Jujutsu Kaisen - Orbitando um...

Por adri_bertolin

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Aprisionado no Reino da Prisão, Gojo Satoru inicia um processo de fragmentação sobre os conceitos em relação... Más

Vazio
Grandes olhos negros
Propósito
Igual
Ciúmes
Domínio incompleto
Entorpecência
Consumo
Anseio
Posse
Retaliação
Fôlego
Engrenagem
Bolha
Escolha
Capítulo Extra: Sequestro
Paz artificial
Busca
Renúncia
Receptáculo
Liberdade
Esperança
Destino
Resgate
Surgindo das cinzas
Surto

Caos

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Por adri_bertolin

Gojo começou a entender de melhor forma o seu lugar em sociedade (ou a falta dele) depois de completar dez anos, período na qual sua energia começou a se manifestar mais intensamente, mais involuntariamente. Algo que mudou completamente a forma com que interagia com o mundo e o percebia.

Anteriormente ele costumava se considerar uma criança muito madura, alguém que já raciocinava como os adultos e que entendia perfeitamente a forma com que eles pensavam. A verdade só o atingiu quando entendeu como o medo funcionava, como sua existência contrariava todas as crenças humanas.

Ele percebeu o que era a adoração, o que era o ódio. Ele começou a compreender com exatidão como funcionavam as maldições e porque as pessoas costumavam vê-lo como uma. Foi nessa época que matou uma pessoa pela primeira vez, não um monstro, não um feiticeiro maligno, mas um homem que temia demais a ideia daquilo que ele representava.

Veja bem, não foi exatamente proposital.

Era uma noite de nevasca, ele já estava em sua cama e repassava em sua mente o treinamento de alto controle que lhe foi ensinado. Afinal, nada de bom vinha por deixar sua mente vagar pelo infinito de sensações que conseguia captar.

O silêncio foi a primeira coisa que lhe trouxe estranheza. Seus sentidos eram apurados demais e, no entanto, conseguia concilia-los muito bem. Não notar a presença daqueles que serviam em sua residência deixou-lhe desconfiado, mas não o suficiente para fazer algo a respeito. Já havia se acostumado a fingir que não notava o interesse por trás de todos aqueles cuidados, a tal ponto que deixou de se importar.

A vida de Satoru passou a se dividir em duas etapas após aceitar a introdução da criatura quieta em sua rotina: um período de alegria, confusão, aventuras e treino gratificante (que se consistia em qualquer feriado escolar com mais de dois dias na qual Uyara podia vir para onde quer que ele estivesse) e todo o resto do ano, na qual colapsava em sua existência solitária.

Kioku naquele momento estava dormindo embolada em seu corpo, com a falta de respeito por espaço pessoal que ela lhe ensinou perfeitamente sobre como ter. A garota estava exausta, ajustando-se ao fuso horário com a diferença de doze horas como acontecia sempre depois de chegar ao Japão. Foi na respiração dela que ele optou por se concentrar, em seu batimento cardíaco e na forma com que ela se agarrava a ele como se fosse um travesseiro muito confortável, sua circulação protestava, mas quando a diabinha estava assim ela lhe trazia muita paz.

Isso não o impediu de perceber o humano de energia desconhecia que entrava em seu território, passava pela porta de entrada destrancada e caminhava rumo ao quarto em que ele estava.

Ele poderia ter se levantado para mandar o desocupado para a casa do caralho, mas se havia uma lei da natureza que não gostava de quebrar era acordar aquela que abraçava no momento. Seu coração não suportava ser o causador de tenta decepção na vida de Uyara, que o despertador dela ficasse com essa função.

Portanto ele deixou que o homem viesse, deixou que ele o desafiasse. Quebrar as expectativas alheias causava um gosto adorável em seu âmago, não seria diferente dessa vez.

O único problema é que foi.

Satoru já deveria saber que eventualmente as pessoas se cansariam de confronta-lo, de oferecer a chance para que ele saísse por cima independentemente da situação e que, por isso, optariam por uma abordagem mais direta.

Sua porta foi aberta devagar, como se o outro esperasse que ele estivesse dormindo para ter alguma chance. A visão de seus olhos azuis brilhantes fizeram com que o homem se mijasse nas calças, literalmente.

O garoto estava prestes a reclamar do mal cheiro, porém o movimento de seus lábios pareceu ter despertado um frenesi que o obrigou a agir. Uma arma foi sacada e apontada para si, uma arma mundana mergulhada em energia amaldiçoada.

Gojo não registrou exatamente o que aconteceu, apenas observou os fatos. Mãos tremendo, dedo no gatilho, suor frio. Pupila comprimida de terror, o barulho ensurdecedor... e então o sangue.

