Antes do Pôr do Sol • jjk + p...

Per thatsadaydream

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Jeon Jungkook sempre gostou de ter controle sobre sua vida, nunca se permitindo sair de sua zona de conforto... Més

[01] Alvorecer
[02] Eta Carinae
[03] Garoa
[04] Tempestade
[05] Incandescência
[06] Explosão
[07] Lua cheia
[08] Imersão
[10] Florescer
[11] Tornado
[12] Estrela Cadente
[13] Lua Nova
[14] Relâmpago
[15] Cosmos
[16] Caos
[17] Folha de acanto
[18] Ardor
[19] Verão
[20] Euforia
[21] Poeira Cósmica
[22] Lua Crescente
[23] Rosas amarelas
[24] Busan
[25] Ruptura
[26] Antes do Pôr do Sol
[27] Espinhos
[28] Perspectivas
[29] Castelo de Areia
[30] Controle
[31] Amor
[00] Era uma vez...
[00]² Personagens
[32] Silêncio

[09] Meia noite

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Per thatsadaydream

- Yoongi, pelo amor de deus, é só responder a pergunta!

Fecho os olhos, sentindo vontade de rir e de bater em Yoongi, simultaneamente. Han está verdadeiramente bravo, os músculos tensionados e os olhos arregalados.

É a milésima vez que tentamos entrevistar Yoongi e ele simplesmente não entende a dinâmica: responde com meias palavras, divaga demasiadamente ou simplesmente diz "Prefiro não responder".

Durante o decorrer da semana, conseguimos entrevistar Namjoon (uma entrevista que durou mais de duas horas) e Hoseok. Temos então duas entrevistas de Engenharia, uma de Artes e uma de Ciências Políticas. Falta a entrevista com o veterano de Economia, que Jimin jurou que faria hoje, e mais outros dois cursos. Pensamos então em Yoongi, que faz Música e Han deu a ideia de entrevistarmos Seung, que cursa Dança. Não temos a menor intimidade com Seung, mas isso não parece ser um problema para meu amigo, que rapidamente conversou com o rapaz e aceitou ser entrevistado.

O problema é que Yoongi é péssimo com entrevistas.

- Caralho, eu tô respondendo a pergunta! Você quer que eu diga mais o que? - Yoongi resmunga, cruzando os braços.

- Que responda realmente e não com meias palavras! - Han rebate, quase levantando-se de sua cadeira e, possivelmente, indo bater em Yoongi.

- Vocês dois, - digo, firme, apontando para Yoongi e Han - por favor, fiquem calmos. Responda da maneira que quiser, Yoongi, beleza? - ele não diz nada, continua fuzilando Han com o olhar. - Apenas tente ser um pouco mais expansivo, pode ser?

- Eu não sou expansivo. - ele retruca, revirando os olhos.

- Mais uma vez. - digo, ignorando sua fala. - Você disse que sempre soube que queria Música, certo? Tem alguma lembrança que lhe vem à mente e que pode ter sido um momento de transição, quando teve certeza que era isso que queria?

- Não.

Ouço Han bufar, querendo eu mesmo pular no pescoço de Yoongi e lhe dar uma chacoalhada. Mantenho a postura, sorrindo fracamente e falo:

- Certo... Sabe com o que quer trabalhar quando se formar?

- Composição e produção.

- Acho que conseguimos aproveitar o material que temos. - digo, virando-me para Han que revira os olhos, negando.

- Você é um pé no saco, Yoongi, sério!

Os dois começam a trocar algumas farpas e rio, pegando meu celular e vendo que meus pais não me mandaram nenhuma mensagem. Fazem onze dias desde que fui em casa e tive aquela conversa com minha mãe e, bem, eles não falaram mais comigo. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Não sei realmente o que eu espero deles, sendo que os conheço tanto: eles não vão mandar nada, porque minha mãe não se arrepende do que me disse.

A única mensagem que tenho em meu celular é de Jimin, dizendo estar com Seung, prontos para a entrevista. Digito uma mensagem rápida, falando que vamos encontrá-los no prédio de Dança, me virando para Han ao dizer:

- Vocês dois parem, pelo amor. Vamos, Han, temos ainda que entrevistar Jimin e Seung. - digo, pegando minha mochila. - Obrigado pela entrevista, Yoongi.

- É, obrigado por nada, Yoongi. - Han fala, batendo o pé e saindo da sala.

Yoongi não parece nada incomodado e saímos da sala de Música, caminhando até o prédio de Dança. Durante o caminho todo escuto reclamações de Han em relação a Yoongi, o que me rende boas risadas e um Han ainda mais irritado.

Jimin e Seung estão sozinhos na sala, com Seung sentado em uma mesa e Jimin em pé, entre suas pernas. Engulo em seco, estreitando o olhar para a cena e bato na porta para chamar atenção, mesmo que ela esteja aberta.

- Ei, Jungkook. - Jimin fala, virando-se para mim e sorrindo.

Que sorriso bonito.

- Está com uma ótima cara, Han. - ele comenta, arrancando um bufar de Han, que senta em uma cadeira, estressado.

- Seu amigo, Yoongi, é um completo idiota! Não sabe formular uma frase sequer.

Jimin ri, fechando os olhos como sempre faz e sorrio fracamente ao ver seu sorriso.

- Ele é assim mesmo, se acostume.

