Uma suposta facção de balé •...

By callmeikus

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☆CONCLUÍDA☆ longfic • colegial • jm!kitty gang & jk!bailarino Jungkook estava no último ano do ensino médio... More

00 | Avisos
01 | Tendu
02 | Plié
03 | Coupé
#ikusweek2021 crossover | parte 1
05 | Cambré
06 | Relevé
07 | Fondu
08 | Cloche
09 | Chassé
10 | Allegro
11 | Arrondi
12 | Avant, En
13 | Piqué
14 | Tombée
15 | Brisé
16 | Emboité
17 | Chainés
18 | Penchée
19 | Balancé
20 | Pas de Deux
21 | Battement
22 | Entrechat
23 | Dessus
24 | Glissade
25 | Rond de jambe
26 | Pas de valse
27 | Devant
28 | Échappé
29 | Raccourci
30 | Arrière, en
31 | Effacé
32 | Pirouette
33 | Écarté
34 | Passé
35 | Couru
36 | Dégagé
37 | Emboîté
38 | Tour
39 | Final | Changements
40 | Epílogo | Développé

04 | Déboulés

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By callmeikus

Oi, oi, oi, meus faccionários!! Como vocês estão?

Tava com tanta saudades de vocês! Sério mesmo, tô tão feliz postando aqui aaaaa Esse capítulo é maiorzinho que os outros pra nossa alegria!

Boa leitura e não se esqueça de votar!

#EstrelandoOCoadjuvante

»»🩰««

 Era quase uma hora da manhã quando Jungkook chegou em casa, depois de seu turno na loja de conveniências. Estava silenciosa, porém aquilo era normal. Ter ou não gente dentro dela não fazia diferença há anos.

Sem ligar as luzes, caminhou com familiaridade até a cozinha, pegando um pedaço de pão para comer antes de subir as escadas. Então entraria no banho e finalmente iria dormir. Felizmente, a casa era grande e seu quarto tinha uma suíte, então seus pais provavelmente nunca reclamaram de barulho por nem sequer terem ouvido.

Mesmo assim, seus passos no chão frio de porcelanato branco eram silenciosos. Não era difícil para ele, Jungkook sempre viveu como uma sombra apesar de não saber a sombra de quem ele era.

Talvez fosse uma sombra errante, vazia, que não representava nada nem ninguém além de desejos mortos e sonhos enterrados.

Deixou a mochila na entrada do quarto e entrou no banheiro. Quando ligou a luz, deu de cara com seu próprio reflexo no espelho em cima da pia e suspirou. Era Jungkook ali. Apenas Jungkook. O de sempre.

A falta da maquiagem que permitiu que erguesse seu rosto pela primeira vez em tantos anos era maior do que imaginava. Em um nível que desejava nunca ter deixado Jimin retirá-la com um lenço demaquilante antes de ir ao trabalho.

Queria parecer alguém de novo. Suas recentes porém já amadas sapatilhas também não estavam mais com ele, e sim na mochila de Park Jimin, para garantir que os pais de Jungkook nem pudessem levantar suspeitas. Tudo parecia tão vazio.

Tudo aquilo lhe foi tomado por razões claras, mas mesmo assim sentia-se triste. Não ter as sapatilhas nos pés e o delineado nos olhos fazia parecer que tudo que passou foi um sonho. Nada mais que uma mera alucinação causada pela pequena chama ardente de rebeldia que recusava-se a apagar em seu peito, porém não era grande o suficiente para incendiá-lo e guiar suas ações. Como não tinha coragem para viver, aparentemente restava sonhar.

Decepcionado com o próprio reflexo, entrou no banho. Quando acordasse naquele mesmo dia, seria tudo igual? Ou realmente podia ter esperanças de encontrar Park Jimin, seus cabelos rosa e seu sorriso maldoso, segurando suas belas sapatilhas pretas como se elas fossem um convite para viver uma narrativa de verdade?

Enquanto lavava seu próprio cabelo, lembrou dos dedos de Jimin ali, trançando-o. Quando esfregou o rosto lembrou do peso da mão de Jimin apoiada em suas bochechas para aplicar a maquiagem. Suspirou, estranhamente saudoso, em meio à torrente de água morna.

Então cruzar caminhos com um protagonista era daquele jeito? Ser sugado para uma correnteza, sem saber se deixava que ela o levasse ou tentava nadar contra? Contudo, sabia que desde o começo estava sendo levado por ela, talvez por não ter personalidade ou ambição o suficiente para sequer pensar em se debater. Debateria-se pelo quê? Por quem? Era vazio.

