Eu ainda estava sorrindo quando entrei no meu quarto e me deitei na cama. Meus olhos se fecharam automaticamente e o sorriso de Daniel foi a primeira coisa que eu vi.
Eu estava tão grata por ter conhecido ele. Se não fosse por ele, o único amigo que eu teria no colégio seria o Zezinho.
" Mas quando isso acontecer não é para me substituir não, ok? Eu fui o primeiro então tenho que ser o melhor amigo. "
Sorri novamente virando-me parando de barriga para baixo na cama.
ㅡ Não vou te substituir. ㅡ Ri olhando para frente e acabei me vendo no espelho. ㅡ Minha nossa... ㅡ Murmurei me levantando e indo em direção ao espelho na parede. Meu cabelo era extremamente oleoso. Eu havia o lavado ontem, mas já estava tão sujo.
Encarei minha penteadeira com o dedo indicador do queixo e acabei sorrindo novamente quando decidi cuidar um pouco de mim. Em geral eu tinha muita preguiça de fazer isso, mas naquele dia eu estava com tempo e a preguiça não era tanta.
Minha mãe ainda não havia chegado, o que me dava mais uns minutos com a casa só para mim para eu ser quem eu era sem preocupação.
A música voltou a soar pela casa, minha voz também, mas eu não cantava tão bem, então não preciso dar ênfase nessa parte.
Eu fiz uma hidratação no meu cabelo, cuidei da minha pele, fiz unhas e sobrancelha, sequei o meu cabelo e fiz uma maquiagem bem leve. Quase não dava para perceber que eu estava maquiada, na verdade.
Isso levou basicamente o resto da tarde. Quando terminei, já era hora de eu sair de casa para ir para o meu primeiro dia de trabalho.
Eu não estava com fome - aqueles morangos embrulharam meu estômago - mas eu sabia que tinha que comer algo. Abri a geladeira procurando por algo que fosse leve, mas nada ali me dava a mínima vontade.
Somente naquele momento me lembrei das tangerinas que Daniel havia me dado.
Corri na direção do meu quarto e peguei o pequeno pote de tampa amarela. O amarelo me fez sorrir.
Guardei o pote na minha bolsa, passei um perfume e olhei-me no espelho mais uma vez antes de sorrir e sair do quarto.
ㅡ Deixa eu me apresentar
Que eu acabei de chegar
Depois que me escutar
Você vai lembrar meu nome... ㅡ Cantarolei descendo as escadas e avistei minha mãe entrando pela porta com a maior cara de exaustão. ㅡ Oi!
ㅡ Oi, querida. ㅡ Sua voz também demonstrava cansasso. ㅡ Já está saindo? ㅡ Ela inclinou-se para baixo para tirar os sapatos.
ㅡ Sim. A senhora passou o dia todo fora, o ensaio de fotos demorou tanto assim?
ㅡ Nem me fale. Eu estou quebrada. ㅡ Ela ergueu-se colocando a mão na cintura e só aí olhou para mim. ㅡ Elizah, você está linda. O que fez de diferente?
ㅡ Deixei minha preguiça de lado e cuidei de mim. ㅡ Dei de ombros rindo. ㅡ Vou indo, ta? Não quero ter que correr.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Ela passou por mim indo em direção às escadas. ㅡ Ah, como foi hoje?
ㅡ O que?
ㅡ Com as suas amigas. ㅡ Ela sorriu. ㅡ Elas gostaram dos lanches?
ㅡ Ah... ㅡ Eu me sentia mal mentindo para minha mãe, mas realmente não queria chatea-la com nada disso. Tanto ela quanto meu pai estavam felizes e eu não queria estragar isso. ㅡ Sim. ㅡ Forcei um sorriso, mas logo a culpa pela mentira me tomou.
ㅡ Que bom, pode chama-las mais vezes. Vou gostar de conhecê-las. ㅡ A mesma sorriu mais uma vez e virou as costas subindo as escadas.
Parei de sorrir virando-me para a porta e respirei fundo.
Vai dar tudo certo Elizah, você vai fazer amigas logo e não precisará mais mentir.
Acreditei no meu pensamento e saí de casa.
[...]
ㅡ Olha, florzinha, você só precisa ficar aqui atrás do balcão e atender as pestes que fazem aula aqui. ㅡ Theo me explicou rapidamente enquanto eu o observava.
ㅡ Pestes? ㅡ Ri do mesmo.
ㅡ Impressão sua, flor, eu disse crianças de Jesus. ㅡ Ele balançou a cabeça me fazendo rir de novo. ㅡ Os preços estão nas tabelas, você pode decora-los ou ler na hora mesmo, eu leio porque não sou obrigado a decorar nada.
ㅡ Entendi. ㅡ Assenti.
ㅡ Você fecha às 20h, que é a hora antes da última aula terminar, o clube fecha às 21h. Para fechar é só chamar o Otávio que ele tranca para você. ㅡ Ele falava ao mesmo tempo que se olhava em um pequeno espelho de bolso.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Assenti novamente.
