A Ordem Da Lua

By JoiceCruz15

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Crystal Halle é uma adolescente aparentemente normal. Crescendo em uma família adotiva vivencia problemas típ... More

1- Devaneios
2- Minha Vida Extraordinária Sem Nada De Extraordinário
3- Escola, Doce Escola!
4- Fantasmas do passado
5- Colegas de almoço
6- Abram as cortinas do teatro
7- Turbulência
8- Gota D'água
9- Fugitiva
10- Contos De Terror
11- Um Gnomo Fora Do Jardim
12 - Entre Contos E Realidade
13- Pó De Fada
14- Sonho
15- Sementes Élficas
16- Lembrança
17- Vazios
18- Guardiões Da Lua
19- Respostas
20- O Sugador De Almas
21- Rose
22- Voltando Para Casa
23- Um pingo no i
24- Preparativos
25- Viagem
26- Fechem O Livro! A Ficção Está Saltando Para Fora Dele
27- Expresso Hogwarts?
28- Peter Verlac
29- Família
30- Nova Vida
31- A Espera
32- Mestre Garret
33- Os Mestres
34- Novos Conceitos
35- Monstros na curva
36- Embate
37- Teste Místico
38- Os Melhores Perdedores
39- Seleção
40- Armas ao Alto!
41- Progresso
42- A Angústia de Natasha
43- Que Comecem As Provas!
44- Pontos
45- Táticas
46- Massacre
48- Revanche
49- Troco
50- O Encapuzado
51- Provocações
52- O Baile
53- O Ataque
54- A Missão
55- A Cidadela
56- Desabamento
57- O Sangue da feiticeira
58- Nuances
59- Amigos criminosos
60- Nosso Colega Morto
61- Como Um Dia No SPA
62- Ladrões De Armamento
63- As Defesas De Uma Fortaleza
64- Juventude versus experiência
65- Alianças
66- Confiança
67- Lealdade
68- Caminhos
69- Primeiro Passo
70- Transfiguração
71- Vigília
72- Julgamento
73- Uma Lua Azul
74- Velhos amigos
75- GAIOLA
76- Marionete
77- Enjaulado
78- Calmaria
79- Laços Paternos
80- O Fim Das Férias
81- Lar
82- Epílogo:

47- Sherlock Holmes

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By JoiceCruz15

Crystal

Estávamos no nosso chalé, já era pelo menos 1 hora da manhã, e ninguém havia dormido ainda, continuávamos todos chocados com a postura dos mestres da ordem. Será que na mente deles eles estavam tomando atitudes aceitáveis?

_Cara, eu estou com vontade de matar alguém _Natasha falava para o Peter furiosa.

_Que não seja eu, assim espero! _ele falou arqueando as sobrancelhas.

_Que tipo de mestres são aqueles, em todos os meus anos treinando na cidade dos guardiões tive várias conversas com você Peter, e você nunca me contou que os mestres do acampamento eram um bando de fanfarrões nojentos e....

_Calma Nat, alguém pode ouvir _Peter disse preocupado

_A Natasha tem razão _era a vez de Tyler _Os mestres são incoerentes, tomam atitudes idiotas, e tem um discurso doente.

Peter abriu a boca _Mas...

Eu interrompi meu primo _Peter, eles têm razão, como podem não punir o Kirk depois dele ter quase matado a Maya? Como eles podem ter lançado um encantamento que não poderiam controlar? Por que a regra que a declaração verbal não era suficiente para desistir de uma luta?

O silêncio nesse momento se projetou sobre nós, como um fantasma espreitando, buscando uma forma para quebrar as barreiras da nossa sanidade, e simplesmente destruir aquilo que outrora chamávamos de lucidez.

_Eu na verdade também achei estranho a parte do encantamento _Peter falava inquieto _esse encantamento não era assim, sempre ouvi as pessoas falando que Lady Sophie podia o quebrar. Caramba, até mesmo a uns anos atrás aconteceu dela precisar o quebrar, em uma luta dois participantes se machucaram, e eles quebraram a barreira e entraram para intervir. _ele aparentava estar confuso _não entendo essas novas regras, nem o descuido de Sophie em lançar o encantamento e não saber o quebrar depois mas, sei lá!

