Jujutsu Kaisen - Orbitando um...

By adri_bertolin

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Aprisionado no Reino da Prisão, Gojo Satoru inicia um processo de fragmentação sobre os conceitos em relação... More

Vazio
Grandes olhos negros
Caos
Propósito
Igual
Ciúmes
Domínio incompleto
Entorpecência
Consumo
Anseio
Posse
Retaliação
Fôlego
Engrenagem
Bolha
Escolha
Paz artificial
Busca
Renúncia
Receptáculo
Liberdade
Esperança
Destino
Resgate
Surgindo das cinzas
Surto

Capítulo Extra: Sequestro

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By adri_bertolin

Kioku Uyara é uma garota anormalmente forte. Ela sabe disso desde que se percebeu como uma pessoa viva.

Ela é como seu melhor amigo, Gojo Satoru, mas não gosta disso como ele o faz.

Uyara têm a constante sensação de que pode quebrar pessoas normais como se fossem uma fina camada de gelo. Isso é horrível, então ela só se envolve com os fortes e os suicidas.

O que faz com se sinta extremamente sozinha na maior parte do tempo.

Ela tem a mãe, que nunca teve um senso de auto preservação muito bom, e o velhote, que perdeu a noção de perigo a muito tempo, bem com sua professora Layla, que gosta de faze-la se sentir fraca. Mas nunca é a mesma coisa de estar com alguém que não precisa teme-la.

Mesmo com a boa intenção de sua família, a usuária de fala amaldiçoada é a única que faz com que se sinta normal. Ela é péssima e terrível, porém nunca negou que seja eficiente.

A questão toda é que, quando não estão refinando suas habilidades até que sinta vontade de desaparecer, é comum que se isole do resto da civilização até que Satoru tenha tempo para entretê-la.

Kioku sabe que Kenny sempre estará disponível se perguntar, porém também sabe que ele faz isso principalmente porque ter um relacionamento próximo com ela é um interesse de sua família. Não que não gostem um do outro, mas ambos acham que estar com alguém por obrigação é uma merda.

Pelo menos o colega não é do tipo que quer usa-la ou mata-la. Esse tipo de gente ela gostar de arruinar.

Mas, voltando ao tópico principal, nesse dia em específico Uyara passou um tempo observando o velhote humilhar seus irmãos nos videogames como um suposto treinamento.

Os mais jovens ainda não entendiam que não venceriam um vidente habilidoso como ele, nem se que o inferno congelasse.

E, para o seu azar, a mãe não gostou de vê-la rindo da frustração deles, assim como da cara inocente do idoso.

Logo, ela foi encarregada de dar utilidade a sua super força e fazer algo para ajudar na comunidade, buscando frutas para o almoço.

Apoema se aproximou quando começou a se afastar. Ignorando as crianças raivosas que o perseguiam, principalmente depois que elas ficaram paradas, xingando-o de longe quando o mais velho entrou em sua zona de alcance com as penas em seu longo cabelo grisalho se movendo graciosamente.

- Se divertindo? - Ela perguntou na língua primária dele. Sua pronúncia com certeza era péssima, mas deixava-o feliz, então nunca parou de tentar melhorar.

- Assim como pretendo continuar. - Apoema sorriu travessamente. - Apenas vim lhe entregar isso. - Ele estendeu uma faca de cozinha. - Seria bom se você fizesse uma parada para aproveitar a doçura das peras dessa safra.

Kioku pegou o objeto com desconfiança. As vezes o velho fazia isso de convence-la de que algo muito importante estava prestes a acontecer dando coisas inúteis e sugestões sem sentido, quando na verdade apenas queria se divertir às suas custas.

Cairia na mesma pegadinha de novo? Claro que sim, porque confiava no maldito, mas não deixava de ser um saco.

Uyara mexeu o rosto com desaprovação e sorriu com o jeito dele, partindo para recolher os ingredientes de uma bela futura salada de frutas.

Era inegável que o pomar de peras estava espetacular esse ano, porém podia admitir que estava mais preocupada com o intercâmbio que faria em alguns meses do que com admirar seus recursos naturais.

Mal podia esperar para surrar a cara de Geto Suguru quando o conhecesse.

Ela parou na frente de uma árvore particularmente bem carregada, apanhando uma pera suculenta porque não tinha motivos para não fazer exatamente isso.

