Harry pov
"Caramba que reunião demorada!"
Já tinha se passado 3 horas desde eu cheguei em sua casa, no começo não tinha me preocupado muito, era comum que ele demorasse na empresa. Afinal ele é o dono.
Mas eu comecei a me preocupar quando vi que Sirius fez check in em um restaurante e marcou Remus na publicação.
Oque indicava que a reunião já havia acabado.
"Ei, meu anjo! Onde você está?
Minhas mensagens eram recebidas por ele, mas ele não as visualizava. Se quer entrava no WhatsApp.
Meu coração apertava a cada minuto que passava sem notícias dele.
Ao mesmo tempo eu tentava me acalmar, pensava que ele tinha liberado Sirius e Remus e continuado a reunião sozinho com o representante.
Fazia sentido, eles tinham um filho e não podiam ficar muito tempo fora de casa.
Mas então porque estavam no restaurante? Teddy deveria estar junto...
Não, Teddy dormia cedo e já havia passado do horário dele de ir para cama.
Tinha medo de ligar e atrapalhar o serviço dele então resolvi ligar para Sirius.
Que não atendeu.
Liguei para Remus.
Que também não atendeu.
Que se foda se eu atrapalhasse a reunião dele e ele ficasse bravo, depois eu me resolvia com ele.
Assim que eu liguei o celular deu caixa postal.
"Draco?"
Agora as minhas mensagens não chegavam.
Pedi um uber e fui para a empresa, que estava fechada. Nenhum sinal do carro do Draco em nenhum lugar, voltei para o uber e fui para a casa de Remus e Sirius.
A corrida deu 92 dólares mas pouco me importava, dispensei o motorista e corri para a porta da frente e comecei a bater desesperado.
Já eram 23:10.
-Já vai! - Sirius gritou vindo em direção a porta - Harry? O que aconteceu?
-Onde está o Draco? - entrei desesperado na esperança de encontrá-lo por ali.
-Como assim onde eles está? - Sirius esfregava os olhos, provavelmente estava dormindo. - Achei que ele estivesse com você.
-Querido? - Remus apareceu de pijama na sala - Harry? Algum problema?
-Ele não sabe onde o Draco está - Sirius respondeu para o marido.
-Ele não responde minhas mensagens, nem atende o celular... - estava apavorado, andando de um lado para outro - Fui procurá-lo na empresa mas já estava tudo fechado!
Sirius pegou o celular e tentou ligar para Draco.
-Caixa postal - nos avisou - Harry respira, não deve ter acontecido nada.
Remus foi até a geladeira e me serviu um copo de água com açúcar que não teve nenhum efeito calmante sobre mim.
-Vocês sabem de alguma coisa? - perguntei para os dois que negaram rapidamente - Qualquer coisa gente!
-Sabemos o mesmo que você Harry - Remus disse me forçando a sentar no sofá - Na verdade sabemos até menos, não fazíamos ideia que ele não tinha voltado para casa!
-Será que aconteceu alguma coisa com os pais dele? E ele está lá? - questionei e Sirius pegou o celular.
-Cuidado com o que você vai falar querido - Remus aconselhou - Se ele não estiver lá não podemos preocupar os dois - Sirius assentiu enquanto esperava que alguém atendesse.
-Cissa! - ele estalou os dedos pedindo a nossa atenção - Hmm... Ah você acha mesmo que está tarde para eu ligar e dizer que estou morrendo de saudade? - ele nos olhou e balançou a cabeça negativamente para nós. - Tudo bem, desculpa então te incomodar com o meu amor... Mas já que liguei, como estão as coisas? - me atirei no sofá e Remus se sentou ao meu lado. -Que bom está tudo bem, vou deixar você dormir agora. - ele desligou o celular.
-E então? - questionei sem nenhum esperança.
-Eles estão bem, pareciam tranquilos... Então Draco não está lá e eles não sabem que ele sumiu.
-Mas que merda! - Remus exclamou furioso - O Draco não é assim! - as piores situações começaram a passar na minha cabeça. - Querido ele ficou o dia inteiro com a gente, você percebeu algo?
Sirius se sentou e escorou a cabeça nas mãos, balançando a perna intermitentemente.
