Touching Paradise • Beauany

By abeaushine_

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Any era uma adolescente extrovertida e cheia de alegria até o pior acontecer. Quando perde sua mãe em um terr... More

Elenco + playlist
The lake
Beautiful smiles
Going back to our lives
First on the list
Aquarium of the Pacific
Old and new friends
Just friends
Shoulder to cry
Good night, Any!
Plans for the saturday
City of Angels x Twilight
It's a crazy party
Friendly advice
No powers
Tedious but interesting
Nervous
Nostalgic day
Feelings
Enlightening conversations
She drives me crazy
Twins day
Theories
I miss you
Like the sky
Screams, hugs and tears (1/3)
Not everything is as it seems (2/3)
Bad dream (3/3)
Know better
Caution
A small wager
Dinner invitation
You're not the only one
Revelations
Trying
Sofya's party
I'm not crazy
Sensations (+16)
Decisions
The truth (parte 1)
The truth (parte 2)
Did I screw it up?
Shiv being Shiv

Ups and downs

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By abeaushine_

20.10.2019 - 09:30
Los Angeles, California
Música: Human (Christina Perri)

Any Gabrielly

Enrolo uma toalha em meus cabelos molhados depois de me vestir e encaro meu reflexo no espelho do quarto. Estou horrível. Definitivamente, um filme de terror. Sinto vontade de chorar. Por que tenho que estar assim justamente hoje, quando Josh vem almoçar com a minha família?

Merda, eu nem sei se conseguirei recebê-lo quando chegar. A dor irritante, bem na região inferior do meu abdômen, se encarrega de me lembrar disso a cada três segundos. Seco uma lágrima que rola involuntariamente e abraço meu próprio corpo, inconformada.

Sigo para a minha cama em seguida, onde me deito em posição fetal e começo a torcer para que a morte me leve. Deve ser melhor do que a tortura de sentir meu útero se contrair como se quisesse expelir minha alma juntamente ao fluxo todo santo mês. 

Ah, Deus, por que complicar tanto? Já sei que não existe um bebê dentro de mim — não teria como existir, de qualquer forma —, então por que ainda preciso sentir essa dor dos infernos e sangrar por, pelo menos, mais uns três dias? Péssimo momento para ser eu, péssimo momento...

Coloco uma almofada na barriga como se isso fosse amenizar meu sofrimento e me viro para o outro lado do quarto, fitando a porta branca. Ela faz com que eu volte a me lembrar de que, em breve, Josh estará aqui. Será que devo ligar e pedir que não venha? Se bem que ele não vem só por mim. Foi meu pai quem o convidou, afinal. 

E por falar no meu pai, pergunto-me como deve estar indo a pescaria dos dois. Confesso que adoraria ser uma mosquinha para saber. Espero que, no mínimo, estejam se dando bem. Eu odiaria que ele incorporasse o "Oficial Paliwal" e transformasse o momento em um verdadeiro interrogatório, deixando Josh desconfortável e pensando que, talvez, relacionar-se com alguém como eu não valha a pena.

Balanço a cabeça em negativa, tentando afastar a paranoia. Sr Edward preza muito pela felicidade de suas filhas, jamais faria algo que magoasse a mim ou a Shiv. Está constantemente buscando meios de nos animar e sei que ele já percebeu que o loirinho canadense é quase como minha dose diária de endorfina.

Se não tivéssemos nos conhecido, eu, provavelmente, ainda estaria recolhida em minha concha, escondida de tudo e todos. Josh foi a pessoa que, mesmo despretensiosamente, me fez sair dela. Sua chegada foi um verdadeiro divisor de águas e meu pai sabe disso.

— Gabrielly? — ouço a voz abafada de Shivani do outro lado da porta, seguida de leves batidas. 

Penso em ignorá-la e fingir que ainda estou dormindo, mas me lembro de que ela pode ser útil em meio a tormenta do mar vermelho e decido dar sinal de vida.

