John
— Ela nem quis saber como eu descobrir o nome dela. — Estava jogado no sofá do meu apartamento e Tyler fumava próximo a janela.
— Pensei que seria pior.
— Pior como?
— Sei lá.
— Queria saber qual o problema dela.
— Esquece ela, você tem a Hanna aos seus pés, para que perder tempo tentando conquistar essa garçonete.
— Olha quem fala, você está saindo com uma garçonete sabia? — Ele deu os ombros.
— Ana é diferente e eu não tenho uma modelo de revista apaixonada por mim.
— Eu não amo a Hanna e eu não vejo um futuro com ela.
— Ela sabe disso?
— Sabe, se ela não aceita eu não posso fazer nada.
Tyler apagou o cigarro e caminhou até a bancada e se serviu com whisky.
— Pensei que estavam tentando. — Se sentou na poltrona na minha frente.
— Se fosse para dar certo já teria dado, não acha?
— Então porque ainda fica com ela?
Eu nem tinha resposta para sua pergunta, talvez porque sempre que chegávamos nesse assunto ela começava a chorar e eu não sabia como reagir.
— Eu não sei.
— Deveria chamar a garçonete para sair.
— Que gênio. — Fui irônico. — Se ela não quer nem falar comigo vai querer sair?
— Você nem tentou, você já foi melhor, Salt.
***
No dia seguinte busquei a Melanie na escola para leva-la ao hospital e depois passaria a noite comigo.
As minhas tias Mary e Morgana eram quem passava a maior parte do tempo no hospital, elas revezavam, nesse dia quem estava era a tia Morgana.
— Vou tomar um café enquanto vocês estão aqui. — Avisou.
— Está bem.
Entramos no quarto e lá estava ela, sentada na poltrona, a maquiagem havia deixado ela com uma aparência saudável e ela usava uma peruca, eu havia visto poucas vezes sem a maquiagem e sem a peruca, ela sempre se arrumava quando íamos.
Melanie ficou abraçada com ela por um longo tempo, ela se esforçou para não chorar, mas não aguentou e em pouco tempo as duas estavam chorando, senti meu peito apertar e a minha vista embaçar, limpei os olhos e saí do quarto.
Eu tentei ser forte, queria ser forte, mas estava sendo mais difícil do que imaginei.
— Faça a festa. — A minha mãe pedia a minha irmã.
— Não posso, você não vai estar nela, eu não quero. — Em poucas semanas ela faria treze anos, passaram meses, as duas planejando a festa, mas então tudo aconteceu.
— Sinto muito, filha.
— Tudo bem.
— Não quer ir comprar alguma coisa nas maquinas? — Perguntei e ela praticamente saltou do lado da minha mãe.
E então ficamos a sós.
— Eu queria ter algo para dizer, mas eu não tenho, mãe. — Ela sorriu fraco e uma lágrima escorreu em sua bochecha.
— Desculpa. — Eu à abracei.
— Não é culpa sua, nada disso é. — Me apertou contra o seu corpo, eu quis tanto ficar ali com ela, não solta-la, não deixa-la ir.
— Eu queria ter feito mais, muito mais por vocês. — Ela me afastou e segurou o meu rosto com suas mãos, segurei as lágrimas que ameaçavam cair e sorri.
— Você foi a melhor mãe que alguém poderia querer, tudo o que fez foi mais do que o suficiente. — Ela beijou minha testa, como sempre fazia.
E então Melanie entrou no quarto saltitando com os pacotes de doce na mão.
***
Minha irmã escolheu alguns filmes para assistir, parecia estar distraída, a campainha tocou, estava esperando um entregador com a pizza, seguir até a sala para atender.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntei confuso.
— Vim passar a noite com você. — Hanna abriu um roupão preto deixando amostra sua lingerie.
— Você está louca? — A enrolei outra vez em seu roupão. — A Melanie está aí!
— Ah, me desculpa, eu não sabia. — Amarrou a fita de cetim em sua cintura. — Senti saudade. — Agarrou o meu rosto e depositou um beijo em meus lábios.
— Agora eu estou com a minha irmã, amanhã eu passo no seu apartamento.
— Tudo bem então né. — Sua voz saiu um pouco melancólica.
— A pizza chegou? — A Melanie apareceu na sala.
— Olá, coisa linda! — Hanna avançou em sua direção abraçando-a, o que eu não gostei nem um pouco.
— Oi, Hanna. — Minha irmã abriu um grande sorriso em sua direção.
Havia levado Hanna umas duas vezes na casa dos meus pais, quando ainda acreditava que teríamos algo, a minha mãe não gostou dela, mas Melanie se deu muito bem com ela, já que Hanna a encheu de doces.
— Você vai ficar com a gente? — Hanna buscou minha aprovação, ela não a teve, mas ignorou isso.
— Se você quiser, eu fico. — Melanie abriu um sorriso.
E lamentavelmente ela ficou.
A minha irmã dormiu no meio do segundo filme.
— Vamos na sala. — Sussurrei no ouvido de Hanna, que abriu um sorriso.
Ela alargou o sorriso ao chegarmos na sala e se aproximou de mim.
— Que saudade de você. — Envolveu seus braços em meu pescoço, mas eu retirei seus braços e a afastei de mim.
— Hanna, eu não queria que você ficasse, você sabia disso.
— Ah, meu amor, eu achei que seria divertido.
— Não foi. — Ela cruzou os braços frente ao corpo.
— Você tem quase uma semana que não vai me ver, o que está acontecendo?
— Eu tenho uma vida e a minha mãe está perdendo a dela.
— E a gente, como fica? — Gargalhei involuntariamente com a sua insensibilidade.
Um dos maiores defeitos dela era esse, achar que é o centro do mundo.
— Novamente teremos essa conversa?
— Você nem está tentando.
— Tentei por um ano, estamos um ano nessa, não vamos dar certo.
— Eu te amo, John! — Esfreguei as mãos pelo meu rosto e voltei a encara-la.
— Desculpa, não posso continuar alimentando isso. — Ela arregalou os olhos e negou com a cabeça enquanto caminhava em minha direção.
— Não, por favor, vamos continuar como estamos então. — Agarrou as minhas mãos.
— Hanna, você está se machucando. — Seus olhos azuis claros, estavam perto de transbordar.
— Eu não quero ficar longe de você. — Me abraçou e começou a chorar.
— Hanna, por favor! — A afastei de mim mais uma vez.
— Vamos tentar só mais uma vez, vamos voltar na parte em que nos conhecemos. — Me encarava com os olhos vermelhos.
— Eu só quero que uma coisa fique clara, não sou seu, assim como você não é minha.
— Mas eu sou sua e em breve será meu, essa é a última vez.
— Sem cobranças. — Ela sorriu e assentiu.
— Tudo bem.
E lá estava eu, mais uma vez, insistindo em algo que eu não queria, por simplesmente não saber lidar com uma mulher chorando.