[Pulsos]

By DehPime

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Essa história não é para ser lida, só vivendo você vai entender. E se um dia seu pai saísse para trabalhar e... More

Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Pulsos II: [Inspire]

Dezesseis

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By DehPime

Passei o final de semana inteiro mofando dentro de casa; descansando do show incrivelmente foda. Tem coisas na nossa vida que nunca nos esqueceremos e esse show é uma das minhas. Eu conheci todos eles, cantei com eles, eu não conseguiria me esquecer disso nunca, nem se quisesse.

Depois de acordar um pouco atrasada na segunda-feira, tive de me arrumar quase que correndo para o colégio, Megan também estava atrasada e acabamos saindo sem tomar o café. Não falamos de outra coisa que não fosse sobre o show o caminho todo. Marcus esperava por Megan na entrada, ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e depois a beijou.

Me afastei dos dois sorrindo. Subi as escadas, eu estava atrasada, mas faria de tudo para evitar ter de aturar minha professora de História gritando com todos na sala, até com os que estavam em silêncio. Mas assim que cheguei no último andar me deparo com Liviane. A única coisa capaz de me fazer desejar estar na aula de história nesse exato momento, é a Liviane.

Ela me encara e faço o mesmo. A essa altura, ela já deveria entender que seu ar de superioridade não me intimida mais.

― Não sei você, mas eu tenho aula agora. Com Licença. ― Passo por ela, mas ela segura meu braço e me puxa novamente para o mesmo lugar de antes.

Ela aponta um dos dedos para mim antes de retirar o cabelo do rosto e dizer:

― O Luke não vai ficar contigo. Entendeu ou quer que eu repita?

Sorri sarcasticamente. Não sei o que ela estava aprontando, mas eu não iria cair no seu joguinho dessa vez.

― Repete ― sussurrei provocando-a.

― Ele não vai ficar contigo ― disse tentando manter a calma, mas pude sentir o desespero em sua voz.

― Ele já está comigo Liviane, aceita que dói menos ― digo e puxo meu braço novamente.

Seus lábios se abrem em um sorriso de víbora.

― Sua ingenuidade as vezes me assusta. Pobre Mand. O Luke só está te usando. Igual um dia ele me usou ― disse ela com um tom calmo e provocante.

Se não fossem pelas câmeras, acho que eu a empurrava escadaria abaixo.

― Eu sempre achei que você gostasse de ser usada.

Sua afeição mudou. Seu sorriso se foi. Ela me odiava, do mesmo tanto ou até mais do que eu a odiava. Então ela sorriu, assumindo novamente a pose de soberana.

― Como sempre, você estava enganada novamente. Você não sabe absolutamente nada sobre mim. ― Ela voltou a apontar seu dedo pra mim.

― Eu não gosto de perder. Mas admito que perdi pra ela uma vez; eu não vou perder pra você também.

― Perdeu pra quem? Para Reh? ― pergunto voltando a provoca-la.

― A Reh? ― Ela riu sarcasticamente. ― Você é muito mais ingênua do que imaginava. Eu não estou falando dela. Estou falando da...

Não sei de onde, mas Luke logo apareceu, e me puxou para longe dela, me levando em direção a sala.

― Não escuta ela ― disse bem próximo de meu ouvido, o que me fez arrepiar.

Liviane nos seguia, com passos apressados o mesmo sorriso de víbora nos lábios.

― Ah, o que foi Luke, você não vai contar pra ela?

Luke para, eu paro, todos nós paramos.

― Contar o quê? Do que você está falando Liviane?

Me virei para Liviane, e depois encarei Luke.

― Que merda! De quem vocês estão falando? ― perguntei com o coração acelerado, não sei porque.

― Ninguém, não estamos falando de ninguém, Amanda. ― ele gritou. Liviane obviamente riu. ― Me perdoe Mand, é que. ― Ele apontou para Liv. ― É que ela está o tempo todo tentando nos separar, e eu acabo por perder a cabeça. Me desculpe.

― Está tudo bem. ― Abaixei o olhar.

― Ela volta amanhã, Winchester. Esteja preparado e você também, Amanda. ― Ela nos deu às costas. ― O namoro de vocês acaba amanhã.

― Liv para de inventar, você já foi melhor que isso. E eu ainda sei seus segredos.

Ela parou onde estava, parecia petrificada. Luke sorria, e eu não estava entendendo absolutamente nada.

― Chantagem Luke? Você também já foi melhor que isso. E eu sei que você não seria capaz de tal baixaria.

O sorriso nos lábios de Luke se abriram ainda mais, e seus olhos se fecharam um pouco. Ele estava assustador daquela forma, só faltava a gargalhada sinistra pra mim sair correndo dali.

― Quer apostar? ― Seu tom de voz saiu baixo, e eu mesma quase não ouvi, mas Liviane sim, e isso é o que importa.

Ela fechou as mãos, como se estivesse prestes a dar uma surra em nós. Mas ela não o fez, apenas andou em direção a sala que estava atrás de mim e sussurrou algo em meu ouvido. Algo que me fez congelar também, ela parecia estar falando sério.

― Seu namoro acaba amanhã ― disse antes de entrar na sala.

Suspirei aliviada, Luke fez o mesmo. Eu não entendi, de quem Liviane estava falando e porquê dessa convicção toda sobre meu namoro com Luke acabar amanhã.

― Não ligue pra ela. Acho que ela acabou esquecendo de tomar os remédios hoje, ou eles pararam de fazer efeito.

Eu sorri e ele me abraçou de uma forma reconfortante. Liviane sempre conseguia me tirar do sério. Mas desta vez ela conseguiu mais do que isso, ela conseguiu me deixar intrigada. De quem ela estava falando?

― De quem ela estava falando, Luke? Quem volta amanhã?

― Não é ninguém. Você não confia em mim?

A pergunta não era essa, e sim: Eu devo confiar? Fiquei em silêncio por alguns segundos, até que descido responder.

― Eu confio sim.

O beijei e ele me apertou entre seus braços.

― Queria te convidar para ir comigo na festa de comemoração da parceria da empresa com uma nova marca, você topa?

― Na empresa de seu pai? ― perguntei.

Ele sorriu.

― É sim. ― Ele me deu um selinho. ― Passo na sua casa ás nove.

Dei alguns tapas de leve em seu peito.

― Convencido. Quem te disse que eu vou?

Ele me encarou sem entender nada e eu ri.

― É claro que vou bobo.

Ele sorriu e me beijou novamente, então se dirigiu até sua sala de aula. Fiz o mesmo, mas antes eu fui, obviamente, barrada pela professora na entrada.

― Isso são horas para entrar na sala de aula, Carter?

Olhei para meu relógio de pulso, e é, isso não se eram horas para entrar na sala de aula. O tempo de atraso permiti apenas dez minutos e de acordo com meu relógio, eu havia me atrasado cinco minutos a mais.

― Não senhora. ― Abaixei a cabeça, fingindo um arrependimento que não existia.

Eu estava explodindo de felicidade. Eu não teria que assistir a aula insuportável de História enquanto a professora cuspia nos alunos que estavam sentados nas primeiras carteiras. Por isso sempre sentávamos no fundo.

― Tudo bem, você pode entrar dessa vez. Mas só desta vez! E espero que isso não se repita. ― Uma gotícula de sua saliva acertou minha face, um pouco abaixo do meu olho esquerdo. Me concentrei na gotícula, e acabei me esquecendo de ir me sentar. ― Carter? ― A professora me chamou, interrompendo meus devaneios. ― Vai se sentar ou não?

Sua saliva parecia ácido derretendo minha face. Eu queria vomitar. Mas assenti e fui me sentar na única carteira vazia, adivinhe onde! Na frente. Liv estava sentada no fundo, olhando para a parede, totalmente indiferente ao resto mundo.

Tentei ser indiferente em respeito a professora de História estar me dando um banho de saliva enquanto explicava a matéria cuja a qual eu não sabia absolutamente nada e também não estava nem um pouco afim de saber.

g

Luke havia dito que passaria aqui, para me levar para a festa de comemoração da empresa. Mas não mencionou nada sobre seus pais estarem lá ou não.

Acho um pouco estranho o fato dele conhecer minha família, e eu não conhecer ninguém da sua, além da Maria, obviamente. Também não entendo porque ele parece evitar falar sobre seus pais, é estranho, eu acho.

Megan deu duas batidas na porta antes de entrar sem pedir permissão. Ela estava com um sorriso tanto débil, quanto perverso preso nos lábios.

