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Olhando agora, fixando seus olhos azuis em todos eles reunidos, nenhum se parecia humano de verdade, suas faces estavam mudadas pela artística maquiagem e as roupas extravagantes demonstrando o mínimo do que era viver na vida de fartura da capital do lado norte. Niall via agora como Zayn e Liam costumavam se vestir no local onde exerciam seu completo poder, mostravam o quanto era inalcançáveis, mas, mesmo assim, "dispostos" a serem bondosos e humildes. Ele enxergava, agora, o quanto Zayn tentava demonstrar sua aparência ameaçadora e Liam parecia brilhar com tanto dourado jogado em sua face.
Zayn era sedutor, porém perigoso como uma serpente, ele era como uma pequena fruta tropical, disposta em um lugar a vista, mas que com certeza te mataria na primeira mordida. Seu torso de cor marrom estava exposto pela blusa que chegava um pouco abaixo de seu peito, ele pintara sua pele com os ramos em dourado enquanto uma pequena joia balançava presa ao seu umbigo, seus braços expostos, pintados com a mesma tinta, brincavam com os inúmeros brincos presos em suas orelhas, ainda haviam mais duas joias em seu nariz. Todavia o melhor nem sequer era isso, a maquiagem de Zayn, a sombra da cor preta jogada em seus olhos enquanto a ponta de seu nariz brilhava iluminada, as proeminências de suas bochechas manchadas com o mesmo tom - o qual nem sequer beirava o dourado forte da pele de Liam -, os cílios negros realçados raspando em suas bochechas quando ele abaixava o olhar e por fim, para ajudar na sua aparência completamente tentadora, seus lábios estavam brilhantes, escurecidos com um pouco de marrom, mas não o suficiente para se parecer com um batom de verdade. Ele estava incrível.
Já Liam estavam brilhando em dourado. As pontas de seus dedos, seu rosto e toda a parte de sua barriga exposta pela blusa repleta de babados branca, ele usava um colar que descia até o centro de seu peito e seus dedos estavam repletos de anéis em cada uma das juntas. Quanto mais você descia o olhar mais perigoso se tornava. Liam irradiava vida por cada um de seus poros, ele parecia uma chama, brilhante. Ele se assemelhava com o fogo da pequena fogueira que mantinha Niall aquecido quando ele não tinha coragem de voltar para casa de mãos vazias no meio de um inverno tenebroso. Liam tinha as sobrancelhas pintadas de branco, assim como seu cabelo havia sido clareado, pequenos ramos brincavam ao longo de seu rosto e se misturavam com as pequenas e rebeldes listras negras de suas tatuagens que ousavam despontar em meio a todo aquele brilho lancinante. Liam tinha pequenas manchas em seu corpo, manchas que Niall não entendeu, mas de alguma forma estavam realçadas pelo traje, elas não possuíam textura, mas eram levemente proeminentes de sua pele bronzeada e, agora, dourada. Ele era a essência do povo de ouro, ele interpretava as histórias iniciais de quando os colonizadores pensavam que as crianças douradas eram uma benção e não um último grito de vingança de tribos nativas, que foram derrotadas, mas deixaram uma mancha que nem sequer séculos de tratamento foram capazes de apagar. Liam trazia consigo vida, cultura e toda aquela força e coragem, ele era um guerreiro em cada segundo, ele sobrevivia e mesmo que sua natureza fosse calma, ele ainda era atraído pela guerra, e isso não passava despercebido por ninguém.
