/Gregory/
Depois de tudo que ouvi dela, não consigo imaginar como me sentiria se estivesse em seu lugar, na verdade não sabia muito bem o que fazer para conforta-la, então decidimos ficar ali naquela cabana até o fim do expediente nosso.
Mesmo depois de ter descoberto que seu pai estava vivo por todos esses anos enquanto ela já sofria por pensar na possibilidade dele estar morto, ela procurava alguma forma de lidar com isso e eu quero tentar fazer algo que possa ajudar ela com isso. No momento o que consegui fazer foi dar ideia de irmos fazer algo para comermos
-Tem ideia de que vamos comer?- Clair me pergunta assim que entramos na cozinha
-Imagino que nesse lugar eles não entregam comida- Falo a observando indo procurar algo nos armários
-Menos ainda tem sinal de celular direito- Diz saindo de trás de uma das portas e sorrindo- Esses dias estive aqui e trouxe algumas coisas que duram mais, podemos fazer macarrão, o que acha?
-Por mim está ótimo, mas eu não gosto de outra pessoa auxiliando na cozinha, então como era para mim cuidar de você, pode indo para sala ou se sentando e apenas observando enquanto eu faço nossa comida.
Nem dou tempo dela protestar e começo a puxar ela para fora dali, enquanto eu começo a preparar o macarrão. Ela saiu da cozinha e não sei o que foi fazer, mas resolvi focar ali na comida mesmo, estava com fome e ela precisava comer alguma coisa também já que não a vi indo tomar café no serviço.
Começo a me lembrar do jeito que ela ficou na biblioteca antes do idiota do James aparecer, ela parecia saber o que ia acontecer, como se já tivesse passado por algo parecido. Clair costuma ser calma, respondona quando quer, mas calma e foi por pensar muito no que ouviu de sua mãe que ela começou a ficar daquele estado, o que com certeza tem muito mais coisas sobre ela que eu não faço ideia e por mais que Gabriel tenha avisado para não me envolver, não colocar sentimentos, eu queria saber o que afligia ela e poder ajudar- Gregory, chega, para com isso, você sabe muito bem que não pode ter nada com essa garota, concentre-se- Me repreendo internamente e volto minha atenção para o que eu estava fazendo ali.
-Clair?- Digo já servindo para nós dois- Ei ruivinha, já esta pronto.
-Certo- Ela aparece sorrindo meio sem jeito- Obrigada
-Está tudo bem?
-Sim, está sim. Eu só estava arrumando umas coisinhas, já que não gosta de interrupção- Diz se sentando e posso sentir um tom sarcástico em sua voz
-Não gosto mesmo- Falo rindo- Obrigado por entender meu lado.
Ela me da um pequeno sorriso e começa a comer, me sento junto a ela e faço o mesmo. Ela estava com uma feição mais tranquila um pouco, mesmo sabendo que ainda pensava em tudo, não parecia que a qualquer momento ela fosse ficar mal outra vez, pude sentir um alivio com isso.
-Nada mau- Diz tomando um pouco de suco de laranja- Não sabia que era um bom cozinheiro
-Eu sou cheio de surpresas- Falo sorrindo fraco a ela que me devolve o sorriso- Posso te fazer uma pergunta?
-Fora essa que acabou de fazer?- Fala me olhando rapidamente
-Engraçadinha- Digo rindo baixo- Sim, fora essa
-Claro, tudo bem- Diz dando de ombro e me olhando- O que quer saber?
-Você me disse outra noite que havia repetido um ano, não foi?- Digo tentando ser mais cauteloso possível, não queria ser intrometido, só queria tentar entender
-Foi sim- Fala calma- Você quer saber o por que não é?
-Bom, se não for ser muito intrometido da minha parte ou se não quiser falar tudo bem, só pensei que nesse tempo poderíamos nos conhecer melhor
-Certo- Diz desviando o olhar pensativa, dá um leve suspiro e brinca com a comida a sua frente- Eu... Bom... Eu repeti porque foi um ano complicado demais para mim, tinha muitas crises de pânico e não me sentia bem quando ficava em uma sala cheia de alunos, então minhas notas caíram e também acabei faltando muito
-Sinto muito por isso, não precisa me dizer o que realmente causou isso, se algum dia quiser, estarei aqui- Falo segurando a mão dela em cima da mesa e ela levanta seu olhar para mim
-Um dia quem sabe- Diz sorrindo fraco- Obrigada por entender.
