A Visão do Oráculo - [Taekook...

By Luanartzz

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Há muitos séculos, três deuses reinavam sobre a Terra: Tennelath, o deus do nascimento; Ikoosasa, o deus do d... More

Esperanças e Sonhos
O Olhar do Abismo
Universos Além das Montanhas
Instintos Conflitantes
A Canção dos Espíritos
O Momento Mais Bonito da Vida
Um Passo para Frente e Dois para Trás
Renegados e Caídos
A Tempestade
O Incêndio
Admirável Mundo Novo
O Desamparo de um Coração Covarde

Prólogo - A Criação e o Declínio

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By Luanartzz

Essa obra, tal qual como Addict, que é a minha outra obra, também é um projeto a qual eu tô realmente dando o coração. Pretendo fazer dessa fanfic muitas coisas, e espero que gostem do resultado <3

Boa leitura

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Há determinadas coisas que não são reais, porém tampouco imaginárias. Essas coisas estão simplesmente longe demais do que os olhos comuns podem ver, porque todos estão cegos. Cegos pelas iniquidades e julgamentos. E os donos destes olhos jamais irão abri-los, pois preferem viver na escuridão.

Faz séculos que apenas uma dessas determinadas coisas existia. Uma realidade diferente e primordial, que era governada pelo Espírito do Nascimento, do Destino e da Coexistência. E esse mundo é real, ele existe, eu estava lá.

Surgimos tão rápido quanto a morte, assim que a lua subiu aos céus. Ao nascer da lua cheia, eu emergi do solo. Ao brotar da Nascente, o Destino surgiu das estrelas, e ao subir da Minguante, a Coexistência apareceu por entre as nuvens, um intermédio entre o céu e a terra. Logo, fomos levados para Geescht, o mundo dos espíritos, que se localizava no céu.

Éramos mais que espíritos, éramos praticamente deuses. Deuses que haviam ganhado armas logo após nosso nascimento. Apenas eu não havia ganhado, mas eu não me importava, possuía as mais belas armas em minhas costas.

As grandes asas negras presas em meu corpo se abriram e eu voei livre como um pássaro, acompanhando o movimento da lua cheia, a dona de toda a beleza que meus olhos cor de prata poderiam captar. Há anos essa foi a minha vida, juntamente com meus dois amigos espíritos. A magia transcorria por nossas veias e a cada vez que a lua subia, nós sabíamos que era a nossa hora de assumir os papéis que nos foram designados.

Meu nome é Tennelath, e o que sou? O Espírito do Nascimento, minhas asas simbolizam a liberdade, e meus olhos de prata representam a vivacidade e brilho da juventude. Mas que juventude havia naquele mundo? Nós três pensamos por várias luas, a Grande Aflição estava começando a nos dominar. Eram apenas nós em um mundo vazio.

Na terceira lua, levantei-me, abri minhas asas com força e logo em seguida meus olhos. A combinação do vento que emergiu e o brilho que irradiou, uma criatura fora criada. Esta era parecida conosco, porém aparentava ser fraca, jamais sobreviveria sem intervenção.

Olho de soslaio para Ikoosasa, o Espírito do Destino. Seus cabelos azuis esvoaçantes fazem meu coração vibrar. Ele é lindo, e eu desejava que esse sentimento fosse recíproco. Desejava dizer "eu te amo" e lhe entregar toda a minha paixão. Meu corpo estava queimando de emoção, eu precisava falar com ele.

Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ele se levantou e encarou-me, desejando que eu fizesse algo. Mikanis Também olhou para mim, intrigado. Levantei-me e voei em direção a pequena criatura, que tinha pequenos braços e sorria em minha direção. Apesar da expressão, ela parecia não ter uma alma, não ter uma vida. Pus minha mão em seu peito e notei que lá não havia um coração. Eu e meus amigos nos entreolhamos e Ikoosasa afastou-se e levantou a sua espada, e logo em seguida começou a proferir palavras, palavras estas que saiam da boca mais gentil que eu já havia visto. De suas palavras surgiu uma grande árvore. Um presente do Destino para a futura humanidade.