Saiu do banho e secou-se pensando que realmente era uma pessoa lamentável. Só a palavra "lamentável" poderia descrevê-lo, porque não conseguia nem sentir raiva do Jimin. Estava sendo manipulado a fazer o que o garoto queria por causa de chantagem, era constantemente provocado e, mesmo assim, simplesmente não tinha ímpeto o suficiente nem para achar aquilo ruim.

"Bunda mole". Aquele tal de Taehyung realmente parecia conseguir ler os outros com muita facilidade. Será que se Jungkook tivesse três irmãzinhas, também teria aquele talento misterioso?

Mesmo cansado, quando deitou na cama, Jungkook apenas olhou o teto. Olhou o teto em silêncio, retraído e apagado, que nem o grande bunda mole que ele era. Pressionou os lábios, pensando em toda felicidade e emoção que sentiu ao segurar os papéis da matrícula, ao comprar a sapatilha. Todas as experiências que ele só viveu porque foi literalmente obrigado a viver.

Suspirou, pesarosamente como nunca antes. Com uma vontade de chorar que ele pensou já haver superado depois de uma vida de repressão. Tudo porque em três dias, o protagonista de uma história que nem era a dele fez com que caminhasse um passo a mais para a própria felicidade, como ele mesmo não tinha conseguido há 17 anos.

E chorou. Frustrado e ressentido por não ser o personagem principal dos próprios sonhos e felicidade. Ele era apenas uma folha seca e triste sendo levada pela correnteza, que por coincidência desembocou em um campo florido que nunca almejou chegar.

E dormiu. Atormentado pela consciência de que do jeito que era, continuaria sendo o coadjuvante da própria existência.

-💋-

Jungkook chegou na escola ainda mais sonolento do que o normal. Nunca dormia bem, mas tinha ficado acostumado o suficiente com aquele torpor para manter-se acordado apesar dos olhos semicerrados. Tentava focar em algo que gostava, então sempre tinha algum concerto que embalava os passos dos balés mais renomados tocando em sua cabeça.

Jimin apareceu logo antes da aula começar e, como sempre, pareceu nem notar a presença de Jungkook. Realmente era difícil acreditar que tudo aquilo entre eles tinha acontecido, porque em sala de aula Jimin não tinha mudado nada. Chegava com suas roupas chamativas, prescrustava desafiadoramente quem ousava levantar o olhar e caminhava altivo e esbelto até sua carteira, colada no professor.

Porém, aquela manhã realmente teve um detalhe diferente. Jungkook encontrou um pequeno bilhete escondido entre as páginas de seu caderno quando voltou do intervalo. Por pouco não passou despercebido. Ao abri-lo e dar de cara com uma mensagem cor-de-rosa e brilhante, soube imediatamente quem escreveu.

Curioso por ter visto algo similar quando era mais novo, cheirou o papel. Até mesmo as canetas de Jimin tinham cheiro de morango e eram extravagantes que nem ele. Ficou tão distraído com o quão caricato era o recadinho e seu aroma que quase esqueceu da parte importante: ler.

Me encontre no banheiro daquele McDonald 's depois do almoço, às 13:00. Se me fizer esperar demais eu chuto suas bolas, gracinha 💕 Jungkook arrepiou-se ao ler. Como se a chantagem com o vídeo não fosse o suficiente, a ameaça do chute nas bolas também virou cativa de Jimin. Estava encrencado.

Salvo a preocupação com a própria genitália, começou a ficar ansioso para o final da aula. Queria enxergar aquele outro Jungkook pelo espelho e experimentar sua sapatilha novamente. Realmente tinha algo de diferente naquele dia. Daquela vez sua mochila continha além do uniforme do trabalho, uma calça e uma camisa de ginástica.

Ele ia dançar, e não ia ser de tênis. E não ia ser só para fingir que estava tudo certo com sua vida e suas vontades.

Foi ao banheiro no final da aula por costume. Quando percebeu aquilo, ficou desconcertado e resolveu usá-lo apesar de não estar apertado só para não sentir-se tão imbecil. Era um fim de aula e em vez de ir tentar dançar sozinho... ia fazer aulas. Aulas de balé!

Jungkook nunca pensou que estaria andando tão desesperadamente na direção de um McDonald 's. Teve certeza que o caminho estava bem mais curto no dia anterior, por que não chegava logo naquele lugar? Andava tão rápido que até tinha começado a suar um pouco e quando chegou no local, estava tão afobado que quase chutou a porta do banheiro.

