Um Lugar para Nós Dois

By mylendo

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Camilla é uma garota extrovertida, cercada de amigos e que está sempre frequentando festas e bares ao redor d... More

Prólogo
Um encontro Perfeito
Revelações
O Festival
O jantar desastroso
Segredos
De volta a rotina
Girassóis
Boas notícias
Brigadeiro e Mojito
Cativeiro
Plantação de Girassóis
Capítulo Especial: O início
Jonas
Amigos
Outro Lado da História
Um copo de whisky ou dois
De volta ao quase normal
Uma tarde no parque
Mais um ponto de vista
Uma folga nos problemas
A Fuga
Telefonemas
Hospital
Um acordo
Parceiros
Família
O pai e o irmão
Redenção
Conversa Sincera
Despedidas
Formaturas e presentes
Epílogo
Agradecimentos

Resgate

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By mylendo

Não consegui dormir naquela noite por conta das dores e do desconforto que as cordas causavam seja arranhando minha pele ou limitando meus movimentos. Depois do que me pareceu uma eternidade, os raios do sol começaram a surgir tímidos pelas frestas da janela, parecia estar nublado e isso tornava o dia ainda mais melancólico. Me sentei e alcancei a garrafa de água, o liquido estava quente como das outras vezes e novamente não me importei, tomei o suficiente para matar a sede. Novamente barulho na porta e o homem encapuzado surgiu.
 
– Eu deveria te deixar sem comer – ele disse arremessando o pacote pardo em minha direção.
 
– Obrigada – falei alcançando o pacote. – Pode me desamarrar para eu comer?
 
– Para você correr pelo meio do mato de novo? – ele falou com rispidez – Sem chances! Se vira ai, amarrei tuas mãos, não tua boca. To fazendo muito de te deixar comer.
 
Ele virou as costas e bateu a porta com força ao sair. Com dificuldade peguei o pacote pardo retirando o pão amanhecido de dentro dele, mais uma vez comi sem reclamar sabendo que aquela era a única refeição do dia e meu estômago quase doía de fome. Por falar em dor, eu já conseguia movimentar meu tornozelo sem sentir nada, me restava apenas o desconforto de ter me deitado de mal jeito com os nós e as amarras.
 
O céu continuava fechado e uma pancada de chuva despencou do céu, eu continuei sentada encarando o chão sem ter noção do tempo que passou, meus olhos começaram a pesar pela noite passada em claro e cochilei com a cabeça encostada nos joelhos. Não percebi o momento que me deitei, mas foi assim que me encontrei quando abriram ruidosamente a porta. Me sentei com um salto enquanto o homem sem capuz agachava na minha frente.
 
– Presta atenção em como vai ser – ele disse apontando o dedo bem próximo ao meu rosto – eu vou soltar teus pés agora e a gente vai até o carro. Você vai bem boazinha, sem nenhuma gracinha ou eu juro que eu te mando pro teu pai com um furo na testa. Entendeu?
 
Assenti com movimentos rápidos e desesperados. Ele começou a desfazer o nó dos meus tornozelos deixando uma boa quantidade de corda pendurada a partir do meu pulso. Ele me fez levantar e com a corda remanescente fez algumas voltas em sua mão me puxando como se fosse algum tipo de coleira ou cabresto. O homem encapuzado aguardava no banco do motorista, ali fora éramos apenas eu e o do cabelo descolorido caminhando na chuva em direção ao carro, ele abriu o porta-malas e me mandou entrar.
 
– Por favor... – eu implorei.
 
– Entra logo – ele gritou.
 
– Não me faz entrar aqui, me deixa ir no banco de trás.
 
– Tá maluca? Teu pai colocou teu rosto em tudo quanto é horário na emissora dele, se virem você... – ele não completou.
 
– Eu fico abaixada, eu prometo... por favor...
 
– Entra. Logo. Nessa. Merda. – ele disse entre dentes.
 
Me ajeitei como pude naquele cubículo, o homem jogou a corda para dentro e fechou o porta-malas me deixando no escuro novamente. Eu havia me molhado bastante no trajeto até o veículo e sentia um pouco de frio, começamos a nos movimentar e dentro do carro eu ouvia novamente uma música baixa, depois de um longo trajeto comecei a ouvir barulho de outros carros, deveríamos ter entrado na área urbana, ainda assim não paramos.
 
O carro finalmente estacionou e desligou o motor, a música parou e ouvi as portas se abriram, mas eu continuei trancada ali. Os passos se aproximaram e eles começaram a conversar.
 
– Beleza cara, não vai ter erro. É ele quem vai levar a grana, não tem erro.
 
– Certo. Deixa comigo – reconheci a voz do cabelo descolorido.
 
Passos novamente, somente uma das portas se abriu e o carro voltou a andar. Passou-se bem menos tempo dessa vez, mas o barulho de carros diminuiu novamente, a estrada era acidentada e eu balançava muito dentro do porta-malas, eu tinha certeza que iria vomitar se aquilo não acabasse logo, diversas vezes precisei engolir o refluxo. Então paramos novamente e finalmente o porta-malas se abriu.
 
