Inteligência Artificial | Fen...

By muqingato

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Feng Xin encontra Catarina, um smartwatch que se diz capaz de realizar alguns de seus desejos básicos. Achan... More

2: As Habilidades de Costura de Mu Qing
3: O Lado Bêbado de Mu Qing
4: Mu Qing, Vamos A Um Encontro
5: Feng e Qing
6: Mu Qing Conhece Seu Sogro
7: A-Qing É Um Péssimo Arqueiro
8: Isso é um adeus, Mu Qing?
9: Mu Qing, Eu Viverei.
10: Mu Qing?

1: Olá, Mu Qing!

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By muqingato

Dedicando esse primeiro capítulo a emi (tt: @poemuqing) e stella (tt: @siriiustar), obrigada por me apoiarem na escrita dessa fanfic.

P.s: Stella, feliz aniversário adiantado.

— Nosso protótipo já está pronto, Cabo 42. Toda a equipe de pesquisa teve um grande trabalho, não acha?

— Sim, General.

— Isso é bom, não é? — O homem que disse isso tinha um sorriso rígido em sua face frígida. Ele se virou para olhar através da janela do local, cujo vidro ocupava uma parede inteira. Eles estavam no último andar de um prédio muito alto, toda a cidade poderia ser vista dali. — Consigo sentir todo o poder que tenho em minhas mãos, de revolucionar o mundo da tecnologia. É bom se sentir assim... — Enquanto dizia isso, ele olhou para a caixinha cor de rosa que estava em sua mão e começou a acariciá-la.

O Cabo 42 não se moveu, ele não ousava, o General que estava a sua frente carregava uma fama de ser insano às vezes. Antes mesmo que ele pudesse pensar em pronunciar alguma palavra, o General se virou e continuou a falar.

— O trabalho de transportar esse "brinquedo" está em suas mãos. Eu iria pessoalmente, mas não queremos causar muito alarde. Além de que, preciso resolver outras coisas. — Ele estalou a língua após pronunciar a última sentença.

— Sim, General.

Estático e com a voz tremendo, Cabo 42 não se atreveria a dizer mais que isso e, talvez, despertar a fúria de seu superior. Sua voz era quase mecânica.

— Você parece um pouco tenso, Cabo 42. Tem algo em mente?

O interlocutor dessa frase arregalou brevemente os olhos e congelou, seu corpo mais rígido do que nunca antes. Seu plano realmente havia sido descoberto?

Logo, uma risada foi ouvida ecoando por todo o cômodo. Era a risada do General. Internamente, Cabo 42 suspirou de alívio, sabendo que seu plano ainda estava em segredo. Contudo, ele ainda não se atreveu a mover um único músculo.

— Relaxe, se você andar como alguém que está carregando bilhões de dólares por baixo da roupa, os transeuntes vão desconfiar de você.

— Sim, General.

Caminhando em passos vagarosos na direção do Cabo 42, o General não deixou de acariciar a caixinha em nenhum momento, ela era não muito grande, mas também não muito pequena. Ele esticou os braços e pousou a caixa nas mãos de seu subordinado, que tremeu levemente com o peso da grande responsabilidade que estava sendo depositada nele.

— Fique bem, bebê. — o General sussurrou para a caixa nas mãos do Cabo 42, como se ela fosse verdadeiramente uma criança.

Apertando as mãos em volta daquele objeto, de forma firme, e o escondendo embaixo das roupas militares, Cabo 42 se virou para ir em direção à porta de saída. Ele queria se livrar desse ambiente tenso o mais rápido possível, era sufocante ao extremo. Porém, os sons de seus passos foram interrompidos por uma voz severa. Ele parou.

— Se algo sair diferente do planejado você será... Bem, você sabe o que acontecerá com você. Agora saía daqui.

Um arrepio subiu por toda a espinha dorsal do homem de menor patente e ele reconsiderou diversas vezes o que estava prestes a fazer.