Não o seu, claro. Nem o de Uyara. Mas sua porta e corredor agora estavam manchados de vermelho escuro, sem nenhum resquício de ossos ou órgãos, apenas o líquido que escorria como tinta fresca onde uma fração de instante antes havia um ser vivo.

Não havia dúvida que seu próprio rosto se encontrava em estado semelhante.

Ele ouviu o relógio no andar de baixo soando. Tic. Tac. Tic. O odor de sangue fresco entorpeceu seus sentidos. Tic. Tac. Tic. O barulho trovejante de seu próprio coração quase o deixou surdo. Tic. Tac. Tic. Seus olhos se arregalaram de tamanha forma que sua face se tornou a imagem perfeita do puro horror. Tic. Tac. Tic. Gojo procurou por qualquer coisa que pudesse tirar aquela sensação de seu peito. Tic. Tac. Tic.

Foi então que seu cérebro começou a ficar super estimulado, cada passo de formiga no subsolo, cada floco de neve se chocando contra o chão, cada bomba que representava um simples crepitar do fogo, cada cor, cada traço, cada grunhido, cada respiração, toda a vida, toda a morte, tudo que crescia, tudo que murchava, cada tremor, cada ondulação, cada luz, cada escuridão, cada explosão das bolas de plasma que gostava de observar, tudo o que existia em seu alcance. E então nada. Vazio.

Ele não sabia dizer o que era mais desagradável, mas o agora fazia com que se sentisse muito pior. Que lugar terrível. Satoru não sentia nada, não via nada, não conseguia se mover, não conseguia gritar por mais que tentasse. Era a definição de um pesadelo real, sua consciência vagando em um lugar que não lhe permitia reações.

O medo de outras pessoas lhe era conhecido, porém aquela foi a primeira vez em sua década de vida que se sentiu daquela forma, acuado, transtornado, tremendo como uma coisinha insignificante e fraca.

Até que sua visão começou a voltar, depois audição, tato, olfato, paladar... lentamente. Muito lentamente. Ele detestava coisas lentas.

Só que quando compreendeu o que estava na sua frente percebeu que preferia não ter voltado.

Kioku lhe encarava como se estivesse vendo a morte, por Deus, ela parecia com a morte. Sangue corria por suas orelhas, nariz e olhos, vasos demais rompidos para calcular os danos imediatamente. Seus olhos estavam brancos, queimados, suas roupas estavam imundas e eles de alguma forma vieram parar na neve, fora de casa.

Onde estava sua casa?

Analisando o cenário ao redor ele percebeu que estavam na mesma clareira que se entenderam pela primeira vez, a diferença óbvia era o buraco que começava a centímetros de onde ele estava e se estendia quilômetros adiante, algo que engoliu a floresta até ali, a mansão e abriu espaço para o mar muito além invadir.

"Não está ferido, está?"

O japonês mal formado e cheio de sotaque soou dentro de sua cabeça logo depois que Uyara abriu a boca, o que fez com que ele percebesse que a garganta dela também estava destruída.

- Você não tem o direito de me perguntar isso! - Ele sentiu sua boca seca, seus olhos úmidos.

Satoru estava inteiro, talvez bastante sujo, mas sem nenhum arranhão.

"Hm. Bom."

Não havia nenhuma explicação para aquela garota ter permanecido de pé até então, mas qualquer força que ainda a sustentasse acabou naquele instante.

Seu corpo se moveu sozinho para segura-la antes que colidisse contra o chão e ele a manteve em seus braços sentindo pela primeira vez que habitava um mundo de frágil demais, claustrofóbico com a ideia de que um movimento de seu dedo poderia quebrar a realidade.

Isso não era um exagero.

(...)

Uyara era uma telepata. Ou pelo menos foi como ela se auto declarou, com todo o orgulho e novo complexo de Jean Grey.

Kioku não parou de falar em sua cabeça, apesar de seu corpo não responder. Sua angústia estava sendo sentida por ela também, o que a deixava agoniada e garantia que tagarelasse infinitamente, sua tentativa fracassada de distraí-lo.

Os feiticeiros de jujutsu não tiveram um segundo de paz desde que ele chegou com a garota no complexo médico, faziam o impossível para garantir que o coração da criança não parasse de bater e que cada parte quebrada de seu corpo se restaurasse. Ajudava que eles tivessem tão apavorados com a sua presença quanto ele estava com a possibilidade de ver a amiga morrer.

Ela, por sua vez, estava inquieta demais com a sua inquietude e o expulsou da sala de tratamento com a ameaça de levantar na base do ódio e agredi-lo. Logo, ele decidiu ocupar seu tempo da forma mais útil que conseguiu: deixando bem claro que haveria consequências se eles ousassem não salva-la.

Se a coisa pequena prometendo o caos não fosse Gojo Satoru, a cena teria sido cômica no lugar de assustadora.