-Será que não era coisa da minha cabeça então? - começou resmungar consigo mesmo - Mas o que seria?
-Sirius eu juro que se você não começar a falar Remus vai virar pai solteiro - vociferei para ele.
-Monny, eu comentei com você que ele parecia tenso quando começamos a reunião lembra? - olhei para Remus que afirmou mas que ainda não tinha entendido onde o marido queria chegar - Será que foi algo relacionado a isso.
-Como assim? - Remus perguntou - Não faz sentido!
-Pensa um pouco Monny... - ele se levantou e começou a explicar a linha do tempo - Ele estava todo feliz quando chegou ao escritório, ficamos a manhã toda resolvendo problemas e ele estava normal - começou a enumerar as situações - Almoçamos juntos e ele estava radiante porque o Harry mandou o almoço para a gente. - sorri tristemente com isso.
-Até aí tudo normal - Remus comentou.
-Sim, e como ele estava o resto da tarde? - questionou com um ar de quem sabia do que estava falando.
-Normal - Remus respondeu.
-E então nós fomos para a reunião com o representante e Draco mudou, automaticamente ele ficou... Não sei, acho que ficou tenso.
-Mas isso não é normal? - perguntei - Afinal é um novo representante, em um negócio grande... Não é esperado que ele fique tenso nessas situações?
-Não - Remus respondeu se levantando - Draco nunca fica tenso com isso, na verdade... - ele olhou para Sirius - Qual foi a última vez que você viu Draco diferente de como ele costuma ser?
-Com toda certeza foi no diagnóstico do pai dele - Sirius respondeu se sentando e voltando a resmungar com ele mesmo - Mas porque? A reunião em si foi muito boa, conseguimos tudo que a gente queria...
-Quem mais estava nessa reunião? - questionei tentando ligar os pontos.
-Fora nos três tinha o Tom e esse representante - Remus me respondeu - Chama Peter eu acho.
-Como assim ele estava estranho nessa reunião? Assim que ele viu Tom e esse cara? - questionei mais comigo mesmo do que para os dois - Eu não entendo...
-Foi como eu disse... - Sirius andava de um lado para outro - Ele ficou tenso na hora! Depois nós até perguntamos se estava tudo bem.
-E? - Tinha algo muito errado nessa história.
-Nada - Remus respondeu - Ele só falou que não tinha gostado do cara ou algo assim.
-Vocês ficaram lá o tempo todo? - usei um tom acusatório, não conseguia encontrar sentido naquilo.
-Sim! - Sirius sentou novamente - Não deixamos Draco sozinho com eles, tanto que o Tom e esse Peter foram embora primeiro - ele olhou para Remus.
-Exato, então quando eles saíram nós conversamos um pouco e depois fomos embora - Remus passava as mãos pelos cabelos constantemente, um sinal claro de nervosismo.
Caímos em um silêncio sepulcral, toda hora ligando e mandando mensagem para Draco, em vão.
Já era 1:00 da manhã quando eu resolvi ir embora.
-Vá - Remus me levou até a porta - Espere ele chegar, nos mantenha avisado e se ele não voltar até amanhã cedo nós vamos tomar alguma providência mais radical.
Sirius continuava nas ligações, ligou para quase todas as pessoas que trabalhavam na empresa. E nenhuma sabia sobre Draco.
Nem vi que o uber já tinha chegado, paguei e quando sai do carro finalmente me permiti chorar. O desespero que estava dentro de mim pareci me sufocar, meu estômago doia. Minha cabeça estava começando a latejar.
E meus olhos começaram a arder devido ao tanto que eu chorei.
Um fiapo de esperança me veio quando eu ouvi barulho dentro da cobertura do Draco, abri a porta desesperadamente e não soube o que fazer.
Draco estava em casa, cheirando forte a bebida e destruindo tudo o que via pela frente. A janta que eu havia feito mais cedo estava espalhada por toda a cozinha. Ele não havia percebido minha presença.
Me aproximei por trás dele e segurei seus braços, o prendendo contra o meu corpo, suas mãos estavam sagrando, assim que eu o abracei nós dois caímos no chão.
-Harry... - ele chorava copiosamente - Harry! - seus braços lutavam para se soltar mas eu o prendia o mais forte que eu conseguia.
