Espirrei de novo.
É, parece que eu estou com a merda da gripe. E tudo por quê? Por causa da outra merda da chuva.
Literalmente, está tudo uma grande bosta.
Tirando o fato de que o Daniel acha que nós temos mais alguma coisa além da amizade. Iludido.
- Angell! - resmungou pela quinta vez antes de rebolar na cama e sair correndo até o banheiro, ele iria vomitar. E sim, o Dani também está com gripe.
Aquelas batatas deveriam estar estragadas, não é possível!
Preguiçosamente, estiquei o meu braço até o criado mudo para pegar mais um lencinho e assoprar o nariz.
A Alyce não está ajudando em nada também, até parece uma criança de verdade. Ou um demônio.
Berra que nem uma cabra parindo, faz uma espécie de coco e faz xixi em forma de água.
Tive que levantar para ir pegar a praga da boneca e ir fazer as mesmas coisas de sempre.
A nossa - ou a minha - sorte, é que só faltavam mais dois dias para devolver a boneca e se, quisermos tirar a cama de casal e colocar as nossas de novo.
Claro que eu prefiro a MINHA cama, mas dormir com o Daniel não me trás pesadelos, e isso é bom.
Odeio ser indecisa.
Coloquei a boneca no sofá outra vez e bufei.
- Daniel! Anda logo, merda - revirei os olhos batendo na porta do banheiro até encontrá-lo com os olhos quase fechados e com o nariz avermelhado, o que o deixava fofo.
Retirei esses pensamentos da minha cabeça quando a ânsia de vômito veio outra vez.
Fechei a porta do banheiro atrapalhadamente e me ajoelhei de frente ao vaso sanitário, assim tirando o gosto ruim da minha boca e limpando-a com a manga da minha blusa. Dei a descarga quando terminei e lavei a minha boca.
- Precisamos de remédios - Dani afirmou quando eu saí do banheiro. Assenti e me afundei na cama ao lado dele - Sabe... Não me importaria de te beijar outra vez mesmo estando gripado - disse soltando uma pequena gargalhada. Abanei a cabeça em divertimento sem conter um sorriso no rosto.
- Mas eu me importaria, acabei de vomitar. E, além disso, temos aulas amanhã e não quero passar o dia inteiro com a cabeça toda fodida e pedindo ao professor para ir ao banheiro. Vão pensar que estou com diarreia - retorqui e ele gargalhou novamente.
- Não ligo - ele disse. Em um movimento rápido, o Dani pulou para cima de mim, ficando com as pernas em cada lado das minhas e eu no meio.
Meu coração começou a bater mais rápido a cada segundo que ele se aproximava. Acariciou a minha bochecha e em seguida colocou as mãos em cada lado da minha face
- Não vai reagir? Ou nem se quer me bater? - murmurou a milímetros de distância.
Movimentei a minha cabeça lentamente de um lado para o outro e em seguida fechando os olhos podendo sentir o toque dos seus lábios nos meus e a minha pulsação acelerou em fração de segundos.
As borboletas dançavam no meu estômago e a qualquer hora eu poderia desmaiar. Só o toque do seu beijo é o suficiente para minhas pernas ficarem bambas e eu nem sabia como ele conseguia fazer isso justo comigo.
Ele mexia os seus lábios contra os meus, a sua língua invadia todo o espaço da minha boca. Suspirei entre o beijo para não ficar sem fôlego, minhas mãos iam pelas suas costas raspando as minhas unhas levemente e causando arrepios no Dani. Sorri com o efeito e pousei a minha mão direita no seu pescoço e depois em seu cabelo acariciando o mesmo.
O beijo foi interrompido por um espirro, adivinha de quem? Sim, meu.
Obrigada, espirro.
- Saúde - Daniel gargalhou com uma careta, voltando a se deitar na cama, mas antes me dando um selinho. Sorri e torci o nariz.
Como ele consegue ter a droga desse efeito em mim?
//
- Temos que ir à enfermaria, Angell - Daniel revirou os olhos. Acabei por desistir da minha vontade e chutar ele. Essa era a minha vontade - Ai.
Não sairia dos meus cobertores quentinhos nem morta, e, além disso, a enfermaria não deve estar aberta porque já são 00h30. Deve ter remédios dentro do banheiro.
Movimentei-me lentamente para não provocar ânsia de vômito outra vez, segui até o banheiro no mesmo ritmo e procurei algum remédio para aliviar um pouco.
Mexi e remexi na gaveta até encontrar um que eu reconhecia. Peguei o copo em cima da pia e engoli a pílula junto com a água. Tirei outra pílula e enchi o copo de novo até levar para o Dani.
Ele engoliu e fez uma careta, ri e me joguei na cama.
- Odeio tomar esses tipos de remédios - revirou os olhos e em seguida olhou para mim.
- A culpa é toda sua. Se não tivesse me parado e beijado no meio da chuva, não estaríamos assim - resmunguei me enfiando mais nos cobertores.
Dani fez o mesmo se aconchegando para mais perto de mim, sorri quando ele pousou a mão no meu cabelo e acariciou o mesmo. Afundei o meu rosto no seu tronco quente e deslizei minhas mãos em suas costas.
Fechei os olhos.
