Inteligência Artificial | Fen...

By muqingato

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Feng Xin encontra Catarina, um smartwatch que se diz capaz de realizar alguns de seus desejos básicos. Achan... More

1: Olá, Mu Qing!
2: As Habilidades de Costura de Mu Qing
3: O Lado Bêbado de Mu Qing
5: Feng e Qing
6: Mu Qing Conhece Seu Sogro
7: A-Qing É Um Péssimo Arqueiro
8: Isso é um adeus, Mu Qing?
9: Mu Qing, Eu Viverei.
10: Mu Qing?

4: Mu Qing, Vamos A Um Encontro

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By muqingato

Boa leitura!

Somente quando a última lágrima molhou o antebraço de Feng Xin e ele sentiu a respiração de Mu Qing se acalmar, foi que ele conseguiu dormir.

[...]

Quando Feng Xin acordou, Mu Qing ainda dormia em seu abraço. Suas sobrancelhas estavam franzidas e sua boca um pouco aberta, emitindo uma expiração calma. Essa expressão era bem diferente da fria e inalcançável que Mu Qing normalmente carregava.

Feng Xin se levantou devagar, pois não tinha a intenção de atrapalhar o sono pacífico de Mu Qing após uma noite conturbada de bebidas, risos e choro. Ele decidiu tomar banho enquanto o outro não despertava.

Logo quando saiu do quarto, a voz de Catarina foi ouvida pelo corredor. Era como se aquele relógio estivesse esperando o momento certo de aparecer para também não incomodar Mu Qing.

— Bom dia, General Pika. Deseja que eu prepare o café da manhã? — Feng Xin se assustou um pouco, pois já tinha se esquecido que aquele dispositivo estava, desde ontem, em seu próprio pulso.

Enquanto trancava a porta do banheiro e se despia para entrar debaixo do chuveiro, Feng Xin pensou um pouco nas inúmeras opções que poderia escolher. A mente dele, sem querer, acabou vagando para o belo rosto do homem que se encontrava deitado em sua cama.

— O que Mu Qing gosta de comer? — Ele perguntou antes que pudesse se conter.

— Por que eu saberia? — Essa, definitivamente, não era a resposta que Feng Xin esperava. Ele semicerrou os olhos enquanto se esfregava e teve uma ideia.

— Talvez porque vocês foram criados juntos...? Mesmo código? Algoritmos? — Ele obviamente não entendia de tecnologia, mas tentou aproveitar a oportunidade para tentar entender e descobrir mais sobre Mu Qing e sua origem.

— Nós não fomos. — Isso não o surpreendeu, mas talvez surpreendesse Mu Qing, que desacreditava da própria existência.

— Então Mu Qing não é parte do sistema? — Ele tentou soar indiferente, mas seus cílios tremeram um pouco. Feng Xin sentia um misto de curiosidade e esperança.

O smartwatch ficou em silêncio por alguns segundos congelantes antes de dar seu veredito.

— Desculpe, não estou apta a repassar esses tipos de informações. Para quaisquer dúvidas que você, usuário, tenha sobre o sistema, é necessário entrar em contato com nossa Central de Dúvidas e Atendimento ao Consumidor. O número é... — Catarina novamente deu uma pausa, antes de continuar: — Sinto muito, ainda não há nenhum número programado. — A voz sistemática bombardeou Feng Xin com aquelas palavras.

Tudo ficou em silêncio, o som do chuveiro era o único efeito sonoro que podia ser ouvido.

— Foda-se... Não é como se eu pudesse ligar para perguntar... — Ele resmungou enquanto se virava para lavar o cabelo.

Na verdade, Feng Xin tinha uma certa teoria sobre Mu Qing. Ele havia assistido diversos documentários sobre como os exércitos e serviços de inteligência podem ser sanguinários e sem escrúpulos, às vezes sequestrando pessoas para usá-las como cobaias em testes ou experimentos. 

Se esse fosse o caso, talvez Mu Qing...

Mas todos esses pensamentos foram atrapalhados quando voz robótica irrompeu novamente no ambiente.

