Fullgás • Jjk + Pjm / jikook

By FANFUNK_

72.3K 8.1K 1.6K

CONCLUÍDA ✓ Jungkook é um garoto atípico com a maturidade emocional de uma pedra. Tão apático quanto uma segu... More

Capítulo 00 - Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30 - Epílogo

Capítulo 23

1K 133 47
By FANFUNK_

Um suspiro audível escapou por entre os lábios de Hoseok, ao que este deixou que seu sorriso se desfizesse no rosto. Atentamente observou seus alunos acenarem em despedida e desaparecerem pela grande porta da sala onde dava sua aula de dança. Ali costumava ser um dos locais que mais lhe trazia alegria e lhe divertia, menos naquele dia.

O dia fora cheio, com muitos passos de dança do qual se esforçou para se concentrar aquelas semanas inteiras e inventar. Ficara tão desesperado para encher sua cabeça tentando se distrair que conseguiu ao menos criar duas coreografias novas e mais uma pela metade que decidira criar um projeto em inventar junto aos seus alunos.

E mesmo com o dia tão cheio, tantas danças, risadas e alegrias ao lado daquele a quem ensinava não fora o suficiente para lhe fazer esquecer-se do que havia acontecido.

Três semanas haviam se passado. Lento, quase uma tortura.

Semanas do qual Jimin não falava consigo e nem ia às aulas, que não ia atrás do mesmo, semanas sem ver Jungkook com aquele rosto tão inexpressivo, sem encontrar Yoongi, Jin e Namjoon na hora do intervalo e o pior de todos: três semanas do qual sequer tinha notícias de Taehyung.

A simples menção desse nome foi capaz de arrancar um suspiro tão enorme de si que chegara a ecoar pelo local. Suas costas baterem contra o grande espelho, deslizando lento até finalmente sentar-se ao chão. Seus joelhos dobraram devagar, ao que seus braços apertaram-se envolta de sua perna. Algum tipo de apoio para que sua tristeza não piorasse mais ainda.

Doía saber que tudo aquilo era na verdade culpa sua.

Doía porque fora ele quem dividiu o grupo, todos se afastaram, não se falavam, eram como estranhos. Ninguém procurava ninguém, ninguém queria saber de ninguém. E tudo isso por quê? Por causa de um ataque idiota de ciúmes. Ridículo e tão sem cabimento que Hoseok sequer tinha o direito de reclamar sobre algo, apenas xingar-se e achar-se o ser mais filho da puta do mundo.

Primeiro porque brigou com a pessoa que mais alegrava seu dia. Segundo porque estragou a felicidade de Jimin e Jungkook com aquele beijo. Terceiro que mal tivera chance de comemorar a novidade que ficou sabendo por alto de Namjoon e Jin. E por último se a relação com Yoongi já estava estranha, agora então a mesma havia piorado três vezes mais.

Ele não queria nada disso, não queria estragar e nem muito menos causar tanta dor de cabeça. Mas ficara tão magoado, era doloroso de uma forma que não entendia como podia ser tão intenso. Não havia motivo, razão, nem mesmo tinha o direito de ter gritado ou dito aquelas coisas para o loiro, todavia ainda assim o fez. Gritou, xingou, fez coisas horríveis e no fim estragou a paz que reinava tão bem entre os sete.

Aquele dia quando saiu em disparada daquela escola, escondeu-se do mundo em seu apartamento e só saiu de lá dois dias depois. O diretor havia lhe ligado perguntando o que havia acontecido, basicamente o obrigando a voltar. Obviamente inventara uma desculpa qualquer, mas voltou mesmo assim. Mesmo não preparado.

De primeira pensou que quando chegasse levaria um soco de Park bem no meio de seu nariz, mas ele fizera pior, lhe desprezou por completo. Nem mesmo lhe olhou no rosto. E não tirava a razão deste, ele tinha todo o direito de não querer nem mesmo mais ser seu amigo. Afinal, acabara com um pseudo-namoro que esse estava vivendo.

Entretanto pior do que isso era viver em meio a sua bagunça com certos pertences dos meninos, principalmente de Taehyung e Yoongi. Não mentiria que após ter se acalmado quis realmente conversar com os dois, pedir desculpas, abraçar Kim e dizer que o que havia feito era a coisa mais errada do mundo e de que modo algum deveria tê-lo tratado de forma tão rude.

Raiva nenhuma era motivo para aquilo.

Em meio a tantas brigas, nem mesmo Suga lhe tratou assim. E por isso também gostaria de se desculpar com ele, dizer que o mesmo havia aparecido na vida do loiro há muito antes que Jung e que por esse motivo o moreno não podia cobrar nada. Nunca pôde. Eles nunca tiveram nada e nem teriam algum dia.