De um dos galhos da árvore, Ikoosasa fez um cajado. E das margens do rio que por lá corria, retirou uma pequena pedra de Ametista roxa, e a colocou em cima do artefato. Seus olhos eram brilhantes como duas jóias, e seu sorriso era grande e gentil. Vindo até mim de forma mansa, ele entregou em minhas mãos o cajado e me deu a missão de nomeá-lo.

Pangmu. O nome dessa arma é Pangmu, que significa cajado, mas eu nomeei a minha de Stigma, que significa marca, cicatriz. Com esse cajado eu jamais irei permitir que nenhum sangue seja derramado, e que nenhuma cicatriz seja causada.

Ele havia dado uma arma para mim, e eu não poderia ser mais grato. Como ele era gentil e altruísta.

— Se na vida existe o caos, quero que no caos haja a vida. Como o vento sopra do norte ao sul, eu desejo que das estrelas, da nuvem e do solo, um coração valente surja neste ser. — depois de proferir estas palavras, bati meu cajado no chão, causando um pequeno tremor. E o tremor foi tão intenso que o coração do ser começou a vibrar e bater. Anos depois, a criatura cresce, e mais várias semelhantes a ele foram criadas para que sua espécie pudesse prosperar.

A Lua abençoou a nova espécie, e regozijou-se pela nossa criação.

E a pedra azul que pendia sobre a corrente de prata que estava sobre meu pescoço parecia brilhar mais forte.

Anos antes, Mikanis havia erguido sua foice no ar, e com as palavras certas proferidas, ele criou uma série de espíritos bestiais. Estas criaturas agiam somente pelo instinto, porém isso não apagava sua enorme sabedoria e sagacidade. Tais bestas assumiram formas distintas, e foram simplesmente nomeadas de animais. Quando um corpo para elas foi criado, as feras regozijaram e possuíram seus novos corpos, mas algumas delas preferiram viver sem uma casca que os prendesse, vagando pelo mundo. Estes viviam de forma pacífica, sem interferir no mundo dos humanos, mas a sua grande maioria decidiu acompanhar as pessoas em sua jornada, servindo como um guardião, um patrono sagrado que estaria sempre ao lado de seu protegido. Estes foram nomeados de Animais Totem.

Tudo parecia perfeito. O caos não nos tomaria, e a Grande Aflição jamais nos encontraria, pois nós já tínhamos encontrado nosso refúgio. Todas as feras foram abençoadas por Mikanis, e todos os humanos foram abençoados por mim. Mas Ikoosasa não abençoou ninguém, e se sentiu triste por isso. A Coexistência compadeceu-se de amigo, então pegou suas mãos e proferiu algumas palavras. Logo após recitá-las, os humanos na Terra abriram seus olhos e duas classes foram formadas: os Feiticeiros e os Oráculos. Os primeiros foram abençoados por mim, que foi quem lhes designou o poder e a habilidade de controlar forças mágicas, místicas e sagradas, e aos segundos foram dados por Ikoosasa os poderes de prever o futuro e realizar profecias.

O nascimento era algo que víamos todos os dias, e eu os mantinha em ordem.

A coexistência entre todos os seres era mantida por Mikanis.

O destino, o futuro e a sabedoria proviam de Ikoosasa.

Demos bênçãos e presentes para nossa criação, como, o conhecimento das artes e ciências, a liberdade para criar cajados mágicos, utilizar o poder das pedras, e realizar rituais festivos e sagrados.

Eles estavam felizes, e se eles estavam, eu também estava.

Várias luas… talvez milhares de milhares se passaram, e eu nunca havia criado coragem para falar com Ikoosasa, o espírito que roubou meu coração. Me sentia fraco por isso. E me sentia mais fraco ainda quando percebia que os humanos que havíamos criado estavam guerreando entre si por supremacia. Pensando nisso, Mikanis criou mais um mundo, uma nova realidade, um novo lugar, onde metade dos homens e animais viveriam, bem distante da outra metade. Estes animais não possuíam poderes ou aparências excêntricas, isso foi feito para distanciar o resto da humanidade de qualquer coisa que envolvesse magia. Isso havia funcionado, as guerras haviam terminado.

