OI!
A att devia ter saído ontem, mas eu tive um breackdown, então não rolou KKK
MAS HOJE ESTAMOS AQUI!
Gente, então, a gente sabia que esse momento chegaria, e tá chegando. Esse capítulo é o penúltimo. Depois desse, temos o último e um extra muito especial.
Aproveitem bastante esses nossos últimos momentos!!!
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Um Jimin… Ah, um Jimin muda sua história. Mudou a minha. E não há privilégio maior que saber que você também mudou a dele.
Eu e meu Jimin mudamos a vida um do outro e descobrimos um novo mundo juntos. Eu e meu Jimin percorremos um longo caminho até enxergarmos a luz no fim do túnel e sabermos, finalmente, ir até ela.
Eu e meu Jimin fomos felizes juntos e sabíamos que seríamos ainda mais se prosseguíssemos procurando a luz.
Jamais paramos de buscar a luz. Jamais paramos de tentar viver de novo.
Viva com seu Jimin. Viva aprendendo todos os dias a como fazer.
Pois, como já sabemos, tudo isso é sobre como (não) viver com Park Jimin, já que Jimin's são profundos demais para que nós, meros Jungkook's, os entendamos logo de cara.
Viva com seu Jimin e aprenda do seu jeito como fazer isso. Esse é o meu jeito, o meu manual. E desejo a você boa sorte no seu.
O restante de dias no Japão foi regado à passeios pela cidade e momentos de casal no hotel, já que, de alguma maneira incrível e indecifrável para mim, conseguimos gastar todo o nosso dinheiro para "compras em Tóquio" em quatro dias.
Eu sabia que não era a pessoa mais responsável economicamente do mundo, mas chegar no quinto dia e não poder comprar um boneco de papelão em tamanho real do Bakugou me deixou em choque e me deprimiu.
Qual é, dinheiro não podia acabar tão rápido assim! Eu nem tinha comprado tanta coisa! Era o que eu pensava até Jimin abrir uma sacola cheia de brinquedos meus. Foi um momento difícil.
Porém Jimin também havia comprado muitos mangás! E sim, eu tentei colocar a culpa nele e sair ileso, mas ele me mostrou as notas de compras e o saldo bancário e eu tive que me calar.
Espertinho que cronograma todos os gatos e tem enorme responsabilidade econômica!!!
Nossa volta à Coréia foi tranquila e tive que admitir que senti saudades de casa. Da minha cama e sofá, dos potes separados por ordem de cor e do aviso na geladeira com o nome de quem devia tirar o lixo. O apartamento todo era um resumo de Jimin, por isso era tão especial pra mim.
Mas eu morava lá e minhas coisas também estavam lá. Isso me fazia amar o apartamento ainda mais. Agora ele era um resumo nosso. De tudo que éramos juntos. E éramos maravilhosos juntos.
ㅡ Jungkook, o banheiro está mais limpo do que imaginei. Meu irmão e cunhado não são tão ruins quanto pensei ㅡ falou ele, lá do banheiro. ㅡ Mas tem um cabelo azul no chão. Vou intimar Taehyung.
ㅡ Aham. Entregue a intimação hoje à noite. É quando eles vêm pra nos ver e jantar e receber nossos amados presentes.
ㅡ Sim, Taehyung deve receber seu amado chaveiro de pênis.
ㅡ Exato. Jimin, cadê meu vibrador rosa? ㅡ perguntei, fuçando a mala.
ㅡ Embaixo do casaco preto.
ㅡ Obrigado, te amo!
Apertei o botãozinho e o brinquedo em forma de pênis começou a vibrar. Era tão adorável. Coloquei na boca e continuei a desfazer as malas.
Concluí que não havia espaço no quarto para tantos brinquedos e bugigangas e passei para a segunda opção que Jimin sugeriu quando me viu embalando tudo para a viagem: Leve para o quarto livre. Então, eu levei.
O meu antigo quarto prosseguia sem uso ㅡ com exceção das vezes que Jimin o usava para guardar algo que não cabia em seus armários ㅡ, já que eu não dormia lá e não iria ser alugado novamente. Foi fácil organizar todos os meus brinquedinhos novos na cômoda. Decidi transformar aquele quarto numa câmara nerd. Já podia me imaginar criando um canal no YouTube sobre cultura pop com todas aquelas bugigangas de fundo. Seria o "Geek das cavernas". Genial. Genial.
Fui ao quarto principal novamente quando Jimin me chamou. Esqueci, porém, de tirar o vibrador da boca e agradeci por não ter nenhuma visita, pois há coisas que não podemos explicar nem mesmo se desenharmos.