Peter não era o único a não conseguir responder minhas constantes e repetitivas indagações sobre o assunto. Ninguém parecia capaz de responder suas próprias perguntas internas, quem dirá levar luz aos pensamentos tumultuosos dos outros. Caios, Clara, e até mesmo Dalla, que ainda não era uma pessoa a quem tivesse convicção em apontar como aliada, permaneceram aqui até quase meia noite. Passamos de maldições bravas, até chegar em um progressivo silêncio consternado, eles por fim foram embora para seu próprio chalé, para talvez continuar sua conversa entre eles, ou quem sabe afogar a raiva no conforto dos seus travesseiros.

_Sei lá? Pois eu sei do que se trata. _Tyler me assustou com sua voz potente _eles são obsoletos, e, além disso, negligentes. Não estão interessados de nos treinar ou servir a ordem, querem apenas fazer a manutenção do seu próprio poder e prestígio.

_É, mas o que podemos fazer? _Peter falou grave _somos iniciados do primeiro ano, temos um longo caminho para percorrer até que a nossa opinião valha mais que um cobre furado.

_Precisamos achar um jeito, isso é injusto demais _Natasha andava de um lado para o outro.

Peter a olhou em meio a um revirar de olhos irritado.

_E o que quer que façamos?

_Você é o letrado sua anta! É você que precisa nos dizer! _ela vociferou de volta.

_Ah Natasha, então devemos abrir um processo na cidadela contra os mestres! _ele respondeu com desdém. _séria épico! Quatro iniciados contra os 3 mestres líder das castas em treinamento do acampamento!

Peter parecia ter sua calma e amabilidade, antes constante, abalada pelo contato diário e extenso com Natasha. Eu amava Natasha, mas tenho que dizer, as vezes ela sabia como irritar alguém.

_Pegue seu sarcasmo e enfie...

_Nat! Para! Brigar entre nós não vai resolver nosso problema. _falei conciliadora.

Tyler estava sentado encarando o chão com um semblante pensativo, Natasha andava de um lado para o outro passando as mãos no cabelo nervosa, e Peter se recostou na janela irritado. Ficamos assim por pelo mens uns 10 minutos.

_Gente! _Peter sibilou baixinho, com um tom perscrutador, mas Natasha não pareceu ter essa impressão a respeito do tom de voz do meu primo.

_O que foi Peter? Agora vai dar um de superior e me pedir desculpas? pode pegar suas desculpas...

_Cala a boca Natasha! _ele falou sussurrante, Natasha andou em sua direção irritada, pronta para se atirar contra ele certamente! _Tem uma coisa que vocês precisam ver, venham!

Natasha diminuiu os passos com as palavras de Peter, depois esticou o corpo em direção à janela, e eu e o Tyler fomos também até ele, curiosos.

A princípio não vi nada, depois de alguns instantes vi um vulto escuro desaparecendo ao longe na floresta.

_Deve ser algum iniciado. _Tyler falou sério.

_Á essa hora? _Peter falou _bobagem. Talvez um mestre ou pessoa importante se esgueirando à essa hora na floresta? _arqueou a sobrancelha pensativo _muito estranho.

_Vamos segui-lo. _Natasha disse.

Ela saiu em direção da porta, mas antes que fosse longe Peter a agarrou.

_Enlouqueceu? Não vamos seguir ninguém, vamos ficar aqui! No nosso lugar, não somos Sherlock Holmes! Vamos apenas focar no que nos diz respeito.

Ela o olhou parecendo ter sido picada pelo seu tom.

_Você que está louco Peter! Temos que ir ver o que está acontecendo, somos guardiões, não baratas! _

_Olha, enquanto vocês brigam perdemos tempo! Vamos logo! _Tyler falou irredutível.

_Guerreiros cabeças quentes! _Peter bufou _Crystal, me ajude botar juízo nesses...

Eu sabia que, da forma como nossa sorte parecia estar virada ao avesso, provavelmente iríamos encontrar com um mestre, eles iriam nos dar um castigo, arrancar os pontos que dificilmente tínhamos, e apenas nos sobraria a dar muxoxos irritados em nosso chalé a despeito de suas decisões injustas. Mas sabe, o bom de estar ferrado é que qualquer coisa que vir é lucro.

