A noite começou logo, parecíamos os únicos remanescentes de todo aquele grupo de estudantes que vieram no trem.
_Peter, espero que esteja certo quanto a seguir as ordens, eu odiaria ficar aqui nesse frio para mais tarde perceber que todas as suas conjecturas não passavam de reles besteiras. _Caios resmungou.
Os resmungos eram frequentes vindos dele e da Natasha. Peter perecia extremamente calmo e centrado na sua decisão, Tyler apenas ficou escorado casualmente em uma árvore como se lá fora não estivesse fazendo uns dois abaixo de zero. Eu estava apenas feliz, e não, eu não estava louca, é que a cada instante eu notava como naquele lugar as coisas estavam adotando um ar bem mais legal e emocionante do que em toda minha vida. Agora deve estar se perguntando o que de tão emocionante tem em ficar no relento durante um dia de frio excruciante, eu te respondo que se você estivesse no mesmo lugar que estou descobriria que até ficar parado, com fome e passando frio naquele lugar parecia diferente.
Depois que a neve se tornou um fantasma brilhante no chão e a escuridão tomou toda a extensão da nossa visão percebemos uma figura se movendo fantasmagoricamente a nossa direção, conseguíamos ver apenas a sua silhueta pois estava realmente escuro para que pudéssemos ter de fato consciência exata sobre do que se tratava. Tive medo que fosse um vazio, será que tais criaturas poderiam chegar no acampamento? Tyler, Caios e Natasha se aproximaram bastante de nós, eu acho que eles ficaram tão apreensivos quanto a quem era aquela forma quanto eu e Peter. De repente a luz dos archotes/postes de iluminação se acenderam, cobrindo de luz tudo à nossa volta.
Se tratava de um homem elegante, feições hispânicas provavelmente, rosto anguloso e severo. Os olhos eram de uma cor entre o ônix e o ferro, eram duros e sutis. Vestia uma cota de malha negra, calças de couro sem se parecer com um roqueiro fora de moda, ao seu pescoço se prendia uma capa de algum tipo de pelo brilhante e negro, seus cabelos iam até os ombros, eram salpicados de tons grisalhos aqui e ali. O tipo de homem que faria qualquer mulher terminar com um casamento de dez anos sem pestanejar, mas pelo seu olhar duro ele não era o tipo de cara que iria almejar isso, parecia sério demais.
_Saudações. _sua voz era grave e rouca. _Dou as boas-vindas a vós iniciantes da Ordem da Lua. A vós todo trabalho, ao povo toda glória. _nos avaliou. _Duas meninas e três meninos, só?
_Bem, todos ficaram cansados de esperar, seu pequeno atraso encheu o saco de todos. _Tyler disparou.
Natasha, Peter e Caios o olharam como se ele tivesse atirado pedras no papa no meio da missa do galo.
_Tyler Metz Montreal. _disse de má vontade.
_Como você me conhece? _Tyler perguntou.
_É igualzinho ao seu pai. Muita arrogância para um homem só. _ele lançou um olhar frio ao Tyler. _ele não teve um mestre que o ensinasse a expurgar a boca da insolência. Sabe como se extingue a insolência da boca meu rapaz?
_Não. _Tyler não estava assim tão ácido agora.
_Basta se lavar a boca bem lavada. _ele rodava um anel no dedo de forma pensativa. _Mas não com água, com sangue.
Será que só eu achei aquela fala meio agressiva demais?
O homem cravou ainda mais seus olhos duros e frios no meu amigo _Vamos ter uma boa relação professor aluno meu caro?
_Sim Mestre. _Tyler pareceu entender que ali a banda tocava diferente, não estávamos em nossa escola, onde o máximo que os professores podiam fazer era nos deixar alguns minutos de detenção após a aula.