Bateu a cabeça contra o vidro. Não queria ficar ali, sozinho e triste, mas também não queria ir embora. Na verdade, talvez não tivesse forças para conseguir fazer isso. Ficar naquela sala trazia lembranças realmente divertidas e a cada momento que as recordava parecia ficar pior. Dramático, sabia, mas era como se sentia.

Não conseguia compreender. Por que havia feito tudo isso por Taehyung? Perdido tanto o controle? Estava apaixonado pelo loiro? Droga, mas nem o conhecia há tanto tempo assim, era por alguns meses. Era impossível se apegar tão fácil assim a alguém, não era? Nunca fora do tipo que se apaixonava por todos, que se prendia facilmente. Não, era complicado e lento.

Porém com Taehyung parecia diferente. Cada risada era intensa, cada abraço, cada pensamento, lembrança. Cada olhar, cada encontro. Tudo parecia simplesmente ter sido compactado e se tornado três vezes mais intenso do que devia ser, transformando o que verdadeiramente era apenas um sentimento de amizade e talvez um consolo em algo que não era mesmo esperado por si, algo que lhe fazia se pegar pensando: se eu usar isso hoje, ele me acharia bonito?

E, deus, sim... Havia mesmo se apaixonado por Kim e isso era um merda, porque agora o loiro não deveria nem mesmo querer lhe ver pintado de ouro.

Hoseok tinha medo de falar com o loiro, de dizer essas coisas e de ouvir o que na verdade já havia escutado muitas vezes. Tinha medo de ir em Jimin e esse nunca mais querer olhar em sua cara por ter estrago o primeiro relacionamento de verdade que esse devia estar tendo depois de tempos. Chegar em Yoongi e esse sentir pena de si, pena por saber o que sentia e saber que não seria retribuído por causa do verdinho. Os únicos que conseguia falar era Namjoon e Jin.

E, ainda assim, não parecia o suficiente.

Sentia-se incompleto sem o grupo inteiro, mas sabia que tudo era culpa sua e era vergonhoso saber que não tinha coragem o suficiente para resolver a merda que havia feito.

Não ainda.

[...]

Taehyung andava apressado por entre as ruas, o dia parecia terrivelmente frio, o que lhe deixava imensamente irritado. Já não bastava ter que passar a droga dos dias completamente enfurnado debaixo das cobertas se depreciando enquanto assiste doramas dramáticos e completamente fora da realidade, querendo arranjar alguém como um dos personagens e xingando a vida por sempre se foder das piores maneiras.

Olha, não estava no script de quando nasceu que deveria levar tanto assim na bunda, não sem lubrificação. Grunhiu irritado e chutou uma pedrinha, imaginando que aquilo poderia estar nos seus rins e que poderia agora mesmo estar estirado naquela rua, mais morto que os cadáveres do cemitério. Argh, odiava cemitério, se morresse queria ser cremado.

O que podia acontecer naquele momento, quem sabe. Enquanto se pegava pensando que era um total filho da puta que estragava o prazer e a vida alheia. Primeiro a sua depois, depois Hoseok, depois Yoongi e por fim Jungkook e Jimin. O casal “Namjin” que se cuidasse, porque o poderoso destruidor de alegrias estava chegando. Ah, céus, o que estava pensando?

Enfiou as mãos dentro do casaco, os dedos durinhos por conta do frio.

Tirando as brincadeiras a parte que sempre tentava fazer pra se descontrair, estava mesmo triste. Não era pouco, era realmente muito triste. Por absolutamente tudo. Sentia vontade de chorar, queria voltar para casa e enfiar a cabeça no travesseiro, abrir o berrereiro como um recém nascido e deixar seus olhos fazerem o trabalho. Fungou baixinho, segurando o choro.

Estava magoado e a culpa era toda sua.

Taehyung não podia mentir, de certa forma usou Hoseok todo esse tempo para se consolar quando não tinha Yoongi e agora que esse tão injustamente decidiu parar pra pensar em seus sentimentos, logo quando estava começando a lhe superar, havia feito a burrada de brigar com Hobi e o efeito dominó da catástrofe mundial se fez presente. Era sua culpa Jung estar tão magoado, deus, e ele tinha o total direito. Kim sempre fez parecer que rolava um clima entre os dois, mesmo que soubesse que no começo não era nada proposital.

Mas aos poucos se tornou.

Aos poucos começou a ser agradável agir como se fosse um encontro entre amantes e não como amigos. Se tornou confortável andar de mãos dadas, dizer segredos, toques acidentais que não eram mais acidentais. Lentamente Kim foi se deixando levar pela leveza da alma de Hoseok, ao contrário da pedra que às vezes Yoongi era. Como dois extremos opostos, bonito e maravilhoso que parecia simplesmente ser tudo o que o loiro precisava.