_Peter, eles têm razão! _precisávamos ir olhar do que se tratava _Vamos!

Peter jogou as mãos para o alto irritado e nos seguiu, mas, conhecendo meu primo eu sabia que ele também deveria estar louco de curiosidade, só estava tentando bancar o sensato.

Saímos pela porta dos fundos, para não dar bandeira.

A madrugada estava fria, o que parecia ser uma regra aqui, mas não fria quanto estava em meus primeiros dias no acampamento. Reinava um escuro completo agora que estávamos embrenhados na floresta, longe da acolhedora luz mágica das ruas do acampamento. A lua estava escondida por nuvens, ou talvez fosse apenas lua nova, nunca fui boa em apontar as fases da lua de qualquer maneira. Nós andávamos rápido na direção que a figura escura estava indo, ou melhor, a direção que Natasha e Tyler iam, eles conseguiam nos guiar no meio da escuridão. Eu me segurava na barra do agasalho do Tyler, e o Peter parecia conseguir andar com Natasha sem precisar se agarrar nela. Mas mantínhamos a calma e a cautela, não queríamos trombar com nosso caro perseguido.

_Aonde ele foi? _Natasha sussurrou, parecíamos meio perdidos agora. Mas ninguém quis opinar, apenas continuamos caminhando, todos perscrutando ao nosso redor, tentando vislumbrar algo que pudesse nos botar no rastro da figura desconhecida novamente.

A noite cheirava pinho, mesmo com a ainda presente faixa de neve sobre as árvores, era como se a floresta aqui também tivesse uma marca mágica, permanecendo altiva e sombria, na noite fria e densa. Devia ter o que? 15 minutos que estávamos andando pela floresta? Parecia mais! Meus dedos estavam duros pelo frio, e sem dúvida não ter pegado um casaco mais grosso ao sair não havia sido uma boa ideia.

Estávamos já diminuindo o passo, nossas respirações pesadas por sobre os uivos do vento, estava começando a ponderar se talvez voltar não era o melhor a fazer, pelo menos conservaríamos nossos dedos presos as nossas mãos. Um lampejo de luz um pouco ao longe nos fez frear, e depois com igual impulso nos colocou a andar rapidamente em direção ao sinal que nos punha no jogo novamente.

Depois de alguns minutos em meio a um passo acelerado, combinado com uma necessidade de ser silenciosos, paramos a alguns metros de uma cena que compensou nossa caminhada ferrenha.

A nossa frente havia uma densa fogueira, mas não uma fogueira que parecia ser normal. A luz que era expelida da fogueira tinha uma estranha tonalidade de verde flamejante. Labaredas fortes e densas rodopiavam até muito alto, fazendo espirais anormais no ar. E à sua frente se encontrava nosso alvo, de pé, olhando como se estivesse hipnotizado para as chamas serpenteantes.

_Que porra é essa? _Natasha sussurrou de forma quase inaudível, ao mesmo tempo que Tyler nos puxava para trás de uma cadeia de imensas sequoias, nos fazendo nos esconder atrás dos seus troncos firmes.

A luz da fogueira sobrenatural produzia um forte clarão na floresta, conseguíamos facilmente ver a cara uns dos outros. Todos nós parecíamos ter a expressão congelada em uma permanente carranca, um misto de confusão, encantamento e um pouco de raiva, pois algo de muito errado estava acontecendo ali. Todos olhamos para Peter com expressões confusas.

_Nem venham me perguntar o que ele está fazendo! _falou meio decepcionado, assumir que não sabia algo deveria ser frustrante para um letrado.

_O letrado aqui é você! _Natasha sibilou baixinho _Você não deveria saber dessas coisas cabeça oca?

_Teoricamente isso está mais na alçada das místicas! _Peter falou corando, e jogando a responsabilidade para mim. Todos voltaram os olhares para mim.

_Um ritual?

_Não me diga! _Tyler respondeu com sarcasmo _Isso sabemos, ritual de que?

_Vai perguntar pra ele! _falei mau criada, mesmo com o tom baixo da voz demonstrando minha irritação. Com isso todos voltamos nossa atenção somente para o encapuzado estranho.