― Aleluia! Pensei que nunca te veria usando um vestido na vida ― disse se sentando ao meu lado na cama.

Rimos.

― Acho que vou colocar uma calça então. ― Me levantei.

― Não ouse, Amanda! ― Ela se postou diante de mim com uma pose de autoridade, como minha mãe costumava fazer quando eu queria comer biscoitos no jantar.

Revirei os olhos.

― É Mand, coloca isso na sua cabeça, Megan.

Ela cruzou os braços, e me encarou.

― Você sabe o significado do seu nome? ― perguntou enquanto eu me sentava novamente na cama.

― Porquê disso?

― O significado do seu nome. Você sabe?

― Não ― murmurei.

Ela sorriu e se sentou ao meu lado na cama.

― Digna de ser amada. É isso que seu nome significa. Você é digna do amor que todos temos por você, inclusive o do Luke. Amanda não é apenas um nome, e não é feio e nem fresco. Ele tem sentido. E meio que te define.

― Está tentando filosofar algo legal com o significado do meu nome? ― perguntei a encarando.

Ela se jogou de costas na cama.

― É. Estou sim. ― Rimos e ela se sentou novamente. ― Então, você vai de vestido?

― Não sei. Ele é um pouco curto, e é um vestido.

― Obvio que é vestido, e não é curto. Você está linda. ― Olhei para o vestido preto, meio curto e todo cheio de frescuras que eu estava vestindo, era obvio que eu não havia o comprado e sim, Megan.

― Tudo bem. Me empresta um sapato? Acho que não ficaria legal com meu tênis.

― Quem é você e o que fez com a minha Mand? ― Ela cruzou os braços em frente o peito.

― Sua Mand? Que droga você está usando, Megan? ― gargalhei quando ela revirou os olhos e saiu do quarto. ― E o sapato? ― grito pra ela enquanto a ouço bater à porta de seu quarto.

Ótimo. Terei de ir com meu tênis.

― Como eu sei que a madame não sabe andar de salto alto, eu peguei este aqui que o salto é um pouco menor.

Sorri ao ouvir a voz de Megan vindo da porta. Ela não me abandonou.

― Menor? ― perguntei olhando o tamanho do salto, ele não parecia tão pequeno assim.

Coloco, e começo a pentear meu cabelo.

― Solto ou amarrado? ― pergunto.

― Solto! Não, pera. ― Ela se levanta e vem até mim, pega uma fivela e prende um pouco do meu cabelo. ― Assim está ótimo! ― Ouço a porta bater, Megan a abre e me deparo com minha mãe.

― O seu namorado está ai.

― Estou terminando. ― Dou uma última olhada no espelho e me despeço de Megan, desço com minha mãe, e meu olhar se encontra com o do Luke, ele estava com terno e tudo mais, com direito a gravata branca.

― Eu volto mais tarde ― digo.

― Já conversei com o Luke sobre a hora. ― Me aproximei de Luke e ele me deu um leve beijo.

― Está linda ― ele sussurra.

― Você não está tão mal. ― Sorrio. ― Mãe, já vou indo. Beijos.

― Se cuida ― minha mãe disse.

― Eu cuido dela. ― Luke disse e saímos em direção ao seu carro. Antes de entrarmos ele pediu que eu ficasse de costas, e assim que fiquei colocou um colar em meu pescoço, o pingente era uma ancora.

Assim que ficamos frente a frente ele beijou meus lábios.

― Você é meu porto seguro.

Foi a última coisa que disse antes de entrarmos.

O olhar de Luke estava bem preso nas ruas, e ele parecia estar um pouco tenso. Não sei por qual motivo, mas de certa forma estava me incomodando não ver aquele sorriso que tanto amo em seus lábios.

― Está tudo bem? ― perguntei, seu olhar pela primeira vez desviou e me encarou enquanto parava em um semáforo fechado.

Ele me olhou no fundo dos meus olhos, e abriu os lábios como se fosse dizer algo, mas não disse. Ele voltou a olhar para frente, quando abriu os lábios novamente e respondeu minha pergunta:

― Está sim.

Eu queria poder acreditar nesse "Está sim", mas realmente não dá, não quando a expressão de seu rosto mostra totalmente o contrário, ainda mais quando ele olha para mim.

O semáforo abriu e ele continuou a conduzir até chegarmos na empresa de seu pai. Era um prédio alto, quase do tamanho do prédio onde Boby mora, acho que uns três andares menores, somente.

Descemos do carro assim que chegamos no estacionamento, abri a porta e sai. Seguimos andando até o elevador próximo de onde fora deixado o Camaro preto de Luke.

Assim que chegamos no último andar, a porta do elevador se abriu e saímos dele enquanto alguns olhares se concentravam em nós. Haviam bastantes pessoas, algumas bebendo algo em taças, outras apenas conversando e rindo de algo que outro alguém falou.

― Winchester ― disse um dos homens enquanto vinha em nossa direção e o cumprimentava.

― Wendell ― disse Luke. ― Quanto tempo, nunca mais apareceu aqui.

― Muitas viagens, não estava com tempo para mais nada. ― Sorrio. Ele aparentava estar quase chegando em seus 40 anos. ― Onde está seu pai?

― Viagem de negócios, volta amanhã.

― Ele não cansa de trabalhar, não é mesmo? ― perguntou e Luke apenas riu e concordância e começamos a andar em direção a um grupo. Todos naquela festa estavam vestidos formalmente, agradeço por não ter vindo com meu tênis.

― Como vai meu mais novo parceiro? ― perguntou Luke assim que se aproximou de um homem, um pouco mais velho que o outro, enquanto o cumprimentava com um aperto de mão.

― Eu vou muito bem! Ainda mais com um festão desses, e essas maravilhas ― disse com um sorriso um tanto pervertido no rosto o que fez Luke rir.

― Você sempre sai de uma festa bem acompanhado.

― Mas é claro. ― Sorriu. ― Mas vejo que você veio bem acompanhado hoje, e que nem precisa se esforçar para sair com uma boa companhia.

O homem olhou para mim, enquanto virava um pouco do liquido em sua boca.

― Essa é Mand, minha namorada ― disse Luke enquanto colocava o braço por cima de meu ombro.

― É um prazer, conhece-la ― disse o homem estendendo a mão educadamente para mim. Apertei sua mão logo depois de dizer que o prazer era todo meu.

― Já que você está acompanhado, vou ter que ir a procura sozinho ― disse o homem rindo enquanto começava a andar em direção a um grupo de mulheres que conversavam no canto da sala.

Luke deu um beijo em meu rosto e começou a caminhar de onde viemos, ainda com o braço sobre meu ombro, o que me fez ir com ele. Mas ao invés de voltar para o elevador, ele seguiu reto a esquerda, enquanto passámos por um corredor que levou a uma recepção totalmente vazia.

Depois de abrir a porta que ficava ali ao lado, entramos e ele começou a abrir as gavetas a procura de algo.

― Onde deixei? ― perguntou para si enquanto tornava a abrir outra gaveta.

― O que está procurando? ― perguntei. Ele apenas me olhou e puxou algo dentro da gaveta.

― Isso ― disse com os papeis em mãos e apenas riu. ― Senta ai ― apontou para uma poltrona branca que ficava atrás de uma mesa.

Continuei onde estava enquanto ele procurava outra coisa, e depois de encontrar ele veio até mim.

Eram mais papéis.

Com sua mão ele abriu a porta e o segui até outro cômodo, do outro lado.

Entrou no outro escritório, e apenas deixou os papéis sobre a mesa e saímos, voltando para onde a festa rolava. Já havia começado tocar uma música, um tanto agitada. Não vi onde o novo parceiro da empresa estava, acho que deve ter encontrado alguma boa companhia.

Luke cumprimentou mais algumas 10 pessoas até finalmente podermos ficar sozinhos e conversar.

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Coloquei os sapatos de Megan sobre o chão do quarto do Luke e deitei em sua cama, ainda me lembrando do espaguete á carbonara que comemos depois que saímos da festa e paramos em um restaurante. Por um momento senti que o bacon me chamava, de tão delicioso que estava.

Luke tirou seu terno, e ficou apenas com a camisa de baixo e se deitou do meu lado, enquanto ambos olhávamos para o teto forrado de seu quarto.

― Estar assim com você, me lembra o dia da festa ― digo. ― Tudo bem que não estamos deitados em uma grama e nem dá para ver as estrelas. Mas por algum motivo eu me lembrei daquele dia.