Parte sua ainda se repreendia por sempre levar um cara tão bem humorado a sério e por ser traumatizada ao ponto de não invadir sua cabeça sem permissão. Porém não podia evitar, tinha medo de errar.

No pior dos casos sempre havia a possibilidade de Apoema ter enlouquecido com seu fardo. Sinceramente não sabia como ele conseguia encontrar lucidez.

Mas ela fez exatamente como ele queria. Preparou a fruta e pegou a faca cozinha para descasca-la.

Não aconteceu nada.

Livrou a fruta de toda a casca. Nada também.

Se o velhote a obrigasse a perder seu tempo ali, consumindo uma quantidade indeterminada de peras, ela encontraria alguma forma de se vingar depois. Que o respeito fosse para a casa do caralho.

Ah é, ele saberia de todos os seus possíveis planos...

Porra de vidência.

Uyara cortou um pedaço suculento da fruta e o levou a boca. Nada. Ela suspirou e se preparou para repetir a ação enquanto mastigava a primeira fatia.

A faca não chegou alcançar seu alvo antes de perceber o erro. Tudo o que seu corpo conseguiu fazer foi no automático, ela banhou o objeto com energia amaldiçoada, o ergueu para atingir a perturbação e se jogou para trás para se afastar.

Que merda foi essa?

Havia um homem ali. Mais alto, bem mais alto, mais forte e inacreditavelmente rápido, tanto que seus olhos quase não conseguiam acompanha-lo.

Ela conseguiu desviar da lâmina que poderia ter dividido suas pernas se houvesse ficado mais alguns centímetros para a direita e tudo o que conseguiu causar foi um arranhão vertical na boca dele.

O homem parou, olhando-a com surpresa. Apenas para rir em seguida, como se não conseguisse acreditar nela. Ele levou uma de suas mãos grandes para os lábios, arregalando os olhos conforme via seu próprio sangue sujando a ponta de seus dedos.

- Impressionante. - O homem moveu a lâmina para o lado, em uma posição mais de saudação do que de agressividade. - Fui levado a crer que você entende a minha língua. - Ele falou em um japonês obviamente nativo.

- E eu fui levada a crer que não existem pessoas que sejam burras o suficiente para tentarem me atacar diretamente, mas de alguma forma isso sempre se prova errado.

A forma com que aqueles olhos a avaliavam dizia que ela não era mais do que uma criança atrevida brincando em um jogo de adultos. Kioku concordava com ele, então decidiu ser menos simpática.

Ela lançou sua energia contra ele, com a leveza que inimigos não conseguem perceber. No entanto, o alcançou apenas para se chocar contra uma parede sólida, densa e poderosa.

Um escudo mental perfeito.

O homem sentiu sua tentativa frustrada e isso só serviu para alargar o seu sorriso.

- Vamos, você não parece ser tão ruim. - Seu rosto se inclinou, ele parecia estar diante de uma criatura peculiar e isso de certa forma a lisonjeava. - Que tal fazermos um jogo?

- Que tipo de jogo?

Uyara endireitou sua postura. Fugir não era uma opção com sua família por perto e, por mais estúpido que parecesse, estava interessada demais para pensar nisso.

Ela não conhecia pessoas realmente fortes. Não além de si mesma e seu melhor amigo.

E, sinceramente, aquele homem não veio do outro lado do mundo para confronta-la sem ter informações sobre o que ela era. Se quisesse mata-la, um tiro na cabeça seria o suficiente.

- Se você conseguir descobrir algo relevante sobre mim até o tempo acabar, eu deixo você destruir os idiotas que te querem morta.

Ele parecia particularmente rancoroso. Com o tipo de raiva de alguém que foi ameaçado com algo precioso para fazer o que fazia de melhor.

O jogo obviamente era apenas um teste para saber se suas habilidades eram tão boas quanto sua reputação. Ela entendeu que quem quer que fosse o estúpido que tentou manipular um monstro assim, ele estaria morto com sua ajuda ou não.

O homem deixou fragmentos escaparem daquela parede impenetrável. Os rostos aqueles que pagaram por um assassino poderoso para inutilizar uma arma em potencial. Assim como as coisas que eles queriam que o mais forte fizesse consigo para quebra-la antes de ser entregue ainda com vida para que esses vermes tivessem a honra de dar o golpe final.

