Jujutsu Kaisen - Orbitando um...

By adri_bertolin

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Aprisionado no Reino da Prisão, Gojo Satoru inicia um processo de fragmentação sobre os conceitos em relação... More

Vazio
Grandes olhos negros
Caos
Propósito
Igual
Ciúmes
Domínio incompleto
Entorpecência
Consumo
Posse
Retaliação
Fôlego
Engrenagem
Bolha
Escolha
Capítulo Extra: Sequestro
Paz artificial
Busca
Renúncia
Receptáculo
Liberdade
Esperança
Destino
Resgate
Surgindo das cinzas
Surto

Anseio

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By adri_bertolin

Ainda naquele mesmo dia, o trio retornou à escola para a finalização burocrática de sempre: entrega de material apreendido, relatório e pagamento. Nada fora do comum. O que diferenciava era para onde iriam em seguida e toda a aura feliz que havia se espalhado pelos demais alunos.

Esse era um sentimento raro de se contemplar em grande escala para pessoas com a mesma carga de horrores que eles aguentavam. Felicidade. Algo fácil de se desistir em um mundo como esse, mas que de certa forma ainda conseguia manter suas ramificações presentes e desabrochar eventualmente.

O motivo era bem simples dessa vez. Foram capazes de conquistar uma brecha no conturbado período de crises do verão e os alunos se reuniram para aproveitar a ocasião em um festival de Yokohama.

Gojo, particularmente, não entendia como algo assim podia provocar uma melhora tão significativa no humor geral, mas reconhecia que ele era uma das poucas exceções que não se sobrecarregava com o trabalho duro e tinha pausas mais frequentes. Uyara e Geto eram voluntariamente arrastados para cada um de suas típicas fugas de responsabilidade e embora cada um deles sempre compensasse por todo o tempo perdido, isso não os impedia de ouvir a resposta que esse comportamento gerava nos demais.

Sempre haveriam exclamações sobre o favoritismo explícito, sobre o tratamento diferenciado e sobre como deveriam largar as próprias responsabilidades nas mãos deles para que lidassem com a merda sozinhos, já que eram tão melhores. O portador dos seis olhos não se importaria de ficar com toda a carga se fosse necessário, mas achava que dizer isso em voz alta apenas os ofenderia.

Claro que ele fez questão de falar sua opinião exatamente por isso, o que os lavava de volta ao ponto de que não eram exatamente bem vindos na reunião de confraternização. Mas eles iriam mesmo assim porque ninguém podia impedi-los! E porque Satoru não contou aos dois amigos de que, teoricamente, a maioria dos outros não queria vê-los por lá.

Não estragaria a empolgação muito explícita (no caso de Kioku) ou muito contida (no caso de Suguru) apenas por uma falha de comunicação amistosa. Ele tinha quase certeza de que Shoko não o julgava e que Kenny não possuia os critérios de valorização japoneses para se incomodar, o que levava a Utahime ser convencida a se aproximar, mesmo o detestando, por causa de seu interesse óbvio no estrangeiro.

Além disso, também poderiam contar com os primeiros anos Nanami e Habaira, que eram seus kouhais* preferidos. O primeiro era mais travado que uma porta, algo que sempre motivava suas melhores provocações, enquanto o segundo era um pedacinho do céu e se parecia com um bolinho de arroz. Não poderia ser tão ruim.

O senso de respeito a privacidade de Uyara o salvava em momentos assim, quando fazia merda e não queria que ela descobrisse. Algo raro, considerando que ela normalmente participava das merdas, mas nunca negaria o quão útil era que um poder tão absurdo houvesse se manifestado em alguém responsável o suficiente para lidar com ele mantendo níveis aceitáveis de ética e moral.

Não poderia dizer que concordava, ele aproveitaria muito melhor se estivesse no lugar dela, no entanto, não a impediria de manter aquela essência correta por todo o tempo que conseguisse aguenta-la. O mundo provavelmente seria um lugar melhor se mais pessoas assim existissem.

Para evitar qualquer encontro indesejado com arruinadores de ânimo, Gojo propôs que seria melhor se arrumarem em sua casa antes de viajarem. Até se teleportou com as vestimentas festivas de cada um para lá como forma de evitar contradições. Tudo bem que destruiu o vestido da brasileira no processo, mas ela sempre preferiu que ele tomasse a responsabilidade de escolher suas roupas, já que seus olhos e sua paciência para isso era infinitamente superiores (além de que seus fundos monetários eram muito mais gordos). Então não achava que seria um problema aparecer com algo completamente diferente do que era o esperado.