— Sim, General.

O Cabo saiu em direção ao seu destino, outra unidade da equipe de inteligência do exército. Não era muito longe, ele iria a pé. Os militares não queriam chamar a atenção para esse projeto secreto.

Dizem que a melhor forma de esconder algo era colocando essa coisa bem a vista de todos. Bom, essa era a tática que eles estavam testando: Transportar aquela caixa e o conteúdo dentro dela da forma mais casual possível.

O que o exército talvez não esperasse era a ousadia escondida na profundidade dos pensamentos do Cabo 42. Ele tinha outro destino em mente para aquele objeto capaz de causar grandes conflitos.

"Se eu vender isso para o serviço de inteligência dos Estados Unidos consigo ficar rico e ainda fugir do exército daqui, que com certeza vai querer minha cabeça." Ele não era muito inteligente, isso era o que ele tinha em mente.

A caixa possuía um rastreador - isso era óbvio - e era lacrada com uma forma de tecnologia avançada que não importava para Cabo 42. Qualquer idiota da computação conseguiria decodificar aquilo e abrir a caixa. Pelo menos era o que ele achava. O mais importante no momento era como fugir do rastreio do exército. Se ele desviasse do caminho que fora estipulado, os militares rapidamente iriam perceber, eles nunca conseguiriam confiar cegamente em alguém de tão baixa patente patente como ele.

De qualquer forma, o plano dele era básico e de altos riscos, consistia em: Correr. Como dito, ele não era uma pessoa inteligente.

Assim Cabo 42 o fez. Entretanto, na metade do caminho, a caixa que tinha o objetivo de proteger o conteúdo de dentro começou a disparar pequenos choques nele. 

Como aquela caixa estava em contato diretamente com a pele do Cabo, por baixo da roupa, os choques pareciam mil vezes mais intensos.

— Merda. — Ele grunhiu baixo enquanto corria, pois estava no meio da rua e não queria chamar a atenção.

Por mais incrível que pareça, o treinamento intensivo que ele recebeu antes de definitivamente entrar no exército o permitiu correr por cinco minutos levando choques, mas chegou a um ponto em que ele não aguentava mais.

Cabo 42 jogou aquela caixa - enviada diretamente do inferno - para longe e correu, com os olhos cheios de lágrimas, na esperança de salvar sua vida miserável daqueles que viriam atrás dele por tentar a traição.

A pequena caixinha cor de rosa ficou abandonada para trás, no chão. Parecia inofensiva.

Diversas pessoas passavam ali diariamente, mas ninguém olhava para o chão. Em uma sociedade onde tempo era considerado dinheiro, ninguém tinha tempo sobrando nem sequer para observar onde estava pisando. 

Mal sabiam todas essas pessoas que transitavam por ali que, naquela caixa, havia mais dinheiro do que a maioria deles poderia sequer imaginar ganhar em toda as suas vidas sórdidas.

[...]

Feng Xin era rico e ponto final. Essa era a única coisa boa que poderia ser dita de sua vida.

Ele estava, no momento, caminhando pela cidade para "tomar um sol". Isso era algo que sua psicóloga havia sugerido, juntamente com praticar atividades físicas ao ar livre. Poderia isso curar o vazio interno que ele sentia? Ele achava que não, mas resolveu tentar mesmo assim.

Olhando para todos os lados enquanto caminhava ele percebeu o quão feia era a cidade em que morava, tudo era tão... Cinza e sem vitalidade. Feng Xin não gostava do cinza, pois era uma cor que remetia a névoa, o sentimento de solidão que ele tinha constantemente. O preto, por sua vez, por mais que fosse a ausência de cor - cientificamente falando - causava sensações boas em Feng Xin, por ser uma cor forte. Ele era de humanas e não se importava com a linguagem científica, para ele, o cinza era só um tipo de preto sem graça.

