Katherine Young Point of View
08:45 AM
Eu não acredito que eu estou fazendo isso. Eu sabia que essa ideia terapia não seria boa pois minhas pernas balançavam de um lado para o outro batendo entre si enquanto eu estava sentada na recepção da clínica, completamente sozinha. A assistente surgiu sentando de frente para sua mesa e me encarou com um sorriso simpático, devolvi o sorriso e respirei fundo olhando pela janela ao meu lado.
O escritório da psicologa ficava no 7° andar do prédio, onde eu esperava ansiosamente ser chamada. Brooke havia me arrastado até o prédio me forçando completamente e marcando uma consulta para mim, mesmo insistindo sobre não querer. Eu não precisava de terapia, quer dizer, alguns conselhos são bons mas não preciso e nem gosto de ficar falando sobre a minha vida com qualquer pessoa.
(...)
— E então, ele simplesmente me deixou lá na sala com ela. — Funguei levando o lenço até o rosto e limpando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
— Tudo bem. — A mulher sentada diante de mim murmurou suspirando. Seus cabelos eram loiros e curtos, ela aparentava ter uns 40 anos e era bastante simpática, diferente de outros que já havia consultado na infância. — Eu quero que seja honesta comigo, tudo bem? — Assenti com a cabeça suspirando.
Podia sentir meu rosto vermelho e inchado de tanto chorar. Ela era muito boa. Em poucos minutos eu havia contado milhões de coisas sobre mim.
— Você se sente segura com seu pai? — Ela perguntou, franzi o cenho estranhando a sua pergunta.
— Como assim?
— Você sente que seu pai é um porto seguro para você? Qualquer coisa que te acontecesse, você poderia contar com ele? — Ela perguntou me fazendo suspirar pesado e ficar pensativa. Era uma pergunta estranha e eu não sabia o que responder.
— Eu acho que sim, quer dizer, é o meu pai. — Dei de ombros. — Ele controla o meu emprego, meus circulos sociais e meu destino, literalmente. — Ri fraco. — Mas, não acho que ele seria capaz de... — Parei de falar assim que entendi onde a mesma queria chegar com sua pergunta. — Droga...
— Imagino que entendeu o que eu quero te dizer. — Ela disse me olhando e a encarei surpresa. Como diabos ela fazia isso? — Você não consegue ver seu pai como um porto seguro por que ele controla você e sua vida a tanto tempo, que você aprendeu a aceitar isso e, no fundo, acha que isso é justificável.
Eu não sabia o que pensar direito sobre o que ela falava. As coisas pareciam se esclarecer mais em minha mente, mas milhões de dúvidas surgiam.
— Eu o odiei por muito tempo por fazer isso comigo. — Murmurei encarando o chão. — Mas talvez eu tenha aprendido a achar isso normal. — Balancei a cabeça. — O que não é.
— Você é mais esperta do que imagina ser, Srta. Young. Entenda que você está nessa posição a anos e nunca pode sair da sua zona de conforto, nunca teve a oportunidade ou algo, até mesmo alguém, que pudesse te mostrar além do que você vê. — Ela disse chamando minha atenção. — Mas agora você está começando a ver aos poucos. Como se sente sabendo disso? — Perguntou me fazendo piscar algumas vezes e pensar sobre.
— Eu não sei. — Respondi. — Isso é...— Relaxei no sofá. — É estranho.
— Entendo. — Ela disse pousando suas mãos em suas pernas. — Preste atenção. — Ela disse. — Quero que você vá para casa e tire o dia para pensar no que falamos hoje, e se você se sentir a vontade, pode voltar quando quiser para discutirmos mais. — Assenti com um sorriso no rosto.
Nós duas ficamos de pé e ela me acompanhou até a porta.
— Muito obrigada, Dra. — Ela sorriu gentilmente. — E... acho que vou voltar. — Ela sorriu com as minhas palavras.
— Fico feliz em ouvir isso. Saiba que o seu intuito de vir aqui e tomar essa iniciativa, mostra que você é forte e corajosa.
— Obrigada. — Sorri arrumando minha bolsa no ombro.
— E temos muito o que trabalhar com você. — Assenti com a cabeça sorrindo fraco.
Depois de me despedir da mesma, passei pela recepção marcando outra consulta. Alguns minutos depois, ela me entregou o cartão da clínica e sai do local.
(...)
— Cheguei. — Falei fechando a porta atrás de mim e suspirando. Estava calor hoje e minhas roupas suavam um pouco. Retirei meus tênis e joguei a bolsa no sofá, olhei ao redor e encontrei Brooke saindo do banheiro com os cabelos molhados e vestida com minhas roupas.
— Peguei algo emprestado. — Ela deu um sorriso grande mostrando os dentes me fazendo rir. — E então, como foi? — Disse pegando a escova de cabelo e penteando seus cabelos enquanto eu ia em direção a minha cama me jogando na mesma em seguida.