Jimin não estava lá. Óbvio que não estaria. O bilhete deixava bem claro que era depois do almoço, porque jovens normais almoçavam em casa. Frustrado, Jungkook resolveu sentar-se em um canto do estacionamento do restaurante até dar o horário.

Depois de uma hora que ele não saberia dizer como gastou, imerso demais em pensamentos e encarando o asfalto quente entre os pés, viu Jimin caminhar tranquilamente até o fast-food, com seu jeito confiante de sempre. Jimin não o viu de volta, mas também... estava apagado e camuflado demais no cenário apático do estacionamento. Aceitou que combinava com aquele lugar.

Levantou-se e, com o coração martelando no peito, Jungkook deu passadas afoitas até o banheiro. Precisou parar em um certo momento para respirar antes de abrir a porta, nervoso demais em se encontrar com o estopim da vida que queria viver desde sempre.

E Jimin estava lá, sentado na pia enquanto lia um livro surrado. Jungkook observou, sem saber o que achar daquilo... Um encrenqueiro fofo e intelectual? Com certeza deve ter assustado qualquer pessoa que possa ter tentado usar o banheiro naquele momento. Não era sempre que pessoas sentavam em pias de banheiro. Muito menos um garoto de rosa.

Ele fechou o livro com uma risadinha antes de enfiá-lo de volta na mochila repousada entre as pernas expostas por causa do short curto. Saiu de cima da pia e, como de costume, avançou a passos confiantes até Jungkook e aproximou os rostos. Abriu ainda mais o sorriso ao fitar os olhos redondos tão de perto.

— Que pressa é essa? Estava com tanta vontade assim de me ver, gracinha? — provocou, passando os dedos pelos cabelos soltos da nuca de Jungkook, os que ele não conseguia prender no rabo de cavalo.

Jungkook permaneceu em silêncio, porque a resposta era sim. Mas responder "sim" soaria muito absurdo.

— Relaxa, cuidei direitinho das suas sapatilhas. — Jimin acrescentou depois. Nem ele mesmo acreditava que aquela resposta seria "sim". — Vem, trouxe umas maquiagens diferentes dessa vez, ontem fui pego de surpresa, mas hoje eu vim preparado para te transformar em um novo homem!

Jungkook assentiu, contido, o que não expressava de jeito nenhum a empolgação estranha que crescia em seu peito. Gostaria do reflexo que veria no espelho? Já estava animado.

Jimin preencheu as sobrancelhas dele com lápis e trocou o delineado por uma sombra mais elaborada, em tons de marrom. Contornou o rosto levemente e aplicou o mesmo lip balm nos lábios. Novamente não pesou a maquiagem, porque era para deixar Jungkook pouco reconhecível a olhares alheios, não ainda mais chamativo. Para disfarçar ainda mais, colocou brincos de pressão bem convincentes nas orelhas e usou um spray de cabelo para pintar a ponta deles de vermelho antes de trançá-los novamente. Era uma cor diferente. Com certeza algo bem não-Jungkook, mas também longe de ser um cabelo rosa chiclete. Mechas vermelhas eram razoavelmente comuns e serviriam bem ao seu papel.

Quando terminou tudo, Jimin segurou o queixo do garoto que esperava a sessão de maquiagem terminar pacientemente, avaliando satisfeito sua obra de arte. Ver aquele sorriso orgulhoso e confiante entre os lábios melados de gloss já era o suficiente para Jungkook saber que estava incrível. Se o protagonista Park Jimin achou incrível, com certeza acharia também.

— Vou trocar meu uniforme — Jungkook anunciou enquanto levantava-se ao ser liberado das mãos de Jimin.

— E? — ele perguntou de volta.

— Poderia me dar licença, por favor?

— Vergonha de mim? — Jimin riu maliciosamente, feliz em achar outra brecha para continuar provocando, porque as reações de Jungkook eram muito engraçadas. Espalmou suas mãos pequenas e delicadas nos ombros maiores dele. — Ei, gracinha, sei que eu me visto assim, mas não tem nada que você carregue aí que seja um mistério para mim. Nós dois temos a mesma coisa...

— O box do banheiro é pequeno... — justificou e Jimin riu uma última vez antes de sair da cabine, fechando a porta atrás dele.

Logo Jungkook saiu, as roupas de ginástica no lugar do uniforme fazendo uma diferença enorme também, apesar de não terem nada de especial. Jimin aprovou, abrindo espaço para que ele se olhasse no espelho.

