Uma suposta facção de balé •...

By callmeikus

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☆CONCLUÍDA☆ longfic • colegial • jm!kitty gang & jk!bailarino Jungkook estava no último ano do ensino médio... More

00 | Avisos
01 | Tendu
02 | Plié
03 | Coupé
04 | Déboulés
#ikusweek2021 crossover | parte 1
05 | Cambré
06 | Relevé
07 | Fondu
08 | Cloche
09 | Chassé
10 | Allegro
12 | Avant, En
13 | Piqué
14 | Tombée
15 | Brisé
16 | Emboité
17 | Chainés
18 | Penchée
19 | Balancé
20 | Pas de Deux
21 | Battement
22 | Entrechat
23 | Dessus
24 | Glissade
25 | Rond de jambe
26 | Pas de valse
27 | Devant
28 | Échappé
29 | Raccourci
30 | Arrière, en
31 | Effacé
32 | Pirouette
33 | Écarté
34 | Passé
35 | Couru
36 | Dégagé
37 | Emboîté
38 | Tour
39 | Final | Changements
40 | Epílogo | Développé

11 | Arrondi

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By callmeikus

Ei, meus faccionários! Que saudades de vocês, estão bem??

Ah, aliás! Agora todas as minhas fanfics têm o "selo ikusverse" que é esse banner em cima! Eu resolvi fazer ele porque como eu escrevo mtas fifics, mta gente fica "VC É A MESMA ESCRITORA DE CROACK E DEVILS???", aí seria tipo uma assinatura minha! Espero que vcs gostem da minha piticaaaa

Boa leitura e não se esqueçam de votar!

#EstrelandoOCoadjuvante

»»🩰««

— E as facções? Nenhuma delas é real? — Jungkook perguntou e imediatamente arrependeu-se de tê-lo feito ao borrar uma das unhas de Jimin. Resmungou em um murmúrio enquanto tentava limpar o esmalte.

— Pode deixar assim, quando o esmalte secar é mais fácil de tirar. — Jimin riu com a concentração de Jungkook na tarefa e o observou aceitar a dica, ainda com um bico chateado nos lábios.

Era um domingo preguiçoso e, como Jungkook ficaria sozinho em casa novamente, Jimin chamou-lhe para a sua. Pelo menos daquela vez os pais dele passaram o sábado em casa e entregaram o cartão de crédito que pediu por e-mail para fazer compras no supermercado.

Os dois já haviam almoçado e estudado um pouco, então Jimin resolveu pintar as unhas, o que lembrou Jungkook de sua parte do contrato. Jimin até tentou explicar que tinha proposto de brincadeira, mas o amigo foi mais rápido e até já tinha apoiado o pé pequeno no seu colo, enquanto observava a caixinha de esmaltes coloridos com curiosidade e perguntava como que funcionava aquilo de pintar unhas.

No final, Jimin aceitou, com um sorriso bobo querendo esboçar em seu rosto ao assistir a dedicação de Jungkook em algo tão banal quanto pintar as unhas de seus pés. Também gostava muito de sentir o apoio das pernas de Jungkook logo abaixo e a forma que as mãos dele seguravam seus pés com cuidado. Havia esquecido de como gostava de toques... Claro, ainda recebia carinho dos pais, mas... era legal poder receber aquilo de outra pessoa também.

— Uma delas é — Jimin finalmente respondeu. — Qual você acha que é? A de drogas, a de prostituição ou a de surra por encomenda?

— Eu só tenho essas três opções para escolher? — Os lábios de Jungkook esboçaram um biquinho confuso que logo permitiram um resmungo escapar entre eles ao que outra unha borrou. Jimin riu. Ele sempre fazia as perguntas certas em vez de pensar na resposta.

— Não.

— Então... facção de alunos inteligentes? — sugeriu, extremamente satisfeito com a própria ideia. — Deve existir isso, não? Acho que se eu fosse inteligente, eu gostaria de andar com outras pessoas inteligentes.

— Você é inteligente. — Jimin riu mais uma vez, dessa vez com a teoria da conspiração completamente absurda. Nunca que os outros alunos dedicados aos estudos manchariam sua bela imagem ficando ao lado dele... Ficar perto de Jimin era simplesmente pedir para que todos os professores, menos a de Literatura, os odiassem.