A fogueira permaneceu com suas chamas ziguezagueando pelo ar, como se dessem lambidas no frio da noite e o tragasse, até mesmo onde estávamos a temperatura começou a subir progressivamente. Depois de alguns segundos a fogueira parou, e como se estivesse sendo moldada por mãos de artesãos ela tomou um formato oval, como se fosse um espelho de luz verde. E para nossa total consternação uma voz arrastada e gorgolejante pareceu sair daquela coisa.

_As coisas saíram conforme o planejado?

A figura encapuzada pareceu se encolher levemente, como se estivesse com medo de responder aquela pergunta.

_Tive problemas mestre _o ritmo que as palavras eram ditas não me pareciam estranhas, mas ao mesmo tempo não conseguia me lembrar de já ter ouvido aquela voz, de timbre cavernoso e potente. _Eu não sei como, mas a barreira caiu antes que a menina fosse morta.

Um espesso suspiro de impaciência saiu de dentro do espelho, o descontentamento daquela coisa parecia algo palpável na energia a nossa volta.

_Como assim? _A voz do espelho grasnou.

_A menina, mestre. _o encapuzado suspirou pesado _a menina Sullivan, só pode ter sido ela!

Minha garganta secou, eles estavam falando sobre mim? Meus amigos me olharam com caras interrogativas, eu só dei de ombros, como respondendo que não sabia do que eles falavam. Uma sonora gargalhada se projetou de dentro do espelho.

_Você quer que eu acredite que uma fedelha vinda do mundo humano quebrou um encantamento complexo feito por Lady Sophie?

_Ela é filha de Ágata...

_Não quero ouvir desculpas! _o espelho o interrompeu rude.

_Talvez pudéssemos trocar as mortes, ao invés da menina Pontes poderíamos matar a garota Sullivan, talvez....

O que? Me matar? O que aquilo significava? O mundo parecia girar ao meu redor de forma lenta. A mão do Tyler escorregou para a minha, a apertando, como que para se certificar que eu estava lá, elas pareciam tremer, mas quando o olhei ele parecia com a mesma calma de antes, e mesmo em meio aquele turbilhão de emoções desconexas ainda pude sentir minhas bochechas arderem com o contato da pele dele com a minha.

_Talvez eu tenha o superestimado! Isso não nos serve mais idiota _O espelho vociferou _isso teria certamente um efeito, mas não o que precisamos no momento. O Incidente com a menina Pontes não se concluiu, mas a família Pontes provavelmente vai ficar indisposta com a ação dos Mestres das castas em treinamento. _O espelho parecia ponderar _se matarmos a menina Sullivan teremos toda sua família em ira, e além dela os Verlac, que possuem ligação parental com os Sullivan, podendo arrastar os Montreal e outras famílias que mantém boas relações com os Sullivan e Pontes para isso. Famílias poderosas com tamanha raiva podem significar não o que queremos, mas uma intervenção militar direta no acampamento, que tiraria nossas chances de concluir o plano que pretendemos.

_Mas se fosse visto como acidente... talvez eliminar aqueles dois fedelhos da prova não tenha sido boa ideia, com duas lutas ainda poderia articular melhor um plano... ainda há naturalmente o Montreal, mas isso não vai ser tão útil no caso dele, uma perda na família Montreal acarretaria uma crise da proporção dos Sullivan... então talvez ressuscitando a menina Salvatore na prova poderíamos obter êxito, a morte dela provocaria desconfiança na atual liderança das castas, _O encapuzado sibilava mais como se estivesse falando com ele mesmo do que como se falasse com o espelho. Mas o que me chamou atenção é que Natasha não parecia nada atormentada com um atentado a ela, diferentemente da minha reação de palidez assustada_ a família Salvatore não tem tanto poder poderia ser um inconveniente do tamanho certo, pois a família Pontes poderia apoiar a Salvatore... a confusão não seria tão grande, mas do tamanho ideal para nós...

_Cale-se _a voz no espelho parecia impaciente e irritada _Esse plano de matar um estudante não está mais em questão! Não podemos nos arriscar a falhar, procure uma opção melhor... saiba que irá pagar caro pelo seu fracasso!

Até eu me arrepiei com aquela voz pulsante vinda do espelho, e a figura escura também, pois se encolheu como se houvesse tomado um tapa. Eu sabia que algo na ordem estava errada, mas não tanto assim! O que tudo aquilo significava? Meus amigos apenas observavam tudo compenetrados e sérios.