― Foi o dia do nosso beijo ― disse, e eu viro meu rosto para o lado e nos encaramos.

― Também foi o dia em que você foi super idiota ― digo enquanto rio.

― Eu acho que você tem uma queda por idiotas.

― Eu tenho uma queda por Luke Winchester ― digo e ele diminui a distância dos nossos rostos e ainda mais dos nossos lábios e começamos um beijo com desejo e que ficou mais quente ainda quando Luke se colocou por cima de mim e sua mão foi até a parte descoberta da minha coxa, por causa do vestido ser curto. Sinto um calor pelo corpo após o seu toque, e coloco minha mão em suas costas. Luke leva sua mão mais pra cima de minha coxa, por baixo do vestido o que me faz recuar.

― Desculpe ― pediu e tirou sua mão de minha coxa.

― Só vai com calma ― digo e um sorriso enorme se forma em seus lábios.

― Você tem certeza?

― Eu sempre disse que seria com quem eu realmente amo e você é quem amo. ― Dei um selinho nele.

― Vou ter o maior cuidado possível, e se quiser que eu pare é só pedir. Tudo bem?

― Tudo bem. ― Ele me deu um beijo profundo e levou sua mão a minha coxa novamente o que me fez sentir novamente uns arrepios. Ele levantou calmamente um pouco meu vestido e depois levou sua mão em minha cintura. Ele se apoiou em seus joelhos e saiu de cima de mim, me fazendo se sentar. Ele foi por trás de mim e me deu leve beijos em meu pescoço e foi abrindo lentamente o zíper do meu vestido que levava até um pouco acima da cintura. E segurou em sua barra e começou a levanta-lo para tira-lo. O ajudei, sua mão levantava meu vestido para cima e eu sentia meu corpo desprotegido, depois de puxar dos meus braços, o vestido finalmente saiu. E eu fiquei apenas com minha roupa intima preta. Luke me deitou e se apoiou novamente por cima de mim. Observando meu corpo e o beijando, sua mão percorria entre minha cintura e a minha barriga me fazendo sentir arrepios.

― Prometo que não vai se arrepender ― sussurrou bem perto de meu ouvido.

― Eu sei que não. ― Beijei- o.

Tudo foi o oposto que eu imaginaria que seria, nada parecido com o que li ou ouvi sobre. Houve uma serie de inseguranças da minha parte, mas nada com que o Luke não tratasse da melhor forma possível.

― Eu te amo Amanda Carter. ― Luke disse após uns longos segundos de silencio do que acabamos de fazer.

― Eu te amo Luke Winchester. ― Apoiei minha cabeça em seu peitoral e puxei o cobertor para nos cobrir.

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― Bom dia amor. ― Luke disse enquanto abro os olhos lentamente. Ele estava sentado e com uma cueca box, ja eu? Só coberta por lençóis. Me sentei e me cobri mais com os lençóis.

― Não precisa ter vergonha.

Sorrio.

― Podia virar-se para mim me vestir?

― Serio? ― Ele riu gozado.

― Serio. Vai logo Luke. ― Ele se virou. Peguei minha roupa intima que estava espalhada e me vesti.

― Sabe onde está meu vestido? ― pergunto e ele se vira enquanto assim como eu olhava pelo quarto a procura do vestido. Ele estava no chão do outro lado da cama, depois de pegar ele me deu e se virou novamente para mim poder me vestir.

Seus lábios aproximaram do meu assim que já estava vestida e em pé em frente ao Luke.

― Como minha namorada é linda ― murmurou com os lábios próximos dos meus. ― Está com fome?

― Eu adoro isso ― digo enquanto seguro em seu braço.

― O que? Estar com fome?

― Não! ― respondi rindo. ― Você falar "minha namorada".

― Minha namorada ― ele sussurra de um jeito sexy em meu ouvido que me faz arrepiar. ― Está com fome?

― Um pouco.

― Vou colocar uma roupa e descemos.

Apenas assenti e ele foi se vestir. Depois de eu lavar o rosto, descemos e fomos até a cozinha. Maria estava lá conversando com outra mulher com a mesmas vestes que ela.

― Maria ― disse Luke deixando um beijo em seu rosto e depois outro na mulher ao lado.

Ambas olharam para mim e falei um oi antes de eu e Luke nos sentar na mesa e tomar café e em seguida ele ir me deixar em casa.

― Te vejo amanhã na aula? ― pergunta enquanto olha para mim.

― Claro. ― Dei um selinho nele. Seu celular começa a tocar, ele pega, olha a tela. Faz uma cara não muito boa e põe no mudo. Depois volta a me olhar e percebe a confusão em meu olhar.

― Meu pai ― ele finalmente disse.

― Não vai atender? ― pergunto.

― Não ― disse e beijou meus lábios. ― Até amanhã.

― Até.

Digo antes de sair do carro e entrar em casa, indo direto para o meu quarto tomar um banho e deitar para dormir.

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A aula estava correndo bem, professor perguntando e alunos dando respostas estúpidas, nada demais, até o olhar penetrante da Liviane em mim já estava começando a fazer parte do meu cotidiano.

― Qual é a terceira lei de Newton? — perguntou o professor sem esperança alguma em receber uma resposta. — Alguém aqui sabe pelo menos uma das Leis de Newton?

A sala permaneceu em silêncio, um olhando pro outro, evitando olhar para o professor. Ele estava prestes a jogar tudo pro ar e sair correndo da sala, quando alguém, no fundo da sala deu uma resposta aceitável o suficiente para o fazer abrir um largo sorriso.

― Ação e Reação — disse Liviane, sorrindo maleficamente enquanto ainda me encarava.

― Olha, ela tem um cérebro — murmurei para Megan que se juntou a rir comigo.

O sorriso do professor de desfez, e no lugar de um olhar carismático, apareceu um olhar feroz, enraivecido, capaz de me arremessar contra a parede só com uma piscadela. Parei de rir.

― Senhorita Carter, pode me dizer qual é a graça? Ou melhor, repetir o que disse à sua colega para fazê-la ficar vermelha de tanto rir?

Olhei para Megan, na esperança de ela se pronunciar e um anjo descer do céu para me salvar. Mas ela apenas virou o rosto, tentando não rir da cara do professor, ou da minha.

― Inércia — murmurei com a voz rouca.

― Mais alto Carter, até sua respiração está mais alta que isso.

Liviane riu e arqueou uma das sobrancelhas, como se dissesse: O quê? Vamos, diga.

― Inércia. Uma das Leis de Newton. Inércia, era isso o que eu tinha dito à Megan.

Ele riu com um ar de deboche, se aproximou da carteira de Megan e disse:

― O que tem de tão engraçado nisso?

Ela parou de fazer careta para não rir, e começou a estalar os dedos. Ela me olhou, e voltou a atenção para o professor que continuava parado como um poste à sua frente.

― Eu disse a ela que estava com vergonha de responder e estar errada, e essa lesa riu. — Dei um tapa no braço de Megan.

― Tudo bem, Carter. Você respondeu certo, e não deveria ter vergonha. — Ele me encarou por um segundo antes de voltar sua atenção para o restante da turma. — Inércia, assim como Ação e Reação, são sim uma das incríveis Leis de Newton. Isaac Newton foi um ilustre matemático, físico, astrônomo e filósofo inglês, sim, uma pessoa pode ser tudo isso. — Ele fez uma pausa, bebeu um gole de agua de um copo descartável que havia sobre sua mesa e voltou a falar. — Dizem que Newton estava sentado debaixo de uma macieira, quando uma maçã caiu aos seus pés...

Me concentrei em Liviane, que continuava me encarando. Cutuquei Megan com a ponta da caneta.

― O que foi? — pergunta esfregando o local em que a ponta da caneta lhe espetou no braço. — Isso dói, sabia?

― É a Liviane, ela não para de me encarar. Isso já está passando dos limites. — Levei meu olhar até a carteira onde Liv estava, ela continuava me encarando, parecia petrificada, com o olhar preso em mim.

Megan soltou uma leve risada: — Ela te odeia, lembra? É só você ignorar.

― Eu já estou fazendo isso, mas ela não para!

― Não está não. Ela está fazendo isso apenas para te irritar, esquece que ela existe.

Assenti e comecei a copiar a atividade que o professor colocou no quadro. Por sorte logo tocaram o sinal do intervalo, eu não aguentaria copiar mais nem uma linha, e olha que ele disse que não estava nem na metade.

― Até a próxima aula, vocês estão livres de mim o resto da semana — brincou o professor.