— Quer que eu te mostre minhas notas?

— Notas medem inteligência? — Jimin contra-argumentou. — Sem contar que você não passa tanto tempo assim estudando porque você tem outras prioridades... Então é normal que suas notas não sejam tão altas. E isso é justo. A escola é uma obrigação, não uma escolha. Por que se dedicar tanto a ela se tem outras coisas que você escolheu e são mais importantes para você?

— Hm... — Jungkook ponderou por um longo momento, mastigando aquelas palavras. — Faz sentido. Que coisa, eu tava começando a achar que você era um defensor da escola.

— Sou defensor do conhecimento e dos estudos. — Jimin riu com a observação. — Não discordo do fato de que todo mundo deveria ter um conhecimento básico sobre coisas gerais que a escola diz ensinar. O problema é como isso é feito e que tem muita coisa que a gente deveria saber, mas não sabe. Então, até isso mudar, não apoio a escola.

— O que você mudaria? — Jungkook questionou mais uma vez, interessado, e o coração de Jimin acelerou ao ter suas opiniões tão bem vindas. Como tinha terminado um dos pés, o bailarino pegou o outro para apoiar em seu colo.

— Bem... Sobre a forma que é feito... O sistema de ensino é muito engessado e, pelo menos na nossa escola, nenhum professor parece querer dar aula. Isso faz com que a gente não aprenda e nem tenha interesse sobre as coisas que estão sendo ensinadas. Muito pelo contrário, a gente absorve a informação para fazer prova, e o resto que se exploda. Por exemplo: história. O quão importante a história não é?

"Se você olhar as coisas que aconteceram e acontecem, parece que a gente vive em ciclos... O cenário muda, mas a cadência dos fatos é muito parecida, são questões que a gente poderia analisar de uma forma mais crítica e agir de uma forma diferente... Quantos governantes não se aproveitaram de crises econômicas, sociais e políticas para se erguer com um discurso de ódio? Com promessas mágicas de resolver a situação em dois segundos? Mas aí não lembramos de que eles não melhoraram a situação, não lembramos dos direitos humanos perdidos. E aí, quando isso acontece de novo, estamos tão desesperados para que alguém nos salve dos problemas, que acreditamos mais uma vez. Como não desenvolvemos uma visão crítica sobre a história e sobre atualidades, não aprendemos a ter opiniões e acabamos sendo arrastados nesse mesmo ciclo de sempre e continua assim... sem fim."

— Faz sentido, acho que eu nunca pensei em história um ensinamento prático para a vida... — Jungkook comentou e Jimin concordou enfaticamente. História virava só mais uma matéria estática, fria, impessoal e inútil. Assim como matemática, química, geografia e tantas outras que têm seu real objetivo enterrado. Corroía Jimin por dentro, cada uma delas tinha tanta coisa para ensinar. E, principalmente, a mistura delas... adorava saber o contexto social que os maiores estudiosos viviam, porque ensinava muito sobre suas teorias e abria porta para comparações e mudanças.

— E aí vem os outros problemas... Por que não temos aulas de educação financeira se vivemos em uma sociedade que orbita dinheiro? Sabia que a maioria dos suicídios é motivado por problemas financeiros?

— Sério? — Jungkook perguntou, surpreso.

— Sim. Acontece mais em países com maior desigualdade econômica e acaba que ninguém liga e nem noticia isso porque é muito comum. Aí ficamos com impressão de que a maioria vem por outros tipos de pressão psicológica, noticiados por países que mais estáveis economicamente e "ligam" para isso. Não que também não seja igualmente alarmante e necessário fazer algo sobre isso... Aulas de inteligência emocional, cidadania, ética... Tanta coisa que a gente precisava aprender como pessoa...

— O que mais você acha que a gente deveria aprender? — Jungkook estava maravilhado com aquela chuva de informações e queria saber mais. Parecia que a própria porta para o universo inteirinho tinha aberto em sua frente. Jimin não conseguiu prender um sorriso daquela vez. Gostava muito de falar, mas... será que Jungkook começaria a reparar naquelas assuntos para poder dar opiniões também? Desejava tanto ter uma discussão sincera e rica.