Suga era aquele que lhe estabilizava, trazia segurança quando na verdade nunca realmente lhe dera certeza. Mas ao menos Kim tinha certeza sobre o que sentia sobre ele. Já Hoseok era aquele que lhe acompanhava nos sonhos, criava os cenários e não deixava nunca seu sorriso morrer. Era aquele cara intenso que fazia a mente de Taehyung não pensar em mais nada. E era o que o loiro procurava.

Mas droga, custava ao menos ter se desgrudado de Suga? Podia dar uma chance a Hobi, mas… Ainda queria Yoongi. E o queria de verdade, quase tão forte como antes e isso o verdinho ganhava em disparada. Porém quando se falava em trazer alegria e felicidade de uma maneira sem igual, Hoseok era aquele lhe vinha à mente todos os dias. Eram sempre esses dois, aos poucos seu coração fora se tornando tão confuso quanto podia e agora já não tinha mais certeza.

Amava Yoongi, mas… Se é realmente amor então não deveria estar gostando de Hoseok também, certo? Então, porra, o que estava sentindo de verdade?!

— Meu deus, minha mente vai explodir. — grunhiu irritado, bagunçando os cabelos com raiva. Caralho, por que havia inventado de querer esquecer Yoongi com Hope? E também, que merda de burrice a sua se apaixonar por seu amigo mais sádico e encantador do mundo? Era estupidez demais.

Por que não se apaixonou por Jungkook? Era bem menos complicado que aqueles dois. Está certo que o moreno era mesmo alguém bem lento e, tadinho, até mesmo ingênuo certas horas, mas ao menos Taehyung o entendia!

E pensar que havia magoado Hoseok e por essa mesma causa esse perdeu o controle, magoando seu melhor amigo. Sua culpa de novo. Sua e do Taehyung junior que não se segurava também. Sua mãe estava certa em dizer que sua principal missão na terra era provocar a discórdia.

Desde aquele dia Jungkook estava estranho. Mais do que nunca. Nem mesmo Kim que sequer precisava perguntar para saber o que o outro estava sentindo conseguia decifrar direito. Ele mal aparecia online, quando conversavam o menino era totalmente aleatório e quando se viam pessoalmente, céus, a tão comum falta de expressão piorava cinquenta vezes mais e ele parecia literalmente à droga de uma estátua. Como um psicopata. Ele nem piscava! Era assustador. 

Jeon evitava qualquer assunto que envolvesse: vermelho, dança, cavalos, esperança, olhos sorridentes, insetos, soluços, sorvete e água. Se Taehyung o chamasse para beber água o menino travava no sofá e entrava em um tipo de transe que só terminava três horas depois.

E o loiro estava mesmo preocupado. Era a primeira vez que via seu amigo assim. O mesmo nunca havia se apaixonado antes, consequentemente sem desilusão amorosa, e então essa era a primeira vez dele com o coração partido. E Jeon era imprevisível demais quanto a isso.

E esse era o pior.

Por esse motivo havia ido buscar o mesmo na escola. Sentia-se no dever de cuidar do garoto, ainda mais quando tudo era na verdade culpa inteiramente sua. Estava cuidando dele, mesmo que esse aparentasse não ter nada errado. Bom, além de estar um pouco assustador e mais estranho que o normal. Mas não mentia quando pensava que estava com medo de esbarrar com Jung ali, não fazia ideia do que conversar com ele.

Muito menos de como pedir desculpas.

Suspirou. O dia estava um saco.

Entretanto, seus pensamentos foram cortados quando avistou Jungkook caminhando lentamente em meio à multidão. Ele parecia aéreo, olhando para o céu como se isso fosse a coisa mais interessante do mundo. E verdadeiramente seria, caso uma cabeleira ruiva não tivesse aparecido em frente aos olhos de Taehyung tampando a visão que tinha de seu amigo e parado esse no meio da praça.

Ah, meu deus.

— Jungkook? — a voz de Jimin soou tão trêmula que nem mesmo esse conseguiu entender o que havia dito, talvez só soubesse porque podia ouvir os próprios pensamentos e em sua cabeça o nome alheio soou alto. Esse na verdade não parou de andar, estava olhando para o alto e passou reto pelo ruivo, deixando o mesmo estático.

Jeon havia lhe ignorado?

Virou-se para trás, ele andava tão lento que nem precisou ir atrás para agarrar seu braço e o puxar levemente, fazendo-o parar e então levar um susto com o toque repentino. O moreno ainda avoado virou para Park sem nem notar que era o mesmo e se curvou quase tocando a cabeça no chão.