— Foi legal, ela é simpática. — Abri os botões da minha blusa deixando parte do meu corpo a mostra e senti a brisa da janela esfriar o ambiente.
— Só isso? Eu te arranjo uma consulta com a melhor psicologa da cidade e é só isso? — Ela perguntou sentando do meu lado enquanto penteava os cabelos vagarosamente.
— O que você quer que eu diga? — Ri. — Ela é boa, muito boa. — Falei me ajeitando na cama. — Ela faz uns truques que consegue arrancar as coisas de você e eu marquei outra consulta. — Ela arregalou os olhos sorrindo e se jogou encima de mim me abraçando me fazendo gritar e tossir. — Sai de cima, Brooke. — Tentei a tirar de cima de mim mas ela continuava me abraçando.
— Eu estou tão feliz por você. — Ela disse me esmagando. — Agora você está virando gente. — Franzi o cenho quando ela saiu de cima de mim e a vi rir da minha cara.
— Tá me zoando, né? — Ela riu largando a escova do seu lado.
— Eu te chamo de morta por um motivo, mas agora vou ter que pensar em um novo. — Disse pensativa e ouvi meu celular tocar longe.
Fiquei de pé e procurei pelo menos na minha bolsa. Olhei para o visor e vi o nome de Sebastian. Um sorriso surgiu no meu rosto assim como um pequeno frio na barriga.
— Alô? — Falei ao atender a ligação e me virei vendo Brooke confusa me perguntando quem seria.
— Só passamos uma manhã longe e você já esqueceu de mim? — Ele disse com a voz baixa me fazendo rir baixo.
— Ah, desculpa. É que são muitos caras na minha lista de contatos. — Ouvi o som da sua risada do outro lado da linha, o que me fez abrir um sorriso mais uma vez.
Brooke se aproximou desconfiada e sorriu para mim quando viu minha cara.
— Katherine? — Ele falou chamando minha atenção enquanto Brooke me puxava querendo ouvir a conversa.
— Ah, desculpa. É que a Brooke está aqui comigo.
— Eu estou atrapalhando? Posso ligar outra hora. — Ele disse e empurrei Brooke pra longe a ouvindo rir.
— Não, não. Pode falar. — Mostrei o dedo do meio para a garota que ria fazendo um formato de corações com suas mãos e imitava o que podia ser uma pessoa beijando outra. Essa garota era uma criança.
— Me desculpe por ontem a noite, não esperava tantas surpresas em uma noite só.
— Não, eu entendo completamente. — Suspirei me sentando no sofá e vendo Brooke ir até o quarto rindo. — Como foram as coisas com sua mãe?
— Nada bem. — Ele disse. — Mas não quero falar sobre isso.
— Tudo bem. — Murmurei. — Está tudo bem mesmo? — Perguntei curiosa.
— Está sim. — Ele disse brevemente. — Eu liguei para avisar que tenho algumas coisas para resolver hoje, então vou ficar longe.
— Ah, tudo bem. — Falei mordendo o lábio. — Eu também tenho algumas coisas para resolver então...
Aquela tensão estranha estava me matando. Ele parecia diferente e eu sabia que ele não estava bem.
— Tudo bem. — Ele disse. — Até depois, então.
E encerrou a ligação.
Ele estava estranho e eu sabia muito bem qual seria o motivo, a sua mãe. Eu sabia que aquela não era a mãe adotiva do Sebastian pois já havia visto foto da mesma que ele me mostrou. Ele nunca foi de falar muito sobre seu passado, mas dava-se para imaginar que as coisas não eram nada boas.
— Pude sentir a tensão daqui. — Brooke disse surgindo do nada na minha frente.
— A mãe dele está na cidade, a mãe verdadeira. — Ela fez careta.
— Que foda. — Assenti com a cabeça. Ouvi batidas na porta e franzi o cenho a encarando. Ela abriu a porta para mim e fiquei de pé, quando a porta foi aberta, vi o meu pai com uma maleta em mãos.
Ele encarou Brooke dos pés a cabeça que logo percebeu seu olhar e se afastou da porta. Ela me encarou e olhei para o meu pai que estava sério e me olhou logo em seguida.
— Posso falar com você? — Ele perguntou me encarando e assenti com a cabeça.
— Hm, eu já vou indo. — Brooke disse se afastando.
— Não, tudo bem. — Falei a vendo parar de andar e me olhar confusa. — Fica.
Nós três nos olhamos e me pai entrou fechando a porta atrás de si.
— Eu vou... pro quarto. — Ela deu sorriso forçado e saiu.
— O que ela faz aqui? — Meu pai perguntou colocando a maleta sob a mesa de centro na sala.