E por fim, Niall brilhava também, com maquiagem e leveza, seus cílios estavam juntos de uma forma maluca para si, mas que, pelas mãos de Zayn, se tornaram algo realmente bonito. Ele trazia tatuagens em seu corpo, assim como as de Zayn, e o brilho de Liam, ele esbanjava beleza e qualquer um naquela festa, minutos mais tarde, não deixou de reparar na figura angelical no meio daqueles homens. Nenhuma pessoa, seja macho ou fêmea, naquela festa deixou de pensar, se ao menos por um segundo, como seria poder tocar com os próprios dedos a extensão daquela pele leitosa. Niall não representava a extravagancia e cultura do norte, não tinha se tornado uma forma da corte de Zayn e Liam, uma personificação do que a riqueza poderia causar, Liam e Zayn perceberam que eles não criaram a forma de Niall, eles nem sequer seriam capazes disso, Niall tinha se tornado algo próprio, algo diferente, algo totalmente dele que, de uma forma ou de outra, encarnava o que eram os sentidos humanos de sua forma pura. Niall aflorava e era a avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba. Ele era todos esses sentimentos em sua forma mais natural. Naquele momento ele era a raiz da criação, e também tinha uma dimensão grandiosa.
E naquele momento, talvez por demorados segundos, Zayn e Liam sentiram medo.
Medo do que Niall era ou poderia se tornar.
- Estou arrependida de não ter te pego antes para mim - Isaiah chegou. Com um vestido de couro preto que deixava sua barriga repleta de cicatrizes a mostra e luvas que seguiam até seus cotovelos.
- Estou arrependido de não ter escolhido você antes - Niall respondeu, igualmente impressionado com a dimensão da beleza da assassina.
- A gente deveria separar eles - Zayn comentou para Liam, que assentiu rindo levemente - Você não tem ninguém para atormentar, não? Pensei que com uma festa rolando lá fora você sairia do nosso pé.
Isaiah fez uma careta infantil para Zayn, enquanto parava ao lado de Liam esperando Greta e Israel para que todos fizessem uma entrada juntos na festa.
- Estou desconfiada de que aqueles dois estejam se divertindo sem nos chamar - Liam bufou.
- Cale a boca, Greta nunca esteve numa festa e Israel estava de ressaca quando eu o acordei do meu jeito.
Liam e Isaiah riram, compartilhando lembranças pertencentes a um tempo anterior, algo que era apenas dos dois.
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Quando Israel e Greta desceram, cada um totalmente radiante com a extravagância das roupas, joias e maquiagens - Greta especialmente com um vestido branco delineando seu corpo curvilíneo - eles partiram para a festa que já ocorria no lado de fora.
O sol alaranjado do fim de tarde banhava os convidados totalmente tranquilos naquele momento, cada qual demonstrando em seus rostos a beleza incomum e o tipo de vida de libertinagem que levavam, por exemplo, uma mulher que trazia presa ao pulso uma corrente que se ligava com uma tira de ouro presa no pescoço de um homem franzino de corpo curvilíneo e exposto.
Niall não entendeu de começo, sentiu-se até nauseado enquanto cada vez mais se aprofundava e conversava com aquelas pessoas, destacando algumas dúzias de pessoas de cabelos de fogo, mas, depois de algum tempo e mais e mais conversas ele entendeu...
Todos ali era supérfluos. Não que ele tentasse ou se sentisse superior, mas as pessoas ali realmente não ligavam para o que estava acontecendo, era difícil qualquer um acreditar que ele teve essa conclusão com poucos minutos de conversa, mas ele passara a sua vida toda a mercê de pessoas egoístas e era fácil, muito fácil, reconhecer alguém que era igual a aqueles com quem viveu.
Não era nem metade da festa, as danças sequer tinham começado, mas ele já se sentia exausto assistindo todas aquelas pessoas da posição onde estava - agora, sentado numa mesa comprida numa das extremidades do jardim, que dava uma visão boa para a parte onde todos dançavam -, Niall admirava o trabalho de qualquer um que tenha decorado aquele jardim e deixado tudo de uma forma impecável... digno de um rei, mas começou a odiar todos que sapateavam pela grama.
Principalmente a forma como eles estavam cochichando.
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Era desconhecido por Niall, Isaiah observou, o assunto dos sussurros que tinham se espalhado como uma epidemia.
Ela vira começar, e era uma pessoa curiosa, assim, rapidamente, o assunto tão debatido pela corte fútil se tornou de seu total interesse.