— Afazeres domésticos básicos, lógica de programação, publicidade e propaganda, sustentabilidade e, mais importante que tudo, educação sexual. — Jimin foi enumerando e, só aí, percebeu que realmente era muita coisa.

— Explique... — Jungkook pediu e, ao finalmente terminar a última das unhas, apoiou o pé de Jimin com cuidado no colchão. Pensou em sair da cama para sentar na cadeira da escrivaninha, mas Jimin segurou seus ombros a fim de mantê-lo lá. Gostava da proximidade dele.

— Todos? — Jimin perguntou, meio receoso. Jungkook assentiu. — Bem... Afazeres domésticos básicos porque a expectativa é que todas as pessoas tenham um teto em cima delas, né... Infelizmente ainda não acontece, mas acho que é a direção que estamos indo... E se a gente tem um teto, a gente precisa saber cuidar da nossa própria casa, não acha? É uma parte grande da nossa vida...

— Mas você não acha que a gente deveria aprender isso em casa mesmo?

— Você aprendeu em casa? — Jimin devolveu a pergunta e Jungkook negou. Não sabia de nada sobre afazeres domésticos porque seus pais sempre pagaram alguém e ele sempre tentava evitar a casa vazia o quanto dava. — Eu aprendi, mas assim... Não sei. Também tem algumas casas que ensinam só as meninas esses tipos de coisa. Na minha cabeça, ser uma educação generalizada já colocaria como uma responsabilidade geral de um humano, não de um gênero.

— Mas passar tanto tempo estudando isso parece estranho também...

— Ah, eu não penso em algo tipo as matérias que a gente tem... Tipo, que a gente estuda durante todos os anos da escola. Talvez só alguns meses no fundamental ainda... Confesso que eu não sei muito bem, tem que ver questões como a idade em que já é interessante para o desenvolvimento de uma criança aprender esse tipo de coisa e quais assuntos são prioridade ensinar... Educação é algo complexo.

— Verdade — Jungkook concordou, pensativo, porque nunca teve tal ponto de vista. Era muito fácil querer mudanças, mas fazer com que elas sejam realmente adequadas precisava de muita dedicação e conhecimento.

— Sobre lógica de programação... É só o básico, porque é uma boa forma de exercitar o pensamento lógico-matemático e também porque em um mundo cada vez mais tecnológico, saber um pouco sobre nos empodera sobre nossos arredores... tudo é algoritmo. Então é melhor que a gente entenda para não sermos controlados por eles, né? Sei lá, eu penso assim. Confesso que não acho programação interessante, mas ter aprendido o básico me abriu espaço para eu pensar e enxergar as coisas de uma forma diferente e... Jungkook, eu falo demais?

— Fala, mas eu gosto de te ouvir falar. — Jungkook riu e Jimin corou um pouquinho. — Continua, eu quero aprender coisas novas.

— Tá... — Jimin murmurou, ainda um pouco tímido, para não dizer incrédulo, com todo aquele interesse genuíno. — Bem, publicidade e propaganda eu não sei explicar tão bem... Mas é tipo assim, o mundo é capitalista, certo? Aí a gente é criado para consumir, e toda hora somos vítimas de propaganda. Se a gente aprendesse os mecanismos psicológicos por trás do porquê a propaganda mexe tanto com a gente, e que queremos tanto tudo, com tanta impulsividade, a gente conseguiria ter um olhar mais "racional" e termos mais consciência do nosso consumo. Eu acho que consumir é natural e algo que precisamos... Mas acho que a gente consome muita coisa sem perceber também. Aí isso acho que já emenda com sustentabilidade, que preza o equilíbrio entre o ambiental, social e econômico.

— Parece teoria da conspiração! — Jungkook gargalhou e Jimin seguiu, sentindo-se completamente leve em conversar aquilo. — E educação sexual?

