Não conseguiria explicar os muitos sentimentos que me assolavam, mesmo que tentasse. Era a primeira vez que tais sensações despertavam em mim e por alguém que, durante muito tempo esquecera o nome. Desde aquele ocorrido no hospital, venho pensado muito mais nela do que o normal. Em duas semanas, faltado dois dias para o Halloween, pude conhecê-la melhor e suportá-la também. Consequentemente, minha mente somente girava em torno dela.
No dia anterior passamos a tarde juntos, estudando e depois sugeri que fossemos assistir um filme - por incrível que pareça - e ficamos no sofá até adormecermos ali. Estava feliz, tão feliz que parecia que nada daquilo era real. Ela dormia calmamente, com a cabeça encostada no meu ombro, e com os braços em volta da minha cintura.
No dia seguinte, íamos para a escola, de mãos dadas. Ela falava de assuntos aleatórios, enquanto perdia-me em seus olhos.
O que aconteceu com aquele Gabriel frio e antipático?
Gostaria de saber. Mesmo que fosse algo bom, tinha um mau pressentimento, afinal, nada na minha vida que fosse bom demorava por muito tempo.
— Então, Gabe, vamos para o baile de Halloween? — Amanda perguntou, com um olhar esperançoso.
Eu não iria negar, baile de Halloween estava fora dos meus planos para o final de semana. Se bem que, eu nunca tinha planos para o fim de semana.
Se fosse para escolher, escolheria ficar no meu quarto, ouvindo alguma música, ou lendo algum livro. Ainda mais quando a segunda opção teria muito barulho e pessoas que me desinteressavam. Bem, nem todas. Queria poder convidá-la para passar uma tarde comigo, mas não seria burro a esse ponto. A Amanda nunca trocaria uma noite de festa por um momento comigo.
— Não sei... sabes que não sou dessas coisas.
— Ah, por favor. Será divertido! — Afirmou, colocando seus braços no ar. — Se não quiseres ficar mais, voltaremos para casa. Combinado?
Como lhe poderia dizer não? Aquele olhar que tanto mexia comigo nos últimos dias, contagiava-me.
Acabei aceitando o convite, deixando-a muito feliz, mesmo não querendo. Talvez ver o sorriso dela valesse mais do que ficar trancado no quarto.
Talvez isso seja mudar. Talvez isso é ser "normal".
Andar com os amigos, sair à noite, fazer malandrices e deixar seus pais com os cabelos em pé. Se bem que, eu já deixava minha mãe com esse sentimento.
Ter alguém para amar. Uma companheira, cúmplice e amiga. Quem poderia ser essa pessoa? Seria aquela que ali estava ou seria outra?
Sentir-se completo estava longe da minha realidade. Será que alguém "comum" se sente completo com o que este mundo oferece? Não sabia. Nunca experimentara e nem sabia ao certo se queria, mas estava cansado de viver assim. Buracos cada vez maiores, apego a um passado que me enche de culpa, mente amargurada.
Por que era tão difícil para mim? A felicidade podia estar bem na minha frente e, mesmo não tendo certeza, queria arriscar.
Queria poder para mais tempo com a Amanda, mas chegamos à escola, e cada um foi para sua sala. Daquele momento em diante tudo tornara-se cinza e insignificante.
Talvez fosse ela.
Quando entrei na sala, deparei-me com a Olívia. Desde a minha fuga da biblioteca havia encontrado com ela algumas vezes, mas não trocamos palavra alguma. Não que eu quisesse. Ainda tinha um mau pressentimento sobre aquele dia.
A ex-amiga dela também estava ali, fitando o aparelho celular em sua mão, e a outra de cachos papeava com a miss simpatia.
— Bom dia, alunos. Vá, silêncio. — A mrs. Tesfaye ordenou, com o seu jeito sereno de sempre.
Ela era nova, mas já se tornara a preferida da maioria dos alunos, e com razão. Ela era a calmaria e gentileza figurada em forma humana.
— Como vocês sabem, sempre após as provas, há uma pequena atividade que será feita em grupos. Escolherão um tema e, até a próxima semana terão de avisar-me a vossa escolha. — Pegou o caderno e alguns palitos coloridos, com a ponta preta. — Isso também auxiliará nas suas notas. — O alvoroço fez-se. A escola sempre procurava ajudar-nos a terminar o ano com boas notas. — Não é obrigatório, então, quem não quiser participar avise.
Perante toda aquela euforia eu permanecia indiferente. Nunca tinha participado daquelas atividades e não iria ser diferente daquela vez, mesmo que trouxesse alguns benefícios. Mas, poderia tentar, não? Talvez, seria uma forma de ser "normal".
— Então, quem não vai participar? — Analisou a sala, procurando um braço no ar, mas não houve. Todos queriam participar. — Ótimo! Venham pegar os palitos. Os que tiverem da mesma cor, farão parte do mesmo grupo.
Aguardei que a maioria da massa humana fosse à frente pegar os palitos, enquanto ponderava o que veria a ser aquele trabalho. Teria de conviver com outras pessoas, que provavelmente não irão com a minha cara nem eu com as delas. Ainda tinha tempo de desistir, mas não tinha forças para isso.
Levantei-me, sem muita vontade e retirei o último palito da mão da professora, que tinha um sorriso amável no rosto. Observei o palito azul, discutindo comigo mesmo, mentalmente, por não ter recusado participar. Estava tão preocupado com coisas pequenas, que esqueci-me do essencial.
— Parece que estamos no mesmo grupo. — Com uma voz suave e trêmula, ela desesperou o meu ser.
O Gabriel tá mais confuso que a visão que tenho sem óculos.
Eis que a Amanda aparece:
Atividade!!! Animação do Gabe < 0. Ainda mais com "A" companheira de grupo.
Até um dia destes!
Abraços quentinhos e fiquem com Deus.
♡'・ᴗ・'♡