribuiu o olhar. 

— O que vamos fazer agora? 

June girou o canivete lentamente, fitando o cabo vermelho. 

— Vamos dormir. – Respondeu simplesmente. 

— Mas...! 

June virou para encará-la. Castanhos nos verdes. 

— Ele é dono desse lugar, Madison. – Outra vez disse o nome dela. – Se ligarmos para os nossos pais, eles vão demorar dias para chegar. Uma denúncia dessas faria eles tirarem satisfações com a administração, ou seja, direto com o homem que nos perseguiu. É burrice! 

June suspirou e continuou: 

— Se contarmos para alguém daqui, vamos precisar de provas. Lembre-se: é a nossa palavra contra a dele.

— Então você quer que a gente fique o resto do verão com o assassino do nosso lado!? – Madison falava tão baixo que muitas vezes sua voz falhava. 

— Não temos escolha! Não dá pra fugir. Ele não sabe sobre nós, mas minha jaqueta ficou pra trás. Com certeza, quando amanhecer, ele vai perguntar quem andou fugindo do acampamento. - June deu ombros. - Aquela jaqueta não é tão única assim, então é difícil alguém me identificar. Mas, temos um problema...

— Alan. – Madison completou com frieza. June assentiu. 

— Ele sabe que estive fora do acampamento e me viu com a jaqueta. Se ele contar, já era. Minha colega de quarto também me viu, mas duvido que ela se lembre.

Madison pensou por um momento, os lábios finos contraindo-se em um bico pensativo. 

— Acha que o Alan viu a mesma coisa que a gente? 

— Não. Quando o carro apareceu, ele provavelmente já estava chegando aqui. 

A dona dos intensos olhos verdes ficou presa em pensamentos outra vez, mas depois se iluminou: 

— Certo! Nós vamos atrás das provas então. – Concluiu, com muita firmeza, o que surpreendeu June, que a fitou, duvidosa. 

— O quê? 

— Já que nossa palavra não vale nada, vamos atrás de algo que vale. O que não dá é ficar esperando ele descobrir que a blusa é sua. 

— E como vamos achar provas? 

— Óbvio. – Madison lançou um olhar zombeteiro para June, e fitou os olhos puxados com diversão, fazendo-a tremer. – A garota morta. Ele estava escondendo o corpo dela na floresta. Se encontrarmos o corpo, teremos motivos concretos para chamar a polícia. Com certeza vão encontrar as digitais dele nela! 

June ponderou por um momento, mas depois balançou a cabeça negativamente. 

— Isso é muito arriscado. Teríamos que sair do acampamento sozinhas de novo e a floresta é enorme. Além do mais, o que garante que ele não tenha se livrado do corpo em outro lugar? Ele sabe que alguém descobriu o segredo dele! 

— Não temos escolha, June! Pensa bem. Uma hora ou outra ele vai saber sobre nós. Ou pior, ele vai matar outra pessoa! 

June suspirou. 

— Vamos conversar sobre isso depois. Eu tô cansada.

Madison a fitou novamente e assentiu. Estava exausta também. Puxou o edredom até cobrir parcialmente o rosto. Os sussurros cessaram e Madison caiu em um sono profundo pouco tempo depois, ignorando a dor no tornozelo e o corte em sua perna. 

Entretanto, June permaneceu acordada, sem conseguir fechar os olhos nem por um segundo. O corpo dolorido e em frangalhos parecia tão energizado quanto antes, em alerta máximo. A presença da garota ao seu lado também piorava a situação. 

Passou o resto da noite fitando as pesadas cortinas laranja do quarto, como se sentisse que o homem estava ali, esperando que ela adormecesse para dar o bote. Tudo o que conseguia pensar era na jaqueta roxa que ficara para trás, enroscada nos arames cortados e na garota que dormia ao seu lado suavemente, como se não a odiasse profundamente.

Continue Reading

You'll Also Like

11.9K 1.2K 22
O cotidiano de Cally Callista e Íris Watson, num mundo onde Híbridos são considerados seres inferiores e sem vontade própria, onde só lhes resta sere...
21K 927 28
#VENCEDORTHEWATTYS2022 | O corpo. As palavras soam como um estalo na minha mente. Olho para Daisy e Cassie no banco de trĂĄs, ainda assustadas, pĂĄl...
11.7K 983 34
DARK ROMANCE!!!! 18+ Oi, meu nome é Erika. Esta é a história de como fui sequestrada e forçada a abandonar minha vida por um antigo amor que eu seque...
20K 1.3K 14
AVISO: esta história foi adaptada para duas versÔes: gay e lésbica. Hå a sinalização no título de todos os capítulos, basta ler a versão que lhe agra...