Ver aquele sangue, aquela dor, crianças e adultos morrendo por conta de poder, e tudo isso usando a magia que lhes concedemos doeu em nossos corações. Não foi para isso que criamos os humanos. Durante aquele período, nosso céu encheu-se de pequenos brilhos chamados de estrelas.

Foi naquele momento que conhecemos a morte. Criatura vil, enigmática, cruel. Apesar disso, bela, atraente. Sua missão era trazer dor e sofrimento para os vivos, porém, fazia parte do ciclo natural das coisas. Ela dizia em tom firme que não fazia tais coisas por prazer, mas pela razão de que era necessário tais acontecimentos para manter o equilíbrio.

O perfeito equilíbrio entre o sofrimento e apenas o final de uma vida já vivida.

Foi assim que lutamos para aceitar a morte como sendo uma de nós, mas algo dentro de mim dizia para não confiar em suas palavras.

Muitos anos se passaram, e nossos reinos pareciam estar vivendo de forma adequada. Não era o que queríamos, mas era o necessário a se fazer.

Enquanto eu voava, avisei Ikoosasa olhando para o mundo ainda não nomeado da magia e vendo que as pessoas procuravam aquela árvore roxa sempre que estavam precisando de auxílio ou apoio. Isso enchia seu coração de felicidade e ele sempre fazia questão de responder e prestar apoio a cada uma. Já Mikanis, era muito mais ressentido e preferia avistar a humanidade de longe, ou passear entre eles usando formas de animais, sempre tomando para que ninguém o reconhecesse.

Era de se esperar que isso acontecesse, afinal, estavam caçando por puro prazer os animais que havia criado com tanto amor e afeto.

Respirei fundo e aterrissei ao lado de Ikoosasa. Receoso, toquei seu ombro e tentei iniciar uma conversa.

— Bom dia, coisinha fofa. Como vai a…

— Lath, você sabe o motivo dos humanos estarem sempre entrando em seus quartos e depois de várias luas eles aparecem com uma criança no colo? De onde vem a criança?

Torci meu nariz e franzi minhas sobrancelhas. Que tipo de pergunta é essa? Ele sabe mesmo cortar um clima.

— Você não sabe isso? Está se fazendo de tonto, não é?

— O Espírito do Nascimento é você, não eu. Experimente tentar entender sobre os laços do destino e profecias. Eu tenho certeza absoluta de que não vai saber, senhor asinhas. É claro que eu não sei, você nunca me contou e nunca mostrou pra ninguém, simplesmente criou o tal mecanismo de reprodução e deixou eu e Mikanis sem respostas. Qual é o método? — sorri com o jeito que ele disse as palavras, ele era bem veloz com a língua.

— Eu vou ignorar o fato de você ter me dado um apelido tão ridículo que mais parece um nome de frango. — ele riu alto, e eu só pude rir também, não pela piada, mas por sua risada contagiante. — Bom… — pigarreei — eu estava pensando, o que você acha de… eu não sei… dar uma voltinha por aí? — Enquanto falava, timidamente abria minha asa direita e o cobria delicadamente.

— Você está me cortejando? Não imaginava que o senhor asinhas de frango era tão romântico.

— Não! Pare com isso, não me chame desse jeito. — cobri meu rosto envergonhado, enquanto balançava a cabeça em negação. Ele soltou uma risadinha e aproximou-se de mim para sussurrar em meu ouvido.

— Tudo bem, espero você daqui a algumas luas, senhor asas de águia. Me mostre o que esconde por debaixo dessas penas.

Solto um gritinho esganiçado que fez Ikoosasa rir novamente, que horrível sentimento de vergonha. Eu não sabia que ele era tão galanteador, eu não sabia que ele era desse jeito. Eu adoraria ter conhecido mais desse lado.