A primeira coisa que Jungkook fez foi tocar o próprio rosto, desacreditado, só pra ver se o reflexo fazia o mesmo. Ainda parecia ele, mas ao mesmo tempo... não. Definitivamente, ele parecia muito diferente mesmo com mudanças pequenas.

— Tá surpreso? — Jimin debochou. — Não acredito que é a primeira vez que percebe que é um gostoso.

— Um gostoso? — Jungkook repetiu quase no automático, completamente envergonhado e com as bochechas corando.

— Isso mesmo, um gostoso... — Os lábios cheios e brilhosos pareciam congelados naquele sorriso mordaz. Só para divertir-se mais, fingiu avançar nele. Riu quando Jungkook recuou levemente. — Relaxa, gracinha, não tenho interesse em você, apenas me divirto com essa sua cara de assustado.

Jungkook assentiu, pouco impressionado, pois aquilo era óbvio. Sabia que era impossível um protagonista como Jimin querer algo com ele, um mero coadjuvante. Mesmo assim, ainda não tinha aprendido como reagir àquelas investidas.

Jimin puxou sua mochila e entregou a Jungkook os papéis de matrícula assinados, as sapatilhas e grampos de cabelo pretos que achou entre suas coisas. Nunca mais usou estes desde que pintou seus fios de rosa, então pensou que poderia ser útil para o bailarino. Jungkook aceitou tudo em silêncio.

— Pronto para sua primeira aula de balé, Park Jimin?

-💋-

Mesmo que Jungkook quisesse reclamar da presença de Park Jimin, de qualquer forma que fosse, aquilo era impossível. Porque com todo aquele jeito de protagonista, ele tinha na ponta da língua a solução de todos os desafios que apareciam. Era quase como um advogado que falava por Jungkook.

Primeiramente, foi impedido de escolher diretamente a turma iniciante de balé, sob a justificativa que "é melhor que você seja desafiado e precise treinar a mais para acompanhar a turma do que ela não te levar ao objetivo que você quer. Temos seis meses até a competição e certeza que seguindo o fluxo natural das coisas você não vai sair da turma de iniciante. Pessoas normalmente levam anos, sabe?". Ainda receoso quanto aquela afirmação, foi empurrado por Jimin para todos os cantos do Centro Cultural e, no fim, fez as aulas experimentais de todos os níveis de balé adulto.

Jungkook sabia que nunca teria coragem para ter feito aquilo se estivesse sozinho, contentando-se com o iniciante. Mas a vergonha não parecia tanta quando Jimin entrava na sala com ele e anunciava "ele dança desde pequeno, mas nunca fez aulas formais. Queremos saber qual é o nível dele, ajudem meu filho, por favor" com um sorriso doce que encantava todas as alunas e professoras. Jungkook perguntava-se quando que Jimin virou seu pai.

Também foi salvo várias vezes de apresentar-se como "Jungkook" no automático. Atento, Jimin conseguia ver claramente quando o seu pseudo bailarino abria a boca, prestes a estragar tudo, e falava "o nome é Jimin, mas se você chamar ele assim provavelmente ele nem vai perceber que é com ele... experiência própria. O apelido desde criancinha é 'Jey', por causa do 'J' no nome, sabe? Fiquem à vontade para chamar ele de Jey ou podem acabar sendo ignoradas pelo sonso..."

Cada resposta incrivelmente inteligente e rápida de Jimin impressionava Jungkook ainda mais. Não pensava que além de bonito, forte, confiante e espontâneo, era uma característica de protagonista ser ridiculamente esperto. Não era um pouco injusto protagonistas terem qualidades demais? Mesmo assim, como Jimin estava constantemente salvando seu sonho de virar bailarino — mesmo que por interesse próprio — não chegou a reclamar.

De fato, "Jey" era um apelido bem factível para ele acostumar-se, até porque parecia completamente errado ser chamado de "Jimin". Afinal, Jimin era uma palavra que representava o garoto da mesma idade que ele, porém que parecia ter vivido três vezes mais. Não poderia se comparar, nem que minimamente, com ele.

E era para o "Jey" que as meninas da turma explicavam pacientemente entre os intervalos nomes e passos base de balé que não conhecia, mas que eram necessários para as aulas. Assim como Jimin tinha pedido, elas faziam seu máximo para compensar a inexperiência de Jungkook e mantê-lo ligeiramente nivelado com elas. Nem soube responder e agradecer o suficiente, um pouco perdido em receber tanta atenção e gentileza.