_Quanto aos vazios, pode continuar com isso. Gerar coisas a se pensar na cidadela pode ser benéfico para nossos planos.

_Como quiser Mestre. _O encapuzado se curvou de forma respeitosa.

Sem dizer adeus o espelho começou a ficar disforme, virando outra vez uma fogueira rodopiante, até ir se extinguindo aos poucos, restando apenas escuridão na floresta.

A figura encapuzada começou a se movimentar, agora não havia mais luz, eu apenas conseguia ouvir seus passos duros entre a neve e gravetos no chão da floresta. Ficamos parados, sem respirar por algum tempo. Depois começamos nos movimentar o mais silenciosamente, para seguir o homem, mas não podíamos nos aproximar muito, então por fim perdemos o rastro dele. Ou melhor dizendo, o Tyler e a Natasha perderam o seu rastro, não conseguia entender como eles podiam seguir alguém nesse escuro, eu e o Peter apenas os acompanhávamos na mesma dinâmica de antes, só que agora o Tyler segurava minha mão firme.

Disse que Natasha e Tyler eram bons perseguidores, mas mesmo assim o escuro total, e a nossa necessidade de andar mais lentamente para não produzir barulho, somado aos galhos e raízes que precisávamos nos desviar, acabaram os fazendo perder o rastro do encapuzado. Por fim voltamos para nosso chalé.

A noite estava mais fria agora, ou talvez fosse as coisas que ouvimos na floresta gelando minha alma. Uma fina nevasca batia contra a janela, e o vento chicoteava a porta de maneira feroz. Eu pensei, ainda bem que não estamos mais naquela floresta, ou estaríamos em uma situação um pouco mais desagradável em nossa caminhada de espionagem.

Já havíamos conversado bastante sobre o que havíamos ouvido na floresta. Era consenso de que o Kirk não havia ferido a Maya apenas por vontade própria. Alguém o instruiu a fazer aquilo, ou algo do tipo.

Depois de um tempo de conversa todos parecíamos termos engolido as línguas, pois permanecíamos mudos, ou talvez somente estávamos buscando raciocinar sobre as coisas que ouvimos. Mas Natasha, finalmente quebrou nosso silêncio.

_Algum de vocês conheceu aquele homem? _eu e o Tyler não éramos os mais indicados para reconhecer ninguém, pois havia poucas pessoas da ordem que já tínhamos tido contato, mas mesmo assim sinalizamos que não assim como o Peter.

_Talvez para descobrir quem ele é, primeiro tenhamos que descobrir o que ele pretende. _Peter falou.

Bem, parecia um consenso entre a gente que coisa boa não era, mas ainda não sabíamos a proporção do quanto aquilo era ruim.

_seja o que for, eles precisam causar uma certa comoção no acampamento, para assim botarem o plano em ação. _ele me olhou sério _e ele também não gosta da Crystal.

Eu falei séria _Não gosta de ninguém na verdade, ou vocês se esqueceram que o alvo inicial era a Maya, e depois ele até sugestionou matar a Nat? _eles não precisavam jogar isso para cima de mim, como se eu estivesse de alguma forma no centro desse furacão.

_Mas você era a segunda opção, e ele não falou de você com muito afeto. _nem dela, o que a Natasha queria afinal? _e sobre a barreira, foi você quem a quebrou?

_Claro que não! Nem sei como poderia fazer algo assim! _reclamei.

O que eles achavam que eu era? Uma Harry Potter? Caramba, eu não podia fazer aquele tipo de coisa!

_Na verdade acho que você pode ter algo a ver com aquilo _Tyler falou pensativo, chamando a atenção de Nat e de Peter _Você ficou chamando o encanto de idiota, e ele começou a falhar.

Ele estava de brincadeira?

_Eu também vivo te chamando de idiota, e nunca aconteceu nada com você _falei ao mesmo tempo que me jogava no sofá, e me encolhia em seu assento buscando mais um pouco de calor. Mas Tyler não pareceu se aborrecer com meu tom.

_Ela ficou fria, e depois que a barreira se quebrou ela parecia verde a ponto de desmaiar. _Tyler falava sem olhar para mim, como se os únicos espectadores para suas palavras fossem Natasha e Peter. Natasha deu de ombros dizendo:

_Bem, pode ser! Eu já vi ela fazer coisas bem estranhas mesmo!