— Mas se quiser impressionar e conquistar 01001...

— VAI SE FUDER! Quem disse que eu quero conquistar o Mu Qing, hein? — Feng Xin interrompeu Catarina, falando de forma frenética. Era perceptível que ele estava blefando. Ele queria Mu Qing, mas era infantil demais para admitir isso para terceiros, mesmo que o terceiro fosse um robô.

Catarina pareceu não se abalar. Ela era um robô, afinal.

— Se quiser conquistá-lo... Acho que ele gosta de morangos. Possuo alguma memória dele sobre isso.

Feng Xin refletiu por alguns instantes.

— Você tem memórias dele? — Ele perguntou levemente exasperado, mostrando toda a sua curiosidade e não conseguindo mais manter aquela postura de indiferença. A inteligência artificial o ignorou, dessa vez nem se dando o trabalho de explicar que não poderia dar mais informações. — Certo, caralho. Então, morangos... — Feng Xin parou por uns instantes, desde criança ele gostava muito da combinação morangos e chocolate. Ele esperava que isso agradasse Mu Qing. — Chocolate também! Acho que é uma boa combinação.

[...]

Não muito tempo depois de Feng Xin terminar seu banho, Mu Qing acordou. Ele foi diretamente para a cozinha, encontrando o outro homem sentado na mesa, sorrindo como idiota. Parecia estar esperando por ele.

Mu Qing ficou desconcertado com aquele sorriso brilhante e respirou fundo antes de entrar totalmente no cômodo. Seu rosto já estava impassível e belo como o usual, sem resquícios do surto que teve na noite anterior. 

No momento, ele estava com vergonha de encarar Feng Xin após chorar horrores em seu braço. Bêbado ainda por cima. Em condições normais, sem álcool em seu sangue, Mu Qing nunca desabaria dessa forma na frente de outra pessoa.

— Fiz nosso café da manhã! — Feng Xin disse animado e Mu Qing agradeceu internamente por ele não voltar no assunto da noite anterior. Ele ainda não estava pronto para conversar sobre aquilo de novo, ainda mais estando sóbrio.

— Quem fez foi você ou Catarina? — Mu Qing perguntou com um sorrisinho provocativo e Feng Xin tossiu um pouco.

— Meros detalhes. Catarina é irritante, mas cozinha bem. — O relógio não respondeu a alfinetada que levou

— Se não fosse por ela você não me conheceria. — Mu Qing respondeu indiferente, olhando para a mesa que tinha em cima apenas morangos e fondue de chocolate. Ele encarou aquilo por alguns momentos, estático.

— O que achou? — Feng Xin perguntou, ignorando a fala de Mu Qing, pois se ele continuasse naquele assunto, o clima ameno voltaria a ficar pesado.

— Quem come morango e chocolate no café da manhã? — Mu Qing questionou com uma cara de paisagem, mas Feng Xin percebeu que um sorriso mínimo insistia em aparecer nos lábios rosados e bonitos dele. Ele queria muito poder beijar aquela boca.

Percebendo onde seus pensamentos estavam indo, Feng Xin pigarreou.

— Um copo de água, uma mamada e morangos com chocolate são coisas que não se recusam. — Feng Xin disse sorrindo de uma forma não tão inocente e Mu Qing revirou os olhos com aquela infantilidade.

Nenhuma resposta foi dada por Mu Qing. Ele apenas caminhou e se sentou à mesa, comendo e tentando conter os sons de satisfação que queriam sair de sua boca. Se ele mostrasse o quanto tinha gostado daquilo, iria perder toda sua postura fria e indiferente que achava ainda ter. 

Feng Xin o observava com o rosto apoiado na mão e os olhos brilhando. Repentinamente, ele teve uma ideia. Já que ele tinha decidido conquistar Mu Qing, o que poderia ser melhor do que um encontro?

— Troque de roupa, nós vamos sair. — Feng Xin enunciou imediatamente depois que o homem a sua frente terminou de comer.