— Ah... Pra mim talvez seja a mais importante, é o único jeito da gente fugir da nossa cultura de machismo e estupro. Primeiro para remediar: aparentemente a maior parte de vítimas de assédio são crianças... Elas precisam entender o que é certo e errado para poderem se proteger, para crescerem e não acharem que educação sexual é pornografia. E a longo prazo... Se as pessoas forem educadas sobre sexo como algo muito mais que uma performance esteriotipada masculina ou feminina, com responsabilidade, tudo ia ficar tão melhor... Isso é uma discussão longa, na verdade, eu tenho estudado sobre isso através de umas pesquisas e debates, se você quiser eu posso te mostrar depois e...

É claro que Jungkook não iria querer saber mais daquela aquela pilha de informação e chatisse. Ninguém queria saber. Só Jimin.

— Quero, sim — Jungkook pediu com olhinhos brilhosos, tão interessado que Jimin pensou que iria explodir de animação.

— Não é fácil, hein, gracinha? — Tentou provocar, em um súbito pânico ao ver alguém ter interesse na busca por conhecimento pela qual era tão apaixonado. Não sabia lidar. — Nesse tipo de coisa não existe certo e errado... e é frustrante perceber que a gente nunca vai saber o suficiente e sempre precisa aprender mais.

— Tudo bem.

— Ouvir e pensar e aprender! — insistiu. — Aí ouvir outra coisa, e pensar mais outra completamente diferente, até o contrário do que você achava antes, e aprender de novo! Para sempre!

— Tudo bem... Desde que você me ajude, eu acho que consigo.

— Você não tem vergonha de dizer esse tipo de coisa? — resmungou revoltado, tentando esconder a própria timidez e felicidade com as palavras de Jungkook. Ele era acolhedor demais, e Jimin não sabia lidar com acolhimento.

— Não... — Jungkook suspirou baixinho, afastando o olhar, subitamente sério. — É que você disse que eu podia mostrar pra você e... eu tô me aproveitando disso. Quer que eu pare?

Jimin ficou em silêncio e seus olhos arregalados com o que ouviu. Cada palavra fazia muito sentido, mesmo, e não queria tolher Jungkook de ser o que queria, nem de falar o que pensava. Eles tinham um contrato claro que atestava que seriam aquele ponto de apoio um do outro e que eles poderiam abandonar as barreiras que usavam com os outros — a de quietude e a de rebeldia.

— Não, claro que não. Me desculpa... — Abriu-se um pouquinho, porque tinha prometido que ia se mostrar a Jungkook também. Mas só um pouquinho. Com cuidado para não borrar as unhas dos pés, engatinhou pela cama e abraçou os ombros largos dele, a outra cláusula do contrato. Percebeu o quanto se beneficiava dela com o conforto que sentiu ao ser enlaçado de volta. — Acho que estou tão feliz em ser ouvido, em poder compartilhar as coisas que eu gosto, que eu fico meio sem jeito assim mesmo...

— Tudo bem. — Jungkook aceitou as desculpas, radiante, e enterrou o rosto nos ombros e no cheiro doce de Jimin. — Ah... Quase esqueci. E a facção?

— Ainda não descobriu a resposta? — Jimin riu, desvencilhando-se do abraço, mas continuando do ladinho de Jungkook, ajeitando seus fios longos para trás da orelha.

— Não faço a mínima ideia. — Franziu o nariz, pensativo. Adorável — Só que drogas não faz sentido... nunca te vi mexendo com nada. Prostituição também não.

— Não é? — Jimin riu, mas um riso triste. — Não acha um pouco cruel acusarem um garoto de 16 anos de prostituição? Será que foi por causa das roupas?

— Acho que esse tipo de coisa não tem motivo... — Jungkook murmurou, observando atentamente o desconforto de Jimin ao falar do assunto. Logo ele, que parecia tão radiante vestindo os shorts jeans de cintura alta cheios de spikes assim como a gargantilha preta. E também aquele cropped rosa que mais parecia um pedaço da sua pele. — Se as pessoas quiserem inventar mentiras, elas vão achar um motivo pra poder fazer isso, mesmo que à força ou criando um motivo. Se for assim, você não poderia fazer nem ser nada, e falo por experiência própria que isso é uma merda também.

— Faz sentido... — murmurou de volta, triste. Toda aquela quietude de Jungkook... cada vez mais entendia o quão ensurdecedora ela sempre foi para seu bailarino favorito.