-Draco o que houve? - chorava junto com ele - O que aconteceu? Onde você estava?
-Eu não... - ele soluçava e tremia contra mim - Eu não consigo... Respirar... - ele me empurrou e se levantou tentando normalizar a respiração - Tô sufocando!
Ele agitava os braços, tremia inteiro e eu entendi. Era uma crise de ansiedade.
Corri até ele segurando seu rosto nas minhas mãos e comecei a respirar profundamente em sua frente, seus olhos... Não havia brilho... E isso me quebrou inteiro.
Draco começou a respirar junto comigo, copiando meus movimentos. Eu inspirava devagar pelo nariz, e ele me imitava, eu expirava pela boca, e ele me imitava.
Ele me abraçou tão forte que realmente doeu minha coluna, mas não era nada comparado a dor que eu estava sentido de vê-lo tão destruído.
Caímos no chão novamente. Senti minha pele rasgando, ele tinha quebrado a mesa de centro da sala e os vidros cortaram a minha calça.
-Draco... - ele não respondeu, apenas me apertou mais - Meu anjo... - acariciei seus cabelos - Você consegue me falar cinco coisas que você consegue ver?
Ele continuava a chorar, mas aos poucos foi levantando a cabeça e olhando ao redor.
-Eu... Eu vejo o sofá - coloquei um dedo na frente do seu rosto - Vejo... Eu vejo sangue - coloquei dois - Hã... Eu vejo a parede... Isso conta?
Beijei o topo da sua cabeça.
-Sim, claro que conta - sinalizei três dedos - O que mais você vê?
-Eu vejo minhas pernas e... - finalmente ele me olhou - Eu vejo você. - me aproximei e beijei seus lábios.
-Muito bem! - o parabenizei - E me fala quatro coisas que você consegue tocar? - ele voltou a abaixar a cabeça e se enrolou ainda mais em mim.
-Eu consigo tocar o chão... Minhas pernas... - continuei fazendo carinho no seu cabelo - Consigo tocar minhas roupas e... - ele se esticou e puxou a fotografia que eu havia visto mais cedo - consigo tocar a gente aqui nessa foto.
Sua respiração já estava se tornando mais calma, então estava dando certo.
-Hmmm - mais beijos na sua cabeça - É uma linda foto de nós dois não acha? - senti sua cabeça balançando em afirmação - Você consegue me dizer três coisas que consegue ouvir?
Ele pousou a foto no chão e ficou em silêncio, procurando algum som no local.
-Eu ouço a minha voz... - murmurei um "muito bem" - Ouço a sua voz - sorri pequeno, mas sorri - E ouço seu coração. - Draco estava com a cabeça deitada bem no rumo do meu peito, então ele estava ouvindo as batidas desenfreadas.
Suas mãos estavam parando de tremer e ele tinha parado de soar um pouco.
-Uhum - segurei sua mão e a beijei - E você está sentindo algum cheiro? - ele afirmou - Me diz o cheiro de duas coisas.
-Da comida que você fez e eu sinto o seu cheiro. - o abracei e agradeci por ele não estar me olhando nesse momento, porque eu estava chorando silenciosamente para não assusta-lo.
-Agora me diz uma coisa que você consegue sentir o gosto.
-De você - ele respondeu sem precisar parar para pensar - Você me beijou quase agora, e eu... Ainda sinto o seu gosto.
-Certo... - segurei seu rosto e o virei para mim - Você quer continuar aqui ou quer ir tomar um banho e ir se deitar um pouquinho?
-Eu... - ele olhou ao redor - Me desculpa por isso, eu não...
-Ei... - chamei sua atenção - Está tudo bem viu? Não se preocupa com mais nada.
-Você vai embora? - ele me perguntou e o medo era perceptível em cada uma das palavras.
-Jamais! - ele se aconchegou mais em mim e adormeceu em meio ao caos e a bagunça.
Peguei meu celular do meu bolso e mandei uma mensagem para Remus:
"Quando cheguei ele já estava aqui, e ele não está nada bem mas eu não sei o que houve?"
Imediatamente Remus me respondeu
"Como assim ele não está bem? Estamos indo aí!"
"Ele destruiu a sala inteira, teve uma crise de ansiedade e agora adormeceu."