Os dois estavam acostumados com suas estranhezas e não reclamaram de precisarem voltar para o centro da cidade enquanto havia acabado de chegar de uma missão. Geto parecia precisar de mais tempo longe da escola e a garota sempre amou sua moradia, não foi nem mesmo preciso insistir.

Ele realmente não sabia porque estava tão ansioso com o evento. Essa sensação apenas o deixava em alerta desnecessariamente e o tornava ainda mais inconveniente, era esquisito. De alguma forma, o que mais queria era que tudo ocorresse perfeitamente e já não havia começado bem, logo precisava compensar a pequena falha.

Ou também podia-se considerar o fato de que não era a primeira vez que a necessidade de tomar uma iniciativa passava por sua mente. Tinha quase certeza que seus amigos não fariam isso, era provável que estivessem com medo de mudar a maneira em que o relacionamento funcionava e estragarem tudo, mas ele estava tentando manter essa verdade de que podiam fazer o que quer que quisessem, então não deveria se deixar impedir por algo tão bobo.

Aqueles dois eram as malditas constantes imutáveis de sua vida, nada lhe era mais inquestionável do que a permanência de ambos ao seu lado por toda a eternidade. Se queriam ir adiante e se tornar algo a mais, o que sabia que eles desejavam tanto quanto ele, nada ficaria em seus caminhos e estava pronto para dar o primeiro passo.

Uyara e Suguru serem a personificação do pecado também não ajudava em seu auto controle e motivação de começar corretamente. Havia essa convicção de que se comportaria como um adolescente transbordando tesão toda vez que pensasse em ambos se controlar seu corpo e emoções não fosse um requisito básico para lidarem com suas funções na sociedade.

Além disso, não havia dúvidas de que a personalidade provocativa conseguia ser tão ruim quanto.

Eles se ordenaram para um banho muito merecido que os livrasse dos resquícios das maldições que enfrentaram e começaram a se arrumarem porque não estavam exatamente adiantados. Nada de errado até ai, o teste de vontade começava em algo que deveria ser muito comum dado aos anos de convivência.

Kioku era bonita demais para precisar reforçar a própria aparência com maquiagem, ela usava o básico apenas por gosto e deixava que a função de transforma-la em uma verdadeira deusa ficasse com as mãos habilidosas de Satoru. Era isso o que ele estava fazendo agora, destacando o contorno de seus olhos, trazendo tons encantadores para a pele clara e dando mais cor aos lábios cheios.

Já haviam feito isso um milhão de vezes um com o outro, brincando, se reinventando e descobrindo como poderiam melhorar perfeições da criação. A diferença estava na sede em seu olhar. Na forma com que aquela boca instintivamente recebia a passagem do batom. Na maneira que o rosto dela se adaptava ao agarre de sua mão, como se o desse permissão e controle para quebra-lo quando bem quisesse.

Hormônios são uma bosta.

Além disso, por que diabos ele havia escolhido uma roupa substituta que deixava tanto daqueles peitos aparecendo? Nem era um decote tão grande, mas essa não era exatamente uma visão constante, uma vez que ela conseguia ser infernalmente discreta mesmo em trajes que deveriam mostrar alguma coisa e eles não se viam sem roupa desde que isso começou a ser estranho.

Talvez ela soubesse o que estava fazendo. Duvidava que outra pessoa a deixaria confortável se a encarasse com o olhar que ele não censurava em seu rosto, além de que a diabinha adorava reservar esses pequenos detalhes para a apreciação sua exclusiva, como se gostasse exibir uma pequena amostra do que poderia estar aproveitando se fosse corajoso o suficiente para se abaixar um pouco e iniciar sua reivindicação com um beijo.

Oh. Uma pequena falha de reflexão desvirtuada pela distração que era a mulher a sua frente. Não era a intenção dela estar em um traje que facilitasse para provoca-lo e existia sim outro alguém não causaria repulsa pela clara cobiça. O mesmo ser vivo que estava em seu banheiro agora e que era a parte em falta para que a coragem surgisse. A razão pela qual Kioku não o agarrava pela camisa e o tomava para si.

Eles eram uma unidade e não mudariam sem que estivessem juntos.