- Podemos começar por você, Seung? - pergunto, olhando o rapaz quieto nos observar seriamente.

- Ah, sim, claro! - responde, sentando-se em uma cadeira, com Jimin ao seu lado.

- Então, quando soube que queria cursar Dança? - pergunto, depois de ligar a gravação pelo meu celular.

- Ah, bem, desde sempre...

- Todo mundo diz "desde sempre", meu deus! - Han resmunga e dou um tapa em sua perna, fazendo-o chiar de dor.

- Continue, Seung. - falo, sorrindo.

- Ah, como eu dizia... Eu sempre gostei de dançar, costumava ver filmes que tinham balé, sabe? Sempre foi uma das danças que mais me chamou atenção... E entrei em escolas de dança quando tinha oito anos. - o sorriso que Seung lança em minha direção apenas comprova o que é óbvio: ele é muito bonito. - Foi assim que quis cursar Dança.

Enquanto conversamos e faço outras perguntas para si, noto alguns olhares de Jimin em minha direção, quase levando-me a desconcentrar em alguns momentos, mas consigo manter o foco e seguir a entrevista. Claro que interrompo algumas vezes para brigar com Han, mas tudo segue bem.

- Minha vez agora. - Jimin diz, sorrindo de canto para mim.

Entrevistá-lo é diferente do que foi com os outros caras, por alguma razão, eu sinto mais nervosismo em dizer algo errado. Ele mantém seu sorriso furtivo emoldurando seu rosto e questiono, felizmente com a voz ponderada e relaxada:

- Quando soube que queria cursar Economia?

- Não soube. - diz, dando de ombros. - Só pareceu o ideal no momento.

- Então não é algo que sempre quis?

- Longe disso. - responde e, embora seu sorriso de canto ainda esteja presente, consigo notar seu olhar vacilar por alguns segundos.

- Seus pais trabalham com o que? - pergunto, mesmo que já saiba a resposta.

- São donos de uma cafeteria. Não tem muito a ver com o curso que estou fazendo, mas acabo ajudando na parte de finanças, tentando ajudar, na real. - responde, afastando as pernas uma da outras e apoiando os cotovelos nos joelhos, como costuma fazer.

- É isso que quer fazer, ir para o ramo de finanças? - Han questiona, despretensiosamente.

Jimin não conversa sobre o futuro, o que pretende ou não fazer dentro do curso escolhido e, sempre que tento introduzir tal assunto, ele evita, parece se fechar ainda mais. Por isso, assim que o questionamento sai da boca de Han, reparo uma mudança no comportamento de Jimin, deixando-o um tanto incomodado.

- Quem sabe.

Não querendo dar margem para Han perguntar mais nada sobre tal assunto, eu falo:

- E o que você acha do curso de Economia oferecido pela universidade?

- É um bom curso. - diz, voltando a ter uma postura relaxada. - Mas não concordo com alguns blocos de matérias que nos colocam para cursar em um mesmo semestre. Eles ordenam , muitas vezes, não de uma maneira crescente, mas sim desorganizada. Isso é algo que me incomoda.

Permanecemos durante um tempo debatendo sobre o curso, até mesmo esqueço em alguns momentos que é uma entrevista, porque a conversa entre mim e Jimin apenas flui, tomando muito mais tempo do que imaginei.

- Acho que já deu, não? Queria ir encontrar uma garota aí... - Han fala, claramente impaciente.

- Vá fazer suas coisas, já acabamos aqui. - digo, desligando o gravador do meu celular.

- Amém! Acabamos então?

- A parte de entrevista sim, agora temos que montar toda a apresentação, cortar os áudios de cada entrevista...

- Quando quer fazer isso? - questiona, visivelmente cansado.

- Temos que entregar até segunda esse trabalho. - pondero, analisando as possibilidades. - Hoje é quarta, para editar e montar toda a apresentação vai um tempinho... Vemos de começar amanhã, pode ser?

- Não queria que ocupasse o final de semana. - resmunga mais uma vez. - Bem que podíamos fazer alguma coisa juntos, não?

- Podemos ver sobre isso. - comento, recebendo um sorriso de Han.

- Bem, vou indo então. - Han diz, acenando para nós. - Depois vamos jantar juntos!

Volto meu olhar para Jimin e Seung, sentindo-me um tanto estranho por estar apenas nós três ali. Seung me olha com curiosidade, embora pareça tentar disfarçar seu olhar sobre mim, em contraste com Jimin, que aparenta estar completamente sossegado.

- Ah, Jimin, eu estava pensando sobre aquele passo que eu te mostrei, sabe? Não acharia melhor que eu fizesse uns dois segundos mais devagar? - Seung quebra o silêncio, chamando a atenção de Jimin e aproveito para pegar meu celular, mas só para fingir que estou vendo algo e não me sentir tão excluído.

Para minha surpresa, Jae me mandou algumas mensagens, perguntando se não quero encontrá-lo. Eu sei muito bem que ele tem interesse por mim, porém, mesmo que ele tenha sim suas diferenças com os meninos, eu gosto de Jae, ele é uma boa companhia.

Respondo rapidamente confirmando e começo a arrumar minhas coisas, notando os olhares que Jimin me lança e a voz de Seung conversando com si.

- Bom, eu acho que vou indo... - digo, um tanto sem jeito, me levantando.

