Antes do Pôr do Sol • jjk + p...

By thatsadaydream

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Jeon Jungkook sempre gostou de ter controle sobre sua vida, nunca se permitindo sair de sua zona de conforto... More

[01] Alvorecer
[02] Eta Carinae
[03] Garoa
[04] Tempestade
[05] Incandescência
[06] Explosão
[07] Lua cheia
[08] Imersão
[09] Meia noite
[10] Florescer
[11] Tornado
[12] Estrela Cadente
[13] Lua Nova
[14] Relâmpago
[16] Caos
[17] Folha de acanto
[18] Ardor
[19] Verão
[20] Euforia
[21] Poeira Cósmica
[22] Lua Crescente
[23] Rosas amarelas
[24] Busan
[25] Ruptura
[26] Antes do Pôr do Sol
[27] Espinhos
[28] Perspectivas
[29] Castelo de Areia
[30] Controle
[31] Amor
[00] Era uma vez...
[00]² Personagens
[32] Silêncio

[15] Cosmos

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By thatsadaydream

- O que houve, Kookie?

Não é a primeira vez que Hoseok me pergunta tal coisa desde que cheguei em seu quarto com o rosto inundado por lágrimas. Porém, novamente, não digo nada, apenas o abraço com mais força, enterrando minha cabeça em seu peitoral.

Dói como não imaginei que doeria ouvir Jimin dizer que não sente nada por mim, que, seja lá o que sinto, eu sinto sozinho.

A primeira pessoa em quem pensei assim que Jimin me deixou sozinho em nosso quarto foi em Hobi. Mesmo que nossa relação esteja estranha, tanto por eu estar lhe escondendo algumas coisas e ele claramente também estar, ainda assim é meu melhor amigo e sempre vai ser. Então, não teria como ser outra pessoa ali comigo nesse momento a não ser ele. Felizmente, Namjoon está fazendo alguma outra coisa, o que traz privacidade para que todo o choro acumulado dentro de mim saia de uma vez só.

- Desculpa estar insistindo tanto, mas não gosto de te ver assim... - ele fala, tocando carinhosamente meu rosto. Elevo minha visão para a sua face, vendo a preocupação marcar seus traços bonitos e normalmente sorridentes.

- Eu... - digo, erguendo meu corpo até estar sentado de frente para si, olhando para seus olhos que percorrem meu rosto. - Têm algumas coisas que eu não te contei, Hobi.

Ele não parece ficar surpreso ou decepcionado com minha fala, apenas toca minha mão com delicadeza, em uma carícia bem vinda, me dando força para continuar a dizer:

- No dia do festival, eu e Jimin saímos juntos. - começo, sabendo que foi a partir daquele dia que minha vida virou de cabeça para baixo, ao me dar conta de meus sentimentos. - E foi tão, mas tão bom... Jimin me traz sensações estranhas, sentimentos que eu não sinto há muito tempo e às vezes parece ser o que já senti um dia por Daeshin, mas ainda assim é diferente, então não consigo relacionar com nada. Eu só sei que foi ali, quando estávamos juntos, que eu me toquei que não consigo ver com os mesmos olhos que vejo os outros meninos e você.

Hoseok não diz nada, provavelmente a fim de não interromper minha linha de pensamentos e respiro fundo, sentindo as palavras fluírem pelos meus lábios:

- Eu sinto ciúmes de Jimin, não é confortável vê-lo beijando outros caras, saber que ele se envolve com Seung ou Taeyang, por exemplo. É estranho, me traz uma sensação esquisita. - falo, apertando com um pouco mais de força a palma da mão de Hobi. - Mas ele me causa sensações muito boas. Eu gosto tanto de conversar com ele, seja falar ou ouvir suas histórias. Gosto das vezes que ele me toca, normalmente acariciando meu rosto e sorrindo daquele jeito para mim, que faz meu peito apertar, mas não de uma maneira ruim. São apenas muitas emoções de uma só vez.

- Então nesse dia do festival você sentiu tudo isso? E foi por isso que quis fumar rmaconha com Yoongi? - ele questiona, em um tom de voz baixo.

- Não, quer dizer, eu sempre tive vontade de experimentar e me dar conta de tudo isso apenas fez com que uma barreira fosse eliminada dentro da minha mente. Então eu acabei contando para Yoongi sobre meus sentimentos quando estávamos fumando... - falo, cautelosamente tentando perceber sua reação.

Por mais que amizade não seja sinônimo de prisão e precisar contar tudo para seu amigo, ainda assim, sei que pode soar estranho eu ter contado primeiro para um cara que não era tão próximo até duas semanas atrás, ao invés de contar para meu melhor amigo há dez anos. Hoseok pode se sentir deixado de lado e magoado comigo, então observo suas reações, percebendo como suas sobrancelhas se franzem em surpresa, mas tenta rapidamente disfarçar.

- Você contou para ele sobre sua epifania? - seu tom de voz não é acusatório, mas consigo perceber os traços de algo próximo a mágoa.

- Eu contei. - falo, mordendo meu lábio e pensando em como deixar claro que isso não significa que não confio nele. - Nunca conversei realmente com Yoongi, sabe? Quando fomos a um bar e depois encontrei com Daeshin e Taeyang, foi a primeira vez que conversamos só nós dois e foi tão bom, eu me senti muito bem. Então, quando estávamos fumando, simplesmente aconteceu e acabei lhe contando.

- Eu não estou querendo te cobrar as coisas, longe de mim. - ele fala, pausadamente, como se estivesse pensando muito no que dizer. - Só... Por que não contou para mim, Kookie?

- Eu mesmo não sei te dizer. - confesso, sinceramente. - Eu sei que não preciso te falar que você é meu melhor amigo e a pessoa que mais confio no mundo. Mas, por algum motivo, não parecia ideal te falar. Desculpa, Hobi...

- Você não precisa me pedir desculpas. - ele rapidamente fala, sorrindo fraco. - Eu só gostaria de estar contigo nesse momento, te ajudar...

- Você está comigo agora e não sabe como preciso de você. - devolvo um sorriso pequeno, sentindo algumas lágrimas escaparem de meus olhos.

- Continue contando, não me faça chorar. - ele fala, arrancando uma risada fraca minha.

Então eu conto, comentando também sobre o que Taeyang me disse, não entrando em detalhes sobre nosso momento na arquibancada e depois no quarto, mas conto tudo: sobre as palavras duras que lhe disse e sobre as palavras duras que ele me disse agora há pouco. Assim que termino, estou com lágrimas escorrendo por meus olhos e digo, com a voz embargada:

- Eu sabia que ele não sentia o mesmo por mim, mas ouvir sua confirmação foi horrível. Ainda me sinto mal pelas coisas que eu lhe disse, por mais que ele tenha me dito que está tudo bem... Eu apenas tenho a sensação que estraguei tudo com uma das pessoas mais incríveis que já conheci.

Ao final de minha fala, mais lágrimas saem de meus olhos e respiro fundo, sentindo os carinhos que Hobi faz em minhas mãos. Ele não diz nada por alguns instantes, como se estivesse absorvendo tudo que eu lhe falei.

- Eu notei que vocês dois estavam estranhos um com o outro durante essa semana. - ele fala e fico surpreso, porque achei que ninguém tinha notado. Provavelmente percebendo minha expressão, ele diz: - Vocês dois sempre conversam, sorriem um para o outro, então quando simplesmente passam a evitar olhar um no olho do outro e conversar é nítido, Jungkook.

- Por que não me perguntou nada?

- Porque claramente você não queria conversar. Além disso, eu sei como fica em semana de provas e sabia que estava muito focado em se dar bem. Não quis atrapalhar seus pensamentos.

- Eu achei que... Sei lá, por conta das provas, nenhum de vocês teria notado. - confesso, um pouco envergonhado em pensar que mais pessoas devem ter percebido.

- Não sei se os outros perceberam, mas eu e Tae sim. Ele perguntou para mim se tinha acontecido algo entre vocês e eu disse que não sabia. Vocês sempre estão próximos e para mim sempre foi óbvio como Jimin gostava de você.

- Mas em um sentido de amizade, certo? - pergunto, baixo.

- Não sei definir bem, mas a maneira que ele te olha é diferente. - comenta, sorrindo fraco para mim. - Então eu estou surpreso com o que ele te disse, porque esperava uma reação diferente.

- Ele não sente nada por mim. - reforço, sentindo o gosto amargo das palavras. - O que tivemos não passou de algo físico para ele.

- Eu ainda acho estranho, mas talvez esteja vendo coisa onde não tem. - diz, parecendo falar mais consigo mesmo do que comigo. Não digo nada, porque a última coisa que quero é criar qualquer tipo de esperança de que houve algum tipo de mal entendido, porque não pareceu nada disso. - Você ainda não contou para ninguém sobre isso, não é?

- Sobre o meu fora? - ele assente e rapidamente nego. - Não e não pretendo contar.

- Por que não?

- Porque é vergonhoso, Hoseok.

Ele me fita com incredulidade, me dando um soco fraco no braço.

- Todo mundo já levou ou vai levar um fora em algum momento. Não tem nada para se envergonhar. - diz e acabo rindo fraco. Ele me olha um pouco mais sério e diz, sorrindo para mim: - Eu te prometo que vai dar tudo certo, Kookie. As coisas vão se ajeitar.

Assinto, querendo acreditar nas palavras de meu amigo, mesmo que seja difícil. Não agradeço verbalmente Hoseok, apenas sorrio para si e sei que meu sorriso diz o que não preciso colocar em palavras: eu sou muito grato por ter uma pessoa tão incrível como ele em minha vida.

Minha mente não para de repensar as palavras de Jimin e que ele está, neste momento, com Taeyang e seus amigos. Pensar no que provavelmente vai acontecer entre os dois e saber que hoje eu tive a confirmação que nada do que sinto é recíproco, é demais para minha cabeça confusa e esgotada. Repasso suas palavras sem parar, ao mesmo tempo que evito pensar no assunto, porque dói e não é uma dor que eu esteja querendo que me domine mais do que já dominou.

Por isso, querendo mudar de assunto para fugir de meus próprios pensamentos e a fim de esclarecer o que vem me incomodando há um tempo, pergunto pensando que pode ser um bom momento:

- O que está acontecendo, Hobi? - ele parece confuso com minha fala, então continuo: - Não é de hoje que noto que você está estranho e quando lhe questionei, você me disse que era por conta do curso, mas eu te conheço e sei que há algo de estranho contigo.

Ele claramente parece surpreso, olhando-me com dúvida e não diz nada por poucos segundos, o que me faz ter a confirmação que eu precisava: ele, sem dúvidas alguma, está me escondendo algo. Não é apenas preocupação com o curso ou algo banal, há algo acontecendo em sua vida que vem lhe deixando pensativo e um tanto aéreo. Sua postura se torna um pouco mais tensa e ele sorri fraco, desmanchando sua expressão e confusão para dar espaço a uma tentativa de soar descontraído.

- Está vendo coisa demais, Kookie. Não tem nada de errado comigo, eu estou realmente pensativo com essa questão do curso que te disse...

- Eu sei que está mentindo para mim. - falo, vendo sua expressão voltar a ser apreensiva e continuo: - Eu só quero que saiba que estou aqui para o que precisar, Hobi. Confie em mim.

Novamente voltamos ao silêncio, que apenas faz a situação ficar ainda mais estranha, mas é péssimo ver seu amigo claramente abalado com algo e não poder ajudar. Mas, ao mesmo tempo, da mesma forma que não lhe contei sobre Jimin, ele não está me contando sobre seja lá qual o problema.

Não posso culpá-lo por esconder as coisas de mim, mas admito que é ruim.

- Eu sei disso, Kookie.

É a única coisa que ele me fala, então sei que o assunto está encerrado e fico pensando se deveria dizer algo a mais, deveria insistir. Dessa maneira apenas estarei sendo invasivo, não?

Mas esses pensamentos não ficam por muito tempo em minha mente, já que começamos a conversar sobre nossa semana e sobre as provas, nós dois nos distraindo de nossos problemas por algumas horas. Dormimos juntos, os dois abraçados e, por mais que o dia não tenha sido bom, o encerramento dele ao lado de meu amigo consegue amenizar minha dor por alguns instantes.

Mas como as coisas não permanecem da maneira que queremos, assim que acordo percebo as chamadas perdidas de minha mãe e as mensagens que ela me mandou. Porém, os meus pensamentos continuam dominados pelos acontecimentos de ontem, o que me faz praguejar comigo mesmo por estar me deixando levar pelos meus sentimentos.

Não gosto de perder o controle sobre mim mesmo como venho perdendo.

Forço meu consciente a se concentrar nas mensagens de minha mãe, já que não respondi as de ontem e as que ela me mandou hoje são similares: ela me perguntando se vou para casa deles nesse final de semana, já que minhas provas acabaram. Fico pensando como eles sabem sobre a semana de provas, já que eu não comentei nada e fico ainda mais apreensivo em pensar que pode ter sido Daeshin quem lhes contou.

Ou talvez eles apenas tenham se tocado que é o final de semestre e minhas provas tenham sido agora, então apenas estou exagerando e achando que Daeshin é mais presente em suas vidas do que verdadeiramente é.

E aí está meu problema: o semestre acabou, logo, não preciso ficar no campus porque as aulas estão finalizadas até o próximo semestre começar, no final de julho. Evitei pensar sobre isso porque ficar um mês com meus pais parece algo completamente sem noção. Agora que tenho minha independência e, principalmente, depois do meu término e a maneira que eles lidaram com a situação, é péssimo pensar em morar com eles novamente.

