Hoje é o dia, hoje será a estreia, saímos cedo pro teatro então sequer tive tempo de encontrar meus pais, eles me garantiram que viriam, então eu pedi pro Cal fazer companhia a eles até a hora da apresentação. Eu pedi pra que Luke não me contasse nada sobre a quantidade de entradas vendidas, não sei o que seria pior, não vender entradas pra um projeto que me dediquei tanto, ou saber que um teatro com sei lá quantas mil pessoas estavam esperando eu entrar no palco.
Antes de irmos tentar dormir eu e Luke fizemos uma conta básica, meus pais vão, os amigos dele da companhia também, os pais dos nossos alunos, talvez outros familiares, meus colegas de trabalho, meu chefe parecia muito orgulhoso do projeto então distribuiu cartazes por toda a escola, assim como Luke, Hal, Calum e Ashton também estarão lá e me disseram que vão levar alguns outros amigos, nessa conta eu já chuto com certeza que teremos no mínimo umas trezentas ou quatrocentas pessoas confirmadas.
Luke me apresentou um outro cenário que me apavorou, por mais que tenha dito ser pouco provável, ele me disse que caso seus antigos professores decidissem aparecer poderiam ter comentado com outros professores, e os outros professores com alunos, e alunos com seus amigos, e isso me fez quase ter uma parada cardíaca.
Halsey tentou me convencer a usar uma roupa mais bonita, mas só dei o braço a torcer pela camisa preta, eu já vou estar no meio do palco com uma luz na minha cara, não preciso de mais atenção voltada pra mim do que isso.
Conforme a hora ia passando eu podia ver as coisas tomando forma, meus alunos chegaram e usariam camisas sociais pretas como eu, com a diferença de que também usariam um terno azul escuro por cima dela, o figurino dos dançarinos aparentemente não eram do tipo cheio de detalhes ou qualquer coisa do tipo, eram roupas leves, de um tecido que não tenho a menor ideia de qual seja, mas conforme andavam pareciam ser moldados pelo ar de tão leve que era, cada tempo teria seu próprio figurino, pelo que pude ver os primeiros seriam pretos, no segundo de um azul claro, e no último várias cores em tons claro, porém distintas, como uma explosão de sentimentos, onde cada cor é capaz de representar um.
Luke estava impecável com uma maquiagem brilhante nos olhos e os fios loiros soltos, bagunçados, ele cogitou cortar um pouco, mas disse que não o faria porque sabe que eu gosto de mexer no seu cabelo, eu realmente gosto, e acho que o cabelo mais longo combina com ele.
Eu espiei por entre a cortina ao lado do palco quando comecei a ouvir a movimentação no salão, as pessoas estavam começando a se acomodar, e quase desmaiei quando vi as primeiras fileiras já ocupadas.
- Vai ficar tudo bem. - Luke murmurou ao meu lado me abraçando pelas costas. - Entramos em alguns minutos.
- Como se sente?
- Ansioso a ponto de explodir, e você?
- Também.
- Eu tenha uma surpresa pra você, então quando terminar o Ashton vai entrar, se quiser pode continuar no piano, e só aproveitar.
- Ótimo, vou enfartar antes de entrar no palco. - Disse em tom de brincadeira, me virando pra o olhar.
- Você vai gostar.
Ele me deu um último abraço antes de se afastar, eu não queria o deixar ir, porque com ele perto me sinto mais seguro. Demorou poucos minutos antes de me indicarem que logo iríamos começar e que eu deveria ir pro palco, eu sentia meus dedos tremerem quando toquei no piano, eu encarei meus alunos e eles sorriam pra mim, eles sabem que não sou muito comunicativo, então também provavelmente sabem como deve estar sendo difícil pra mim estar aqui, mas também estou aqui por eles, porque eu sei que é uma experiência única, o tipo de experiência que eu gostaria de ter tido quando tinha a idade deles.
Quando dei uma última olhada em Luke ele me deu uma piscadela antes das cortinas subirem. Eu sinto que nesse momento liguei meu modo automático e meu corpo estava em pedaços, cada um focado em algo diferente. Meus olhos estavam focados em Luke e eu sei que estou sorrindo, sinto como se estivesse deslizando pelo palco junto com ele, e o homem com quem ele dança sou eu, porque ele sorri pra mim de volta quando passa por perto do piano, sinto que minhas mãos estão ligadas à memória da minha música, e toco como se estivesse pré programado pra isso, eu posso me ouvir cantar mas é como o som de um rádio ao longe, porque toda minha atenção está nele e essa é só a trilha sonora do nosso momento, porque é assim que se parece, com o nosso momento.
Em certo momento é só ele no palco, e sou só eu tocando, o momento em que tudo parece esperançoso, como um recomeço, eu canto pra ele porque sim, ele sabe que essa música também é dele, como a grande maioria, porque sim, eu sou um tolo por ele, eu estou na palma das suas mãos e ele pode fazer o que quiser comigo, porque independente do que fizer será a melhor coisa que me aconteceu, por mais que ele me deixasse, seria um honra ter meu coração partido por Luke Hemmings.