— Vocês não acham que se o Jey treinar por fora, ele consegue acompanhar a turma? — Jimin perguntou para o grupo de mulheres que se acumulou ao redor dele ao final da aula, incluindo a professora. Jungkook, quase camuflando-se à parede ao lado dele, observou em choque a popularidade natural do garoto. Além disso, nenhuma delas pareceu achar ruim a forma que ele se vestia. Seria por serem mulheres, acostumadas a sofrer discriminação também, ou por serem bailarinas? Artistas, no final das contas, eram acostumados a diferentes tipos de expressão e arte, mesmo em um ramo tão estrito e conservador quanto o balé.

— Com certeza! Ele é ótimo e a gente ajuda! — Uma menina balançava a cabeça positivamente com tanta força que Jimin riu fraquinho.

— Não me importo dele estar um pouco defasado... — a professora comentou, mais séria. — Seria muito bom ter um menino na turma... Faz tempo que não temos um e seria bom para o espetáculo de fim de ano, dá para fazer coreografias diferentes.

— Vocês têm espetáculos próprios? — Jimin perguntou, interessado.

— Sim, no meio e no final do ano. É um espetáculo de todo o Centro Cultural, as turmas de dança, canto, teatro... todas se apresentam. Também expomos na galeria do teatro as pinturas e esculturas dos nossos alunos. Vai ser nosso convidado, não?

— Claro! — Jimin sorriu largo, pronto para brigar com Taehyung por nunca ter sido convidado para as apresentações, já que obviamente o amigo era obrigado a assisti-las.

— Não vai fazer aula com a gente também? — Uma outra menina, a mais alta da turma, perguntou. A professora foi beber água e felizmente, as outras alunas dispersavam-se aos poucos também.

— Não, o bailarino entre nós é o Jey mesmo! — Deu um tapinha nas costas do outro. — Meus passos são outros.

— Como assim?

— De artes marciais — Jimin respondeu prontamente, todo metido e orgulhoso. Amava muito a prática e tudo que aprendeu com ela. — Sou faixa preta em kung fu.

— Ensina algum golpe pra gente outro dia!

— Acho que não dá... Antes do golpe a gente aprende a filosofia e acho que isso é meio chato.

— Ei, qual é o seu nome?

— Por meninas lindas como vocês, gosto de ser chamado de Chim, não soa bem? — Desviou-se habilidosamente dos questionamentos perigosos, como sempre. Tudo sob o olhar impressionado de Jungkook. O elogio fez tanto efeito que as garotas, coradas, nem se lembravam mais que queriam saber o nome dele.

— Achei suas presilhas lindas!

— Não são? Minha mãe que comprou pra mim. — Tocou o objeto com a ponta dos dedos. — Qual é sua cor favorita?

— Roxo! — a menina respondeu antes de quase desmaiar ao ver Jimin tirando a presilha roxa pastel de seus cabelos e caminhar calmamente até ela para prender com delicadeza em seus fios presos firmemente no coque.

— Tenho certeza que vai fazer um bom proveito dela. — Sorriu junto com a garota.

Saíram da turma intermediária e encontraram-se com Taehyung, com o qual ficaram conversando enquanto esperavam a hora da turma avançada. Como Jungkook estava ensopado de suor ao seu lado, Jimin tirou sua jaqueta de couro enorme para colocá-la nos ombros dele, resmungando "se você ficar resfriado, eu chuto suas bolas" ao perceber que estava ventando demais do lado externo. Taehyung apenas observou curiosamente o jeito que o pseudo-bailarino simplesmente não parecia ser capaz de esboçar reações, devidamente aconchegado na jaqueta já quente de Jimin.

E a verdade era que Jungkook achava estar vivendo uma realidade paralela, porque tudo parecia inacreditável. Ter feito aulas de verdade, saber parcamente alguns nomes franceses complicados dos passos, estar ali, de cabeça erguida, vestindo as sapatilhas pretas que de fato usou para dançar. Estava quieto, claro, quase atordoado, mas não baixou a cabeça a fim de se esconder de alguma forma e aquilo só o deixou mais sem chão. Era muito diferente do costume, tanto que nem parecia ser ele mesmo. Contudo, não era ele de uma forma tão boa que desejava ser.

Um grupo de garotas da turma do intermediário passou na frente dos três e deu um tchauzinho pro "Jey" e pro "Chim", fazendo com que Taehyung desse uma risada com os péssimos apelidos logo depois e, consequentemente, levasse uma cotovelada do Jimin. Jungkook nem corou com o deboche. Ele gostava do Jey, porque o Jey, ao contrário do Jungkook, fazia aulas de balé.