Então simplesmente não sei o que fazer.

Porém, deixo meus pensamentos sobre meus pais de lado quando vejo que Yoongi me mandou algumas mensagens que rapidamente me chamam a atenção.

Yoongi 🚬

eai, vc sabe sobre o jimin? (01:22)

ele te mandou alguma coisa, sabe onde ele tá? (01:22)

se ele falar contigo, me avisa. (01:44)

Imediatamente, fico nervoso, preocupado em saber se Jimin está bem. Ele sumiu ontem? Ele me disse que iria sair com Taeyang e Hyo... Mesmo que não queira, não deixo de pensar novamente em Jimin, então digito uma resposta rápida para Yoongi, perguntando se ele conseguiu falar com Jimin e se ele está bem, nervoso ao ver que ele não está online.

Essa preocupação fica em minha cabeça, enquanto vou até meu quarto, já que decido passar o final de semana na casa dos meus pais, o afastamento com o campus pode ser algo bom. Respiro fundo antes de abrir a porta do meu quarto, sentindo um mix de sensações ao ver que Jimin não está ali: aliviado por saber que não terei que encará-lo agora, mas preocupado e pensativo em saber onde ele está e se está bem. Ele pode estar com Taeyang, não?

Tentando evitar esses pensamentos, pego algumas roupas e vou até a casa de meus pais, sendo recebido apenas por minha mãe, que me olha dos pés a cabeça com seu vestido rosa claro e o batom vermelho desenhando seus lábios. Mesmo que estar com eles me traga sentimentos estranhos, não posso negar que sinto saudades de um abraço, um afeto e uma demonstração de carinho. Por mais que não fosse com frequência essas atitudes vindas deles, ainda assim, quando aconteciam sempre eram importantes para mim.

- Pode colocar as suas coisas no quarto. - ela fala, dando espaço para eu entrar na casa. - Jina acabou de fazer o almoço agora há pouco, seu pai está lá na cozinha.

Jina é a moça que meus pais chamam de vez em quando para arrumar a casa e fazer comida em algumas ocasiões que eles não querem comer fora. Não sou muito de conversar com ela, embora sejamos de idades muito próximas, já que ela possui vinte e três anos, provavelmente porque não sou a pessoa mais social do mundo. Nunca entendi o motivo de meus pais contratarem uma moça tão nova e não alguém com mais experiência, mas obviamente nunca indaguei nada.

Minha teoria sempre foi que Jina tinha sido contratada para, de certa forma, "me vigiar". Ela sempre estava por perto, sendo solícita mesmo quando eu não tinha pedido sua ajuda e até demais para sua função. Constantemente tinha a impressão de que ela estava me observando e que contaria aos meus pais.

- Tudo bem. - falo, dando as costas para minha mãe e indo até meu antigo quarto, percebendo como não sinto falta de estar ali.

Assim que deixo minha mochila, checo meu celular, esperando alguma resposta de Yoongi e quase mandando uma mensagem para Jimin, querendo saber se ele está bem. Desço as escadas, indo até a sala de jantar e encontrando minha mãe sentada, tomando vinho.

- Vai ajudar a trazer a salada e os pratos. - ela dirige a palavra para mim, ainda olhando para sua taça.

Não digo nada, indo até a cozinha e observando a proximidade que meu pai e Jina estão, enquanto conversam sobre algum assunto que não me interessa. Assim que ela me vê, sua expressão se transforma e ela me dá um sorriso fraco, saindo de perto de meu pai que automaticamente me olha e engulo em seco, lembrando de suas palavras na última vez que nos vimos. Lembro perfeitamente de sua insinuação de que era compreensível Daeshin me trair, já que era o ativo de nossa relação (algo que ele nem deveria saber) e também quando me confessou que já sabia que ele havia me traído.

Um pai não deveria agir dessa maneira.

- Jungkook! - ele fala, todo sorridente. - Está tudo bem?

- Está sim. - falo, ajudando Jina a pegar os pratos. - Oi, Jina.

- Olá, senhor. - ela fala, como costuma me chamar mesmo que já tenha lhe dito que pode me chamar apenas pelo meu nome.

- Que bom, que bom... - ele sorri, do seu jeito único e que conquista as pessoas ao redor, mas que me causa apenas afastamento por saber que não é sincero. - Vem, temos que conversar.

Gelo com suas palavras, pensando já em inúmeros assuntos que ele poderia abordar comigo e nenhum deles é bom. Não digo nada, engolindo em seco mais uma vez, caminhando até a sala de jantar e notando o clima estranho que rodeia o ambiente. Depois de nos servirmos com o kimchi, pergunto:

- O que quer falar comigo?

- Primeiro, queremos saber como foram suas provas. - meu pai responde, bebericando um pouco do vinho. Observo Jina deixar a sala e minha mãe tomar seu vinho calmamente, quase não encostando na comida.

- Elas acabaram ontem. - falo, pensando em como provavelmente fui bem. - Acho que tudo deu certo, não tive muitas dificuldades.

- Mas teve alguma? - minha mãe pergunta, olhando-me de canto de olho.

- Só em uma matéria. - falo, rapidamente. - Mas Seokjin me ajudou e deu certo.

- Seokjin é o amigo de Daeshin, não é? - meu pai pergunta e só a menção de seu nome já me faz travar os músculos.

- S-Sim... - gaguejo, tomando um pouco de água.

- Tem que nos apresentá-lo, então. - é a vez de minha mãe falar, um sorriso pequeno em sua face bonita e não consigo identificar suas intenções. - Ainda não conhecemos seus amigos, apenas Hoseok e o seu colega de quarto.

Só a citação, mesmo que sutil, de Jimin já faz meu coração bater mais rápido ao pensar em meus pais lidando com ele mais uma vez. Sei bem que Jimin não é o exemplo ideal de amigo que eles imaginam: não tem uma classe social alta, não se importa de ir em festas e se relacionar com várias pessoas e age com impulso na maior parte de suas decisões. Definitivamente Jimin não é um amigo ideal segundo seus padrões.

- Ah, sim, podemos ver. - é o que respondo, sendo vago.

- Sabe, eu fiquei curioso com seu colega, Jimin. - é meu pai quem fala, fazendo-me mais uma vez suar frio. - Então dei uma pesquisada sobre ele.

Ele não fez isso.

Meus pais não são milionários, mas minha classe social e financeira é sim, alta. A família de Hoseok e de Daeshin tem mais dinheiro que a minha, porém, meus pais conhecem muitas pessoas influentes devido a empresa de tecnologia que trabalham. Eles acabam entrando em contato com pessoas verdadeiramente ricas e que possuem influência no mercado. Então, não duvido nada que não seja difícil para ele descobrir algo sobre Jimin e sua família.

- Como assim deu uma pesquisada? - pergunto, tentando não ser grosseiro, mas não contendo o tom irritado de minhas palavras.

- Não foi muito fácil, até porque a sua família de fato não está inserida em nosso meio, assim como ele me disse aquele dia. - meu pai continua bebendo seu vinho e mantendo seu tom de voz calmo. - Seu pai é Park Minjun e sua mãe Park Chin-sun. Minjun é dono de uma cafeteria no centro, onde sua mãe trabalha.

Lembro do pai de Jimin, que conheci no dia do festival e na relação estranha que os dois possuem, a forma com que Jimin parecia incomodado com sua presença.

- Eles moram distante do centro, em um bairro simples e não possuem uma renda alta...

- Por que isso nos importaria? - pergunto, incomodado com o rumo da conversa. Porém, meu pai age como se eu não tivesse dito nada e continua:

- Eles possuem apenas um filho, Park Jimin, que cursa Economia na Hanyang e que é seu colega de quarto. - ele fala, finalmente olhando para mim e não mais para a sua taça de vinho. - Mas o que mais me deixou interessado não foi nenhuma dessas informações.

Meu pai fica em silêncio por poucos segundos, fixando seus olhos nos meus e não desvio, até que ele diz:

- Jimin tentou prestar uma queixa contra o próprio pai há um pouco mais de um ano atrás, por violência física contra sua mãe.

Confuso com sua fala, não escondo meu olhar de surpresa por tal acontecimento, chegando até mesmo a pensar se meu pai não se enganou. Ele não me deixa dizer nada e nem mesmo digerir a informação, porque logo continua:

- Mas não deu certo, porque a mãe dele, quando procurada, negou as acusações que Jimin estava fazendo, então não foi para frente.

- Jimin acusou o pai de estar batendo em sua mãe? - pergunto, só para ter certeza se entendi certo. Meu pai assente e consigo ver um sorriso pequeno, ácido, se formando no canto de seus lábios que dizem ser iguais aos meus e desvio meu olhar para minha mãe, que também está me olhando com a mesma expressão de antes: como se tivesse outras intenções. - Como conseguiu essas informações?

- Você não precisa saber meus métodos, certo? - a pergunta retórica é quase respondida por mim, que quero gritar e dizer que sim, que mereço saber já que isso envolve minha vida também, por estar, de certa forma, investigando um amigo meu. - O ponto não é esse, Jungkook, mas sim que talvez Jimin não seja um tipo de amigo ideal para se ter.

Não contenho uma risada incrédula, recebendo um olhar surpreso dos dois. Tentando manter meu tom de voz ponderado e centrado, como me foi ensinado para fazer em situações de confronto, falo:

- Você não tinha o direito de pesquisar sobre a vida dele assim. Isso é invasão de privacidade. - falo, mas, dessa vez, quem ri é ele, assim como ouço minha mãe soltando uma risada baixa.

- Em que mundo você vive, Jungkook? Temos que conhecer as pessoas com quem convivemos, saber quem são, o que querem fazer. Sempre temos que estar um passo à frente, para não sermos pegos de surpresa. - é minha mãe quem responde e respiro fundo.

- Isso não diz respeito a mim, mas sim a Jimin e sua vida...

- Ele dorme no mesmo quarto que você, Jungkook. Vocês são amigos, não são? - o tom de voz baixo de meu pai apenas demonstra como ele consegue aparentar tranquilidade em diversas situações, um traço seu que sempre admirei e quis para mim: ser calmo, pacífico e não perder a razão com explosões de raiva.

- Somos, mas...

- Então, agora sabe um pouco mais sobre seu amigo. - ele me interrompe, enchendo sua taça de vinho. - Você sabe que ele não é uma amizade interessante para você, independente se a queixa era verdadeira ou ele estava mentindo. Não nos envolvemos com pessoas assim.

Penso nas palavras que eu disse para Jimin, dizendo que eu nunca me envolveria com um cara como ele. Foi dessa maneira que ele interpretou o que eu dizia? Ele pensou que eu estava falando sobre ser de um meio social e financeiro diferente do meu e, de certa maneira, inferior?

Porque ver meu pai falar desse jeito e com esse tom de voz de Jimin é ruim, me dá ânsia. Foi dessa maneira que ele me viu aquele dia quando lhe disse aquelas coisas horríveis? Ele sentiu nojo de mim?

Engulo em seco ao pensar na resposta.

- Por isso, queremos que nos fale o nome de seus amigos, para termos certeza que são pessoas confiáveis. - minha mãe fala e sinto vontade de gritar para não fazerem isso, que isso é ridículo e que Jimin não é uma pessoa ruim, mas sim a melhor pessoa que conheci na faculdade.

Mas não digo nada, nem concordo com sua fala e simplesmente fico quieto, tentando controlar minha respiração.

- Agora, pode voltar a comer. - meu pai comenta, apontando para a comida intocada em meu prato. - Quer vinho?

O almoço entre família é completamente desagradável e praticamente forço a comida para dentro de minha boca, sem fome alguma. Não presto atenção nas conversas amenas e passivas-agressivas que meus pais possuem, algumas vezes me perguntando algo que respondo em murmúrios, como uma criança.

Fico aliviado quando posso sair dali, indo até meu quarto e me jogando na cama, pensando no que meu pai me disse. Não acredito que Jimin inventaria algo do tipo, não é de seu feitio, então seu pai já bateu em sua mãe? Por isso ele tratou Minjun de maneira grosseira quando os encontrei no festival?

Com Jimin em mente, pego meu celular e fico aliviado ao ver que Yoongi me respondeu:

Yoongi 🚬

eu to com ele aqui, tá tudo bem. (12:43)

ele deu uma sumida, mas tá vivo. (12:43)

e vc, tá bem? que queria falar comigo ontem? (12:44)

Não sei o que responder, ainda mais sabendo que os dois estão juntos. "Eu queria contar que eu e Jimin nos pegamos, mas agora não faz mais sentido já que ele disse que não sente nada por mim, aliás, manda um beijo para ele"? Não me parece uma boa resposta.

Por isso, não respondo nada, observando a mensagem que Han me mandou antes:

Han

E aí, falou com ele? Deu certo? (12:03)

Não, deu tudo errado. (13:23)

Não consigo mentir para Han, que foi bastante atencioso comigo e por quem venho desenvolvendo uma boa amizade. Ele não demora para perguntar o que aconteceu e lhe digo que depois conto com calma, porque não estou com cabeça no momento. Então, fico olhando para o teto do meu antigo quarto, tentando organizar meus pensamentos e sentimentos.

Certo, então Jimin acusou o próprio pai de violência doméstica. Ele nunca comentou muito sobre seus pais e, quando encontrei ele e Minjun juntos, estava claramente se sentindo desconfortável. Será que é pelo fato de seu pai ser agressivo com sua mãe?