Desse ponto em diante Luke dançou sozinho, digo, sem um par, quando criava as coreografias me disse que não queria dançar com outra pessoa, que aquilo era sobre nós dois, na realidade eu não me importaria mas achei fofo da parte dele se importar com isso. Ele encontrou uma forma de só expressar através de suas coreografias os sentimentos que descrevo nas minhas composições, como a personificação do amor, e da dor, e da confusão, da saudade, e ele o fez bem, ninguém poderia ter feito melhor.
Em algum momento eu só não me importava mais que aquele teatro estava cheio de pessoas, que eu estava cantando e tocando minhas músicas pra todas elas, em breves momentos quando meus olhos se voltavam pra plateia eu podia ver o salão lotado, e pessoas emocionadas, casais próximos trocando carinhos da forma mais singela que podiam, e nesses breves segundos eu podia ter a certeza de que fiz bem meu trabalho, que todos nós afinal de contas estamos trabalhando bem.
Quando tudo se tornou silencioso e eu vi Ashton entrando pelo palco senti meu coração parar, aparentemente chegou o momento. Eu só me arrastei pro lado no banco do piano, Ashton sorria quando sentou ao meu lado, ele começou as primeiras notas e eu posso reconhecer a melodia em qualquer lugar, a música que Luke fez pra mim.
Luke Hemmings tinha um microfone em mãos e estava sentado na beira do palco, seus alunos voltaram ao palco, eu não posso acreditar no que ele está fazendo, pode não parecer mas Luke é um cara tímido, ele as vezes se mostra relutante até mesmo em cantarolar baixinho pra mim antes de irmos dormir, e agora ele está aqui, cantando ela na frente de todas essas pessoas, com as mãos grudadas no microfone como se temesse o derrubar, os olhos fechados e um pequeno sorriso nos lábios, e eu sei que ele está fazendo isso por mim, estar em cima de um palco é fácil pra ele, dançar é a vida dele, ele sabe como me esforcei pra estar em cima desse palco com ele, e agora ele está retribuindo o gesto, e eu sou grato por isso.
Luke é a melhor coisa que me aconteceu, definitivamente. Quando ele acabou e todos agradecemos brevemente eu mal via a hora das cortinas abaixarem e eu poder abraçar ele. Quando a plateia já não podia mais nos ver tudo virou uma bagunça, Ashton desapareceu do meu lado e todos corriam de um lado pro outro abraçando uns aos outros, porém eu sequer precisei procurar, Luke se aproximou apressado com lágrimas nos olhos, eu só abri meus braços pra que ele se aconchegasse.
- Você gostou? - Eu o apertei ainda mais contra meu corpo.
- Ta brincando?
- Eu não sou um cantor, vai que fiz algo errado.
- Você foi perfeito, eu estou orgulhoso de você. - Luke distribui beijos por toda meu rosto quase esmagando minhas bochechas entre suas mãos.
- Abraço coletivo! - Ouvi a voz de Calum ao longe e logo me senti sendo esmagado por dezenas de pessoas, e pela primeira vez não acho tão terrível ter tantas pessoas a minha volta, na realidade acho que posso explodir de felicidade.
Depois de poucos minutos as pessoas começaram a dispersar, cada um recolher suas coisas e ir embora, eu me afastei por alguns minutos enquanto Luke recolhia nossas coisas, pedi pra que Hal e os meninos fossem pro nosso apartamento, nada mais justo que uma comemoração, também encontraria meus pais lá, mal pude falar com eles e apresentar Luke, mamãe só me deu um abraço apressado antes de sair com meus amigos.
- Com licença, saberia me dizer onde Luke está? - Uma senhora me parou quando eu estava no meio do caminho até o pote de bolachas, por que sempre é assim?
- Ele já deve estar vindo, só foi buscar nossas coisas. - Eu disse sorrindo, a senhora parecia seria, já o homem, ao seu lado tinha um sorriso de quase lhe rasgar as bochechas.
- Vocês são amigos? - O homem perguntou.
- Namorados. - Respondi um tanto receoso, nunca se sabe qual será a reação das pessoas perante dois homens juntos.
- Claro, que bobagem a minha, é claro que são, quem não notaria os olhares. - Eu tenho certeza que estou corado, certeza absoluta, eu fui pego na frente de centenas de pessoas. - Se esse é o caso, faça vista grossa, Luke tende a ser teimoso e imprudente quanto a própria saúde, é bom saber que agora ele tem alguém ao seu lado pra cuidar dele. Qual seu nome, rapaz?
- Michael Clifford. - Respondi tentando dar meu melhor sorriso, será que são os pais do Luke?
- Eu sou Marco, essa é Carol, éramos professores do Luke. - Eu o cumprimentei e na mesma hora que apertei sua mão vi Luke descer as escadas do palco, ele parecia espantado em nos ver no meio das poucas pessoas que ainda estavam no salão.
- Eu não acredito que vieram. - Luke parecia ter sido arrancado da sua realidade quando parou ao meu lado, eu peguei as mochilas das suas mãos e me encostei no palco.