— Para onde vamos? — Mu Qing perguntou, como sempre, sem muita animação.

— Surpresa. — Um sorriso animado passou pelos lábios de Feng Xin.

— Certo. Se vire. — Mu Qing disse de repente, enquanto se levantava devagar da cadeira.

— Hã? Me virar? Por que? — Olhando para todos os lados, atordoado, Feng Xin perguntou.

— Sim, idiota. Vou me trocar.

— PORRA! AQUI?

Dessa vez, Feng Xin estava verdadeiramente estupefato com o outro homem. Mu Qing realmente planejava se trocar no meio da cozinha? Ele normalmente era um homem reservado e que aparentava ligar muito para o que vestia e a imagem que transmitia aos outros. Isso era tão repentino e inesperado.

— Sim, é rápido. — Ele respondeu e Feng Xin franziu as sobrancelhas.

Aparentemente, Mu Qing poderia ser surpreendente também.

Obedecendo a ordem, Feng Xin se levantou e se virou. Ele cruzou os braços e fechou um pouco os olhos, mas não passaram nem trinta segundos antes que Mu Qing voltasse a falar.

— Pronto.

Feng Xin franziu suas sobrancelhas ainda mais e inclinou a cabeça em confusão. Quando ele se virou para olhar Mu Qing novamente, o outro homem realmente tinha trocado de roupas. Agora ele usava uma blusa preta de gola alta e uma calça jeans preta, também usava um casaco por cima. Parecia um modelo que havia acabado de sair de um desfile.

Lindo demais para ser real.

— Porra... — Feng Xin murmurou hipnotizado e Mu Qing revirou os olhos, tentando conter o rubor que queria, a todo custo, aparecer em seu rosto. Balançando um pouco a cabeça para organizar os pensamentos, Feng Xin continuou: — Como você fez isso tão rápido?

— Eu sou, tecnicamente, uma máquina. É como brincar daqueles joguinhos de vestir da Barbie. — Mu Qing respondeu, estalando a língua e cruzando os braços. — Podemos ir? — Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— Você não toma banho? — Essa pergunta de Feng Xin foi feita do nada. Parecia ridícula, mas alguém curioso como ele ficaria pensando sobre isso o resto do dia.

— Ao contrário de você, não sou fedido. Não preciso tomar banho. — Mu Qing se virou para sair enquanto respondia.

Aquilo era obviamente uma ofensa, mas Feng Xin achou divertido e resolveu aproveitar a oportunidade para provocar o outro. Ele perseguiu Mu Qing enquanto divagava como se estivesse pensando alto.

— Engraçado, eu lembro de você dizendo que eu era cheiroso. — A voz de Feng Xin continha um leve toque de petulância.

Mu Qing parou de andar e se virou indignado, como se estivesse pronto para socar Feng Xin a qualquer momento. O homem prestes a ser agredido apenas sorriu e ergueu rapidamente as sobrancelhas.

— Se eu não me lembro, não falei. — Para dizer a verdade, Mu Qing se lembrava de ter soltado algo do tipo no dia anterior, mas ele nunca admitiria. Feng Xin apenas riu disso. 

Antes de saírem, ele pegou o smartwatch e o colocou no pulso de Mu Qing.

[...]

Logo quando saíram do prédio, Mu Qing suspirou e já estava pronto para começar seus resmungos.

— Por que temos que ir andando quando é dia? Esse sol me mata. — Ele murmurou como um velho resmungão.

A temperatura não estava muito alta e o sol mal dava suas caras, mas Feng Xin entendia a preocupação de Mu Qing. Por mais fraco que o sol fosse, o afetaria, pois ele era muito pálido.

Os dois homens apenas caminharam pela cidade, que já não parecia mais tão cinza para Feng Xin, pois Mu Qing estava ali para dar cor aquele lugar. 

Decidiram - Feng Xin decidiu - ir a um parque e observar o ambiente calmo e tranquilo enquanto comiam algo.

Cada vez mais eles estavam se acostumando com a presença um do outro. Feng Xin se sentia feliz de uma forma que a muitos anos não sentia. Como se algo que estivesse faltando em sua vida finalmente retornasse.