— Desculpe por ter prendido sua mão, senhor. — ditou baixo, a voz meio lenta. Jimin franziu o cenho e então começou a divagar sobre quantas vezes Jeon pedia desculpas na rua porque era bem claro que na verdade haviam segurado seu braço. O ruivo riu ao ouvir aquilo e então sentiu o corpo alheio tencionar. Ah, sim. Agora havia sido reconhecido.

Instantaneamente o rosto de Jungkook pareceu se retrair e cada músculo seu travou em uma mesma expressão: indiferença. Não havia nenhum traço de nada ali. Alegria, raiva, tristeza, tédio, nem mesmo nojo ou quem sabe medo. Só uma expressão vazia, como uma máscara pintada. E não havia nem se forçado a isso, era como um tipo de proteção sua extremamente hábil. Ergueu o corpo normalmente e o fitou, mas dessa vez…
Não havia flores em volta de Jimin.

— Hei… — o mais baixo ditou envergonhado, coçando a nuca. — Como você está?

— Normal. — respondeu normalmente. Simples e rápido, o estilo que sempre fora, mas que fizera o coração de Park acelerar apreensivo.

— Que bom? — perguntou nervoso e riu baixo, respirando um pouco mais forte.

O moreno franziu o cenho. Algo não estava certo. Alguma coisa intensa, forte, dolorosa estava lhe fazendo perder a respiração. Sua barriga se contraiu forte, ao que seus olhos piscaram e então notou estarem úmidos. Seus olhos estavam realmente úmidos. Contudo seu rosto não mudou em momento algum. Uma máscara tão fria quanto seu inconsciente mandava.

Sugou o ar com força pela narina, atraindo a atenção de Jimin. Esse fitou seus olhos, notando como estavam brilhantes. Mas não pareciam felizes. O ruivo abriu a boca para falar, mas sentia medo vendo aquele rosto. Não era o Jeon de sempre. O coração do moreno acelerou de leve, não conseguia entender. Não compreendia aquilo. Por que batia forte? Por que não sentia raiva, mas sim se sentia como algo não suficiente?

Não ser o suficiente para Jimin.

Arregalou os olhos ao pensar isso. Uma pontada em seu peito se fez presente. Doeu como nunca doeu antes e acabou lhe fazendo dar um passo para trás. Não era o suficiente para Jimin? Hoseok era? Era o dançarino a pessoa certa pro ruivo? Por que aqueles pensamentos continuavam? Park queria Hope, certo? Eles gostam de se beijar. Não queria pensar nisso, não queria ouvir isso. Quem falava na sua cabeça? Por que não calava a boca?

— Kookie, você está bem? — a cada minuto o rosto de Jeon se retraia em algo abstrato, não era possível identificar absolutamente nada e foi piorando gradativamente, a ponto de preocupar Jimin. Como se quanto menos ele mostrasse, mais queria dizer que ele sentia. Park deu um passo à frente, mas parou. Não podia tentar uma estratégia bruta.

“Kookie” foi como um soco no estômago. Sentiu de verdade. Sua boca ficou seca, as flores de antes se tornaram nuvens negras em volta de Jimin e agora Jungkook não queria vê-lo. Não fazia sentido, antes adorava tê-lo por perto. Era por causa daquela voz na sua mente não era? Que dizia aquelas coisas cruéis sobre si. Não queria ficar perto do ruivo se elas continuassem lhe fazendo pensar isso. Seu corpo estava rejeitando aquela situação com todas as forças.

Então isso era mágoa? Essa era a verdadeira faceta da desilusão amorosa? Doía. E não queria mais sentir isso.

— Você está negro agora… — deixou escapar sem notar, como sempre fazia. O ruivo franziu o cenho não entendendo aquilo. — Eu via flores, mas agora só tem nuvens em você… — Jimin arregalou os olhos. Jungkook estava dizendo por metáforas o quão magoado estava. Mas antes que pudesse responder, esse deu a volta sem mais nem menos e voltou a caminhar. Jeon viu de longe Taehyung se aproximar vacilante, mas o ignorou e voltou-se na direção se sua rua.

— Kookie, eu quero conversar com você. — o mais velho apertou os passos, vendo Kim se aproximar mais rapidamente deles.

— Mas você já está fazendo isso. — o garoto parou de repente, tentando ao menos pôr toda aquela confusão em ordem na sua cabeça. Calma, só precisava disso. Seu coração só parecia estar esmagado, acontecia. Igual quando perdia uma fase no vídeo-game. Sim, isso. Jimin foi só uma fase difícil que perdeu enquanto jogava. Arregalou os olhos.

