Um Lugar para Nós Dois

By mylendo

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Camilla é uma garota extrovertida, cercada de amigos e que está sempre frequentando festas e bares ao redor d... More

Prólogo
Um encontro Perfeito
Revelações
O Festival
O jantar desastroso
Segredos
De volta a rotina
Girassóis
Boas notícias
Brigadeiro e Mojito
Cativeiro
Plantação de Girassóis
Capítulo Especial: O início
Resgate
Amigos
Outro Lado da História
Um copo de whisky ou dois
De volta ao quase normal
Uma tarde no parque
Mais um ponto de vista
Uma folga nos problemas
A Fuga
Telefonemas
Hospital
Um acordo
Parceiros
Família
O pai e o irmão
Redenção
Conversa Sincera
Despedidas
Formaturas e presentes
Epílogo
Agradecimentos

Jonas

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By mylendo

Eu estava sentada no sofá de casa com a detetive Samantha à minha frente, ela era a responsável por investigar meu sequestro. Eu havia acabado de descrever o homem dos cabelos descoloridos e o local para onde fui levada, o barracão, a plantação em volta, a estrada e as luzes próximas, o bosque... todos os detalhes que eu me lembrava.

– Se lembra do carro? – Ela perguntou.

– Era um sedan preto, não sei dar mais detalhes. Marca, modelo, ano... eu não entendo nada de carros.

– Conseguiu ver a placa?

– Também não, na verdade nem me passou pela cabeça olhar a placa.

– Tudo bem, isso já é o bastante. Amanhã falaremos com o senhor Bernardo Costolli também e vemos se ele pode agregar mais informações – ela disse lendo em suas anotações – Tem algo mais que queira acrescentar?

– Tem – me lembrei das coisas que ouvi – o sequestro foi encomendado.

– O que? Por quem? – Meu pai que estava ao meu lado se surpreendeu.

– Não sei, mas eles mencionaram algumas vezes um "playboyzinho", dizendo que ele tinha me escolhido, que ele impedia que me matassem e após eu tentar fugir eles falaram com ele por telefone, os bandidos queriam um pagamento maior.

– E você tem alguma ideia de quem possa ser essa pessoa?

– Não, não consigo pensar em ninguém.

– Certo. Obrigada pela colaboração, senhorita – ela disse se levantando. – Se lembrar de algo mais que possa ser relevante, por favor me ligue. Teu pai tem o meu cartão.

– Obrigado, detetive – meu pai agradeceu.

– Vamos encontrar os responsáveis. Tem minha palavra – ela disse olhando para mim.

– Sim, – concordei confiante – obrigada.

Eu, meus pais e Jonas estávamos na mesa de jantar comendo o que minha mãe havia preparado, eu senti tanta falta do arroz dela que não tinha como descrever. Mentalmente agradecia por estar de volta e ilesa. Apesar das cenas que rodavam minha mente, eu sabia que não passava de lembranças ruins que eu superaria em breve.

– Jonas, vai mesmo passar a noite aqui? – Minha mãe perguntou – Eu vou preparar o quarto de hóspedes.

– Na verdade, mãe, eu pedi para ele ficar no meu quarto – e expliquei – não quero ficar sozinha.

– Tudo bem, filha. Eu entendo – ela sorriu gentil como sempre.

– Bom, então já que você tem companhia, eu já vou dormir – meu pai disse me dando um beijo na testa.

Meus pais subiram as escadas enquanto eu e Jonas ficamos sozinhos na mesa de jantar.

– Obrigada por vir – falei com a voz embargada.

– Melhores amigos são para isso – ele disse me puxando para um abraço – Eu não tenho ideia do que faria se você não voltasse logo. Sério, Cami. Eu fiquei muito preocupado.

Não respondi. Eu não sabia como responder àquilo. Jonas e eu crescemos muito próximos, nossa amizade passou por várias fases, incluindo o namoro adolescente que agora parece ter sido a fase mais estranha desses anos, mas ele nunca deixou de ser a pessoa em quem eu mais confiava. Eu não me via sem o Jonas e tenho certeza do quão ruim foi para ele cogitar a possibilidade de ficar sem mim, não há dúvidas de como sentiu minha falta.

Já havia algum tempo que eu estava na minha cama encarando o teto mal iluminado pela fresta de luz que passava pelo meio da cortina, Jonas estava deitado na cama-auxiliar que saía da minha. Eu correndo no meio do bosque. Eu não conseguia fechar o olho sem que as cenas assustadoras dominassem meus pensamentos. Eu dentro do porta-malas.