- Tem alguma coisa para fazer agora? - Jimin questiona e assinto, ainda mais sem jeito.

- Jae me mandou mensagem, vou me encontrar com ele.

É fácil notar a mudança na expressão de Jimin, que vacila por alguns instantes, parecendo surpresa e desgostosa. Ele não faz questão de esconder seu incômodo ao dizer:

- Jae, é?

- Eu sei que você não gosta dele e entendo que é algo que vem desde a escola. - digo, sorrindo minimamente. - Mas juro que ele pode ser legal.

Jimin revira os olhos, não parecendo acreditar em minhas palavras. Acho que, dos meninos, Yoongi e Jimin são os que mais desgostam de Jae e não fazem questão de esconder. Tae e Seokjin claramente não vão muito com a cara dele, mas conseguem suportá-lo mais.

- Até mais, gente. - falo, acenando para os dois, me distanciando da sala. Por pequenos instantes, observo Jimin e Seung conversando, notando como os dois aparentam verdadeiramente se dar bem.

Algumas coisas me intrigam em Seung, como, por exemplo, a cara fechada que toma seu rosto sempre que Taeyang está por perto. Isso me faz pensar se ele não tem sentimentos por Jimin além de uma amizade colorida, mas Jimin nunca comentou nada e talvez seja coisa da minha cabeça.

Jae está me esperando encostado em um pilar dentro do prédio de Artes, despojadamente Seu rosto é tomado por um sorriso quando seus olhos encontram os meus e ele diz:

- Como é possível você ficar cada vez mais bonito?

Sorrio, balançando a cabeça e falo:

- Você e suas cantadas, Jae. Talvez um dia eu caia em alguma delas.

- Não diga isso, me faz ficar ainda mais esperançoso em relação à você. - diz, colocando a mão sobre o peito e arrancando uma risada minha.

- Suas aulas acabaram?

- Sim, tenho aula de manhã apenas. Queria te mostrar algo. - fala, tocando a base de minha coluna, começando a me guiar.

- Vamos lá.

Entrei pouquíssimas vezes no prédio de Artes, sempre para encontrar com Hoseok. Embora sua arquitetura seja muito similar ao prédio de Economia, seu interior é completamente único. Há diversos cartazes colados pelas paredes, assim como desenhos espalhados por todos os cantos. Sem dúvidas alguma, é muito mais atraente aos olhos do que os prédios convencionais que estou acostumado.

Jae me leva até uma sala espaçosa, bastante iluminada e que possui diversas telas espalhadas por seu interior. Antes que eu questione o que quer me mostrar, ele fala:

- Essa aqui é minha. - aponta uma tela grande, repleta de cores e desenhos distintos, tomando conta de um grande espaço. É diferente, causa um certo estranhamento a princípio, mas é inevitável que há uma beleza singular em si.

- Você tem muito talento. - pontuo, sinceramente.

- Seu amigo também, Hoseok. Ele me ajudou bastante. - fala, sorrindo. Diferente da maioria de seus sorrisos, que sempre parecem carregar segundas intenções, este é calmo e sereno. - Gosto de me expressar pela arte e quero expressar você nela.

- Eu? Como assim?

- Meu professor pediu que fizéssemos uma tela, expressando por meio de desenhos e pinturas as pessoas ao nosso redor, que conversamos. Estranhamente, venho falando bastante com vocês e quis representá-los.

- O que desenhou para cada um? - curioso, questiono.

- Desenhei algo que me lembra cada um de vocês. - diz, calmamente. - Desenhei um furacão aqui, que me lembra Han. - aponta o desenho de um furacão pequeno, com traços acinzentados. - Aqui eu desenhei uma garrafa de soju, que claramente me lembra Taehyung. - acabo rindo, observando a garrafa verde desenhada ali. - Esse daqui me lembra Seokjin, é um livro, já que ele é todo certinho e inteligente. - o desenho simples, mas marcante de um livro azul está ao lado dos outros desenhos. - Fiquei pensativo quanto a Namjoon, porque não conheço muito ele, mas com a ajuda de Hoseok, desenhei um palanque. - aponta um pequeno palanque marrom, com um sorriso desenhando seus lábios. - Aí eu decidi desenhar uma bomba, que obviamente é Yoongi. - não consigo nem negar, rindo. - E esse é o desenho que me lembra Jimin.

A imagem desenhada ali é uma sombra, que ergue majestosamente, com uma perna levantada e as mãos acima da cabeça, em um círculo. Levo alguns instantes para entender o que Jae quis desenhar e, assim que compreendo, questiono para ter certeza:

- Dança?

- Isso, Jimin me lembra dança. - diz, dando de ombros. - Desde a escola ele sempre se envolveu nos projetos de dança, de apresentações e, bem, é difícil dissociar essa imagem dele.

Sorrio, pensando que Jimin não conversa muito comigo sobre dança de maneira geral, é algo que sempre fala por cima. Ele já disse e deixou claro que ama dançar, que é uma paixão sua, mas nunca pareceu querer aprofundar o assunto.

- E Hoseok, o que desenhou?

- Ah, uma parte dele está em toda a tela. Hoseok é arte pura.

- Não posso discordar de você. - confesso, sabendo o quão incrível é meu melhor amigo. - O que pensou em desenhar para mim?

- Pensei em uma câmera, que acha?

- Combina comigo. - respondo, sorrindo.

- Me ajude a desenhar então.