- Você parece ser do tipo que gostaria de faze-los sofrer com as próprias mãos. - Ela mordeu a fruta e a mastigou tranquilamente, apenas porque podia. - Mas entendo a implicação de uma retribuição feita por outra pessoa se ela pode fazer muito pior.

Porque não havia morte pior do a que ela pode causar.

O homem não estranhou que ela soubesse que sua calma provinha unicamente do desejo de vingança.

- O que me diz? Quer brincar com esses filhos da puta?

A postura dele indicava que provavelmente se envolveriam em um confronto em que Uyara obviamente sairia como perdedora, se recusasse.

A maior parte dela queria testar toda aquela força contra a sua própria em uma luta sangrenta. A outra parte não queria morrer e estava impressionada demais com o estranho para levar as coisas para esse lado.

Crianças, não sigam estranhos. Não importa o quão gostosos eles sejam.

- Eu aceito os termos do seu jogo. - Ela deixou um pouco de energia fluir para a terra e para a sua fruta. - O que te torna bem vindo. Gostaria de experimentar?

Kioku indicou a fruta amaldiçoada. Não precisava explicar o pacto, não para alguém como ele.

- Claro.

O homem alcançou a pera facilmente quando a arremessou e a mordeu para aceitar os termos.

O pacto de hospitalidade implica que, uma vez que tenha sido recebido e alimentado pela outra parte, você não pode machuca-la sem que ela inicie o conflito.

Simples.

Não iria para lugar nenhum com alguém, que pode supera-la tão facilmente, sem garantias.

Esse pensamento foi a última coisa que registrou antes de respirar o gás que a envolveu por trás e que não tinha visto chegando.

O maldito sabia o que fazia, afinal.

(...)

Uyara acordou por conta do movimento brusco do veículo em que estava. Não que ela soubesse como chegou até ali.

Só se lembrava de ter sido abordada por um estranho poderoso e sem energia amaldiçoada. Alguém que havia nublado seus sonhos conturbados e causado um estranho impulso de querer machuca-lo prazerosamente.

Ela se percebeu coberta por uma jaqueta que definitivamente não era sua, já que exalava um cheiro de suor masculino. Algo que a deixava nervosa e com vontade de esfregar em seu nariz para sentir melhor.

O veículo mudou de rumo repentinamente, com brusquidão, apenas para passar por um processo de instabilidade em uma tentativa inútil de controle que levou o japonês a para-lo fora da estrada.

- QUE PORRA É ESSA? - Ele lhe questionou, com raiva. A olhando como se ela fosse uma maldição a ser exterminada.

Kioku percebeu repentinamente que havia encontrado seu tipo de pessoa. Não alguém como Kakashi Hataque, como seu amigo havia acusado uma vez, mas alguém como ele que conseguisse colocar o mundo de joelhos com apenas um olhar.

Ela soube disso porque era exatamente o que o homem estava tentando fazer consigo e sua entranhas estavam se contraindo agradavelmente. Estava sendo possuída por uma vontade de faze-lo sangrar e de arrancar aquela expressão feroz de seu rosto.

- Se não parar com essa merda agora eu vou te apagar de novo e dessa vez você não vai acordar tão cedo. - Ele ditou com a voz baixa, ameaçador.

- Se você não for mais específico eu não vou saber o que estou fazendo de errado.

A brasileira pode ter soado como Satoru em uma mentira travessa e óbvia, mas era verdade.

Por isso, o cara não pareceu convencido com suas palavras. Não parecia ter ideia do que fazer consigo, o que apenas lhe arrancou um sorriso ainda maior.

- Você está cheirando como uma puta depois de gozar.

Tudo bem, isso ganhou sua atenção de verdade. Ela possuía algumas teorias de como poderia fazer algo assim acontecer, mas essa era a primeira vez que dava certo.

Confortar Satoru dificilmente contava como algo útil.