— Não sei onde a alma dela se encontra, mas o corpo está aqui. Entra! — respondo, puxando um cobertor para me aconchegar melhor. Minha irmã entra no mesmo instante, rindo por minha fala.

— O que deu em você? — ela se aproxima, os olhos escuros fixos em mim.

— Cólica. Ainda não está tão ruim, mas sinto que vai piorar. Aliás, você tem algum remédio para me dar? Esqueci de comprar e não tenho a menor condição de ir agora.

— Hm, desculpa! O meu acabou semana passada. — a morena se senta ao meu lado com uma expressão de "sinto muito" no rosto. — Quer que eu ligue pro papai? Posso pedir que ele traga quando estiver voltando.

Ou você poderia sair e comprar para mim! — penso, mas não digo nada. Odeio dar trabalho.

— Quero. Por favor, faça isso! — choramingo.

Shiv deixa o quarto por alguns minutos, tempo que ela provavelmente gasta na ligação. Enquanto isso, continuo quietinha na cama. Na intenção de me distrair um pouco, pego meu celular sobre a mesa de cabeceira e o desbloqueio. Encontro várias notificações. Entre elas, mensagens da Sofya. Parece que ela finalmente decidiu o que fazer para comemorar seu aniversário, na próxima quarta-feira.

Uma festa. Ela quer dar a merda de uma festa...

Suspiro pesadamente, imaginando o que está por vir. Tentativas — vindas de todos os lados — de me convencer a ir à comemoração e eu torcendo, clamando aos Céus, para que qualquer habitante desse planeta simplesmente se esqueça da minha existência ao menos até a manhã de quinta-feira.

— Pronto, papai vai comprar seu remédio. — minha irmã retorna ao cômodo. Ela encosta a porta atrás de si antes de se sentar novamente ao meu lado. — Ei, viu que a sua amiga vai dar uma festa?

— Ela te convidou? — pergunto, estranhando o fato dela saber disso. A mensagem que recebi foi enviada por Sofy em nosso grupo com Lamar há pouco mais de vinte minutos.

— Um convidado me convidou. — Shiv dá de ombros, sorrindo.

— Você sabe que convidado não convida, não é? — estreito os olhos em sua direção. — Mas ok, aposto que esse tem carta branca para acompanhantes, coisa que apenas o Lamar e eu temos. Porque somos melhores amigos da aniversariante, sabe?

Embora já imagine do que se trata, jogo verde para ver se a sonsa assume que foi chamada por ele, mas não dá em nada. A safada apenas continua sorrindo. Porém, depois de algum tempo em silêncio, seu rosto fica sério.

— Você vai, certo? — ela me observa, parecendo receosa.

— Ah, eu não sei, Shiv... — desvio o olhar para o aparelho que ainda se encontra em minha mão.

Sei que eu deveria ir. Como melhor amiga, imagino que minha presença seja importante para a Sofy. A própria fez questão de enfatizar esse "pequeno" detalhe em suas mensagens. Mas será que me sentirei confortável em ir? Será que é uma boa ideia? É isso o que eu realmente não sei.

— Se quer um conselho, acho que não custa nada tentar.

— Será que não? Tantas coisas podem acontecer. Coisas ruins... — falo baixo, a última frase quase em um sussurro.

— Coisas boas também, Any! — a garota diz, fazendo um gesto para chamar minha atenção. — Podemos tomar umas cervejas, dançar por horas seguidas, depois você pode fazer uma pausa pra dar uns amassos no Josh. Confie em mim, vai ser divertido!

— Engraçadinha! Você sabe que não gosto de beber. — reviro os olhos, discretamente. Essa droga só causa problemas. — Só curti a ideia da dança... e a dos amassos.

— Já não é motivo o bastante para ir? Além de fazer a nanica loira feliz...

— Talvez. — admito. — Vou pensar sobre isso, ok?