Meu celular começa a vibrar no bolso de minha calça e acabo levando um pequeno susto, Clair tira sua mão rapidamente e começa a pegar as louças para lavar. Assim que olho no celular vejo que é Gabe querendo saber onde eu estava
-Ruivinha você não disse que aqui é sem sinal?
-Disse que depende, momentos pega, em outros ele some, depende muito de onde você estiver pela casa, por que?
-E onde pega melhor? Preciso responder
-Lá nos quartos de cima funciona um pouco melhor, pode subir lá, meu quarto está com a porta aberta.
-Obrigado, não vou demorar.
Me levanto e vou para o segundo andar da casa, todas a portas estão fechadas, exceto duas, uma que com certeza é o quarto dela já que está totalmente aberta e uma outra que a porta está entreaberta, sigo para o quarto dela.
Gabriel: Greg onde você está? Fui no seu serviço e falaram que te dispensaram mais cedo
Gabriel: Você está com ela?
Eu: Estou com ela sim. Mas o que foi fazer no meu serviço atrás de mim? Chaz está bem?
Gabriel: Ele está bem.
Gabriel: Não esquece que conversamos que não pode nutrir sentimentos por essa ruivinha, isso só vai te atrapalhar.
Eu: Já entendi, não precisa ficar repetindo.
Eu: Agora fala, se não é com o Chaz, o que aconteceu?
Gabriel: Não podemos falar por mensagem, preciso urgente falar com você, volta embora o mais rápido que puder.
Gabriel: Preciso ir, te vejo daqui a pouco.
Assim que guardo o celular no bolso começo a tentar imaginar o que ele queria falar dessa vez, desde que cheguei aqui e comecei a confiar nele, só me enche de enigmas e minhas paciência esta se esgotando já. Como por exemplo, ele me perguntou se já cheguei a cogitar a ideia de que meus pais morreram mesmo em um acidente, ou que eles possam ter inimigos poderosos; mas que tipo de inimigos poderosos? Pessoas com muito dinheiro nesse lugar são raros, ou até mesmo com influência, é um lugar pequeno e uma hora ou outra iriam cometer no erro de falar algo e as pessoas espalharem, mas de todos que já fui atrás, ninguém ouviu nada, firmam a mesma coisa que meus pais eram boas pessoas e que sentem pela minha perda.
Seja o que for que ele tenha para me dizer, ele vai ter que esperar, ainda tem mais algum tempo antes de irmos embora daqui. Ouço Clair me chamando lá de baixo e saio de meus devaneios, indo para sala de novo.
-Tudo bem?- Ela me questiona parada no fim da escada- É algo com Charles?
-Não, quer dizer, está tudo bem sim
-Certo, vem- Ela sai e vai em direção a sala e a sigo
A lareira estava acessa, então a vejo indo se sentar um pouco a frente para se esquentar, ali realmente estava esfriando conforme vai se aproximando do final do dia, então decido me juntar ela. Assim que me sento ao seu lado mas não muito perto, ficamos em silêncio por um breve tempo, ambos pareciam distantes
-Obrigada- Ela fala sem mais nem menos e a encaro sem dizer nada- Acho que precisava falar com alguém
-Ah sim, sem problema- Lhe dou um sorriso e me viro para observar o fogo a nossa frente- Você não falou disso com a Jeniffer?- Digo realmente curioso já que elas são bem próximas
-Não- Diz sorrindo pequeno e olhando para suas mãos- Ela estava feliz demais com uma viagem e não quis preocupa-la
-Compreendo, prefere sofrer sozinha do que compartilhar com alguém ou deixar as pessoas preocupadas
-Por ai- Fala se virando para lareira também- Só preciso colocar tudo no lugar antes de voltar para casa agora
Não digo nada assim que ela termina, não sei bem o que falar então fico quieto e ela também. Volto a olhar para ela que ainda estava olhando o fogo dançando, tenho que ser sincero que ela realmente era muito linda, com a pouca luz vindo da lareira, não sei como, mas ressaltava um tom avermelhado para o cabelo dela e sua pela branquinha que se sobressaia no meio da cor vermelha de seus cabelos, seus lábios e até suas bochechas um pouco rosa, de fato era uma vista e tanto.