- Oh? - Seus nariz buscou respirar fundo, como se estivesse sentindo alguma coisa além do odor do próprio homem na roupa que lhe servia de cobertor. Em realidade, enquanto fazia isso, estava tentando entender quais memórias havia tocado. - As putas que você costuma usar cheiram como jasmim e uma manhã confortável de inverno? Sua esposa com certeza não vai gostar de saber disso, já que são coisas que você sempre repara quando está com ela. Especialmente quando..-

- Se colocar os olhos nisso eu vou arranca-los de você. - Ele lhe interrompeu desviando o olhar, carrancudo.

- A falta deles não me impediria de ver, entretanto. - A risada que soltou foi sincera, mas suas mãos se ergueram em sinal de rendição e ela optou por afastar sua mente da privacidade dele.

Não era a mulher bonita que viu lá que estava mexendo com seu corpo, de qualquer forma.

- Você ainda não parou. - Ele lhe olhou pelo espelho com o cenho franzido.

- Isso é completamente sua culpa! - Resmungou enquanto tentava encontrar alguma ordem em si mesma, embora não quisesse afastar a jaqueta. - Existindo como uma coisa tão provocadora no mesmo ambiente em que uma adolescente hormonal. Eu não estou fazendo de propósito.

Ela apenas viu a expressão dele vacilar em algo como uma surpresa enojada. Não pela ideia de uma mulher forte se excitar pela presença dele, mas porque ela ainda não era uma mulher porra nenhuma e a atenção de crianças é repulsiva.

Realmente lhe agradava que não fosse vista com a mentalidade de que se conseguia carregar o mundo nas costas, era madura o suficiente para aguentar outro tipo de carga.

Uyara gostava de gerar impotência nos homens que pensam nela com esse tipo de desejo. Foi um efeito permanente que aprendeu muito cedo a causar.

Ele fez que questão de ignora-la. Lembrando-se que uma pirralha estranha no banco de trás era um do menores dos problemas que já enfrentou em sua vida.

(...)

Tédio fazia coisas terríveis com sua sanidade, então era recomendado que mantivesse sua mente ocupada.

O que não estava acontecendo agora.

Aqueles pessoas aparentemente haviam lavado a serio a ideia de que o homem deveria enfraquece-la antes de entrega-la, até mesmo forneceram uma casa afastada com um porão sinistro.

Ela nem sabia que essas coisas existiam por aqui e não apenas em filmes de terror clichês cujo a história se passa na América do Norte.

Ainda bem que o homem não era um bom seguidor de regras, afinal suas prioridades se reverteram para tentar fazer a televisão funcionar enquanto ela ficava do lado de fora deitada em uma rede velha, bebendo o resto do milkshake que convenceu um senhor gentil a comprar.

Não, ela não se importava em fazer esse tipo de roubo, não com pessoas que pensavam sobre o quão sortudo seu sequestrador era por ter alguém como ela seguindo-o como uma cadelinha.

O cara sem força amaldiçoada acabou ganhando um hambúrguer gordo e uma porção generosa de batatas fritas, graças aos seus encantos, apenas porque, mesmo sem poder ler mentes, percebeu as intenções desse responsável pelo reabastecimento da gasolina e o fez mijar nas calças apenas olhando para ele.

Sua gargalhada para aquilo foi sincera, como era apenas quando estava com Gojo.

Mas esse não é o ponto.

O problema é que Kioku estava sem nada para fazer e muito intrigada com essa forma tão diferente de feiticeiro. Tinha certeza de que nunca ouviu falar sobre algo assim. Nem sabia que tal força podia ser possível e agora queria aprender esse novo truque.

Não era necessariamente sobre a óbvia habilidade com armas malditas ou ausência de energia, apesar de que adoraria ser treinada com aquele nível de técnica. O que ela queria era ser capaz de conseguir exalar aquele terror que encheria os corações de seu adversários de medo e os faria vê-la como um monstro.  

Uma das coisas que mais gostava em seus próprios dons era essa coisa de poder bagunçar a forma de percepção das pessoas, sinceramente se divertia com isso.

Então ela começou a imitar a forma com que percebia seu captor, usando a técnica em si mesma para repetir a forma com que aquele cérebro interessante agia. Não demonstrou muita diferença com isso, não que pudesse perceber, Layla e Apoema eram os responsáveis por informa-la se estava fazendo algum progresso já que a maior parte dos efeitos que causava eram como ilusões recebidas pelos sentidos de outras pessoas.