— Ok! Enquanto você pensa, eu vou planejando o meu look e o que dar para a Sofya. Tem alguma sugestão?

— Hm, ela ama acessórios. Se quiser, podemos ir ao shopping amanhã, depois da escola, e procurar algo legal. Também preciso escolher um presente.

— Vamos até lá, então. — ela sorri, animada. — Caramba, faz tempo desde a última vez em que saímos juntas para fazer compras! Mal posso esperar.

— É verdade. Quando foi? Na semana do último dia dos pais?

— Não, era dia das mães.

— Ah... — pensando melhor, me lembro bem daquele dia.

Estávamos eufóricas, porque após meses economizando, finalmente havíamos conseguido dinheiro suficiente para comprar a joia que nossa mãe vinha "namorando" desde o ano anterior. Era um colar de ouro branco, cujo pingente era um pequeno rubi, rodeado por minúsculos diamantes. Desde que o colocou no pescoço pela primeira vez, dona Priscila raramente o tirou. Tanto que decidimos enterrá-lo junto dela.

— Já tomou seu café da manhã? — Shiv se apressa em mudar de assunto.

— Ainda não. Tudo o que fiz até agora foi trocar a roupa de cama e tomar um bom banho. — faço careta, recordando-me da situação totalmente desagradável em que estava quando acordei.

— Acho que, então, devíamos ir. Demorar demais pode atrapalhar nosso almoço. — diz, levantando-se.

— Ok. Eu... — de repente, minha fala é interrompida por latidos vindos do andar de baixo. Gaya parece agitada.

Troco olhares interrogativos com Shiv, em estado de alerta. Ainda é cedo para que nosso pai retorne. Ficamos quietas por alguns instantes, quase sem respirar, e tudo piora quando ouvimos passos rápidos pelo corredor ao lado. 

Felizmente, podemos respirar aliviadas quando a porta se abre. Contrariando minhas expectativas, apenas um segundo se passa até que Edward entre no quarto, acompanhado por Josh e Gaya. Entretanto, a sensação reconfortante me deixa conforme a minha ficha cai.

Caramba, Josh está aqui! 

E eu ainda estou com uma aparência horrível, cólica e uma toalha enrolada em meus cabelos, que ainda nem foram penteados!

Francamente, que dia maravilhoso! E ainda nem são dez da manhã!

— Bom dia, princesas. — papai se aproxima de Shiv. Ele beija sua testa antes de vir até a cama e fazer o mesmo comigo. — Como estão?

— Bom dia! Eu estou bem, já essa aí... — minha gêmea diz, dando um leve aceno em minha direção. — Trouxe o que pedi?

— Trouxe, claro. Josh comprou enquanto eu abastecia o carro, depois viemos o mais rápido possível. — ele ergue a pequena sacola, estendendo-a para mim. Eu a pego de sua mão e confiro o conteúdo. — Tudo certo?

— Tudo. Obrigada, pai... e Josh. — sorrio, sem jeito. É inevitável não me sentir envergonhada por ele estar me vendo assim. — E me desculpem por atrapalhar o programa de vocês. Juro que não queria incomodar.

— Tudo bem. De qualquer forma, já estávamos a caminho de casa.

— Exatamente. Não atrapalhou em nada, Any. — o loiro se manifesta, com um pequeno sorriso.

Diferente do que pensei, os olhos azuis, cravados em mim, não transmitem qualquer estranheza. Estão repletos de ternura. Isso faz com que eu me sinta menos desconfortável.

— Por que estavam vindo tão cedo? Vocês não foram pescar? — Shivani questiona. Divido minha atenção entre os dois, também querendo saber a resposta.

— Mudamos de ideia, então decidimos ir à uma cafeteria. Nada demais. — meu pai se apressa em dizer. E antes que alguém faça mais perguntas, prossegue. — Bom, agora que eu trouxe o remédio, é bom que tome logo, certo? — ele me observa.

— Sim.

— Então vou te trazer uma água. — ele começa a se afastar, indo em direção à porta.