Não era difícil deixar uma das pessoas ricas dali bêbadas, e todas elas compartilhavam de um único defeito estranho: eram fofoqueiras, tinham a língua solta e adoravam cochichar supostos segredos. Sendo assim, sorrateiramente da mesma forma que chegava em suas vitimas, Isaiah fez um grupo de cinco pessoas se embebedarem facilmente.
- Estão dizendo por ai - Começou um homem de careca brilhante e barba branca - Que o garoto é um espião, um traidor, estão comentando sobre encontros que ele tem com aqueles ratos do lado sul aqui mesmo nessa floresta, debaixo do nariz do rei.
- Exatamente - Concordou uma mulher, de cabeça também raspada e um vestido amarelo esvoaçante - Disseram-me que, no começo, ele até pensou em nos ajudar, mas alguém o corrompeu - Isaiah sentiu medo que olhassem para ela, mas todos os olhares se seguiram para Greta, o que era estranho, realmente incomum.
- Por que ela? - Perguntou. Com a mesma voz que seduziu suas vítimas, ela era boa nisso, assim como agia de forma sorrateira com a pressão que começava a se instalar sobre o grupo, eles não sentiram, mas ela sabia o que estava fazendo.
- Aquela garota? - O homem careca questionou. Isaiah assentiu - Ela pertencia a uma fazenda, na parte norte perto do mar, na extremidade onde as coisas ainda são rudimentares, me contaram que ela era escrava lá, trabalhava com animais ou algo do tipo e permanecia confinada numa caixa no porão da casa dos donos da fazenda. Me disseram que ela nutre um ódio anormal por nós - "Nós" traduzindo, os idiotas privilegiados e que viviam rondando o rei implorando por uma migalha de poder. Isaiah segurou a vontade de rodar os olhos - E que mantem uma promessa de vingança, e por isso corrompeu o brinquedinho para que os ratos do sul consigam derrubar Liam.
- Uma promessa de vingança contra nós? - A ultima expressão demorou para sair. Ela não pertencia a eles - Mas o que fizemos contra essa... essa criada.
- A fazenda pertencia a... Stefhaine, o irmão bastardo de Liam.
Isaiah pensou que se não prestasse atenção sua boca iria abrir de choque, ela sabia que era mentira, mas aquela história iria convencer qualquer um que não fosse próximo o suficiente para saber verdadeiramente que era mentira. Ela não poderia dizer que a história de Greta era mentira, e foi isso que realmente a chocou.
- Vocês acham que algo vai acontecer? - Ela perguntou, por alguns momentos esquecendo de como deveria agir no meio daquelas pessoas. Todos olharam para ela com certa desconfiança - Digo, caso não saibam, eu sou próxima do rei, ele com certeza ficaria sabendo de onde saiu o aviso de que N- o garoto é um traidor.
Isaiah pôde enxergar nos olhos de cada um a ânsia por poder. Eles fariam qualquer coisa, e ela era a prova viva de que sacrificariam tudo por um lugar mais influente.
Liam nasceu para ser invejado e cada vez que ela tinha contato com essas pessoas essa conclusão se firmava.
A mulher de vestido amarelo foi a primeira a se inclinar para sussurrar por baixo da música animada que iniciava no canto do jardim.
- Dizem que haverá um ataque, hoje a noite, na capital.
Os outros confirmaram, mas Isaiah sabia que era mentira, se fosse mesmo ocorrer um ataque - o que na sua cabeça era praticamente impossível - iria ser no ponto exato onde o rei estava.
Aqueles nobres eram mais burros do que ela pensava.
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Liam puxou Niall pela festa, alegre como uma criança o levando numa direção desconhecida. Niall pensou que se tivesse que conversar com mais um nobre ignorante ia acabar vomitando, mas duvidava que alguém que deixasse Liam tão animado a esse ponto fosse entediante.
- Você vai amar ela, eu tenho certeza, querido - Liam se virou uma vez. Com os traços do álcool - e mais alguma coisa - em seu sorriso bobo e corpo solto.