– Jonas... tá dormindo? – Sussurrei.

– To – ouvi em resposta.

– Mentira! Não to te ouvindo roncar – ele imitou o barulho de um ronco – agora sim está dormindo – ri.

– Precisa de alguma coisa?

– Não – fiquei em silencio.

– Tá tudo bem? – Ele perguntou após algum tempo.

– Eu senti tanto medo... – meus olhos ficaram marejados novamente.

Jonas não disse nada, apenas colocou sua mão em cima do meu colchão para que eu a segurasse. Ele havia feito isso quando tínhamos 6 anos e eu precisava tomar uma injeção, depois aos 9 anos quando tive medo de atravessar a ponte de madeira no acampamento de férias. Aos 12 quando eu estava com medo de apresentar um trabalho na escola. Aos 17 quando esperava a nota do vestibular e estava com medo de não passar. Era o jeito dele me dizer que tudo ficaria bem e que ele estava ao meu lado. Coloquei minha mão sobre a sua e segurei firme até me sentir mais segura.

– Como está você e a Débora? – Mudei de assunto.

– Estamos bem – ele disse com um risinho – ela é... eu não sei. A Débora me faz muito bem.

– Isso me deixa feliz, sabia? Vocês dois realmente combinam.

– Eu acho que a gente tá namorando.

Acha? – Virei no colchão para encará-lo abaixo de mim – Como assim "acha"? Você pediu e ela não respondeu?

– Digamos que eu não pedi.

– Então vocês não estão namorando, Jonas!

– É quase como se tivéssemos, nos vemos com frequência, nos falamos o dia todo quando estamos longe, meus pais conhecem ela e eu só não conheci os pais dela ainda porque eles não vieram visita-la, mas eles sabem da gente.

– Mas não teve pedido – reforcei.

– Eu fico nervoso, Cami – ele se sentou exasperado. – Quando olho para ela eu esqueço tudo e não sei como falar, as palavras não saem da minha boca. Eu fico com medo – ele admitiu por fim.

Dessa vez fui eu quem estendi a mão, ele sorriu e voltou a deitar ainda a segurando.

– E se você escrevesse?

– Cami, você me deu uma ótima ideia – Jonas disse animado.

Acordei com a claridade invadindo o quarto, Jonas já não estava mais no colchão em que dormiu porque tinha aula de manhã. Fui até o banheiro e resolvi tomar um banho, eu estava suada por conta dos pesadelos durante aquela noite. Desci as escadas com o cabelo ainda molhado e encontrei minha mãe lendo no sofá.

– Bom dia, dormiu bem?

– Não exatamente, – falei deitando em seu colo – muitos pesadelos.

– Quer que eu te faça um chá? Erva doce, talvez...

– Por favor, mãe. Seria ótimo.

– Antes toma isso aqui – ela me estendeu uma caixinha – Quando a polícia localizou teu celular ele estava todo danificado, sem condições de uso. Esse chip tem o mesmo número, é só configurar do jeito que você gosta.

– Obrigada – dei um beijo em seu rosto enquanto pegava o celular.

Liguei o aparelho, sincronizei os dados com o antigo e abri minhas mensagens. Mandei bom dia para Bernardo avisando que já estava acordada e que havia recuperado meu telefone, alguns minutos depois ele respondeu dizendo que estava na delegacia aguardando para prestar seu depoimento, Samantha havia entrado em contato com ele pela manhã solicitando que fosse até lá. Também me disse que a tarde viria até minha casa ver como eu estava e passar um tempo comigo.

O grupo com a galera tinha muitas mensagens dos últimos dias, mas eu não queria ler o que conversaram para não reviver as memórias, apenas enviei um bom dia e começaram a perguntar como eu estava. Respondi carinhosamente meus amigos agradecendo a preocupação e também avisei da minha decisão de me afastar da faculdade por uns dias, meu pai conversaria com o reitor e ele se encarregaria do restante.

Tomei o chá que minha mãe ofereceu e fiquei ali no sofá com ela, acabei adormecendo mais um pouco enquanto ela lia e dessa vez tive um sono tranquilo sem sonhos. Quando despertei ela já não estava mais ao meu lado e eu tinha uma manta sobre mim, me sentei olhando para a tela do celular e não pude acreditar no vídeo que rodava na tela, corri até a cozinha onde Glorinha e minha mãe conversavam preparando o almoço.