As pessoas que supostamente poderiam incorporar aquele cenário e deixá-lo com mais cor também não ajudavam. Seus ternos também eram cinza, criando uma grande paisagem monocromática. Feng Xin franziu o cenho.

Desistindo de olhar a paisagem, ele continuou seu caminho olhando para baixo e chutando algumas pedrinhas soltas da calçada, que não é necessário dizer que também era cinza. 

Feng Xin estava cansado de se sentir sozinho. Outra coisa que sua psicóloga havia recomendado era convidar amigos para se divertir com ele todas as vezes que ele sentisse mal, pois ele havia contado que seus amigos eram uma parte importante de sua vida. Como hoje ele estava disposto a sair de sua zona de conforto, resolveu tentar. 

Ele retirou seu celular do bolso e procurou o contato do melhor amigo. Logo, uma voz gentil e um pouco preocupada foi ouvida do outro lado da linha.

— Feng Xin! Está tudo bem?

Feng Xin riu um pouco internamente. Ele tinha apenas dois amigos de verdade: Pei Ming e esse que havia acabado de atender sua ligação, Xie Lian. Ambos sabiam de seus problemas pessoais e se preocupavam muito com ele, por mais que Feng Xin tentasse dizer a todo momento que estava tudo bem.

— Sim, tá tudo bem. Queria saber se você está ocupado.

A respiração de Xie Lian, do outro lado da linha, estava um pouco irregular e alguns barulhos de fundo podiam ser ouvidos. Ele parecia estar na rua e com pressa.

— Eu... Eu estava indo visitar um amigo meu que está em coma já faz alguns anos...

Na verdade, Feng Xin não esperava que Xie Lian estivesse desocupado no meio de uma tarde de quarta-feira, em dias uteis seu amigo era bem atarefado, então ele não ficou decepcionado. Porém, ele se amaldiçoou por ter ligado num momento triste e delicado.

Feng Xin apenas soltou um som de concordância. Seu olhar capturou algo cor de rosa em meio a tanto cinza. Ele caminhou em direção àquilo e, quando chegou mais perto, percebeu que era uma caixa normal, mas com um pequeno painel digital no local onde ela - provavelmente - deveria ser aberta. Esse painel parecia ser diferente das tecnologias que pessoas normais viam comumente, por isso Feng Xin ficou curioso e se abaixou ali, no meio da rua mesmo, para examinar o objeto.

— Feng Xin?

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz do outro lado da linha. Naquele momento, ele já tinha até mesmo se esquecido que estava em meio a uma ligação.

— Sinto muito, Lian. Preciso desligar.

— Espera. Eu-

Porém o final da frase nunca foi ouvido. Feng Xin desligou o telefone e sua atenção se focou inteiramente na caixa. Ele claramente não saberia abrir aquilo sozinho. Resolveu então recorrer a seu outro melhor amigo: Pei Ming.

[...]

— Hoho, olha quem está aqui. — Essas foram as primeiras palavras de Pei Ming quando viu Feng Xin atravessar a sala de sua mansão.

A casa de Pei Ming era muito cara. Na verdade, caro ainda era um eufemismo para descrever a quantidade de dinheiro que aquilo deveria valer. Se Feng Xin era rico, Pei Ming era mil vezes mais. Feng Xin não sabia com o que Pei Ming trabalhava, mas também nunca se preocupou em perguntar. A única coisa que ele sabia era que seu amigo tinha se formado em ciência da computação. Foi por esse motivo que Feng Xin buscou sua ajuda.

Antes mesmo que Feng Xin pudesse dizer algo, a voz de Pei Ming ressoou novamente na sala espaçosa.

— O que é isso na sua mão? — Pei Ming, que antes estava sentado em uma postura desleixada, havia ficado em pé e se aproximado. Sua voz continha grande curiosidade.

— Eu achei essa caixa na rua. Ela tinha um painel interessante então resolvi trazer para você verificar.

Pei Ming pegou a caixa das mãos de Feng Xin e começou a passar os dedos por ela, parecendo uma criança analisando um brinquedo novo, seus olhos brilharam um pouco.