Niall assentiu, de repente se animando. Ele amava Liam, isso era fato, e perceber que Liam o estava puxando de um lado para o outro, o mostrando a pessoas que gostava e sempre lançando olhares quase infantis em sua direção como se esperasse algum tipo de aprovação foi o que fizera Niall permanecer ali.
E agora eles andavam na direção de uma mesa mais afastada, de bebidas provavelmente, não havia pessoas ao redor - Niall agradeceu por isso - as únicas estavam apenas tendo conversas mais intimas, do tipo em que se precisa de um lugar mais exclusivo para ter, e os garçons que voltavam continuamente para mesa lançavam olhares amedrontados numa direção que Niall não conseguia enxergar. Parecia que os outros da festa tinham medo de quem quer que fosse ali.
Liam quase pulou de felicidade, parando alguns metros longe para sussurrar na direção de Niall.
- Ela está bem ali, seu nome é Kenna, talvez ela seja um pouco... hostil, no começo - Niall arregalou os olhos. Seu histórico com pessoas hostis não era lá muito bom, e Zayn não se encaixava muito bem no hostil, em sua cabeça Zayn era apenas... insuportável e quase narcisista - Mas eu prometo que ela é legal - Liam o acalmou, levando os dedos de Niall, parados ao lado do próprio corpo, aos lábios.
Uma pequena mancha dourada, dos desenhos presos em sua pele, ficou presa aos lábios rosados de Liam.
Porém ele não pôde aproveitar muito a náusea que a imagem causava, logo se viu de cara com uma figura, estranhamente descontrolada perto das bebidas.
Liam assobiou para a mulher, a olhando de cima abaixo enquanto ela virava com uma careta presa ao rosto, que se desmanchou na presença de Liam, mas se formou novamente ao notar a presença de Niall.
- Eu disse para não me cumprimentar dessa forma - A mulher rodou os olhos, se virando totalmente na direção deles e mostrando as... as cicatrizes em seu rosto.
Kenna.
A mulher tinha uma pele branca do tipo maltratada pelo sol, com a ponta do nariz mais escura assim como suas bochechas, mas não era do tipo adorável. Ela tinha as maças do rosto proeminentes, com uma linha reta e afiada a marcando, ela parecia magra demais, porém ao mesmo tempo forte, os olhos da mulher vazios e indecifráveis eram verdes, um verde opaco, não igual ao de Harry, que agora dançava com Louis no meio do jardim, mas sim uma amostra de... sobrevivência. Porém não era essa face dura que mantinha as pessoas afastadas, e sim uma enorme cicatriz de queimadura que cobria metade de seu rosto e descia até abaixo do vestido de alças finas marrom, parte de sua cabeça estava sem cabelo - enormes madeixas loiras, assim como o próprio cabelo - , e sua sobrancelha era inexistente na parte queimada. Kenna usava luvas mais longas que as de Isaiah, Niall pensou que as cicatrizes desciam até suas mãos.
Kenna e Niall demoraram alguns segundos avaliando um ao outro, semelhantes como irmãos.
- Kenna, estava esperando para te apresentar o Niall, é para ele que eu me dedico - Liam disse. Pela lentidão do álcool ou pelo costume com a personalidade de ambos, sem notar a tensão.
Niall gelou na hora. A expressão que Liam usou, ela não era comum, companheiro era adequado para quando você estava comprometido e ao mesmo tempo não, mas aquela expressão era algo mais complexo. Resumindo, era tipo apresentá-lo como esposo, alma gêmea ou parceiro.
Kenna arqueou a sobrancelha, tão surpresa como ele, mas sem demonstrar a felicidade que Niall repentinamente sentiu.
- Mas e o Zayn? - Ela perguntou e por alguns segundos o trio ficou em silencio.
Liam foi o primeiro a rir, seguido por uma risada controlada da mulher.
Mais uma incógnita. Niall pensou.