— Vou confessar... — Jungkook voltou à conversa anterior, tentando erguer os ânimos. — Que acho a da surra a mais provável. Você deve ser o mestre do kung-fu!

— Ah, não! — Jimin gargalhou. E a gargalhada dele era doce como seu cheiro. — Luto só para me proteger, longe de mim fazer isso pelos outros, ainda mais por dinheiro! Meu mestre ia fazer picadinho de mim se eu desonrasse a filosofia desse jeito.

— Então qual é a sua facção? — Jungkook perguntou por fim, curioso demais.

— A de balé, seu bobo! — respondeu, rindo. — Acho que eu levo jeito para ela, não levo?

— Leva. Eu também, não acha?

— Está ficando metido já, bailarino?

— Acho que sim... — Jungkook admitiu, corando um pouco. — Eu me sinto tão feliz e orgulhoso quando me observo pelo espelho da sala... Acho que tô virando o que eu sempre quis ser.

— Pois é sempre bom carregar orgulho com você mesmo! — Jimin encorajou, ajeitando os cabelos longos dele, mesmo que já estivessem ajeitados, e por suas mãos. — Ele só vai aumentar, eu tenho certeza.

Jungkook encarou demorada e silenciosamente Jimin, pensando que a versão sincera dele era tão incrível quanto a durona, tão forte quanto também. Sorriu antes de puxá-lo para mais um abraço e começou a rir ao ouvir Jimin resmungar de um jeito que sabia ser só manha. Nunca pensou que poderia conhecer alguém e ser conhecido, e a mera rotina parecia sonho, era incrível. Jimin era mágico. Talvez apenas gratidão conseguisse resumir toda a bagunça boa de sentimentos em seu peito.

— Obrigado.

-💋-

— Eu desisto, nunca vou aprender números complexos! — Jungkook resmungou, jogando seu corpo em cima da bancada do caixa da loja de conveniências, completamente apinhada de livros e cadernos.

— Vai sim, caralho! — Jimin retrucou e começou a cutucar as costelas alheias.

— Claro que não! Como vou aprender um negócio que o nome é literalmente "complexo"? Não aprendo nem números simples!

— É só o nome! Não é tão difícil assim, é praticamente só aplicação do que a gente já estudou.

— Quem disse que eu sei o que a gente estudou? — Jungkook choramingou novamente, e Jimin revirou os olhos de impaciência com o drama.

Mas antes que pudesse continuar reclamando das atitudes infantis de Jungkook, percebeu que era a primeira vez que o amigo estava sendo, de fato, infantil com ele. Achou adorável descobrir um novo lado barulhento dele e, antes que seu racional pudesse impedi-lo e mantivesse a pose de bravo, acabou levando os dedos até as costelas completamente expostas, fazendo cócegas.

— Isso é golpe baixo! — Jungkook ofegou enquanto ria e tentava se afastar das mãos brincalhonas. Jimin, por outro lado, estava em puro êxtase ao descobrir que Jungkook sentia cócegas; era como se tivesse achado a localização de um baú do tesouro.

— Eu não jogo limpo, gracinha! — Sorriu, uma mistura do sorriso mordaz com aquele leve e divertido. Jungkook gostava daquele sorriso, mas não suportava cócegas, então teve que interrompê-lo mesmo que Jimin parecesse tão feliz.

Segurou as mãos pequenas com as suas, tomando cuidado para não estragar as unhas longas e tão bem cuidadas. Jimin não ofereceu resistência, mesmo sabendo que era bem mais forte, e permitiu que Jungkook se salvasse de seus dedos. Estava pegando leve, é claro, mas só porque seria covardia ir a sério contra ele.

Jungkook contemplou as mãos entre as suas, achando adoráveis. Eram pequenas e macias, muito diferentes das próprias. Do nada, ficou morto de vontade de abraçar Jimin e, como sempre era encorajado a fazê-lo, não demorou para puxar o amigo contra seu peito.

— Ei, você tá bem? — Jimin perguntou preocupado contra o uniforme de Jungkook. Ele parecia tão tranquilo antes... será que estava triste por causa dos números complexos?