-Se quiser passar uns dias em casa- Digo sem nem pensar- Quer dizer...
-Não sei se seria uma boa ideia
-É eu sei- Falo rindo- Nem eu sei por que disse isso- Dou de ombro e ela ri- Mas se quiser, pode mesmo, tem mais dois homens mas garanto que eles não serão problema
-Bom vamos ver como estão as coisas em casa, quem sabe não acabe aceitando- Diz me olhando e sorrindo pequeno- Só poucos dias não fará mal, certo?!
-Sim, claro- Digo sorrindo de volta para ela.
Já estava começando a escurecer então fechamos a casa e juntamos nossas coisas. Acompanhei Clair até sua casa, fomos o caminho todo quietos, parecia que quanto mais perto de sua casa ficávamos, mais ansiosa e nervosa ela ficava. Assim que entramos sua mãe estava procurando ou guardando algo em sua bolsa distraída.
-Oi mãe- Clair diz indo lhe dar um abraço
-Oi minha Clair- Devolve o abraço e levanta o olhar em minha direção- Olá... Gregory não é?
-Oi Dona Scarlet, isso mesmo- Falo indo a cumprimentar- Como a senhora está?
-Eu estou bem, obrigada- Ela se vira para sua filha como se lembrasse de algo importante- Clair você está bem? Ela passou mal Gregory, por isso a trouxe?
-Não mãe, eu estou bem, ele só foi gentil, só isso- Diz olhando de mim para sua mãe de volta e apenas concordo com a cabeça.
-Muito bem- Suspira e leva a mão ao peito como sinal de alivio- Bom eu preciso ir pro serviço
-Mãe, eu andei pensando e a senhora sabe como fico nervosa e tenho aqueles problemas de pânico...- Diz tentando achar as palavras certas pelo visto- E sendo sincera, só de pensar em voltar aqui me vem lembranças e não é nada com a senhora, eu só...
-Minha Clair, venha cá- Mãe dela diz a puxando para outro abraço e eu fico só observando- Está tudo bem, eu acho que já posso adivinhar, você quer passar um tempo na casa de Jeni já que estão entrando de férias não é?
-Bom... mais ou menos isso- Diz a encarando- Jeni vai viajar mas a outra parte a senhora acertou, acontece que não quero deixar a senhora sozinha aqui
-Não se preocupe comigo, eu estou muito bem e faz tempo que não tenho dores fortes e você sabe disso- Fala sorrindo e acariciando os cabelos de sua filha- Mas se não é na Jeni, é na casa de quem?
-Então... Greg me convidou...
-Bom senhora Miller, eu ofereci que ela ficasse uns dias em minha casa, não irá acontecer nada de ruim a ela e posso prometer para senhora- Corto Clair pelo simples motivo que notei a feição de preocupada de sua mãe e tento transparecer calmo
-E você mora sozinho rapaz?- Ela se vira para mim com uma sobrancelha erguida
-Não exatamente, sou eu e mais dois amigos, mas mal ficam lá e todos conhecem Clair e jamais fariam algum mal há ela
-Mãe, o que ele está querendo dizer, que eu conheço todos os dois amigos dele e não irá acontecer nada, seria poucos dias, só pra eu não ter o risco de ficar mal como da outra vez
-Não sei se é uma boa ideia querida, você em uma casa com três homens, nada contra você Gregory
-Tudo bem, entendo sua preocupação- Digo me encostando na parede da sala e observando as duas
-Mãe, nunca te dei motivos para desconfiar de mim, por favor
-Onde ela dormiria? Tem quartos para todos lá separados?