Uyara só soube que conseguiu sim fazer algo novo pelo som de coisas caindo dentro da casa e pela aparição repentina do homem que a inspirava.

Ele saiu pela porta inicialmente como se estivesse pronto para cometer um homicídio, mas sua expressão se suavizou quando a viu tão relaxada quanto quando a deixou sozinha.

Sua mão estava carregando uma arma de fogo e havia essa estranha criatura, que lhe lembrava uma lagarta, enrolada em torno de seu corpo. Curioso.

- Você tem uma habilidade problemática pra caralho, garota. - Isso era um elogio que a deixou contente.

"Como uma boa menina querendo agradar." - sua mente forneceu automaticamente em puro humor autodepreciativo.

- Disse a amostra de evolução humana. - Ela se impulsionou para se balançar melhor na rede. - Desistiu de fazer funcionar a televisão antiga que não vai fornecer nenhuma programação em uma língua que você compreenda?

- Sim. Fiquei mais interessado em como você fez sua energia desaparecer.

O que se traduzia como: eu pensei que você havia fugido e me armei para recupera-la.

- Oh, eu fiz isso? - Kioku sorriu animada, teria batido palmas se não sentisse que seria ridicularizada. - Estava imitando você. - A expressão dela se iluminou de repente. - Hey, você deveria treinar comigo!

- E o que te faz pensar que eu estaria interessando em perder o meu tempo com a sua companhia enquanto temos que ficar aqui?

Ele inclinou-se levemente para o lado, interessado, apesar das palavras.

Pelos próximos três dias os dois ficariam naquela casa afastada da zona urbana, já que era o período em que sua suposta tortura teria que durar.

- Hmmmm... - Ela entoou pensativa. - Posso até enumerar os motivos. - Seu corpo se levantou em um pulo animado. - Um, você está tentando descobrir como meus poderes funcionam desde antes de me encontrar. Dois, você está contendo a sua ira desde que aqueles bastardos lhe tomaram essa coisa, seja lá o que for, e precisa extravasar se quer que eles acreditem que está cooperando. Três, antes de você entender que a sociedade te vê como lixo, Zen'in-sensei era como sonhava que te chamariam, não?

Ele piscou lentamente. Absorvendo as informações certas. Sendo que a última, em particular, fez com que sua expressão a lembrasse de alguém que havia acabado de experimentar o suco puro de um limão azedo.

- Você consegue entrar com mais facilidade de acordo com a proximidade e tempo de convívio. - O homem falou como se fosse a acusação de um crime. - Esconde os próprios olhos porque eles são amplificadores sensíveis que aumentam tanto o seu raio de alcance quanto a intensidade do seu poder.

Sabia que estava sendo insultada apenas pela forma com que ele cuspiu tudo isso, mas não se intimidou. Ousadamente, só porque sabia que ele não gostaria disso, Uyara se aproximou e se colocou na ponta dos pés, erguendo uma mão para pousa-la em seu ombro largo. Colocando-se o mais próxima possível para sussurra-lhe em seu ouvido.

- Só preciso disso para as pessoas mais impressionantes, como você é, Fushiguro Toji-sensei.

Seu corpo se moveu para longe antes que ele conseguisse empurra-la por repúdio. Que bom que no fundo ele estava se divertindo também e que, por isso, não tentou acerta-la realmente.

- Eu não trabalho de graça.

- Eu não disse que não te pagaria. - Ela piscou inocentemente. - Meu superior deu a entender que queria que eu viesse até aqui, então acredito que ele não se importe em me dar o resultado de algum grande jogo do azar por aí.

Toji obviamente não estava acostumado a como esse país funciona. Se o seu sorriso distorcido indicasse alguma coisa, não estava insatisfeito.

- Estou começando a gostar desse lugar.

(...)

Bem, considerando tudo, um nariz e um braço deslocados, bem como o osso trincado em uma perna, tornaram-se o que podia chamar de um ótimo resultado.

- Se você continuar se mexendo vai ser pior. - Toji lhe disse, mais irritado por estar cuidando dela do que preocupado.

Estava tentando ajuda-la, apesar disso, demonstrando a delicadeza de quem conseguia lidar com criaturas pequenas e frágeis sem quebra-las.

Kioku não estava acostumada a cuidados fraternos dessa forma, então deixou que ele tentasse conserta-la e não revelou seu lado bruto que teria colocado tanto o nariz quanto o braço no lugar rapidamente.