O aperto no coração de Mu Qing ainda não havia se curado, mas quando Feng Xin estava próximo, com aquele sorriso caloroso como o sol que ele dizia odiar, todas suas preocupações desapareciam momentaneamente. 

A noite anterior, que Feng Xin o havia feito se sentir confortável e seguro, ainda rondava seus pensamentos. Mu Qing desejava poder ter isso para sempre.

Os sentimentos de ambos eram bons, mas perigosos por serem muito intensos.

Enquanto andavam pelo parque, Feng Xin lembrou e contou um pouco sobre sua infância, brincando em praças com Xie Lian e mais alguns amigos, que mais tarde ele perdeu contato.

O rosto de Mu Qing repentinamente se tornou uma carranca. Ele não prestou atenção em nenhuma palavra das memórias nostálgicas do outro.

— Estou cansado, vamos sentar. — Ele cruzou os braços e se virou para Feng Xin, que olhou para os lados em busca de um banco limpo e vazio, não se importando de ser interrompido.

Logo quando se sentaram, Mu Qing tocou levemente o cotovelo de Feng Xin para chamar sua atenção. Isso o deixou atordoado por alguns segundos, pois Mu Qing raramente iniciava contato físico. Ele ficou ainda mais zonzo quando o outro se inclinou em sua direção. Mu Qing estava prestes a...?

Porém, Mu Qing não tinha intenção de beijá-lo, como ele tinha imaginado. O homem de cabelos negros apenas se aproximou do ouvido de Feng Xin para sussurrar.

Um sentimento rápido de decepção passou por ele.

— Aja normalmente. — O hálito quente de Mu Qing tocou o pé da orelha de Feng Xin, o fazendo quase ter um colapso mental. — Se lembra dos homens de preto que estavam observando seu apartamento? — Feng Xin respirou fundo, tossindo levemente, tentando manter a sanidade com a voz do outro tão próxima de si e assentiu para mostrar que se lembrava. — Eles estão nos seguindo aqui.

Mu Qing se afastou depois de passar a mensagem e começou a rir para disfarçar. Com ele rindo daquele jeito tão brilhante e apaixonante, Feng Xin não pôde deixar de rir também, ele nem precisou se esforçar para disfarçar.

Ambos ficaram em silêncio depois. Feng Xin franziu as sobrancelhas enquanto pensava. 

O único motivo pelo qual poderiam estar atrás dele era o smartwatch, mas Pei Ming havia afirmado veementemente que tirou o rastreador daquele objeto. Sendo assim, como o encontraram? Ele precisaria ir atrás do amigo para perguntar sobre isso mais tarde.

No momento, Feng Xin achava que deixar Mu Qing seguro era mais importante do que descobrir como eles foram encontrados. Por isso, resolveu tirá-lo dali o mais rápido possível. 

Se sua teoria estivesse certa e Mu Qing realmente fosse alguma espécie de cobaia, ele poderia estar em perigo.

Feng Xin segurou a mão de Mu Qing, o guiando para sair dali. Mu Qing, por sua vez, não quebrou esse contato físico. Ele havia começado a se acostumar e, até gostar, de ser tocado por Feng Xin. Os toques do homem quente sempre passavam uma sensação boa para seu corpo.

— Vamos despistá-los. Podemos aproveitar e achar um restaurante pra almoçar. — Feng Xin disse e Mu Qing franziu o cenho.

— Sabe... Sempre desconfiei que você era uma espécie de fugitivo. É humanamente impossível para um desempregado como você ter um apartamento e um carro daqueles. — Com essa fala de Mu Qing, Feng Xin estava sem palavras, sem saber se ria ou chorava. — Que crime você cometeu? Roubo? Assassinato?

— Mu Qing, não estão atrás de mim.

— Tráfico? Lavagem de dinheiro? — Mu Qing continuou sem se abalar, ele olhava para cima enquanto pensava, parecendo estar pesquisando 'tipos de crimes' em seu banco de dados.