— Deveras interessante... — Pei Ming parecia estar sussurrando para si mesmo, com uma cara fechada. Porém, sua expressão feia rapidamente foi substituída por uma sorridente e ele se virou para falar com Feng Xin. — A caixa tem um código gravado nela, esses códigos normalmente são usados com itens secretos criados pelo exército que ainda não foram apresentados para a população comum. Há também um rastreador, acho melhor retirá-lo antes que um militar apareça na minha porta com uma arma apontada pra gente.

Feng Xin ficou atordoado com todo esse discurso. Com apenas uns segundos de análise Pei Ming havia descoberto tantas informações? Verdadeiramente um cérebro intelectual.

— O... — Feng Xin coçou a nuca. — Rastreador. Você consegue retirá-lo? — A voz de Feng Xin estava um pouco mole. Ele ainda não tinha digerido todas as informações que seu amigo havia passado.

— Claro. É para isso que você veio aqui, não é? — Pei Ming tinha um sorriso ladino em seu rosto enquanto falava isso. Feng Xin o achava muito bonito, apesar de irritante algumas vezes. — Espere aqui alguns minutos e eu já volto.

Então, Pei Ming saiu deixando Feng Xin sozinho com a solidão que aquela sala gigante transmitia. Ele resolveu dar uma olhada na decoração. Perto da lareira havia algumas medalhas de honra.

Desde que estava no ensino médio, Pei Ming sempre ganhava muitas. Esse era um segredo que ele escondia de quase todos. Para Pei Ming, ser um nerd era vergonhoso, ele fingia ser burro e gostoso para flertar e conquistar pessoas. Feng Xin riu um pouco tentando entender o que se passava na cabeça do amigo.

Na mesa de centro havia um pequeno bloco de notas e uma caneta ao lado. A curiosidade de Feng Xin foi despertada e ele se aproximou, mas ficou pensando se não seria uma invasão de privacidade ver anotações de outra pessoa. 

Depois de muito pensar, ele chegou a conclusão de que Pei Ming era um de seus melhores amigos então talvez não tivesse problemas...

— Ei, não mexa nisso. — Quando sua mão estava prestes a tocar a capa do caderno, uma voz rigorosa soou na sala. Feng Xin até demorou para perceber que aquela voz era de Pei Ming, pois seu amigo raramente falava daquela forma.

Pei Ming se aproximou e pegou o caderno, guardando-o longe da onde estavam.

— Você esconde algum plano de dominar o mundo ali, Senhor Pei Ming? — Feng Xin semicerrou os olhos e brincou, rindo um pouco.

Pei Ming deu uma risada sem graça.

— Não pense demais, Senhor Feng Xin. Aqui, sua caixinha contrabandeada foi deslacrada, você pode abrir se quiser.

Feng Xin pegou a caixa e olhou com curiosidade, Pei Ming o olhava atentamente. Ele iria abrir naquele mesmo momento, mas achou melhor esperar quando estivesse em casa. Quando ele subiu o olhar, encontrou o rosto de Pei Ming cheio de expectativa. Feng Xin se sentiu constrangido com aqueles olhos bonitos e intrusivos sendo dirigidos a si.

— Vou levar isso para casa e abrir lá.

Pei Ming demonstrou uma leve decepção e fez até um biquinho. Por um momento seu lado nerd e curioso falou mais alto que seu lado galã e ele perdeu a pose. Feng Xin riu um pouco.

— Certo, mas me mantenha atualizado. — Pei Ming disse, ainda com um bico nos lábios e Feng Xin assentiu sorrindo, indo para a saída.

[...]

Feng Xin morava em um apartamento espaçoso para uma pessoa. Era confortável e ele não tinha do que reclamar. Ele se dirigiu direto para o chuveiro e resolveu deixar a caixa na mesa de cabeceira do seu quarto.