Escolho um tom laranja claro para que seja a cor da câmera em minha homenagem, observando Jae concentrado nos traços que desenha, sem pressa alguma. É a primeira vez que vejo Jae sério e focado em algo, desenhando com uma leveza que é difícil de perceber por conta de seu porte forte.

Conversamos durante o tempo todo e Jae me conta um pouco sobre sua época de escola, dizendo que Yoongi, Jimin, Seokjin e Tae eram conhecidos por toda a escola como o "Grupo dos estranhos", já que Yoongi era conhecido como "bizarro", Jimin como o "gay assumido", Seokjin o "certinho" e Tae o "brisado". Lembro de Jimin comentar comigo sobre isso, o peso de ser um dos poucos gays assumidos em um lugar que não é nada comum e sorrio fracamente, admirando a força de meu hyung.

- Como você era visto na escola, Jungkook?

- Eu falava com bastante gente, muito por conta de Hobi, que sempre foi mais expansivo. O problema era que eu tinha dificuldade em criar laços de fato, sabe? Eram amizades superficiais, o único de verdade era Hoseok. - apoio meu quadril na parede, cruzando os braços. - Eu era visto como um cara riquinho que não tinha grandes emoções para passar.

- Então veio para a universidade e decidiu se rebelar?

- Quase isso. - digo, sorrindo. - Acho que estou tentando me encontrar ainda.

- Bem que você podia tentar se encontrar me dando uns beijos.

Solto uma risada, revirando os olhos, recebendo um sorriso seu. Às vezes fico verdadeiramente confuso se Jae fala sério tais coisas ou não, pois sempre carrega um sorriso divertido em seu rosto.

- Seja paciente, Jae. - é o que respondo, sorrindo.

- Serei, bebê. Agora... - afastando-se da tela, ele continua: - O que achou?

Analiso o desenho de uma câmera pequena, parecida com a que tenho. Jae não parece ansioso pela minha resposta, mas sim seguro do que fez e isso apenas se comprova quando diz:

- Sei que ficou lindo, pode elogiar.

- Ficou mesmo. - confesso, assentindo. - Você desenha bem, sério.

- Eu tento. - dá de ombros, como se não fosse nada demais.

O tempo que passamos juntos é muito melhor do que imaginei que seria. Jae mantém sua postura debochada e recheada de flertes, mas o papo que temos é proveitoso e conheço um pouco mais de si. Encontramos os meninos durante o jantar, mas Jimin não está ali. Como quem não quer nada, questiono se sabem o motivo e eles dizem que não.

Quando entro em meu quarto, me decepciono ao notar que Jimin não está ali também, então resolvo tomar um banho e matar um tempo no computador até sentir mais sono. Baixo alguns filmes que Jimin comentou comigo que tem vontade de assistir e, sem que eu esperasse, ouço o som da porta do quarto abrindo, assustando-me.

- Que susto, hyung! - falo, quase caindo da cadeira. Jimin olha para mim, parecendo um tanto abatido e imediatamente me preocupo. - Está tudo bem?

- Ei, vem dar uma volta comigo. - ele diz, com a voz baixa.

Mesmo que já sejam mais de onze horas, não retruco seu pedido, apenas vou até si. Saímos do quarto, caminhando lado a lado demoradamente e fico me questionando o que aconteceu para Jimin estar dessa maneira. Ele claramente não parece bem, algo que é raro.

Reconheço o lugar quando paramos frente ao muro que ronda a área da piscina e entendo qual sua intenção em estarmos ali.

- Você não quer que a gente pule isso aqui, quer? - sussurro, recebendo um aceno seu. - Tá louco, Jimin? Isso é proibido! A piscina está fechada, podemos ser pegos...

- Ei, gatinho. - ele diz, colocando o dedo em meus lábios e o choque entre a sua pele e a minha leva a arrepios em meu corpo. - Acalma, beleza? Não seremos pegos, eu prometo. Vamos entrar um pouco, por favor...

É difícil resistir ao seu pedido quando Jimin me olha com seu olhar pidão e faz um bico com seus lábios tão volumosos. Mesmo que eu não admita, é excitante pensar em quebrar as regras, principalmente com Jimin. Caio os ombros em derrota e ele sorri um pouco, mas ainda é perceptível traços de melancolia em seu olhar.

- Você não é baixo e é forte, sei que consegue pular esse murozinho, certo? - de fato, o muro não é nada alto e consigo pular com tranquilidade. Jimin dá um impulso com o corpo, segurado no batente do muro, sentando-se. Ele me olha como se me desafiasse e imito sua atitude, não demorando para sentar no batente ao seu lado.

Em um pulo, estamos dentro da área da piscina, nos deparando com um silêncio absoluto nos rondando. Ele puxa com delicadeza meu braço, levando-nos até a borda da piscina e sentando ali.

Ainda encucado por estarmos infringindo uma regra, sento ao seu lado, olhando ao redor com receio de alguém nos pegar. Notando meu nervosismo, ele diz:

- Como foi seu encontro com Jae?

- Não foi um encontro. - apresso-me em dizer, nem eu sei o motivo. - Foi inesperado. Ele me mostrou uma tela que está desenhando, onde representou cada um de nós com um desenho.

- Ele gosta tanto assim de nós que acabou por nos homenagear? - assinto e ele franze as sobrancelhas. - Não parece muito o Jae que conheço.