Mas, mais do que isso, não consigo deixar de pensar nas palavras que eu lhe disse. Claro que, assim que elas saíram, vi que tinha feito uma besteira gigantesca. Mas, sabendo agora um pouco mais sobre sua família, consigo ver como foi ainda pior o que eu disse. Porque eu simplesmente ignorei toda a sua história e vivência, ignorando que ele é uma pessoa e não apenas o cara por quem nutro sentimentos.

E, lembrando da expressão em seu rosto bonito assim que lhe falei aquelas coisas, consigo ver como fui cruel. Não consigo esquecer como seus olhos se tornaram magoados e chocados, como sua postura tornou-se outra.

Eu sou um completo idiota.

Minha cabeça estava mais preocupada em evitar pensar no fora que me deu do que perceber como fui maldoso em falar aquilo. Quantas mais coisas, quantos mais problemas Jimin possui e nunca chegou perto de me contar? Será que ele desabafa com alguém, com algum dos meninos? Eu fico preocupado de pensar que não há ninguém na sua vida para quem ele conte seus problemas... Mesmo sendo sozinho, eu pelo menos sempre tive Hoseok na minha vida.

Quantos segredos Jimin esconde?

Obviamente não chego em uma conclusão e assim que percebo que não chegarei a nenhuma, ligo minha televisão, a fim de assistir algum filme e tentar me distrair. Por algum motivo, escolho Halloween, o mesmo filme que eu e Jimin vimos juntos no cinema, mas não contesto minha própria escolha, não deixando de lembrar de Jimin em alguns momentos. Foi nessa cena que ele esbarrou a mão na minha, foi nessa que soltou uma risada baixa por achar a situação ridícula e diversos outros pensamentos assim rodeiam minha cabeça conforme o filme passa.

Quando termina, decido comer algo já que praticamente não aproveitei o almoço por estar irritado com meus pais e caminho até a cozinha, satisfeito por não ter trombado com eles durante o trajeto. Pego a panela e o milho, procurando o óleo no armário e quase infarto ao ver Jina ali, me olhando.

- Meu deus, Jina, que susto!

- Desculpa, senhor Jungkook, eu...

- De novo com essa história de senhor? - sempre Jina me chama de senhor e não gosto, porque me coloca em um papel que não me cabe. - Pode me chamar só de Jungkook.

- Desculpa! - ela sibila e sorrio, jogando a pipoca na panela e o óleo. - Quer que eu lhe faça pipoca?

- Eu faço, pode deixar. - respondo, vendo-a sem jeito perto do balcão.

Mergulhamos em um silêncio um tanto desconfortável, preenchido pelos barulhos que o milho faz conforme começa a estourar. Tento pensar em assuntos para falar com Jina, mas ela é mais rápida e diz:

- Faz um bom tempo que não nos vimos.

- Sim, acho que foi no começo do ano, não foi? Desde que eu fui para faculdade não vim muitas vezes para cá. - confesso, sabendo exatamente o porquê vir aqui se tornou algo que evito ao máximo.

- Ultimamente Hayun está optando por comer fora, então acabo vindo aqui apenas para limpar. - estranho a maneira de chamar meu pai, pelo seu primeiro nome. - Ele me contou que o sen... Quer dizer, que você e o senhor Daeshin terminaram.

Meu deus, de novo essa conversa?

Claro que não sou grosseiro com Jina, ela não tem culpa desse ser um assunto esgotado para mim, já que todos me perguntam sobre meu ex namorado. Eu entendo que ficamos muito tempo juntos, foram dois anos e que sempre estávamos um com o outro. É compreensível as pessoas perguntarem sobre ele, ainda mais por Daeshin ser esse cara tão sociável.

Mas, ainda assim, me incomoda perceber que as pessoas parecem só conversar comigo para perguntar sobre Daeshin, como foi com Nari na exposição. Talvez seja uma besteira minha, justamente por Daeshin ser um assunto complicado, mas fazem mais de três meses que terminamos. Por que não pode ser deixado para lá?

- Sim, eu terminei com ele. - faço questão de deixar claro, percebendo seu olhar confuso em minha direção.

- Vocês pareciam se dar tão bem... Bem, senhor Daeshin sempre foi tão educado e simpático, era tão bonito a forma que ele te olhava. - diz, como se eu e Daeshin fossemos realmente o casal mais perfeito do mundo, o que achei por um bom tempo.

- Bem, não nos dávamos tão bem assim. - digo, enquanto desligo o fogo e jogo a pipoca em um recipiente.

- Mas talvez vocês voltem, não? Ele mesmo disse que conversaram e...

- Ele disse que a gente conversou? - questiono, atento às suas palavras.

- Sim, disse que conversaram em um festival que participaram da faculdade de vocês.

- Ele esteve aqui, Jina? - pergunto, não querendo ouvir a resposta, porque já sei qual é.

- Sim, ele veio aqui semana passada... Ou retrasada? Ah, não me lembro agora, mas veio aqui e contou...

- Ele disse mais alguma coisa? - tento me fazer desinteressado, porque sei que é bem provável Jina comentar algo com meu pai e não quero isso.

- Bom, que eu tenha escutado foi apenas isso. Ele disse que se esbarraram nesse festival e que conversaram, seus pais ficaram felizes com a notícia. - ela me olha com curiosidade e continua: - Seus pais não comentaram com você?

Então realmente Daeshin frequenta essa casa, talvez mais do que penso. Por que ele continua rondando minha vida dessa maneira e por que meus pais permitem? É só pelo fato dele ter dinheiro, gostam tanto dele assim por conta disso?

Querendo saber um pouco mais sobre, respondo, tentando soar casual já que não confio em Jina:

- Acho que devo ter esquecido, a semana de provas me deixou bastante aéreo. - sorrio fraco, vendo-a assentir. - Ele vem com bastante frequência? Não ando conversando muito com meus pais por conta da faculdade e fico perdido com as coisas.

- Olha, como eu disse, estou vindo mais para limpar, então acabo vindo menos vezes e ficando menos tempo, mas posso dizer que ele vem sim, com uma frequência razoável. - ela parece pensar e continua: - Acho que começou a vim com mais frequência no mês passado e especialmente neste mês, seus pais às vezes o chamam também e ele e Hayun ficam conversando enquanto bebem algo.

Seguro o recipiente com a pipoca, sentindo vontade de chorar de raiva de meus pais por permitirem uma pessoa que não gosto e não tenho apreço algum por conviver nessa casa, contando coisas sobre mim. Eles não têm esse direito, deveriam apoiar minha decisão de ter terminado e não querer mais contato com Daeshin. Eu tento tirá-lo de minha vida, mas parece que não consigo, que ele ainda está aqui, em algum lugar onde não posso ver, apenas sinto sua presença e isso me estressa.

- Eu vou assistir alguma coisa. - digo, não conseguindo retribuir o sorriso que Jina me dá, não conseguindo absorver direito as palavras que me disse. Subo as escadas e novamente deito em minha cama, respirando fundo para não surtar e me estressar com meus pais.

Não é à toa que me apaixonei por Daeshin, ele é um cara legal, se é que posso dizer isso. Ele sabe conduzir uma conversa, conta histórias engraçadas e é atencioso, à seu modo. Talvez, para um amigo, ele não demonstre seu lado ciumento, controlador e possessivo. Mas, para um namorado, esses seus lados vêm à tona e não é nada fácil e saudável lidar com eles.

Eu só queria que minha vontade fosse respeitada.

Bufo, comendo a pipoca e sentindo vontade de chorar, algo que já fiz bastante ontem e até mesmo sinto meus olhos inchados. Coloco o primeiro filme de terror que aparece, tentando prestar atenção nas cenas e não conseguindo, minha cabeça sendo levada para o fora que Jimin me deu, o fato dele ter acusado seu pai, nas coisas horríveis que lhe falei e que Daeshin frequenta essa casa.

Não é o final de semana relaxante que eu esperava depois de uma semana de avaliações e é como se eu tivesse esquecido como é estar sozinho. No campus, eu tenho Jimin comigo em nosso quarto e durante o dia sempre estou rodeado com meus amigos. Os momentos que passo sozinho acabam sendo preenchidos com estudos, algo que eu fazia durante a escola, mas com menos intensidade já que passava mais tempo sozinho do que passo ultimamente.

Então, estar sozinho com meus próprios pensamentos depois de tanto tempo acostumado a ter pessoas ao redor e, principalmente, estar sozinho no quarto onde me senti solitário ao longo de anos e anos, não é um sentimento bom. Ele piora quando percebo que a noite chega, trazendo uma sensação de claustrofobia mesmo que o quarto seja grande e espaçoso. É como se memórias de minha infância e adolescência voltassem, momentos em que eu ficava sozinho durante horas e horas, sem ninguém para conversar e contar sobre meu dia.

Por isso emendo um filme atrás do outro, a fim de tentar me distrair e não pensar na solidão que sinto, cada vez mais intensificada assim como a noite torna-se mais e mais escura. Quando minha cabeça parece querer explodir, pego meu celular e arregalo os olhos ao ver as mensagens.

Taehyung

Temos um rolê super massa, vamos colar!!! (18:30)

Não é pra não vim hein! (18:30)

Vamos aproveitar, tô te mandando o endereço (18:30)

Seokjin

Oi, Jungkook, tudo bem? (18:47)

Lembra que eu comentei sobre Taehyung estar querendo fazer algo hoje? (18:47)

Encontramos uma festa para ir, é de uma amiga de Namjoon, Soojin. (18:47)

Vai ser na casa onde ela mora com alguns amigos, vou te passar o endereço. (18:47)

Hobi 🌞

Ei, eu to aqui com o pessoal e eles arranjaram um role (19:02)

Tae e Seokjin não param de falar para vc ir, então, se tiver a fim de colar (19:02)

Tae e Seokjin mandaram anexado o endereço da tal amiga de Namjoon e praguejo comigo mesmo por simplesmente esquecer que haveria a possibilidade de acontecer um rolê hoje. Não resisto e respondo Hobi, dizendo:

Jimin está aí também? (19:28)

Felizmente, Hobi não demora para me responder e abro a mensagem, ansioso:

Hobi 🌞

Está sim, ele e Yoongi já estão bebendo (19:29)

Ele tá com uma cara estranha, sei lá (19:29)

Com vontade de ver Jimin, mesmo que tente me convencer que não é uma boa ideia e, principalmente, querendo sair desse quarto e dessa casa, respondo para todos eles que irei, me sentindo um pouco animado por saber que há algo para fazer além de ficar sozinho com minha própria companhia.

A escolha da roupa é feita rápida: coloco uma calça escura apertada e pego uma camisa de gola alta preta e, por cima, visto um suéter. Penso se não estou exagerando e vou ficar com calor, mas me perco em meus próprios pensamentos quando ouço a campainha tocar.

Procuro meu celular, mandando uma mensagem para Hoseok que já estou saindo e que lhe mando a localização assim que entrar no carro (algo que sempre fazemos, principalmente quando chamamos um carro particular e estamos sozinhos). Permito o primeiro sorriso pequeno por estar indo fazer algo com meus amigos e desço as escadas, parando na metade quando ouço vozes vindas da sala. Reconheço a voz de meu pai e de minha mãe, mas a terceira voz não é menos conhecida por mim, apenas completamente indesejada.

Mas não pode ser... Ou pode?

Só acredito quando termino de descer as escadas, encontrando com Daeshin rindo de algo que meu pai fala, enquanto minha mãe lhe lança um sorriso largo, como não parece ter sorrido daquela maneira para mim em toda minha vida.

Ele está bonito, como sempre, os cabelos mais curtos que da última vez que o vi e os olhos encontram os meus, parando em meu rosto por poucos segundos e descendo até minha roupa, rapidamente. Engulo em seco diante sua presença, ainda mais pensando em tudo que Jina me contou: essa não é uma cena que nunca aconteceu antes, porque ele vem aqui com frequência.

Sinto vontade de chorar e me trancar no quarto, mas respiro fundo e meu pai quebra o silêncio, sorrindo:

- Jungkook, olha quem veio nos visitar.

- Oi, Jungkook.

- O que está fazendo aqui? - pergunto, com a voz baixa.

Quando encontrei com Daeshin no festival, eu não me senti acuado e submisso como me sinto agora. Não deixo de pensar que isso se dá pela presença de meus pais, presença essa que me intimida e me faz agir como me foi ensinado: com a cabeça baixa e submissão total às suas palavras. Não consigo contrariá-los como deveria, impor minhas opiniões e falar o que sinto vontade.

Simplesmente não sai e não consigo ser firme com Daeshin, não com os olhares de meus pais fixos em mim.

- Eu vim aqui te chamar para irmos em uma festa.

- Como sabia que eu estava aqui? - pergunto, mesmo que já saiba a resposta e ela se confirma quando ele responde:

- Bom, seu pai me disse que estava aqui.

- Eu acho que vai ser bom para vocês saírem um pouco. - meu pai fala, sorrindo para nós dois.

- Bom, eu já estou indo em uma festa, então não poderei te acompanhar. - falo, me preparando para sair de sua frente, até que ele fala:

- É a festa da Soojin?

Droga, é a única coisa que consigo pensar e claramente minha demora em responder é a confirmação que ele esperava. Ele sorri pequeno para mim e diz:

- Podemos ir juntos, que tal?

- Eu vou sozinho... - falo e antes que eu dê mais um passo, meu pai diz:

- Posso falar um pouco com você, Jungkook?