Sentia-se melhor pensando assim.

O ruivo esbarrou em si de leve, não entendendo o porquê da repentina parada.

— Foi bom te ver, tenha um bom dia. Diga pro Tae que eu vou pra casa, meus pais querem que eu chegue cedo hoje. — ditou normal, como se segundos atrás não estivesse em um pseudo surto. — Não tome muito leite. — lembrou-se de uma reportagem que dizia que leite deixava as bochechas grandes.

Deu as costas e voltou a caminhar.

Jimin não entendeu literalmente porra nenhuma e quando tentou ir falar com o moreno, Taehyung segurou seu braço e o parou.

— Dá um tempo pra ele, Jimin. Mesmo que você não seja o culpado ele tem que ver isso sozinho e entender o que está sentindo agora. — o loiro soltou o amigo e observou Jeon sumir pela rua.

— Ele está realmente estranho, Tae. Tipo, mais do que nunca. — o citado suspirou. Jungkook só precisava do seu espaço agora. O problema é que o moreno só entendia e acreditava nas coisas quando as pessoas falavam, e isso estava sendo o erro ali. Ninguém dizia nada.

E Taehyung observando aquela cena decidiu que também devia fazer algo sobre isso.

— Já volto. — o loiro deu as costas, começando a caminhar em direção a escola e correr pelos corredores esbarrando em alguns alunos. Torcia muito para que ainda tivesse tempo.

Estava na hora de se acertar com Hoseok.

Respirou fundo quando parou em frente à sala de dança. Parecia que não havia mais ninguém ali. Droga, arrancaria os próprios pentelhos se ele tivesse ido embora. Mas por sorte, não. Ele não tinha ido embora. Na verdade estava realmente encolhido sobre o espelho, com a cabeça enfurnada entre os joelhos. Parecia tão triste, tão sozinho que apertou o coração de Taehyung.

Por pouco não correu até o mesmo e o abraçou. Apenas queria cuidar do estrago que havia feito.

— Hobi? — o moreno ergueu o rosto rapidamente quando escutou seu nome ser chamado e deu um pulo ao ver o loiro em sua frente. Céus, o que ele fazia ali?

— Tae? — levantou-se rapidamente, pondo-se de pé de forma desengonçada. Estava nervoso, seu pé até a cabeça, absolutamente tudo, tremia. Até mesmo sua alma. Sua voz estava vacilante e temia que mal conseguisse falar direito com o outro. — O-o que faz aqui? — ainda havia gaguejado. Estava mesmo mal.

Taehyung riu pequeno. Hoseok era fofo demais. Fitou o chão envergonhado, tão nervoso quanto o outro. Sua respiração era forte e sentia que a qualquer momento ia explodir. Cacete, por que havia ido ali mesmo? Ao menos podia ter pensado em algo antes de ir falar com o moreno. Era o mínimo. 

Respirou fundo. Seria o que deus quisesse.

— A gente precisa conversar…

[...]

Jungkook sentou sobre a cama, ao que jogou a mochila no chão. Puxava e soltava o ar com força, como se sentisse seu corpo ser contraído por alguma coisa enorme. Como mãos envolta de si que se fechavam sem piedade e lhe sufocava. Os pensamentos, sentimentos, sensações. Tudo estava sendo pressionado de uma maneira intensa, tornando sua mente em puro desespero. Como um surto de pânico, a única diferença era que não sentia medo.

Podia sentir não só seu corpo, mas como sua mente tremer forte. Imagens se passavam rápidas em sua mente, pensamentos que iam e viam, voltavam sem permissão e diziam adeus sem avisos. Sensações de insatisfação, raiva, tristeza, ciúmes, dor, desespero, pânico. Tudo se misturando em sua mente em uma grande bola de neve que lhe fazia suar frio e fechar os olhos com força, pedindo para que aquilo parasse.

Era torturante.

Como uma agonia sem fim, sua cabeça latejava sem dó. Na sua mente a imagem de Jimin sorrindo apareceu, sua dança, seus olhares, seus toques gentis, sua voz doce e suave.

“Kookie”

Não era justo.

“Kookie”

Por que aquilo continuava se repetindo? Por que a voz dele não saía de sua cabeça? Ou então o aperto forte em seu braço. O toque, mesmo por cima do casaco, era o suficiente para fazer seu corpo estremecer e agora finalmente seguro, deixou com que tudo saísse de si. A confusão mental, os sentimentos conturbados, os pensamentos depressivos. Apertou o braço que Jimin havia segurado.

Tanto tempo.