Acompanhei Megan até o refeitório, ela se sentou ao lado de Marcus em uma mesa que era separada das outras. A empurrei para o lado no banco e me sentei ao seu lado. Marcus a beijou e eu virei o rosto. Eu adoro ficar segurando vela - sentiu a ironia?

― Oi Mand — disse Marcus.

― Oi — murmuro. — O Luke veio?

― Veio sim, ele está na sala. Pode ir lá.

Me levantei do banco repentinamente, empurrando a mesa para frente. Caminhei até a sala deles. Luke estava sozinho, sentado numa das últimas carteiras com a cabeça baixa. Acariciei seus cabelos quando cheguei perto o bastante para o fazer, ele levantou a cabeça, retirou minha mão de seus cabelos e a beijou. Me sentei na mesa, de frente pra ele.

― O que houve, Luke? — pergunto começando a balançar as pernas no ar.

Ele parecia abatido, preocupado. Seus olhos vermelhos demonstravam seu cansaço, por causa de uma noite mal dormida. Ele me puxou para o seu colo.

― Nada. Não houve nada.

― Sério? Você não me engana Luke, é só olhar pra sua cara e logo se percebe que tem algo errado. Por favor, me diz. O que houve?

Ele me dá um beijo na testa, bufa, suspira e bufa de novo.

― Meu pai. Ele não aceita o nosso namoro. — Ele desviou o olhar para a frente.

Minha respiração pesou, parecia que meu coração havia sido congelado e meus pulmões evaporado.

― Mas, não precisamos que ele aceite. Ele está sempre trabalhando, como você disse, ele está sempre ausente, acho que seu pai já perdeu o direito de controlar a sua vida a algum tempo.

Ele negou com a cabeça, dirigiu seu olhar a mim e murmurou:

― Não é isso, Mand. Não é assim.

O encarei.

― Então como é, Luke?

Ele suspirou novamente, me encarou com os olhos marejados.

― É complicado, Mand. Não tem como eu te dizer isso.

Levantei-me de seu colo, sua mão escorregou pelo meu braço e terminou na minha mão.

― Tem sim, Luke. Você que não quer. Diga, o que é?

Ele fez uma careta chorosa. Se levantou da cadeira e me abraçou, tão apertado que senti meus ossos rangerem e por fim estalarem.

― Eu tenho uma namorada Amanda, uma que não é você — ele disse bem próximo ao meu ouvido.

O empurrei de volta para a cadeira. Procurei seu olhar, mas ele estava sempre o desviando. Eu não acreditava, era mais do irreal. Ele estava apenas me usando esse tempo todo. Como eu pude ser tão estúpida ao ponto de cair na sua ladainha do eu te amo? Como pude me negar tanto assim com uma pessoa? Como eu consegui me apaixonar por um idiota desses? É, agora eu entendo, o amor se torna ódio quando a gente menos espera. Mas, ainda assim, a droga que é o amor consegue esmagar o ódio por alguns segundos, me fazendo duvidar da verdade.

― Não acredito nessa, invente uma piada melhor Luke — digo enxugando as lágrimas que escorriam sem cessar e contra a minha vontade.

Enxuguei as lágrimas e forcei um sorriso. Luke me abraçou, seu abraço era aconchegante, e ao mesmo tempo nojento, eu queria ele longe de mim uma hora, e na outra simplesmente não resistia a absolutamente nada, só o fato de ele ainda estar respirando já era o suficiente para me fazer enlouquecer.

Então ele disse aquelas palavrinhas, seguidas de mais uma sequência de palavrinhas. Ele disse o que no fundo eu já sabia, só não queria admitir.

― Eu te amo Mand. Mas isso não é uma piada, realmente tenho outra namorada.

O empurrei de volta para a cadeira. Ele segurou minha mão antes que eu conseguisse me afastar.

― Mand, espera eu explicar. — Sua mão apertou a minha.

Me virei para ele, olhei fundo em seus olhos e fiz a única coisa que me pareceu certa, o empurrei novamente.

― Não me toca, Luke! — gritei com a boca encharcada pelas lágrimas. — Nunca mais me toque. Eu confiei em você, droga. Cara, e-eu te amei mais do que um ser-humano é capaz de suportar, para quê? Pra isso? Porque eu fui tão idiota a esse ponto? Eu te odeio Luke. Eu te odeio!

Corri para fora da sala, o intervalo ainda não havia acabado, mas eu ainda assim fui para a minha sala, me sentei no mesmo lugar de antes. Não havia ninguém lá além de mim e da minha dor e das malditas memórias! Os momentos em que estivemos juntos, cada um deles, eu me lembrava de cada detalhe, cada palavra, cada beijo. Seria impossível eu me esquecer da nossa noite, e muito menos de como ele disse que me amava, seus olhos demonstravam sinceridade.

― Idiota ― gritei entre um soluço e outro. Gritei pra ele, gritei pra mim, porque no fim, nós dois fomos idiotas, eu por ter acreditado, e ele por ter mentido.

O sinal soou. Limpei as lágrimas e o rímel borrado, e permaneci de cabeça baixa. A professora já havia entrado, mas uma grande parte da turma não, o que me deu alguns minutos a mais de silencio. Logo senti alguma mão deslizar por meus cabelos várias vezes.

― O que aconteceu, Mand? — pergunta Megan se sentando em seu lugar ao meu lado.

Evito levantar a cabeça, meus olhos ardiam por causa da claridade, e minha cabeça estava latejando.

― Nada — respondo com a voz embargada pelo choro.

― Como nada? A escola toda ouviu o seu grito lá de fora. Me diz Mand, o que houve?

― Eu não quero falar sobre isso, está legal?

Permaneço de cabeça baixa até o final da aula, e acabo dormindo profundamente durante a última aula.

― Mand, a aula já acabou — disse Megan balançando meu braço.

Abro os olhos com um esforço tremendo. E quando minha vista finalmente se acostuma a claridade, guardo meu material na mochila e caminho com Megan para fora da escola.

― Vai pra minha casa hoje? — pergunta Marcus antes mesmo de nos aproximarmos dele o suficiente para uma conversa privada, isso quer dizer, que ele gritou para Megan.

― Não. Eu vou com a Mand.

Marcus me olha como se sentisse pena de mim e disse:

― Ele não queria assim, Mand.

Dou de ombros.

― Eu também não. — Me virei para Megan. — Eu vou sozinha, quero pensar um pouco. Vai com ele.

Ela se voltou pra mim, fazendo se cabeleira loura surfar no ar. Eu queria ir sozinha, caminhar faz bem à saúde e me ajuda a pensar melhor.

― Sua mente é meu medo. — Ela bateu com a ponta do dedo na minha testa. — Eu vou com você.

Suspiro e aceno para o Marcus. Ele e Megan se beijam, ótimo, estou segurando vela de novo. Enquanto desviava o olhar deles, acabei dando um giro de cento e oitenta graus e encarando um velho carvalho, Luke sempre colocava seu carro debaixo daquele carvalho. Ele ainda estava lá, o carro, parado debaixo do carvalho, descansando em uma sombra como sempre. Havia uma garota conversando com Luke. Os observo por algum tempo, até Luke se virar e fazer o mesmo comigo. Ficamos assim por algum tempo, até que a Megan me chamou, e começamos a seguir em direção a nossa casa.

― Nos vemos depois — grita Marcus pra Megan.

Caminho de cabeça e passos calculados. Seguro a alça de minha mochila e começo a murmurar uma música da One Direction, a mesma que cantei com Niall aquela noite: You and I. Eu quero odiar o Luke, mas sei lá, eu não consigo, e eu me odeio por isso.

― Mand. Quer me contar o que aconteceu? — pergunta Megan.

― Não — respondo seca e grossa.

― Me conta Mand, talvez eu possa te ajudar. O que houve?

Paramos de andar, eu a encarei e uma lágrima me escorreu pela face. Megan fez cara de preocupada, depois de impaciente enquanto eu decidia se contar ou não.

― Luke tem outra. Outra namorada. — Dei de ombros e voltei a caminhar.

Megan continuou parada, calculando minhas palavras para tentar entender a equação.

― O que? Hã... Como?

― Um triangulo Megan. Um triangulo de noventa graus, vamos, você aprendeu isso na aula de matemática. Um triângulo de noventa graus, só que havia um lado errado. Eu.

A essa altura eu já havia começado a chorar, me descabelar e tudo o que uma pessoa com raiva tem direito. Megan me seguia, me impedindo de fazer qualquer estupidez, tipo: jogar uma lata de lixo na cabeça de uma velhinha, ou correr no meio do trânsito sem camisa.