Seu tom de voz, a maneira que ele fala meu nome, apenas faz meu corpo inteiro se arrepiar, porque ele usa esse tom de voz quando está bravo comigo, mas obviamente não quer mostrar para todo mundo ali, especialmente para Daeshin. Não digo nada, caminhando para perto de si e meu pai me olha sério antes de dar as costas e seguir até a cozinha.

No momento em que estamos sozinhos, ele cruza os braços, sem deixar de me olhar seriamente e sua voz é firme quando fala:

- Você vai com Daeshin nessa festa.

- Pai, eu não quero ir com ele, não depois de tudo...

- É só uma carona, não estou dizendo para voltar a namorar com ele. - diz, como se fosse tranquilo aceitar uma carona de Daeshin depois de termos terminado e descobrir que fui corno várias vezes.

- Eu realmente não quero, pai. - falo, honestamente. - Não me sinto confortável em sua presença.

Ele precisa entender, talvez o que falte em nossa relação seja sinceridade de minha parte e expor o que sinto, não?

- Por favor, não quero ir com ele...

- Eu não vou te falar mais uma vez, Jungkook. Você vai com ele.

É imediato: meus músculos se enrijecem e minha postura se torna completamente submissa, então apenas assinto, caindo meus ombros em derrota. Ele me dá um tapa leve no ombro, murmurando um "Isso" e voltamos para a sala, encontrando minha mãe rindo de algo que Daeshin diz. Quase reviro meus olhos, mas apenas cruzo meus braços, fitando meu ex namorado.

- Podemos ir? - questiono, baixo, vendo o momento que seus olhos encontram os meus e sorri.

- Claro.

Praticamente não me despeço de meus pais, caminhando ao lado de Daeshin até seu carro, sentindo minha respiração tornar-se mais rápida ao perceber que ficaria um trajeto todo ao seu lado, dentro de um espaço fechado.

Eu nunca tive medo de Daeshin, ele nunca ameaçou me bater ou algo do tipo ao longo de nosso namoro. As duas únicas vezes que ele teve uma reação física comigo foi no começo do ano letivo, quando me acusou de estar o traindo e depois quando terminei com ele. Então, nunca tive medo dele me bater, eu tinha mais receio de suas palavras que soavam como ordens e guiavam minhas atitudes, mesmo que eu não quisesse e não concordasse, muitas vezes.

Então, o que sinto assim que ele entra no carro e dá a partida é raiva por não ter minha vontade respeitada, seja pelos meus pais, por ele ou por mim mesmo ao ceder estar aqui. Mas, por estar longe de meus pais, é como se minha submissão não mais guiasse minhas ações, então não escondo minha expressão fechada e fico em silêncio, olhando para fora do carro.

Não demora para ele quebrar o silêncio, ao dizer:

- Quer ouvir música?

- Eu estou bem assim.

Mais alguns instantes em silêncio, até que ele é quebrado mais uma vez por Daeshin:

- Você... Você está muito bonito.

Estranhamente, Daeshin parece um tanto sem jeito ao me elogiar e não sei como responder suas palavras, sentindo que há algo diferente com ele. Assinto, agradecendo baixo e torcendo para que o caminho seja rápido.

Mas claro que Daeshin fala mais uma vez.

- Suas provas deram certo?

- O que está querendo, Daeshin? - pergunto, me virando para si. Ele me olha com certa surpresa, mas logo leva seu olhar para a direção e continuo: - Não somos mais amigos e não quero ser seu amigo.

- Eu...

- Então, por favor, podemos não conversar? - continuo, sério e irritado. - Não temos nada para conversar.

- Não diga isso. - ele fala, lançando um olhar rápido em minha direção.

- É verdade, eu não quero que a gente tenha vínculo algum. Já basta você ficar indo na minha casa conversar com meus pais. - não controlo meus pensamentos de serem verbalizados, irritado.

- Eu gosto deles, eles gostam de mim. Por isso vou lá conversar com eles. - ele mantém o tom de voz baixo, como se estivesse se controlando.

- Bom, não precisa mais ir, não quero que vá...

- Eu quero ser seu amigo! - ele dá um tapa leve no volante, não se contendo mais. - Porra, eu estou tentando, Jungkook. Eu... Eu sei que fiz merda contigo, entende? Eu errei ao te trair, foi errado.

- E por que está me dizendo essas coisas agora? Não vamos voltar. - digo, porque não quero que ele pense que há alguma chance, não quando meu coração ainda se mantém magoado consigo e há outra pessoa preenchendo-o, mesmo que não seja de minha vontade.

- Primeiro, eu quero fazer com que você me desculpe, Jungkook. Porque... Porque eu quero ser seu amigo de novo. - ele me lança um olhar rápido, logo voltando sua concentração para a rua. - Eu sinto sua falta.

Em outros momentos, suas palavras fariam meu coração acelerar e uma vontade súbita de lhe abraçar e encher de beijos se instalar em mim. Porém, dessa vez não sinto nada disso, apenas reviro os olhos, cansado dele.

- Você me traiu e agora está com saudades de mim?

- Você tem um parâmetro do que é certo ou errado e, quando alguém escapa dele, você o isola da sua vida. - sua voz não é brava, mas sim séria. - Eu sei que errei ao te trair, não posso mudar o passado, mas quero que me aceite em seu futuro.

É como se tudo que venho evitando pensar e sentir começasse a sair de uma só vez, mas transformadas em raiva: raiva que sinto de mim mesmo por ter magoado Jimin, raiva por ter me permitido ficar com ele mesmo que soubesse que não iria para frente, raiva de meus pais por se intrometerem em minha vida, querendo controlar minha ações e raiva de Daeshin por insistir em estar próximo de mim.

Por isso, verbalizo meus pensamentos, praticamente gritando e esbanjando esgotamento:

- Sabe o que mais me incomoda nessa situação toda? É que ninguém respeita minha decisão. Nem você, nem meus pais. Você continua indo em minha casa, meus pais aceitam sua presença lá, não respeitando minha escolha. Eu não quero ser seu amigo, não quero conversar contigo, mas sou obrigado a fazer isso e sou idiota e fraco a ponto de não questionar! - desabafo, quase gritando e recebo um olhar surpreso de Daeshin diante minha explosão.

Mas não consigo frear minha fala, não quando sentimentos demais se acumulam dentro de mim e querendo sair, de uma só vez.

- É como se eu realmente não importasse. Ninguém se importa comigo, com o que eu quero e com o que escolho. Nem mesmo eu me importo comigo, então como as pessoas vão se importar? Parece que eu só sugo a energia das pessoas com meus problemas e pensamentos que nunca parecem alinhados, sempre estão confusos e eu canso disso! - não percebo o momento que meus olhos se enchem de lágrimas nem o momento que Daeshin para o carro, estacionando em uma rua e fecho os olhos, virando meu corpo para frente e sentindo mais lágrimas saírem de meus olhos.

Pela primeira vez, Daeshin deixa o silêncio nos consumir, sendo interrompido por meus soluços e ele sai do carro, mas não me dou o trabalho de ver para onde vai. Continuo de cabeça baixa e com os olhos fechados, não sei por quanto tempo tentando regular minha respiração. Ouço a porta do carro sendo aberta mais uma vez e depois fechada, não demorando para ouvir a voz de Daeshin dizer:

- Bebe.

Abro os olhos, vendo que ele me estende uma garrafa de água e demoro alguns segundos para assimilar, pegando a garrafa de suas mãos e dando um gole. Limpo meus olhos, sentindo minha respiração ser regulada aos poucos e fico envergonhado ao pensar que explodi em sua frente.

- Eu... - ele continua com o corpo virado em minha direção, mas seu olhar vai até a rua e percebo que Daeshin está sério, como o vi poucas vezes. - Você sabe que meus pais praticamente não ficam em casa e, quando ficam, mal falam comigo. Eu gosto dos seus pais porque eles parecem realmente gostar da minha presença.

Nesses dois anos de namoro que eu e Daeshin tivemos, conversei com seus pais poucas vezes. Eles realmente nunca estavam em sua casa, sempre comentavam que estava corrido no hospital onde trabalham e era nítido como isso o chateava, porque sentia falta deles. Curiosamente, é da mesma maneira que me sinto em relação aos meus pais, mas Daeshin encontra neles esse carinho e atenção que lhe falta.

Eu sempre encontrei em Hobi, apenas.

Consigo entender seu sentimento de solidão e exclusão da vida de seus próprios pais, porque eu o vivo constantemente.

- Meu pai sabia que você tinha me traído e não me disse nada. - falo, vendo-o trazer seu olhar para mim. - Ele ainda ousou dizer que foi porque você era o ativo. Por que contou para ele nossa intimidade?

- Ele estava curioso em saber como era... Não pensei que tinha algo demais, sabe que eu sempre gostei de seu pai. Queria que meu pai se interessasse assim por minha vida.

- Ele não se interessa por mim. - falo, limpando mais uma lágrima que cai de meu rosto. - Saber que ele não me disse nada só porque gosta de você... Dói muito.

- Você não quer minha presença perto de você?

Nego com a cabeça, vendo Daeshin suspira e estalar seus dedos, como faz quando está pensativo.

- Eu não entendo porque você quer minha presença. - falo, honestamente. - Você mesmo me disse como está satisfeito por ter terminado, sei lá... O que quer comigo?

- Eu te amo, Jungkook. - ele fala, me deixando confuso com suas palavras.

Daeshin está dizendo que me ama, mesmo depois de ter dito tudo que me falou? Depois de ter me traído várias vezes, de ter me tratado com possessividade e dito coisas horríveis para mim, mesmo depois de tudo isso, ele ainda diz que me ama?

- Você está louco, Daeshin. Você não me ama.

- Eu te amo, sim! - seus olhos são sérios e ele parece agitado. - Eu sei que minha maneira de te amar pode não ser a que você espera, mas eu te amo e... Queria mais uma chance.

- Eu... - fico sem palavras, desviando minha atenção para a rua à nossa frente. - Eu não te amo mais, Daeshin. Eu não quero mais nada com você.

Ele não diz nada e voltamos a um silêncio preenchido apenas pelos sons que vem da rua, mas fico satisfeito ao perceber que estou mais calmo, limpando de meus olhos os últimos resquícios de lágrimas.

- Eu te causei muito mal, não foi?

Eu não respondo nada, surpreso com sua pergunta e meu silêncio é a confirmação para sua pergunta, mas respondo mesmo assim:

- Sim, causou.

Daeshin suspira, jogando os cabelos para trás e evita meu olhar, voltando sua atenção para o volante e colocando o cinto mais uma vez.

- Acho melhor a gente ir, para não se atrasar.

Não digo nada, bebendo mais da água que ele me comprou, sendo o restante do trajeto preenchido por meus pensamentos mais organizados. A única coisa que consigo pensar no momento é que quero tentar fazer o que Seokjin me disse: aproveitar o final das provas e comemorar tudo ter dado certo. É nisso que quero me focar.

- Chegamos. - sua voz chama minha atenção depois de uns longos minutos e olho para a grande casa à direita, percebendo logo que é uma construção mais antiga e está localizada em um bairro simples próximo da universidade.

Descemos do carro e observo os jovens na parte de fora da casa, conversando enquanto bebem e fumam. Daeshin se coloca ao meu lado e fala, ainda sem olhar para os meus olhos:

- Se quiser uma carona para voltar para casa... - apenas assinto, desconfortável por estar ao seu lado e ele continua: - Qualquer coisa me manda mensagem.

Ele sai de perto de mim, entrando na grande casa e suspiro, aliviado por estar finalmente sozinho. Não sei dizer o que exatamente acabou de acontecer, mas resolvo pensar sobre o assunto mais tarde e por isso mando uma mensagem para Hobi dizendo que cheguei, mas ele não demora para responder.

Hobi 🌞

Estamos no andar de baixo, na sala. (21:40)

Mas é melhor eu te dizer logo: Jimin está beijando alguns caras, Kookie (21:40)

Estou te falando para que não fique surpreso (21:40)

Exatamente, não há motivo algum para que eu fique surpreso, não quando conheço a forma que Jimin gosta de se relacionar, ele é solteiro e desimpedido e, principalmente, o que eu sinto é completamente unilateral. Ele me beijou, nos tocamos em minha cama, assim como ele já fez com inúmeros caras e seguiu a vida.

Repito essas certezas em minha mente, a fim de me convencer que não há razão alguma para ficar mal em saber que ele está beijando outros caras. Tento racionalizar a situação, porque, se eu me deixar ser tomado por meus sentimentos, vou com certeza ter os olhos cheios de lágrimas e pegar a primeira garrafa de bebida a fim de afogar minhas mágoas.

Ultimamente, mais emoções do que eu gostaria surgem em minha vida, mais emoções do que consigo dar conta e, a cada vez que não consigo me entender e resolver a situação, vou me frustrando cada vez mais.

Então acabo agindo de maneira impulsiva como nunca antes gostei de agir, assim como foi na casa de Han. No momento em que vi Jimin e Changmin juntos, com Changmin ajoelhado na frente de Jimin e o chupando, eu não soube lidar com minhas emoções e acabei enchendo a cara. Nunca antes imaginei que seria o tipo de pessoa que fica confuso e resolve encher a cara para esquecer dos próprios problemas.

Eu me sinto sobrecarregado.