O homem pareceu ficar satisfeito pelo tom do garoto, pois logo prosseguiu com a sua fala de maneira altiva _Sou mestre Garret, serei o mestre de armas de vocês. Em meio a uma batalha saber manejar armas e lutar é obviamente elementar, mas pra que isso seja possível se necessita primeiro de disciplina. _seu tom era meio fanático. _ Disciplina para ouvir seu superior, disciplina para ouvir seus colegas, disciplina para ouvir o seu inimigo e notar seus pontos fracos, disciplina para saber o momento certo a atacar. Pelo que eu soube o grupo de novatos era constituído aproximadamente por cento e cinquenta iniciantes, no entanto mesmo com ordens para permanecer aqui esperando que um mestre os recebesse todos se foram. _ele nos olhou com um misto de satisfação e descaso. _bem, pelo menos há cinco iniciantes que possuem um pouco de disciplina, isso é melhor que nada.
Natasha levantou a mão educada _Mestre, para onde devemos ir agora? _Isso era algo que eu também queria saber, o frio não estava convidativo.
Mestre garret falou sério _Vocês podem ir para o salão sete, ele tem espaço para acomodar todos.
Aquilo não me esclareceu nada _Mestre, não sabemos onde é o salão sete. _Depois de dizer isso refleti, talvez eu não fosse certa para afirmar o que sabíamos ou não, mas depois de olhar para a cara dos meus companheiros percebi que eles também não sabiam.
Nesse momento uma garota passava apressada a alguns metros dali. Mestre Garret a chamou com voz firme. A menina nos olhou assustada, assim que viu Mestre Garret disparou como um raio em nossa direção. Ela tinha corpo de atleta, alta e com postura de princesa, o rosto era coberto por uma espessa camada de sardas, seu cabelo estava preso no alto da cabeça em um coque arrumado, seu rosto miúdo estava vermelho por causa do vento frio que uivava ali fora.
_Sim Senhor, Mestre Garret. _ela disse em um tom solene.
_Como se chama minha cara?
_Ariane Iven, Senhor.
_Iven, leve esses seus companheiros até o salão sete.
Ariane acenou com a cabeça, Mestre Garret se retirou dali sem mais delongas. Ariane se virou para nós.
_Me sigam. _disse por fim.
Nós a seguimos, ela andava de forma decidida. Andamos ao longo de ruas estreitas, pelo que pude notar mais cedo eram calçadas com pedras polidas, mas a neve não deixava que tais pedras fossem vistas, a única coisa a vista era uma densa camada de neve que nos fazia enterrar os pés de forma desconfortável. O acampamento tinha um charme lúgubre, como se fosse um local que já tinha visto muitos sonhos nascerem para mais tarde os vir minguar em cinzas. Sentia arrepios, olhei para os outros apenas para ver Peter olhar para os lados de forma atenta, como que para memorizar cada centímetro que passávamos, Natasha e Caios marchavam despreocupadamente, e quando olhei para o Tyler fiquei mais rubra do que antes ao notar que ele me olhava de forma atenta, como se para visualizar meus pensamentos, fiz uma careta para ele, ele apenas sorriu.
_aqui é o chalé sete, é aqui que ficarão até que haja a divisão dos talentos amanhã. _Ariane disse. _irão passar a noite aqui sozinhos provavelmente, pelo que sei Mestre Garret irá punir seus amigos.
_Onde estão eles? Não os vi desde que abandonaram os seus postos. _Peter perguntou.
_Foram cada um para uma casa destinada ao seu talento, estão lá a um bom tempo. E olha que nem para o chalé certo foram. Eles estão em chalés errados, vocês não podem ficar em chalés de anos acima de vocês ou abaixo, apenas no certo, eles se acomodaram no chalé dos iniciantes do ano passado. Idiotas.
_Você é uma aluna do ano passado? _Caios perguntou.
_Sim.
_Que tipo de punição o simpatia irá impor a eles? _Tyler perguntou.
_Dormir ao relento, isso acontece aos que ficam em chalés errados. E não me referiria a Mestre Garret dessa forma, ou descobrirá que simpatia não o descreve, ele é um soldado. Disciplina é tudo. _Ariane imitou Garret.
Tyler deu de ombros.
_então irei me retirar para um banho. _Caios retorquiu de forma despreocupada.