Para falar a verdade, Feng Xin era uma pessoa muito curiosa, porém ele estava com um pouco de medo de abrir aquela caixa, então ficou tentando adiar o máximo que pudesse. Ele tomou banho como se nada estivesse acontecendo. Como se ele não tivesse encontrado uma caixa que aparentemente pertencia a um projeto secreto do exército. Como se sua vida estivesse andando normalmente.

Quando saiu, Feng Xin se vestiu, respirou fundo e pegou aquele objeto. Se tivesse alguma arma que pudesse matá-lo, ele iria apenas morrer. Nada com o que se preocupar. Se tivesse algo muito útil ali, ele... Teria algo útil. Constatando que só tinha prós e nenhum contra, ele abriu a caixa.

O conteúdo foi algo que o decepcionou... Um relógio. Era um smartwatch, nada que ele não pudesse comprar. Para ser algo considerado super secreto e lacrado com alta tecnologia, aquilo tinha que ser diferente de um simples smartwatch, por isso Feng Xin começou a cutucar todos os botões do relógio até achar o de ligar.

Uma interface como aquelas que apareciam em filmes de ficção científica se abriu em sua frente. Ela tinha um tom cor-de-rosa meio transparente e uma voz, parecida com a do Google tradutor, começou a falar.

— Olá, novo utilizador. Me chamo Catarina, sou sua inteligência artificial portátil capaz de realizar desejos básicos. Primeiramente, me diga: Como o senhor gostaria que eu me referisse a você?

Feng Xin estava sem palavras. Enquanto a voz falava, o texto do que ela estava dizendo aparecia simultaneamente na interface rosa. Realizar desejos? Título para se referir a uma pessoa? Quanta bobagem.

Como não houve resposta, Catarina repetiu a pergunta, calma como antes.

— Primeiramente, me diga: Como o senhor gostaria que eu me referisse a você?

Uma risadinha de escárnio foi soltada por Feng Xin. Essa situação era uma loucura inimaginável.

— Me chame de General Pika.

— Você gostaria de ser chamado de: General Pika. Confirma?

Dois botões apareceram na interface: Sim e Não. Feng Xin ficou em silêncio por um momento e depois começou a rir até sua barriga doer. Faziam anos que ele não soltava um riso tão genuíno como esse. Seu dedo tocou o botão "Sim" e ele voltou a rir. Extremamente infantil.

O smartwatch ficou em silêncio por um tempo, parecia estar esperando Feng Xin se acalmar antes de continuar a falar. Ou talvez ele estivesse indignado com a capacidade que Feng Xin tinha de ser uma criança no corpo de um adulto.

— Você disse que pode realizar meus desejos, que tipo de desejos? — Feng Xin perguntou limpando algumas lágrimas que se acumularam nas bordas de seus olhos pela crise de riso anterior, sua voz estava meio falha e ele ainda tentava controlar a respiração e falar de forma séria.

— General Pika... — Catarina deu uma pausa, esse título parecia absurdo até para uma inteligência artificial. Antes que Feng Xin pudesse voltar a rir, ela continuou: — Nem todos os desejos podem ser realizados. Alguns mais simples, sim. Outros não. Por exemplo, você pode desejar comer um hambúrguer e eu te darei um. Entretanto, você não pode desejar ter toda a riqueza do mundo. Como eu poderia, do nada, deixar todas as outras pessoas pobres e todo o dinheiro vir para você? — Ela deu outra pausa. — É legal, não é?

Feng Xin deitou levemente a cabeça na mão direita e fez uma expressão apática.

— Parece chato, na verdade. Só posso pedir coisas básicas?

— Ei! — A voz de Catarina se alterou um pouco e Feng Xin soltou mais uma risada de deboche. Ela fez um som que parecia com um pigarro humano e se controlou para continuar. — Na verdade, eu ainda não estou completamente pronta. Desejos um pouco maiores podem ser feitos se você comprar um item complementar ao smartwatch.