— O bunda mole agora é Jey, é?

— Nomeado pela minha digníssima pessoa — Jimin concordou e tocou os ombros do agora-sim-bailarino com os dedos como se fosse um rei nomeando um lorde com sua espada. — Certeza que é o melhor apelido que ele já teve na vida.

Era o primeiro apelido que Jungkook já teve na vida, mas resolveu ficar quieto sobre aquilo. Jimin, do nada, resolveu tirar um pote da sua mochila e dele pegou um pedaço de sanduíche natural que passou para Jungkook.

— Só alimenta seu bunda mole de estimação? — Taehyung reclamou prontamente. Jungkook ainda tentava entender o que era aquilo nas suas mãos, em choque.

— Claro que não, como eu deixaria de alimentar meu Danny Phantom selvagem de estimação também? — Jimin pegou outro pedaço de sanduíche natural e passou para Taehyung. — Só tenho que entregar cuidado, vai que minha mão é engolida junto...

O de cabelos platinados nem respondeu, ocupado demais comendo para tentar defender que não era esfomeado. Nem que fosse possível defender aquilo, porque era mesmo. Jimin pegou uma metade do segundo sanduíche que tinha em seu pote e começou a comer também.

— Sei que eu faço sanduíches lindos que nem eu mesmo, mas eles são pra comer, não admirar — resmungou Jimin já na sua terceira mordida ao ver que Jungkook não tinha dado nenhuma. — Vou ter que ameaçar chutar suas bolas para você comer também?

Jungkook deu sua primeira mordida logo depois, sem graça. Jimin e Taehyung riram com aquela confirmação silenciosa de que funcionava a base de ameaças. Suspirou baixinho de prazer enquanto mastigava, porque não tinha comido nada desde o café da manhã. Estava acostumado a não comer nada para não perder seu precioso tempo sozinho nas salas vazias do colégio. Sua segunda refeição normalmente era alguma comida já pronta da loja de conveniências na qual trabalhava e a última o costumeiro pedaço de pão antes de dormir.

— Credo, não me olha assim! — Jimin fez uma cara de nojo e Jungkook tomou um susto, porque nem tinha percebido que estava olhando-o. — Não me leve a mal, eu preciso que você esteja saudável para vencer a competição de dança, e pro troglodita aqui eu dou comida com medo de ser comido vivo no lugar, é tipo adestrar ele.

— Por que você quer tanto que eu ganhe? — perguntou já que finalmente parecia o momento certo para soltar sua maior dúvida desde que toda aquela loucura começou.

— Quê? O Chim nem te contou o rolo todo com o Hoseok? — Taehyung riu de boca cheia, com um brilho maldoso no olhar. Jimin, irritado, golpeou as costas dele, quase fazendo com que cuspisse a comida, antes de segurar a mão maior e forçar todo o sanduíche pra dentro da boca dele a fim de calá-lo completamente.

— Você tem um rolo com o Hoseok? — Jungkook repetiu no automático, Jimin quis morrer. Ou melhor, quis matar Taehyung.

— Sim, eu odeio ele com todas as minhas forças. — Quase rosnou. Taehyung ria com dificuldade, ainda tendo a boca violada pelo sanduíche. Tentava desvencilhar-se, mas apesar de ser maior, Jimin era muito mais forte. — Quero acabar com qualquer traço de alegria da vida dele, então o mínimo que espero de você é que você faça aquele nojento chorar quando perder pra você, tudo certo?

— O que ele te fez? — Jungkook perguntou confuso.

Não conhecia bem Hoseok, mas tudo que ouviu falar sobre o garoto era positivo. Tratava todo mundo bem, era o mais próximo do que dava para chamar de popular na Busan High e genuinamente bonzinho.

Uma das únicas interações que teve foi ter trombado com ele e deixado um salgado cair no intervalo e, depois de mil desculpas, receber um novinho em folha junto a um copo de refresco e um sorriso como desculpas. E Hoseok nem tinha esbarrado em Jungkook, e sim o contrário, pois este estava sonhando acordado sobre balé enquanto caminhava.

Em conclusão: Jungkook não tinha muita certeza se queria fazer Hoseok chorar.

— Minha vida não te interessa, gracinha, vai saindo da janela, aí não é seu lugar. — Cruzou os braços ainda com o sanduíche em mãos, os olhos pequenos cortantes entre o delineado. — Seu único trabalho aqui é dançar e ganhar dele, que aí você apaga o vídeo que estou doido para enviar aos seus pais.