Podia sentir que sua cabeça iria explodir a qualquer segundo, como uma granada. Tampou o rosto com as mãos e suspirou. Precisava se acalmar. A razão não funcionava quando a emoção entrava em pane e era nesse exato momento em que mais necessitava usar sua cabeça. Lembre-se dos livros, o que eles diziam?

“Tudo uma questão de Química corporal” respirou fundo. Era só a química, apenas como o seu corpo estava tentando se comunicar de que não havia gostado algo. Não havia gostado de Jimin com Hoseok. Respirou outra vez. Pense direito. Foi só um beijo. Todos se beijam, não? Macacos se beijam.

Um beijo entre Jimin e Hoseok. Na sua frente.

Droga! Por que lembrar disso apertava seu estômago como se fosse vomitar? Ou então pensar que tudo o que o ruivo lhe dissera era na verdade uma mentira lhe deixava tão nervoso a ponto de desestabilizar sua temperatura corporal e por esse motivo estava sentindo um enorme frio em seu corpo? Mas seu quarto estava aquecido. O que era aquilo?

Os livros não explicavam.

Sentia frio, sentia enjoado, irritado e completamente sem ânimo, mas com uma adrenalina de quem conseguiria subir um morro correndo. Parecia que tudo havia virado de cabeça pra baixo, cada nervo, neurônio, cada informação que seu cérebro enviava na verdade era compreendida de outra forma e não sabia como controlar. Jungkook estava um verdadeiro caos.

— Filho? — o garoto deu um pulo na cama, olhando para sua mãe. Essa franziu o cenho, não entendendo a repentina faceta inexpressiva de seu filho. Não que não estivesse acostumada, o pai do garoto chegava a ser pior do que ele em certos momentos, então o compreendia bem. E por isso sabia que havia algo de errado. — Está tudo bem?

Jeon suava frio e estava encolhido na cama, mas se endireitou ao ver que sua mãe se aproximava. Essa carregava uma pilha de roupas, ao que fitava curiosamente o filho. Esse apenas assentiu de forma estranha, arrancando um riso abafado dessa.

— Lavei suas roupas. Sabe o que eu encontrei? — o moreno negou com a cabeça, embora não estivesse muito curioso. — Isso. — a mulher enfiou a mão sobre a pilha de roupas dobradas e puxou um casaco. Ele era vermelho e preto, grande e com muitos rasgos. Jungkook sabia que casaco era esse. — Eu tomei cuidado quando coloquei para lavar, mas eu sinto que rasgou ainda mais. Não entendo o porquê de gostar tanto dessa roupa, parece um mendigo. — ergueu o casaco enquanto ditava.

Jungkook arregalou os olhos ao ver aquela peça. Bem ali em sua frente. Mais uma das lembranças que havia tido com Jimin. Seus olhos se nublaram, trazendo mais uma vez os olhos sorridentes em sua mente. O local escuro, o sofá apertado, os toque delicados e tímidos por dormirem juntos, os esbarrões sem os dois quererem, a respiração em sua nuca. A quentura corporal, os dedos em sua barriga.

Jimin tinha cheiro de capim limão e biscoito.

Engoliu em seco, a saliva tão quente quanto o inferno. Seu rosto tornou-se uma careta sofrida, chamando a atenção da mãe do garoto. O mesmo abaixou o rosto, mordendo a boca. Mais lembranças. “Kookie” suspirou. Podia senti-lo ao seu lado, ouvi-lo sussurrar em sua orelha, como se estivesse ali abraçando sua cintura como sempre. 

Era tão normal isso? Era disso que as músicas, livros de romance dramáticos e novelas queriam representar? Parecia ser ainda mais forte, mais doloroso. Sentia-se como um maníaco que tinha alucinações. A voz de Jimin não saía de sua cabeça. Aquele olhar arrependido, o jeito receoso, o nervosismo notável. Tudo parecia se repetir em sua mente. Queria voltar no tempo e falar com ele de novo, mas também queria avançar e nunca mais vê-lo.

Por que tão contraditório?

— Omma… — chamou baixo, vendo essa virar-se para si assim que terminara de guardar as roupas em seu armário. — Se eu te fizer uma pergunta, você vai ficar brava comigo? — ela riu.

— Claro que não, meu amor. Conte. — o garoto a fitou receoso e tomou ar, pensando em como falar aquilo.

— O que você faz quando… Quando você gosta muito de um sorvete, mas ele não parece gostar de você? — Jeon sentiu que havia falado algo errado assim que viu a expressão de sua mãe se tornar meio horrorizada. Mas não era por seu filho gostar de alguém, mas sim pelo exemplo.