É isso que penso conforme ando pelas pessoas, tentando achar meus amigos, o que logo acontece. Eles estão na sala e logo vejo Hobi com Tae ao seu lado no sofá, beijando seu pescoço. Em outro sofá de dois lugares, está Seokjin, Yoongi e Namjoon, os três encolhidos pelo espaço pequeno que dividem, mas nenhum deles parece querer sentar ao lado de Tae e Hobi, provavelmente para não ficarem de vela. Não vejo Jimin de cara, mas, assim que dou alguns passos para a sala, encontro mais um sofá, perto do canto e lá está um casal que não conheço, um cara com uma moça em seu colo, os dois se beijando e, ao lado deles, está Jimin.

Ele não está sozinho e claramente não me vê, não quando sua língua está enfiada na garganta do rapaz que está sentado em seu colo, beijando-o como se não houvesse amanhã. Não consigo deixar de observar as mãos de Jimin, que descem pelas costas do rapaz e param em sua cintura, minha mente me levando para quando eu estava em seu colo e senti suas mãos se alojarem em minha cintura, depois descerem até minha bunda.

A primeira coisa que penso é no que meu pai me disse hoje, sobre Jimin denunciar Minjun e em como há camadas em si que desconheço e, pelo jeito, não irei conhecer tão cedo. Porque, para isso, eu preciso ser seu amigo e ganhar sua confiança, mas como fazer isso quando meu coração quase salta para fora do meu peito assim que olho para ele? Se a única coisa que quero é ir até ele, tirar esse rapaz do seu colo e me colocar em cima de si, beijando-o como sinto vontade de fazer constantemente? Como fazer isso depois de ter lhe magoado? Que tipo de amigo eu sou?

O gosto amargo em minha boca poderia facilmente ser de qualquer bebida aqui, mas é simplesmente o desgosto e decepção que sinto ao ver essa cena dos dois juntos. Não porque esperava algo diferente de um cara solteiro e livre como Jimin, mas porque me decepciono comigo mesmo por ter deixado meus sentimentos por si chegarem a esse ponto.

- Jungkook! - Namjoon diz, olhando para mim e acenando. Rapidamente, os outros meninos olham e vejo os olhos de Hobi praticamente me dizerem "Eu sinto muito". Forço um sorriso, sentando ao lado de Tae no sofá, sem me importar em estar ao lado do casal grudento que são. Yoongi me olha com certo pesar e consigo relacionar que é por conta da cena de Jimin beijando o rapaz, mas há algo diferente em seus olhos, como se estivesse nervoso e apreensivo com algo.

Ou estou vendo coisas demais?

- Você veio! - Seokjin fala, ainda sorrindo para mim. Observo sua roupa, séria para um evento como esse, sendo composta de uma calça escura e uma camisa social branca. Tae me oferece um copo de algo que parece soju e aceito, dando um gole e constatando que é realmente soju.

- Sim, temos que comemorar o final das provas, não? - falo, na esperança de trazer animação para mim mesmo. Sem que eu queira, meu olhar vai, novamente, para Jimin e o rapaz em seu colo, vendo que ainda estão se beijando, sem se desgrudarem. Tomo mais um gole do soju, substituindo o gosto amargo em minha boca por seu gosto forte e Seokjin fala:

- Está certo, eu achei que pudesse não vim, não mandou nada hoje o dia todo e aí pensei que tinha desistido, não sei...

- Eu disse que viria. - sorrio fraco pelo seu jeito um tanto atrapalhado e ansioso. - Os outros não vieram?

- Veja bem, - Tae começa e, pelo seu tom de voz arrastado, consigo perceber que já bebeu além da conta. Ele encosta as costas no peitoral de Hobi, os dois virados para mim e os pés de Tae em cima do meu colo. - depende de quem está falando. Se estiver falando das pessoas que normalmente andam com a gente, posso dizer que Seung veio, mas sumiu, o que pode ser preocupante. Da última vez que eu vi, Jae estava na cozinha se pegando com um cara e Han estava subindo as escadas beijando uma moça, então, todos estavam bastante ocupados.

- Seung está aqui? - pergunto, sentindo meu coração apertar mais uma vez. Provavelmente é com ele que Jimin voltará para o campus, é a única coisa que consigo pensar, sentindo mais uma vez o gosto amargo em minha boca.

Por que fui desenvolver sentimentos por um cara que gosta de beijar vários caras?

- Sim, senhor. - Tae fala, recebendo um beijo na bochecha de Hobi, que diz:

- Você já bebeu bastante, não? - e estala outro beijo em sua bochecha, ganhando uma risada de Taehyung.

- Eu sou muito fraco para bebida, meu deus! Mas não sou apenas eu que estou mais pra lá do que pra cá, Jimin também está bem bêbado.

Sem que eu queira, meu olhar novamente recai em Jimin e quase congelo ao ver que ele já está me olhando e não há sinal do rapaz que há poucos instantes estava beijando. Seus olhos fixos aos meus, percorrendo meu rosto com curiosidade, apenas me faz engolir em seco, observando a camisa de botões preta que veste, mas que quase o deixa sem nada, já que está com os botões abertos até seu abdômen. Os cabelos bagunçados, mas que mesmo assim conseguem o deixar atraente, os lábios vermelhos e o olhar semicerrado, me analisando, tudo isso é um conjunto extremamente perigoso ao meu mental que tenta ao máximo esquecer o que sente por si.

Mas assim fica difícil, ainda mais quando ele se levanta, exibindo com mais clareza seu corpo quase todo à mostra por conta da camisa aberta e, sem tirar os olhos de mim, senta em um puff ao lado do sofá onde estão Seokjin, Namjoon e Yoongi, pegando um copo no chão e dando um gole.

- Estava falando de você agora há pouco. - Tae comenta para Jimin, que desvia o olhar de meu rosto, o que me faz suspirar aliviado. - Você também está bêbado, não?

- Talvez. - ele responde e, ouvir sua voz depois das palavras que me disse ontem, é apenas um gatilho para eu pegar meu copo de bebida e virar em um gole, algo que não estava em minha mente fazer.

A tensão que nos rodeia é, possivelmente, óbvia aos olhos mais atentos. Se Hobi me disse que notou como estávamos afastados, assim como Tae, é ilusão minha pensar que passa despercebido por eles algumas coisas que acontecem entre nós dois, mesmo que a ideia me faça ficar envergonhado. Eles provavelmente percebem que estamos estranhos um com o outro, que não nos olhamos direito ou ficamos segundos nos encarando e, para que não seja ainda mais óbvio, pergunto para Seokjin, a fim de mudar o assunto e me concentrar em alguma outra coisa:

- Vocês chegaram aqui há muito tempo?

- Ah, não, não faz muito tempo. - ele fala, não deixando de sorrir. - Tivemos que nos dividir em dois carros, como normalmente fazemos.

- Aliás, eu fiquei preocupado contigo. - Hobi fala e presto atenção em seu rosto. - Você me disse que estava saindo de casa, fiquei esperando a localização e não me mandou nada.

- Ah, é que eu peguei uma carona...

- Seus pais te trouxeram? - Tae pergunta, ingenuamente achando que meus pais saíram de casa para me levar em algum lugar. Se bem que eles fariam isso se quisessem saber onde estou indo e com quem estou...

- Ah, na verdade... Eu vim com Daeshin.

O clima parece se tornar mais pesado e nenhum deles esconde a surpresa com minhas palavras. O único que parece mais alheio é Namjoon, que provavelmente não conhece todo o meu drama com Daeshin. Não consigo deixar de notar o olhar incrédulo de Jimin, Seokjin e Yoongi, assim como o de surpresa de Taehyung e Hobi.

- Vocês voltaram a se falar? - claramente tentando ser cuidadoso com suas palavras, Seokjin pergunta.

- Ele estava lá em casa... - e percebo estar parecendo ainda mais estranho conforme continuo falando, por isso fecho a boca por alguns instantes.

- Vocês estão juntos? - é Taehyung quem pergunta, fazendo-me arregalar os olhos diante sua fala e percebo a reclamação que Hobi faz para si por sua pergunta, mas meus pensamentos começam a ser frenéticos.

Como dizer que meu pai "me obrigou" a vim com Daeshin, sendo que eu poderia ter sido mais incisivo e dito não? Como explicar que não consigo ir contra meus pais, mesmo que eu queira?

Só de pensar nesse assunto sinto que minha respiração torna-se mais errática e minhas mãos suarem, porque é como se eu me sentisse preso e acuado, assim como me senti quando meu pai me obrigou a aceitar a carona. Confuso e sem saber o que dizer, Hoseok me salva quando fala:

- Provavelmente foi por que seus pais o chamaram, não? - assinto, aliviado por ele ter entendido que não fui eu quem chamou Daeshin. - Sempre gostaram muito dele, era nítido. E com certeza ele te ofereceu uma carona e enfim...

- Isso... - falo, não querendo prolongar esse assunto.

- Que tal um brinde para comemorar o final das provas? - para minha supresa, é Jimin quem sugere tal coisa, elevando seu copo e me lançando um olhar rápido. Não sei se é sua intenção, mas fico grato mentalmente por mudar de assunto. Todos nós pegamos nossos copos e os brindamos, bebendo em seguida.

- Cadê o seu amigo? - Namjoon pergunta para Jimin, que me lança um olhar rápido antes de virar o corpo para Namjoon e dizer:

- Ah, ele foi fazer alguma outra coisa.

- Ele é o que, o terceiro cara que você beija hoje? - Tae pergunta e é curioso como o olhar de Yoongi e Hobi imediatamente vem em minha direção, o que me faz apenas beber mais um gole, evitando ao máximo cruzar meu olhar com Jimin. - Me lembra das festas que íamos no ano passado e competia para ver quem beijava mais...

- E quem ganhava? - Namjoon pergunta.

- Era bem empatado, na verdade. Tinham momentos que eram eu, outros Jimin. - ele comenta, sorrindo amplamente. - Mas agora tenho meu amor aqui e não sinto mais vontade disso.

Ele deixa um beijo nos lábios de Hobi, que sorri pequeno para si e não deixo de observar Jimin, surpreso ao ver que seu olhar já está em mim e sinto um arrepio percorrer meu corpo ao ver como ele é bonito, ainda mais usando uma roupa que apenas realça sua sensualidade.

- Olha quem resolveu aparecer! - ouço a voz de Jae, que aparece em meu campo de visão e se senta ao meu lado, me espremendo entre si e Taehyung. Assim, Tae deixa de apoiar as costas em Hobi, os dois sentando lado a lado e não consigo deixar de achar a expressão de Tae fofa ao precisar se desencostar de Hobi. - Achei que não viria, estava ficando chateado já.

Jae abraça meu pescoço, me pegando de surpresa quando deposita um beijo em minha bochecha e digo:

- Diz isso mas estava até agora beijando outros, não é? - ele sorri culpado e finjo uma expressão brava, balançando a cabeça. - Que decepção, Jae, que decepção...

- Mas sabe que meus olhares e coração é apenas seu, não sabe? - reviro os olhos em diversão diante sua fala, sentindo o hálito de álcool contra meu rosto, dada nossa proximidade.

- Olhares eu não tenho tanta certeza, mas boca eu sei que não é apenas minha. - ele ri diante minha fala, abraçando meu pescoço com um pouco mais de força.

- Poderia ser sua, mas você foge de mim...

- Sinto vontade de vomitar diante dessa cena. - claro que é Yoongi quem fala e rio, achando engraçado como os dois ainda não se dão bem, sempre cutucando um ao outro. Não sei se é pura birra ou ele realmente se sente incomodado, mas é engraçado como ainda parecem não se gostar e só me faz pensar sobre o que houve para que sejam assim um com o outro.

E me faz pensar se Jae e Jimin conversaram como Jae queria fazer, mas, dada a expressão fechada no rosto bonito de Jimin, duvido que tenham se falado. Ele enche seu copo com a garrafa de soju que está no chão, bebendo mais um gole longo e é óbvio em seus trejeitos como Jimin está mais bêbado do que normalmente fica nos rolês que vamos.

- Já que meu amigo Yoongi não gosta de ver o amor surgindo entre mim e Jungkook, podemos começar.

- Começar o que? - Namjoon questiona, visivelmente curioso como normalmente é.

- A jogar verdade ou desafio.

- E quem disse que queremos jogar? - Yoongi se manifesta, tomando um gole de sua bebida, semicerrando os olhos.

- Porque é bobo, mas estamos em uma crise dos vinte anos que nos faz querer fazer coisas que adolescentes fazem. - ele se vira para mim e diz: - Quando você e Hobi fizerem vinte anos, vocês vão entender.

- Sério que quer jogar esse jogo? - a voz entediada de Jimin surge e percebo seu olhar sério para Jae, que não parece intimidado com seu tom de voz e maneira de olhar.

- Qual o problema? Está com medo de alguma coisa, Jimin? - Jae pergunta, sugestivo. Jimin sorri debochadamente e diz:

- Claro que não, Jae. Vamos jogar.

Esses jogos, normalmente, não resultam em algo bom, mas sim em climas desconfortáveis, indiretas e situações constrangedoras. Mas não digo nada, apenas vejo todo mundo ali sentando no chão, enquanto Namjoon traz uma garrafa vazia e coloca no centro de nossa roda. Sento entre Tae e Jae, sentindo o clima estranho que paira entre Jimin e Jae.

- Não costumo jogar esse tipo de jogo, estou curioso. - ele fala, sorrindo e mostrando suas covinhas bonitas.

- Bem, vocês costumam jogar em um estilo diferente, não é? De cada um fazer uma pergunta, todos responderem e, quem não quiser, bebe. - Jae pergunta, falando sobre o jogo que jogamos na minha primeira festa da faculdade, o que me traz algumas lembranças.