O bailarino aceitou o ultimato silenciosamente, voltando a mastigar a comida que lhe foi oferecida. Não tinha muito o que fazer, afinal, e também era introvertido o suficiente para quase não se incomodar com aquilo. Talvez preferisse o silêncio. Taehyung finalmente conseguiu terminar de mastigar o pedaço enorme que foi enfiado em sua boca, a mandíbula cansada demais para tentar afrontar Jimin novamente.

Logo as irmãs de Taehyung — três garotinhas que tinham os olhos exatamente iguais ao irmão mais velho, mas pulmões muito mais potentes — apareceram, fazendo barulho e chorando que queriam ir embora, o que foi uma deixa para que Jimin puxasse Jungkook para a última turma do dia, a do avançado. O de cabelos rosa tinha pavor das garotinhas, elas já tinham arrancado os spikes da sua jaqueta e foi um trabalhão costurar e prender eles de novo.

Fez todo seu teatro de sempre e, mais uma vez, Jungkook foi imediatamente bem recebido, mesmo sem precisar falar nada por ele mesmo. Na turma intermediária, era possível perceber a falta de técnica de Jungkook em relação às garotas, precisando sempre receber instruções sobre os novos passos, mas ela realmente era gritante na turma avançada. Porque as meninas do intermediário conheciam bem as técnicas, porém ainda poliam sua execução; no avançado todas executavam perfeitamente, com uma naturalidade e leveza que só era possível perceber o nível de dificuldade observando Jungkook lutar para fazer tudo, suando em bicas.

Durante as pausas ficou conversando com a professora enquanto deixava Jungkook socializar com as outras alunas, ou algo do tipo, já que o garoto era meio quieto. Acreditava veementemente que Jungkook era bom, e que o tempo que gastou tentando aprender balé sozinho naquela sala de aula não foi em vão, então sempre era muito determinado em todas suas propostas.

Portanto, surpreendeu Jungkook quando ao final da aula o arrastou até a secretaria, onde encontraram a mesma moça de olhar cansado da última vez. Jimin abriu um sorriso simpático.

— É possível se inscrever em duas turmas? — perguntou.

— Não, apenas uma.

— É possível se inscrever em uma turma e fazer aula experimental para sempre em outra? — Jimin mudou o questionamento e a mulher sorriu de leve.

— Sim, está dentro de todas as normas. — A voz dela até mesmo soou mais suave. Jimin bateu palmas de leve, feliz e animado. — Até mesmo duas aulas experimentais infinitas...

— Ei, Jey, termina aqui de preencher sua matrícula com o horário da turma avançada.

— Mas eu...

— Já falei com as professoras enquanto você tava perdido no seu mundinho de balé — Jimin disse vitorioso, com o nariz em pé. — Aguenta fazer todas as aulas?

Jungkook engoliu em seco, mas assentiu com firmeza. De fato estava exausto, as pernas pareciam completamente bambas e não existia nenhum pedaço livre de suor em seu corpo. Mesmo assim, foi o dia que mais sentiu-se vivo. Estava mais do que disposto a engolir todos os passos e minutos de balé que poderiam ser oferecidos a ele.

Queria, mais do que tudo. Estava absurdamente faminto depois de tantos anos entorpecidos pela inanição de sua alma.

Pegou o papel da matrícula em sua mochila, todo já preenchido exceto a turma escolhida. Admirou por um momento as assinaturas dos pais do Jimin, achando aquilo um tanto surreal, e escreveu com capricho "avançado" na lacuna que sobrou. Tremeu de emoção, sem acreditar que foi aceito na turma mesmo sabendo que estava muito longe do nível necessário para pertencer a ela.

A lábia do Jimin era realmente fora do comum.

Voltaram ao McDonald 's para que Jungkook tirasse a maquiagem e vestisse o uniforme sem graça de seu trabalho, despedindo-se dolorosamente das sapatilhas que voltaram para dentro da mochila de paetê preto do Jimin. Só que dessa vez, Jimin não despediu-se ao sair do restaurante, mas sim começou a seguir Jungkook.

— Por que tá me seguindo? — Jungkook perguntou esbaforido. Andava rápido para não chegar atrasado e a exaustão da quantidade de esforço físico que fez não ajudava.

— Preciso saber como minha marionete gasta as horas do dia dela para manipulá-las melhor em meu prol, gracinha. É isso que faz um bom administrador, não? Saber gerir bem seus recursos.

— Somos só estudantes do ensino médio, não administramos nada.