- Você vai babar se não fechar a boca. - Ela disse, quando percebeu que sua maquiagem estava pronta e que Gojo apenas estava parado a admirando, enquanto ousadamente levantava seu queixo e raspava em seus lábios com uma de suas unhas pintadas, piscando um dos olhos em flerte conforme ele a acompanhava quase em adoração. Havia um tom petulante em sua voz, algo que sempre surgia quando não estava tentando ser levada a serio.

Sua própria capacidade linguística não estava estável o bastante para se designar a dar uma resposta. Que bom que Geto decidiu sair exatamente quando precisava de algo para fugir da excitação que estava o envolvendo e desestabilizando.

Ele saiu do banheiro. Sem roupa. Apenas com uma toalha escondendo o monumento de sua virilha. Ainda estava com o cabelo molhado. Com a agua escorrendo e indo para... Então era assim que as pessoas dos animes desenvolvem hemorragia nasal?

- Satoru! Está tudo bem? - O controlador de maldições se aproximou a passos largos, agoniado com a presença de sangue e quase estendendo a mão que segurava a toalha para ajudar.

Kioku o impediu. Relaxando-o imediatamente com um toque. Ela só não estava mais corada que o portador dos seis olhos porque o sistema circulatório dele esqueceu de como funcionar direito.

- Satoru está sendo um pervertido, nada de novo. - Seu cenho se franziu, olhando para o recém banhado de um modo acusador. - O você pensa que está fazendo aqui exibindo esses músculos e marcas de encantamento nada interessantes? - Ainda apontava o dedo para enfatizar sua insatisfação falsa.

- Posso ter intencionalmente esquecido minhas roupas fora do banheiro. - A frase deveria ter soado com a malícia e com o atrevimento típico de se esperar, mas Gojo conseguiu alcançar um lenço de papel (de uma caixa que ele mantém no quarto porque Uyara é emocionada e sempre existe a possibilidade dela começar a chorar em qualquer tipo de filme) e estava tentando se recompor. O suficiente para que Suguru notasse como o desgraçado estava perfeito e se reduzisse a um estado de atordoamento capaz de deixar sua voz rouca e incoerente.

A tensão sexual tomou tais proporções que ela quase poderia ser apalpada no ar. Nenhum deles parecia interessado em se mover ou em fazer literalmente qualquer coisa para quebrar o momento. Quase como em um efeito de eletricidade estática, foi possível sentir uma carga de energia percorrendo seus corpos, arrepiando seus pelos e os incentivando a se aproximarem.

Apenas piorou quando os olhos do feiticeiro de cabelos negros se desviaram do amigo para a garota ao lado dele. Não havia percebido antes, sua atenção sempre seria designada ao outro inicialmente, mas puta que pariu, se o deus mortal parecia de fato uma divindade na Terra, ela não estava diferente. Belezas absurdamente divergentes e inegavelmente estonteantes.

O cheiro que se expandiu para envolve-los fez com que ambos os rapazes rosnassem em uma espécie de gemido estrangulado, enquanto variavam a contemplação desesperadamente de um para o outro como se estivessem tentando inutilmente buscar um impedimento para não se atacarem.

Geto foi quem deu o primeiro passo para trás. Respirando com dificuldade e buscando por foco em qualquer coisa que não fosse seus companheiros. Não podia confiar em Satoru para agir racionalmente e ele sabia que nem passaria pelos pensamentos do outro que Kioku não estava ciente de que estava aumentando a atmosfera tensa instintivamente. Apenas o fazia porque eles procuravam por essa sensação com a mesma intensidade com que precisavam de oxigênio e ela estava adaptada a dar-lhes o que eles precisavam sentir.

Não confiava em si mesmo para agir como queria se continuasse ali e sabia que se arrependeria do que era capaz de fazer estando sobre a influencia direta dela. Nunca seria capaz de dar esse passo, de libertar esse monstro dentro de si, estando ciente de que não eram somente emoções cruas os levando adiante e que essa sensação não pode ser compartilhada com os três.

Aliás, ele não queria se envolver sabendo que só estava estável por causa dessa mesma influencia em outros aspectos. Não entregaria sua carga para irem adiante, não quando não conseguia confiar que os dois seriam capazes de suportar aquilo que realmente pesava a sua existência.

- Suguuu-kun... Não vá embora.

O pedido veio de Gojo. Daquele que não dependia da garota para continuar seguindo em frente. E veio com uma carga de manha arrastada e triste que lhe inspirou a abandonar seus ideais para avançar, se apropriar e nunca mais se afastar. Mas ele se deteve mesmo assim, balançando a cabeça em negação e buscando suas roupas para se vestir.