ㅡ Se queria tanto um pau na sua boca, eu teria tirado as roupas ㅡ meu noivo disse. Sorri fofinho e corri, o abraçando por trás. ㅡ Eu vou terminar de guardar nossas coisas, tomar banho e dormir um pouco. Pegue aquela foto bonita que tiramos em Tóquio e coloque na geladeira, tá bom? Vai ficar bonito.
ㅡ Ok, ok. Tomamos banho juntos? ㅡ questionei, tirando o brinquedo da boca.
ㅡ E existe outro jeito de tomar banho?
{...}
ㅡ Jungkook, cadê a foto que pedi pra você colocar na geladeira?
Eu tinha acabado de acordar de um maravilhoso sono com Jimin me chamando na cozinha. Ao chegar lá, descobri que ele não estava encontrando a foto que tiramos no Japão. Tonto, um tanto cego (sem óculos, como de costume), cocei os olhos e bocejei.
ㅡ O quê? ㅡ perguntei.
ㅡ A foto, Jungkook. A foto. Cadê a foto que pedi que você colocasse na geladeira?
ㅡ Mas como assim? Ela está na geladeira!
Jimin bateu as mãos nas coxas e negou com a cabeça. Eu teria pensado em uma resposta melhor se ele não estivesse tão gostoso com aquela expressão.
ㅡ Onde? Onde, que não estou vendo? ㅡ perguntou, apontando para a porta da geladeira. Fiquei confuso.
ㅡ Como assim? ㅡ Andei até ele e abri a geladeira, peguei nossa foto, que estava ao lado das cebolas, e o entreguei. Ele bufou e saiu andando pela cozinha. Não entendi. ㅡ Não entendi. A foto estava na geladeira. Como pôde dizer que não estava lá sem nem mesmo procurar por ela?
ㅡ Jungkook, era pra você colar a foto na porta da geladeira. Do lado de fora. Pra ficar bonitinho, coisa de casal, o tipo de coisa que casais gostam e pessoas de fora acham meloso e ridículo! Não era pra você colocar dentro da geladeira. De que adianta uma foto dentro da geladeira?
ㅡ Foi exatamente o que pensei quando você me pediu. Mas eu não ia te contrariar, né? Se você queria uma foto ao lado das cebolas, então eu iria…
ㅡ Eu não pedi uma foto ao lado das cebolas! Qual seria o sentido de ter uma foto nossa ao lado de cebolas?!
ㅡ Eu também não sei! Por isso fiquei tão confuso! E você não disse que devia ficar do lado de fora da geladeira, você só disse na geladeira. Como eu ia saber?!
ㅡ Estava implícito! Era óbvio!
ㅡ Óbvio pra quem? ㅡ Botei as mãos na cintura. Jimin grunhiu.
ㅡ Óbvio pra mim! Pra todo mundo, não sei! Ahhh! Por que você não perguntou, se achou tão estranho uma foto dentro da geladeira?
ㅡ Porque eu achei que você tinha seus motivos! Sei lá, querer que nosso amor abençoasse os alimentos!
ㅡ Abençoasse os alimentos?! Eu sou ateu!
ㅡ Eu sei! Por isso achei tão estranho!
ㅡ E por que não disse nada se achou estranho?!
ㅡ Eu não sei!
ㅡ Grrr!
ㅡ Grrr!
Jimin me olhou feio. Cobri o peito com as mãos. Semicerrei os olhos.
ㅡ Mantenha seus dentes longe das minhas tetinhas!
ㅡ Continue colocando coisas ao lado das cebolas pra ver o que eu faço com suas tetinhas ㅡ falou, sério, me apontando o dedo, e fechou a porta da geladeira. Abriu uma gaveta, pegou fita, grudou na nossa foto e a fixou na porta da geladeira. No lado de fora, importante ressaltar. Me encarou. ㅡ Pronto. Agora, se me permite, eu vou cozinhar, porque hoje teremos visita. ㅡ Ele começou a pegar panelas e facas. Bufei.
ㅡ Agora você vai ficar com raiva por causa de uma foto e cebolas?
ㅡ Jeon Jungkook!
ㅡ Tá bom, tá bom. Tem Doritos?
ㅡ Não. Se quiser, vá comprar.
ㅡ É o que eu pretendia, milorde das ordens implícitas com fotos e geladeiras. ㅡ Jimin me lançou seu olhar matador. O desarmei ao rebolar até o chão.
ㅡ Pare de ser um puta gostoso na minha cozinha e vá logo comprar seus Doritos, Kungjoog.
Ri e me aproximei dele, beijei seu pescoço e segurei suas mãos que cortavam alfaces.
ㅡ Eu posso te ensinar a cortar isso… ㅡ sussurrei. Ele riu e me beijou.
ㅡ Vá logo ao mercado antes que fique muito tarde.
