Passavam das 21h e eu estava no sofá da minha casa conversando com Jonas após o jantar. Meu pai convidou Bernardo para "beber" no escritório, eu sabia que era uma maneira de chama-lo para uma conversa mais descontraída, apesar de curiosa sobre o que ele queria com meu namorado, encarei como algo positivo querer ter um momento só dos dois.
Jonas e eu conversávamos sobre Yago que havia sido levado ao hospital aparentemente desacordado e eu não tive mais notícias.
– Pelo que consegui saber, o estado dele não é muito bom – Jonas me contou. – Não acordou ainda desde que chegou ao hospital.
– Foi um acidente bem feio, ele estava correndo muito – constatei.
– Você disse que o irmão dele chegou em seguida? Será que eles estavam indo para o mesmo lugar ou foi só coincidência?
– Eu nem sabia que ele tinha um irmão, nunca ouvi o Yago falar dele. Acho que foi coincidência, porque estariam em carros separados se tivessem indo para o mesmo lugar?
– Eles não se dão muito bem, Cami. Eu só sei que o nome dele é Yuri e que se formou em Direito para assumir os negócios do pai, por conta disso ele se sente superior ao Yago que não pretende seguir a mesma carreira na advocacia.
– Não é por nada, mas algo me deixou incomodada nele. Não sei se ele parecia muito preocupado com o irmão. Eu ouvi ele ligando para o pai e o tom de voz era natural, não tinha nenhum desespero ou preocupação.
– Como assim? Ele não parecia preocupado com o próprio irmão?
– Não posso dizer que não estava preocupado, mas teve muito sangue frio ao dar a notícia por telefone.
– Credo – ele disse com uma careta.
– Eu também notei que, enquanto os socorristas levavam o Yago para a ambulância, esse Yuri ficou encarando a mim e ao Be.
– Ele não conhece o Bernardo de quando o dr. Fernandes representava o pai dele?
– Então, o Be disse que deve ter visto ele uma ou duas vezes no escritório, talvez seja isso.
Jonas deu de ombros e acabamos encerrando o assunto. Logo em seguida, a porta do escritório se abriu e meu pai surge carregando uma garrafa de whisky acompanhado de Bernardo.
– Eu quero propor um brinde...
Olhei para Bernardo e ele sorria satisfeito enquanto também carregava um copo com a bebida, Jonas e eu tínhamos cada um seu copo de suco então aguardamos meu pai continuar o discurso:
– Quero propor um brinde ao mais novo âncora do jornal das onze na BTv, meu genro Bernardo.
– O que? Como assim? – Falei admirada.
– Aí sim! Parabéns, Bernardo – Jonas disse erguendo o copo.
– O Roberto, nosso âncora, está se aposentando e precisávamos de alguém para substituí-lo – meu pai explicou rindo da minha cara de espanto. – Além disso, não quero você namorando alguém da concorrência
– Isso é ótimo – gritei – É incrível.
– Gostou? – Be me encarava orgulhoso.
– É claro que sim! Era disso que vocês estavam conversando no escritório? – Perguntei e Be assentiu confirmando.
– Quando você começa? – Jonas perguntou.
– Bom, ainda tenho que pedir o desligamento da emissora que eu estou, acredito que preciso de uns 30 dias para o encerramento do contrato. O Roberto também vai trabalhar mais alguns meses até realmente se aposentar.
– É, mas como eu disse ali dentro não vamos esperar o fim do contrato dele para você ser contratado. Acho bom que você passe alguns meses acompanhando o trabalho dele e aprendendo como é ser âncora.
– Claro, vai ser uma honra.
– Bom, então bem-vindo à BTv – falei também sorrindo – Parabéns por se tornar meu mais novo colega de trabalho.
– Credo, vocês não vão enjoar um da cara do outro? – Jonas brincou.
– Eu espero que não – Be e eu respondemos em uníssono.
Na manhã seguinte abri os olhos devagar ainda me acostumando com a claridade, senti o braço de Bernardo sobre minha barriga e o cheiro inconfundível daquele perfume amadeirado que ele usa. Me virei para olhá-lo e, ainda com os olhos fechados, Be sorriu me puxando para perto. Sem muita dificuldade ele se colocou por cima de mim enquanto depositava beijos por todo o meu rosto e pescoço me fazendo rir.
– Que saudade de acordar do teu lado – comentei devolvendo os beijos.
– Eu estava com saudade também do que fizemos ontem à noite – ele sussurrou no meu ouvido me causando um arrepio.
– Se não sair de cima de mim nesse instante vai precisar repetir.
Lá estavam os olhos negros me encarando novamente acompanhados de um sorriso malicioso.
– Não seria uma má ideia... – ele provocou – Mas você tem compromisso.
– As meninas entenderiam – garanti.
Bernardo me olhou pensativo por alguns segundos.
– Eu preciso tomar um banho – voltei a sugerir.