ㅡ Daqui a pouco a Sabrina aparece aí reclamando da vida. E eu aposto que a primeira coisa que ela vai dizer vai ser: ai, estou tão cansada! Se eu fosse famosa, não precisaria passar por isso. ㅡ Ele forçou uma voz mais feminina. ㅡ Bem, vou indo antes que chova. ㅡ Fiz uma careta.
ㅡ Chuva? ㅡ Perguntei. O tempo estava tão limpo. Não estava com cara de chuva.
ㅡ É. Eu não trouxe sombrinha hoje. ㅡ Continuei encarando ele sem entender. ㅡ Acontece que o tempo é contra mim, florzinha. Eu sempre estou com a sombrinha, e nunca chove. Mas sempre que eu esqueço, chove. É assim que funciona.
ㅡ Ah. ㅡ Ri do mesmo.
ㅡ Pode escrever. Vai chover hoje. Espero que tenha trazido sua sombrinha. ㅡ Ele saiu dali e parou do outro lado do balcão. ㅡ Ah, se de repente você ver algum gatinho hoje, me informe. ㅡ Ele piscou. ㅡ Vou indo Eloisa, beijinhos e boa sorte!
ㅡ Tchau! ㅡ Acenei ignorando o fato de ele ter errado meu nome.
ㅡ Tchau, tio do lanche! ㅡ Uns garotinhos que estavam jogando gritaram.
ㅡ Tchau, pestes! ㅡ Ele gritou de volta e as crianças riram.
Comecei a olhar em volta. Ali vendiam salgadinhos, biscoitos, picolés, refrigerantes, guaravitas, doces e um monte de outras besteiras. Parecia mais uma cantina de colégio.
Eu já estava usando a blusa de uniforme e tentava no momento memorizar onde estava cada coisa para não ter que ficar procurando quando alguém pedisse.
ㅡ Fofura, milho bom, fandangos... ㅡ Murmurei para mim mesma observando a pequena prateleira.
ㅡ Ô tia! ㅡ Ouvi uma voz e olhei para o balcão. Ali estava um garotinho todo suado com roupa de futebol.
ㅡ Sim?
ㅡ Me dá um guaravita e um fandangos ai! To cheio de fome. ㅡ Ele resmungou e eu peguei os dois. Olhei rapidamente o preço na tabela e entreguei ao garoto. Ele me deu uma nota e eu lhe dei o troco. ㅡ Valeu, tia! ㅡ O garoto saiu correndo na direção das arquibancadas.
ㅡ Ai! ㅡ Levei um susto ao ouvir um grito da Sabrina. ㅡ Eu estou tão cansada! Se eu fosse famosa, não precisaria passar por isso. ㅡ Ela resmungou e eu ri me lembrando do Theo. ㅡ Ah, oi, Elaine. ㅡ Ela se escorou no balcão.
ㅡ Elizah. ㅡ Corrigi-a.
ㅡ Ok, Elizah. Não vou me esquecer mais. ㅡ Ela assentiu. ㅡ Eu me esqueci que você vinha, pensei que o Theo estaria aqui. Então, o que está achando?
ㅡ Por enquanto bem tranquilo. Não estou aqui nem a cinco minutos, eu acho. ㅡ Ri.
ㅡ Espera até a aula das 18h terminar. Isso aqui vai lotar de crianças. ㅡ Sabrina passou a mão na testa.
ㅡ SABRINA!! ㅡ Uma voz ao longe gritou pelo nome da garota que faltou escorregar-se pelo balcão até o chão.
ㅡ Quer trocar de emprego comigo? ㅡ Ela olhou para mim com uma expressão cansada.
ㅡ Você consegue, você é forte. ㅡ Toquei o ombro dela rindo.
ㅡ Se eu fosse forte já teria socado a cara do meu chefe.
ㅡ SABRINA!!
ㅡ TO INDO, INFERNO! ㅡ Ela gritou e não demorou à se afastar de mim.
Observei-a se arrastar para o outro lado da quadra e acabei, por acidente, esbarrando meu braço num pote cheio de pirulitos que estava em cima do balcão.
Resultado: pirulitos para tudo quanto é lado ali dentro.
ㅡ Ai... ㅡ Resmunguei me sentindo uma idiota e me abaixei para cata-los. ㅡ Até que demorou para eu fazer alguma merda...
ㅡ Eu vou ficar para te ver hoje, relaxa. ㅡ Ouvi alguém se aproximando. ㅡ Vai lá, eu só vou comprar uma água aqui. Catei o máximo de pirulitos que pude e coloquei dentro do pote. ㅡ Tem alguém aí?
Terminei de guardar todos os pirulitos de qualquer jeito e me levantei de uma forma rápida. O que fez a pessoa se assustar, obviamente.
ㅡ Daniel?
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Continua...