— O capitalismo é uma coisa... — Feng Xin murmurou.

— Não é? — Catarina concordou.

Na verdade, Feng Xin achava a ideia de existir uma tecnologia tão inteligente e ainda capaz de realizar desejos, mesmo que pequenos, muito legal. Ele estava apático assim porque não acreditava que isso fosse realmente possível. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz mecânica de google tradutor.

— Por que você não tenta, General Pika? — Catarina parecia ter adivinhado que ele não iria acreditar tão fácil nisso.

— Certo, vamos com seu exemplo. — Feng Xin respirou fundo. — Quero um hambúrguer e uma coca-cola bem geladinha. — Seu rosto mostrava que aquilo era uma espécie de desafio. Ele arqueou levemente uma das sobrancelhas.

Catarina pareceu ter aceitado, mesmo sem dizer nenhuma palavra. Na interface cor de rosa apareceu uma ampulheta que girava de um lado para o outro e embaixo as palavras: "Carregando. Por favor, aguarde."

Feng Xin franziu as sobrancelhas e cruzou os braços, esperando. Não demorou mais que um minuto e a tela havia mudado. A voz do smartwatch também saltou pelo quarto.

— Desejo realizado. Seu lanche se encontra na cozinha. Bom apetite.

Uma expressão de descrença correu por toda a face de Feng Xin e ele até soltou um arzinho pela boca e nariz. Isso era quase uma rede de fast food portátil.

Ainda cético, Feng Xin caminhou, sem descruzar os braços, em direção a cozinha. Encontrou em cima da mesa um prato com um hambúrguer pousado bem no meio, que parecia muito apetitoso por sinal. Ao lado do prato estava uma lata de Coca-cola e um copo de vidro cheio de cubos de gelo. Algumas fatias de limão também podiam ser vistas ali. O homem não teve coragem de se mover, seus olhos se arregalaram um pouco e ele, devagar, descruzou seus braços. Acontece que isso era realmente real...

— General Pika, o senhor não pediu por limão, porém muitas pessoas gostam da combinação de limão com Coca-cola, então tomei a liberdade para trazer um limão para você. Além de que, limão no refrigerante pode realçar o sabor da bebida, pois a fruta contém flavonoides antioxidantes. Fonte: Google. — A voz de Catarina ainda era a mesma voz robótica de sempre, mas ela parecia estar dizendo "toma, trouxa, isso é por não acreditar em mim", pelo menos foi o que Feng Xin sentiu.

Antes de se dirigir a mesa, Feng Xin bateu na própria cabeça algumas vezes para se certificar de que não estava sonhando ou alucinando pelos remédios que tomava. 

Desconfiado, ele deu pequenas mordidas no lanche e o sabor inundou toda sua boca. Era mais gostoso do que qualquer outro hambúrguer que ele já havia comido antes. Catarina estava em silêncio, parecia esperar o feedback de seu General, mas Feng Xin apenas comeu quieto, não querendo admitir que errou em duvidar das capacidades do pequeno relógio.

— E então, General Pika? — Como o feedback não veio, Catarina resolveu perguntar ela mesma. — De zero a dez, quão satisfatória foi sua experiência?

— Nove vírgula cinco.

— General, apenas arredonde. De zero a dez, quão satisfatória foi sua experiência?

— Nove. Vírgula. Cinco. — Dessa vez Feng Xin disse entre dentes. Ele não se importava de estar sendo extremamente infantil brigando com um objeto que nem sentimentos tinha, mas ele sentia uma rivalidade nascendo entre eles, então não iria ceder.

— Certo. Nove vírgula cinco. Sua nota foi computada para obtermos melhores resultados no futuro. Muito obrigada pela colaboração. — Apesar de Catarina ter dito "muito obrigada", Feng Xin sabia que ela queria dizer "vai se fuder", se ela fosse humana com certeza diria. O homem de idade mental negativa riu maquiavelicamente por dentro e terminou de comer.