Devia ser por volta de meio-dia, o sol estava alto no céu apesar do clima ainda nublado, meus olhos doeram por conta da claridade e tive dificuldade de sair do carro e o homem dos cabelos descoloridos me puxou para fora com força me fazendo pisar na lama. O chão era apenas barro. Olhei em volta, eu conhecia aquele lugar, era o sítio do pai do Bernardo, mas dessa vez eu estava na estrada antes de entrar pela porteira. Fui puxada de trás do carro e lá estava ele há alguns metros de distância, uma mochila preta nas mãos, do lado de fora da camionete, os olhos negros estavam vermelhos e inchados aparentando um choro recente.
 
– A grana tá aí? – o homem atrás de mim gritou, Bernardo assentiu. – Abre pra eu ver.
 
Bernardo obedeceu e abriu a mochila devagar enquanto o homem ainda me segurava forte. Só nesse momento percebi que o revólver estava apontado para minha têmpora direita, eu podia sentir o gelado do metal em minha pele.
 
– Beleza, agora passa a mochila pra cá.
 
– Primeiro solta ela – Bernardo disse firme, mas o medo transparecia em sua voz.
 
– Você vai trazer a mochila até a metade do caminho, deixar ela no chão e voltar para o lugar que você está. Eu pego a grana e solto ela, entendeu?
 
De novo Be assentiu e obedeceu, caminhou um pouco rápido demais e o homem gritou para ele ir mais devagar, antes que chegasse muito perto, gritou para que ele parasse e deixasse a mochila no chão e voltasse para perto da camionete. Feito isso, fui impelida para andar, a arma ainda encostada em minha cabeça. Fomos até a mochila, ele me empurrou para frente com força me fazendo cambalear enquanto alcançava o dinheiro no chão.
 
Assim que me vi livre das mãos dele corri em direção a Bernardo o mais rápido que eu conseguia, mas o mundo parecia estar em câmera lenta. Be me aguardava com os braços abertos enquanto eu me aproximava. Um estalo alto me fez congelar, automaticamente percebi que era um tiro, me lancei ao chão com um grito. Tudo isso em um intervalo de 1 segundo. Atrás de mim o carro em que eu fui transportada acelerava para longe, Bernardo havia me alcançado onde eu estava no chão.
 
– Cami, amor. Você se machucou?
 
– Não, – ele me ajudou a levantar me abraçando – e você? Ele atingiu você?
 
– Não, olha. Ele atirou no pneu – atrás dele o ar vazava através do buraco de bala. – Você tá bem?
 
Eu não sabia responder.
 
– Cami, você tá de volta. Meu amor, você tá de volta! – novamente um abraço forte. – Deixa eu te ajudar com isso aqui.
 
Bernardo desamarrou a corda em meu pulso com cuidado vendo os machucados que elas causaram, sem me importar com quanto doíam abracei Be com força rezando para que aquilo fosse real. Era real. Os braços dele em volta de mim, a sensação de calor que emanava dele, o afago nos meus cabelos... eu realmente estava de volta, estava livre daquele pesadelo. Chorei de alívio, de gratidão. Eu só queria continuar ali abraçada com ele no meio do nada enquanto a chuva fina caia sobre a gente.
 

 
Depois de uma ducha quente eu estava no sofá da minha casa com uma sopa quente nas mãos preparada por minha mãe. Jonas e Glorinha falavam da angústia que sentiram nos últimos dias, meus pais ao meu lado concordavam com tudo, Bernardo estava no meu quarto tirando as roupas enlameadas, descobri que ele praticamente havia se mudado para lá porque queria estar a par de toda a situação.
 
Eu ouvia tudo o que diziam, mas não era capaz de responder. Apenas tomava a sopa devagar enquanto as cenas daquele pesadelo terrível rodavam em minha cabeça, meus pulsos ainda tinham as marcas da corda, meu corpo continuava dolorido e cansado, minha testa tinha um grande arranhão desde a tentativa de fuga. E tinha a imagem daquele homem dos cabelos amarelos com seu rosto carregado de maldade e ameaças.
 
– Filha, vai descansar – minha mãe falou.
 
– Isso Cami, – meu pai concordou – logo a polícia virá falar com você e também um médico. Tenta dormir um pouco.
 
– Não quero ficar lá em cima sozinha – pedi em voz baixa.
 
– Eu fico com você – Bernardo estava no pé da escada – se você quiser.
 
– Quero – disse me levantando.
 
Antes de subir dei um abraço em Jonas e Glorinha, agradeci por estarem ali e por toda a preocupação. Be subiu comigo até o quarto, se deitou ao meu lado na cama e me aconcheguei em seu peito enquanto ele acariciava meu rosto. O sono deixava meu olho cada vez mais pesado e eu não tentei resistir, adormeci sentindo o cheiro de Bernardo e a maciez da minha cama. Um pouco de paz depois de tanto desespero.
 