— Porra. Estão atrás de você...

— Já sei! Você deve ser um agio-... DE MIM? — Mu Qing aumentou o tom de voz, mas logo voltou a sua postura indiferente de sempre. — Não seja ridículo. — Ele revirou os olhos.

— Pra ser mais específico, estão atrás do relógio que está no seu pulso.

Em todo o diálogo, ele continuava puxando Mu Qing para fora daquele local, da maneira mais casual possível para não chamar muita atenção.

Mu Qing abaixou o olhar para seu próprio pulso e seu olhar, inconscientemente, desceu um pouco mais para sua mão entrelaçada na de Feng Xin. Seu coração acelerou um pouco e ele piscou algumas vezes, desviando o olhar, para espantar qualquer pensamento ou sentimento inconveniente.

— Por que? — Mu Qing pigarreou. — Por que eles querem o seu relógio?

— Digamos que ele tecnicamente não seja meu...

— Você tecnicamente roubou?

— Tecnicamente eu encontrei...

— Encontrou e pegou pra você sem saber o dono?

— Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado. — Feng Xin encerrou a troca de farpas, deixando Mu Qing indignado com tamanha infantilidade. Ele nem ao menos se deu o trabalho de responder algo absurdo assim.

Os dois caminharam por ruas e cruzamentos que tinham grande quantidade de pessoas, na esperança de conseguirem despistar os homens e não serem mais seguidos. Quando não sentiram a presença de ninguém, nem ninguém os observando de perto, resolveram entrar em um restaurante.

[...]

— General. — Um dos agentes disse enquanto entrava na sala e o homem sentado em sua cadeira luxuosa o olhou.

— Diga. — Ele ordenou enquanto empinava um pouco o nariz para reforçar sua superioridade, mesmo que não precisasse.

— Nosso projeto está bem, mas... Vimos alguém.

O homem que era chamado de general arqueou uma das sobrancelhas e cruzou suas duas mãos em frente ao próprio rosto. Apesar de ser bonito, a má iluminação da sala dava uma aura estranha e enigmática para ele.

— Alguém?

— Sim... — O agente deu uma longa pausa. — Mu Qing.

O "General" começou a rir descrente.

— Mu Qing? Isso é impossível. — Ele voltou a rir, mas depois ficou sério novamente quando percebeu que o agente não parecia estar brincando. — Você está falando sério?

— Sim, General. — O agente baixou a cabeça.

— Interessante... Como Qing conseguiu... — Ele sussurrou a si mesmo, mas parou em meio a frase e pigarreou. — Converse sobre isso com a equipe. Preciso dar um jeito de ver isso com meus próprios olhos. — O General se levantou, caminhando em direção a saída.

— Sim, General. — Quando o agente estava prestes a ser deixado para trás, uma coragem repentina passou por ele. — General! Você... O senhor... Posso perguntar algo? — Sua voz tremia.

— Claro que você pode. — O General nem ao menos se virou para responder. Sua voz parecia gentil e opressiva ao mesmo tempo.

— Por que... Você deixou o projeto com aquele homem ao invés de ir pegá-lo de volta? — Ele perguntou tudo em uma rapidez absurda.

— Você acha que fiz a escolha errada? — O General indagou, arqueando uma das sobrancelhas e sorrindo irônico. Seu sorriso era lindo e, ao mesmo tempo, dava calafrios.

— Não... Eu... Talvez... — As pernas do subordinado tremiam e ele mal conseguia completar uma frase. O General suspirou.

— Achei que seria uma boa forma de testar o smartwatch na prática. Quem diria que o Qing apareceria assim. — Ele disse mais para si mesmo do que para responder ao outro.

Então, depois de praticamente encerrar a conversa, o General se virou e saiu, indo para outra ala do prédio. O homem que ele deixou para trás, quase morrendo de medo, suspirou em alívio.

[...]

O restaurante no qual Mu Qing e Feng Xin escolheram entrar era calmo, mesmo que estivessem em horário de pico. Talvez fosse porque era um lugar caro, onde uma garrafa de vinho custava quase um salário mínimo. Fazia sentido, pois ricos não gostavam de barulho.