_Bem, eu acho que até um cego já viu que a Crystal não é uma mística comum, ela parece ter algo mais forte. _Peter ponderou.

_Como a mãe? _Tyler perguntou.

_Não, como uma feiticeira mesmo! _Peter arqueou as sobrancelhas.

_Bem, vocês já podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui.

Caramba, podiam parar com aquilo, é um porre ficar pensando que uma hora ou outra um maníaco poderia decidir que você, ou algum dos seus amigos, devia morrer para que um plano idiota dele pudesse acontecer. Não precisava deles me fazendo pensar sobre as coisas esquisitas que estavam acontecendo comigo também.

_Eu acho que aquele cara é um dos mestres de castas. _Peter falou. _Quando ele citou a eliminação do Caios e da Nat ele falou como se ele houvesse participado da tomada de decisões. _Bem, isso o Peter tinha razão, a forma com que ele falava dava a impressão de que ele era uma pessoa bem por dentro das coisas que ocorriam no acampamento.

_Ou quem sabe todos os mestres? _Tyler falou seco, estava recostado na parede, braços cruzados sobre o peito sarado, e com um olhar concentrado, o que me fez desviar o olhar, para talvez respirar um pouco mais do ar frio, e solucionar meus problemas repentinos de taquicardia diante de meninos gatos _Não estranharia, afinal a decisão partiu de todos eles, e quando a Crystal estava quase se matando na porcaria da parede de som, a Lady Sophie não se demonstrou especialmente inclinada a ajudar. Na suma são todos suspeitos.

_Anran, e o que a gente deve fazer, para quem devemos denunciar eles? _resolvi conversar um pouco, para retomar minha atenção ao nosso problema.

_Poderiam relatar isso para a avó de vocês _Natasha estava empoleirada em cima de uma pequena mesa da sala. _ela tem bastante influencia, poderia ajudar, ou sei lá, fazer a ordem ficar alerta!

É, a Jane parecia mesmo ser o tipo de pessoa que sabia fazer as pessoas a ouvirem... e terem medo dela certamente, pelo menos eu tinha bastante, e bem, ainda tenho um pouco de cisma... mas o ponto é que alguém precisava saber o que ouvimos na floresta, não precisava ser nenhum Einstein para saber que a ordem corria grandes riscos. Então me parecia ser uma boa ideia avisa-la disso. Talvez devêssemos avisar mais pessoas também, o Pai do Peter por exemplo, tio Henri parecia ser alguém que poderíamos contar... e a mãe monstro do Tyler deveria também acreditar se ele o contasse ter ouvido aquelas coisas... ou não. Apoio dos adultos nunca me pareceu tão convidativo.

_Ela está viajando, e mandar uma mensagem para ela não me parece ser muito prudente _O lugar era o refúgio de poderes sobrenaturais, mas as mensagens eram enviadas por mensageiros, que eram tipo carteiros, você entregava suas mensagens em um ponto de apoio dos guardiões, e os mensageiros levavam cartas de um lado para outro... bem os mensageiros eram élficos, que transitavam de um mundo para outro muiiito rápido... mas mesmo assim me parecia meio atrasado, as pessoas ali nunca haviam ouvido falar de celular? _não sabemos quem está por trás daquilo, nem quantas pessoas, mostrar que sabemos demais pode ser imprudente para nós _Peter jogou um balde de água fria em tudo, pensei que finalmente iria ver um ser élfico.

_Seus pais? _Nat olhou para nós inquiridora _Algum deles está na cidade dos guardiões? Poderiam apenas escrever uma mensagem para eles dizendo que queriam vê-los, podiam justificar sendo para fins emocionais, eu sei lá. _ela gesticulava amplamente enquanto falava.

_Meu pai está em missão, sei lá onde! _Peter disse.

_Pelo que sei meu pai também está em missão _Tyler deu de ombros _e minha mãe está no mundo humano ou em outra parte _deu de ombros _não que ela fosse nos dar muito apoio, ela é bastante...

_chata! É, a gente já sabe _Natasha o dispensou com um menear de mãos.