ㅡ Quer que eu traga algo?
ㅡ Um bolo pequeno e um pouco de açafrão. E traga mais vinho, também.
ㅡ Eu não sei nem como escreve açafrão.
ㅡ Você tem um celular e o reconhecimento de voz do Google.
ㅡ Certo? Quer um docinho? Ou talvez… um álcool em gel bem potente? ㅡ sussurrei a última parte. Jimin gemeu e mordeu o lábio.
ㅡ Hmmm, que tesão matar germes… Traga sim. É só.
ㅡ Ok. Só mais uma coisa…
ㅡ O quê?
Cheguei bem perto de seu ouvido e falei:
ㅡ Paralelepípedo.
ㅡ Pare de fazer joguinhos sexuais e vá logo fazer compras! ㅡ Me afastou com a mão e respirou fundo. Gostoso.
ㅡ Tá bom. Tô indo. Te ligo se tiver problemas.
ㅡ Assim espero.
{...}
Eu esqueci o que tinha que comprar.
Andei pelo mercado com o pacote grande de Doritos, lendo rótulos e marcas na esperança de me recordar do que devia trazer. Tinha certeza de que Jimin tinha concordado com o álcool em gel, porém o resto me era mistério. Cedi e liguei pra ele, que me mandou mensagem com a lista de compras.
Peguei tudo que precisava. Escolhi um bolo bonito. Ainda não havia perdoado Ryujin pela vergonha passada e, portanto, não conversei muito com ela no caixa. Andei até o apartamento comendo meu pacote de Doritos.
Quis guardar um pouco para Jimin, todavia quando abri a porta da sala, o pacote estava vazio. Fiquei em choque, pois era um pacote enorme e o mercado não era tão longe.
ㅡ Jungkook? É você? ㅡ Jimin gritou da cozinha.
ㅡ Amor… o pacote está vazio…
ㅡ É? E daí?
ㅡ Eu queria te dar um pouco…
ㅡ Você pode me dar muito mais tarde. Agora venha! Traga tudo e me ajude a cozinhar!
Minhas habilidades culinárias ainda eram simples embora bastante bonitas, pelo menos pra mim. E eu ainda era um girino perto de Jimin, mas eu já tinha aceitado que era meu destino ser servo dele.
Taehyung e Hoseok chegaram quando a comida estava quase pronta e demorei segundos para entender que o cabelo de meu irmão estava azul. Me deixou com vertigem no início.
Hoseok quis saber tudo de tudo e eu não sabia se devia narrar ou não a viagem, porque Jimin dizia que eu sempre acabava revelando demais. Eu não acreditei até o dia em que me peguei contando ao síndico que não evacuava há quatro dias. Depois disso, passei a ter medo de me comunicar e sem querer contar o que não devia. Por isso, esperei que Jimin falasse da viagem.
Contudo… ele não falou, então eu soube que teria que narrar torcendo por sorte.
ㅡ Gente, eu transei tanto, mas tanto em Tóquio. Nossa! Depois do pedido de casamento, então? Caralho, eu não sabia como era sentar sem ser em um pau!
Houve um silêncio estranho e pesado na cozinha. Jimin me olhou desacreditado. Franzi a testa. O que eu havia dito de errado, logo de cara?
ㅡ Jimin… te pediu em casamento? ㅡ Hoseok questionou, baixinho.
Ah… é mesmo… eu e Jimin íamos fazer surpresa e contar após o jantar, enquanto comíamos o bolo… ah…
ㅡ Ah… não. Não pediu. Eu falei por falar ㅡ respondi, fixando os olhos na panela borbulhando. Jimin suspirou. O que estava feito, estava feito.
ㅡ Como assim vocês vão casar?! ㅡ Taehyung exclamou. ㅡ Estão juntos há menos tempo que eu e Hoseok! Como assim vão casar?
ㅡ Eu não acredito que você não me contou, Jimin. É esse o meu valor? Tenho que ser o último a saber das coisas? ㅡ Hoseok indagou, em tom magoado. Bebeu todo seu vinho em um gole.
ㅡ Último a saber? Mas ninguém sabia ainda ㅡ Jimin retrucou sem tirar os olhos dos tomates que cortava em forma de estrela.
ㅡ Não interessa! ㅡ Hoseok reclamou.
ㅡ Me digam que vão casar na praia! Eu preciso ser padrinho perto do mar ㅡ Taehyung disse.
ㅡ Nem pra dar um telefonema? Sério isso? ㅡ Hoseok continuava.
ㅡ Vai ter muita gente? Ou vai ser aqueles casamentos chiques que só vem dez pessoas?
ㅡ Eu nunca imaginei isso de você, Jimin…
Jimin estava me culpando por toda aquela confusão. Sorri fofinho e o abracei. Esse era meu argumento.