Enquanto Feng Xin olhava o cardápio, Mu Qing o encarava com uma dúvida nos olhos.

— O que foi? — Feng Xin, que não aguentava mais aquele olhar queimando sobre si, resolveu perguntar. Ele abaixou o cardápio para olhar Mu Qing.

— Falando sério agora... Como você tem tanto dinheiro? — Mu Qing perguntou, realmente curioso e Feng Xin riu internamente. Todo esse tempo o outro havia ficado martelando isso em sua mente?

— Meu pai. — Ele respondeu simplesmente isso, não querendo se estender no assunto.

— Então você é mesmo um riquinho de merda. — Mu Qing murmurou, como se Feng Xin não estivesse diante dele e pudesse ouvir aquela ofensa.

— Hm. Algo do tipo. — Ele não se importou com o que Mu Qing disse, ele era mesmo um riquinho de merda, afinal. Erguendo o cardápio novamente para voltar a ver as opções, continuou: — Já escolheu o que quer pedir?

— Não conheço nenhum desses pratos, vou pedir o mesmo que você. — Mu Qing cruzou os braços e fez um biquinho, parecendo levemente irritado por não entender sobre comidas caras. Feng Xin deu uma risadinha.

— Certo. Então vamos pedir... — Ele refletiu por um momento. Agora sua responsabilidade era maior, ele precisava pensar em algo que combinasse com o paladar de Mu Qing. Entretanto, sua atenção foi capturada por um homem de vermelho que entrava pela porta do ambiente.

Aquele caro terno vermelho, todas aquelas joias, o cabelo amarrado em uma trança meio desgrenhada, mas ao mesmo tempo bonita, aquele rosto de convencimento que te fazia ter vontade de socá-lo. Era impossível não reconhecê-lo.

Hua Cheng.

 "Que porra ele tá fazendo aqui?", pensou Feng Xin.

Mu Qing viu que o olhar de Feng Xin estava focado em algo e o seguiu. Também encontrando a figura alta e nobre que acabara de chegar. Um sentimento bem rápido de familiaridade passou por ele, mas logo se dissipou.

— Quem é? — Ele perguntou indiferente como sempre.

— Um idiota, não se importe com ele. — Feng Xin desviou o olhar de Hua Cheng.

Porém, Hua Cheng havia os visto e, ver que Feng Xin estava com alguém que não era seu namorado, pela primeira vez em anos, despertou seu lado fofoqueiro. Ele se aproximou da mesa e parou, encarando Mu Qing.

— Perdeu alguma coisa? — Feng Xin perguntou, mas Hua Cheng o ignorou. Ele não tirou os olhos de Mu Qing por alguns longos segundos, franzindo um pouco as sobrancelhas. Mu Qing, por sua vez, se sentiu um pouco intimidado e fingiu que não era com ele, ignorando completamente aquela presença nova.

— Você se parece com um amigo de gege. — Hua Cheng disse indiferente e, só então, desviou o olhar de Mu Qing. — Não sabia que finalmente tinha arrumado um namorado. Pelo menos agora vai deixar gege e eu em paz. — Ele continuou, agora se virando para Feng Xin.

— Não somos namorados. — Foi Mu Qing quem disse isso, ainda com os braços cruzados e rosto frio, mas falar isso havia sido, de alguma forma, desconfortável para ele. Esse sentimento estranho bagunçou um pouco seu coração.

Se foi desconfortável para Mu Qing falar, foi ainda mais para Feng Xin ouvir. Ele apenas suspirou.

Hua Cheng riu, provocativo, sua língua venenosa claramente querendo trabalhar, mas ele se controlou em respeito a Xie Lian, que queria a todo custo fazer o namorado e os amigos se darem bem.

— Vim aqui buscar um pedido para gege. Estou indo para não deixá-lo esperando. — Ele disse enquanto se virava e acenava com a mão, saindo com sua presença imponente logo após instaurar o caos.

