Um Lugar para Nós Dois

By mylendo

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Camilla é uma garota extrovertida, cercada de amigos e que está sempre frequentando festas e bares ao redor d... More

Prólogo
Um encontro Perfeito
Revelações
O Festival
O jantar desastroso
Segredos
De volta a rotina
Girassóis
Boas notícias
Brigadeiro e Mojito
Cativeiro
Plantação de Girassóis
Capítulo Especial: O início
Resgate
Jonas
Amigos
Outro Lado da História
De volta ao quase normal
Uma tarde no parque
Mais um ponto de vista
Uma folga nos problemas
A Fuga
Telefonemas
Hospital
Um acordo
Parceiros
Família
O pai e o irmão
Redenção
Conversa Sincera
Despedidas
Formaturas e presentes
Epílogo
Agradecimentos

Um copo de whisky ou dois

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By mylendo

Já tinha mais de uma semana que Bernardo havia sido preso, eu soube um tempo depois que ele já havia sido solto e que não havia passado em nenhum noticiário. Começaram minhas férias da faculdade, os trabalhos que perdi o prazo por conta do sequestro foram entregues e os professores me deram uma boa ajuda. Meu pai só me deixava sair de casa acompanhada de um segurança e isso era um saco, mas naquele dia eu precisaria ir sozinha.

Era um dia chuvoso e frio, após o almoço avisei que iria até a casa do Jonas, convenci meu pai de que não precisava de um guarda-costas para atravessar a rua. Toquei a campainha e logo o portão se destravou para que eu entrasse, fui até a área da piscina onde ouvi vozes, Yago estava lá.

– Oi Cami, que bom te ver – ele disse vindo até mim.

– Oi Yago – respondi estendendo a mão deixando claro que não queria um abraço.

Ele entendeu o gesto e apenas deu um toque em minha mão.

– E então, como você está? – ele puxou assunto.

– Bem, obrigada.

Me sentei perto de Jonas que me cumprimentou com um sorriso. Ficamos em silêncio por um tempo até que Yago voltou a falar.

– Cami, eu te avisei sobre o Bernardo.

– Yago! – Jonas chamou sua atenção.

– Mas é verdade, Jonas. Você sabe o que dizem: tal pai, tal filho – ele insistiu.

– Eu só não acho que a Cami precise ouvir isso agora.

Eu apenas abaixei a cabeça.

– Fala a verdade, não é muita coincidência que esse sequestro tenha acontecido logo quando o pai dele foi solto? – Yago continuava falando.

– Cara, você não disse que já tava indo embora? – Jonas se irritou.

– É, eu tava. Mas entenda uma coisa, Camilla, o Bernardo é tão criminoso quanto o pai dele. Por isso os dois foram presos.

– Na boa Yago, já deu. Cai fora.

Yago fechou a cara enquanto saía, Jonas o acompanhou para abrir o portão e logo voltou para perto de mim. Esperei ele sentar e falei:

– Ele pode estar certo.

– Cami você não devia escutar o Yago, sabe que ele é um idiota.

– Você não entendeu, Jonas. Ele disse que o Bernardo é tão criminoso quanto o pai dele. É nisso que o Yago pode estar certo.

– Você tá dizendo que como o pai, o Bernardo pode ter sido incriminado? Você acha que não foi ele?

– Jonas, você mesmo disse que era difícil acreditar que ele fingiu toda a preocupação. Para mim é difícil acreditar que ele fingiu todo o nosso relacionamento! Se a intenção era esse sequestro, ele não precisava esperar tanto tempo, entende?

– Eu entendo, mas...

– E tem isso – o interrompi mostrando o meu celular – ele me mandou de madrugada.

Eu juro que não fui eu – Jonas leu. – Você acredita nisso?

– Eu não sei! Eu ainda estou confusa.

– Camilla, como você pretende tirar essa dúvida? – Talvez Jonas suspeitasse das minhas intenções.

– Preciso da sua ajuda, não tem chances alguma de eu conseguir chegar na casa do Bernardo com o segurança do meu pai colado em mim.

