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By autisticjaguar

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Lauren quase entrou para as estatísticas de feminicidio, mas, sinceramente, ela preferia ter entrado a ter qu... More

02 - Quer ser minha melhor amiga?
03 - Por que não existem mais dinossauros?
04 - Por que tantas pessoas moram na rua?
05 - Por que as pessoas ficam doentes?
06 - Por que os adultos choram quando estão felizes?
07 - Qual é o doce mais doce que o doce de batata doce?
08 - Por que não posso ser uma sereia?
09 - Podemos ter um cachorro?
10 - Fazer arte dá dinheiro?
11 - Qual é o lugar mais bonito do mundo?
12 - Como os aviões voam e os barcos não afundam?
13 - Como a internet funciona?
14 - Por que as pessoas sentem atração por pessoas do mesmo sexo?
15 - Como beijar bem?
16 - Quantas línguas existem no mundo?
17 - Como tocar violão?
18 - O que é tesão?
19 - Como sabemos se estamos apaixonados?
20 - Por que rimos?
21 - Qual é a diferença entre poema e poesia?
22 - O que é o luto?
23 - Do que são feitas as estrelas?
24 - Quanto tempo esperar para dizer eu te amo?
25 - Por que as pessoas se casam?
26 - De onde vêm os bebês?
27 - É possível viver feliz para sempre?

01 - Por que o céu é azul?

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By autisticjaguar

Olá! Cá estou eu com essa nova história!

Como estão vocês?

Então vamos lá, para os que leem as notas iniciais, aqui vai a explicação.

Essa fanfic se passa aqui no meu quadrado, Distrito Federal, então tanto Camila quanto Lauren são brasileiras, sintam-se a vontade para abrasileirar ao máximo os nomes delas.

Vou apresentar muito traços daqui, como linguagem e lugares brasilienses, então se vocês sentirem dificuldade em entender alguma coisa que elas falarem me avisem e faço um pequeno glossário ao final ou começo, o que for melhor para vocês.

Estou começando hoje por ser aniversário da minha cidade/bairro/região administrativa/cidade satélite ou o que for.

A fic se trata de responder perguntas, então cada capítulo vai ser uma questão diferente, além de não serem muito extensos e não ser uma fanfic longa.

No momento não chega nem a 30 capítulos e não devo aumentar, porque já tenho programado o que quero fazer e tenho a fic quase toda pronta.

Mas nunca se sabe, né?

Não sei dizer também os dias de atualização, não devo demorar, mas vai depender muito da resposta ao livro. Normalmente eu sei quem costuma ler e quando eu ver que as pessoas que normalmente lerem a fic tiverem comentado e votado, volto a atualizar no momento mais próximo possível.

Esse primeiro capítulo traz um gatilho enorme quanto a violência doméstica, porque preciso introduzir a como a história começou, mas não está super detalhado porque sei que dá uma agonia imensa no peito da gente.

Além disso, não vou manter a trajetória triste porque vocês sabem que gosto de fazê-los sorrir e boiolar.

Boa leitura aos que decidirem embarcar nessa história comigo!

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Gritos.

Muitos gritos e o choro de um bebê.

O seu bebê.

Lauren piscou os olhos de maneira grogue antes de abri-lo. Só sabia que sentia muita dor e estava por cima de algo. A maneira ao qual aquilo havia começado era totalmente confusa, mas ela sabia que havia buscado ajuda para se livrar de toda aquela situação, porém havia sido simplesmente negligenciada e sentia que estava prestes a entrar para as estatísticas, mas não é como se fosse desistir.

Havia perdido as contas de quantas haviam sido, mas o homem que um dia prometeu amá-la para sempre agora desferia golpes contra seu corpo, gritando todo tipo de xingamento que sua voz alcoolizada conseguia proferir.

— Vagabunda! — ele gritava — sua vagabunda! Você vai ver! Você vai ver, sua piranha desgraçada!

Lauren não sabia exatamente o que ele tanto queria que ela visse, mas Paulo gritava aquilo toda vez que bebia e decidia agredi-la.