– Eu também.
Algum tempo depois eu descia as escadas com um sorriso satisfeito e o cabelo ainda molhado. Bernardo desceu uns minutos antes e já estava sentado à mesa com meus pais conversando animado com Glorinha. Ele e meu pai falavam sobre seu contrato recente como âncora da BTv enquanto a mulher lhes servia café e algumas fatias de pão tostado. Minha mãe entrou na cozinha logo após eu me sentar.
– Bom dia! – Exclamou bem-disposta.
– Bom dia – respondemos quase juntos.
– Cami, vai ficar em casa hoje? – ela perguntou.
– Não, eu combinei de ir ao shopping com as meninas. Depois do almoço vamos ao cinema, ou algo assim.
– O Bernardo vai com você? – Meu pai perguntou olhando para ele.
– Não, é algo só delas – meu namorado explicou.
– Então vá com o segurança – meu pai voltou a falar.
– Claro, pode deixar – concordei tranquilamente. – Hoje anoite vamos ao pub com a galera.
– Você acha uma boa ideia, filha? – Minha mãe pareceu preocupada.
– O Be vai comigo, Jonas também. E o segurança pode nos acompanhar, eu só não quero ter que abrir mão da minha diversão com meus amigos.
– Não é para sempre – meu pai tentou argumentar, – é só até a polícia conseguir prender os responsáveis.
– Pai, eles estão atrás dessas pessoas há anos. Pode demorar mais alguns anos para conseguir capturar todos eles. Eu não vou ficar trancada em casa até lá.
Meus pais se entreolharam e pareceram refletir sobre o meu argumento, por fim acabaram cedendo desde que eu fosse acompanhada de dois guarda-costas e não me afastasse muito de Bernardo e Jonas. Eu entendia essa preocupação e não tinha intenção alguma de me colocar em risco, por isso acatei as precauções necessárias.
Depois do café da manhã me despedi de Bernardo que resolveu ir até a emissora que trabalhava para pedir seu desligamento, voltei ao meu quarto para secar o cabelo e me arrumar para encontrar Nat e Sof. Com o cabelo escovado, um vestido e tênis confortáveis entrei em meu carro com o segurança ao volante, passamos na casa das minhas amigas e nos dirigimos ao shopping.
Durante o restante da manhã passeamos pelas lojas olhando vitrines e vez ou outra experimentando alguma peça de roupa ou acessório, já passava de meio-dia quando nos encaminhamos para a praça de alimentação para almoçar. Sentamos em uma das mesas do restaurante italiano que amamos, fizemos nossos pedidos e aguardamos.
– Gente, que coisa horrível aconteceu com o Yago, né? – Sofia começou.
– Eu soube pelo Jonas que ele continua no hospital – falei.
– Eu soube que ele ainda está desacordado – Nat nos informou. – Aparentemente ele estava sem cinto de segurança e bateu a cabeça no volante. O caso dele é bem grave.
– Não contei para vocês que foi perto do apartamento do Be? Nós estávamos lá.
Expliquei brevemente o que conseguimos ver. Pelo que me lembrava o acidente realmente tinha sido grave e Yago estava desacordado assim que chegamos, na hora não dava para ter noção do dano que ele havia sofrido, mas não me surpreendia que estivesse na unidade de tratamento intensivo como Nat informou.
Os pedidos chegaram e mudamos de assunto, não era algo agradável para se conversar durante a refeição e nenhuma de nós era exatamente próxima a ele. Acabamos de comer e voltamos ao nosso passeio até a hora da sessão do cinema.
Assistimos uma comédia romântica nova que estreou na semana passada, eu odiava clichês e só aceitei ver esse filme por muita insistência das minhas amigas, mas ao ver os protagonistas tão apaixonados no fim da película não pude evitar de pensar em mim com Bernardo e como eu, com certeza, estava vivendo um romancezinho um tanto clichê.
Já anoitecia quando fui para casa com as meninas, elas se arrumariam e iriam para a balada comigo já que estávamos tentando fazer as coisas tão normais quanto sempre foi. Só então reparei o tanto de coisa que aconteceu desde que Be e eu resolvemos firmar um relacionamento. Passamos por tantas momentos bons e ruins que sequer parecia que estávamos juntos apenas a alguns meses. Deixei esse pensamento de lado enquanto escolhia o que vestir para essa noite.
Eu, Natália, Sofia e Débora dançávamos na pista de dança ao som de qualquer pop lançamento, vez ou outra eu trocava alguns olhares com Bernardo que estava encostado em uma das mesas com Jonas e Heitor. Quando começou um sertanejo universitário, meu namorado deixou seu copo e caminhou até mim.
– Dança comigo?
– Claro que sim – respondi sorrindo. – Você dança muito bem.