— Não precisa, eu pego. — desfaço-me do cobertor e, fazendo um pequeno esforço, me coloco de pé. — Estávamos prestes a descer para tomar café. — explico.

— Ainda não comeram? Meninas!

— Pai, eu acabei de acordar, Any está passando mal.  — a morena o abraça pelo pescoço, fazendo manha. — Além do mais, hoje é domingo. Merecemos um desconto, não?

— Merecem uma refeição decente. Andem, desçam agora mesmo! — ordena num tom repleto do cuidado que somente ele tem com a gente.

Dou um beijo em seu rosto e aviso que já desço antes de, educadamente, expulsá-los do meu quarto. Josh permanece, enquanto Edward e Shiv seguem para a cozinha. Encaro o garoto que ainda não ousou se aproximar. Ele se encontra com as mãos nos bolsos, encostado em minha escrivaninha.

Perceber que estamos sozinhos volta a me deixar sem jeito. Pergunto-me se a sensação irá embora caso eu dê um jeito no cabelo. Ao constatar que provavelmente sim, decido ir até o banheiro para resolver a situação.

— Algum problema comigo? — ele pergunta antes que eu saia.

— Não, nenhum.

— Então porque tenho a impressão de que minha presença está te incomodando?

— Não é exatamente a sua presença. Só queria estar mais apresentável para te receber. — tento passar pela porta, porém, sua mão segura a minha.

— Você é linda de qualquer jeito. Vai precisar de mais do que uma toalha se quiser mudar isso. — diz, fitando o meu rosto. Acabo sorrindo.

— Você é um galanteador, sabia?

— Não, eu só exponho fatos. — ele também sorri.

A mão sobre a minha começa a subir, deslizando carinhosamente pelo meu braço, coberto pelo moletom cinza, até chegar à lateral do pescoço. Meus sentidos encaram o gesto como um convite, então me aproximo o suficiente para que nossos lábios se encontrem em um beijo calmo, mas intenso o bastante para despertar as borboletas em meu estômago e acelerar meus batimentos por longos segundos.

— Diga ao meu pai que já estou indo. Só preciso de alguns minutos. — murmuro, ainda de olhos fechados.

— Ok. — recebo um selinho demorado e, então, nos afastamos.

Sigo para o banheiro em uma velocidade considerável. Ao chegar, tranco a porta e vou logo me livrando da toalha úmida. Coloco a peça no cesto de roupa suja e olho meu reflexo no espelho. De repente, não me sinto mais tão horrível assim. Eu até sorrio por alguns instantes antes de iniciar a finalização dos meus cachos.

Respiro fundo quando, perto de concluir o processo, a dor volta a incomodar. Está piorando. Dadas as circunstâncias, apresso-me em terminar. Minha aparência está aceitável agora. Ao menos me assemelho mais a uma garota e menos a um daqueles zumbis de The Walking Dead.

Pego a cartela de comprimidos no quarto e vou para o andar de baixo em seguida. Caminho a passos lentos, que cessam no exato momento em que ouço meu nome. As vozes vindas da cozinha parecem dialogar em tom conspiratório. Tento ouvir o que dizem, mas no mesmo instante sou surpreendida por Gaya correndo até mim e, consequentemente, denunciando minha presença.

— Finalmente, filha! — o homem surge no corredor. — Venha, sua irmã acabou de fazer panquecas para as duas.

Sem alternativas, entro no cômodo. Me deparo com dois lugares postos à pequena mesa, na qual Shivani se senta com talheres em mãos. Joshua se encontra na bancada, com um copo d'água à sua frente. Ele faz sinal para que eu me aproxime e, quando o faço, indica que é para mim. Apresso-me em retirar um comprimido da cartela e tomá-lo. Já esperei além da conta.

— Obrigada. — digo ao esvaziar o copo.

— Agora coma, querida. — Edward segura minha mão, conduzindo-me até a cadeira ao lado de Shiv como se eu fosse uma criança.