— Hipoteticamente? — o menino assentiu quase frenético. A mulher pousou a mão no queixo e pensou. — Bom, eu acho que deveria então desistir. — Jeon a fitou por alguns momentos. Então esse era o certo? Não devia mais chegar perto de Jimin? Parecia razoável, porém machucava mais do que pensar no beijo. — A não ser que você goste muito desse sorvete… — a mulher sorriu ao ver o filho erguer o rosto e lhe fitar curiosamente. Ah, tão igual o pai. — E lutar para provar o sabor.

Os olhos de Jeon se iluminaram aos poucos. Então não era errado ele não querer ficar longe de Park no final de tudo? Arrastou-se um pouco pela cama, se aproximando.

— Mas… E se esse sorvete tiver outro sorvete que combina mais com ele? Como… Napolitano e Flocos… — a mãe voltou a pensar. 

— Você gosta muito desse sabor? — o menino abaixou a cabeça envergonhado, um rosto triste. A outra sorriu já recebendo sua resposta. — Então nenhum outro sabor, por melhor que seja, será mais saboroso do que de alguém que verdadeiramente sabe apreciá-lo. 

Sua mãe estava dizendo então que combinava mais com Jimin do que Hoseok? Mas eles haviam se beijado! E foi com tanta… Vontade. Como Jeon podia vencer isso? Podia vencer alguém que viveu quase a vida inteira com o ruivo?

— Mas e se… O sorvete de flocos não quiser que eu goste dele? — assim como o pai, o menino tinha uma maneira bem confusa de se expressar. Até sua mãe perdia-se às vezes.

— Como assim?

— E se… O napolitano gostasse dele há mais tempo, ele não é melhor? 

— Ah… — a mulher pareceu entender. Seu filho estava inseguro sobre a pessoa de quem estava gostando. — Ninguém pode saber isso, meu filho.

— Mas e se fosse provado? — a mãe o olhou. — E se… O Napolitano tivesse beijado o sorvete de Flocos bem na frente do comprador? — a mulher parou por alguns instantes. Agora tudo fazia sentido. Jeon havia sido traído.

— O Flocos já estava na casquinha do comprador? — perguntou irritando-se um pouco. Quem machucou seu pequenino? Entretanto relaxou assim que viu esse negar de leve.

Jimin não era nada seu. Isso quer dizer que ele podia beijar o Hoseok não é? E eles podiam ser o que quiserem porque Park nunca havia dito que gostava de si, nem que queria ter algo, nem nada. Ele tinha todo o direito de fazer o que quisesse e Jungkook provavelmente era mesmo o errado ali.

— Mas o comprador queria muito o sorvete de flocos, certo? — o menino concordou. — Só que então o Napolitano beijou o sorvete de Flocos bem na frente do comprador e agora o comprador sente que não pode provar o sorvete porque o napolitano faz o flocos mais feliz? — Jungkook assentiu rapidamente. Era exatamente isso. A mãe riu e puxou a cadeira perto da estante para sentar. — Vou te contar uma história parecida.

Sua mãe já havia passado por isso?

— Quando eu namorava com seu pai ele tinha uma amiga. Ela era linda, esplêndida. Eu ficaria com ela. — a mulher riu. — E eu morria de ciúmes dela com seu pai. Eles eram tão amigos que às vezes pareciam mais namorados que nós dois. Uma vez seu pai ia ao cinema comigo, mas desmarcou para encontrar com ela. Eu fiquei brava demais e terminei com ele no dia seguinte. Uma semana depois descobri que ela tinha engravidado e teve um surto quando descobriu, quase ameaçou se matar e só não aconteceu porque seu pai estava lá. Hoje ela é casada com o meu irmão. — sorriu docemente, vendo o filho arregalar os olhos.

— É a tia Jisoo? — a mulher assentiu alegre. Jungkook parou para pensar.

Então ele não devia ficar irritado com Jimin? Não sabia mais. Estava antes tão irritado, mas agora sentia como se tivesse sido tão injusto com ele. Devia perdoá-lo? Parecia errado. Mesmo com tudo isso, não conseguia aceitar. Ele havia lhe magoado de verdade e isso parecia cada vez pior quando pensava. A mãe suspirou, seu filho parecia em uma batalha interna realmente intensa.

— Sabe, esse sorvete, você conversou com ele? — Jeon negou. — Você acha que o sorvete é culpado? — o moreno parou.

Jimin era culpado?

A cena do beijo voltou outra vez. Podia ver como se estivesse ocorrendo naquele momento. A mão do moreno agarrando o as bochechas fartas, as bocas coladas, os olhos arregalados de Park. Ele parecia tão assustado quanto os outros. Isso era atitude de um culpado? Sua mente ditou um enorme não, lembrando-lhe em todas vezes que interpretou algo errado. Mas sua emoção gritou um enorme sim, exigiu que o ruivo empurrasse o amigo, brigasse, esperneasse, fizesse um show e lhe pedisse desculpas. Como em uma novela.

