Jujutsu Kaisen - Orbitando um...

By adri_bertolin

5.4K 623 458

Aprisionado no Reino da Prisão, Gojo Satoru inicia um processo de fragmentação sobre os conceitos em relação... More

Vazio
Grandes olhos negros
Caos
Propósito
Igual
Ciúmes
Domínio incompleto
Entorpecência
Consumo
Anseio
Posse
Retaliação
Fôlego
Bolha
Escolha
Capítulo Extra: Sequestro
Paz artificial
Busca
Renúncia
Receptáculo
Liberdade
Esperança
Destino
Resgate
Surgindo das cinzas
Surto

Engrenagem

65 13 13
By adri_bertolin

Gojo Satoru era um deus...

E aquela era a primeira vez que as expectativas por trás disso realmente o confrontavam.

Por que Deus deixa que o mal continue a existir? Por que Deus não impede desastres naturais? Por que Deus não evita massacres globais? Por que Deus deixa tantas pessoas com uma vida tão promissora morrerem? Por que Deus não salva seus filhos, seus protegidos?

Por que Kenny?

Não havia um deus lá para salva-lo?

Por que? Por que? Por que ele morreu?

Nem Satoru conseguia responder essa pergunta quando seu próprio cérebro o confrontava com ela.

Ele curou as feridas o suficiente para que o rapaz se salvasse, até mesmo o deixou consciente. Tinha a certeza de que conseguiu socorre-lo a tempo. Pelos céus, Kenny não era fraco, ele tinha habilidades boas que compensavam sua falta de poder bruto, ele sabia o que estava fazendo, ele... Falhou.

Não o brasileiro, não conseguia imaginar como isso poderia ser culpa dele, mas o portador dos seis olhos simplesmente falhou. Outra vez.

O metamorfo não era como Amanai, alguém que conhecia a pouquíssimo tempo e que ninguém, exceto aqueles que estavam junto dela nos momentos próximos à morte, se importavam com sua existência. O garoto era quase como Nanami e Haibara. O conhecia desde antes desses dois aparecerem em sua vida e de certa forma carregava um sentimento parecido por ele.

Nunca foram próximos, mas aquele vinculo com Uyara trazia um sabor amargo para sua boca.

De certa forma, essa era a diferença que tornava tudo pior. Kenny morreu rodeado por pessoas que ele amava, por uma família, amigos e admiradores, ele levou um pedaço do coração de cada um desses laços e a dor deles fazia com que se sentisse culpado. Por que era sua culpa, certo?

Se tivesse prestado mais atenção, se tivesse dedicado um pouco mais de tempo, se tivesse se esforçado um pouco mais, se tivesse se teleportado com a colega medica e não com Kioku...

Eles disseram que o trabalho de cura foi mal feito. Que a energia positiva aplicada se converteu em uma somatória corrupta e cancerígena que passou a atacar as células, revertendo o efeito da regeneração e agravando imensamente o dano original.

Em sua defesa, Gojo nem sabia que isso era possível, mas Shoko encontrou lógica na explicação, então aparentemente não estava em posição de contrariar.

O metamorfo foi transferido para o próprio país quando começou a demonstrar uma piora drástica, no dia seguinte ao ataque da maldição, e só morreu mesmo semanas depois.

Nenhum daqueles que mais se importavam com o intercambista tentou amaldiçoa-lo, eles apenas ficaram lá, do outro lado do mundo, lamentando a perda e lhe entregando tanta decepção que não estava sabendo lidar muito bem com isso.

Os companheiros dele, os que estavam conversando sobre a viagem com Yaga-sensei quando sua ânsia por roubar a amiga de lá interrompeu a reunião, permaneceram no Japão. Lidando com o luto por aqui.

Os que estudavam Kyoto se tornaram distantes, facilmente distraídos e estampavam uma tristeza quase palpável. Layla-sensei perdeu a postura arrogante e orgulhosa que ela sempre ostentou, estava cabisbaixa, fria, o culpava com certeza absoluta, mas também parecia se culpar e isso a impedia de amaldiçoa-lo com mais do que olhares assassinos em seu rosto oriental.

Já Kioku...