Ele me puxou para perto com um braço em volta da minha cintura e a outra mão segurando a minha, Bernardo era realmente um ótimo dançarino, me segurava com firmeza e me conduzia com facilidade pela pista de dança. Na última vez que dançamos juntos aqui nesse lugar nós nem pensávamos em namorar e eu acabei indo para casa acompanhada de um outro cara, dessa vez eu dançava com meu namorado e era incrível essa mudança de cenário.
Depois de duas músicas voltamos para perto da galera ainda de mãos dadas, Sofia e Heitor também estavam dançando e retornaram para a mesa ao mesmo tempo que a gente. Notei que Bernardo estava olhando para um ponto fixo, acompanhei seu olhar e em um dos camarotes localizei o que chamou a atenção dele: um rosto que eu me lembrava sorria enquanto bebia de um copo e observava duas meninas que rebolavam no ritmo da música ao seu lado.
– Caramba, o irmão internado e ele aqui? – Comentei. – Quanta sensibilidade.
Meus amigos se viraram para o mesmo lado procurando entender do que eu estava falando.
– Aquele é o Yuri, não é? – Jonas também o reconheceu.
– Quem? – perguntou Natália.
– Yuri é irmão do Yago – Bernardo explicou.
– Nossa, - Nat voltou a dizer – quem somos nós para julgar, mas com o irmão em coma eu não sei se teria coragem de ir para a balada um dia depois do acidente.
– Pensei a mesma coisa – Débora concordou.
Desviamos o olhar antes que ele percebesse, ficaria bem estranho toda a mesa olhando para a mesma pessoa. Pouco depois decidi ir ao banheiro, Sofia quis ir comigo então saímos de perto dos nossos amigos sendo acompanhadas por um dos dois seguranças que meu pai designou para cuidar de mim essa noite. Ele aguardou na porta enquanto nós duas entramos no sanitário.
Enquanto aguardávamos uma das cabines ficar disponível Sof comentou:
– Amiga, sei que não é adequado, mas confesso que to achando o máximo isso de ter um segurança atrás da gente o dia inteiro. Me sinto uma famosa.
– Beyonce que se cuide – nós rimos. – Mas sabe o que eu to achando o máximo? Esse lance entre você e o Heitor. Até quando você vai fingir que não é nada?
– Mas não é nada.
Uma das portas se abriu e Sofia entrou na divisão esquivando da minha pergunta me fazendo rir ainda mais, outra cabine ficou disponível e eu entrei. Quando saí ela estava no espelho corrigindo a maquiagem, aproveitei para ajeitar meu cabelo, Sof me encarou pelo espelho.
– O Heitor está dando umas indiretas sobre namoro.
Me virei para ela.
– E? – Esperei ela continuar.
– E eu to fingindo que não estou entendendo até ele ser mais direto. Você sabe, não é um namoro sem um pedido.
– Perfeito, amiga. É assim que se faz – incentivei rindo.
– Só espero que não seja algo como o Jonas fez para a Débora – ela disse enquanto voltávamos para a mesa. – Eu morreria de vergonha.
– Nossa, eu também. Dou graças a Deus que o Be fez isso em um lugar afastado, só nós...
Nesse momento senti alguém puxar meu braço, congelei por um segundo. Antes de me virar para trás percebi o segurança que nos acompanhava se aproximar pronto para tirar de perto de mim quem quer que estivesse me segurando, o outro que ficou perto da mesa estava caminhando em nossa direção em uma postura firme. Bernardo percebeu a movimentação e estava largando o copo enquanto Sof olhava para eles tentando entender o que estava havendo.
Então eu percebi quem era e apenas fiz um sinal com as mãos para dizer que estava tudo bem. Bernardo fechou a cara voltando a tomar um gole de sua bebida desviando o olhar, o segurança mais afastado parou no meio do caminho enquanto o outro já estava segurando o braço do rapaz que me olhava assustado. Era apenas o cara que eu beijei na última vez que estive no pub ainda solteira.
– Tá tudo bem – falei para o segurança que soltou o cara que eu ainda não lembrava o nome.
– O-oi – ele gaguejou ainda encarando o meu guardião. – Plínio, lembra de mim?
– Ah, claro – dei um sorriso forçado.
– Eu tentei te ligar, mas acho que anotei teu número errado daquela vez – seu olhar alternava entre mim e o homem de terno que o encarava com uma carranca.
– Olha, Plínio... é legal te ver, mas eu tenho um namorado agora... ele está me esperando logo ali – apontei em direção à mesa.
– Me desculpa, eu não sabia. Até mais então – ele disse já se afastando.
– Caramba, o que foi isso? – Sofia comentou atrás de mim.
– Eu também me assustei – confessei voltando a andar.
Oi, meus girassóis!
Me ausentei por 6 dias e vocês já estavam me cobrando atualização! Eu confesso que adorei, vou fazer isso mais vezes para causar essa saudade (brincadeirinha kkk)
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Beijos! ;*