 
Os cabelos amarelos, o sorriso cruel, as ameaças, as cordas, a plantação de girassóis. Eu corria pelo meio do mato sem fôlego, mas não importava o quanto eu corresse eu não saía do lugar, a lanterna atrás de mim cada vez mais perto, cada vez mais perto... eu corria e mesmo assim estava cada vez mais perto. Então o homem por trás da lanterna chamou o meu nome e era a voz de Bernardo:
 
– Cami, acorda!
 
Abri meus olhos assustada e lá estava ele sentado na cama ao meu lado com o olhar preocupado.
 
– Calma amor, tá tudo bem.
 
– Eu tava lá de novo, aquele homem estava atrás de mim, ele tava me alcançando e era você – falei atropelando as palavras.
 
– Foi só um pesadelo, já passou. Você tá em casa agora. Tá segura.
 
Essas palavras me acalmaram. Entendi que estava em casa e no meu quarto, que o pesadelo havia acabado e estava longe daqueles homens e aquele lugar terrível, me joguei contra Bernardo em um abraço sentido enquanto ele continuava repetindo que estava tudo bem e afagava meu cabelo.
 
– A médica chegou, tá la embaixo te esperando. – avisou quando me acalmei – Prefere descer ou quer que ela venha até aqui?
 
– Pede pra ela vir, por favor – pedi me ajeitando na cama.
 
Ele foi até o parapeito da escada e deu um sinal para ela subir, eu sabia que era a dra. Greta, amiga dos meus pais que cuidava de mim desde a adolescência quando deixei de ser atendida pela pediatra. Enquanto ela subia as escadas Bernardo se aproximou e disse:
 
– Eu vou pra casa agora, depois da consulta você vai precisar falar com os policiais e descansar. Amanhã eu volto pra ver você, tudo bem?
 
Assenti concordando.
 
– Então até amanhã – disse depositando um beijo em minha boca e virando para sair do quarto.
 
– Be... – chamei
 
– Oi?
 
– Eu te amo.
 
O rosto dele se iluminou em um sorriso, aquele lindo sorriso. Ele voltou correndo e me deu mais um beijo rápido, dra. Greta aguardava na porta, ele passou por ela se despedindo e desceu as escadas. Greta, uma mulher grisalha, corpo esbelto. Sempre com sandálias de salto baixo e cabelos presos, dessa vez sem o jaleco que usava na clínica se aproximou de mim sorrindo com uma maleta nude em mãos.
 
– Depois desse momento romântico acredito que esteja tudo bem com você – retribui suas palavras com um sorriso. – E então, alguma queixa? Dor física?
 
– Eu torci meu pé ontem, mas acho que agora tá bem. Eu só sinto um desconforto no corpo pela posição em que fiquei amarrada e uma forte dor de cabeça.
 
– Ok, vou checar algumas coisas e se necessário a gente colhe mais exames.
 
Ela começou testando meu reflexo ocular com uma pequena lanterna, em seguida mediu minha pressão arterial, ouviu os batimentos cardíacos e o pulmão com o estetoscópio, aferiu minha temperatura corporal e analisou o corte na testa. Por fim pegou meu tornozelo, movimentou meu pé de um lado para o outro perguntando se eu sentia dor, satisfeita deu o diagnóstico:
 
– Os sinais vitais estão normais, o corte na testa é superficial e já está cicatrizando, o tornozelo não mostra sinais de lesão grave, deve ter sido uma torção leve. Você apresenta alguns sinais de desidratação, isso atrelado a todo o stress explicam a dor de cabeça. Recomendo ingerir muito líquido e descansar o máximo que puder.
 
– Obrigada, doutora.
 
– Preciso dizer que os líquidos não são alcoólicos, Camilla? – ela riu.
 
– Não precisa, – ri também – estou ciente.
 
– Ótimo, agora se cuida, mocinha. Tente se alimentar bem também, ok?
 
Assenti mais uma vez.
 
– Vou descer e falar com teus pais. Pode tomar esse analgésico para a cabeça – retirou uma cartela de comprimidos da bolsa – a cada 8h enquanto houver dor, mas acredito que tomando bastante água e dormindo bem não deve passar de amanhã.
 
– Mais uma vez, obrigada.
 
Ela saiu pela porta e eu peguei um dos comprimidos colocando-o na boca, peguei um copo de água que estava na mesa de cabeceira ao lado de um girassol que Bernardo havia deixado para mim. Eu correndo no meio da plantação. Engoli o comprimido com auxílio da água e fui até o banheiro. Escovei meu cabelo, passei uma água no rosto e resolvi descer para a sala.
 
– Fiquem à vontade para me ligar a qualquer momento – dra. Greta se despedia dos meus pais enquanto eu descia as escadas.
 
Minha mãe a acompanhou até a porta enquanto meu pai me via descer as escadas, seu rosto tinha olheiras enormes evidenciando a preocupação do tempo que fiquei ausente. Ele esperou que eu me aproximasse para me dar um abraço apertado.
 

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