_ei, dormir ao relento não vai causar no mínimo hipotermia neles? É sério deve estar fazendo no mínimo uns quatro negativos lá fora!
Eu não tinha amigos lá fora, bem, Maya havia parecido legal de início, mas depois de conhecer ela um pouco melhor você não daria um grande lance caso ela estivesse sendo leiloada, e meandre e sua escória não me desciam pela garganta obviamente, mas mesmo assim dormir em um local quente enquanto pessoas congelavam lá fora era meio desconfortável.
_Calma, eles não vão congelar até a morte, vão os dar vestimentas para suportar razoavelmente o frio, vão apenas ter uma noite... desconfortável. _Ariane me respondeu enquanto saia de dentro do recinto.
_As coisas aqui são drásticas hein? _ Tyler se jogou em um sofá da sala do chalé.
_queria que a Angel viesse passar férias aqui, iria adorar isso! _comentei correndo em direção a uma lareira acesa em um canto do chalé.
_Sua irmã foi uma megera! E você ainda se lembra dela? Não sei se você é uma santa ou uma idiota compulsiva. _Natasha torceu o nariz para mim.
Tyler sorriu.
_Se conhecesse Ângela bem saberia que a Crystal não passa de uma diabinha malvada.
Ele sabia que minha irmã era uma pobre insubordinada a regras e horários, com esses mestres ela não se safaria de levar uns bons castigos apenas com um abanar de cílios. Esse era o lugar que patricinhas como Angel e Laura achariam seus lugares.
Natasha pareceu capitar o humor negro das minhas palavras agora.
_Então convide ela para a ceia de natal desse ano, servem aqui um bom peru assado!
_Parecem o clube do livro, conversando sobre o que eu não faço ideia que seja, que lindo! _Caios comentou.
_não se enciúme Caios, eu também estou boiando! _Peter disse. _Ou estaria se não fosse um ótimo investigador.
_Viver escutando atrás das portas não me parece uma boa forma de se investigar Peter. _caios zombou.
_ei, eu não escutava por trás das portas, essas eram apenas as conversas que sem querer ouvia quando membros da minha família se encontravam.
_Sei. _Natasha disse.
_Bem, talvez não ouvia assim tão sem querer, mas não sou mexeriqueiro.
_Sei. _respondemos em uníssono.
_De que lado estão afinal?
Todos rimos, afinal, um pouco de calor depois de tanto frio era capaz de aquecer até o humor das pessoas.
***
O dia amanheceu de forma preguiçosa, podemos ver o nascer esplêndido do sol, a neve parecia um espelho alvo que refletia cada um dos seus raios nas planícies e montanhas ao redor do acampamento, tudo parecia uma daquelas pinturas que grandes pintores capitavam com seus pincéis. Como pude ver isso? Fomos arrancados da cama as quatro da manhã.
Sobre o chalé, ele era simples porém bem aconchegante. Tinha dois pisos, no primeiro havia uma sala simples, com dois sofás, um tapete de peles no chão e uma lareira no canto que parecia estar sempre acesa. Havia uma cozinha pequena, onde estava disposto um café da manhã com pães, ovos, biscoitos, chocolate quente e algumas frutas paras nos servirmos. No andar superior havia dois banheiros e dois quartos, os quartos tinham quatro beliches cada, e eram equipados com vários cobertores e mantas. O piso do chalé era de maneira envernizada e suas paredes de uma grossa madeira polida.
Ao descermos até a sala nos deparamos com nossos pertences organizados sobre o tapete formando cinco pilhas. Peter tinha a maioria dos pertences que ele tinha trazido ao acampamento, a exemplo de Natasha e Caios, parece que apenas eu e Tyler havíamos perdido todas nossas coisas para a fiscalização, ou quase tudo, ainda tinha minha pulseira de berloques mas meu medalhão... sentia-me enjoada pela falta dele, mas resolvi ficar calada. A boa notícia? Havia lindas vestimentas de pele me esperando dobradas, além disso havia também calças, blusas e botas, todas confortáveis e do meu tamanho. Peter me disse que foi nossa família que mandou para nós tais presentes, eu não conhecia meus familiares, minha avó foi uma estranha para mim durante quase toda a minha vida, nem sabia se ela me considerava como neta, mas mesmo assim me senti maravilhada com aquelas roupas.