A amiga aparentemente não compartilhava desse sentimentalismo forte que seu povo parecia possuir como algo comum. Ela era mais tranquila com a ideia da morte, a aceitava melhor, a compreendia de uma maneira que a permitiria não desabar se todos os seus laços fossem destruídos. Isso apenas em teoria, é claro, mas parecia ser eficiente para garantir que ela seguiria em frente mais facilmente.

Considerando que fosse uma morte digna.

Uyara não procurava um culpado óbvio para despejar sua fúria. A Kyuubi o matou, não Satoru. Não havia um "se" sobre esse ponto, era o fato de algo que não podia mudar.

- Kenny jamais te culparia, eu muito menos. Nem pense em pedir desculpas por algo que não estou colocando sobre as suas mãos. - Ela disse quando lhes foi informado o que aconteceu, racional, calma. Com uma fé nele que fez com que seu incomodo pessoal aumentasse mais.

Ela debochou da ideia de acreditarem que foi Gojo quem piorou o estado do rapaz e esse era, sem duvidas, o motivo de nem ter levado a transferência de volta ao Brasil a serio naquele dia. Ela também confiava em Kenny, confiava em sua força e acreditava com toda a sua vitalidade que seu melhor amigo nunca faria qualquer mal real ao rapaz de propósito.

Isso não tornava sua reação à noticia mais suportável, entretanto.

A brasileira não esboçou nenhuma expressão diferente quando soube, nenhuma tristeza, espanto, dor, nada. Ela apenas caminhou quando Yaga acrescentou aulas intensas de cura em seu cronograma e eles foram dispensados, caminhou, caminhou e caminhou.

Geto e Saturo a seguiram de longe, porque queriam dar apoio, mas não faziam ideia de como. Também não sabiam se ela estava indo para um lugar especifico ou se estava tentando deixar o próprio pé em carne viva para compensar o coração em sofrimento. Eles apostavam mais na segunda opção, já que não fazia sentido ela ter ido até uma reserva ambiental se não estivesse perdida. 

A garota não emitia sons, não chorava e nem tremia. Sua energia amaldiçoada estava sobre controle e eram apenas os sons horríveis que eles conseguiam ouvir vindo de sua mente descontrolada que indicavam sua necessidade de ajuda.

De alguma forma, isso era muito pior do que se ela houvesse escolhido se voltar contra ele para despejar toda a dor ou se houvesse perdido o controle de seu corpo.

No lugar disso, ela foi para Chichibu-Tama-Kai. Um lugar lindo que os isolava do resto da população e fazia com que aqueles sons de agonia ecoassem com mais força e se tornassem mais perturbadores. Mas Uyara não parecia estar ali para observar a paisagem ou atormenta-los intencionalmente.

Os olhos dela agora vagavam pelo chão, inconstantes, como se estivessem procurando por algo.

Suguru foi quem entendeu primeiro, quem começou a procurar junto dela por algum tesouro que não conseguia mentalizar.

O controlador de maldições se abaixou de repente, retornando com uma pedra. Algo pequeno, liso e em tom de marrom brilhante, com um formato confuso que não parecia com nenhuma forma geométrica precisa. Ele indicou silenciosamente que deveriam se aproximar e foi só então que o deus mortal viu que a amiga não estava simplesmente agachada em um ponto aleatório no meio de varias arvores, ela havia encontrado um agrupamento de pedras lascadas e estava as avaliando como se fossem joias.

- Aqui. - Geto disse, entregando o que havia encontrado.

A mulher levantou seu olhar lentamente, prestando uma atenção relutante ao seu companheiro. Sua mão se ergueu para pegar a pedrinha com um olhar critico, mas acabou encontrando qualquer que seja o critério que havia estabelecido e envolveu a coisa com o punho fechado, levando-a na altura de seu coração em seguida.

Gojo não tinha nada a oferecer, mas se abaixou com eles mesmo assim. Ele possuia essa vontade desesperadora de agarra-la e protege-la de todo mal do mundo, assim como queria colar de volta cada pedacinho que ela estava perdendo sem perceber. Qualquer coisa para fazer aquela sensação de que sua amiga estava quebrando desaparecer.

Provavelmente ele era a pessoa mais perdida e agoniada do grupo, não que soubesse disso.