{...}
ㅡ Ainda não sabemos como ou quando vai ser. Só sabemos que vai acontecer. Eu achei que Tóquio seria o local perfeito e apenas esperei o momento ㅡ Jimin explicou após toda a efusão se diluir. Já estávamos comendo.
ㅡ Foi um pedido tão lindo! ㅡ acrescentei feliz. ㅡ Me deu até vontade de fazer cocô.
ㅡ Jungkook! ㅡ Hoseok me censurou.
ㅡ Mas é verdade! Fiquei tão, tão emocionado que quase abri a portinha e expulsei os moradores!
Jimin riu, Taehyung me repreendeu com o olhar e Hoseok teve ânsia de vômito.
ㅡ Enfim, aconteceu e estamos animados para enfim concretizar tudo ㅡ Jimin falou, segurando minha mão.
ㅡ Me deixem ser padrinho! Eu imploro! ㅡ Taehyung pediu de mãos juntas.
ㅡ Terão que ser vocês ㅡ Jimin falou. ㅡ É isso ou os amigos do Jungkook, porque eu não tenho amigos.
ㅡ Só eu ㅡ Taehyung disse.
ㅡ Ou seja, nada ㅡ Jimin falou.
Eles trocaram olhares e riram. Meu irmão jogou um guardanapo em meu noivo. Meu irmão e meu noivo. Ah, que belíssima é a vida em família!!!
ㅡ Não façam uma festa chique. Não tenho dinheiro para presentes espalhafatosos ㅡ Hoseok comentou e encheu a boca com uma estrela de tomate.
ㅡ Discordo. Façam algo caro ou não, façam chique. Eu quero me sentir entre a realeza ㅡ Tae falou.
ㅡ Será que vocês dois podem parar de opinar sobre o meu casamento com Jungkook? ㅡ Jimin interferiu. ㅡ Nós dois vamos decidir tudo. Agora, vamos mudar de assunto. Foi tranquilo cuidar do apartamento?
ㅡ Você quer trocar o assunto casamento por limpeza de cômodos? ㅡ meu irmão questionou, indignado. Jimin assentiu. Taehyung me encarou. ㅡ Por que você está casando com ele?
ㅡ Sei lá. Ele me come ㅡ respondi, mordendo uma estrelinha de tomate.
ㅡ Ai, o romantismo morreu quando você nasceu ㅡ meu hyung reclamou, se encostando na cadeira.
ㅡ E você está surpreso? ㅡ Hoseok perguntou ao namorado. ㅡ Com esses dois é tudo na base de um pau embaixo e outro em cima.
ㅡ Graças ao Deus em que não acredito! ㅡ Jimin exclamou, olhando o teto. Ri e deitei a cabeça em seu ombro.
ㅡ Eca. Melhor falar do apartamento mesmo. Foi tudo tranquilo. Mas mudou um vizinho novo pro andar de baixo e ele faz barulho às vezes ㅡ Hoseok contou.
ㅡ Puts, é mesmo. Acho que ele tem muitos gatos ou algo assim ㅡ Taehyung completou.
ㅡ Eu ouvi. Pensei que fosse alguma orgia estranha ㅡ falei.
ㅡ Eu também! ㅡ Jimin exclamou. ㅡ Parecia muito!
ㅡ E lá vamos nós… ㅡ Hoseok reclamou, suspirando. Taehyung o abraçou de lado.
Tanto eu quanto meu irmão estávamos com quem combinava conosco.
{...}
Hoseok e Jimin se envolveram em um assunto apenas deles na sala. Hoseok estava animado com a ideia do casamento ㅡ após deixar de lado os protestos infantis ㅡ e queria discutir algo sobre ajudar a pagar a lua de mel e coisas do tipo.
Querendo ou não, nós, os jikook, tínhamos uma fortuna bem menor que os taeseok e não podíamos ter planos altos demais sem ajuda. Hoseok queria ajudar.
Jimin me disse uma vez que, as atitudes de Hoseok, além de serem de bom grado, eram uma tentativa de compensar. Hoseok queria compensar os anos passados ao lado do irmão sem poder ajudá-lo. Queria dar a ele os privilégios que sua mãe não queria e não podia dar ㅡ assim como não daria se pudesse.
Ele queria fazer Jimin feliz e recompensar, de algum jeito, sua infância e adolescência traumática.
Eu já conhecia um bocado da história de Jimin e sabia que ainda faltava um pergaminho até que eu soubesse todos os pequenos detalhes que compunham sua biografia. Tudo bem. Eu gostava de receber as informações quando ele estava pronto e, devagar e com paciência, eu juntava os pontos.