A brasileira e o portador dos seis olhos não pareciam capazes de se moverem. Um como se não conseguisse reagir diante de alguém que lhe arrancou o seu brinquedo favorito e a outra perdida em uma névoa de sincera luxuria espessa demais se envolver.

- Acho que você o espantou com o seu brilho natural, Sato-kun. - Uyara comentou casualmente, mostrando menos efeitos de seu real estado de perturbação. O que lhe rendeu um dedo do meio por parte de Geto antes que ele voltasse a entrar no banheiro. - Não precisa se ofender! - Ela falou mais alto, com um toque de diversão. - Ele costuma ser cegante.

A respiração albino ficou presa em sua garganta, agora encontrando mais clareza e liberdade no ambiente, o que não impedia o caos de sua mente. Insegurança também não era algo bom, não foi nenhum um pouco difícil perceber isso.

- Himawari. - Ele chamou como um apelo, tentando organizar alguma coerência de pensamentos para que ela pudesse entende-lo.

- Hey... - Aquelas mãos fortes, calejadas e tão menores se entrelaçaram as suas, enquanto ela buscava contato visual para conforta-lo. - Suguru está uma bagunça desde a morte da Riko. Ainda está se adaptando para continuar, tenha paciência. Isso é mais sobre ele do que sobre nós.

As palavras lhe trouxeram um pouco de razão, embora não fizesse a tormenta passar imediatamente. Era verdade que eles eram um nós muito antes de seu igual aparecer, deveria encontrar mais estabilidade nisso do que tendia a fazer.

- Odeio coisas lentas. - O estalo de sua língua com o céu da boca que veio antes da palavras foi puramente infantil, o que não a surpreendia.

- Apenas porque o tempo passa de forma diferente na sua percepção. - Ela lhe cutucou agressivamente na lateral do corpo, com força o bastante para faze-lo se inclinar para longe, pelo hábito de nunca manter o Infinity ativado para ela.

- Você magoa meus sentimentos. - O biquinho que seus lábios formaram também não era uma novidade, mesmo que sempre provocasse nela a vontade de morde-lo.

- Relaxa. - Sua expressão se suavizou, apenas para adquirir um brilho de malícia logo em seguida. - Sempre podemos prende-lo em uma cama como recurso de demonstração da seriedade de nossas intenções.

Gojo riu antes que pudesse se segurar, mantendo seus olhos brilhantes nela conforme contemplava a mulher perfeita que possuía em sua vida.

- Você sabe que eu te amo, certo? - Sua mão se moveu para proporciona-lhe a torção de nariz que sabia que ela odiava. Sua expressão de estupefação com o gesto não perdia a graça independentemente de quantos anos haviam se passado.

- Claro que sim.

(...)

O fato de que estavam a minutos de perderem a conexão com Yokohama ajudou a não se complicarem tentando consertar suas ações.

A garota tomou a tarefa de envolve-los em uma discussão calorosa sobre seu país, sobre os sistemas diferentes e sobre seus vínculos com os feiticeiros de lá. Algo que prendeu a atenção dos outros dois e permitiu que fizessem a maior parte do trajeto em serenidade, evitando todas as variações do que realmente queriam fazer se não estivessem cercados por outras pessoas.

Começar a refletir sobre como Geto conseguia ser tão atraente naquelas roupas festivas quanto sem nada era um caminho arriscado que não estava disposto a percorrer, no lugar disso, ele preferiu observar Uyara tentando controlar o próprio tom de voz enquanto falava, para não ultrapassar muito a barra de mal educada que os demais passageiros já haviam lhe estabelecido.

Houve uma troca de olhares cúmplice com o controlador de maldições, algo que faziam com frequência sempre que sabiam que estavam pensando na mesma coisa. Kioku era simplesmente adorável quando se empolgava com alguma coisa.

Porém, não pode deixar de notar que também compartilhavam outro tipo de reflexão, algo que tentavam controlar a um certo tempo. Um ódio sobre a sociedade que corroía seus sensos de humanidade, lembrado por pura inveja. Não alteraram suas animosidades pelo controle óbvio, mas isso não impedia as comparações de surgirem.

A brasileira falava de uma hierarquia saudável e de superiores tão respeitosos quanto rigorosos, assim como de uma aliança incomum dentro de sua comunidade, estabelecida por eventos antigos que os salvaram da extinção. Ela contava sobre culturas diferentes que se entrelaçaram para coexistirem, sobre compaixão, aceitação e caridade.