- Você está me fazendo cócegas, não consigo evitar!

E era verdade, ela estava toda quebrada, mas o que lhe deixava inquieta eram esses arrepios inúteis que a faziam querer rir.

- Cócegas? - Não precisava vê-lo para saber que estava usando todo seu autocontrole para não brigar com ela. - Sua cabeça é mais fodida do que eu tinha imaginado.

- As pessoas se acostumaram com o fato de que não quebro fácil, então acho que você tem razão e a sua calma está fazendo o meu corpo agir errado. - Ela se contorceu com um sorriso contido nos lábios quando ele tentou novamente passar uma mistura de ervas estranha, mas eficaz, em suas feridas.

Toji pareceu leva-la a sério e pressionou o machucado com força, assobiando em reconhecimento quando ela demorou a demonstrar qualquer tipo de dor.

- Você está apenas aproveitando o fato de que está sendo bem tratada, não é? - Ele parecia mais divertido agora.

- Existe um poder saboroso em ver alguém como você se esforçando para fazer com que eu me sinta melhor. - Uyara alargou o sorriso, travessa.

O homem riu, um som rouco que ele sabia que faria com que seus hormônios despertassem de novo. Não era surpresa que ele eventualmente começaria a tortura-la com isso.

- Então suponho que não se importe com isso.

Fushiguro sabia como agir sem que ela tivesse tempo de antecipar suas reações e por isso não houve a mínima chance de se preparar quando aquelas mãos grandes se posicionaram atrás dela, usando uma aplicação de força precisa para colocar seu osso de volta no lugar.

Kioku registrou o barulho antes da dor e o xingou em sua língua primária conforme ajustava-se aos estímulos ruins. Passou rápido, como já havia acontecido várias vezes, mas isso não a impediu de amaldiçoa-lo, metaforicamente.

- Não me importo, mas um aviso faria bem.

Ele agora estava a olhando como se estivesse diante de uma obra rara que o intrigava. Se ela não fosse tão distorcida quanto seu novo sensei, teria ficado com medo.

A brasileira estalou a língua, reencontrando traços de humor e levou a própria mão ao nariz, em partes por querer impressiona-lo. O estalo foi tão desagradável quanto o outro, mas o som sempre lhe incomodou mais do que a dor.

Toji pareceu satisfeito com o que viu nela, mas continuou passando sua mistura estranha com a mesma delicadeza do que antes.

- Talvez você não seja uma aluna tão ruim.

E isso foi o mais perto de uma confirmação de que ele continuaria a refinando como arma.

Foi também a primeira vez que sentiu vontade de abraçar empolgadamente alguém que não fosse Satoru, mas ela ainda tinha alguma noção de perigo e escolheu ficar quieta, apesar de não ter dúvidas de que ele conhecia seus impulsos.

(...)

Toji lhe deu uma espada dupla no final do terceiro dia, um item de sua própria coleção. Presente de graduação, ele disse.

- Quando você transformar esse mundo em cinzas, criança, vou querer estar lá para ver.

Ela supunha que aquele sorriso cruel era parte de sua forma de elogiar.

- Eu duvido que isso vá acontecer algum dia, mas aprecio a expectativa.

- Você deveria parar de dizer para si mesma que não gosta do derramamento de sangue, é uma matadora por natureza.

Fushiguro obviamente se referia a parte amaldiçoada que vivia em seu corpo, o que a deixou levemente divertida e relaxada de uma forma que não conseguia explicar. Era estranho ter mais alguém de origem japonesa que não visse sua diferença como algo ruim.

Ele a inspirava um tipo de confiança diferente da que sentia com Gojo, o que a fez admitir:

- Não é sobre gostar ou não. - Ela gesticulou entre eles e depois abertamente para o planeta. - Cada criatura sempre acaba escolhendo alguma coisa para manter: amor, ego, ambições, esperanças, expectativas, desejos, ódio... Eu mantenho curiosidade. Massacres ainda não são muito cativantes.

Eles não falavam sobre matar não feiticeiros, esse tipo de gente nem chegava perto da categoria de interessante e Toji a achava mansinha demais nesse aspecto.

- Você complica demais coisas simples.