Já sabia que ele havia, de mais de uma forma, mesmo que não tão claras, sido bastante destratado e abusado por sua mãe. Juntando palavras soltas aqui e ali já sabia que seu TOC teria se originado dela.
Jimin fazia todo o trabalho de casa desde criança e não tinha cuidados quando doente. Juntando a mais b, eu já podia imaginar o que se passava em sua mente quando pequeno. E ele nunca me disse, mas eu tinha fortes crenças de que ele também já havia sofrido violência física por parte dela. Detalhes grandes e pequenos que eu só saberia quando ele dissesse.
Hoseok era ainda mais fechado que Jimin, o que me surpreendia. Arrancar meias palavra sobre o passado dele custava meses de espera.
Fosse lá como a mãe deles era, ela era uma parte do passado que ambos tentavam apagar. Porém não podemos apagar nada, e os dois irmãos nadavam em sua própria tristeza bem trancada.
O que eu, no entanto, podia dizer sobre isso? Claro que minha relação ótima com meu pai me dava todo o direito de julgar quem era ou não saudável emocionalmente.
Eu, o menininho de ouro que mal lembrava que tinha pai e só passou a reparar e precisar dele quando a mãe morreu ㅡ e então percebeu mesmo que não tinha pai ㅡ não era o mais indicado para ser juíz.
Para minha surpresa, foi exatamente esse o assunto que meu irmão quis abordar quando Hoseok e Jimin se afastaram para uma conversa só deles. Eu achei que minha conversa com Taehyung seria sobre a cor do meu vestido de noivo, não sobre meu pai negligente e nojento. No entanto... nem sempre temos o que queremos, não é?
ㅡ O que tem o papai, Tae hyung? Sério, como você consegue lembrar de algo assim quando estou falando do meu casamento? Coisas boas deviam atrair coisas boas, não é? Aff. ㅡ Bufei e virei para o lado. Estávamos na cama do quarto reserva, que em breve, caso o dinheiro deixasse e Jimin também, seria minha caverna nerd.
ㅡ É óbvio o motivo. Você vai convidar ele para o casamento? ㅡ ele questionou como se a resposta fosse um mistério. Não aguentei e acabei rindo. ㅡ Eu tô falando sério, Jungkook
ㅡ E eu também! ㅡ Me virei de frente para ele novamente. ㅡ Olha o absurdo que você está perguntando, Tae! Se eu vou convidá-lo para o casamento? Claro que não! O que ele faria lá, hein? Me levar até o altar e depois sumir na limusine com uma das moças que fez os doces? Se alguém for me levar ao altar, eu espero que seja você.
Taehyung se preparou para dar um sermão e de repente amoleceu. Fechou a cara.
ㅡ Merda, eu já tinha o discurso pronto e você me desarmou com esse seu amor de irmão ridículo! Seu monte de bosta! Eu ia dizer palavras lindas e sábias e você me deixou fraco com seu amor idiota! Que saco, Jungkook! Te odeio! Sai daqui!
ㅡ Eu moro aqui, hyung.
ㅡ Inferno! ㅡ Bufou. Abraçou uma almofada e me olhou de canto. Me apontou o dedo e disse: ㅡ Olha, fico honrado e te levo sim ao altar, mas isso não apaga o que eu quero dizer. Sei que você e papai têm um problema maior que a lua para resolver e que não vai ser uma conversa que vai consertar. Talvez só terapia conjunta por meses, e ainda tenho dúvidas! E eu te entendo, Jungkook. Caralho, ela era minha mãe também. Eu também a amava mais que a mim mesmo. E sim, eu sei que perdemos coisas diferentes quando ela morreu. Eu perdi minha melhor amiga, meu exemplo e minha guia, meu alicerce. Você perdeu a si mesmo quando ela pulou. Sem querer, ela te levou junto quando foi embora, e sei, sei mesmo, que você trabalhou muito e sofreu demais para se trazer de volta e poder voltar a ser mais que o luto. Mas essa ferida que você tem com o papai faz mal a você e por isso peço que converse com ele. Não para perdoá-lo ou para que ele te leve ao altar, mas pra que você possa superar isso. Superar ele. Acho que depois que você superar ele, nada mais nesse mundo vai te impedir de ser feliz. Sei que tudo que tem de dor em você vem dele. Quero que se livre disso, Jungkook. Você pode voar alto, porém jamais irá enquanto manter suas âncoras.
Deitei de barriga para cima na cama e abracei também uma almofada. A contragosto, refleti sobre o que hyung disse. E a mais contragosto ainda, concordei com ele.