- Em meu país, as vezes, quando um feiticeiro morre, ele oferece toda a sua energia vital para a terra... Uma forma de fortalecer a casa, se juntar aos antepassados e prestar apoio aos próximos que andarão por seu novo domínio. - Kioku começou a dizer, sorrindo fragilmente para eles. - Então se você se dedica a proteger daquela terra, oferece novos adereços não prejudiciais e faz a manutenção da vida equilibradamente, você ainda estará cuidando daqueles que se foram enquanto eles cuidam de você. É uma maldição sangrenta, mas tem um sentido poético bonito.

- Himawari... - Satoru chamou, mas isso apenas fez com que lágrimas surgissem naqueles belos olhos.

- Nós tivemos alguém como Tengen um dia. Os outros pilares da comunidade jujutsu tiveram, eu quero dizer. Na era de ouro, muito tempo atrás... Pessoas capazes de fornecerem barreiras como a daqui, para permitir a manipulação de energia amaldiçoada por parte das pessoas nascidas no lugar. - Ela olhou para o chão, um choro silencioso visivelmente escorrendo por seu rosto. - A historia do Boto é brincadeira. Nós, brasileiros, somos diferentes porque, ao nascermos, a oferenda antepassada drena ódio, dor, rancor, desprezo e arrependimento da terra para ativar um padrão anormal de energia se a genetica for pré disposta a isso. Criando maldições humanas na pratica. Algo raro e inofensivo na maioria das vezes, mas não menos verídico por isso."

"O Japão tem tanta sorte, é um monopólio de feiticeiros. Kenny, Layla-sensei e os colegas em Kyoto são descendentes daqui. É isso que os diferencia, os torna potencialmente poderosos. - Eles notaram que ela se esqueceu momentaneamente de que o metamorfo deixou de ser um companheiro de nação vivo. - Aqueles que se diferenciam da população comum normalmente não tem mais poder do que suas janelas sem treinamento, feiticeiros de verdade são pouco mais do que meia centena de pessoas e menos ainda permanecem por lá."

"Até as os monstros que enfrentamos são afetados por isso, eles variam principalmente entre serem próximos ao nível quatro e serem piores do que os de nível especial por aqui, com poucas exceções a regra. É o motivo de termos um pacto de tendência a não agressão mutua: nos vemos como semelhantes. E embora apenas a maior parte dos que são um perigo real respeite o acordo o tempo todo e não sejam os responsáveis pela inicialização de um conflito com eles, isso já é o suficiente, caso o contrario já estaríamos extintos."

"Eu sou a porra de uma anomalia, na verdade. A primeira com potencial para ser uma nível especial na humanidade caótica de lá. - Uyara riu, tremendo. - Os lideres levaram um susto tão grande quando fizeram meu poder se manifestar que me deram parte de uma vida por aqui para garantir que eu me desenvolveria de verdade e cumpriria o propósito."

Ela sempre começava a falar muito quando estava inquieta, mas nunca antes isso lhe pareceu tão angustiante. Sentia a própria garganta apertar sem saber o porque.

- Hey. Vem aqui. - Gojo tomou coragem para chama-la, a envolvendo em um abraço a força quando a mulher não demonstrou indiciou de que se mexeria. Isso apenas arrancou um soluço mais agoniado de seu peito e ela desabou mais um pouquinho, soltando-se contra ele como uma boneca sem forças.

Geto veio para mais perto também, passando as mãos por suas costas lentamente, tentando oferecer conforto. Ele era claramente muito ruim nisso, mas Kioku parecia apreciar a tentativa.

- Kenny tinha aptidão o bastante para ajudar a nos impormos como uma potência contra nossos inimigos, ele tinha o poder que falta nos outros. É tão injusto que isso tenha se perdido...

Por causa do despreparo, por causa do mundo, por causa dos não feiticeiros que exigem tudo o que eles têm e não apenas a proteção que ganhariam naturalmente, por ele ter nascido no país errado, por eles terem sido reduzidos a essa quantidade insignificante e incapaz de proteger seus próprios prodígios. Por ele ser seu amigo e isso não ter feito a merda de diferença alguma.

Ela não disse nada disso, mas eles ouviram mesmo assim.

- Talvez, se houvesse uma forma de usarmos o poder de Tengen para criar mais feiticeiros... - Suguru começou a dizer, não completando o pensamento porque era uma ideia absurda.

Mas que mudaria tudo.