Um silêncio constrangedor se instaurou no local. Os dois homens que ficaram para trás nem mesmo se encararam. Feng Xin achou melhor mudar o assunto, como fizeram das outras vezes. Por mais que isso causasse um aperto leve em seu coração, era melhor, pois era assim que Mu Qing se sentiria mais confortável.

— Vamos pedir, então? — Feng Xin disse, pigarreando.

— Hm. — Mu Qing concordou.

[...]

O resto do dia foi calmo e casual. Eles se divertiram e riram - Feng Xin riu, mas Mu Qing também não foi capaz de se controlar com o jeito infantil do outro e acabou soltando alguns risinhos e resmungos. Ambos pareciam um casal de namorados.

Os dois foram até mesmo a um museu e Feng Xin descobriu que Mu Qing entendia bastante sobre arte, mas com um banco de dados mental, era impossível existir um assunto que Mu Qing não dominasse.

Desde muito cedo, Feng Xin estudou artes visuais. Ele era de uma família rica e o estudo de todos os tipos de arte eram recorrentes para pessoas com muito dinheiro. A pintura era uma das únicas coisas que ele gostava de estudar sem ser obrigado.

Os dois analisaram diversos quadros e se divertiram muito fazendo isso.

Quando o sol estava beijando o horizonte e o dia se encerrando, eles decidiram voltar, caminhando pelas ruas da cidade.

— O que achou? — Feng Xin perguntou enquanto os dois andavam lado a lado, suas mãos batiam uma na outra às vezes.

— Chato. Igual você. — Se alguém não conhecesse Mu Qing, ficaria claramente ofendido com essa resposta, mas já fazia um tempo que Feng Xin havia percebido que o outro era orgulhoso demais para falar o que realmente queria. Por isso, Feng Xin riu. — Tá rindo do que, babaca?

— Você não gostou nem um pouquinho? — Feng Xin fez um biquinho e bateu seu ombro de leve no ombro de Mu Qing.

— Um pouquinho. — Mu Qing sussurrou, abaixou a cabeça e continuou andando em passos rápidos. Seu coração batia mais rápido do que normalmente. Ele se sentia como um adolescente apaixonado.

Feng Xin ficou para trás, parando de andar aos poucos, em choque. Ele não esperava por essa resposta meio direta e meio indireta. Sua cabeça se inclinou, olhando a silhueta de Mu Qing se distanciando.

Quando Mu Qing percebeu que Feng Xin não estava mais ao seu lado, ele se virou confuso.

— Você não vem? — Ele perguntou, suas bochechas estavam um pouco vermelhas, talvez pelo vento frio de fim de tarde ou pela vergonha. De qualquer forma, Mu Qing era lindo.

O outro homem não respondeu, o que fez Mu Qing revirar os olhos e se aproximar dele. Sua mão logo foi agarrada e Feng Xin saiu correndo, o puxando para algum lugar.

Mu Qing teve que respirar fundo pelo exercício físico repentino que ele estava sendo obrigado a fazer. Ele deu graças a todos os céus por ter um porte atlético.

— Pra onde você tá me levando, idiota? — Ele perguntou a Feng Xin enquanto respirava de forma irregular por estar correndo e, novamente, não recebeu resposta alguma.

Eles não correram por muito tempo, apenas por alguns quarteirões. Feng Xin só parou de o puxar quando eles chegaram em uma rua sem saída. A iluminação ali era péssima, ainda mais nesse horário em que o sol já tinha quase se posto.

A confusão pintava todos os cantos da face de Mu Qing. Feng Xin o encarou com uma sede indecifrável no olhar.

Ele empurrou Mu Qing, com apenas um pouco de força para não assustá-lo, contra a parede de tijolos. O cérebro do homem que fora empurrado estava prestes a entrar em pane. O que Feng Xin queria fazer com ele?

Sua resposta não demorou pra chegar. Feng Xin colocou suas mãos na cintura de Mu Qing e acariciou o local. O homem que fora repentinamente tocado prendeu a respiração e Feng Xin sorriu daquele jeito bonito e cretino, quase como um deus expulso do céu por sua beleza.