ㅡ Sei disso. Sei que essa mágoa me atrasa. Mas não consigo, Tae, não consigo olhar pra ele sem ter vontade de puxá-lo pela gravata e o atirar na parede. Quebrar ele inteiro de tanto bater. Ele matou mamãe. Nós sabemos disso. Ela poderia ter tido uma chance de melhorar e ele fez questão de afundá-la ainda mais. Quantas amantes? Quanto dinheiro tomado? Quantas coisas dela ele tomou? Ele a impediu de ser a grande pessoa que era. A resumiu a um corpo bonito para exibir em reuniões. Ela não podia nem sair de casa e ter um emprego, Tae! Ela parou até de escrever. Não me diga que ele não tem culpa.
ㅡ Claro que tem. Ele é um insensível de merda que vive atrás daquela expressão de velhinho bondoso. Passivo agressivo, Jungkook. Desde sempre. Mas eu não quero ver meu irmão, meu dongsaeng perdendo oportunidades e sofrendo porque uma das pessoas que o deu a vida é um escroto.
ㅡ Você ainda fala com ele.
ㅡ Claro que falo. Diferente de você, eu e ele temos negócios. Você sabe que grande parte do patrimônio da família é meu, desde que ele te deserdou. Eu quero e uso esse dinheiro. É com ele que alavanco minha carreira, que ajudo Hoseok, é com ele que faço meus investimentos. Eu e ele temos contratos e eu não vou jogar tudo o que fiz até agora fora só porque não suporto ele. Jungkook, você acha mesmo que eu voltei a falar com ele e mantenho contato e tudo mais por que o perdoei? Quando eu soube que você não teria mais sua parte da herança e que mais do que a nossa parte, mas a parte da mamãe também, iria para o bolso dele, eu tive que fazer alguma coisa. Eu sabia que isso seria útil e que serviria um dia. Eu deixei de lado, Jungkook. Eu e ele somos apenas sócios agora.
ㅡ Não quero o dinheiro dele.
ㅡ Mas eu quero. Quero o meu, o seu e o dela. Nada disso é dele. Quando for meu, nem farei questão de o cumprimentar na rua. Até lá, eu vou suportá-lo.
ㅡ Não sou capaz de fazer isso.
ㅡ E não tem que fazer! Jungkook, não estou te dizendo para fazer o que eu faço, estou te dizendo o contrário! Estou te dizendo para esquecê-lo de vez! E tudo o que tiver que ser feito em relação a ele, eu farei. Quero que se livre disso. Quero carregar isso por nós. Pelo menos isso. Porque sua dor, dongsaeng, jamais poderei tirar.
Assenti com a cabeça; Taehyung me abraçou e o prendi entre meus braços. Ele acariciou minha cabeça enquanto dizia que iria cuidar de mim.
Éramos parecidos com Hoseok e Jimin. O mais novo precisava do mais velho às vezes e o mais velho precisava sentir que cuidava do mais novo.
{...}
Jimin e eu ficamos no sofá vendo filmes depois que as visitas saíram. Eu estava deitado entre as pernas dele, com a cabeça em seu peito e com um pote de sorvete no colo. A casa já estava limpa e parte de nossa energia estava de volta, embora ainda precisássemos de mais descanso e, principalmente, atividade para voltar à rotina normal.
Eu já me via sofrendo para acordar cedo e ir trabalhar. Jimin estava preparadíssimo. Sinceramente, como as pessoas conseguem ser responsáveis e eficientes e dispostas? Eu fazia todo o esforço do mundo para sair da cama de manhã e dormir na hora certa.
Jimin dizia que eu estava na puberdade. Se fosse isso, então ele era um idoso. Daqueles que acorda cedo e ouve rádio, dá comida pra passarinho e essas coisas. E eu era o neto otaku viciado em indie que acha que fazer tweets criticando os outros é a coisa mais recente e bacana do mundo e que é uma águia entre os pombos, uma alma desvalorizada pela família obtusa.
Estereótipos, ah, delícia.
ㅡ O hyung quer que eu volte a falar com meu pai. Não, é o contrário, na verdade. Ele quer que eu abandone meu pai de vez ㅡ falei com a boca cheia de sorvete. Jimin murmurou um "hmm". Tinha um homem sem roupa na tv e ele estava encarando o peito dele. Eu estava fazendo o mesmo, mas era com a moça seminua perto do rapaz. ㅡ O que acha?
ㅡ Do homem bonito ou do seu pai?
ㅡ Meu pai. E a menina é mais bonita.
ㅡ Mulheres sempre são mais bonitas, Jungkook. É uma lei natural. E sobre seu pai, eu sei lá. Isso é sua decisão. Por que você não o deixou de lado ainda? Se está pensando em deixar só agora é porque tem uma razão pra manter.