Não havia remorso em seu ser conforme ele justificava cada olhar de desespero que recebia, ou pelo menos foi assim até que alguém o pegou como um saco de batatas e o tirou dali.

Masamichi Yaga. Não era a primeira vez que se encontravam, até o considerava uma presença agradável que ele gostava de irritar, mas no momento estava muito ocupado se debatendo incessantemente para reconhecer isso.

O desastre que acabará de presenciar martelava em sua cabeça ao ponto de não conseguir usar nenhuma força de verdade, então carrega-lo não foi uma tarefa difícil.

Seu corpo foi jogado sem hesitação nenhuma contra um bicho de pelúcia gigante que o abraçou como se quisesse quebrar seus ossos.

- Gojo! - Ele bradou autoritário. - Kioku-chan vai ficar bem. Infernizar a vida dos curandeiros não ajudará em nada.

Essa informação tirou algumas toneladas de suas costas, mas ele não queria deixar o mais velho saber disso.

- O que aconteceu? Por que isso aconteceu?! - Satoru teria gritado, se sua garganta não estivesse tão áspera, se sua própria voz não estivesse embargada.

- Minha intenção era te perguntar o mesmo. - A expressão de autoridade a ser respeitada que tomou o rosto do homem foi tão mal recebida que o próprio teve a sensação que levaria um cuspe no rosto. - Uyara mencionou que acordou acreditando de que o mundo estava sendo consumido diante de seus olhos, sentindo tudo, vendo tudo. A julgar pela sua habilidade recém descoberta, a alegação de que foi capaz de bloquear tudo isso não me parece falsa. O que me preocupa é que ela percebeu que as sensações: aquilo que rompeu seus tímpanos, tostou suas córneas e afogou seu olfato em estímulo até que ele fosse destruído, tudo veio de você! - Yaga viu sua contração de horror, com certeza conseguiu lê-lo como a criança que realmente era. - Ela disse que tapou seus olhos para tentar diminuir a sua dor e garantiu que a única coisa que conseguiu fazer foi implorar para que você saísse daquele lugar e parasse de sentir. Talvez isso tenha sido literal demais, pois Kioku também disse que você gritou como se o seu caos houvesse se tornado algo pior e que sua energia amaldiçoada destruiu tudo ao redor até que ela conseguisse te trazer de volta.

- Alguém tentou me matar... - Gojo disse como se isso significasse alguma coisa, como se isso justificasse alguma coisa. Sua voz não era mais do que um sussurro. - Eu me defendi. Nunca matei nada antes, não gostei do resultado. Foi isso que aconteceu.

- Uyara pode confirmar isso? - Masamichi parecia ter prendido a respiração.

- Se ela esteve na minha cabeça eu não duvido que possa. - Ele quis soar desdenhoso, não deu certo.

- Você entende como isso muda as coisas? - O homem pareceu aliviado. - Gojo, o alto conselho quer te executar por conta da exibição de hoje. Se você foi atacado, não há justificativa para fazerem isso. - Suas palavras não tiveram feito efeito algum em melhorar o seu humor, então ele continuou. - Se o que Kioku disse é verdade, isso só prova que você tem mais humanidade do que a maioria de nós, não é algo ruim.

- Minha única amiga praticamente morreu por minha causa e você quer me dizer que isso não é ruim? - Satoru sentiu tanta indignação que quase tentou se soltar, quase.

- Os únicos ferimentos que ela sofreu foram frutos de seu próprio encantamento, quando ela entrou no caos que passava pela sua mente. - Ele lhe ofereceu um sorriso, como se tentasse soar amigável. - Por outro lado, quando você lutou contra o domínio, tudo ao seu alcance deixou de existir e, mesmo inconsciente, sua descarga de energia amaldiçoada não causou nenhum arranhão a ela. Prova de sua preservação pela vida.

O menino não sabia dizer o que de fato aquilo dizia sobre si mesmo.

No entanto, algumas coisas foram provadas naquele dia. Gojo Satoru era uma ameaça para o mundo como ele era conhecido e o equilíbrio aumentado no dia 6 de dezembro de 1989 não foi uma coincidência. 

Não se engane por uma diferença de fuso horário, no dia 7 do mesmo mês e ano o mundo sentiu sua energia mudar bruscamente com a primeira inspiração de um bebê deus. Mas o universo tem sua própria maneira de se estabelecer. Por uma diferença proporcional de segundos outra criança chorou pela primeira vez e a existência não ruiu.

Havia um abismo colossal de poder entre ambos os recém nascidos, porém um abismo não era um infinito e a realidade se satisfez com isso.

Kioku Uyara não era uma aposta barata, ela era a única pessoa viva que poderia fazer uma divindade se ajoelhar.  

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