Depois que encheu o estômago, Feng Xin recostou em sua cadeira e suspirou satisfeito. O smartwatch não havia pronunciado nem uma palavra, ela ainda parecia magoada por não ter recebido uma nota dez mesmo depois de tanto esforço. 

Feng Xin fez um biquinho, refletindo sobre algo.

— Sabe, Catarina... Você deveria dar um jeito na minha solidão. Talvez arranjar uma namorada para mim? — Feng Xin estava apenas pensando alto, pois achou que Catarina não fosse considerar esse desejo. Era ridículo e ela ainda estava brava. Entretanto, a interface do smartwatch se abriu e aquela mesma tela de carregamento anterior apareceu. Feng Xin arregalou os olhos. — Ei! Pare com isso! Era brincadeira!

— Um desejo não pode ser desfeito. Sinto muito, General Pika. — Ok. Essa era a vingança por mais cedo.

Feng Xin estava desesperado. O que aconteceria com esse desejo? Uma mulher bonita iria aparecer deitada em sua cama esperando por ele? Apenas imaginar isso causava calafrios no homem. 

A tela ficou carregando por vários minutos, dessa vez estava demorando muito mais que anteriormente. Catarina parecia estar considerando o que fazer.

Após vários minutos sem nada estranho acontecer, Feng Xin estava mais calmo. A tela ainda estava carregando, talvez ele tivesse bugado o sistema. Ele suspirou e resolveu ir dormir. Tudo parecia normal, de qualquer forma. 

Deixando o smartwatch na cozinha, Feng Xin foi para seu quarto e se deitou, demorando um pouco para dormir. Ele sempre tinha insônia...

[...]

No meio da noite, Feng Xin sentiu alguns cutucões em seu braço. Como estava meio adormecido e sonolento, ele achou que era algum tipo de bicho, por isso deu um tapa forte e estalado no que o estava incomodando.

— Aí! — Uma voz melodiosa exclamou. Isso deixou Feng Xin confuso. Desde quando os bichos falavam? Ele coçou os olhos e franziu as duas sobrancelhas em uma carranca.

Seu coração estava um pouco acelerado e ele se virou devagar, dando de cara com um rosto frio e bonito, próximo ao dele, o encarando com uma leve curiosidade. A primeira reação de Feng Xin foi...

— AAAAAAAAAAAAH! — Ele gritou se afastando e acabou caindo da cama. O outro homem revirou os olhos.

— Pare de escândalo, você não tem modos? — A voz desse homem era tão fria quanto seu rosto, mas era bela mesmo assim. Feng Xin não pôde prestar atenção em nada disso, pois estava ocupado gritando e correndo para a cozinha.

Uma das vantagens de se morar em um apartamento caro era o isolamento acústico, principalmente em situações como essa.

— AAAAAAAAAAH! CATARINA, SUA CACHORRA!

O homem seguiu Feng Xin por todo o caminho até a cozinha, com passos vagarosos e braços cruzados em frente ao peito. Ele parecia desinteressado em todo esse show, como se estivesse ali por obrigação.

Catarina não respondeu ao chamado de Feng Xin. Ela parecia não querer atrapalhar ou interromper o momento.

— Não vai nem me dar boas vindas? — O homem pálido disse em uma voz preguiçosa, com um leve tom de sarcasmo. Feng Xin novamente o ignorou, continuando a tentar argumentar com o relógio.

— CATARINA, EU PEDI UMA NAMORADA, MAS ERA TUDO UMA BRINCADEIRA, POR QUE VOCÊ ME MANDOU UM HOMEM? EU SEI QUE ELE É MUITO BONITO, MAS ERA SÓ HUMOR E PIADAS, NÃO TAVA FALANDO SÉRIO.

— Eu posso te ouvir, idiota.

Feng Xin não se importou e continuou gritando com o pequeno relógio, que não deu resposta. O homem bonito mais uma vez revirou os olhos e suspirou.