― Eu sinto muito, Mand. Eu devia ter te contado, eles não se viam há tanto tempo, que eu pensei...

― Espera. — Parei de frente pra ela. — Você sabia?

Ela abaixa a cabeça e apertada os livros contra o peito enquanto volta a caminhar.

― Você sabia. — Afirmei mais pra mim do que pra ela.

Megan mentiu, o Marcus mentiu e o Luke mentiu, todos eles sabiam, mas ninguém me disse nada, deve ser dela que a Liviane estava falando aquele dia. Até ela sabia, e eu não. Quem mais sabia disso? Talvez todo mundo, menos eu, que estou sempre por fora de tudo, sempre me deixam de lado.

― Mand, me desculpa. Ele disse que não haveria problema, que a Eduarda não voltaria, que o namoro deles não havia passado de uma paixãozinha de crianças. — Ela toca meu braço, mas eu o puxo de volta, me afastando dela.

― Então ele mentiu pra nos duas. — Me virei de costas pra ela e quase que sai correndo em direção a minha casa. Mas as lágrimas não me permitiam ver o caminho muito bem, e eu desisti de sair atropelando todo mundo como uma maluca.

Ouvi Megan me chamando, mas não dei a mínima. Ele mentiu, no início, quando nos conhecemos, e depois de tudo o que tivemos, ele continuou mentindo. Eu queria abrir meu peito com as unhas e arrancar toda aquela dor de lá de dentro. Eu queria sumir.

Me tranquei no quarto assim que cheguei em casa, minha mãe estava na sala conversando com algumas outras mulheres e nem me viu entrar, o que me fez pensar que talvez ela também soubesse, e não quis me dizer. Me joguei na cama de bruços após jogar a mochila no chão e meu celular na parede.

― Eu te odeio, Luke! Eu odeio todo mundo — gritei abafando o som com o travesseiro.

Eu chorei, gritei, me esperneie na cama, mas não adiantou, a dor continuava a mesma de antes. Megan bateu na pra várias vezes, me chamando, ela queria conversar, mas eu não, eu não queria nem olhar pra cara dela, não conseguiria o fazer agora.

― Vai embora Megan, não quero falar com você! Eu não quero nunca mais te ver na minha frente — gritei.

Ela se calou, e seus passos começaram a se afastar. Ela havia ido, realmente havia ido. Eu não queria que ela tivesse ido, não mesmo. Queria que ela derrubasse a porta e entrasse para me dar uma bronca e me salvar do incêndio que havia em meu peito. Mas ela se foi, e me deixou queimado em minhas próprias chamas.

E quando dei por mim, eu estava me arrastando para o banheiro à procura de uma lâmina. Sempre achei estupida a ideia de chorar por algum homem que não fosse meu pai, isso era antes, quando eu ainda não sabia o quanto era doloroso. Quando finalmente encontrei a maldita lâmina, me sentei no piso e me encolhi. Eu não queria me cortar, não pelo Luke, nem por ninguém na verdade, não mais. Eu queria ser realmente forte, mas por algum motivo, eu desejava aquilo, sentir a lâmina deslizando pela minha pele uma última vez. Mas não, eu estava lutando contra essa vontade, a parte racional do meu cérebro lutando contra a irracional. Uma dizia que eu era fraca, a outra dizia apenas não, não, não.

Eu me odeio por ser fraca.

Eu me odeio por ter gritado com Megan.

Eu me odeio por ter acreditado no Luke.

Eu me odeio por estar aqui, nesse impasse.

Eu me odeio por todos e qualquer motivo.

Mas eu não iria descontar meu ódio em meu corpo, não dessa vez. E pelo menos dessa vez, eu não iria quebrar a promessa que fiz com a Anne. Arremessei a lâmina contra a parede e deixei que as lágrimas escorressem, então gritei pela única pessoa que iria me ouvir, que ao menos tentaria me entender.

― Megan!

Tentei me levantar, mas parecia que todas as minhas forças tinham sido sugadas pelo piso, então permaneci ali sentada, chorando e me odiando por estar chorando. Então eu ouvi a voz de Megan me chamando, e seus passos soavam alto no piso. A maçaneta da porta girou, e logo ela estava ali, sentada ao meu lado me dando um super abraço de urso.

Ela não disse nada, nem eu, também não tínhamos o que dizer. Ela deixou que eu chorasse até sentir dor de cabeça, depois me mandou parar de birra e ir lavar o rosto. Eu fiz o que ela mandou, fiz tudo o que eu faria em mais um dia entediante e normal, fingi que não havia acontecido nada o resto da tarde. Megan saiu com o Marcus depois de eu o ter chamado aqui para tirar o chiclete que Megan estava parecendo ser, do meu pé. Minha mãe conversou comigo sobre chorar por homem ser uma tremenda estupidez, pelo menos nisso a gente pensa igual. Ela disse que o melhor é esquecer, quem dera as coisas fossem assim, tão fáceis de serem esquecidas.

Depois de terminar o dever eu me deitei na cama, só me lembro de ter deixado uma única lagrima escapar antes de dormir.

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Já se passaram noventa e sete dias desde que falei com Luke pela última vez, não, espera... Foram apenas quatro. Quatro dias que não vejo o Luke, na verdade eu estou o evitando, não leio nenhuma de suas mensagens com pedidos de desculpa, não atendo nem retorno suas ligações, e quando o vejo na rua, finjo que não o conheço. Sei que não é certo eu me comportar dessa maneira, mas eu não suporto saber que ele apenas me usou o tempo todo.

― Mand. Quanto tempo — disse Boby ao atender minha ligação.

Eu não via o Boby desde o dia do acidente, que foi o dia em que o Luke disse que me amava pela primeira vez. Estou tentando, juro que estou tentando esquecer ele, mas isso é mais difícil do que eu imaginava. Tudo me faz lembrar dele, até as menores coisas.

― Mand, você ainda está ai? — pergunta Boby do outro lado da linha.

Respiro fundo.

― Estou sim — respondo com a voz rouca do choro noturno.

― Você estava chorando?

― Não que eu quisesse — respondi.

O que houve? Está tudo bem?

Engoli o choro que estava preso na garganta e respondi.

― Não, mas vai ficar. Podemos nos ver agora?

― Claro que sim — respondeu espontaneamente. — Aonde você está?

― Estou em casa, mas me encontre na sorveteria Frig.

― Está legal, já estou saindo de casa.

Abro um longo sorriso, Boby as vezes era tão bobo, e isso que era realmente legal nele, ele sabia ser bobo sem ser trouxa. Pego minha bolsa, meus fones e meu celular que por algum milagre havia sobrevivido ao arremesso. Espero realmente que isso não vire uma mania, meu celular não aguentaria mais uma dessas. Caminho até a sorveteria indiferente ao resto do mundo, isso é uma coisa que aprendi já a algum tempo. Me sentei no primeiro banco vazio que encontrei na sorveteria e esperei por Boby. Eu esperei, esperei e esperei, até que o meu celular tocou, era o Luke.

Eu devia ter desligado a ligação, mas não, eu o atendi.

― O que você quer, Luke? Você não cansa de me magoar? — gritei e todos na sorveteria me olharam, mas não me importei.

― Mand, me deixa explicar...

― Não. Eu não quero ouvir suas invenções, Luke. Você teve tempo o suficiente para elaborar uma ótima mentira. Eu estou farta das pessoas mentirem pra mim. Já chega disso — digo com a voz novamente embargada pelo choro que parecia estar preso na minha garganta, como uma enorme bola de pelos que me sufocava.

― Me deixa explicar, caramba. Eu não estou mentindo. Eu te amo Mand!

― Eu acreditei nisso, agora não acredito mais no Eu te amo. Adeus Luke. — Encerrei a ligação.

Abaixei a cabeça, deixando as lágrimas caírem na minha calça jeans. Cheguei a pensar que meu coração iria explodir, eu ainda acredito no amor dele, é mais fácil me engar, pois eu realmente não consigo acreditar que ele me enganou todo esse tempo, mentiras e mais mentiras. O pior erro que já cometi, foi me apaixonar pelo Luke. Bem que ele me avisou.

― Ei, não chore — disse Boby me puxando para um abraço. — Quer ir para algum outro lugar? Um mais calmo?

― Tanto faz — murmurei secando as lágrimas com a bainha da minha camisa.