Naquela vez ele havia puxado uma faca e dito que mataria seu filho, o pequeno Cadu, que tinha apenas dois anos, afirmando que ele tinha sido fruto de alguma traição que Lauren não sabia de onde ele tinha tirado, já que Paulo tinha sido seu primeiro e único homem em seus vinte e cinco anos de vida.

Ainda assim, não duvidou do marido. Correu atrás do homem alto e que todo mundo dizia ter cara de anjo, incluindo ela mesma doze anos atrás, e se jogou na frente do filho.

Seu bebê começou a chorar quando Lauren acabou por cair em cima dele, mas ela não se moveu e foi assim que recebeu o primeiro golpe.

Não sentiu nada de imediato, como se seu corpo fosse tão facilmente perfurável quanto manteiga, mas a medida em que outros golpes foram atingindo-a, os anteriores foram ganhando níveis absurdos de dor e ela sentia que morreria.

Foi apenas assim que decidiu começar a gritar. Não queria morrer, mas acima de tudo não queria morrer e deixar o filho livre para que Paulo o agredisse. Tentou lutar contra o homem, o manchando com o próprio sangue, empurrando-o, batendo, arranhando, mas ele parecia dez vezes maior e mais forte do que se lembrava, apesar de ser bastante magro.

Seus olhos azuis estavam injetados e vermelhos de fúria e Lauren se sentiu em frente ao demônio enquanto seus cabelos loiros encaracolados sacudiam a cada facada que ele desferia. Ela não tinha noção de quanto já tinha sido ferida, mas sentia-se dormente e fraca, tentou com toda força que possuía empurrá-lo para longe do filho que tanto chorava, ouvindo a movimentação dos vizinhos gritando e sabendo que o fim de alguma forma estava próximo, um último golpe que ela não teve tempo de compreender a acertando e fazendo com que perdesse a consciência.

Lauren abriu os olhos, dessa vez de verdade, o coração acelerado e o olhar correndo a volta identificando que não estava na quitinete onde morava com o marido violento e o filho, mas na casa de sua melhor amiga, que a olhava com seus doces castanhos, sentada ao seu lado.

A sensação foi a mesma de cada despertar. O enorme vazio a preenchendo e toda a dor.

Camila abriu os braços assim que reconheceu seu olhar cheio de dor. Sabia que tinha visitado o passado mais uma vez, e embora já tivesse passado seis meses, sabia que aquele dia em especial era o mais difícil de todos, pois era quatorze de julho, dia em que seu pequeno Cadu completaria três anos.

Lauren não negou que queria colo, simplesmente se jogou nos braços da amiga e chorou ruidosamente sem se importar em estar horrível em seu pranto porque aquela mulher ali conhecia cada um de seus lados e estava sendo a maior força que poderia encontrar.

— Chora... Pode chorar que eu estou aqui para você — Camila sussurrava.

Lauren sentia uma dor mais cortante do que todas as trinta e sete facadas que recebeu. Ela não queria dizer, mas ao mesmo tempo em que sentia uma paz ao olhar Camila, sentia também uma enorme dor, porque seu filho tinha os mesmos olhos castanhos calorosos e olhar para ela era como lembrar de seu pedacinho do céu, que havia sido morto pelo homem que o gerou.

Lauren sabia que Paulo tinha raiva de Camila e toda a proximidade que tinham. A mulher era sua maior fonte de incentivo. Foi com o apoio de Camila que Lauren concluiu a faculdade de arte, já que ele dizia que tudo aquilo era uma grande bobagem, e a mulher que tinha os mesmos olhos de seu filho também tinha sido a única pessoa que ele não conseguiu afastar.

Ninguém tinha ideia de como uma mulher com energia tão boa havia ido parar nas garras de Paulo, mas Camila sempre teve medo dele, afinal, não era nada normal que um homem de quase vinte anos se interessasse por uma de doze, e acabasse por conquistá-la com suas artimanhas nojentas e iniciando um namoro aos seus treze, não importa o quanto ele parecia apenas um adolescente bonzinho com os cabelos e olhos de anjo, não importa o quanto os pais de Lauren o aprovassem.

Ele não era um adolescente. Era um homem sujo que tentou tirar tudo o que a juventude poderia levar a sua amiga e teria levado se Lauren não fosse uma pessoa tão viva e independente.

