Quando fui informado da saída da Anne eu fiquei em desespero. A ideia de ser deixado era insuportável mas não tão insuportável quanto o que estava para acontecer.
Eu segui o rastreador do carro que ela pegou me surpreendendo por ela ter parado no meio do caminho.
E então... Quando eu chego no local...
Eu não sabia que dava para morrer e ainda continuar existindo.
Mas constatei que é possível sim.
Quando vi a minha mulher, a única pessoa que confiei, o amor da minha vida, meu único amor, se atirar nos braços de outro e o beijar.
Eu morri naquele exato momento, mas continuei existindo.
A dor era tão grande... jamais senti nada igual, jamais sofri como naquele momento, jamais desejei matar e morrer tanto assim na vida.
Minha boca se encheu de um gosto amargo, que se misturando a sede de sangue e minha respiração quase não saia.
Eu vou matar os dois! Eu vou matá-los da pior forma possível.
Algo dentro de mim se manifesta e protesta, mas eu estou tão fodido de ódio que eu pouco me importo com essa parte dentro de mim.
Desligo todo e qualquer sentimento que já tive e me entrego totalmente às minhas variadas Personalidades ruins. As piores.
Quando abro meu olho, estou totalmente recomposto.
Vejo Anne entrar no carro com Edmund e sair.
O sentimento de abandono e traição é amargo e azedo. E o maldito dói... Dói na alma.
- Sr. Beaumont... O carro foi bem danificado, parece um acidente. - Diz um de meus homens após ter analisado o carro onde Anne estava.
Essa informação deveria me fazer sentir menos pior.
Mas não o faz.
- Claro que foi um acidente. - Digo frio e grosseiro.
É claro que a Anne não fez isso por que ela quis, mas não importa os motivos dela, ela beijou a porra de outro homem na minha frente, ela me traiu... Assim como... Argh!
Rosno.
Ela terá a sua punição... Eu não vou deixar sair barato... Seu abandono, sua traição... Tudo vai custar muito caro a ela. Annelise jamais deveria ter ido com meu irmão, não importa as circunstâncias ela deveria ter confiado em mim e ter sido leal a mim.
Pra começar nem sair de casa ela deveria ter saído!
- Ligue o rastreador que coloquei no Edmund. - Ordeno.
- Vamos atrás dele?
- Não... Vamos brincar um pouco antes.- Digo sombrio.
Edmund levou Anne para uma cabana onde as vezes passávamos as férias no topo de uma colina. Eu não sei porque ele escolheu esse lugar, talvez ele achasse que seria óbvio demais para eu pensar. O imbecil não sabe que fiz ele engolir um rastreador há muito tempo atrás para o ter sempre sob controle.
Um ódio intenso me invade quando lembro de Anne o beijando. Jamais ela deveria beijar outro que não fosse eu! Nem que a sua vida dependesse disso!
Ela era minha mulher, porra!!
Ela me deixou... Não importa o motivo ela me deixou e por isso ela não é confiável.
Levo minha mão até o meu peito que dói... Dói tanto que fico sem ar.
Eu deveria matá-la e depois me matar?
Não... Eu a amo demais para ser capaz disso. Viver ou morrer, não importa. Sem ela nada faz sentido.
Passo as mãos pelo cabelo atordoado. Estou prestes a ter um surto.
Tento me concentrar no que eu eu sei que devo fazer.
Eu vou entrar lá, fazer esse desgraçado sofrer na frente da Annelise e depois vou voltar com ela pra casa e aprisionar ela em uma gaiola, como um animal de estimação.
Vou adestrar ela como deveria ter feito desde o começo, dei muita liberdade a ela e no final tomei lindamente no cu.
Ondas de ódio desgovernada me invadem tão fortemente que eu quebro tudo o que vejo pela frente.
Subo até nosso quarto e vou até o nosso closet o Surto está se intensificando...
Pego as roupas dela e começo a rasgar, mas logo depois paro.
Me abaixo e pego os destroços, os levo até meu rosto e inalo profundamente o cheiro.
Tem o cheiro dela... O cheiro da minha Anne.
Eu então choro, choro como nunca antes. Eu poderia esperar isso de qualquer um, mas dela não... Ainda mais depois de tudo que tínhamos vivido nos últimos dias.
- ANNEEEEEEEEE! - Eu grito sentindo meu corpo convulsionar. Meu coração se aperta e se comprime no meu peito. - Por que? Por que porra...? Eu não estava sendo bom o bastante pra você?
Bom... Agora serei menos ainda!
Eu estou surtando... Estou tendo um dos surtos que não tinha a muito tempo.
Eu vou matá-la!
Não! Eu não vou!
SIM! EU VOU!
NÃO, NÃO, NÃO...
Dói... Alguém faz parar a dor!
As vozes gritam na minha cabeça, são tantas diferentes... Elas manipulam minhas lembranças me levando ao limite do sofrimento.
"Eu não quero você, não vou voltar com você! Agora eu estou com Edmund."
Não... Anne, não!
Lembranças da Isabel invadem minha mente me deixando transtornado. É quase como se a história se repetisse...
"Isabel... - Digo seu nome choroso. - Você prometeu que me escolheria... Você prometeu que seria minha...
- Eu falei isso? Por favor... Não diga coisas estranhas na frente do seu próprio irmão... Você não tem vergonha de cobiçar a noiva dele? Não tem vergonha de querer tudo o que ele tem?"
As memórias voltam até as palavras de Edmund hoje.
" - Você ouviu ela, Edward! Ela é minha agora... Ela te deixou e preferiu a mim, um homem de verdade... Assim como a Isabel."
A voz de Edmundo surge na minha cabeça me relembrando esse momento desgraçado várias e várias vezes. Estou sufocando, desesperado... Alguém faz parar isso!
Eu soco a porta do closet e grito para ele me deixar em paz.
- SAI DA MINHA CABEÇA, PORRA!
Agora a lembrança da Anne me invade novamente, torturando-me...
" É isso mesmo, Edward. Eu estou deixando você."
- Anne... Não acredito. Você prometeu. - Eu repito atordoado para mim mesmo em voz alta, revivendo a cena.
"Não... Eu disse que não te amava. E eu descobri que não amava por que a pessoa certa para mim era Edmund."
Não! Não! Você é minha! Você é minha e eu jamais permitirei que seja de outro, ainda mais desse maldito! VOCÊ VAI ME AMAR POR BEM OU POR MAL.
Você é minha, toda minha Annelise!! E não importa o que eu tenha que fazer, você vai voltar pra mim e eu vou te mostrar do que eu sou capaz.
Como daquela vez, há muitos anos atrás eu me afundo nos sentimentos que gritam dentro de mim e me entrego a eles de forma que eu não pense mais no que tenho que fazer. Estou deixando tudo nas mãos deles...
Me desligo totalmente, entregando o controle do meu corpo, das minhas ações e da minha mente.
A calma me invade instantaneamente, mas uma áurea doentia e sombria de ódio está ao meu redor.
Eu vou em direção ao banheiro e me jogo no box com roupa e tudo. Deixo a água correr pelo meu corpo para aliviar o calor do ódio.