Eu não contesto. Apenas me sento e concentro-me em desfrutar da refeição pelos minutos seguintes. Minha irmã parece entretida com o celular, enquanto os outros dois começam a programar saídas futuras. Sorrio discretamente ao ouvi-los conversando como verdadeiros amigos. Parece que, apesar de curto, o tempo que passaram juntos rendeu bons frutos.

Ao me dar por satisfeita, lavo minha louça suja. Pergunto sobre o cardápio do almoço em seguida, porém Shivani e nosso pai decidem assumir o controle de tudo. O mais velho sugere que eu volte para o quarto e fique quieta até que a cólica passe. Penso em discordar, alegando que sobrevivo a isso todo mês e que cozinhar não me mataria, mas desisto no momento em que Josh se oferece para me fazer companhia. Não sou maluca de recusar.

Então, retornamos ao andar de cima.

— Se sente melhor?

— Vou me sentir quando o remédio fizer efeito. — sento-me na cama após encostar a porta.

— Quanto tempo até isso acontecer?

— Não sei ao certo. — respondo, pensativa. — O que eu queria mesmo era que essa dorzinha chata desaparecesse nesse instante, mas como não é possível, prefiro me distrair. Não quero pensar nela.

— Tudo bem, já vai passar. — ele mostra um meio sorriso. — Quer assistir alguma coisa? — sugere, indicando meu notebook sobre a escrivaninha.

— Quero ouvir um pouco de música enquanto conversamos. — mostro meu celular. — Não vou mentir, estou louca para saber em detalhes sobre o tempo que passou com o meu pai.

O loiro assente, começando a circundar a cama para vir até mim. Acesso uma de minhas playlists favoritas e a voz de Christina Perri preenche o cômodo no momento em que deixo meu celular sobre a mesa de cabeceira e me deito.

Josh se livra dos sapatos e imita o meu gesto, ajeitando-se confortavelmente ao meu lado. Puxo o cobertor sobre nós antes de permitir que o garoto me envolva, minimizando a distância entre nossos corpos. Por fim, ficamos face a face, dividindo o mesmo travesseiro.

— Vamos, me conte tudo. — peço.

— Tivemos uma conversa tranquila. Diferente do que eu esperava, Ed não me amedrontou, nem nada assim.

— Ed? — questiono, admirada. — Perdão, mas o que houve com o Sr Paliwal?

— Bem, digamos que nossa ida à cafeteria tenha contribuído para o início de uma boa amizade. — ele pousa sua mão em minha cintura, sob o moletom. O polegar dá início a uma delicada exploração em minha pele. — Descobri que seu pai e eu somos mais parecidos do que eu pensava.

— Ah, é? Em quais aspectos?

— Temos uma história de vida semelhante. E não sei se notou, mas também temos um amor em comum. — nossos olhares se encontram. Não contenho o sorriso bobo que, automaticamente, toma meus lábios.

— É ótimo saber disso. Tive medo de que vocês se estranhassem e tudo terminasse com ele falando sobre sua arma outra vez.

— Foi justamente esse o motivo de eu ter fugido do convite a semana toda. — rimos. — Mas estou feliz que tenha me convencido a aceitar. Nos surpreendemos positivamente no fim das contas.

— Muito positivamente. — enfatizo.

— Já que fez isso por mim, poderia permitir que eu fizesse o mesmo por você.

— Como? — franzo o cenho, confusa.

— A festa de aniversário da Sofya. Ela enviou uma mensagem me convidando.

— Ah... Você pretende ir. — arrisco. Ele assente.

— Mas só se estiver disposta a ir comigo.

Meus batimentos aceleram. Ele também?
Confesso que de todas as pessoas com as quais convivo, Josh era a última de quem eu esperava uma tentativa de me convencer a ir à festa.

— Shivani e eu falamos sobre isso mais cedo. Ela acha que eu deveria ir.