Fatiar carne era algo que consideravam simples.

- E você não teria se negado a fazer esse trabalho direito se não fosse verdade.

(...)

Os contratantes de Fushiguro não desconfiaram de nada. Pareciam acreditar demais em sua capacidade de destruir alguém sem deixar evidências explícitas do que fez.

Que ela estivesse realmente machucada em alguns pontos era apenas uma coincidência conveniente.

Uyara desligou-se de seu corpo da melhor forma que podia e deixou que Toji a arrastasse para aquelas pessoas. A imagem que expunha realmente lembrava alguém semimorto e o sangue que manchava o chão pela qual passava não era falso.

A essa altura, já sabia perfeitamente por que o assassino escolheu deixar que ela matasse quem o trouxe até ali, mas isso não impediu que o ódio fervilhasse em seu corpo conforme eles liberavam as duas crianças pequenas demais e permitiam que o pai delas as reavesse.

O mais novo não devia ter muito mais do que dois anos e ele estava assustado ao ponto de suas bochechas estarem marcadas por lágrimas antigas.

Ah, ela ia gostar de arruinar cada um deles.

Toji deixou um rosnado escapar de suas paredes mentais ao perceber o mesmo e por um instante seus olhos se fixaram nela, um momento de apreciação para toda a desgraça que ela traria.

Uyara esperou que os três ficassem longe de seu alcance, esperou que o burburio de satisfação daqueles idiotas aumentasse. Esperou até que o primeiro deles se aproximasse para começar a finaliza-la.

Então ela soltou cada migalha de poder que acumulou até aquele instante e se demorou em cada um deles, vendo seus cérebros colapsarem sem que conseguissem fazer nada para para-la.

Seus gritos e seus corpos contorcendo teriam a perturbado em outrora, porém conseguia sentir a aura sombria emanando deles em cada segundo que permaneceram vivos. Parecia até antinatural.

Um pessoa em específico chamou sua atenção, uma mulher menos afetada, próxima de onde estava. Ela tinha a testa marcada estranhamente e curtos cabelos escuros, além disso, antes de ter começado a agir, sua expressão e linha de percepções estampavam a crueldade mais sincera com a qual já se deparou.

Essa pessoa era uma feiticeira, ou algo semelhante a isso, já que sustentava um escudo mental comum.

Uyara gostou de ver a confusão dela conforme se levantava e todos ao redor caiam, conforme envolvia as conexões de sua mente em relação ao corpo e quebrava aquela estabilidade como teria feito facilmente com um ovo em sua mão.

No fim, nenhum deles lhe rendeu nem mesmo um entretenimento realmente bom.

(...)

Toji estava lhe esperando quando distanciou-se da trilha de corpos que acabou formando.

Ele continuava usando aquele mesmo carro que os que morreram lhe disponibilizaram e deixou o acento ao seu lado vago para que ela o ocupasse.

- Sua cara está uma merda maior do que eu me lembrava.

Essa foi a sua forma de dizer que não gostava de que ela houvesse se machucado. Obviamente não se importava em falar assim na frente das crianças.

- Merda! - Megumi concordou no colo de Tsumiki e garota mais nova foi a única que o repreendeu por isso.

- Há um motivo por eu não ter me infiltrado nas suas paredes mentais e descoberto com muita antecedência que você é um pai coruja com dois filhotes. - Uyara abriu a porta do veículo e se jogou com uma exaustão forçada no lugar que lhe era reservado. - O retorno contra gente decente é uma verdadeira merda.

- Até parece que você já enfrentou alguém como eu. - Ele riu com uma sinceridade macabra.

- Não, mas cresci com alguém mais forte.

Kioku se divertiu em vê-lo fuzilando-a com o olhar, ofendido.

(...)

Como prometido, a brasileira ligou para seu superior e garantiu o resultado de um grande jogo de azar para Fushiguro. Ele a deixou em um local próximo de sua comunidade e se despediu com o dedo do meio erguido junto de um sorriso arrogante no rosto.

Ela retribuiu o gesto, mas sorriu com mais empolgação e ficou os observando partir.

Esperava que pudesse treinar com o homem de novo um dia, embora soubesse que isso não era algo provável.

(...)