_Eu iria dizer difícil _Tyler arqueou as sobrancelhas.

_Que seja! _ela não parecia muito impressionada com a irritação do Tyler, devia saber que era fingida, pois até o Tyler sabia que a mãe dele era meio chata. Natasha me olhou, como se esperasse uma resposta de mim também.

_Eu nem conheço ele! _como eu mandaria uma cartinha para meu pai pedindo para vê-lo? Se ele quisesse me conhecer já estaria aqui! Preferia comer areia a fazer isso. Natasha pareceu prestes a abrir a boca para argumentar _sem chances Natasha!

_Então o que vamos fazer gênios? _bufou.

_Por enquanto vamos observar _Peter falou _e ver se percebemos mais alguma coisa estranha por aqui.

_Então somos um grupo de Sherlock Holmes de agora em diante? _falei sorrindo.

_Pode apostar que sim! _ele sorriu.

***

Os dias de recesso que os mestres haviam determinado para o reinício das provas haviam passado, e mais uma vez estávamos ali na arena, esperando para realizar os testes. O dia estava inesperadamente mais quente que os anteriores, era um dia claro, e o uniforme de mangas compridas revestido de couro conseguia nos manter mais aquecidos do que havia conseguido nos dias anteriores de provas e treinamentos.

Os mestres estavam no palanque da arena, que era destinado as autoridades presentes nos dias de prova, e para minha surpresa Selena estava lá, com uma cara fechada, semblante nada simpático. Ela não deveria ter ficado satisfeita pelo resultado de sua filha na prova, e nem deveria. Soube por Peter que Maya havia recebido alta apenas hoje, e ela tinha chegado a poucos minutos na arena. Eu ainda não havia falado com ela, ela ainda estava do outro lado da arena, recebendo cumprimentos dos amigos que haviam tido acesso à ela primeiro. Mas mesmo à distância podia ver que ela estava mais pálida do que o normal, o que era compreensível, as pedras da lua eram curativas, e suas fraturas já não existiam mais, mas ela deveria estar cansada, ser exposta a semelhante poder te deixava esgotada. Até mesmo eu, que tenho sangue místico, me senti bastante fraca depois de ter uma pedra usada para me curar.

Selena deveria estar extremamente ressentida pela atitude dos mestres, isso era perceptível. Mas isso não parecia afetar os metres de castas. Charlie permanecia com seu semblante calmo e moderado, observando todo o movimento dos alunos de forma cálida. Garret com sua impenetrável carranca. E Lady Sophie com seu jeito meigo, e elegante, parecendo uma donzela saída de algum filme mudo.

Isso me dava arrepios, pois esses mestres, que teoricamente deveriam nos resguardar e proteger poderiam estar tentando fazer o contrário. O porquê não sabíamos, o que me deixava ainda mais nervosa.

Maya estava andando em nossa direção, acompanhada de sua equipe, que a olhavam com semblantes aliviados.

_Oi, quanto tempo! _o seu tom foi bem alegre, mas parecia bastante cansada.

_Nem tanto tempo assim, eu e a Nat te visitamos ontem. _Peter falou sorridente.

_Sim, devem ter ficado totalmente preocupados comigo, _a sua voz estava agora não alegre, mas com uma presunção ensaiada _mas não os culpo, o que seria de vocês sem mim?

Natasha sorriu debochada _Na realidade estava tentando adivinhar quantos dias ainda você ia durar, caramba, estava de olho na sua coleção de adagas de arremesso! _fez um muxoxo ressentido _Por que você ainda está viva? _gracejou. Maya deu um soco brincalhão no ombro de Natasha, e elas riram e se ofenderam, como as amigas que eram.

Kirk, Meandre, Tereza e Dalton estavam a alguns metros de onde estávamos. Meandre estava usando as roupas de treino, cota de malha e camisa de manga comprida, mas o cabelo estava arrumado no alto de sua cabeça artisticamente, como se ela tivesse ido a um salão chic antes de vir para o dia de provas.

Tereza por sua vez fazia um contraste com a amiga, pois nela não havia nada da beleza arrogante de Meandre. Seu cabelo ralo estava preso em tranças coladas à cabeça, mas estavam com uma aparência engordurada, como se não fossem lavados a dias. Seus ombros largos não possuíam muita feminilidade, não pelo seu tamanho, mas pela forma com que ela se movia, com aspereza e rigidez. Sua boca se contorcendo enquanto falava com Meandre, não precisa ouvir para saber que certamente estavam debochando ou tramando algo contra alguém.