Após alguns minutos em silêncio, ele deitou sua cabeça em meu ombro e suspirou. Olhei para seu rosto e este estava com uma expressão abatida.

— Sabe, quando aquela briga entre os humanos aconteceu, eu me senti estranho. Não sei explicar, mas eu senti muito mais que apenas dor, eu senti repulsa. Eu odeio violência, sangue, essas coisas nojentas e horríveis. Tente imaginar quantas crianças se traumatizaram? Quantas vidas foram ceifadas a troco de nada? Isso é…

— Ikoo, calma. Isso já passou faz muito tempo, tenta esquecer isso, está no passado.

— O passado ainda dói.

Suspirei, o abraçando mais forte com minha asa. Eu sabia que aquilo ainda diria muito nele, mas eu e Mikanis estaríamos lá para tentar amenizar esse sofrimento.

— Eu sei…

Algumas poucas luas se passaram e enquanto dormiamos, senti um peso estranho sobre meu corpo. Me sentia cansado e com uma sensação amarga de estar sendo empurrado para baixo. Abri meus olhos e me levantei rápido ao ver que eram coisas que eu jamais havia visto, mas se assemelhavam a sombras.

Aquelas malditas e estranhas sombras me envolveram com seus braços quase que indestrutíveis. Tentei chutá-las e empurrá-las, mas nada adiantava, nada funcionava. Aquilo já estava começando a me sufocar.

— Morram, suas malditas! — Mikanis as cortou com sua foice. Elas se encolheram com seu movimento e dissiparam-se. Me levantei e fiquei ao lado de meu amigo. Ikoosasa não estava alí.

Peguei meu cajado e o girei por entre minha mão. Assumi uma postura agressiva e bati a madeira com força contra o chão, que tremeu, fazendo as sombras se dissiparem. Por precaução, iluminei o local com a luz da Ametista, garantido que tais criaturas não voltarão. Mikanis tomou a forma de um enorme cavalo de pelo preto e garantiu destruir todas as sombras que encontrasse com seus grandes olhos enfurecidos e seus cascos fortes como ferro.

Eu só queria saber o motivo daquelas coisas estarem atrás de nós, especificamente de mim.

Mas apesar disso, eu não tinha medo delas, eu não tinha medo de nada. Minhas asas iriam me proteger, e eu mataria aquelas coisas se necessário. Eu poderia me tornar um discípulo da morte nessa situação, se isso fizesse meu povo prosperar em segurança.

— Mikanis…

— Se essas coisas voltarem, irão nos matar. — bufou em sua forma de equino. — Eu irei garantir que não voltem durante essa noite, e descobrir de onde vieram. Procure Ikoosasa e ensine ele a lutar.

— Mas Mikanis, ele odeia lutar. Isso não seria viável… — seu alto relinchar cortou minha fala. O grande cavalo andou em minha direção, me fazendo andar alguns passos para trás.

— E eu odeio a morte, ela não deve coexistir em nossos mundos. Treine nosso Ikoosasa, e clame a Lua para que o Destino esteja do nosso lado. Não me decepcione, Tennelath. — virou-se e galopou em uma direção desconhecida.

Boa sorte, Mikanis.

E que o Destino interceda sobre nós.

                               ☾

— Lutar? Jamais. Eu achei que você tinha me chamado aqui para conversarmos e passearmos, não para treinar. O que você pensa que eu sou?!

— Por favor, me escute. As sombras tentaram me matar ontem, nós todos precisamos estar atentos, e você entre nós é o único que não sabe lutar, Ikoo.

— Oh, agora a culpa é minha? A luta só trouxe ao meu povo destruição e miséria. Eu jamais vou permitir que isso aconteça de novo.

— Prefere morrer? Prefere deixar seu povo morrer?

Ikoosasa não respondeu, mas ainda mantinha uma postura rigorosa.

— Escute, não estou te obrigando a fazer isso. Só penso que é necessário para a proteção dos nossos humanos, animais e plantas. Você não quer vê-los morrer, ou quer?