Ao menos era.

A mulher estava aos pedaços desde que acordou no hospital após semanas apagada e algumas cirurgias delicadas para mantê-la viva apenas para descobrir que seu filho estava morto e enterrado e o desgraçado do marido tinha se matado para escapar de prisão.

Ela não entendia e se culpava por ter sobrevivido a trinta e sete facadas e uma batida forte na cabeça, mas Cadu e Paulo não terem sobrevivido a uma facada certeira.

Não se conformava.

Talvez não houvesse como se conformar a isso.

— Vamos... — Camila balbuciou a ela — Vamos levantar, nos arrumar e levar flores a Cadu.

Lauren assentiu, se afastando de seus braços. Iria limpar o rosto esfregando as mãos e a barra da blusa que vestia, mas Camila a impediu, secando suas lágrimas delicadamente com a ponta dos dedos.

Lauren só conseguia ficar olhando seu rosto enquanto ela fazia aquilo com tanta dedicação e amor. Seu rosto era adorável e seus olhos doces. Camila era tão bonita, ainda que a expressão concentrada com as sobrancelhas unidas demonstrassem tanta preocupação consigo.

— Vamos lá — ela chamou novamente, baixando as mãos quando seu rosto estava seco e abrindo um sorrisinho que não passava de um curvar de lábios que lembrava mais uma vez Cadu.

Às vezes parecia que o menino era — tinha sido — filho de Camila, tamanha semelhança, mas isso era algo impossível, já que Lauren lembrava-se muito bem de seu parto, naquele hospital moribundo de Ceilândia mesmo, as enfermeiras e técnicas a olhando de cara feia porque era tão jovem e estava ali, prestes a ser mãe.

Ela já tinha vinte e três, mas isso não parecia importar para seus olhares julgadores de "caramba, acabou a faculdade agora e tinha tanto para viver antes de se meter nessa roubada", mas aquela roubada era seu filho e ela o amava.

Lauren desviou o olhar após estudar um pouco mais o rosto de Camila, indo para o banheiro dar atenção as suas necessidades fisiológicas.

Se olhou no espelho ao escovar os dentes, encontrando seu rosto pálido, sem vida, com olheiras e uma cicatriz horrível que cortava sua bochecha direita ao meio e acabava na boca. Ela havia sido costurada de modo a aliviar sua estética deformada o máximo possível, mas as cicatrizes ainda estavam lá, cada uma delas, desde a pequena na ponte do nariz, a outra cortando a sobrancelha, até as das mãos, do peito, do abdome, do ventre.

Uma mulher deformada por dentro e por fora.

Lauren suspirou, baixando o olhar para a pia e não se atrevendo a se olhar novamente.

Quando terminou seu ritual matinal, saiu do banheiro e foi para o quarto onde deveria dormir sozinha, mas usava apenas para guardar suas coisas e alguns raros momentos de luto em paz.

Gostava de estar com Camila. As duas dividiam o aluguel de uma casa simples no P'Norte que ela ajudava com a pensão de morte do marido, que era bombeiro. Camila havia convencido ela de que usar o dinheiro que tinha direito era o mínimo.

As duas se arrumaram e saíram de casa indo até o cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, onde caminharam pelos campos verdes cheios de túmulos carregando flores azuis que compraram na entrada.

E ali estava.

Camila se recusou a deixar que enterrassem o menino junto ao pai, o que apesar de ter feito com que ficasse um tanto mal com a família de Lauren e de Paulo, havia sido apoiada após verem o absurdo que a ideia era.

Lauren agradeceria eternamente pelo que fez. A representou em seu funeral como se sofresse a morte do próprio filho enquanto ela mesma não podia e não tinha a menor noção de que ele havia partido.

Uma facada em seu peito pequeno havia sido o suficiente para tirá-lo do mundo.

Lauren saiu do hospital diretamente para lá, para ver seu túmulo com os próprios olhos e sentir sua perda, deitando-se e chorando por horas a fio em companhia da amiga.

E ali estavam elas novamente.

O túmulo de Carlos Eduardo era apenas uma pedra brilhante e branca, com uma pequena cruz dourada e a foto do menino e os dizeres: veio como luz, foi luz, se transformou em pura luz e sempre será luz para nos iluminar e a todo o mundo.