Dalton apenas estava observando a sua volta, como se quisesse tomar nota de tudo que acontecia ali. Kirk por sua vez estava com uma cara debochada... mas não maldosa, olhando em volta, vendo os olhares calculados que muitos o davam. Alguns com raiva pelo seu comportamento na última prova. Outros apenas estavam receosos, o avaliando como alguém perigoso.

Kirk virou o olhar na minha direção, me pegando olhando. Ele parecia confuso, nada como ele pareceu quando estava prometendo ferir a Maya, ou quando estava de fato ferindo. Assim que ele percebeu que eu o observava um sorriso de deboche escorregou em seus lábios, e ele piscou para mim. Desviei o olhar, com todo o constrangimento de ser pega espionando alguém.

Com a mente de volta ao lugar onde estava voltei a prestar atenção ao que meus amigos falavam. E para minha surpresa Caios estava com uma mão no ombro do Tyler, conversando com ele em um tom amigável. Ele estava reforçando algo que Natasha veio falando para Tyler nos últimos dias.

_O que nos resta a fazer é te pedir Montreal, está em suas mãos colocar aquele verme desprezível no seu lugar, ele tem que pagar pelo que fez com Maya. _Caios estava extremamente calmo, mas a frieza em suas palavras demonstrava a sua raiva contida, pelo que Kirk havia feito a sua amiga.

_Caios tem razão. _Natasha olhava em direção onde Kirk estava, olhos vidrados de raiva, mas apesar disso nem ela, e nem Caios haviam feito algo idiota, como ir atacar o Kirk. _Tyler você precisa acabar com ele. Faça-o pagar.

_Eu não espero fazer menos _Tyler falou sorrindo frio. Ele parecia tão... perigoso quando tinha essa aparência séria em seu rosto. Parecia realmente ser um guerreiro, alguém a que você deveria temer, não o estudante do colegial que foi meu colega por tantos meses.

O que havia acontecido com Maya havia sido chocante para mim. Ainda me pegava pensando como aquele lugar podia ser brutal, como aqueles mestres haviam deixado... e talvez planejado, a quase morte de Maya. Quase morte por que pela expressão pétrea que Kirk estava naquele dia eu não duvido que ele a mataria... o que me faz ter arrepios só de pensar. Mas mesmo diante de tudo isso, eu não via a luta do Tyler como um momento para dar o troco! Caramba, se considerávamos aquilo tão brutal, como poderíamos querer reproduzir aquilo?

Mestre Garret chamou os guerreiros ao tatame, e depois dos votos de boa luta da nossa equipe e da equipe de Maya, Tyler se preparou para ir em direção à zona de provas. Antes que ele fosse dei um abraço de boa sorte nele, e bem baixinho falei para ele o que eu pensava.

_Tyler, você só deve vencer a luta, não precisa tentar ferir o Kirk indistintamente, isso não vai mudar o que aconteceu com a Maya. _ele me olhou confuso.

_Crys... ele merece uma lição.

Seus olhos jade brilhavam, e estavam calmos apesar de estar prestes a entrar em uma prova de luta. Sua pele estava mais clara do que esteve meses atrás na escola. O clima frio do acampamento já havia acabado com todo seu bronzeado do sol do Texas. Mas mesmo sem seu suave bronze ele parecia nunca ter estado tão lindo.

_Você não é igual a ele... não tem que entrar no jogo imposto por ele. _ele sorriu.

_Não estou entrando em jogo algum. _deu de ombros à medida que se virava e subia no tatame para a final da prova dos guerreiros.

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"Depois de muito relutar, de muito brigar e de muito desdenhar, me vejo aqui, completamente entregue à loucura que é amar ele."
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Filha de Anfitrite e Poseidon, criada como uma mera humana adotada por pais ricos. Maya sempre se sentiu diferente, tinha de tudo porém a vida que l...
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Quando recuperei minha consciência, percebi que me encontrava numa novel... Sendo mais específico, em "Abismo", uma obra de fantasia lançada há mais...