Ele permaneceu calado, parecia relutante. Suspirei e abri minhas asas, pronto para partir, porém no último minuto, enquanto eu já estava no ar, senti sua mão agarrando meu pulso e me puxando para baixo.

— Tudo bem, asinhas. — suspirou, derrotado — Eu aceito seu treinamento.

Sorri. Finalmente as coisas estão fluindo como deveriam.

                               ☾

Guerra.

As sombras voltaram, ainda mais fortes, e elas queriam guerra contra os espíritos. Mikanis transformou-se em um urso e invocou os Animais Totem para matar as criaturas demoníacas. Eu lançava feitiços e conjurações contra cada uma, e, aos poucos, estavam começando a sumir.

Suas aparências variam, podendo assumir formas de bestas cruéis, animais terrenos e até mesmo formas iguais às nossas.

A foice de Mikanis, ainda sem nome, assumiu um brilho dourado, e dela saíram criaturas semelhantes a aves, porém com garras muito mais afiadas que qualquer falcão, e estas voavam em direção às trevas, fazendo-as desaparecer.

Mesmo com todo o nosso arsenal, não estávamos nem perto de comemorar alguma coisa. Ikoosasa não estava alí, e isso me fez entrar em preocupação. Estaria ele bem? Estaria ele vivo? Eu ensinei tanto sobre como se defender a ele, mas nem ao menos ele estava conosco.

— Tennelath! Atrás de você!

Envolto em meus pensamentos, não percebi que, covardemente, as sombras surgiram atrás de mim, e uma delas assumiu minha aparência. Com olhos vermelhos e um sorriso macabro, aquele ser parecia rir, mas ao mesmo tempo, não havia expressão em seu rosto, apenas um semblante de prazer ao ver a dor. Abrindo a boca para falar, a criatura emitiu um som agudo e angustiante, seguido de uma voz densa e advinda da mais profunda escuridão.

— Ajoelhe-se perante ao seu deus.

A criatura abriu as asas e levantou uma das pernas, usando seu pé para pressionar meu rosto contra o chão, e logo em seguida abaixou-se para ver minha expressão.

Pela primeira vez, eu senti medo das sombras.

Usei minhas asas para proteger meu corpo, que não surpreendentemente tremia.. Virei meu rosto levemente na direção de Mikanis e vi que este estava muito ocupado com outros seres maleficos para destruir. Em uma última tentativa, clamei por seu nome, que ouviu meu chamado e correu em minha direção. Com os olhos enfurecidos, e a boca cheia de dentes, Mikanis saltou em direção a criatura feita de sombras e levantou suas patas que estavam prontas para dilacerar qualquer um.

Ele só não poderia imaginar que o caos que regia aquela criatura não era fraco ou pouco habilidoso, pelo contrário, aquele invasor era cruel, rápido e certeiro como uma flecha. E estava sedento de sangue.

Sorrindo, ele, que estava abaixado atrás de mim, segurou minhas asas e as levantou em uma velocidade que nem mesmo o guepardo de Mikanis poderia acompanhar, e logo em seguida transformou-se em uma sombra densa novamente. Por ter sido em um ritmo veloz demais para um urso, o espírito em forma de animal avançou sobre elas e as mordeu, imaginando que estava atacando a criatura. Por estar em uma forma guiada pelos instintos, Mikanis não percebeu o sangue que havia em sua boca, e as penas negras que de mim havia arrancado. Ele não percebeu que havia me causado pavor e tampouco ouviu meus gritos de dor. Ao perceber o que havia feito, ele se afastou, incapaz de se aproximar de mim outra vez.

Outra corja de sombras surgiu e todas avançaram em minha direção. Todas riam com divertimento e pareciam muito contentes em me ver com medo e dor. Com os olhos cheios de escuridão, elas arranhavam a envergadura das asas e se divertiam arrancando algumas penas com suas mãos de garras afiadas e me envolveram em um mar de sombras de forma que a única coisa que eu conseguia fazer era gritar e chorar de terror. Eu nunca mais iria conseguir voar.