[ d i a s e g u i n t e ]
O sinal tocou indicando que a próxima aula era de dança. Fiz o mesmo trajeto e me sentei ao lado de Louise que se encontrava com uma roupa muito bonita, destacava as curvas do seu corpo e não usava os óculos, realmente ela está muito mais bonita.
Não sou lésbica. Pra deixar claro.
Hm. Sei.
Não sou mesmo, ué.
O professor chegou na sala.
Ugh.
Não consigo o chamar de professor, ele é muito jovem pra ser chamado disso. Professor é coisa de velho. Vou chamar meu pai de professor.
- Muito bem, galera, o primeiro de tudo dessa aula é muito importante. Vocês irão fazer alguns passos de qualquer coisa que quiserem menos Balé, por favor! - o Dylan disse e todos riram - Ok, quem quer ser o primeiro? - foi até uma caixa de som e colocou uma música que eu não desconhecia, mas também não lembrava qual era.
Um garoto de desempenho asiático ergueu o braço e o Dylan mandou-o ir para o centro da sala.
O garoto começou por uns passos simples e depois que a música ficou numa batida mais emocionante, ele fez mais outros passos legais.
Foi chegando a vez de todo mundo até chegar na minha.
Pedi ao Dylan que ele colocasse uma música eletrônica.
Respirei fundo e comecei mexendo os meus pés de acordo com as batidas, girei sem sair do lugar e sem tirar os pés do chão. Movimentei os meus braços de acordo com a melodia da música.
Dança robótica.
Minha cabeça ia e parava como um robô, minhas pernas se movimentavam como pernas de robô. O meu corpo todo se movimentava como um robô.
Acabei de dançar e ouvi aplausos junto com gritos e assobios.
- Uau! - o Dylan disse perto de mim - É... Angell, certo? - assenti e ele sorriu - Você dança muito bem, parabéns - elogiou-me e eu agradeci retribuindo o sorriso e voltando para o meu lugar ao lado de Louise.
//
- Tô com fooooooooome - fiz manha para os meus amigos, que xingaram.
- Não vou pegar sua comida - Dani resmungou e eu revirei os olhos.
Foram ouvidos uns três "nem eu" e todo mundo olhou para o Giovanni que estava mexendo no celular, depois olhou pra todos nós.
- Nananananão, não vou - cruzou os braços e eu serrei os olhos mandando o meu olhar de morte para ele. Giovanni levantou os braços em forma de rendimento - Já volto - sorri.
O Giovanni deve ser gay. Ele tem um jeito muito... gay.
- O Giovanni é gay? - perguntei e em seguida ouvi risada da parte dos meninos. Bufei e voltei a mexer na minha pulseira.
- Não, mas o Daniel é - Lucas disse e eu comecei a rir.
Dani mostrou o dedo do meio para ele e me olhou.
- A Angell sabe que eu não sou gay - deu um sorriso perverso e eu revirei os olhos de novo.
- E como ela sabe disso? - questionou o James com uma sobrancelha erguida.
- Huh... Vivemos no mesmo quarto - respondi como se fosse óbvio. Não queria contar que nos beijamos, de jeito nenhum. Dani sorriu de lado.
- E você já viu o Daniel fazendo aquilo? - O Lucas idiota perguntou de olhos arregalados. Fiz o mesmo e em seguida fazendo uma cara de nojo.
- AI QUE NOJO! PAREM DE FAZER PERGUNTAS NOJENTAS PRA MIM! - gritei que nem uma doida e metade dos olhares estavam postos em mim.
Os meninos não paravam de gargalhar, principalmente o Daniel.
Eles querem ficar sem bolas.
Avistei o Giovanni se aproximando e com uma bandeja na mão. Pousou esta e eu ergui uma sobrancelha em deboche.
Salada.
Ele acha que eu gosto de comer salada.
Os meninos riram mais uma vez e Giovanni ficou confuso.
- Giovanni, a Angell não vai comer isso - Henrique leu meus pensamentos. Concordei totalmente e afastei a bandeja de mim como se fosse uma ameaça.
- Ah, mas ela vai sim. Não tive o trabalho de esperar uma fila imensa e ainda chegar aqui para você não comer! - Giovanni disse.
Que gay.
Revirei os olhos e pequei em uma fatia de tomate para comer.
- Galera, vou contar uma coisa - começou o Giovanni - Todos do colégio já sabem então qualquer hora iriam comentar com vocês... Eu sou gay - terminou e o suco que estava na boca do James criou asas e decidiu voar para a cara do Henrique.
- Arrombado - Henrique xingou, limpando o rosto com um guardanapo.
- Que surpresa - murmurei ironicamente comendo mais outra fatia de tomate.
- Mas e a sua namorada? - perguntou o Dani.
- Emily? Ah, foi por isso que eu terminei com ela. Eu era um viado incubado e agora destranquei as portas do armário pra sair e ser livre. Estava esperando a hora certa pra contar á vocês.
- Temos um amigo gay. Tomem cuidado - Lucas disse e eu ri quando Giovanni atirou uma bolinha de papel nele.
- Sou gay, mas não sinto nem um pouco de atração por nenhum de vocês.
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espero terem gostado amores ♡
~morgan