— Diga por você, gracinha! — Jimin riu, conseguindo manter-se gracioso em cima dos saltos de plataforma mesmo com o ritmo acelerado da caminhada. — Eu tenho uma facção, lembra? Tenho que gerenciar ela direitinho.

Jungkook ficou sem saber o que responder. Sempre que Jimin falava de facção, ou do seu ódio pelo Hoseok, ou sobre manipulações, ficava sem palavras. Era muito estranho por algum motivo. Mas tinha que ser estranho mesmo, nunca que um estudante de ensino médio ter uma facção deveria soar normal.

Chegaram ao local na risca do começo do turno de Jungkook. Jimin esgueirou-se entre as prateleiras da loja, ouvindo de longe Jungkook ser repreendido pelo gerente por estar suado demais e com uma aparência completamente inadequada. Mesmo assim, viu o senhorzinho entregar a chave da loja nas mãos do garoto antes de ir embora com a menina que parecia fazer o turno antes dele.

Quando a loja ficou vazia de vez, Jimin aproximou-se com um pacote de lenços de papel de bolso, apoiando-os em cima do balcão. Observou atentamente enquanto Jungkook, obediente, lia o código de barras e perguntava educadamente a forma de pagamento. Ficou revoltado com a forma que o menino entrava no piloto automático de indiferença com tanta facilidade! Não fazia nem quinze minutos em que era um bailarino maquiado e decidido.

— Gracinha, você me conhece... — murmurou manhoso, inclinando-se no caixa. — Nem pra mudar uma palavrinha no seu discurso pronto? Queria exclusividade.

— Aqui sua compra, senhor. — Jungkook estendeu a sacolinha, como se não tivesse ouvido nenhuma das palavras que foram dirigidas a ele. — Obrigado pela preferência, volte novamente!

— Não pretendo sair para precisar voltar — retrucou. Deu a volta no balcão e sentou-se em uma cadeira extra ao lado de Jungkook, que o olhou como se fosse um extraterrestre. — O que foi? Agora é crime sentar ao lado do nobre Jey?

Enquanto resmungava, abriu a embalagem dos lenços que comprou e puxou um com cuidado. Com naturalidade, trouxe o queixo de Jungkook para perto, (que quase riu, porque as unhas longas faziam cócegas) antes de começar a pressionar com cuidado o lenço ao redor do rosto ainda suado dele, secando-o.

Jungkook apenas ficou em silêncio, corado, deixando Jimin concluir o que é que quisesse fazer com ele enquanto era tomado pelo cheiro de morango. Jimin secou seu rosto e parte do cabelo antes de descer o lenço para o pescoço. Depois, tentou arrumar os fios rebeldes de Jungkook com os dedos. Daquele jeito, Jungkook parecia quase apresentável.

Jogou o lenço usado fora e colocou o resto dentro de sua mochila antes de recostar-se na cadeira extra, parecendo completamente relaxado, como se não estivesse invadindo um ambiente que não era dele. Jungkook o encarava em choque, como um grande paspalho, e Jimin devolveu o olhar, tão intensamente que o bailarino engoliu em seco, nervoso, e voltou a trabalhar.

E Jimin ficou quieto, apenas observando a movimentação dos clientes da loja, como Jungkook trabalhava e... os olhares. Era muito bom em notar olhares, então não demorou muito para levantar-se, espreguiçar, pegar sua mochila e contornar o balcão de volta com uma displicência milimetricamente calculada.

— Isso aqui é chato demais para mim. — Fez um biquinho manhoso, encaminhando-se sem mais nem menos até a porta, que soou seu sininho. Virou para trás uma última vez para dar aquele sorriso provocativo entre os lábios cintilantes ao ver que era observado atentamente por Jungkook. — Até amanhã, gracinha!

»»🩰««

JUNGKOOK OFICIALMENTE FAZENDO AULAS DE BALÉ, É ISSO QUE A FACCIONÁRIOS NATION PEDIU!!! EBAAAAAAAAAA

Qual foi a cena favorita de vocês desse cap? Confesso que nesse eu tenho duas, acho que a cena do Jungkook voltando pra casa explica muito sobre ele, mas os vkookmin conversando com os sanduíches é tudo pra mim tbm kkkkkk

Como sempre, muito, muito obrigada por estarem acompanhando USFDB e pelo carinho que dão a ela e a mim! Não se esqueçam de deixar um votinho, indique pros coleguinhas e, se quiser surtar comigo no twitter, é só usar a #EstrelandoOCoadjuvante (eu sou a @callmeikus por lá também).

Beijinhos de luz e até 12/03 às 19:00!

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