Mas também lhes lembrava do ódio, cobiça e rancor. Sobre sentimentos amaldiçoados que surgiram em resposta a escravidão e extermínio, sobre a razão explicita que os motivava e sobre a força que existia em forjar em futuro melhor para não se destruírem com os desastres do passado. Houve guerra, ela disse, houve muita dor e seus feiticeiros perderam para a massa populacional dominante em todas as vezes que tentaram se reafirmarem como seres humanos.

No entanto, as coisas começaram a mudar pouco mais de duas décadas antes. Quando um dos líderes percebeu que suas bases estavam fracas demais para continuarem a resistirem, que as gerações mais novas nunca teriam poder o bastante para continuarem indo além. Então ele se voltou para as crianças e prometeu fazer diferente, ele as acolheu, as ensinou e ramificou suas palavras por todo o país. Procurou por iguais, por mais pessoas dispostas a ouvi-lo, por resquícios de poder e descendentes de linhagens que um dia foram grandiosas.

Seu apelo ganhou mais força encontrando bruxos no sul e nativos no norte. Polos grandiosos que se mantinham isolados e ignorados. Ele conquistou suas confianças e os convenceu a seguirem seus passos, se diversificando, englobando cada um que pudesse se levantar em apoio e criando pela primeira vez o sentimento de que todas aquelas diferentes manifestações de magia eram partes de um único povo. O que acabou atraindo mais "escórias sociais" e gerando uma associação mesclada com um numero enorme de não feiticeiros aliados.

Uma potência anônima que se alastrou para firmar raízes em silencio, mantendo-se escondida daqueles que os queimariam vivos, os açoitariam e apagariam suas historias como se não fossem mais do que inconvenientes.

- Não é sobre criar potenciais para tomar o controle no instante em que nos tornamos fortes o bastante. Aprendemos que isso só trás mais brechas para opressão e destruição, além de que conquistas rápidas tendem a desaparecem com a mesma velocidade com que vieram. A ideia é se espalhar, formar laços e vínculos, ganhar apoio, firmar confiança e só então sufocar os bastardos quando não tiverem a possibilidade de revidar como se fossem o lado certo!

- Por um momento eu juro que pensei que estava ouvindo um discurso pacifista. - Gojo comentou implicantemente.

- Seria se você não fosse uma influência de merda na minha vida. - Ela sorriu, como se essa fosse uma piada frequente. Sua vontade sincera de proteger. - Foi assim que uma taxa de mortes humanas tornou-se aceitável em determinadas circunstâncias.

- Você fala como se fosse um código de conduta, estou curioso. - Geto comentou casualmente. Casualmente demais. Mas eles não perceberam.

- Na luta contra maldições de nível alto é tolerável que elas provoquem um certo número de óbitos. - Foi Gojo quem começou, parecia algo na qual eles haviam entrado em concordância em algum momento.

- O que não se aplica ao dano das nossas próprias ações. Mortes de civis durante um conflito pelas nossas habilidades é inaceitável. - Uyara continuou. Um tópico racional que provavelmente nunca foi colocado em prova.

- Adversários feiticeiros só terminam vivos para interrogatório. - Satoru enumerou.

- E a capacidade de retaliação determina a ação contra não xamãs. - O rosto do deus mortal se contraiu ligeiramente, como se esse tópico não costumasse ser viável. - Sato-kun prefere lidar apenas com pessoas como Fushiguro Toji, mas eu não me oponho revidar a escória.

- Você já matou civis, Kioku? - Suguru parecia verdadeiramente surpreso, a maior parte dele condenava se quer pensar sobre essa possibilidade.

- Está usando meu sobrenome porquê? - O cenho dela se franziu, como se já antecipasse o julgamento. - Não. Não matei ninguém. São tempos calmos. Mas não se enganem pensando que só porque não somos alcançáveis o mesmo se aplica ao resto dos nossos. A humanidade é especializada na morte desde que começou a existir.

Gojo não discordou, nem esboçou qualquer indício de tentar corrigi-la. Podia-se presumir que por parte dele seria impossível ver alguém sem capacidades sobressalentes como qualquer coisa próxima a uma ameaça. Porém sabia que se sua Himawari era capaz de afirmar algo assim, era porque estava envolvida em âmbitos sociais que fugiam a sua convivência.