Existem muitas formas de se refutar o irrefutável, se você for capaz. De mudar o imutável e realizar o impossível, já que a maioria dessas coisas não passam de barreiras criadas para justificar fracassos e desmotivar tentativas.

Qual era o real limite que alguém como eles possuia? O que os impedia além da decência?

Salvar o mundo é um desejo tão nobre, não é? Tão lindo, esperançoso... Um sonho tão fácil de se abandonar quando se entende a complexidade do fardo.

O que quebraria o sistema para causar a mudança?

Descubra a verdade, a exponha e se prepare para calarem a sua boca com uma morte "natural".

Ganhe voz, apoio, inspire, motive, mas no resultado humanitário final, você é apenas mais um entre os milhares que fazem o mesmo guiando pessoas para diferentes direções.

Mate todos os que entrarem em seu caminho e você apenas será o vilão intitulado, exatamente como eles querem.

Quebre as regras, as refaça, seja visionário e mude a forma com que o mundo é visto. Se sua ação trouxer mais dinheiro do que prejuízo talvez você ganhe um parabéns e alguém se lembre do seu nome.

Eles sempre farão seus deuses sangrarem.

Sempre farão suas certezas perderem a credibilidade.

Agirão como os representadores do certo e do bom enquanto o sangue se acumula em suas mãos.

Destruirão as vertentes mais poderosas antes que elas percebam seu real potencial.

Dentre as engrenagens sociais, feiticeiros jujutsu não são diferentes de qualquer outro grupo de seres vivos que desempenham uma função importante. Ainda assim, no final do dia, seus restos mortais estarão a disposição dos abutres e a grande maquina da humanidade continua a funcionar sem sentir as perdas.

Quantas outras engrenagens já perceberam o mesmo, não é?

Quantas delas já teriam parado se suas sementes de mudança não fossem arrancadas antes de começarem a desabrochar?

Naquele instante, ali estavam três sementes diferentes demonstrando os indícios de vida.

- Não importa qual ideia brilhante possamos ter, se vivemos no controle do ninho de cobras do alto escalão isso não muda nada. - Gojo comentou, distraído com as batidas irregulares do coração da mulher.

- E o que deveríamos fazer? - Geto franziu o cenho. - Ir até eles e realizar uma chacina?

- Ainda estou pensando sobre isso, mas essa é uma hipótese.

Uyara estremeceu visivelmente com a ideia, parecia sensível a ideia de derramamento de sangue humano no momento. Embora, no geral, ela seja por natureza contra assassinatos em massa. Os olhos muito escuros se voltaram para as pedras novamente, buscando por algo que eles não conseguiam ver.

- Não acho que repetir erros que com certeza já foram cometidos antes faça alguma diferença. - Ela sussurrou baixinho. - O mundo conta trechos de historia em cada traço de sua forma, não faz mal nenhum em aprendermos com ela.

Kioku olhava para as arvores e para o chão como se eles possuíssem um significado muito mais profundo do que podiam enxergar. Uma pedrinha bem menor do que as outras chamou sua atenção, uma escura, tão negra quanto seus olhos e com um brilho refletido que lembrava um cristal.

Ela estendeu uma mão para pega-la e a levou até seu coração, da mesma forma que fez com a outra.

- Qual historia essas pedras contam? - Suguru questionou, ele parecia ter um nível de compreensão espiritual superior que o permitia interpreta-la melhor nesse quesito.

- Essa pequena preta provavelmente é uma obsidiana, conta sobre desastres do passado. - Ela sorriu um pouquinho. -  A que você me deu é só bonita mesmo, não sei do que se trata. - Seus olhos buscaram os deles, um pouco mais brilhantes. - Mas pedras tem um período de vida longo, gosto de vê-las como um presente duradouro. Elas passaram por muita coisa antes de chegar aqui e pretendo oferece-las ao Kenny quando voltar para casa. Cada pedra que eu encontrar se tornará um novo adereço ao novo domínio dele, uma marcação que não estava lá antes e que durará mais do que a minha vida.

Satoru fez um rabisco mental em forma de anotação para se lembrar de que deveria encontrar algo precioso e bem chamativo antes de pedi-la em casamento no futuro, embora esse definitivamente não seja o foco, era para onde sua mente turbulenta o havia levado.