Ele me dirigiu até seu carro, abriu a porta do carona para que eu entrasse, depois se dirigiu até o banco do motorista, e deu a partida. Observei a paisagem pelo vidro, nada tão bonito para citar, mas pelo menos eu estava me distraindo, o que já era um começo. Boby não falou nada o percurso todo, ele apenas ligou o rádio na primeira radia que apareceu, era uma música eletrônica que eu não conhecia, e quando essa acabou, começou You're Beautiful ― James Blunt. Boby ameaçou mudar, mas eu pedi para que deixasse.

― Mau de Amor. — Ele brincou, e essas foram as únicas palavras que ele disse antes de estacionar o carro no estacionamento do prédio.

Descemos do carro, o acompanhei até o seu elevador, ainda sem dizer nada. Paramos em frente a uma porta branca com o número 25 na porta. Ele a abriu e esperou que eu entrasse, antes de se jogar na minha frente com os braços abertos e um enorme sorriso no rosto.

― Bem vinda novamente. Quer sorvete? — pergunta enquanto me sento no seu enorme sofá.

― Eu estava em uma sorveteria, sabia?

― Certeza, de que não quer? É o melhor chocolate do mundo. — Ele abriu os braços e soltou uma leve gargalhada. — Como se todo chocolate não fosse bom. Vamos engordar um pouco. — Ele foi até a cozinha, e logo voltou com um enorme pote de sorvete em mãos e duas colheres.

Ele me entregou uma das colheres e o pote, depois colocou um dos filmes do Bogart para assistirmos, romance e ação, ele devia ser bom. Mas não prestei muita atenção no filme, eu estava perdida demais em meus pensamentos para o fazer.

― Luke? — pergunta Boby pausando o filme.

― É ele sim, mas eu não quero falar sobre isso agora.

Ele assentiu e deitei minha cabeça em seu ombro.

― Então vamos assistir ao Boggie — disse apertando play novamente.

Tentei me concentrar no filme, mas eu estava com sono, não havia dormido muito bem durante as últimas noites. Sempre que meus olhos realmente se fechavam, eu acordava assustada por ter tido algum pesadelo com o Luke.

― Como eu faço para me desapaixonar, Boby? — perguntei enquanto me deitava em seu colo.

― Eu não sei, mas quando eu descobrir eu te conto.

― Tudo bem — murmurei fechando os olhos.

― Pode contar comigo sempre, Mand.

― Eu sei. Obrigada. — O abracei.

Eu acabei dormindo ali mesmo.

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― Por que não me avisou que ela estava aqui? — sussurra uma voz que fez meu coração disparar.

― Ela não quer te ver, é melhor você ir cara.

― Eu preciso conversar com ela, explicar o que realmente está acontecendo.

Eu estava deitada sozinha no sofá, abri os olhos e me sentei, Boby estava atrás do sofá, conversando com nada mais, nada menos que o Luke. Me levantei do sofá, Boby também mentiu.

― Você também Boby? Pensei que podia confiar em você.

― Mand! — pronuncia Luke surpreso. — Precisamos conversar, me deixe explicar o que está acontecendo.

― Eu não quero falar com você Luke. E quer saber? Eu vou pra minha casa, não suporto mentirosos.

Fui até a porta, eu estava prestes a sair quando a mão de Luke tocou meu braço.

― Mand, escuta o que ele tem a dizer, só desta vez — disse Boby abrindo a porta do quarto de hóspedes.

― Para quê? — Encaro Luke. — Já não me magoou o bastante?

― Só preciso de cinco minutos, é só o que te peço. — Ele juntou as mãos, implorando.

― Você tem apenas um.

Fomos para o quarto de hóspedes, Luke fechou a porta enquanto eu me sentava na cama. O encarei, esperando que ele começasse a falar.

― Mand, eu e a Eduarda não temos mais nada, ela também não quer esse relacionamento fajuto que só existe na cabeça de nossos pais. Eu te amo, Mand.

― Quinze segundos.

― Não faz isso comigo, por favor. É insuportável ficar sem você.

― Eu não fiz nada Luke, foi você quem mentiu. Seu tempo acabou — Me levantei da cama. — Adeus Luke.

Ele me puxou pelo braço e me beijou, o empurrei, mas como já era previsto, eu não tive muito êxito nisso.

― Me deixa explicar, por favor — ele sussurrou em meu ouvido. Bufei.

― Tudo bem, explique-se.

Ele se sentou na cama, e apalpou o outro para que eu fizesse o mesmo, mas preferi ficar de pé.

― A Eduarda e eu como já disse, éramos conhecidos desde a infância, pois nossos pais fundaram uma empresa juntos e são sócios, desde então. Nós dois acabamos tendo um namoro de adolescentes. Mas por conta da Liviane e sua possessão com a irmã, a Eduarda foi morar com sua avó na França...

― Eu não quero saber da trágica história de amor de vocês dois, Winchester. — O interrompo.

― Da para me deixar terminar?

― Prossiga.

― Nós acabamos nos afastando durante esse tempo e tudo o que eu sentia por ela acabou, conheci a Reh, namorei a Liviane, fiquei com um monte de garotas. Mas meu pai e o pai dela tinham um acordo. Eu e a Eduarda nos casaríamos e seriamos os herdeiros da empresa. Eu achei que ela não voltaria agora...

― De tudo, isso eu não esperava de você. Enganou a todos nós. Você é um mentiroso Luke. Enquanto sua namorada estava na França, você se divertia com a gente, muito honesto da sua parte.

― Claro que não, Mand. Lembra de quando nos conhecemos e de como eu te evitava? Eu tentei evitar o que sentia por você, resistir a esse sentimento, mas Mand; era mais forte do que eu. É mais forte do que eu. Eu tentei impedir isso tudo, mas você se apaixonou, eu me apaixonei. Eu tentei te tratar mal na esperança de que você me odiasse, mas isso não deu muito certo. Eu sabia que um dia ela iria voltar, eu tentei impedir, mas eu não consegui. Me desculpe. Eu não queria te magoar, eu nunca quis.

― Tudo bem Luke, eu já entendi. Você me ama, eu te amo, mas não podemos ficar juntos. Compreendo.

Dei as costas pra ele, e algumas lágrimas me escaparam. Eu não queria perder ele, acho que eu não conseguiria viver se isso realmente acontecesse. Não é drama, é a verdade. Parecia que havia um vazio no meu peito, e a única coisa que eu era capaz de sentir era dor e amargura. Nem odiá-lo eu conseguia.

― Você ainda não ouviu a menor parte. — Ele segurou minha mão e me girou, ficando frente a frente comigo. — Que se dane o meu pai. Que se dane o pai da Eduarda. Que se dane esse maldito acordo que eles fizeram. Que se dane tudo. Eu não vou te deixar Mand. Nunca. Nem agora, nem depois.

― Não vai?

Ele sorri, e olha fundo em meus olhos.

― Nem no meu estado mais insano. — Ele me dá um beijo na testa e me aperta em um abraço.

― Você está no seu estado mais insano agora?

― Você está comigo, e eu sou louco por você. — Então ele me beijou, eu senti que o mundo todo estava desmoronando ao meu redor. — Me perdoa?

Eu sorri e o encarei abobalhada.

― Depois de tudo, não te perdoar seria um pecado.

Então ele me beijou novamente, com mais desejo do que nunca, e eu me vi completamente entregue aos seus beijos. Ele me ergueu e me girou no ar com os braços envoltos na minha cintura, depois caminhou até a cama, sem me deixar tocar os pés no chão e muito menos pausar o beijo para respirar.

― Pensei. —Arfei. — Que você quisesse me matar asfixiada.

Ele apenas sorriu e voltou a me beijar. Suas mãos deslizaram até a bainha da minha camiseta, e logo ele a arremessou para longe, fiz o mesmo com a dele, como comprovou Newton, toda ação, tem uma reação. Toda vez que ele me tocava, até a ponta do meu dedinho do pé formiga a, e todos os meus pelos arrepiavam.

Fizemos amor pela segunda vez, ali mesmo, no quarto de hóspedes do Boby. Luke foi tão cuidadoso e carinhoso quanto da primeira vez. Ele não disse que me amava, nem era preciso dizer, eu conseguia ver isso em seus olhos. Ele se deitou ao meu lado, e eu deitei minha cabeça sobre seu peito.

― Boby vai nos matar — murmurei contornando seu umbigo com o dedo. — Talvez ele use um travesseiro.