- Não seja tão difícil assim com ele. - repito o que já lhe disse hoje, tentando amenizar o clima estranho entre os dois.

- Quem sabe um dia...

O silêncio volta a reinar entre nós, mas não por muito tempo. Analisando seu rosto, é fácil notar as olheiras abaixo de seus olhos, o olhar vazio e desfocado. Não gosto de ver Jimin assim, é o que consigo concluir.

- Ei, hyung. - chamo, recebendo seu olhar em mim. - O que houve?

Ele fica calado, ainda me olhando e quase penso que não irá me responder, mas ele diz, com a voz rouca e baixa:

- Eu quero fazer tanta coisa, Jungkook. Eu disse que quero viajar, não disse? É uma das coisas que quero fazer... Mas quero também assistir a mais filmes, vários. Quero ouvir mais músicas, conhecer novos artistas. Eu quero tanto, mas tanto dançar...

Sei que seu silêncio não é sinal que acabou de falar, parece mais que está recuperando o foco. Eu fico olhando-o, confuso com suas palavras, mas disposto a tentar ajudá-lo de alguma maneira.

- Eu tenho a impressão que não estou fazendo nada disso e que não farei nada disso. Parece que eu travo, parece que nada sai como eu quero. - seu olhar desvia do meu, olhando para o céu e a lua que toma conta dele. Não fico olhando-a por muito tempo, voltando minha atenção para o rosto de Jimin, mesmo que ele não olhe para mim.

- Será que você não está esperando o momento ideal? - pergunto, com receio de estar falando besteira. - Tipo, sabe quando você conversou comigo sobre a festa na casa de Go-eun? Você me disse que eu não poderia me prender a ideia de "momento certo", porque estaria apenas adiando a situação. - seu olhar volta para meu rosto e parte meu coração perceber que está ainda mais melancólico. - Talvez você esteja esperando o momento certo de fazer tais coisas e ele não existe.

- Eu sou uma farsa, Jungkook. - uma risada incrédula escapa de seus lábios e ele balança a cabeça. - Eu sou o primeiro a falar sobre experienciar coisas novas e que devemos nos entregar por completo, mas eu travo também. Eu não sou o cara que você pensa que eu sou.

Lembro das palavras de Hyo naquele dia e afasto tais pensamentos, dizendo:

- Você não é o único que se contradiz, eu faço isso também...

- Você é super centrado, metódico. Gostaria que se visse hoje, enquanto entrevistava Seung e depois a mim. Sua calma e maneira de lidar com as pessoas é única. Eu gostaria de ser assim...

- Eu não lido tão bem com as pessoas como você faz, Jimin. - digo e ele parece ultrajado com minhas palavras.

- Você lida muito bem, sim. Posso ser uma pessoa mais desinibida que você quando se trata de vida social, mas quando é sobre vida profissional, trabalho, você manda super bem. É sério, sabe o que quer.

Seus elogios levam a um rubor crescer em minhas bochechas que, provavelmente, ele não percebe por estar escuro. Jimin parece querer me dizer algo mais, porém permanece em silêncio, apenas me olhando, dando margem para eu falar:

- Obrigado, hyung. - confesso, sorrindo. - Você vai fazer tudo isso que quer, Jimin. - falo, um tanto mais sério. - Não sei o que houve para te fazer duvidar disso, mas posso te garantir que vai conseguir fazer tudo que quer.

Não acho que Jimin acredita em minhas palavras, é como se ele estivesse esgotado. O sorriso fraco que lança em minha direção não me convence nenhum pouco e ele diz:

- Te ouvir falar essas coisas é diferente. - não entendo suas palavras e ele, percebendo ou não, continua: - Você me acalma, Jungkook e isso é muito estranho.

Posso muito bem dizer que a recíproca é verdadeira, mas não digo nada porque travo por alguns segundos. Por mais que estejamos morando juntos há dois meses, nunca falamos muito sobre o que somos um para o outro: somos amigos, certo? Mas, ao mesmo tempo, parece que há algo que limita nossa relação, uma barreira invisível, que, aos poucos, sinto que é quebrada.

Espero que não seja o único sentindo isso.

- Por isso quis falar com você, sei lá. - continua, depois de alguns momentos sem dizermos nada. Para minha surpresa, Jimin parece um tanto sem jeito. - Pode ser bobagem minha...

- Você me acalma também.

A verdade sai, impulsivamente, sem que eu esperasse. A expressão de Jimin é surpresa, como se não acreditasse no que estou dizendo e acabo por sorrir, percebendo que não sou o único que fica sem jeito com ele, a recíproca (mesmo que em uma proporção completamente desigual) é real.

- Eu te acalmo? - assinto, observando seus olhos um tanto arregalados. - Não esperava por isso...

- Nem eu esperava, hyung.

O toque em meu joelho torna-se um pouco mais firme e mordo meu lábio, contendo um suspirar involuntário de meu corpo. Jimin não deixa de me olhar, diferente de minutos atrás, que mal olhava para meu rosto.

- Me fala sobre seu trabalho com Han, acha que está tudo certo?

- Eu acho que sim. Tenho que agora ouvir todas as gravações, deixar as respostas sucintas. Isso provavelmente vai demorar um tempo, já que a entrevista com Namjoon tem duas horas.