Porém ele também queria uma forma de dizer que sentia muito por não ter salvado o rapaz, então guardou essa informação para usa-la em seu próprio tributo e mais tarde, naquela noite, enquanto seus dois companheiros dormiam embolados, o deus mortal saiu para voar pelo país.

Ele usou seus seis olhos para localizar pequenos fragmentos que condiziam com o gosto exigente da garota e voltou para escola como uma sacola de pedras adicional ao pequeno monte que haviam recolhido durante o dia.

Supunha-se que ela conseguiria embarcar no avião de retorno com tudo aquilo e, assim sendo, o brasileiro teria seu pedido de desculpas devidamente oferecido com uma simbologia bonitinha para ajudar a aceita-lo.

Havia um sorriso orgulhoso em seu rosto, realmente sentia que estava fazendo uma coisa certa, por menor que fosse. 

No momento, o deus mortal estava voltando para o quarto que ocupava atualmente quando viu outra pessoa acordada muito depois do toque de recolher da escola. Sua senpai, Utahime, estava sentada em um dos bancos do pátio de intermediação entre os dormitórios femininos e masculinos.

Ela olhava na direção de onde seus amigos estavam com uma fixação exagerada demais para seu posicionamento ser coincidência. Nenhum dos outros alunos notaria essa observação constante, mas era de conhecimento geral que seus seis olhos o indicariam sobre a presença incomoda e talvez até Uyara poderia ouvir seus pensamentos turbulentos, ou as maldições de Geto poderiam indicar seu comportamento suspeito.

A mulher não era desprovida de inteligência a esse ponto, ela não faria o mesmo nem se quisesse deixa-los cientes de sua raiva ou ódio induzidos pelo luto. Estava tentando chamar atenção de uma forma que apenas eles perceberiam.

- Yo! - Ele acenou, se aproximando devagar, apenas para parecer um gesto causal. - Estranho te ver aqui, decidiu ser rebelde e violar as regras?

Iori o olhou e sorriu pacificamente. Isso foi o suficiente para alerta-lo que ou ela estava prestes a ter um colapso nervoso ou ela estava muito seria sobre o que quer que fosse. Gojo reivindicou o lugar ao lado dela desleixadamente, em uma posição relaxada e tranquila, mantendo o sorriso irritante porque sempre usava essa expressão perto da mais velha.

- Apenas tomando um pouco de ar fresco. - Seu rosto era sereno, calmo, algo conflitante demais para seus olhos inchados e marcados do vermelho que denunciavam uma sessão constante de choro. - Essa é uma bela noite, não acha?

Sua conversação tranquila sobre o ambiente foi tão falsa que ele retirou os óculos, olhando para cima como se estivesse analisando as estrelas para lhe dar uma resposta boa o bastante. Mas, ao mesmo tempo, ele deixou seus sentidos vagarem, procurando por outras pessoas nas proximidades. 

Haviam, de fato, mais feiticeiros acordados naquela madrugada, eles não estavam retornando de uma missão ou saindo para algum chamado de urgência, estavam casualmente parados nas redondezas do pátio, longe o bastante para não chamarem atenção, porém de forma sincronizada demais para não estarem vigiando alguém.

Satoru deixou que um suspiro exasperado saísse de sua boca, a abrindo dramaticamente enquanto estendia os braços em uma gesticulação exagerada.

- Mas você é fraca demais para conseguir enxergar qualquer coisa realmente boa daqui!

Aquelas pessoas não eram frequentadores da escola regulares, pela resposta corporal dela não conheciam a relação dos dois bem o bastante para saber que no mínimo teria seu Infinity atacado por essas palavras. Utahime não apresentava nenhum traço de sua histeria usual, apenas curiosidade com um leve tom de flerte.

- Então porque não me mostra o que você pode ver, em um lugar melhor? - Ela teve a decência de corar e cruzar os braços de forma que mostrasse a abertura de seu traje, que expunha parte de seus seios fartos, mais explicitamente. Uma oferta óbvia para sexo.

Por algum motivo, era vantajoso que eles pensassem que ela não era mais do que uma vadia procurando por outro companheiro no mesmo dia que seu anterior morreu. Intrigado, Gojo retribuiu o suposto interesse inclinando-se para frente, próximo o bastante para lhe segredar palavras sujas e beijar sua pele se assim desejasse.