Eu nunca mais conseguiria ser livre.

Os animais de Mikanis correram em direção às sombras, que saíram de cima de mim para escapar da luminosidade das feras, e o urso começou a lamber as asas machucadas para tentar amenizar a minha dor, mas não adiantava, nada adiantava.

O desespero era a única coisa que eu sentia. O que é isso? Eu jamais havia sentido esse estranho sentimento. Por que fizeram isso comigo? Por que estavam querendo nos machucar? Quem criou essas coisas?

Minhas asas… minhas asas doíam… e ainda doem. Fechei meus olhos, estava cansando, queria que aquilo acabasse. De uma forma aquilo precisava terminar.

De seu enorme focinho de urso, ele emitiu um som triste, como se chorasse.

Mas ele nada falou.

Consegui abrir meus olhos o suficiente para enxergar um brilho arroxeado que havia espantando as trevas, era a Cisne Negro, espada de Ikoosasa. Isso me fez ficar esperançoso, eu sentia que poderíamos ganhar.

— Afastem-se dele! Ou eu vou… eu vou matar vocês! — Ele empunhava a espada, mas estava inseguro. Poderia ter avançado. Poderia ter sido mais forte…

Você não aprendeu nada que eu lhe ensinei? Por qual razão relutou tanto?

As sombras me envolveram mais uma vez, elas pareciam rir e estavam me arrastando para fora de Geescht. Eu conseguia sentir a sensação da morte. Aquela criatura cujas palavras eram mentirosas e assemelhavam-se a sangue. Aquela cruel criatura, eu deveria saber, eu deveria saber que ela só quer trazer a dor por onde passa. Ela as criou, eu tinha certeza.

— Tennelath!

Foi a última coisa que ouvi, a voz de Ikoosasa, antes de ser empurrado do céu e cair pela imensidão.

Voar não adiantava, minhas asas estavam quebradas e mutiladas, podia ver o sangue manchando-as. Eu só conseguia sentir o vento passando sobre meu corpo e a minha casa cada vez mais afastada. Ergui uma das mãos, em seguida ouvi um barulho e uma dor insuportável. Uma dor que nem mesmo o Espírito do Nascimento poderia suportar.

Eu não sei o que aconteceu comigo depois desse dia. Tudo ficou preto, eu não conseguia mais ouvir nada, tampouco mexer minhas asas. Eu sentia as lágrimas descerem sobre meu rosto e não podia fazê-las parar.

Não sei o que aconteceu e o que acontecerá comigo, mas estou farto. Eu só quero rever meus amigos e descansar…  eu não aguento mais.

Cubro meu corpo com minhas asas machucadas. Estou com tanto medo e frio… eu nem tive tempo de sair para passear com Ikoosasa.

Tentei sair daqui por vários meios, mas não pude, estou condenado a viver aqui por toda a eternidade. A morte provou ser a pior das criaturas quando não veio me buscar.

Afinal, um Espírito do Nascimento nunca morre.

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Pangmu - são duas palavras coreanas que significam madeira/cajado

Boraji - (árvore do ikoosasa) bora é roxo e ji deriva de alguma palavra que significa árvore em coreano

Iku significa luz em suali (ou zulu, não me recordo) e sasa significa algo como futuro em uma dessas línguas)

Tennebris significa escuridão, Alath é uma derivação de Elnath, nome de uma estrela (Beta Tauri) que significa garras de águia e sua pronúncia parece com alado e ele tem asas, então eu juntei e ficou Tennelath

Mikanis vem de canis majoris, constelação onde se localiza sirius, uma estrela (e tbm nosso do personagem de Harry Potter que consegue se transformar em animal, um cachorro)

Geescht significa alma/mente

E assim termina o nosso prólogo. Postarei mais capítulos de Oráculo, assim como também darei continuidade a Addict. Eu espero que vocês gostem, pois estou fazendo de coração 💜

Até mais tarde, pessoal

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