- Ele se empolga demais. Pelo menos, a entrevista de Yoongi não precisará de cortes, já que ele foi direto nas respostas.

- Ele foi mesmo, mas tenho que cortar as partes de Han brigando com ele. - Jimin ri, balançando a cabeça.

- Yoongi não muda mesmo.

- Por falar nisso, Jae comentou comigo sobre a época que estudavam juntos. - ele arqueia a sobrancelha, curioso. - Disse que você e os meninos eram... Peculiares.

- Peculiares? - repete, descrente. - Duvido que Jae usaria uma palavra tão chique.

- Hyung! - exclamo, dando um tapa fraco em seu peitoral. - Você implica demais com ele!

- Ele é chato demais... - dou outro tapa leve em si, mas Jimin segura firmemente, embora haja delicadeza em seu gesto, meu pulso, interrompendo meu tapa. Sua atitude me pega de surpresa e subo meu olhar para seu rosto, encontrando-o com uma expressão indecifrável.

Alguns segundos são preenchidos por nossa troca de olhar, até que ele diz:

- Sério que vai defender ele? - sussurra com sua voz característica marcada por rouquidão. - Hein, gatinho?

As palavras fogem de minha mente e fico apenas o encarando, sem dizer nada. Jimin sorri de canto, como se soubesse que me deixa sem jeito e diz:

- Não vai me responder?

- Não estou defendendo. - amém que minha voz não saiu gaguejada. - Você e Yoongi são muito difíceis com ele, já te disse isso.

Esbanjando seu irritante e intimidante sorriso de canto, ele diz:

- Relaxa, gatinho, estou brincando com você. - solta delicadamente meu pulso e arfo, sem entender minha própria reação. - Não gosto mesmo dele, mas sei que curte ele...

- Isso te incomoda?

- Vocês serem amigos? - assinto e ele nega, imediatamente. - Não é por eu não gostar dele que isso te obriga a se afastar dele. Se dei essa impressão, não foi minha intenção...

- Ah, não, hyung, relaxa. Eu acabo pensando demais.

Jimin é uma das pessoas em minha vida com quem eu mais gosto de conversar. Gosto de suas opiniões, assuntos e maneiras de seguir por diversos tópicos, sem deixar de ser interessante. Ouvi-lo falar é singular, porque Jimin não fala apenas com seus lábios, mas com o corpo todo. Seus gestos são parte de sua comunicação, seja o movimento de suas mãos ou seus sorrisos presentes durante sua fala.

Mas, neste momento, noto que também gosto de ficar em silêncio ao seu lado. Algumas vezes é desconfortável, principalmente quando discutimos, mesmo que seja por uma besteira. Agora, nessa noite que toma rumos inesperados, o nosso silêncio é quebrado quando ele diz, olhando-me fixamente:

- Saia comigo no sábado, só nós dois.

Sair? Só nós dois? Isso é algo que nunca fizemos antes, desconsiderando o dia que nos encontramos por acaso no shopping. Saímos para rolês juntos, conversamos em nosso quarto e pelo campus, mas nunca saímos dele, apenas nós dois. Por isso, eu fico surpreso por seu pedido e ansioso.

Onde podemos ir? Será que ele quer sair durante à tarde ou à noite? Por que isso agora?

- Está pensando em maneiras de me dizer não, Jungkook?

Volto meu foco para si, deparando-me com uma expressão divertida e apresso-me em dizer:

- Claro que não, eu quero sair com você sim, hyung! Eu me perdi em meus pensamentos. - respondo, um tanto envergonhado comigo mesmo. - Onde vamos?

- Surpresa.

- Não vai me dizer? - ele nega, sorrindo. - Ah, hyung, mas como saberei como me vestir?

- Não é nada formal, gatinho.

- Mas que horas vamos? Com o horário, consigo ter uma noção maior... - ele sorri, subindo sua mão até meu queixo e apertando, sem força.

- Vamos antes do pôr do sol, mas ficaremos até a noite.

Não consigo pensar no lugar que Jimin quer me levar, mas assinto, começando a ponderar a roupa que vestirei.

- Tudo bem, hyung.

- Provavelmente vou marcar um ponto de encontro contigo, beleza? Quero passar na casa de meus pais antes de irmos.

- Combinado então. - sorrio, animado com nossa saída.

- Que vocês dois estão fazendo aí? - uma voz grita, levando-nos a dar um pulo, assustados. Rapidamente, vejo a figura do guarda, tentando encontrar a chave que abre o portão, não parando de gritar que nós dois somos irresponsáveis e delinquentes.

- Vem, Jungkook! - Jimin diz, segurando meu braço e puxando-me até o muro. Em um instante, nós dois pulamos, logo caindo para o outro lado. Não paramos de correr, sem olhar para trás até o ar se fazer necessário e nós dois pararmos, tentando regular nossas respirações.

Mesmo que esteja visivelmente cansado, Jimin exibe um sorriso em seu rosto, enquanto eu devo estar com os olhos completamente arregalados.

- Quase fomos pegos, Jimin, meu deus! - exclamo, dando um tapa leve em seu braço.

Não estou verdadeiramente bravo, mas o que teria acontecido se tivéssemos sido pegos?

- Relaxa, deu tudo certo, Jungkook! - sorrindo divertido, estala a língua no céu da boca, balançando a cabeça. - Que eu faço com você, hein? Relaxa um pouco...