– Gente, vocês precisam ver isso aqui! – Falei me sentando com elas atrás de mim olhando o celular.

O vídeo mostrava Jonas em frente a um dos blocos da faculdade que eu reconheci sendo do curso de gastronomia, era lá que Débora estudava. Ele estava com balões de gás hélio em forma de estrelas prateadas e corações vermelhos em uma das mãos, na outra um buquê de flores vermelhas, acredito que eram cravos, pois ela havia dito a ele que eram suas favoritas. Até no vídeo eu podia ver que ele estava nervoso.

Haviam muitas pessoas paradas em frente ao bloco assistindo o momento, quando Débora apareceu na porta Jonas caminhou até ela estendendo o buquê sob os gritos e aplausos de todos em volta. Ela pegou as flores e delas tirou um cartão, eu sabia o que estava escrito. A garota soltou um sonoro "sim" para a pergunta gravada no papel: quer namorar comigo?

Débora lançou seus braços no pescoço de Jonas que a rodou no ar, muitas palmas, gritos e assovios não permitiam que a gente entendesse o que eles diziam um para o outro, se bem que nem precisava, a felicidade do casal era palpável. Eles se beijaram e novamente a gritaria. O vídeo encerra com Heitor virando a câmera para si mesmo e gritando como se comemorasse um gol de seu time favorito.

– Que lindo! – Glorinha gritou ao meu lado.

Nós três rimos e enxugamos algumas lágrimas discretas nos cantos dos olhos, eu estava genuinamente feliz por Jonas e Débora. Meu amigo realmente merecia alguém como ela ao seu lado, são duas pessoas boas que farão bem uma a outra. Pensei nisso enquanto ajudei a terminar o almoço, arrumamos a mesa e aguardamos meu pai voltar da emissora, quando ele chegou contamos a novidade com empolgação durante a refeição.

– Eles já não namoravam? – Ele perguntou confuso.

– Eles ficavam, – minha mãe explicou didática – é o jeito dos jovens dizerem que estão juntos, mas sem compromisso.

– É isso – concordei – digamos que agora ele oficializou a relação.

– Jovens inventando moda – ele deu de ombros.

– Quer ver o vídeo? – Perguntei já me levantando para pegar o celular.

– Como se houvesse escolha – brincou.

­– Realmente não tem – brinquei de volta.

Meu pai assistiu ao vídeo enquanto nós retirávamos as coisas da mesa e Glorinha começava a lavar a louça, ele tinha uma expressão divertida no rosto e comentava que o garoto puxou ao pai, até contou que há muitos anos a mãe de Jonas também havia sido pedida em namoro com flores, meu pai os conhecia desde essa época.

Ouvimos o celular dele tocar lá na sala e ele se levantou para atender, subi para o meu quarto, Bernardo deveria estar chegando e eu sequer tinha penteado o cabelo após o cochilo no sofá. Demorei um certo tempo com o secador e a chapinha para tirar as marcas que deitar com o cabelo molhado causou nos fios. Já com as madeixas organizadas, tornei a descer as escadas, meu pai estava no sofá com uma expressão preocupada, com o celular ainda em mãos mesmo já tendo desligado a ligação ele caminhou até mim.

– O que houve? Quem era? – Eu perguntei.

– Era a detetive Samantha. – Ele hesitou antes de continuar – A polícia tem um suspeito do teu sequestro, a detetive está vindo para cá.

Notei que a imprensa já se organizava bloqueando a entrada da minha casa, eu ainda não estava pronta para nenhuma entrevista por isso permaneci no sofá fora do campo de visão. Ao entrar, Samantha veio ao nosso encontro e sem qualquer cumprimento foi direto ao assunto.

– Recebemos a denúncia de uma casa que ficou alguns dias sem ninguém e agora voltou a ter movimentação, a data bate com o tempo que você esteve em cativeiro. Na garagem havia um sedan preto e o dono corresponde às características que você nos passou.

– Eu preciso reconhece-lo ou algo assim? – Perguntei e ela negou com a cabeça.

– Ele confessou o crime, aqui está a foto dele – me estendeu uma folha com o rosto daquele homem de cabelos descoloridos. – Ele é conhecido como Soares e tem diversas passagens pela polícia.

– É ele mesmo – falei devolvendo a foto sentindo um calafrio em meu corpo.

– Nós não localizamos o dinheiro do resgate, mas temos uma informação ainda mais relevante. O Soares fez um acordo com a promotoria para entregar o mandante do sequestro.


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