Ele se aproximou do rosto de Mu Qing, seu objetivo era claramente beijá-lo. 

Mu Qing sentiu sua respiração desengatar e seus batimentos ficarem irregulares. Em um momento de desespero, ele abraçou Feng Xin e afundou o rosto em seu pescoço.

Alguns momentos se passaram com eles assim. Feng Xin estava definitivamente atordoado. Seus neurônios estavam processando o fato de que ele havia acabado de ser rejeitado. Ele sentia um misto de frustração e tristeza. Triste porque, obviamente, Mu Qing não havia o aceitado e frustrado porque ele sabia que Mu Qing queria aquilo tanto quanto ele.

— Feng Xin, eu sou um... — Mu Qing começou, ainda com o rosto escondido na curva do pescoço do outro. Entretanto, Feng Xin não o deixou terminar a frase, apenas o segurou pelos ombros e se desvencilhou daquele abraço.

— Um robô. Sim, Mu Qing. Eu sei porra. Você faz questão de relembrar isso, por mais que eu diga que não acredito. — As palavras de Feng Xin soaram duras, ele não fez questão nenhuma de amenizar seu tom de voz. Esse era um dos poucos momentos que ele se sentia prestes a sair do controle com algo.

— Seu idiota. Como você quer que eu simplesmente deixe isso de lado e finja que sou um humano que pode ter uma vida normal com você? — A voz de Mu Qing quebrou um pouco ao longo da frase.

Apesar de estar tentando se manter firme, Mu Qing era muito ruim nisso. Sua visão estava embaçada e seus olhos banhados de lágrimas que insistiam em ser derramadas para lavar a angústia em seu peito.

Essa visão partiu mais ainda o coração de Feng Xin, que respirava irregularmente. Ele fechou os olhos por alguns segundos e depois os abriu, novamente sendo saudado pela imagem de um Mu Qing internamente ferido, prestes a chorar. Ele não queria ver aquilo de novo. Ver Mu Qing chorando era péssimo.

De qualquer forma, Mu Qing estava certo, ele era uma espécie de inteligência artificial até então. Por mais que Feng Xin acreditasse que não, como ele poderia ter certeza? Ele talvez nunca teria como comprovar isso. Ele realmente poderia namorar uma suposta máquina e fingir que aquilo era algo normal e natural? Ele, de fato, não poderia.

Feng Xin precisou tomar uma decisão que claramente doeria nos dois, mas era necessária. Além disso, era o que Mu Qing queria.

— Quer saber... Isso foi um erro. Deixa pra lá, vamos voltar. — Feng Xin suspirou, se virou e começou a caminhar, nem dando tempo para que o outro pudesse responder.

As pessoas que passavam pelas ruas os ignoravam, andando rapidamente sem desviar o olhar de seu destino, suas vidas eram mais importantes do que esse drama jovem adulto. Eles não tinham tempo para prestar atenção em dois corações que estavam sendo quebrados bem ali diante deles.

A brisa fria se intensificava, pois a noite estava chegando. O ar gélido invadiu o coração de Mu Qing através de suas vias respiratórias, congelando todo o calor que Feng Xin havia o transmitido ao longo do dia. Ele abaixou o olhar para seu pulso, onde Catarina estava.

— Catarina, eu já posso ir embora desse mundo? — Ele perguntou baixinho enquanto limpava uma lágrima solitária que caiu de seu olho esquerdo.

Vamos conversar um pouquinho:

Espero que tenham gostado! Por favor não me xinguem nos comentários, vocês não sabem quem sou eu, de onde eu vim... 

Brincadeiras a parte, desculpem pela demora pra atualizar, tive alguns problemas com minha ansiedade. Obrigada por não desistirem dessa história até aqui.

O capítulo foi cheio de diálogos. Apesar de eu preferir escrever narrações, a maior parte dos diálogos aqui foram importantes e necessários.

E pra quem gosta de spoiler: Teremos dias de glória no próximo capítulo.

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