Com muita força consegui me erguer do chão e peguei Draco no meu colo, o levei até seu quarto e assim que o coloquei na cama ele despertou.
-Onde você vai? - sua mão segurou firme meu pulso - Você disse que não ia embora!
Suspirei e deitei ao lado dele o colocando em meu peito.
-E eu não vou embora, só vim te colocar na cama para você conseguir descansar um pouco.
Ele soltou o ar.
-Eu não te mereço - resmungou baixinho - Me desculpa.
-Não, não diga isso nunca mais me ouviu? - puxei seu rosto para mim - Nunca mais diga isso!
-Eu não... - ele se sentou na cama - Harry... Eu...
Me sentei e me aproximei dele, segurando firme sua mão.
-Você quer me contar o que aconteceu?
-Eu não posso te contar - eu nunca havia visto ele tão frágil como naquele momento, ele não conseguia me encarar e ficava sempre com a cabeça baixa.
-Por que você não pode?
-Porque se eu contar... - eu acho que percebi medo na sua voz - Se eu falar então quer dizer que foi real.
Não iria insistir naquele assunto, não agora. Draco estava totalmente quebrado... E seja lá o que for que aconteceu poderia esperar o tempo necessário para colocar todos os caquinhos dele.
-Eu tive uma ideia - segurei seu queixo senão ele não iria olhar para mim. - Que tal você tomar um banho, colocar uma roupa quentinha e deitar? E eu fico aqui te olhando até você dormir. O que você acha?
-Pode ser - ele se levantou e foi em direção ao banheiro e uma sensação horrível tomou conta de mim.
-Ah... Eu posso usar o banheiro primeiro? - ele olhava para o chão e assentiu que eu podia. Entrei e comecei a pegar as lâminas, toda e qualquer cápsula de remédio que estivesse por lá e tirei o ralo da banheira. Não sabia o quão quebrado ele estava, jamais arriscaria sua saúde ou sua vida. - Prontinho, pode ir. Obrigado.
Ele colocou a mão nos bolsos e passou por mim entrando no banheiro.
Separei algumas peças de roupa para ele, coloquei mais cobertas na cama. Fui até a cozinha e fiz um lanche e um suco para ele. Coloquei na mesinha que ficava ao lado da cabeceira e esperei que ele saísse do banho.
20 minutos depois ele saiu do banheiro, a toalha enrolada na sua cintura e eu notei que todo o seu tronco, braços e pernas estavam vermelhos.
Ele havia se esfregando tanto que chegou a tirar sangue da própria pele. Não comentei nada, esperei que ele se trocasse e deitasse na cama.
-Está com fome? - coloquei o prato na frente dele, que começou a comer em silêncio, parando vez ou outra para tomar o suco.
Terminado o lanche e o suco ele se enrolou nas cobertas, deixando apenas a cabeça para fora. Me levantei da cama e fui em direção a uma poltrona que tinha ali no quarto, a peguei e coloquei bem ao lado da cama.
-Eu vou ficar aqui até você dormir e vou estar aqui quando você acordar tá bom?
-Tá bom... - disse abafado pelas cobertas.
Depois de alguns minutos ele adormeceu novamente. E eu fiquei ali velando seu sono.
Cuidando para que nenhum monstro o perturbasse durante a noite.
Nenhum monstro que estivesse embaixo da cama, dentro do armário ou lá na rua iria conseguir chegar perto dele.
E se tentasse...
Não iria sobreviver para conseguir.
Velei o sono do meu homem, cuidei do amor da minha vida a noite inteira.
Remus e Sirius chegaram poucos minutos depois dele ter dormido e ficaram surpresos com o estado que estava a sala e a cozinha.
Durante toda a madrugada arrumamos aquela bagunça, em total silêncio. Praticamente a cada 10 minutos eu ia no quarto ver se ele ainda estava dormindo, se ele ainda estava bem.
Remus, Sirius e eu não falamos nada em nenhum momento. Nenhuma palavra.
Mas cada vez que olhávamos um para o outro sabíamos, algo de muito errado aconteceu.
E sem que fosse necessário qualquer conversa sobre o assunto concordamos que, quem quer que tenha feito algo a ele ou que quer que seja que tenha acontecido.
Iríamos destruir quem e o que fosse preciso.