Layla a encontrou pouco tempo depois de voltar a estar sozinha e a olhou de cima a baixo, torcendo o nariz como se sentisse um cheiro desagradável.

"Parece que você estava se divertindo com um animal sarnento." - A mulher expôs o pensamento em sua mente para que ela pudesse ver.

"Oh, como você adivinhou?" - Uyara replicou com uma expressão de zombaria, tentada a andar mais rápido e deixar a mulher para trás.

- Regenere-se. - A fala amaldiçoada da mais velha ordenou e seu corpo obedeceu.

Pelo menos sobre isso não podia reclamar.

- Se você começar a fazer isso com frequência, vou pensar que se preocupa. - Kioku comentou com o humor afiado, algo que a outra já estava acostumada.

"Não me importo com o que você pensa." - Ela revirou os olhos, mas depois os fixou na aula com uma frieza comum aos seus modos. - Não revele a ninguém que se envolveu com Fushiguro Toji.

A maldição foi gravada em seus sentidos sem que puder fazer nada contra.

Seus resmungos insatisfeitos não mudaram a escolha de sua sensei, independente de sua capacidade de deixa-la furiosa com isso.

(...)

Anos mais tarde, levou todo seu autocontrole para não demonstrar sua tristeza quando soube que Satoru lutou contra Toji e venceu, garantindo o cadáver do homem como prova.

Obviamente teria arrancado o coração de seu sensei se ele roubasse a vida de quem ela mais ama, mas se sentiu mal por Fushiguro mesmo assim.

Geto e Gojo nem chegaram perto de descobrirem sobre isso, portanto, quando eles prestaram homenagens fúnebres à Amanai, ela fez o ritual em dobro como uma piada que divertiu e ganhou o apoio de seu amigo de infância.

Nenhum dos dois deixou Suguru saber sobre isso.

Mais tarde, antes de Yaga alterar suas rotinas, Uyara finalizou sua missão com mais rapidez do que o normal e desviou seu caminho para encontrar uma certa família que merecia saber o que havia acontecido.

Foi relativamente difícil localizar onde vivia vivia família de Toji, mas nunca acreditou que falharia em encontra-la.

Megumi abriu a porta com o cenho franzido em irritação, como se pretendesse começar uma briga com a pessoa do outro lado imediatamente. Uyara viu a tristeza dele quando enxergou que era uma estranha em sua casa e não o pai desaparecido.

O menino se afastou sem dizer nada, com uma decepção clara.

Logo uma mulher apareceu, repreendendo o pequeno por não ser educado com a visita. Ela era linda, alta e magra, cheirava a jasmim assim como nas memórias de Toji e parecia tão amável que seu coração doeu.

A esposa de seu sensei lhe sorriu com simpatia, porém isso não escondia a preocupação que lhe dava um aspecto desgrenhado e nem suas olheiras de noites em claro.

Ela tremeu e seu rosto perdeu a estabilidade quando reconheceu o botão de seu uniforme.

"Toji morreu em combate. Eu sinto muito..." - Kioku falou na mente dela, não sabia como dizer isso para as crianças.

Ela não se importou com o respeito sobre espaço pessoal quando a mulher perdeu a força das pernas e desabou na própria dor, a abraçou com força.

Sua mente acompanhou cada instante da percepção daquele coração se fragmentado e admirou a força daquela mulher quando ela não chorou e nem se deixou quebrar imediatamente com a notícia.

"Meu nome é Kioku Uyara. Se vocês precisarem de qualquer coisa, qualquer ajuda, saibam que não vou hesitar em apoia-los, ok?"

Ela explicou sobre não possuir uma permanência fixa no país, mas deixou seus contatos para qualquer possível necessidade.

Entretanto, eles nunca nem mesmo tentaram procura-la.

(...)

Não cabia em palavras o seu nível de confusão quando abriu a porta da casa de Satoru, depois de se tornar uma feiticeira formada, e viu crianças lá dentro.

Os pirralhos de Toji pareciam pensar o mesmo.

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Atenção! Obra em processo de revisão! +16| 𝕽𝖔𝖈𝖎𝖓𝖍𝖆 - 𝕽𝖎𝖔 𝕯𝖊 𝕵𝖆𝖓𝖊𝖎𝖗𝖔| Fast burn. Mel é uma menina que mora sozinha, sem família e s...
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Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.