— Ela é minha amiga, pai. — Falei me sentando novamente no sofá. — O que você faz aqui? Poderia ter me ligado.
— Eu preciso de autorização para ver minha filha? — Revirei os olhos.
— É bom saber antes. — Falei o vendo suspirando. — E então? — Falei o olhando e encarei a maleta.
— Eu trouxe os documentos necessários que você precisa assinar para encerrar o contrato com a empresa. — Ele disse me fazendo franzir o cenho. Ele realmente estava cumprindo com o que disse.
— Mas se eu sair agora vou ter que pagar uma multa enorme. — Falei.
— Não vai, eu falei com o Jefferson e eu e ele nos acertamos quanto a isso. — Ele disse abrindo a maleta e retirando alguns papéis junto a uma caneta preta.
— Quer dizer que deu dinheiro pra ele. — Murmurei o olhando. Seu perfume estava forte e se espalhou pelo local.
— Você não sabe. — Ele disse me olhando e dei de ombros. Ele me entregou as folhas e me indicou quais eu precisava assinar.
— E então, eu vou ganhar algo? — Perguntei enquanto assinava.
— Como você está saindo no meio do ano, não vai receber nada. Mas não se preocupe com isso, você tem dinheiro na sua conta.
— Não é meu dinheiro, é seu dinheiro. — Falei assinando a última folha.
— E você merece esse dinheiro. — Ele disse pegando as folhas e as guardando. — Não haja como se não gostasse dos seus privilégios. — Revirei os olhos. — Mais uma coisa. — Disse cutucando o bolso do seu blazer.
— O que é isso? — Perguntei quando o mesmo retirou um papel dobrado e me entregou. Abri o mesmo e li aos poucos vendo que se tratava de uma passagem de avião.
— Quero te levar para passarmos algumas férias juntos. — Ele disse com um pouco de empolgação em sua voz.
— Férias? — Perguntei o encarando sem enteder.
— É, já que estamos tentando nos acertar, achei que seria uma boa passarmos mais tempo juntos. — Ele disse e assenti com a cabeça franzindo o cenho.
Mas que porra.
— Eu não posso. — Falei ficando de pé e lhe entregando o papel. — Eu não posso simplesmente sair assim.
— Claro que pode. — Ele disse me olhando sem entender. — Katherine, essa é uma boa oportunidade para conversamos melhor, nos entendermos.
— E a gente pode fazer isso aqui, sem precisar viajar. — Falei o encarando. — Ou você tem coisas melhores pra fazer? — Cruzei os braços.
— Não se trata disso. — Ele disse respirando fundo. — Eu só quero recomeçar tudo isso.
— Você quer fugir. — Falei chamando sua atenção. — Lembra que você fez a mesma coisa a dois anos atrás bem aqui, em Nova Iorque? — Molhei os lábios ainda o encarando. — Você disse a mesma coisa e me arrastou para cá, me dando um emprego novo e atrapalhando novamente na minha vida.
— Eu te atrapalhei? — Ele perguntou franzindo o cenho. — Eu só te dei novas oportunidades, te dei um novo recomeço.
— Eu não precisava de um recomeço, pai. — O tom das nossas vozes estavam se alterando naquela hora. — Você precisava, não eu. — Ele bufou já se mostrando estar estressado e ficou de pé. — Você quis fugir e me arrastou junto, você sempre faz isso.
— Para de falar bobagem, Katherine. — Disse revirando os olhos e balançando a cabeça.
— É a verdade.— Dei de ombros. — Eu estou cansada disso. — Balancei a cabeça. — Eu não vou cair nessa de novo.
— Do que está falando? — Ele perguntou me encarando.
— Eu não vou cair na sua manipulação novamente. Eu não preciso de um recomeço, eu não vou sair dessa cidade. — Falei firmemente enquanto o encarava nos olhos. — Eu realmente achei que você queria mudar, mas pelo visto, eu me enganei novamente.
— Katherine... — Ele disse e balancei a cabeça indo até a porta abrindo a mesma.
— Vai embora. — Murmurei sem o olhar na cara. Ele respirou fundo e se aproximou de mim com sua maleta em mãos.
— Me desculpa, eu não... — Ele tentou dizer mas o interrompi.
— Vai embora! — Alterei a voz e o mesmo pareceu surpreso com a minha reação. Ele me encarou por alguns segundos e logo depois se retirou. Fechei a porta e tranquei a mesma.
Respirei fundo tentando controlar as lágrimas mas era impossível. Mordi meu lábio inferior com força sentindo a dor no local e ao levantar o olhar, vi Brooke encostada na parede me observando. Revirei os olhos limpando o rosto e a mesma se aproximou de mim me abraçando forte. Não pude segurar as lágrimas ao sentir seu abraço e deixei que escorresse pelo meu rosto.
E mais uma vez eu tinha sido feito de idiota por ele.