- Essa é... uma perspectiva interessante. No entanto, macacos não costumam ser nocivos para qualquer um da sociedade jujutsu. - O controlador de maldições sentiu a aura dela mudar assim que terminou de falar, não de uma forma boa dessa vez.

Ele não entendeu, é claro. Uyara era muito aberta ao diálogo, porém suas palavras desencadearam uma raiva que não conseguiu justificar e o controle dela sobre seus instintos autodestrutivos se fragmentou instantaneamente. Apenas para ser subsistido por uma sensação terrivelmente sufocante de que teria sua língua arrancada.

- Oe, oe, oe. - Satoru agarrou a mão dela, tentando roubar sua atenção. - Esse é um termo usado para se referir aos não feiticeiros. Com um sentido completamente diferente, eu prometo.

Aqueles olhos grandes e negros se fixaram no portador dos seis olhos, como se buscasse por garantias que ainda não era capaz de encontrar no outro parceiro.

- Não é meu lugar de fala e eu mesma tenho um monte de porcaria errada em mim mesma que quero mudar, mas eu juro que se você se referir a eles com essa palavra mais uma vez eu vou quebrar o seu pescoço.

A expressão de confusão do rapaz estava a enfurecendo ainda mais. Como se sua ingenuidade sobre isso a ofendesse tanto quanto o problema em sua fala.

Então a garota respirou fundo, buscando por calma. Para começar a contar sobre uma família que constantemente se esqueciam que ela tinha. Sobre uma mãe de criação, irmãos e uma confusão enorme de pessoas que compunham aquele ciclo. Sobre um amor que não era comum nos costumes alheios. Sobre o ódio que eles recebiam por terem nascido com fenótipos desprivilegiados.

Ela era absurdamente diferente desses outros, poderosa demais para a ordem natural. Por isso ela estava ali, por isso era mais próxima daqueles dois semelhantes do que de todos os parentes. O que não a impediria de cometer um massacre se encostassem em qualquer um daqueles que importavam.

Satoru conseguiu distrai-la o bastante com o assunto para que ela perdesse o foco. Algo que transformou de uma figura pronta para fazer sangue jorrar à uma bolha emocionada de orgulho e levou a mostrar-lhes uma série de fotos de várias crianças e pré-adolescentes diferentes, com a mesma alegria com que falaria sobre suas conquistas.

Ela lhes apresentou desde talentos jujutsu em desenvolvimento até aqueles que foram recém alfabetizados, tiraram uma nota boa ou que aprenderam a andar. A única coisa que cada um tinha em comum era a capacidade de não compartilharem nenhuma característica física um com o outro. Eram uma mistura de tons escuros, pardos e amarelos, com cabelos lisos, crespos e enrolados, cada ângulo e traço era divergente, mas os sorrisos igualmente grandes compensavam tudo isso.

Uma juventude que a via como uma super heroína e que a idolatrava como tal. Uma família que ela observava de longe e que sempre lhe aquecia o coração. Pessoas de quem ela tomava as dores e que davam significado a maneira mais fácil de se atingir alguém tão superior, o que motivava a distância.

Geto tomou o cuidado de pedir desculpas (mesmo ainda não entendendo qual era o ponto) e oferecer comentários atenciosos, bem como elogios, nos instantes certos. Apenas para coloca-la em seu melhor estado de espírito novamente. Felizmente pareceu funcionar.

- Você fica terrível quando seu lado maternal aflora. - O revirar de olhos de seu amigo de infância era pura provocação, o que gerou um sorriso leve por parte do rapaz de cabelos negros.

- Lado maternal é o caralho. Você só não age do mesmo jeito porque tem um tato péssimo e as crianças te odeiam.

Olhar para Suguru procurando apoio foi um erro, estava escrito naquela cara linda que ele concordava com ela. Ter emburrado logo em seguida não foi nada infantil.

- O que foi? - Eles ainda tinham a ousadia rirem. - Uyara está certa. A idade mental não é tão diferente, mas um camundongo se expressa melhor e não tenta assusta-las de propósito.

- Preciso de novos melhores amigos.

Aquelas mãos se moveram simultaneamente para apertar suas bochechas como meio de irrita-lo, porém apenas por birra ele os baniu com o Infinity e os ignorou.

A conversa estava começando-o a lembra-lo demais de Amanai para o seu próprio gosto. Nada de bom poderia vir disso e pelo menos o controlador de maldições estava bêbado demais com suas restrições mentais redefinidas para piorar situação.

Yokohama chegou em um ótimo momento.

{...}

Kouhais: Calouros

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