- Sim, como sabe disso tudo? - claro que é Yoongi quem questiona, com a sobrancelha arqueada e olhar desconfiado como sempre reage a tudo que vem de Jae.

- Hoseok comentou comigo. - ele fala, segurando a garrafa. - Vamos jogar um verdade ou desafio clássico mesmo, pode ser? Para quem a ponta da garrafa estiver apontando faz a pergunta e para quem o fundo apontar, responde.

Todos concordam e fico pensando que, sem dúvidas, vou escolher verdade quando cair em minha vez. Muito mais simples do que fazer alguns desafios que podem ser absurdos, já que não confio muito em meus amigos.

A garrafa é girada, parando com a ponta para Jae e o fundo para Namjoon. Logo, Jae questiona:

- Bom, Namjoon... Verdade ou desafio?

- Verdade. - ele responde, sem hesitar.

- Você já quis pegar alguém que está nessa roda e, se sim, quem?

É até engraçado como os olhos de Namjoon quase saltam para fora de seu corpo e ele fica um tanto sem jeito, o que me faz ter a certeza imediata que a resposta é sim.

- É... Bem... - ele coça o pescoço, olhando para Jae. - Sim...

- Quem?

- São duas perguntas! - Namjoon pergunta e Jae apenas revira os olhos, insistindo:

- Para com isso, só responde!

- Mas era só uma pergunta, eu respondi...

Os dois ficam nessa discussão por alguns instantes, até que, claramente exausto já que Jae é muito insistente, Namjoon responde:

- Taehyung.

Se ele falasse um pouco mais baixo, com certeza não seria possível escutar sua voz, que é baixa e praticamente sussurrada. Arregalo meus olhos minimamente, sentindo vontade de rir da expressão surpresa que toma o rosto de Tae e do franzir de sobrancelha que enfeita o rosto de Hobi.

- Quando foi isso? - Tae pergunta, com sua voz arrastada.

- Ah, foi ano passado, faz tempo. - ele se apressa em dizer, como se estivesse pedindo desculpas.

- Você queria me beijar? - como se não fosse claro o bastante, Tae pergunta e tenho, mais uma vez, vontade de rir da expressão séria de Hoseok e como Tae parece alheio a sua reação.

- Ah, sim... - Namjoon coça a cabeça, claramente desconfortável. - Enfim, próximo.

Mais uma vez a garrafa é girada, caindo em Taehyung e Jae. Sem demoras, Jae diz:

- Obviamente eu quero desafio.

- Eu te desafio a ficar até o final da festa sem camisa.

Não sei se Tae diz isso porque está bêbado ou se diria algo assim estando sóbrio, mas sei que arregalo minimamente meus olhos, vendo o momento que Jae sorri de canto para Taehyung, tirando sua camisa e a jogando no colo de Yoongi.

São várias coisas para assimilar ao mesmo tempo e começo pela expressão de raiva que toma o rosto de Yoongi, enquanto segura a camisa de Jae e a joga para trás, deixando-a em qualquer lugar, o que me faz soltar uma risada baixa. Reparo no sorriso de Tae ao ver seu desafio cumprido e a expressão fechada de Hobi, que não sei exatamente qual o motivo, se ele ficou enciumado de Tae desafiar Jae a tirar a camisa ou se ainda é por saber que Namjoon era interessado por seu quase namorado.

Mas não é apenas ele que mantém uma expressão mais séria, Seokjin e Jimin não parecem nada felizes, mas eles nunca parecem muito sorridentes perto de Jae, de qualquer forma.

Eu já acho engraçado, sorrindo diante a ousadia e alegria que Jae emana, sem deixar de observar seu peitoral desnudo. Não é absurdamente bem definido e malhado, mas é fácil ver como Jae é magro e é chamativo, bonito a sua maneira. Fico envergonhado quando vejo que alguns olhares estão em mim e estou encarando Jae um pouco demais, desviando a atenção rapidamente.

Claro que Jae não perde a oportunidade e diz:

- Se você quiser tocar, bebê, saiba que pode...

- Agora eu sou seu bebê. - falo, fingindo chateação contigo.

- Sempre foi...

- Enfim... - Seokjin fala, girando a garrafa e parece brincadeira quando ela cai em Jae e Jimin, os dois rapidamente se encarando.

- Verdade ou desafio, Jimin? - Jae questiona, sorrindo de canto para Jimin, que apenas sorri pequeno e fala:

- Desafio.

- Desafio... - ele parece pensar um pouco e continua: - Vou ser bonzinho com você: eu te desafio a beber três shots de soju de cabeça para baixo.

- Faz mal beber de cabeça para baixo. - falo, rapidamente. Vejo o olhar um tanto surpreso de Jimin fixar-se no meu e engulo em seco, continuando: - Você pode passar mal...

- Relaxa, bebê. - Jae fala para mim e volta seu olhar para Jimin. - Ou você está com medo?

O sorriso debochado que Jimin lhe dá é a confirmação de que ele cumprirá o desafio, mas fico um tanto preocupado, porque realmente não é aconselhável tomar bebidas de cabeça para baixo. Mordo meu lábio, torcendo para que dê tudo certo enquanto vejo Jimin levantar e, para minha total surpresa, jogar suas mãos para frente e erguer seus pés, ficando de cabeça para baixo apenas apoiado em suas mãos.

Yoongi aproxima um shot de soju de seus lábios e ele bebe, mantendo os olhos abertos e fixos em Jae, repetindo esse ato mais outras três vezes, até que volta a sua posição normal e solto o ar que estava segurando, com receio de algo dar errado e suspiro aliviado.

Jae parece satisfeito e acaba sorrindo, girando a garrafa mais uma vez e tendo Seokjin perguntando para Hobi com quantos anos ele perdeu a virgindade (que foi com dezesseis anos), eu desafiando Yoongi a vestir a camisa que Jae tirou (o que rendeu risadas de todos ali exceto do próprio Yoongi que foi buscar a camisa no chão com a cara feia e a vestiu com a cara ainda mais fechada), mas, assim que vamos girar mais uma vez, três pessoas sentam ali, tirando nossa atenção.

Fico surpreso ao ver que conheço todos os três rostos, especialmente o primeiro, Taeyang. Seus cabelos estão mais curtos e o vermelho retocado, vestindo uma camisa aberta que evidencia seu corpo magro e, pelos seus trejeitos, está bastante bêbado, já que não para de balançar sua perna e parece agitado. O segundo rapaz me é bastante surpreendente, já que é Hyo que senta ao seu lado, com seu rosto sério parecendo ainda mais intimidante e não consigo deixar de pensar no dia em que foi até nosso quarto para falar com Jimin. E, por fim, é Eun quem está ali, com um sorriso largo em seu rosto bonito e fico surpreso ao encontrá-lo, já que não imaginei que o veria depois do dia em que acidentalmente trombei com Jimin e seus amigos (um tanto peculiares, eu diria).

Jimin parece surpreso e ajeita sua postura, olhando fixamente para os recém chegados que se sentam no espaço entre Jimin e Hoseok. Nenhum dos meninos parece perceber a mudança no porte de Jimin, como se torna um pouco mais sério, exceto por Yoongi que o olha imediatamente.

- Estava procurando por vocês, tinha certeza que estariam aqui! - Taeyang fala e seu tom de voz alto é alto, além de falar de maneira bastante rápida. - Esses são Hyo e Eun, pessoal!

- Não sabia que estavam aqui. - é Jimin quem diz, com sua voz um tanto arrastada pela quantidade de álcool que consumiu. Tae arqueia a sobrancelha e se vira para mim, perguntando:

- Hyo não é o nome de alguém que você perguntou se eu e Namjoon conhecíamos há um tempo atrás?

Ah, não, Tae.

Tento não me entregar pelos meus gestos, apenas sorrindo fraco e dizendo, como se não fosse nada demais:

- Eu não, deve estar se confundindo.

- Eu tenho quase certeza, estávamos na lanchonete e aí você...

- Não fui eu não.

- Mas... - felizmente, Jimin se manifesta, dizendo para seus amigos:

- Vão ficar por aqui? - é nítido como ele parece desconfortável diante a presença de seus amigos, os olhando com certa apreensão.

- Está querendo nos mandar embora? Coisa feia. - Eun fala e, em seguida, vira sua atenção para mim, dizendo: - Como está, Jungkook?

- Vocês se conhecem já? - Seokjin pergunta, arqueando uma sobrancelha.

Nesse momento, percebo como meus amigos são curiosos, talvez tanto como eu sou. Eles sempre estão questionando as coisas e é uma das características que eu acredito fazer nosso grupo se relacionar de maneira dinâmica e espontânea, mas em alguns momentos pode ser incômodo.

Como nesse momento.

- Há um tempo atrás encontramos com Jungkook. - Eun fala, sorrindo de maneira estranha para mim. - E claro que, desde lá, não esqueci esse rostinho.

- Não gostei muito da maneira que está falando com ele. - é Jae quem fala, com a cara fechada, mas consigo ver o tom brincalhão de suas palavras.

- Engraçado como temos a tendência de pegar os mesmos caras, não é, Jungkook? - Taeyang fala, sorrindo de canto para mim e imediatamente sinto meus músculos se enrijecerem diante sua fala.

Ele sabe que eu e Jimin nos beijamos? Jimin viu ele ontem, será que acabou lhe contando? Engulo em seco pensando nas possibilidades, olhando com os olhos minimamente arregalados para Taeyang.

Levo meu olhar para Jimin, encontrando uma expressão séria em seu rosto, o que me faz perceber que Taeyang não está falando de nós dois, mas sim sobre Daeshin e Jae, já que acredita que eu e Jae nos pegamos. Claramente sua fala é para me provocar sobre Daeshin, então sinto um gosto amargo em minha boca.

- Dá um tempo, Taeyang. - Jimin fala, com a voz séria condizente com sua expressão também séria para Taeyang.

Fico um tanto surpreso com sua fala, olhando para si no mesmo instante, mas seus olhos estão fixos no rapaz de cabelos vermelhos ao seu lado, que apenas revira os olhos. Eun coloca um cigarro em sua boca e, quando vai acendê-lo, Hyo o arranca de seus lábios, olhando feio para si e fala:

- Não fume em lugar fechado.

Hyo é calado, não conversa muito e passa a maior parte do tempo observando. Curiosamente, Namjoon que sempre é um dos mais simpáticos entre nós, se mantém calado, observando Hyo com atenção.

- Estavam jogando verdade ou desafio? - Taeyang pergunta, apontando para a garrafa.

- Sim, querem jogar? - sei que Jae está apenas sendo simpático, mas fico irritado com sua pergunta, porque, mesmo que soe muito infantil, não quero jogar algo com Taeyang.

Mas claro que ele concorda e a garrafa é girada mais uma vez, o que me faz perceber que, quando algo pode dar errado, ele vai dar, com toda a certeza.

Porque a garrafa para em mim e em Taeyang, então olho para si, vendo o sorriso presunçoso que tomo seus lábios e ele dizer:

- Então, Jungkook... Verdade ou desafio?

Como em um filme, as coisas passam rapidamente pela minha cabeça. Nunca tive problemas com Taeyang, mas comecei a ter quando descobri que ele se envolve com Daeshin. Não porque sinto ciúmes ou algo do tipo, como ele insinuou, mas não deixa de ser estranho uma pessoa que está próximo a mim se relacionar com meu ex namorado (ainda mais pensando que não foi um término amigável).

Não consigo deixar de pensar que Taeyang ainda é o cara que Jimin parece se encontrar em momentos específicos que me levam a pensar que deve ser uma pessoa em quem ele confia. Ontem foi um exemplo: ele se encontrou com Taeyang depois de nossa conversa e no dia em que nossas provas acabaram, parecendo querer comemorar com ele. Os dois são bastante próximo, pelo o que me parece.

E isso me incomoda.

O sorriso de canto em seu rosto, a maneira como passa a língua nos lábios o umedecendo e fica balançando sua perna dobrada, apenas me deixa desafiado e, por isso, respondo, olhando no fundo de seus olhos:

- Desafio.

Se eu pensasse duas vezes, não responderia desafio, mas não me contenho e vejo o sorriso em seu rosto se expandir, até que ele fala:

- Então te desafio a tomar soju no corpo de Eun.

Eu não acredito.

Não sei porque esperava algo diferente de Taeyang, mas não deixo de arregalar minimamente meus olhos, pensando que nunca fiz isso antes: tomar uma bebida no corpo de alguém. Pior ainda: tomar bebida no corpo de um cara que mal conheço, que trocamos poucas palavras uma vez.

Como magnetismo, meus olhos vão até Jimin e encontram uma expressão igualmente surpresa em seu rosto bonito, olhando para mim com atenção. Não apenas ele, como todos os meninos parecem surpresos, mas acho curioso como Namjoon e Jae parecem os mais tranquilos com a situação. Mordo meu lábio, um pouco travado e Taeyang fala:

- Se não achar que consegue fazer...

E isso é o suficiente para eu dizer:

- Eu faço.

Vejo um sorriso e seu olhar brilhar em minha direção, assentindo enquanto os meninos parecem estranhos com minha fala. Não olho para nenhum deles, apenas vejo Eun tirando sua camisa, exibindo seu peitoral malhado e repleto por tatuagens, inclinando seu corpo para trás até ficar apoiado por seus cotovelos.