— Sim... Você disse que eu poderia te abraçar quando estivesse feliz também — lembrou.

— Você está feliz então? — perguntou, curioso. Felicidade era uma palavra tão estranha e difícil de atribuir... Não sabia dizer se era feliz ou não, apesar de entender quando se sentia feliz ou alegre. Era mais uma ação do que um estado. Será que era o mesmo para Jungkook?

— Sim. — Jungkook o apertou ainda mais no abraço, rodeado do cheirinho doce de Jimin, mesmo que ele estivesse usando roupas "normais" e o rosto não possuísse nenhum traço de maquiagem. Uma luz acendeu-se na mente de Jungkook. — Você se veste assim pra não me dar problema no trabalho?

— Pensei que eu fosse menos óbvio... — Jimin resmungou, chateado ao ver que Jungkook percebeu suas intenções. Sempre achou que tinha construído muito bem o seu personagem, mas agora ele parecia cristalino e frágil.

— Desculpa... e obrigado — murmurou. — Eu... eu realmente gosto de quando você tá vestindo suas roupas de sempre.

— Porque você é um pervertido, gracinha — Jimin provocou. — Sempre desconfiei que gostasse de roupas curtas...

— Desculpa, não queria te envergonhar... — Jungkook pediu mais uma vez, acariciando os cabelos cor de rosa de Jimin, ainda dentro do abraço, ao perceber que ele tinha entrado no piloto automático da vergonha. — Mas você não devia falar isso de você mesmo.

— Eu não falei nada sobre mim, eu estou chamando você de pervertido, seu pervertido!

— Jimin... Será que você é uma daquelas pessoas que são tão inteligentes que, no fundo, são meio burras também? — Jungkook afastou o abraço para fitar os olhos de Jimin, genuinamente curioso. Sem aguentar, Jimin acabou caindo na gargalhada com toda a sinceridade que ele exalava.

— Eu devia te quebrar na porrada! Onde já se viu me chamar de burro assim, com todas as letras?

— Não te chamei de burro! Só levantei uma dúvida! — Defendeu-se, aterrorizado com a possibilidade de brigar com Jimin. — Por favor, poupe minhas bolas!

Sua reação fez Jimin gargalhar mais alto ainda, refletindo a improbabilidade de toda a situação e do tipo de relação que tinham. Fazia menos de duas semanas desde que Jungkook tinha conhecido como ele era atrás de sua armadura, ou melhor... quem ele era. Como tinham passado de gato e rato, em que o gato inclusive ameaçava coisas como chutes nas bolas e vazamento de vídeo, para amigos que gostavam até demais de abraços?

Não sabia. Pensando em retrospectiva, tudo parecia completamente inesperado e nem entendia muito bem como deu certo. Mas tudo estava certo, em uma mudança de verbos de tirar o fôlego, e poderia aproveitar, não poderia? Poderia aceitar que era parte de um relacionamento em que podia tanto ser sincero com seus sentimentos quanto tentar enterrá-los inutilmente sem ser julgado. Que poderia rir, abraçar e reagir sem pensar demais, ser só o que queria ser no momento.

— Ai, gracinha, eu odeio o jeito que você me entende...

— Mentiroso! — Jungkook retrucou com um biquinho logo depois de levantar-se para arrumar as prateleiras, querendo fugir da fúria de Jimin que esperava despertar.

— Pois agora além de burro, eu sou mentiroso?

— Só mentiroso! Já falei que a burrice foi só uma dúvida! — Jungkook riu, tão leve que Jimin se encheu de ânimo em vê-lo livre de todas as amarras que sempre reprimiam aquela personalidade contagiante. Aquela que também aparecia com a musicalidade de cada passo que dava nas aulas de balé.

Jimin levantou-se também, fazendo uma expressão de revolta e apoiando as mãos nos quadris antes de ir atrás de Jungkook pela loja. O bailarino bem tentou fugir, gargalhando, e fizeram uma espécie de mini marcha atlética — não podiam correr no local — antes que Jimin alcançasse Jungkook, prendendo-o em um abraço por trás.

— Eu já te disse que não te chamei de burro! — Jungkook tentou defender-se, morrendo de medo de uma nova sessão de cócegas.