ㅡ Não sei. Acho que… acho que fiquei tão, tão magoado, fixado e furioso com ele que desejei manter esse sentimento para castigá-lo. Eu não queria perdoá-lo e vê-lo andando de consciência limpa por aí enquanto minha mãe estava no cemitério. Eu queria que ele sofresse, sentisse culpa e remorso. Fosse diante do túmulo dela e implorasse perdão e então visse que é tarde demais. Eu precisava que ele sentisse culpa. Assim, eu sentia, seria mais justo.
ㅡ Mas ele nunca sentiu culpa.
ㅡ Nem um pingo. Ele acha que mamãe morreu porque tinha problemas e era fraca e que ele, como marido dela, não pôde fazer nada e não estava envolvido. Mas estava. Ele fez ela piorar. Sei que minha culpa é infundada, Jimin, mas a dele não seria.
ㅡ Entendo por que Taehyung quer que você se livre disso. Pois, se seu pai não está sentindo os efeitos, o único a sofrer é você. Isso não está certo. Te quero bem também. Se descartar o seu pai significa sua liberdade, então eu quero que faça também. Vou te apoiar e... ㅡ Pegou o pote de sorvete de minhas mãos e franziu a testa ao segurar a colher. ㅡ Não é de ameixa, é? Lembra o que aconteceu da última vez.
ㅡ É uva, relaxa. E podemos cagar juntos sem grandes complicações agora. Somos quase casados.
ㅡ Pare de falar em cagar enquanto eu como sorvete. ㅡ Apertou meu mamilo. Gemi e mordi seu dedo. ㅡ Filho da mãe! ㅡ Bateu no meu peito.
ㅡ Você que começou. E coma logo isso, senão eu pego da sua mão e como sozinho.
ㅡ Não duvido, morto de fome. Agora me deixe prosseguir com minha opinião.
ㅡ Como quiser, ó grande Mestre Dos Magos, dono de todo o saber.
ㅡ Idiota! ㅡ Riu e me beijou rapidinho antes de comer um pouco do sorvete e continuar falando. ㅡ Como eu dizia, vou te apoiar no que precisar. E também te entendo. Minha mãe não sentia culpa por nada que fazia comigo e acho que ainda não sente ou sentirá um dia. Ela me culpava por seu alcoolismo e infelicidade. Queria que eu compensasse minha existência indesejada deixando sua vida mais fácil. Então eu fingia que não existia e sumia quando ela chegava. Fazia tudo o que ela pedia sem ficar muito perto dela. Eu limpava todos os cantos e móveis, guardava todas as suas garrafas nos armários e dobrava as roupas. Não me lembro de uma só conversa que tivemos. Ela fingiu que eu não existia enquanto morei com ela. Então eu sei como… como às vezes parece que seria melhor e mais justo se essas pessoas se arrependessem. Mas, na verdade, não. O que faria diferença seria uma mudança partindo delas e, no seu caso e no meu, nem isso bastaria. Minha mãe mudar não mudaria meus anos e anos de abuso e seu pai mudar não trará sua mãe de volta. Acho que… acho que pensar em nós mesmos e superar é tudo o que podemos fazer, porque o resto é imutável e não depende de nós.
ㅡ Acha que é isso que nos falta? Pra mim e você? Deixar o passado?
Jimin lambeu os lábios e acariciou meu cabelo. Sorriu e beijou minha testa, assentindo com a cabeça.
ㅡ Sim. Acho que é disso que precisamos agora, meu anjo. Quando criança, uma mãe teria feito diferença, agora, já não tem mais valor. Quando viva, o arrependimento de seu pai valeria para sua mãe. Mas agora… o que ele significa? O que essas pessoas significam agora, meu anjo, se tudo já está feito e não precisamos mais delas? ㅡ Jimin fungou ao ver que eu estava chorando. Sorriu novamente e molhou minhas bochechas com suas lágrimas. ㅡ Isso foi a primeira coisa que entendi ao começar a terapia. Agora sou… sou eu e eu, apenas, sem mais outro peso. Não posso mudar o passado, e reviver ele todos os dias não me dá futuro algum. Você também não pode viver assim. Viver remoendo e dia após dia sofrendo a mesma dor, sendo que… sendo que agora ela já nem serve pra nada. Temos que aprender de vez a abandonar o que nos machuca, por mais apegado que sejamos e por mais doloroso que seja, pois só assim teremos uma vida de verdade. Uma vida só nossa e… feliz.
ㅡ Mas… mas a mamãe…
ㅡ Eu sei, eu sei, meu anjo. ㅡ Secou meu rosto com suas mãos quentes. Beijou-me novamente e soluçou. Deixei o sorvete no chão e sentei em seu colo, o abraçando firme. ㅡ E você sabe que ela te amava. Ela te amava! Ela te amava muito. E era mais que retribuída. Se ela teve momentos felizes, sei que foram todos os que passou com você. Imagina? Criar você. Te ver bebezinho, aprendendo a ler e desenhar, querendo seguir os passos dela na escrita! Qual é, meu amor, acha mesmo que ela não morria de orgulho de você? Eu morreria, eu morro. Se seu pai não morre… ele que morra de outro jeito.