– Tem uma razão para ele estar seguindo você, lembra?

– E se a razão estiver errada? – Jonas me olhou como se eu tivesse dito uma insanidade, mas eu realmente disse.

– Onde está o segurança agora? – Ele suspirou com a mão na testa.

– Deve estar em frente à minha casa, ele me seguiria se eu saísse.

– Mesmo que você saia com o carro da minha mãe?

Realmente o segurança não se importou em checar o carro da mãe do Jonas, eu saí da garagem dele com os vidros fechados e dirigi pelas ruas ainda insegura do que eu estava fazendo. Estacionei em frente ao prédio, caminhei pelo hall de entrada e cumprimentei o porteiro enquanto esperava o elevador. Chegar até o 14º andar pareceu demorar mais que todo o trajeto atravessando a cidade. Depois caminhei por aquele corredor com o carpe limpo, passando pelas portas brancas até chegar na que eu queria.

Parada em pé de frente a porta do mandante do meu sequestro após tocar a campainha eu tinha certeza de que perdi todo o meu juízo. Essa era a única razão para estar ali querendo vê-lo. Os segundos pareciam horas e eu cogitei ir embora, mas meus pés não respondiam. Ouvi passos e a porta se destrancando por dentro, quando ela se abriu os olhos dele exibiam um misto de choque e confusão, obviamente não esperava que eu viesse até aqui.

– Posso entrar? – Perguntei em voz tão baixa que eu mal me ouvi.

– C-claro – Bernardo gaguejou me dando passagem – fica à vontade... quer tomar alguma coisa?

– Água. – Respondi com a garganta seca.

– Eu vou pegar. Pode se sentar.

Me sentei em uma das confortáveis poltronas de couro claro na sala de estar enquanto ele ia em direção a cozinha. Nem mesmo a bateria de uma escola de samba era mais alta que o meu coração naquele momento, sentia como se eu pudesse vomitar a qualquer instante e respirei fundo para tentar conter a ansiedade. Ele voltou com um copo d'água, me entregou e sentou-se na outra poltrona de frente para mim.

– Você não vai dizer nada? – Ele perguntou após um longo silêncio.

– Eu nem sei o que eu to fazendo aqui – confessei.

– Eu sei – ele se levantou e eu me encolhi levemente.

Ele pareceu triste com essa reação e caminhou até a janela se afastando de mim.

– Você veio por causa da mensagem que eu te mandei, quando te vi na porta achei que você acreditava em mim, mas pelo medo nos teus olhos já não tenho mais certeza.

– Porque você me mandou aquilo?

– Eu estava bêbado, – ele deu de ombros e só então reparei nas garrafas vazias pela sala – mas se ainda pensa que eu poderia fazer algo assim com você, por que veio aqui?

– Eu me fiz a mesma pergunta desde que eu saí de casa.

Levantei da poltrona deixando o copo de água na mesa de centro perto de umas latas de cerveja, caminhei devagar até a janela me mantendo alguns passos afastada de Bernardo, mas na verdade o seu corpo parecia um imã que me atraía e minha única vontade era me jogar em seus braços.

– Eu queria ouvir da tua boca as palavras que escreveu ontem – falei olhando para ele.

Ele deu um leve sorriso balançando a cabeça, se aproximou ainda mais do vidro e olhou para fora, com o olhar ainda distante ele começou a falar.

– Ali no parque tem uma barraquinha amarela, a banca da dona Rosa. Um dia depois de uma corrida parei ao lado dela e puxei assunto, ela é muito simpática e nos tornamos bons amigos, eu passei a conversar com ela todos os dias, mesmo quando eu não ia me exercitar.

"Ela me disse que girassóis representam felicidade, vitalidade e lealdade, disse também que eu deveria levar um para a minha namorada. Eu falei que não tinha uma namorada, mas que conhecia alguém que despertava esses sentimentos em mim e que se eu pudesse daria girassóis para ela todos os dias. Dona Rosa pegou uma das flores que estavam na banca, deu na minha mão e falou que era isso mesmo o que eu deveria fazer, aquele foi o girassol que eu te dei quando te busquei na casa do Jonas"

– Então é ali que você consegue todos eles – falei quase para mim mesma.