— Mas me chamou de mentiroso.

— E não é? — retrucou, ainda tentando desvencilhar-se do abraço. — Eu amo tanto o jeito que você me entende que não consigo entender por que você odiaria que eu te entendesse de volta. Não é gostoso ser entendido?

— Ai, gracinha... Às vezes me pergunto se você ouve as coisas que diz — resmungou, as bochechas em chamas. Jungkook torceu o pescoço apenas para atestar que Jimin estava envergonhado mais uma vez.

— Ouço, sim, e acho elas super verdadeiras! E olha que não sou bom com as palavras. Na verdade... fiquei muito feliz em te ouvir falar que eu te entendo, porque eu às vezes fico com medo de não conseguir te corresponder por ser bobo.

— Jungkook... — Jimin suspirou, sem saber como responder. Jungkook era sincero demais para toda sua vergonha. E, de fato, ele não tinha mentido, não era nada tímido e quieto. Achou que tinha aberto com cuidado uma torneirinha, mas ela explodiu e vazava tanto que estava prestes a inundar Jimin.

— Você realmente não gosta que eu te entenda? — Jungkook perguntou com certa seriedade, fugindo do aperto para encarar Jimin de frente.

— Gosto... — Jimin confessou, completamente corado. E pior, completamente revoltado em ter sido coagido a expressar seus verdadeiros sentimentos. Jeon Jungkook era um manipulador, isso sim!

— Ótimo! Vou fazer meu melhor pra ser um amigo que te entende... Só tem que ter paciência porque às vezes você é mais complexo do que os números complexos.

— Queria eu que você aprendesse números complexos com a mesma facilidade que me lê — reclamou.

— Jimin... Mas eu não entendo uma coisa, por que você fala mal das suas roupas quando tá envergonhado?

— Eu não falei mal delas, eu falei mal de você, seu pervertido! Por que você gosta delas, hein? — devolveu, ainda arisco.

— Porque você parece feliz usando... Você é bonito de qualquer jeito, né, mas com elas parece ainda mais. Acho que sua beleza é potencializada quando você fica feliz — explicou com um tom de obviedade da voz, como se atestasse que 1+1 era 2.

— Jungkook! Você não tem vergonha de dizer uma coisa dessas? — Logo Jimin, que adorava retrucar o quanto era lindo, não sabia o que dizer naquela situação. Ter um terceiro que não fosse seus pais falando que era lindo, ainda mais de verdade, era estranho.

— Por que eu teria? É a verdade. Você também já me chamou de gostoso uma vez — Jungkook ponderou. Achava que ele podia falar sobre aquele assunto com Jimin.

— Eu estava te provocando!

— Então você não me acha gostoso? Poxa...

— Que saudades de quando você me deixava acreditar que era um garoto tímido...

— Mas eu avisei que eu não era... Só... só que eu sempre criei conversas enormes só na minha cabeça, porque eu não tinha ninguém pra conversar antes. Tá vindo aos poucos.

— Entendi...

— Isso te incomoda?

— Você sabe que não, Jungkook, só não sei como reagir direito. Ao contrário de você que cria conversas enormes na sua cabeça, eu falei tantas coisas falsas que minha se confunde às vezes. — Apoiou a mão no rosto, inconsolável.

— Por quê?

— Porque você fala verdades demais e não sei responder verdades de volta, não sem pelo menos uma camadinha de mentira por cima para me proteger.

— Tudo bem se você se sente mais seguro assim. Pode resmungar e me xingar, eu aguento. Mas converse sério comigo se um dia eu te incomodar de verdade...

— Você nunca me incomodaria, Jungkook... — Jimin tomou coragem para falar, mas logo arrependeu-se, puxando Jungkook pelo pulso de volta para a parte de trás do caixa. — Nossa pausa já foi longa, vou te ensinar números complexos, você vai ver.

Jungkook apenas deixou-se ser arrastado, rindo docemente do jeito de Jimin, e deixando-o ainda mais envergonhado com a situação. Ainda achava estranho o fato de não incomodar Jimin, ainda mais sendo ajudado por ele para tanta coisa... Ele sentia-se um incômodo até para os pais, quem dirá um terceiro que não tinha nenhuma obrigação para com ele?