— Não estou aqui para ser seu namorado, babaca.

Finalmente, Feng Xin pareceu acordar para a vida. Ele colocou o objeto de volta à mesa e se virou devagar para encarar o outro homem, com um sorriso forçado nos lábios.

— Então... Boa noite. Que porra você tá fazendo na minha casa?

— Claramente estou aqui contra minha vontade. — O homem respondeu de forma ácida.

Ambos ficaram se encarando com sorrisos falsos e maldosos até uma terceira voz, a de Catarina, interromper a tensão no ambiente.

— Um ajudante foi enviado para te ajudar com o desejo: Ter uma namorada. Boa sorte, General Pika.

A risada do homem - que Feng Xin ainda não sabia o nome - foi ouvida. O riso era sarcástico e Feng Xin sentiu o sangue subir por todo seu rosto em constrangimento e raiva.

— General Pika? Sério? — O homem mal conseguia falar direito enquanto ria. Mesmo que sua risada fosse melodiosa, nesse momento ela apenas irritava Feng Xin.

— Cale a boca. — Apesar do pedido de Feng Xin, o homem não parou de rir. Ele continuou rindo por muito tempo e repetindo "general pika" em meio aos ofegos.

Quando Feng Xin já estava prestes a explodir de vez, o homem parou e terminou com um "aiai", esfregando levemente a barriga que deveria estar doendo pela crise de risos anterior.

— Acabou? — Feng Xin perguntou carrancudo.

— Uhum. Não entendi essa palhaçada. Por que tenho que ser seu guru do amor? — Ele disse isso com um leve bico nos lábios. Feng Xin acharia fofo se o homem não fosse irritante. Ele na verdade não havia feito nada que fosse considerado irritante, mas só estar no mesmo cômodo que ele, de alguma forma, irritava Feng Xin.

— Não importa, vamos só resolver isso logo. A propósito, como é seu nome?

O homem sorriu um pouco maldoso e respirou fundo antes de começar a falar.

— Meu nome é 01101101 01110101 00100000 01110001 01101001 01101110 01100111. Diria que é um prazer te conhecer, mas eu estaria mentindo e não gosto de mentiras.

Demorou muito tempo para o homem terminar de recitar todos aqueles zero um. Feng Xin estava sem palavras. Os dois homens ficaram se encarando por algum tempo em um silêncio constrangedor até Feng Xin conseguir formular uma frase coerente.

— Isso é...

— Código binário, idiota. Que educação você teve que não aprendeu isso na escola?

— POR QUE EU APRENDERIA ISSO NA ESCOLA?

— TALVEZ PORQUE TUDO NO MUNDO TECNOLÓGICO ATUAL GIRA EM TORNO DE CÓDIGO BINÁRIO??

Os dois estavam realmente irritados agora e viraram seus rostos para o lado, soltando um "hmpf". Feng Xin pressionou a ponta da própria língua na bochecha direita antes de engolir a seco todo seu orgulho e perguntar novamente.

— Certo. Qual a tradução disso em letras de pessoas normais?

— Mu Qing.

— Certo, Mu Qing. Eu sou Feng Xin. — Ele tentou ser amigável, apesar dos dois terem começado com o pé esquerdo.

— Como se eu me importasse. — Mu Qing revirou os olhos novamente e descruzou os braços, andando pela cozinha e analisando o ambiente com curiosidade.

— ESCUTA AQUI SEU-

Mas antes que eles pudessem voltar a brigar, o celular de Feng Xin começou a tocar.

Vamos conversar um pouco:

Se você chegou até aqui, obrigada! Espero que tenha gostado. Ignorem erros, eu revisei isso com fome.

Não sei se foi perceptível, mas sou uma grande cadela do Pei Ming, então não pude deixar de adicionar ele a essa fanfic.

Biscoitando um pouquinho: Fengqing stans me sigam no twitter (@muqingato) pra gente amigar e sofrer por eles.

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