Me aproximei da vidraça embaçada para olhar a banquinha da dona Rosa, apoiei as mãos e a cabeça para poder enxergar em meio a chuva insistente que escorria pelo lado de fora do vidro. Percebi Bernardo se aproximar e senti sua mão na minha cintura, enrijeci com o toque desencostando da janela, mas ele não parou. Deslizou suas mãos ao redor do meu corpo me abraçando e apoiando seu rosto em meu ombro, sua boca quase tocando minha orelha, um arrepio percorreu minha espinha quando ele sussurrou:

– Diz que você não me ama mais, Camilla.

– Você sabe que eu não posso dizer isso – respondi no mesmo tom.

– Seria mentira?

Eu apenas assenti. Bernardo me virou de frente para ele me fazendo encostar novamente na vidraça, seu rosto quase colado ao meu, seus olhos negros me convidavam a mergulhar no escuro. Meu coração acelerado deixava minha respiração ofegante, ele respirava no mesmo ritmo e eu sentia o seu hálito quente muito próximo da minha boca.

– Eu quero te beijar, mas não vou fazer isso a menos que você se sinta confortável. Você quer que eu te beije agora? – Ele esperou.

Eu não conseguia formular as palavras, nem sabia qual resposta eu queria dar à sua pergunta. Com o meu silêncio ele apenas se afastou em direção à cozinha. Eu fechei os olhos e soltei o ar com um ruído, depois fui em direção à agua que havia deixado na mesa de centro, tomei um longo gole e me sentei no sofá. Bernardo voltou para a sala com um copo de whisky puro e se sentou ao meu lado um pouco afastado, era uma dose cheia demais, porém eu não disse nada enquanto ele bebia.

– Você tem ficado bêbado todos os dias? – Perguntei um pouco preocupada.

– É o que me resta – deu de ombros – Estou sendo acusado de um crime que eu não cometi e por conta disso não tenho um emprego, meus vizinhos me olham torto, tenho vergonha dos meus amigos e minha namorada tem medo de mim, aliás nem sei se ainda tenho uma namorada – ele encarava o copo em sua mão.

– Se não foi você, quem foi? – Era uma pergunta retórica.

– Como é que eu vou saber, Camilla? – Gritou soltando o copo na mesa de centro. – Me desculpa se eu não investiguei o teu sequestro ao invés de ficar em choque rezando por notícias tuas, eu não consegui fazer mais do que isso – ele já estava em pé andando pela sala enquanto passava as mãos no cabelo. – Eu me senti um inútil por todos esses dias e agora só consigo beber e me esconder aqui como um covarde ao invés de provar minha inocência.

– Não foi isso que eu quis dizer... – falei culpada.

– Mas é a verdade. Eu não fiz nada para te proteger e nem para te resgatar, a única coisa que fiz foi levar a merda do dinheiro e isso ainda ajuda a me incriminar – parou de andar e me olhou com pesar. – Eu achei que era ruim não poder te ver, mas é ainda pior você estar aqui e eu ter que encarar o fato de que você não confia mais em mim e eu não posso fazer nada para mudar isso.

Estiquei a mão para o copo de whisky que ele tinha deixado na mesa e tomei fazendo uma careta.

– Pode ficar, eu pego outro para mim – ele falou indo em direção à cozinha.

Bernardo voltou trazendo outro copo e também a garrafa, sentou ao meu lado novamente pousando ambos na mesa de centro. Em silêncio nós esvaziamos os copos sem pressa, eu ainda estava confusa porque algo dentro de mim gritava a inocência dele, sua expressão afirmava a veracidade de suas palavras, ou talvez eu só estivesse me recusando a aceitar que ele tinha mandado me sequestrar. Peguei a garrafa e tornei a encher os dois copos enquanto eu falava:

– O Jonas, a Nat, a Sof e até mesmo o Heitor, eles acham difícil acreditar que foi você.

– Eu gosto dos teus amigos, é bom saber que me dão o benefício da dúvida – ele já estava calmo novamente.