— E você? O que acha?

— Eu concordo, mas não sei se estou pronta. — suspiro. — Tenho medo de me arriscar e depois não conseguir segurar a onda, entende?

— Mais do que imagina. — o garoto murmura, ternamente.

Acredito em suas palavras por alguns segundos, mas a ideia logo se desfaz. Embora se esforce para isso, ele não tem como entender, pois não sabe um terço da história. Desde que nos conhecemos, foram poucas as vezes em que falei sobre festas e o motivo pelo qual as evito.

Pergunto-me se esse seria um bom momento para inteirá-lo de tudo o que houve e, consequentemente, descobrir se consigo tocar no assunto sem que minha mente me induza a reviver tão cruamente as terríveis sensações que os acontecimentos daquela noite trouxeram. Será que vale a pena tentar?

Decido que sim.

Alguma coisa em meu interior clama por isso.

— Se lembra de quando almoçamos juntos pela primeira vez na ESLA? — começo.— Foi quando conheci a Sabina e o Noah.

— Claro, eu me lembro perfeitamente.

— Bem, naquele mesmo dia, fiquei chateada por um comentário da minha irmã e você me consolou. Foi quando contei sobre ter perdido a minha mãe e em que circunstância aconteceu. Se lembra disso também? — ele assente.

— Você disse que aconteceu quando ela foi te buscar em uma festa.

— Sim. — engulo em seco. A mão, antes em minha cintura, passa a afagar minhas costas. — O que não te contei é que eu não devia estar naquela festa. Meus pais não deram permissão.

Desvio meu olhar para o peito de Josh, onde começo a desenhar pequenos círculos imaginários com a ponta do dedo indicador.

— O que mais dói é que eu sabia que era melhor ficar em casa. Eu sentia... — uma leve ardência toma meus olhos. — Mas por outro lado, eu queria muito ir, então pensei: "O que pode dar errado?". Minha intuição dizia que tudo, mas preferi ignorá-la. Adolescentes vivem quebrando regras, afinal.

— Então você saiu escondida...

— Sim. Esperei que a minha mãe fosse para a cama e saí sorrateiramente de casa. O meu pai estava no trabalho, então essa parte foi fácil. Além disso, a Shiv disse que me daria cobertura caso fosse necessário. — suspiro. — Enfim, eu fui para a festa.

— Sozinha?

— Não, Sofya e Lamar foram comigo. Devo admitir que estávamos nos divertindo bastante, só que, de repente, tudo foi por água abaixo. — fecho os olhos. Lágrimas me escapam, indo direto para o travesseiro. Droga! Vou molhar tudo!  Me sento na cama, apressando-me em secar o rosto.

— Podemos mudar de assunto se quiser. — o garoto também se senta, parecendo preocupado.

— Não, eu quero falar. Me sinto confortável em fazer isso com você.

— Certo... então estou aqui para te ouvir. — ele entrelaça uma de nossas mãos, incentivando. Balanço a cabeça em concordância.

— Não sei como, mas, de alguma forma dona Priscila descobriu que eu havia saído. Como se não bastasse, descobriu também onde eu estava e foi atrás de mim.

— Caramba!

— Eu sei! — fungo, sentindo o nariz levemente obstruído. — E ela chegou em uma péssima hora, justo quando eu e os meninos inventamos de virar uns shots de tequila. Minha mãe sempre odiou bebidas, dizia que elas destruíram a vida dos meus avós, os quais nunca conheci, então me ver fazendo aquilo a deixou infinitamente mais brava do que já estava. — novas lágrimas rolam. — Nós começamos uma briga feia ali mesmo, na frente de todo mundo. Ela queria me trazer de volta para casa. — volto a fechar os olhos. As imagens daquela noite vívidas em minha mente e a dor retornando.

— Any... — Josh chama em voz baixa, mas o ignoro. Preciso fazer isso antes que eu desista.