-Ela poderia ficar dormindo no meu quarto e eu ficaria na sala ou dividiria o quarto com outro amigo, sem problema algum- Falo olhando diretamente para mãe dela e noto Clair sorrindo pequeno
-Tem certeza que é disso que você precisa? É isso que você quer querida?
-Sim mamãe, se a Jeni não fosse viajar a trabalho, eu ficaria na casa dela, mas não sei se iria conseguir evitar de ficar mal aqui e a senhora também não precisaria se preocupar em me deixar sozinha aqui enquanto trabalha. Irei falar com a senhora todos os dias que eu estiver por lá
-Não é para esquecer de me ligar, ouviu?- Diz e Clair sorri e a abraça- Por favor tenha juízo e se cuida
-Pode deixar, eu prometo!
-E você rapaz, cuida dela se não pode mesmo se arrepender, posso parecer calma mas não queira me ver brava- Diz séria e dando um pequeno suspiro
-Pode deixar Dona Scarlet, sua filha será bem cuidada
-Muito bem, agora preciso mesmo ir- Fala dando um beijo no rosto de sua filha e me cumprimentando fazendo menção de que está de olho em mim- Te amo querida
-Também te amo mãe, qualquer coisa me liga, está bem?
-Digo o mesmo a você.
A mãe dela sai em seguida e Clair vai pegar algumas roupas e outras coisas a mais para irmos embora. Fico algum tempo observando as fotos que haviam na sala enquanto ela tomava seu banho, vejo uma que está Clair, sua mãe e outro homem que deve ser seu pai pelo tom avermelhado que seu cabelo tinha, o mesmo que era o cabelo de Clair, os três pareciam bem felizes até que me lembro das coisas que ela me contou- O que será que se passa na cabeça de um homem para abandonar sua família dessa maneira, abandonar sua filha assim e agora aparecer depois de anos dessa forma?!- Clair aparece com suas coisas arrumadas já e me tira dos meus devaneios.
Ela estava com uma camiseta toda azul claro, uma calça moletom e um tênis baixo, simples porém não deixava de ser linda. Desvio meus pensamentos e vou em sua direção ajudar a levar as coisas para minha casa.
Chegando em casa vejo Gabriel e Charles na sala e assim que olho para Gabriel que me lembro de sua mensagem de mais cedo, eles nos olham confusos assim que nós dois entramos mas cumprimentam Clair em seguida
-Ela vai passar uns dias aqui com a gente- Digo sério, Chaz sorri e Gabe continua com o semblante indecifrável mas sei que irá falar algo a respeito quando tiver só nós dois mas procuro ignorar isso
-Seja bem-vinda Clair- Chaz diz a abraçando e notando o olhar meu e de Gabriel um para o outro- Ela vai ficar no seu quarto né Greg?
-Isso, durmo aqui na sala- Digo olhando para Charles
-Tem certeza? Não estou afim de confusão por isso- Clair se pronuncia
-De jeito nenhum, vem comigo que eu te ajudo a levar as coisas lá pra dentro- Charles fala pegando a bolsa dela de minha mão e indo com ela para dentro guardar tudo.
Nessas horas Charles é o salvador, mas agora preciso resolver outro problema antes de agradecer ele.
-Isso é sério?- Gabriel por fim diz algo, depois que está só nós dois parados no meio da sala
-Sim, como eu estou pagando para ficar aqui e fico mais que você, me senti no direito e ela está precisando ficar longe de casa por uns dias e digo mais, se eu ver você a tratando mal irá se ver comigo, entendeu?
-Como quiser, mas depois não diga que não avisei
-Certo, sei o que estou fazendo, não pedi uma babá quando aceitei sua ajuda- Digo irritado pela forma que ele estava tratando toda situação- O que você queria falar comigo de tão urgente? Já estou aqui
-Não podemos falar aqui, vamos dar uma volta- Diz e logo em seguida indo em direção a porta
Sigo ele mas não sem antes de mandar uma mensagem para Charles pedindo para cuidar dela que nós dois iriamos resolver um assunto e já estaríamos de volta.