Contudo nem mesmo dera chance dele falar. Mas não queria ouvir. Não queria ter certeza do que achava, não queria que ele lhe dissesse que na verdade gostava apenas de Hoseok. Que eles eram e sempre foram o que havia pensado. Que eram eles que iriam para uma lua de mel em Berlim como no dorama que assistiu. Que eles fugiram para ficarem juntos. E todas as fantasias que teve sobre os dois fosse realidade.

Era doloroso.

— Você quer conversar com o sorvete?

Jungkook queria ouvir um não.

Queria que Jimin fosse até si e lhe pegasse nos braços, lhe beijasse a boca e dissesse que não, nunca havia gostado de Hoseok. Que aquele beijo não havia sido nada, que tudo era só invenção de sua cabeça. Queria um pedido de desculpas, piadas idiotas e uma prova. 

Queria que ele lhe abraçasse e mais do que tudo naquele momento que o ruivo lhe dissesse que também estava apaixonado por si.

Mas ele nunca dizia. Nunca.

Quando só o que queria era escutar essas palavras saírem da boca carnuda.

Algo esquentou o seu rosto, ao que sua mãe gradativamente se tornava surpresa. O menino ergueu lentamente o rosto, arrancando um ofego da outra e essa levantou de sua cadeira, correndo até o filho e pondo as mãos em seu ombro.

— Você está chorando? — Jeon arregalou os olhos, a garganta parecia ter um bolo enorme e sua boca parecia inchada. Seu nariz pinicava e algo descia sem parar em seu rosto.

— Eu… Estou? — perguntou também surpreso. — Eu estou? — agora a voz saiu embargada, enrolada pelo choro. De repente ele já não conseguia mais falar, um desespero enorme cobriu toda a sua mente e seus olhos ardiam. As lágrimas desciam rápidas e grossas, queimavam sua pele e pesavam sobre a sua alma.

Chorava tanto que podia alagar seu quarto. Fechou os olhos, deixando que finalmente tudo saísse. Os soluços vieram tão altos, tão sofridos. Doía de verdade. Doía chorar, doía quando pensava que Jimin não era seu. E quanto mais impotente se sentia, mais lágrimas caíam. Como um rio de pura amargura, mesmo que o limpasse, ainda sofria. Como uma agonia que lhe abraçava o corpo e não queria mais se soltar. A mãe abraçou o filho e esse se agarrou a ela.

— Por favor, não chora, meu amor. — mais um soluço e seu ombro se tornava úmido. Estava em choque, era a primeira vez que via seu filho assim.

Jungkook chorava porque queria ser único para Jimin.

É errado querer ser a pessoa especial de alguém?

— Eu quero o sorvete, mãe. Eu quero falar com ele, eu quero ficar com ele. Mas o sorvete não me quer. Por que ele não me quer mãe? Ele não gosta de mim por que eu sou estranho? — soluçou outra vez. Nada naquele mundo parecia conseguir lhe fazer parar. Finalmente estava liberando tudo, tudo o que guardou esse tempo todo desde o começo. Deixou que saíssem em lágrimas, soluços e palavras baixas.

Agarrou-se a sua mãe como podia e fora consolado a noite inteira por ela.

Era a primeira vez que chorava por alguém e essa era um dor que Jeon jamais quis sentir outra vez.

Jimin despertava em Jungkook coisas intensas demais que esse não sabia lidar. Coisas que não era acostumado, estas que estavam se tornando e desabrochando em sua primeira vez. Coisas verdadeiramente lindas, porém toda beleza tem o seu fundo de tristeza.

Porque para alguém que não sabia sentir como os outros, sua prova era ouvir e acreditar nas palavras ditas.
Esperando algo de uma pessoa que simplesmente demonstrava só por atitudes.

Continue Reading

You'll Also Like

1.1K 113 11
[Instagram] Jeon Jungkook estava rolando pelo feed entediado, até que a foto de um playboy loirinho aparece e ele se vê encantado por este rapaz e co...
329K 27.1K 48
Jenny Miller uma garota reservada e tímida devido às frequentes mudanças que enfrenta com seu querido pai. Mas ao ingressar para uma nova universidad...
136K 15.7K 11
"Algumas coisas na vida nasceram para ser de determinada forma. Os professores nasceram para te fazer sentir um lixo, o pão nasceu para cair com a ma...
729K 43K 78
Sejam bem - vindos, obrigada por escolher esse livro como sua leitura atual. Nesse livro contém várias histórias, e cada capítulo é continuação de um...