Me vesti com um suéter de camurça um manto cinza claro e um lindo sobretudo cinza escuro de corte elegante, Tyler optou por vestimentas semelhantes, porém obviamente tinham um designer masculino, e eram negras, o que ressaltava seus olhos lindos... não que eu tenha reparado. Natasha se vestia de cinza claro, Caios de bege e Peter de um marrom quase negro. Suéter, manto e sobretudo pareciam ser a combinação que todos usavam, só com tecidos, cores e designers diferentes. Tyler, Peter, Caios, faziam os olhos de qualquer um doerem naquele estilo Matrix.
Meu cabelo parecia uma bandeira tremulando ao vento, então o prendi em uma trança, todas as meninas mantinham as madeixas bem presas, nos filmes cabelos soltos ao vento são charmosos, na vida real ocasionam uma boca cheia de fios.
Mestre Magda estava nos esperando em um amplo salão a mais ou menos uns dois quilômetros do chalé onde estávamos hospedados, Peter disse que lá era o salão das castas, era lá onde os membros chefes de cada casta se reuniam para receber os alunos novos e os entregar os seus medalhões símbolos de qual casta eles eram pertencentes. Um dos alunos mais velhos do acampamento veio nos escoltar até lá, passando perto de uma praça nos deparamos com uma avalanche de alunos de olhos vermelhos, aparentemente tinham sido chamados para se lavarem e vestir roupas limpas para as formalidades do dia, mas cá entre nós, nem a maquiagem toda do mundo pode apagar os vestígios de uma noite mal dormida exposta ao relento e ao frio invernal.
Uma Maya de mal humor se postou ao lado de Natasha.
_E aí, boa noite de sono? _Natasha perguntou com uma carinha de inocência comovente.
_Não enche! _Maya bufou.
_É por isso que eu falo, não duvidem das orientações do meu amiguinho Peter aqui. _Caios disse andando com as mãos nos bolsos de forma casual.
Eu estava um pouco inquieta imaginando o que ocorreria.
_A única a me dar ouvidos foi minha priminha aqui, vocês são um bando de insolentes, da próxima vez eu terei de deixá-los na mão capachos. _Peter gracejou.
_Ei, parece que sua priminha está a caminho da forca, sua carinha branquela está ainda mais descorada. _Natasha disse.
_O que foi Crys? _Tyler disse se aproximando de mim e colocando a mão sobre meu ombro.
_É que... sei lá, eu estou com medo de não pertencer aqui, e isso me deixaria... quebrada. _respirei fundo. _tudo aqui é tão... demais, tudo parece uma aventura, e eu não sei se sou digna.
_ei, vai ter um lugar garantido para você no chalé de alguma equipe Crys, você é sem dúvida uma guardiã. _Peter não foi tão comedido como Tyler, veio logo e me deu um abração de urso.
_Não se esqueça que matou um vazio Crys, isso deve ser um bom componente de currículo para ser alguém da ordem. _Tyler completou.
_e se não tiver um lugar em um chalé pode vir para o meu, eu aceito dividir minha cama com você! _Caios disse passando o braço pelo meu pescoço.
Tyler de imediato me olhou de cara mal humorada.
_acho que ela preferiria pular de um precipício a um destino tão horrível.
Caios não se abateu _acho que ela nem teria de ser dispensada da ordem para aceitar meu convite!
_Deixem de ser idiotas. _Maya disse com ar psicótico. _e se você ser uma imprestável nem alguns amiguinhos te salvariam da rua, querida.
Natasha riu.
_Olha pelo lado bom, você já tem experiência em subsistir como um verme com os sem marca, sua popularidade aqui não tem como ser pior!
Tyler estava com raiva por sei lá o que, Maya me odiava por algum motivo e Natasha odiava qualquer um que não fosse um bom guardião aparentemente. Meu fã clube se resumia a Peter e ao recém chegado Caios.