- Lógico que viemos, você nos enviou o convide e adoraríamos ver onde o ingrato Luke Hemmings foi parar... - Luke abriu a boca pra dizer algo, mas a senhora apenas ergueu a mão e o mesmo se calou. - ...E bom, aparentemente foi parar em um ótimo lugar, eu não sou o tipo de pessoa que costuma dar o braço a torcer, mas você tem talento, eu fiquei realmente brava quando abandonou a companhia, mas chegou longe por conta...
- Nós estamos orgulhosos, é isso que ela quis dizer, mas como ela mesma disse não é o tipo de pessoa que da o braço a torcer. - Março a interrompeu e eu tive que me segurar pra não rir.
- Eu te espero no carro. - Disse pra Luke, me sinto um intruso nesse momento, sinto que eles têm algumas coisas a acertar. - Foi um prazer conhecer vocês.
- Não se esqueça do que eu te disse rapaz. - Marco disse sorrindo, Luke me encarou curioso e eu só dei de ombros antes de me afastar, claro, fazendo uma parada no caminho pra pegar minhas bolachas.
Eu o esperei no carro por cerca de vinte minutos, e quando ele apareceu chorava mais uma vez, aparentemente hoje é dia de fortes emoções, até o final da noite Luke vai estar desidratado porque a daqui alguns minutos vai conhecer meus pais.
- Eles disseram que se orgulham de mim, disseram que todos os professores e alunos vieram me ver, tem uma excursão escolar pra apresentação de semana que vem, só pra ver a gente. - Isso me deixou apavorado, muito feliz, mas realmente apavorado, vários artistas nos assistindo.
- Eu te disse que tudo daria certo.
- Sim, você me disse. - Ele disse rindo. - Eu nem acredito no que fizemos, isso nos abre tantas possibilidades e...
- Luke Hemmings, respira. Uma coisa de cada vez, estou morrendo de fome, a noite ainda não terminou.
- Meu Deus eu ainda vou conhecer seus pais. - Luke pareceu ter sido arrastado de volta pra realidade e eu não pude deixar de rir,
- Sim, você vai.
Durante todo o caminho de volta pra casa Luke me questionava sobre como deveria agir, se acho que meus pais gostariam dele, reclamou de sequer ter tirado o figurino e só estar com um moletom meu por cima, reclamou de ainda estar com a maquiagem, e eu lhe garanto que ele estava ótimo e que não ligariam pra nada disso.
Eu entrei na frente quando chegamos no nosso apartamento, papai e Ashton pareciam entretidos conversando sentados no sofá, Hal e Calum estavam deitados na cama, com mamãe logo ao lado, também pareciam distraídos enquanto conversavam.
Mamãe levantou da cama quando nos viu entrando, andou direto até Luke e lhe deu um abraço apertado dizendo o quão bem ele se saiu essa noite, eu sei o que ela está fazendo, está o acolhendo e agindo como se o conhecesse a anos, só pra que ele se sinta mais confortável, como se fosse um encontro rotineiro, eu a amo incondicionalmente pelo seu jeito acolhedor, sempre torna tudo mais fácil.
Papai cumprimentou Luke e voltou a se sentar no sofá com Ashton, também como se fosse uma situação rotineira, quando todos voltaram ao que faziam e Cal se encarrou de pedir pizza Luke veio até mim parecendo ansioso.
- Eles te adoram. - Sussurrei em seu ouvido quando ele me questionou se acho que meus pais gostaram dele, e bom, não menti, ele tem sido tópico recorrente nas conversas de família e meus pais estavam ansiosos pra oficialmente conhecer ele, eu sei que mamãe está se controlando pra não o atacar com uma enxurrada de perguntas e abraços, eu admiro o esforço dela.
- Eu estou feliz.
- E eu estou feliz por você estar feliz. - Eu deixei um beijo no seu rosto antes de me afastar e sentar ao lado do meu pai no sofá, já ele se juntou na cama com Cal, Ashley e mamãe.
Eu não tentei entrar na conversa que Ashton e papai estavam tendo, eu só observei tudo a minha volta, minha casa nunca esteve tão cheia, e minha família tão unida, e eu tão realizado, eu definitivamente estou vivendo o melhor momento da minha vida, e eu não quero perder isso, e se caso aconteça eu quero poder dizer como aproveitei cada minuto, e como fui um cara de sorte por ter essas pessoas comigo.
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E aqui está o último capítulo.
Eu só queria agradecer muito mesmo a cada pessoa que me acompanhou nessa história, ela é vocês fizeram uma diferença enorme na minha vida, eu passei por momentos realmente difíceis nos últimos meses, tinha dias que eu já não sabia mais de one tirar forças pra continuar e essa história foi meu lugar seguro e confortável junto com vocês.
Eu escrevi ela em poucos dias e foi simplesmente incrível, eu me sinto orgulhosa do meu trabalho aqui, eu fico feliz em ver minha evolução como escritora e fico ainda mais feliz em poder compartilhar todos meus sentimentos e experiências com vocês.
É isso, sou grata a todos vocês, saibam que de certa forma salvaram a minha, amo vocês, até mais, ainda podem me encontrar na minha outra história, Chosen, eventualmente em Little Boy ou se só quiserem conversar no meu Twitter thecashmaine.