– Eles me contaram como você sofreu enquanto eu estava desaparecida.

– E o que os teus pais acham?

– Não falei com eles sobre isso – desviei o olhar.

– Então eles também não sabem que você veio aqui? – Eu confirmei com a cabeça. – Alguém sabe que você tá aqui em casa, Camilla?

– Jonas sabe, to com o carro da mãe dele.

Bernardo começou a rir.

– Qual é a graça? – Perguntei confusa.

– Você é maluca, garota? O que você tem na cabeça de ir escondida atrás do cara que você acha que te sequestrou?

Eu ri também.

– Uma parte de mim acha que não foi você.

– Mas não tem certeza disso, não é? – Tomou outro gole da bebida. – Eu não te julgo, Cami. Essa é a parte mais frustrante para mim, saber que você tem razão em duvidar. Não sei o que eu pensaria se tivesse no teu lugar. Também não tenho nenhuma evidência que possa te garantir nada, é só a minha palavra. Queria que fosse o suficiente e não é culpa nossa as coisas não funcionarem assim.

Eu o encarei por alguns instantes, notei as olheiras causada por pouco sono e muita bebida, me aproximei e toquei gentilmente seus cabelos afundando a ponta dos dedos em suas madeixas. Eu senti o coração apertado por notar o quanto ele parecia mal, meus amigos tinham razão, não dava para fingir aquilo.

– Eu também sinto a tua falta, Be.

– Você acha que a gente tem conserto? – Me olhou esperançoso – Sabe, quando eu for inocentado, você acha que a gente pode retomar de onde paramos?

– Estávamos bem no começo de algo de verdade – falei pensativa. – Se não der para retornar a gente reinicia.

Bernardo sorriu sem mostrar os dentes, eu me aproximei ainda mais e o puxei para um abraço, ele beijou o topo da minha cabeça enquanto me apertava contra seu corpo. Aquele abraço durou tempo suficiente para colar os cacos de tudo o que estava quebrado dentro de nós dois, mas já era hora de ir.

– Eu preciso devolver o carro da mãe do Jonas – falei quando nos soltamos.

– Claro, tudo bem.

Nos levantamos e Bernardo me acompanhou até a porta com a expressão mais leve do que estava quando cheguei, eu também me sentia melhor depois de me livrar da angústia que eu carregava, agora eu confiava em suas palavras e era exatamente o que eu esperava daquela visita. Missão cumprida.

– Você não faz ideia do quão importante foi você ter vindo até aqui – ele disse sem abrir a porta.

– Eu vim porque também precisava te ver.

– Quando você vem de novo?

– Não sei, talvez só quando as coisas se esclarecerem.

Ele segurou meu queixo com a ponta dos dedos e se aproximou do meu rosto devagar com os olhos fixos nos meus, tentei desviar, mas os dedos dele eram firmes e sua outra mão estava na minha cintura me mantendo no lugar, quando nossas bocas estavam quase juntas ele mudou o percurso me dando um beijo na bochecha.

– Só quando tiver tudo bem para você – ele lembrou me soltando.

– Tchau, Bernardo – falei me virando e abrindo a porta.

– Tchau, Camilla. Volta logo – ele fechou a porta enquanto eu andava em direção ao elevador.

Dirigi pelo caminho de volta, Jonas me mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, respondi que sim e que chegaria logo. Pouco depois entrei pela garagem fechando o portão atrás de mim. Desci do carro e meu amigo já veio me encontrar, estava com os braços cruzados apoiado na porta que dava acesso para dentro da casa.

– Não foi ele, não é? – Perguntou enquanto estendia a mão para a chave do carro.

– Não consigo acreditar que seja – devolvi o objeto emprestado.

– Eu também não, só por isso te ajudei a chegar lá – passou a mão por cima do meu ombro – Entra, hoje vamos jantar lasanha e você tem muita coisa para me contar.

Esse capítulo foi bem dramático, eu sei. Todo clichê merece esse drama entre os protagonistas, não é?

Espalhem a palavra de A Place for Two, conto com vocês!!

Beijos :*

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