― Não me lembre. Ele deve estar nos esperando com um rifle do lado de fora. — Ele sorriu e ficou em silêncio logo em seguida, devia estar pensando no que havia acontecido entre a Reh e eles dois. Mas Luke voltou a se pronunciar antes mesmo que eu pensasse em dizer algo a respeito. — Megan está preocupada contigo, e minha sogra também.

Eu rio do modo que ele fala sogra, é tão estranho ouvir alguém se referir à minha mãe assim.

― É estranho ouvir você falando sogra, parece mentira. — Solto um leve sorriso. — Luke?

― O quê? — Ele se levanta um pouco e me dá um beijo no topo da cabeça.

Suspirei antes de responder, eu não sabia se devia tocar nesse assunto agora, ou não, mas eu descido falar.

― E a Eduarda? Seus pais, eles não vão nos aceitar.

― Eles têm que aceitar, Mand. Vou te apresentar a eles. — Me sento na cama e o encaro. — Eles vão gostar de você, não se preocupe com isso.

― Não estou preocupada com isso. Estou apenas com um pouco de medo, eu nunca nem vi seus pais. E se eles não aceitarem?

Ele me deu um selinho e vestiu sua roupa, fiz o mesmo.

― Eles não têm que aceitar, eles têm apenas de respeitar. Eu te amo, e sempre vou te amar.

Sorri e olhei meu reflexo no espelho, eu estava tão feliz, que parecia até mais bonita.

― Acho melhor a gente ir, antes que Megan chame a polícia — disse ele enquanto destrancava a porta.

― O certo não seria minha mãe? — perguntei atravessando o portal mágico para o mundo real.

― Acredite, a Megan estava mil vezes pior que a sua mãe. — Ele passou o braço ao redor do meu pescoço.

― Como sempre, drástica demais.

― O Luke ainda está vivo, não há sinal de arranhões nem socos. Vocês se acertaram? — perguntou Boby colocando algumas sacolas sobre a mesa.

Eu corei de vergonha. Boby sorriu e Luke também.

― Eu fui fazer umas compras básicas para o dia-a-dia. Agora terei de comer todo o pote de sorvete sozinho desta vez, isso é um bom sinal pra vocês.

― Agora temos que ir, antes que Megan tenha um treco. Obrigada Boby. E me desculpe por ter te chamado de mentiroso.

― Tudo bem, pode contar comigo sempre. Até mais.

― Passa lá em casa mais tarde Boby, eu te monstro meu novo carro — disse Luke ainda parado na porta.

Nos despedimos de Boby e saímos do prédio. Luke me beijou novamente antes de eu entrar no carro. Ele dirige até minha casa calmamente, evitando de todo modo chegarmos em casa logo. Luke me beija uma última vez após estacionar o carro em frente a garagem.

― Eu vou conversar com eles sobre nós ― Luke disse me olhando. Não se esqueça do quanto eu te amo — gritou enquanto eu fechava a porta.

Quando entrei em casa, meu primeiro desejo foi sair correndo dali, Megan estava sentada ao lado de minha mãe no sofá, supostamente assistindo televisão. As duas se viraram pra mim ao me ver entrar.

― O que eu disse sobre você sair assim? — perguntou minha mãe.

― Eu estava com o Boby mãe.

Fui para o meu quarto, e logo ouvi passos subindo as escadas. Era Megan. Ela entrou sem antes pedir permissão mais uma vez.

― Me desculpe, Mand. Eu não devia ter mentido — ela murmura se aproximando de mim.

Jogo meus braços ao redor do seu pescoço e a abraço. Não sei bem porque fiz isso, eu sei apenas que já fiz e pronto. Ela também me abraçou.

― Me desculpe Megan, eu não devia ter me estressado com você. E obrigada.

― Tudo bem, Mand. Eu vi o carro do Luke lá fora, não me diga que você o matou e roubou o carro dele.

Rimos e eu entrei no banheiro para um banho gelado, depois me juntei a Megan no sofá da sala para assistir Bob Esponja.

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Eu já estava atrasada para o colégio, e Megan não parava de me gritar do andar de baixo. Desço correndo as escadas, e quase vou de encontro ao chão quando tropeço um pé no outro por causa do cadarço solto.

― Pronto — digo arfando. — Eu cheguei.

― Vamos logo. — Ela puxa meu braço, e vou de cara com a parede.

― Au. Pra que tanta pressa? — pergunto enquanto ela me arrasta para fora de casa.

― Estamos atrasadas, Mand. E hoje temos aquela bendita prova de Física. Eu não sei quem foi Newton, nem quero saber. Mas por algum motivo o professor acha que precisamos saber. Acelera o passo, Mand.

Ela começa a correr, e eu fico parada rindo. Porque ela quer tanto fazer essa prova se já sabe que vai tirar um zero? Corro atrás dela, mas paro muito antes de alcança-la. Meu coração estava disparado, minha respiração acelerada, minha cabeça dando voltas e parecia haver uma pedra no meu estômago, algo meio parecido com amargura. Um mal pressentimento, pensei.

― Mand! — gritou Megan já desaparecendo do meu campo de visão.

Me arrasto até a escola, com uma tremenda sensação de mal estar, eu estava ficando com medo desse mal pressentimento, eu não tinha ideia do que poderia ser, até chegar no colégio e encontrar Luke encostado em seu carro com a suposta irmã da Liviane, a Eduarda. Senti o ciúme crescendo em meu peito, junto ao mal estar. O mal pressentimento, só podia ser isso.

― Mand — disse Luke se aproximando de mim. Tento o beijar, mas ele recua. — Precisamos conversar.

― Sobre o quê? — pergunto um pouco confusa. Tudo bem, talvez muito confusa porque eu não tinha ideia do que ele estava falando.

― Sobre a gente. — Ele disse antes de soar o sinal.

— Depois conversamos.

Corri até a minha sala, tentando atravessar a enorme barreira de alunos que havia no corredor. O professor de Física, não atura nenhum atraso, e não existem desculpas para ele, ou você chega no ponto, ou você volta pra trás. Mas ele ainda não havia chegado, o que me permitiu alguns segundos de alívio enquanto eu me dirigia para o meu lugar.

Logo o professor chega, anuncia que a provar será manuscrita e não terá nenhuma questão de alternativas, o que faz a turma toda ficar mais desanimada do que nunca. O professor começa a passar as questões no quadro. Liviane passa por mim no caminho até seu devido lugar quando o professor percebe que mais da metade da turma estava sentada nos lugares errados.

― Eu te avisei. Vocês não vão ficar juntos. Não podem. — Ela solta um leve sorriso de víbora ao final da frase.

― Sobre a sua irmã? Você poderia ter sido menos dramática. — Dou um riso forçado. Eu estava frustrada com o fato do meu namorado, ser noivo da irmã da minha inimiga. Tudo isso era ridículo.

Liviane prende a franja atrás da orelha, apoiou as mãos na minha mesa, me encarou e disse:

― Ela não é minha irmã. Eu a odeio. — Liviane realmente odeia a irmã, deu para sentir isso no modo que ela falou.

― Liviane, isso é uma prova, faça o favor de ir se sentar — disse o professor vindo em nossa direção. — É isso, ou sair da sala.

― Caneta — ela disse se virando para ele com uma de minhas canetas na mão.

O professor assenti e volta para o seu lugar, ela se vira para mim sorrindo. Devolve a caneta para mim e continua sorrindo.

― Chato — ela murmura se referindo ao professor. — É até que legal ver como você está sendo feita de otária. O Luke disse que vai conversar com os pais dele, não disse?

Reviro os olhos e a encaro novamente.

― Pra que isso, Liv? O que ele me disse, ou deixa de dizer, é problema nosso.

― Então ele disse. Luke jamais vai aceitar perder a empresa por sua causa, Mand. Acorda, ele está apenas te usando, e você está caindo direitinho.

― Ele não me disse nada sobre perder a empresa — pensei alto.

Liviane olhou para trás, para o professor que estava concentrado em um livro enorme de física. Depois ela olhou para Megan que estava copiando as questões que o professor havia passado.

― É, claro que ele não disse. Ele esconde várias coisas de você, Mand...

― O Luke não menti pra mim. — A cortei.

― Eu não disse isso. — Ela revirou os olhos e foi se sentar quando o professor ameaçou manda-la para a diretoria.

Não me virei para trás para vê-la se corroer em ódio como tanta queria, apenas comecei a copiar, quase correndo, eu tinha poucos minutos para copiar e responder todas as quinze questões que o professor passou no quadro. Megan já havia terminado a prova quando eu comecei a responder. O sinal acabou batendo antes de eu terminar a nona questão, o professor disse que eu não teria uma segura chance para fazer a prova, nem eu, nem a Liviane, já que ficamos de papinho ao invés de fazer nosso dever, legal isso, me ferrei por causa da Liviane.