O estilo de diversão de Jimin é claramente diferente do meu, então apenas reviro os olhos, mesmo que um sorriso pequeno nasça em meu rosto.

- Vem, vamos pegar algo pra comer que essa adrenalina me deu fome. - falo, caminhando até a lanchonete mais próxima, tendo Jimin ao meu alcance.

- Você come bastante, não é? - ele brinca e reviro os olhos mais uma vez.

- Ah, não enche! - mesmo que pareça bravo com si, meus pensamentos rapidamente vão para nossa saída no sábado e não deixo de pensar sobre a roupa que vestirei.

Não deixo de pensar sobre isso nem no dia seguinte, quando estou com Han em meu quarto e de Jimin, editando os áudios para nosso trabalho. É bater os olhos em Jimin que fico ainda mais pensativo, sem conseguir decidir algo tão simples como a roupa que vou usar.

Acho que o que me deixa mais angustiado é não saber para onde vamos e isso não acontece comigo, essa surpresa. Fico agoniado quando não sei das coisas.

Felizmente, dada minha natureza estudiosa, consigo dispersar meus pensamentos na sexta feira de manhã, que é quando eu e Han temos aula de Pensamento Crítico, uma das matérias que mais acho interessantes no curso. Como de costume, Han está tirando um cochilo com a cabeça sendo sustentada por sua mão, posição que eu considero estranhíssima para alguém conseguir pegar no sono, mas ele o faz com maestria.

Na tela do meu celular, uma chamada é recebida e estreito os olhos, surpreso e hesitante ao ver quem está me ligando. Meu questionamento dura por poucos segundos e logo estou com o celular em mãos, saindo da sala para atendê-lo.

- Pai? - questiono, como se para ter certeza que é ele quem está me ligando.

- Jungkook, desculpe atrapalhar sua aula. Ia ligar ontem para você, mas fiquei muito atarefado. - a voz de meu pai, que não ouço há um tempo, ecoa pelo celular e mordo meu lábio, já sabendo que sua ligação não é para bater papo. Eles nunca fazem isso, não fariam agora.

- Pode falar, tudo bem.

- Precisamos que esteja aqui no sábado, umas quatro horas da tarde.

Quatro horas, no sábado... Ah, não, é no horário que sairei com Jimin, não pode ser...

- Eu não posso, pai, eu tenho com...

- Conhece os Choi, certo? A filha mais nova deles está fazendo uma exposição de artes e ele convidou todos da empresa. - ignorando minha fala, ele continua a falar. - É bom estar lá, sabe muito bem disso.

- Mas, pai, eu não posso...

- Jungkook, vai ser bom para você sair um pouco desse lugar, não acha? - é isso que estou tentando te dizer: é o que eu farei saindo com Jimin, mas não digo nada, ouvindo meu pai voltar a falar: - Vai ser interessante, você conversava com a filha deles, não?

- Sim, eu conversava com ela. Mas, pai, não po...

- Você sabe como é importante para nós. - a voz é mais firme e séria, mostrando que não está aberto a discussão. - Espero você aqui amanhã, às quatro horas.

A ligação é finalizada e fecho os olhos, nervoso comigo mesmo. Por que não consigo rebater as coisas que me diz? Por que não consigo dizer não?

Eu queria tanto sair com Jimin amanhã, mas não sei como. Meus planos foram ladeira abaixo, como normalmente acontece quando meus pais se fazem presentes em minha vida.

Para piorar, Jimin me manda uma foto com os seguintes dizeres "Estamos aguardando você e Han ansiosamente para nosso almoço tradicional", próximo do fim da aula. Jimin está de olhos fechados na foto, fazendo um v com os dedos e uma touca preta cobre seus cabelos loiros.

Não consigo responder nada, me sentindo culpado por precisar desmarcar nossa saída juntos, sentindo raiva de mim e de meus pais.

Esforço-me ao máximo para não transparecer minha chateação quando a aula acaba e Han conversa comigo, também quando decido sentamos à mesa do refeitório, cada um com sua bandeja de comida.

Meus olhos não fixam-se no rosto de Jimin, por saber muito bem que não tenho ideia em como lhe dizer que não vamos mais sair amanhã. Porra, eu estava tão animado.

- Que houve, Jungkook? - a voz de Hoseok me tira de meus pensamentos. Felizmente, seu tom é baixo, sussurrado e dou-lhe um sorriso fraco ao dizer:

- Meus pais.

Minha resposta é o suficiente para meu amigo entender que não estou bem e que conversaremos depois, assentindo fracamente ao apertar meu braço em um gesto de apoio.

- Que dia é sua apresentação, Seung? - Seokjin pergunta, analisando o rosto do citado enquanto come seu pedaço de bife.

- Que apresentação? - pergunto, curioso.

- Ah, eu e mais umas pessoas vamos nos apresentar daqui duas semanas, no festival. - diz, casualmente. Franzo a minha sobrancelha, confuso sobre que festival ele está falando e Seokjin percebe, já que diz:

- Não ouviu falar do festival? - nego e ele continua: - Temos esse festival no começo do período letivo e no final do ano também. Abrimos as portas do campus para as pessoas o visitarem, a fim de conhecerem a universidade e os cursos, se interessarem e eventualmente tentarem vir para cá.