Repenso minha decisão enquanto vou para perto de Eun, olhando para a garrafa de soju que Taeyang me estende e fala:

- Joga no abdômen dele.

Faça o que ele disse, despejando um pouco de soju pelo abdômen malhado de Eun e vejo ele sorrir enquanto o faço.

- Não precisa fazer se não quiser.

A voz de Jimin ecoa e não contenho o impulso de olhar para si, encontrando-o com os olhos atentos em mim. Não entendo o motivo que o leva a dizer tais palavras: será que é nítido como estou querendo cumprir esse desafio para não deixar meu orgulho morrer na frente de Taeyang?

De qualquer forma, eu fico olhando para si, pensando que não há motivos para que ele se sinta incomodado com minha atitude e, respiro fundo, tomando minha decisão.

- Eu quero sim.

Não é verdade, mas ainda assim falo com tanta convicção que até mesmo eu acredito. Jimin não desvia seu olhar de meu rosto, mas eu levo minha atenção para Eun, vendo-o falar:

- Melhor tomar, já está escorrendo pelo meu corpo...

- Pode ir. - Taeyang diz e assinto, olhando para o corpo de Eun mais uma vez.

Apoio minhas mãos ao lado do quadril de Eun, aproximando meu rosto de seu abdômen e, consequentemente, trazendo meu corpo para perto de si. Coloco minha língua para fora, dando a primeira lambida em seu corpo e sentindo o gosto de soju invadir meu paladar, ao mesmo tempo que percebo seu abdômen estremecer diante meu toque e repito meu ato, começando a caçar o soju pelo seu corpo.

Pouco tempo depois, sinto uma mão de Eun se fixar em meus cabelos firmemente, puxando meu rosto de encontro ao seu abdômen, trazendo seu quadril para cima, o que me leva a sentir, contra meu peitoral, o volume em sua calça. Isso me faz imediatamente arregalar os olhos e me distanciar de seu corpo, cortando o contato de sua mão com meus cabelos.

Taeyang sorri para mim, mas é o único que parece realmente contente por eu ter cumprido seu desafio, já que as expressões dos outros meninos não são das melhores. Mesmo Jae e Namjoon, que antes pareciam indiferentes quanto ao meu desafio, parecem incomodados com algo e não me sinto diferente.

A sensação de Eun segurando meus cabelos daquela maneira e impulsionando seu quadril em minha direção é completamente desagradável, não apenas porque está claramente simulando um oral, mas também porque não gostei de sentir seu pau duro contra meu corpo.

- Você está louco? - é a voz irritada de Jimin que me tira de meus pensamentos, me fazendo olhar para si e ver raiva tomar conta de seu rosto.

Eun senta novamente, colocando a sua blusa e não parece afetado pelo seu tom de voz quando diz:

- Do que está falando?

- Quem te deu o direito de segurar nele daquela maneira? - Jimin continua e vejo como sua expressão é mais acelerada, assim como seus olhos são fixos em Eun.

- Isso não foi muito legal... - Jae concorda, sério como Jimin.

- Vocês estão exagerando. - Eun comenta, revirando os olhos. - Queria ver se fossem vocês recebem um beijo dele como eu recebi, com certeza ficariam duros também.

Fecho os olhos diante sua fala, envergonhado e me sentindo estranho pelas suas palavras tão explícitas. Porém, Jimin se levanta, claramente irritado com Eun e consigo ver como ele parece mais irritado do que estava quando brigou com Daeshin. Talvez seja por conta do álcool, mas ele não desvia os olhos de Eun quando fala:

- O que foi que você disse?

Eun parece perceber que Jimin está realmente irritado, porque também levanta e os dois ficam cara a cara. Logo vejo Jimin dando um empurrão em Eun, o que faz Namjoon imediatamente se levantar e intervir, se colocando entre os dois. Eun parece irritado com a atitude de Jimin, mas há um brilho estranho em seu olhar e uma agitação em seu corpo esquisita.

- Eu acho melhor você ir dar uma volta. - Namjoon fala para Eun, que apenas revira os olhos.

- Meu deus, vocês são muito chatos. Achei que universitários eram mais descolados. - mas, felizmente, não diz mais nada, saindo dali, não sem antes me lançar uma piscadela. Sinto meu corpo estranho e olho para Jimin, vendo como ainda parece irritado, evitando claramente olhar para meu rosto.

Engulo em seco, me sentindo estranho e, por isso, apenas levanto, saindo dali e indo até o que me parece ser a cozinha. Não olho para trás, querendo um pouco de espaço para digerir o que acabou de acontecer, encontrando um casal se pegando apoiados no balcão. Vou até a pia, enchendo um copo de água e o tomando rapidamente, não demorando para ouvir a voz de Hobi atrás de mim e sentindo o abraço que ele me dá:

- Você está bem?

Viro de frente para si, vendo sua expressão preocupada percorrer meu rosto.

- Eu sei lá... Não gostei do que ele fez, eu me senti estranho.

- Ele claramente é um idiota, Jungkook. - diz e não nego sua fala, assentindo. - Não parecia algo que queria fazer. Por que fez mesmo assim?

- Eu... - tento organizar meus pensamentos, um pouco desconexos por conta do álcool que venho ingerido, embora ainda não esteja bêbado. - Eu te contei sobre Taeyang, as coisas que ele me disse e sei lá... Quis mostrar que eu era capaz de cumprir seu desafio.

- Isso é um tanto infantil, mas não te julgarei, fazemos esse tipo de coisa... Só precisamos saber com quem estamos fazendo, sabe? Esse Eun não parece ser um cara muito legal.

- Eu o vi apenas uma vez e devo dizer que esses amigos de Jimin são estranhos. - confesso, lembrando de quando os conheci. - Mas eu estou bem sim, eu só fiquei meio surpreso na hora.

- Bom, pelo menos Jimin enfrentou ele. - diz e assinto, tentando pensar em algo que não seja Jimin, Taeyang, Daeshin ou meus pais. Pela milésima vez no dia, eu evito meus pensamentos, evito deixar minhas emoções me guiarem, porque sei o que pode acontecer: quando as deixei me dominarem, eu explodi no carro com Daeshin.

Não querendo que isso aconteça novamente, ficamos um tempo ali, conversando sobre superficialidades como sinto falta de fazer com meu amigo. Ele me arranca algumas risadas com seu jeito descontraído de ser e sorrio, não percebendo quando alguém se aproxima de nós e diz:

- Está bem, Jungkook?

Seokjin olha com preocupação disfarçada de calma em seu rosto bonito e sorrio para si, assentindo.

- Está sim, me perdi aqui em conversas com Hobi. Não estão mais jogando?

- Já jogamos bastante. - ele fala, sorrindo. - Na verdade estávamos tirando algumas fotos, Taehyung não parava de falar que queria registrar esse momento.

- Deixa eu ver. - falo, me colocando ao seu lado. Seokjin pega seu celular, desbloqueando enquanto vai em sua galeria e levo minha mão até seu ombro direito, apoiando meu queixo em seu outro ombro. Ele parece ficar um tanto surpreso com minha atitude, já que nossa relação nunca foi baseada em contato físico, mas, por algum motivo, eu me sinto verdadeiramente bem na presença de Seokjin.

Daeshin já tinha me falado algumas vezes sobre seus amigos da natação e já tinha até conhecido alguns, mas a maioria não era exatamente o tipo de pessoa que eu conseguia me relacionar. Eles eram todos de um nível social elevado e esse não era o problema, mas sim porque eram muito metidos. Daeshin não gostava muito que eu saísse com eles também (embora eu acredite que todos ali fossem héteros) e, quando comentou comigo sobre um amigo seu chamado Seokjin, imaginei que fosse mais um dos seus amigos metidos e ricos.

E não foi nada disso.

Claro que arrastei Hobi para sair com a gente e combinamos de ir até uma lanchonete, mas Seokjin e Daeshin se atrasaram na natação e acabaram indo direto, o que foi engraçado, já que eu e Hobi estávamos bem mais arrumados que os dois, ainda de cabelos molhados e roupas confortáveis.

Então, para minha surpresa, Seokjin se mostrou muito simpático e diferente dos outros amigos de Daeshin. Ele parecia notar que eu estava ali, então me perguntava sobre minha vida, coisa que nenhum deles antes tinha feito. Ele sorria para mim, o que fazia com que eu me sentisse realmente incluído, já que Hobi e Daeshin sempre foram mais extrovertidos e conseguiam falar de diversos assuntos.

Por isso, saímos juntos outras vezes, uma delas quando alguns colegas de Daeshin e Seokjin resolveram ir em um bar, algo que era raro de irmos. Fiquei nervoso, porque Hoseok não pôde ir e eu tinha medo de me sentir excluído como das outras vezes que estive com seus amigos. Para minha sorte, Seokjin estava ali e ele conversou comigo a maior parte do rolê, fazendo com que eu me sentisse bem, animado por estar conversando com pessoas que não fossem meu ex namorado e meu melhor amigo. Era uma conversa fácil, leve e me arrancou vários sorrisos.

Seokjin sempre foi uma pessoa que me traz sentimentos bons, além de demonstrar gostar de mim, o que obviamente me deixa feliz porque gosto muito dele. Ele é mais parecido comigo em diversos pontos, como ser mais reservado e metódico, o que nos rendia diversas conversas sobre nossos planos de vida e metas profissionais.

E, justamente por sermos parecidos em alguns quesitos, nunca tivemos um contato físico grande, o que justifica sua surpresa ao me ver apoiado em seu ombro enquanto mexe em seu celular. Ouço um barulho de foto sendo tirado e saio de meu transe, olhando para Hobi e vendo que ele está com o celular apontado em nossa direção e diz:

- Vocês estão fofos, precisei tirar uma foto.

Sorrio, olhando para as fotos que Seokjin mostra em sua galeria, de Taehyung abraçado a si enquanto faz uma careta e também com Jimin, Yoongi e Tae, até mesmo uma que Jae aparece de intruso e Yoongi fica com a cara ainda mais fechada (ainda vestindo sua camisa). Fico aliviado em ver que nem Taeyang nem Hyo estão na foto, o que me leva a pensar que devem ter ido atrás de Eun.

- Sabem onde é o banheiro? - pergunto, a fim de jogar um pouco de água no rosto. - Quero lavar meu rosto e tirar essa blusa aqui, está quente. - falo, apontando para o suéter que visto.

- Eu sei que tem um no último quarto à direita. - Seokjin fala.

- Eu já venho, então.

Caminho para longe de meus amigos, indo até a escada e subindo conforme desvio dos estudantes bêbados ao meu redor. Não que eu esteja bêbado, mas tenho certeza que acordarei com uma boa dor de cabeça.

Vou até o final do corredor extenso, entrando no último quarto e ficando aliviado quando vejo que está sem ninguém. O banheiro da suíte é grande, mas, assim como toda a casa, é de uma construção simples e antiga, o que me faz pensar em quantos estudantes moram aqui.

Olho para minha imagem no espelho, observando meus traços. Meus cabelos escuros contrastam com a cor de minha pele e combinam com meus olhos, que são bem escuros, praticamente pretos. Desço meu olhar para meus lábios e para a pintinha que tenho abaixo deles, lembrando de como Jimin me disse que gostava dela.

Por que meus pensamentos sempre voltam para Jimin?

Jogo água no meu rosto, querendo lavar também esses meus pensamentos inconvenientes e fora de hora, enxaguando meu rosto. Tiro meu suéter, arrumando a camisa de gola alta preta que visto, saindo do banheiro e percebendo que não estou sozinho, mas Jimin está ao lado da porta fechada, olhando-me com atenção.

Nosso olhar se cruza e é como se toda a calma que eu tenha tentado manter nos minutos anteriores tenha sido em vão. Porque basta ele me olhar com seus olhos bonitos e marcantes, sempre como se pudesse ler minha alma, que eu me desfaço por completo, praguejando mentalmente por ser tão fraco quando se trata dele.

Mas claro que tento manter a pose, não querendo demonstrar como sua presença me abala e é desse jeito que ficamos por alguns segundos, em completo silêncio e apenas nos olhando. Ele dá um passo para frente e diz, com a voz baixa e um tanto arrastada por conta do álcool que bebeu:

- Você está bem?

Eu não sei como responder isso a ele. Posso ser mentiroso e dizer que estou bem, como normalmente faria se fosse qualquer outra pessoa ali. Sem que eu queira, eu travo, não dizendo nada e ele parece entender.

- Eu não sabia que Taeyang estava aqui com Hyo e Eun, nem que ele faria algo assim...

- Você age como se fosse responsável pelas atitudes que ele tomou. - falo, sério. Ele não diz nada, apenas continua me olhando e percebo como suas bochechas estão coradas, provavelmente pela quantidade de álcool que tomou. - Achei que sabia que eles viriam, já que estava com eles ontem. - não é de minha intenção ser tão invasivo, mas quando me dou conta as palavras já saíram. Não contenho o impulso de continuar dizendo: - Está tudo bem? Yoongi comentou que tinha sumido...

- Eu não estava perto do meu celular e ele ficou preocupado. - diz, mas não parece ser toda a verdade.

- Ah, sim.

Mais uma vez somos rodeados pelo silêncio e é estranho como sempre tive tanto assunto para falar com ele, mas agora parece que estamos pisando em ovos um com o outro. Fico com receio de falar qualquer coisa e ele me interpretar mal, já basta as palavras horríveis que lhe disse, mas tenho vergonha também em olhar nos seus olhos e lembrar que me deu um fora ontem.