Lauren olhou para a foto do filho. Seu sorriso largo congelado para sempre e seus olhos castanhos quase fechados. Ele era bochechudo igual a mãe, tinha os mesmos lábios, nariz e dentinhos de coelho. Talvez a maior semelhança com o pai fosse o encaracolado dos cabelos castanhos e Lauren agradecia imensamente a isso, porque hoje já não sabia como havia acabado se casando com ele.

— Cadu... — suspirou Lauren — meu cadinho de doce, cadinho de céu, cadinho de vida... Você é a coisa mais brilhante e adorável que poderia surgir de mim e eu sinto tanto...

Ela soluçou e Camila apertou uma mão em seu ombro como apoio, vendo Lauren depositar as flores sobre o túmulo onde estavam ajoelhadas e tirar algo do bolso que ela não sabia o que era até que desdobrasse e começasse a ler:

"Um dia você me perguntou por que o céu era azul e tudo o que pude fazer foi sorrir e te dizer que eu também me perguntei isso quando tinha sua idade.

Eu segui uma série de perguntas quando era o bebê de minha mãe e ansiava para que fizesse suas milhares de perguntas e chegasse aos terríveis três anos.

Você nunca chegou lá, mas mesmo assim achei que devia a você uma resposta.

Algumas pessoas nada sábias diriam que o céu é azul porque, quando os raios de luz do Sol entram na atmosfera, acontece uma coisa chamada de espalhamento, que destaca a luz de cor azul que pinta o céu. Mas não é verdade.

O céu é azul porque é sua cor favorita e juro a você que se gostasse de verde eu o coloriria dessa cor com um de seus giz de cera, assim como coloríamos os dinossauros e carrinhos, além de todas as bizarras pessoas de palitinhos azuis.

O céu é azul para que o mundo aprecie seus gostos, porque o mundo não é bom e era preciso que os anjos pintassem a felicidade de um dos seres mais puros que já habitaram a Terra.

O céu é azul para que nos lave a alma como uma boa chuva seca e quente e porque precisamos nos aquecer tanto quanto apreciar a pureza dos seus sonhos mais encantadores e infantis.

O céu é azul para que seja pintado com doces nuvens de algodão doce, apenas porque você quer assim, mas eu confesso que se me dissesse que o céu é apenas o grande olho de um dinossauro observando nós humanos como se fôssemos insetos, eu te diria que sim, porque você tem toda razão e o mundo é tudo aquilo que você deseja.

Mas sou infeliz hoje em dizer que o céu ainda é azul, porque apesar de tudo estar tão frio e cinza, o céu insiste em me lembrar de você e de como eu estava profundamente orgulhosa de que era capaz de fazer questionamentos aparentemente bobos e criar suas teorias, mas que eu nunca fui capaz de te responder e te fazer crescer mais um pouco e se falhei com você, foi porque eu estava tão deslumbrada e orgulhosa que fui pintada pelo seu azul, apenas porque você queria.

Posso dizer que te amo e sempre vou amar, assim como o céu é azul por você e sempre vai ser. Você não é uma estrela no céu, não é apenas o anjo mais bonito, você é todo o meu universo e eu só posso te dizer que o céu é azul porque eu te amo como o seu infinito colorido."

Lauren se calou ao fim da leitura, dobrando o papel e o colocando embaixo das flores que levaram. Se inclinou, o pranto a rompendo mais uma vez enquanto a dor cortante a matava pouquinho a pouquinho.

Camila deslizou as mãos por suas costas tentando conter as próprias lágrimas para ser forte pela amiga.

Se lembrou com seu texto de todas as perguntas que fizeram ao longo dos anos e pensou que talvez elas também precisassem de respostas.

Talvez assim voltassem a se sentir inteiras.

Era o que faria. Buscaria respostas para curar as duas.

---------------------------.

E então?

Como estamos?

O que acharam?

Comentem! Votem! Compartilhem!

Essa história é única de diversas maneiras.

Volto assim que me der por satisfeita com as respostas.

Espero que estejam gostando, e estejam curiosos.

Até logo.

Abraços.

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