— Mas eu queria ficar, então me comportei como uma criança birrenta enquanto era arrastada pelo braço para fora da festa. — rio sem humor, tentando secar o rosto agora encharcado. — Eu falei coisas horríveis para ela, Josh. Tive a coragem de dizer que ela estava tentando destruir a minha vida por causa de uma festa idiota! E isso foi uma das ultimas coisas que a mamãe ouviu de mim, porque... porque... — engulo em seco. Minhas palavras saindo em murmúrios.

— Ei! — ele me abraça apertado. Uma de suas mãos afaga meus cabelos enquanto choro. — Você não precisa continuar. Não precisa continuar, amor. — recebo uma série de beijos carinhosos pelo rosto.

Passamos um bom tempo assim, apenas abraçados, mergulhados em silêncio. Joshua me confortando exatamente como na primeira vez, na escola. E também como naquela ocasião, noto seus olhos ligeiramente avermelhados e umedecidos, transbordando sensibilidade e empatia. Como se não bastasse, nosso simples contato reduz consideravelmente o incomodo e a inquietação que há pouco me atingiam. Esse garoto é literalmente o meu ponto de paz.

Um pouco mais calma, decido terminar o que comecei.

— Tudo aconteceu incrivelmente rápido. Num segundo, estávamos discutindo na calçada. No outro, minha mãe estava inconsciente a metros de distância. Um cara que dirigia alcoolizado subiu no meio-fio e a atropelou. Seu corpo foi arremessado como se não fosse nada. — explico. — Ela morreu antes mesmo da emergência chegar.

— Sinto muito por isso. — os braços se estreitam ao meu redor. — Se eu pudesse te fazer esquecer, se pudesse te livrar dessa dor, pode ter certeza que eu faria.

— Mas ninguém pode. E eu nem quero que aconteça... — enrolo meus dedos na gola de sua camisa. — Encaro o sofrimento como minha punição, uma forma de pagar pelo que fiz.

— Você não fez nada.

— Você não entende.

— Entendo, você se culpa por ter saído àquela noite. Pensa que se tivesse ficado em casa, sua mãe estaria aqui agora.

— E ela não estaria?

— Nunca saberemos. — ele ergue meu queixo, fazendo com que nossos olhos se encontrem. — O que eu sei é que o responsável pelo tiro é quem puxa o gatilho, não quem está ao lado da pessoa atingida.

— Mas eu...

— Você não tem culpa, Any. O imbecil que dirigia alcoolizado sim, é ele quem deve pagar. Não é justo que continue se martirizando assim.

Eu o observo por alguns instantes. O rosto sério e os olhos afetuosos imploram silenciosamente para que eu o compreenda. Parte de mim quer acreditar em sua fala. Parece tentador me livrar desse fardo assim, tão facilmente. Por outro lado, não consigo simplesmente aceitar. A responsabilidade do motorista não anula a minha. Me sinto como se fossemos cumplices.

— Certo. — murmuro por fim. Sei que não chegaremos a um consenso sobre isso, então por que insistir? — Entende agora o porquê do meu desconforto em relação a festas? — volto ao tema inicial da conversa. — Parece besteira, eu sei, mas...

— Não é besteira se te afeta. — Josh encerra nosso abraço, porém, continua mantendo as mãos nas minhas. — E sim, eu entendo. É por isso que não vou insistir. A decisão de comparecer ou não ao aniversário da Sofya deve ser inteiramente sua, sem pressão. Apenas saiba que, caso aceite ir, me comprometo a não te deixar sozinha. Passaremos por isso juntos.

Sorrio para ele em um agradecimento mudo e sincero, porque é tudo o que posso oferecer no momento. Me faltam palavras. Apesar disso, sei que gestos bastam para que o garoto a minha frente perceba o quanto sou grata por suas palavras, sua compreensão e principalmente por tê-lo aqui, comigo.

***

Oooi!
Olha só quem voltou! 🙆🏾‍♀️

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