Mas, como Jimin normalmente é mais decidido e impulsivo do que eu, é ele quem quebra o silêncio ao dizer:

- Você não gostou de fazer aquilo em Eun, não é? Eu falei aquelas coisas para ele porque você não me pareceu confortável, mas...

- Eu não gostei do que ele fez. - confesso, vendo-o assentir lentamente.

- Tome cuidado com Eun. Ele não é exatamente um amigo interessante para você ter.

- Por que é amigo dele, afinal? - suas palavras me lembram as de Hyo sobre si e a dúvida desde que conheci seus amigos é verbalizada, porque não entendo o motivo dele ser amigo de pessoas que diz não serem interessantes.

- Eu não sou você, essa é a diferença entre nós dois.

Não deixo de pensar no que percebi hoje: em como acabo ignorando a diferença de vida que eu e Jimin temos. Por isso, minhas palavras naquele dia parecem ainda mais amargas e sinto vontade de chorar ao olhar para seus olhos e lembrar de sua expressão triste.

- Sim, essa é a diferença. - falo, um tanto baixo e embargado, desviando meu olhar para a cama de casal. - O que veio fazer aqui, Jimin?

- Como assim? - pergunta, confuso.

- Veio saber como estou ou se eu gostei de ter bebido soju em Eun?

- Eu... - Jimin passa as mãos em seus cabelos, jogando-os para trás. - Eu não sei, gatinho...

Basta ele me chamar pelo apelido que meu despretensiosamente que sinto meu corpo se arrepiar, lembrando de sua voz me chamando assim enquanto estávamos juntos em minha cama, nos tocando. As imagens que tomam conta de minha mente me fazem estremecer, balançando a cabeça a fim de espantá-las.

- Não me chama assim. - peço, em um sussurro.

Novamente nosso olhar se cruza e percebo como sua sobrancelha se franze, assim como sinto meus olhos lacrimejando. Não contenho as primeiras lágrimas a saírem de meus olhos, as enxugando antes que ele perceba, mas é tarde demais, porque ele diz:

- Você está chorando?

Nego com a cabeça, mas sei que é óbvia minha mentira, já que soluço mais alto do que gostaria. Abaixo a cabeça, tentando enxugar minhas lágrimas e ouço sua voz mais uma vez:

- Gatinho, não chore...

É só Jimin me chamar assim mais uma vez que sinto mais lágrimas saindo, porque senti sua falta nessas últimas semanas. Claro que isso tudo é responsabilidade do álcool em meu corpo e, quando vejo, Jimin está parado em minha frente, levando suas mãos até as minhas, mas as afastando no último momento.

Então, sem que seja minha vontade, eu explodo, mas de uma maneira diferente de como explodi com Daeshin no carro: dessa vez eu não sinto raiva, apenas tristeza. Tristeza pelo o que eu disse para Jimin, tristeza por saber que provavelmente passa por problemas em sua casa e tristeza por entender que sinto sozinho, que ele vai continuar beijando outros caras.

Talvez possa dizer que é o álcool em meu corpo, mesmo que não tenha bebido muita coisa, posso dizer que é a impulsividade que Jimin desperta em mim ou tentar entender o que me faz sentir necessidade de lhe dizer o que digo a seguir, deixando as palavras fluírem de meus lábios:

- Eu... Me desculpa pelas coisas horríveis que eu te disse, Jimin. - consigo dizer, entre as lágrimas que caem de meus olhos. - Você entendeu errado... Não deixa de ser ruim, mas quando disse que não me envolveria com um cara como você, quis dizer sobre você ser desapegado, beijar vários e não se relacionar sério, quando eu sempre fui ao contrário.... Não estava falando sobre dinheiro...

- Tudo bem, gatinho...

- Você tem que saber disso. - finalmente, levanto meu olhar, o encontrando tão próximo a mim, como não imaginei mais que estaria. Seus olhos bonitos percorrem meu rosto e eu faço o mesmo, dizendo: - Eu não penso nada daquilo... Eu falei aquelas coisas porque estava com medo de tudo isso que sinto... Mas não tinha direito de descontar em você. Então, por favor, me desculpe.

- Está tudo bem, gatinho.

Jimin leva seu polegar até meu rosto, passando embaixo de meu olho direito e limpando as lágrimas que se encontram ali. Não consigo deixar de acompanhar seus olhos, que se prendem ao meu rosto e observar os detalhes do seu, tão bonito. Algumas lágrimas apenas continuam caindo de meus olhos e digo, sabendo que o ímpeto de coragem que sinto pode desaparecer a qualquer momento:

- Eu quero ser seu amigo, Jimin. Eu só... Eu só preciso colocar minha cabeça no lugar. Sua amizade é mais importante para mim do que qualquer outro sentimento estranho que eu sinta. Não quero que pense que não quero mais ser seu amigo porque... - as palavras se entalam em minha garganta, o que me faz desviar os olhos para baixo e dizer: - Porque não sente o mesmo por mim...

Ele não diz nada, repetindo sua atitude com meu outro olhar, limpando as lágrimas ali calmamente. Assim que limpa todas e fico feliz ao ver que não sinto mais vontade de derramar nenhuma, ele olha para os meus olhos e consigo, pela primeira vez hoje, distinguir suas emoções.

Porque Jimin esbanja melancolia, da mesma maneira que observei quando estávamos no topo do prédio depois de irmos ao cinema. Contudo, não é apenas melancolia que seus olhos bonitos refletem, como também clara confusão: ele parece travar uma batalha interna consigo mesmo, intensamente. A forma como sua respiração está desregulada e parece nervoso, ansioso com algo, corrobora para que seus atos pareçam ainda mais confusos.

Tenho vontade de lhe dizer que está tudo bem, seja lá o que for, porque vê-lo dessa maneira é ruim, mas muito ruim mesmo. Eu quero protegê-lo de toda a maldade do mundo, garantindo seu bem estar e felicidade.

Mas não posso fazer isso.

- Eu não sei o quanto você se interessa por esses assuntos, mas já ouviu falar de cosmos?

Sua pergunta, aparentemente aleatória, me pega de surpresa e ele não espera minha resposta, logo dizendo:

- O cosmos é como se fosse tudo que existe no universo, desde o microcosmo até o macrocosmo. - seus dedos descem, indo até meu braço e tocando meu pulso, me arrepiando por ter seu toque depois de uma semana sem senti-lo. - Quando eu olho para você, seu olhar é como se fosse o cosmos, representando o universo em sua totalidade.

- Não entendo, Jimin...

- Eu tenho medo do seu olhar. - ele me interrompe, me fazendo franzir a sobrancelha. - Eu tenho medo porque ele parece ler minha alma, como se fosse o cosmos e soubesse de tudo. E eu tenho medo do que você vai encontrar se olhar muito fundo, Jungkook. Se já na superfície há decepção, o que te aguarda se mergulhar um pouco mais?

- Jimin...

- Você merece alguém muito melhor do que eu, gatinho. - ele pega minha mão, trazendo-a até seu rosto e deixa um selar suave, que me faz ofegar baixo ao sentir sua boca em contato com meu corpo. - Alguém que esteja disposto a mostrar para o seu cosmos quem realmente é, todas as camadas...

- Mas eu quero você, Jimin. - falo, sinceramente, vendo sua expressão vacilar. - Você não sabe o quanto eu te quero...

- Não fala isso...

- É a verdade! - digo mais incisivamente, abrindo meu coração. - Eu não posso mentir para você ou para mim mesmo, Jimin. Eu quero apenas você.

- Gatinho...

Jimin parece completamente sem jeito, segurando meus pulsos e me olhando com pesar. É isso, não é? Ele não sente o mesmo por mim, do que adianta eu falar tais coisas? Por que continuo insistindo sabendo que vou me magoar?

Instintivamente, dou um passo para trás, me distanciando de seu toque.

- Mas você já me disse que não sente o mesmo por mim. - falo, sabendo que preciso cortar esse sentimento de uma só vez. - Eu preciso de um tempo, preciso tirar isso de mim...

Dou alguns passos em direção a porta, a fim de sair o mais rápido possível dali, mas sinto sua mãe me agarrando, puxando meu corpo em direção ao seu e fico frente a frente a seu rosto, sentindo sua mão segurando meu braço e a outra descendo até a minha cintura, o que me faz ofegar baixo. Sua respiração contra meu rosto e seus olhos fixos aos meus me deixam sem palavras, mas ele mesmo quebra o silêncio ao dizer:

- Você não sabe o que está falando.

E beija meus lábios, fazendo-me fechar os olhos no mesmo instante, enquanto sinto suas duas mãos se alojando em minha cintura e me puxando de encontro ao seu corpo. Minhas mãos rapidamente vão até seus cabelos, sentindo os fios macios em meus dedos, percebendo como senti falta de seus toques mesmo que os tenha provado apenas uma única vez.

Porque eu pareço completamente viciado em Jimin e, utilizando de suas próprias palavras, é como se todo o microcosmos e macrocosmos dentro de mim ressoasse Jimin, apenas ele. Então o beijo, sentindo sua língua encontrar a minha e me fazer gemer baixo contra seus lábios, meu corpo inteiro reagindo ao seu.

É como se eu sentisse seu corpo quente e suponho que o meu não deve estar diferente, mas é curioso como ele tenta ser calmo, girando meu corpo até que eu sinta a parte de trás dos meus joelhos batendo na cama e separa nossos lábios, o que me faz o olhar e ver em seus olhos semicerrados nada além de desejo. Não há mais melancolia e confusão, apenas desejo que transbordam em suas íris escuras e deito na cama, abrindo minhas pernas e vendo-o suspirar, enquanto se encaixa no meio delas.

É imediato: voltamos a nos beijar enquanto sinto seu corpo acima do meu e enlaço sua cintura com minhas pernas, desejando sentir ainda mais de Jimin quando sua língua se enrosca com a minha e em seguida desce até meus lábios, chupando-os e me fazendo suspirar, tentando segurar meus gemidos.

Estar dessa maneira com Jimin é o que desejei desde que entendi que me sentia diferente por si e estar lhe tendo pela segunda vez é completamente surreal. Sentir sua mão descendo até minha cintura enquanto suga meus lábios com tanta vontade, o som de nossas respirações frenéticas e os barulhos molhados que nossos beijos ecoam é a manifestação de meus desejos por Jimin, porque eu o desejo muito.

E, por desejá-lo nessa intensidade, é como se estivesse completamente imerso em nosso momento, tão imerso que não vejo o momento que a porta se abre, apenas quando uma voz bastante conhecida por mim diz:

- Eu não acredito nisso.

Paramos de nos beijar no mesmo instante e Jimin sai de cima de mim, ficando ao meu lado na cama. Seus olhos não mais refletem todo o desejo que estava há poucos momentos atrás, mas sim um poço de culpa e de preocupação.

- Eu posso explicar, Seokjin...

Seokjin balança a cabeça e estranho sua reação, envergonhado por ter sido pego em uma situação como essa com Jimin. Sinto minhas bochechas quentes, desviando meu olhar entre os dois, que parecem travar uma batalha.

- Acho que isso... - Seokjin fala, gesticulando para nós dois. - Já diz tudo.

- O que está acontecendo? - pergunto, vendo que há algo entre os dois que não estou entendendo.

- Jungkook, eu acho melhor... - Jimin começa, mas Seokjin o interrompe e diz:

- Por que você não fala para ele? - seu tom de voz sério e bravo demonstra que há algo de muito errado. Nunca antes vi Seokjin dessa maneira, porque ele não parece apenas irritado, como também magoado.

- O que está acontecendo? - repito meu questionamento, saindo da cama e ficando em pé, trocando meu olhar de um para o outro.

Jimin passa as mãos em seus cabelos e seus olhos parecem ainda mais pesarosos, como se estivesse se sentindo mal com alguma coisa. Ele abre a boca para falar, mas imediatamente fecha, como se não soubesse o que dizer.

- Eu não esperava isso de você, Jimin. - Seokjin fala, demonstrando toda sua decepção. Ele faz menção de dar as costas e ir embora, mas sou mais rápido e digo:

- Alguém pode, por favor, me dizer o que está acontecendo? - sinto o álcool em meu sangue fazer com que eu fique irritado por estar sendo deixado de lado nessa discussão ou seja lá o que isso for.

- Seokjin está magoado comigo porque viu nós dois nos beijando. - Jimin fala, com a voz baixa e recheada de culpa.

Não entendo porque isso deixaria Seokjin magoado e por isso me viro para ele, perguntando:

- E por que está magoado?

Ele não responde de imediato, vejo seus ombros caírem em derrota, seu olhar tornar-se mais melancólico, como nunca antes vi em seu rosto. Sua roupa mais séria e cabelos sempre perfeitamente alinhados, é diferente vê-lo nessa posição, já que Seokjin sempre parece ser inabalável e centrado em tudo que diz e faz. Mas, dessa vez, ele não demonstra nenhuma estabilidade ao dizer, em um tom baixo e triste, as palavras que nunca antes pensei ouvir sair de seus lábios:

- Porque eu sou completamente apaixonado por você, Jungkook. 

📷


Eai, amores, como estão?

Primeiro queria dizer que acabei me empolgando nesse capítulo e escrevi 18k... O que vcs acham, preferem que eu diminua para os próximos? 

Me contem o que acharam desse capítulo, qual a parte favorita de vcs? 

E a revelação do Seokjin, vcs esperavam? O que vcs acham que vai acontecer agr entre eles? 

Não esqueçam de comentar e votar! Até a próxima, pessoal :)



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