Ri, a gargalhada travando o choro em minha garganta, me fazendo tossir e respirar fundo. Me separei do abraço, limpei o rosto de Jimin e enchi de beijos cada cantinho de sua pele. Cada parte que eu tanto amava, tanto desejava e exaltava. O amor da minha vida em minhas mãos.
ㅡ Eu sinto tanto pela sua mãe, Jimin. Você passou uma vida toda sozinho e… eu queria tanto ter te conhecido antes. Quando éramos crianças! Pequenos! ㅡ O abracei com força novamente. Ele retribuiu na mesma intensidade. ㅡ Eu jamais teria te deixado. Jamais, jamais! Teria passado todas as minhas noites com você, teria te amado desde sempre e te juro que teria te dado toda aquela minha fortuna pra você comprar todos os mangás e discos do Queen e itens de colecionador e essas coisas de nerd que você gosta! Eu teria te dado tudo, tudo. Você nunca mais sentiria que não tinha nada.
ㅡ Eu tenho você agora. Você me tem. Não precisamos pensar no que você teria feito, já estou no paraíso por receber o que você me dá agora! Eu tenho o que preciso, meu amor. E sei que vamos ter mais e mais conforme o tempo passar.
ㅡ Você amadureceu tanto, que raiva!
ㅡ Você também! ㅡ Me afastou, puxando pela cintura, e segurou meu rosto. ㅡ Mudou tanto, cresceu tanto, fez tanto por mim… Estou tão orgulhoso de você. Tão feliz por você. Seu livro, Jungkook! Seu livro está quase acabado, meu amor! E vou divulgar tanto, tanto! Obrigarei todos que conheço a ler! Você conseguiu. Se sua mãe pode te ver, tenho certeza de que não tem decepções em relação a você. Ela sabe que você está bem e melhorando a cada dia mais.
ㅡ E eu estou aqui para te ver todos os dias. Vou ocupar o espaço que puder do seu coração. Eu serei seu ar, Jimin, se você precisar. Eu serei o sangue das suas veias e as batidas do seu coração, serei seu chão e seu céu. Serei tudo enquanto puder ser. Serei seu e somente seu enquanto for algo neste mundo. E, depois de passar para o além, te deixarei tudo que não pude levar. Meu amor ficará. Ficará aqui e te protegerá dia após dia. Desde que comecei a te amar, Jimin, eu dedico tudo a você para que nunca mais, nem só por um segundo, você sinta que está abandonado e que não merece ter vida. A minha vida, Jimin, só está como está agora por sua causa e, por isso, tudo que eu fizer nela, tenha certeza, será de alguma forma para você e seu. Para sempre.
Jimin ficou calado, derramando lágrimas como rios. Abraçou-me mais uma vez e senti seu coração batendo junto do meu.
Tínhamos, enfim, vindo do mundo dos mortos, depressivos, infelizes, sem esperança e magoados para alcançar a vida e sermos felizes.
Finalmente éramos nós mesmos, de forma inteira, e queríamos passar todo o resto de nossa nova vida, desse milagre que foi renascer, juntos.
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[ Capítulo revisado em 18/12/2021 ]
Vocês devem ter notado que tem assuntos ainda "abertos" na fanfic, e isso é por que os personagens não estão prontos pra falar sobre eles ainda, não de forma livre e sem dor. A fanfic, CNVCPJ, só pode narrar até um ponto X sem perder o propósito, então alguns assuntos talvez não sejam explicadinhos tim tim por tim tim, porque a fanfic termina onde prometeu: no fim dessa jornada dos jikook, principalmente do Jungkook e seu aprendizado sobre o Jimin. Daqui pra frente, ultrapassando isso, não é mais sobre eles, e por isso não vai ser narrado e etc. Porque a fanfic é sobre eles e prosseguir narrando apenas a história de um quebraria tudo o que foi feito até agora. Portanto, não há razão pra surpresa caso hajam questões abertas, ok? KKK mas eu vou amarrar bem os pontos, gente, vou amarrar onde devo amarrar.
Espero que tenham aproveitado até aqui e que aproveitem MUITO esse último capítulo que virá e o EXTRA QUE ESTÁ ME MATANDO DE EXCITAÇÃO!!!
Usem a #, por favor, por favor! Quero ver vocês falando sobre nosso final no twitter. Usem o #aiminhatetinha ou o JM vai aí na casa de vocês morder suas tetinhas!!!!
Até💕