Iori se arrepiou, uma resposta boa o bastante para validar seu teatro pouco convincente, mas que não passava de uma reação instintiva de medo por estar tão vulnerável diante de uma criatura tão mais perigosa.

- Como quiser, gatinha. - Ele a puxou pela cintura como em um agarre romântico e pressionou seus dentes em seu pescoço apenas porque sabia que provocaria uma boa reação de sua senpai.

O deus mortal os teleportou para o alto de uma colina próxima o suficiente para garantir a sobrevivência da carga, mas afastada o bastante para saírem da barreira de escolar de Tengen e, por consequência, do campo de visão daqueles perseguidores estranhos. Seu corpo se moveu para longe da mais velha em seguida, colocando a mão desocupada no bolso de sua calça e dando-lhe alguma segurança sobre espaço pessoal.

- Porra, você me mordeu! - Toda aquela postura boazinha desapareceu, dando a oportunidade da mulher raivosa voltar, completamente enojada com sua saliva. Ela esfregava o lugar com força e parecia querer agredi-lo, exatamente como a Utahime que conhecia.

- Pela alma da sua atuação terrível! - Seus ombros se ergueram para enfatizar sua inocência.- Mas não conte à Uyara e ao Suguru, não lidamos muito bem com a ideia de compartilhar.

- Eu não estou interessada em me envolver no relacionamento selvagem de vocês! - Ela respirou fundo, tentando recuperar o foco. - Preciso que saiba de uma coisa e não posso dizer nada estando cercada por aqueles idiotas tentando descobrir quanto Kenny me contou antes de morrer.

Essa declaração o impediu de apontar sobre como ela não fazia o tipo de nenhum dos três e de como Kioku teria sido uma escolha muito mais fácil, considerando que ela entenderia sua mensagem sem a necessidade de uma conversa em voz alta.

- Sou todo ouvidos. - Seu sorriso irritante era bem mais prazeroso de fazer agora.

- Kenny percebeu que algo errado aconteceria depois que ele reconheceu um homem de cabelos azuis dentro do metrô. - Gojo se lembrava muito bem de quem era o feiticeiro com essa descrição naquele dia. - Eu nunca o vi tão assustado antes. Como se soubesse de algo que ninguém mais compreendia... Nós descemos na mesma estação que esse cara, ele o confrontou, o ofendeu e então tudo deu errado.

- Está me dizendo que o Kenny estava envolvido com o responsável pelo ataque? - Sua voz não pode deixar de soar incrédula.

- Não. Não diretamente. O que eu sei é que ele o conhecia e sabia que algo ruim iria acontecer, mas inicialmente pensei que seria só isso, que aquela pessoa talvez fosse algum feiticeiro maligno do registro brasileiro. - Os olhos da senpai se encheram de agua. - Depois que você o curou não levou muito tempo até que ele voltasse para a forma humana, ele estava bem, ele só... Kenny me disse que precisava encontrar alguém que o esclarecesse sobre o que aconteceu. Mas ele não voltou. Me falaram de uma piora repentina e de uma perda de consciência preocupante. - Ela o encarou com um tipo de determinação que não sabia que a mulher possuía. - Agora ele está morto e estão culpando você! Sem saberem que a prova de que o seu nível de cura é bom o bastante para não ter cometer esse tipo de falha está bem no meu rosto.

Porque alguém com uma habilidade em energia positiva capaz de causar uma catástrofe tão grande jamais consertaria eficientemente um ferimento grotesco como o dela era. Corpo humano ou de salamandra, isso não influenciava nesse aspecto.

- Você acha que ele foi silenciado? - Sua voz saiu com um tipo de raiva que ainda não conhecia.

- Eu tenho certeza.

Continue Reading

You'll Also Like

4.5K 613 13
A vida de S/N está prestes a mudar, quando Emma e Mikey se declaram para ele. Emma é uma menina gentil e patricinha, e Mikey é um delinquente. S/N fi...
3K 275 17
Essa é minha primeira fic espero que gostem Você trabalha no jardim de infancia banban e agora seu cargo e cuida do caso 6 chamado banban o que s...
185K 11.6K 132
invenções loucas da minha mente
4.5K 424 39
O que fazer quando o seu sucessor se torna o seu inimigo? MK enlouqueceu. Seus poderes adquiridos com muito esforço e dedicação o transformaram em um...