Sai da sala e caminhei até o banheiro, minhas mãos estavam suando frio e meu estômago dando voltas.

― Mand. — Chama Liviane parando na porta, me viro em sua direção. — Você está bem? — Ela pergunta me analisando.

― O que você quer, Liviane? Você não cansa, não?

― Eu quero te ajudar, Mand. E você deveria me agradecer por isso e não ficar me dando patadas.

Revirei os olhos e sai do banheiro, quase derrubando Liviane no caminho. Ela me seguiu até o refeitório, passando pela mesa do seu grupinho sem nem ao menos olhar pra eles. Me sentei em uma mesa, ao lado de Megan.

― Eu não quero papo contigo. Você não gosta de mim e muito menos eu de você. Porque insiste tanto assim em querer me ajudar?

― Porque assim eu estarei me ajudando, não pensou que eu iria fazer isso por você, pensou?

Revirei os olhos.

― Isso nunca passou pela minha cabeça, seria estupidez demais pra mim pensar assim. Você não pensa em ninguém mais além de si mesma. Mas diga, como você pode me ajudar se ajudando?

Megan riu baixo e foi se juntar ao Marcus e seus amigos na mesa ao lado. Todos no refeitório nos olhavam, Liviane e eu juntas, e até agora nenhuma morte, isso sim era um milagre. Liviane se sentou de frente para mim, apoiou os braços sobre a mesa, olhou ao redor para ter certeza de que além de estarem nos olhando, ninguém estava prestando atenção no que falávamos.

Ela pensou no que iria dizer, mas acabou por não dizer nada.

― O que você quer com isso, Liviane? Porque está querendo me ajudar se ajudando?

― Acho que você já sabe que o Luke jamais vai me querer, e logo, logo você saberá como e ser desprezada por alguém, acredite em mim. Eu também quero que a Eduarda sinta o sabor da derrota pelo menos uma vez na vida. Não é justo ela estar sempre ganhando.

Revirei os olhos. Isso era sério?

Ela se levantou e saiu, eu rio, não, eu gargalhei. Liviane era completamente louca, e isso estava escrito com tinta vermelha na testa dela, por isso ela conseguia chamar tanta atenção. Megan se sentou ao meu lado e riu comigo mesmo contra a sua vontade. Megan não odiava Liviane, isso era algo incontestável, ela ainda gostava da ex-amiga, mesmo sabendo de tudo o que ela e capaz de fazer. Só a Megan é capaz de perdoar alguém assim.

― Essa garota Megan. ― Fiz uma pausa para recuperar o folego. ― É louca. ― Soltei o ar.

Megan riu, mas ele desapareceu logo em seguida. Megan suspirou e negou algo com a cabeça, admito que eu não entendi sua mudança de humor.

― Ela odeia a irmã. Liviane tem ciúmes da Eduarda por tudo. Eram as duas apaixonadas pelo mesmo cara, e ele escolheu a Eduarda. Ela passou a vida toda perdendo pra irmã, é de se entender o porquê de ela odiar tanto a irmã. Liv não odeia só a irmã...

― Essa parte eu já percebi. — A cortei enquanto tentava manter uma postura mais descente como Megan, igual alguém da alta sociedade, alguém quem não estava quase deitando em cima da mesa, como eu estava.

― Não assim. Quer dizer, ela te odeia sim, mas acima de tudo ela se odeia por ser como é. Eu convivi tempo demais com ela para perceber isso. Ódio de si próprio, é o pior tipo de ódio na minha opinião.

Apoiei os cotovelos na mesa, deixando de lado a minha pose ereta e descente e voltando a parecer O corcunda de Notre Dame. Me virei de lado e encarei Megan.

― Às vezes eu acho, que você sabe demais, sabia?

Ela sorriu e eu gargalhei.

― Eu sei das coisas.

Logo bateu o sinal para o fim do intervalo, voltamos para a sala com passos de tartarugas, só faltava começarmos a nos rastejar como lesmas pelo piso de linóleo. As aulas pareciam demorar uma eternidade para passar. E eu estava preocupada com a conversa que o Luke queria ter comigo sobre "nós". Eu já estava quase dormindo na carteira quando ouço o ridículo e divino som do sinal. Guardo minhas coisas e me sento na mesa para esperar por Megan que ainda estava copiando, ainda bem, porque eu não copiei nem o título.

― Eu vou pra casa do Marcus agora, volto só a tarde — ela disse me encarando e na lançando sua caneta azul no ar.

― Tudo bem. — Saio da sala calmamente, me segurando para não correr de ansiedade e ir atrás do Luke e da Eduarda. Alguém puxa meu braço e me leva para um lugar escondido entre as salas.

― Oi amor — murmura Luke com a voz rouca.

― Que susto — grito e ele começa a rir antes de me abraçar e me dar um beijo no pescoço. — Então, o que você queria falar sobre "nós"?

Ele olha para o tênis surrado que eu estava usando.

― Eu falei com meu pai, expliquei tudo a ele, tentei explicar. Mas ele continua contra.

Revirei os olhos. Acho que eu sempre estive enganada, Luke já mentiu pra mim alguma vez, o que eu estou querendo? Todo mundo mente, e Luke faz parte desse todo mundo.

― Ele não quer a gente junto Mand. — Ele me abraça.

― Porque você não para de mentir Luke? — perguntei ainda com o rosto colado em sua camiseta.

Ele me solta, me encara e franzi o cenho.

― Eu não minto pra você, Mand. Você sabe disso. Mas no que eu supostamente menti? — Ele abre um enorme sorriso.

― A Liviane veio falar comigo hoje. — Ele arqueou uma das sobrancelhas, me questionando.

― E você ainda acredita nela?

― Vai me dizer que é mentira, e que seu pai e o dela não assinaram um contrato?

― Eles assinam vários. — Ele veio me beijar mas me afastei e ele acabou quase beijando a parede.

— Tudo bem, Luke. — Me afastei dele, indo para o pátio. Mas parei no caminho, me virei para ele que me seguia como um cachorrinho. — Eu já sei que se você não casar com a Eduarda você perde a empresa. Eu não quero ser o pivô disso tudo, de seus problemas futuros. — Voltei a caminhar.

— Mas que, merda! Foi a Liviane quem te disse isso?

― Isso não importa, Luke — gritei para ele me ouvir da distância em que estávamos um do outro já que sai andando e ele ficou parado onde estava.

― Que merda. Essa garota não me deixa em paz — disse enquanto corre para me acompanhar.

Acelero os passos, não quero que ele me alcance. Seus passos se aproximam, acelero mais os meus, mas ele ainda me alcança, obvio, eu devia ter começado a correr também.

― Porque não me disse isso? Você só me conta a metade das coisas, a metade errada.

― Você ainda iria me aceitar se eu te contasse isso? — Ele para de frente pra mim, e me encara, seu olhar preso no meu, estávamos tão perto um do outro que eu quase conseguia ouvir seu coração batendo tão descontrolado quanto sua respiração.

Abaixei o olhar, eu não conseguiria dizer a verdade olhando em seus olhos, isso era mais difícil do que eu imaginava.

― Não. — Ele suspirou e eu também. — E-eu não, não quero que você perca a empresa, ou que sua família acabe falindo por causa de um romance adolescente que logo você vai esquecer. Não quero ser apenas mais um caso, e muito menos sua amante.

― Você não é apenas um caso, Mand. Você é o amor da minha vida. E eu nunca vou te esquecer, nunca. Nunca. — Fechei os olhos, memorizando essas palavras, esse momento.

Abri os olhos de repente, meio assustada com a imagem que minha mente formou.

― Não, Luke. Você precisa se casar com ela, você tem de herdar a empresa da sua família e continuar a ganhar os milhões que os Winchester tem ganhado há anos. Você não pode acabar com tudo o que sua família construiu assim, não podemos...

― Não, Mand. — Ele me interrompeu. — Você não entendeu. Eu não tenho de herdar a empresa, eu não preciso de todos esses milhões para viver. Para isso, eu só preciso de você, e que me permita continuar te amando com esse meu jeito meio torto de ser. Eu te quero, mas você me quer?

Sorri ao ver que ele ainda lembrava daquela música, a que cantei na festa um dia antes de perceber que ele não era tão idiota assim.

― Quero.

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