Sentaram-se e Jimin explicou pacientemente a matéria mais uma vez antes de passar uma lista de exercícios para Jungkook que, depois de resmungar, finalmente cedeu e começou a resolver as questões por partes, focando no que não parecia tão assustador primeiro. Mas aquele "i" do lado de números deixava-no nervoso, achava um absurdo quando apareciam letras junto dos números.

Jimin ficou logo ao lado, observando com calma o raciocínio de Jungkook desenrolar-se em seu próprio tempo enquanto apoiava o queixo nas mãos, debruçado no caixa. Uma hora seu olhar desviou da caligrafia engraçada de Jungkook para seu rosto.

A franja longa não caía no rosto daquela vez graças às presilhas pretas que Jimin pegou emprestado da mãe. Apesar de não ter maquiagem ressaltando-os, todos os traços do rosto de Jungkook eram marcantes, desde a mandíbula bem desenhada até os olhos redondinhos. Os dedos de Jimin não aguentaram e logo foram ajeitar o cabelo dele que, de tão acostumado com o toque, não esboçou reações.

— Você também é muito bonito... — murmurou, tão baixinho que parecia que não queria que Jungkook escutasse. E, em parte, aquilo era verdade. Jungkook virou a cabeça para fitá-lo, espantado. — E fica ainda mais lindo quando dança. Sua beleza também é potencializada quando você fica feliz.

Jimin desviou o olhar, esperando as provocações virem. Sentia-se completamente humilhado em falar tais palavras em voz alta, em elogiar alguém com tanta sinceridade, abrindo o coração. Esperava que Jungkook risse. Mas a risada nunca veio.

— Obrigado — ele falou, porque se conseguia trilhar os caminhos para sua felicidade, era porque Jimin esteve lá ajudando a tirar a poeira que escondia as alternativas até então. Apesar de ter virado a cara de tanta vergonha, Jimin sabia que ele estava sorrindo só pelo tom macio da voz.

Só teve coragem de voltar a olhá-lo, pouco disposto a mostrar ainda mais suas bochechas rubras, longos minutos depois. Para sua surpresa, Jungkook já estava quase no final da lista de exercícios e não parecia carregar nenhum traço de provocação na expressão.

E Jimin sentiu-se idiota. Jungkook nunca o provocaria ou o humilharia por causa de um elogio, quem tinha aquele mecanismo de defesa era ele mesmo. Jungkook sabia aproveitar e sentir genuinamente todas aquelas emoções que considerava vergonhosas e, sinceramente, o invejou. Encostou a cabeça no ombro dele, refletindo por um momento se um dia seria capaz de aproveitar plenamente todas as coisas boas que nem ele fazia. Tinha tanto a aprender com ele...

Estava tão confortável que deixou seus olhos pesarem, acordando apenas com o sino da porta indicando a entrada de um dos poucos clientes daquele dia. Afastou-se para não atrapalhar Jungkook e ergueu o olhar para observar o cliente também.

E, com um olhar tão espantado quanto o de Jimin e o de Jungkook, estava Jung Hoseok.

»»🩰««

Jungkook tá arredondando/amaciando nosso menino espinhento hihi E TCHARAM, HOSEOK APARECEU NO FINAL HIHIHI RINHA DE PERSONAGEMMMM

Qual foi a cena favorita de vocês? A minha é do Jimin tagarela, mas é pq é super super pessoal pra mim. Eu tenho essa vibe meio nerdola/curiosa e eu sei q não é todo mundo q tem interesse em conversar sobre alguma coisa, aí fico empolgadinha quando consigo, e em geral faço através das fanfics. Então é como se vcs fossem os meus Jungkooks?

Espero mto que tenham gostado do capítulo! Mto mto obrigada a todo mundo que lê, comenta, vota, e surta comigo lá no #EstrelandoOCoadjuvante. Amo vcs!

ALIÁS, EU ESTOU COM UM LIVRINHO NA PRÉ-VENDA!! OLHA QUE LINDO!!! LINK NA MINHA BIOOO

Beijinhos de luz e até dia 16/07, às 19:00!

Amo vocês!


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