- Tem diversas palestras, apresentações e cada curso tem um espaço, onde estudantes conversam com as pessoas interessadas, explicam sobre o curso e tiram dúvidas. - Jimin comenta. - Vocês não vieram ano passado, quando pensaram em vim para cá?

- Não, acabamos não vindo. - respondo, lembrando de Daeshin comentar acerca de tal evento, no final do ano passado, quando a Hanyang era uma opção de nós dois e Hoseok. Ele chegou a vim com alguns amigos, mas eu e Hobi não conseguimos comparecer.

- Eu lembro disso! - como se lesse meus pensamentos, meu amigo exclama. - Íamos vir, mas tínhamos uma prova importante na escola durante a semana e Jungkook me convenceu que estudar era o melhor. Lembro que Donghae veio, não foi? Ele veio com uma galera, acho que Daeshin também...

Imediatamente, meu amigo para de falar, visivelmente arrependido de suas palavras. Desde que eu terminei, percebo claramente que nenhum deles comenta sobre Daeshin, sempre temendo minha reação. Eu mesmo não comento sobre meu ex namorado, mesmo que em algumas situações acabe lembrando de acontecimentos que o envolvem.

Agora, meu amigo fita meu rosto parecendo se sentir culpado e não quero que ele se sinta assim, em hipótese alguma. É fácil notar como os meninos também demonstram certa tensão, lançando-me olhares de canto, exceto por Jimin, que olha me olha como se nada tivesse acontecido.

- Então você vai apresentar neste evento? - pergunto para Seung, como se o clima não tivesse tornado-se estranho.

- Sim, vou. Vamos apresentar uma dança que estamos trabalhando há um tempo. Fico receoso, porque o dia está chegando e parece que ainda não está bom o suficiente.

- Está muito boa, Seung, não canso de te dizer isso. - Jimin comenta, sorrindo para o rapaz ao seu lado, que imediatamente fica com as bochechas vermelhas.

- Vamos assistir sua apresentação. - Han fala. - Acho que nunca vi uma apresentação de dança, para ser sincero.

- Até porque você só vai em rolês que envolvam bebidas alcoólicas. - Yoongi comenta sem nem olhar para Han.

- Dá um tempo, projeto de emo. - Han retruca. - Aliás, vamos sair amanhã? Preciso beber muito depois dessa semana.

- Tô falando que você só sabe beber. - novamente Yoongi alfineta Han, que revira os olhos e diz:

- Por que será que preciso beber, hein? Porque tem um idiota que não sabe responder uma pergunta, só sabe dizer "sim", "não'..

- Vocês dois têm que parar, pelo amor! - falo o que disse várias vezes durante a entrevista de Yoongi. - Não falem um com o outro, simples.

- Ele que se intromete. - cruzando os braços, Han continua: - Enfim, queridos amigos e projeto de emo, querem sair amanhã?

Jimin olha para mim, com um sorriso divertido emoldurando seu rosto e não sei se ele irá dizer que sairemos juntos. O pior é que não vamos sair juntos amanhã, não quando meus pais estão me obrigando a ir nessa exposição.

- Já tenho compromisso, não vou poder. - Jimin diz, sem desviar os olhos do meu rosto. Ele não quer dizer que sairá apenas comigo? Tipo, ele se incomoda dos meninos saberem que vamos sair só nós dois?

- E eu vou para a casa de meus pais, desculpa, Han. - Seokjin responde, culpado.

- Eu topo sim, Han! - Tae, animado como normalmente está, diz. - Você vai também, não vai, Hoseok?

- Vou. Jungkook, Seung... E vocês, topam? Yoongi eu sei que vai, mesmo que se faça de difícil.

- Eu tenho compromisso também. - com um bico em seus lábios bonitos, Seung fala.

As atenções recaem em mim e digo, rapidamente:

- Não posso também.

- Vocês são muito chatos! - Han reclama. - Quando encontrar Namjoon vou perguntar se ele quer ir e chamo Jae também.

- Não acredito que vai chamar esse otário!

Obviamente é Yoongi quem diz e os dois voltam a discutir durante todo o almoço, mas não presto muito atenção, imerso demais em meus pensamentos e no que direi para Jimin. Meu amigo claramente percebe minha introversão e me chama para conversar quando acabamos de comer.

Caminhamos até a praça que fica perto do prédio de Economia e, durante o caminho, observo as flores desabrochando pelas árvores, denunciando a primavera que se expande por todo lugar.

- Eu tenho uma ideia do que pode ser. - diz, sentando ao meu lado no banco. - Meus pais comentaram comigo sobre a exposição que Nari vai fazer amanhã, mas disse que não queria ir, mesmo gostando muito de arte. Esse tipo de evento é um monte de gente chata se sentindo inteligente por olhar um quadro, não entendem o que é a arte de verdade, sabe?

- Você sempre reclamou comigo sobre isso. - comento, esfregando meu rosto. - Supôs então que meus pais tinham me obrigado a ir?

- Exatamente. - um sorriso fraco toma seus lábios e ele suspira. - Quer que eu vá com você?

- O problema não é nem esse. - confesso. - Jimin... Jimin me chamou para sair amanhã, sabe... Mas agora meus pais vieram com essa ideia de exposição e vou precisar desmarcar com ele, mesmo não querendo.

- Ele te chamou para sair? - seu tom é surpreso e assinto. - Aonde vocês vão?

- Ele não disse, falou que era surpresa.

- Ah, Jungkook, que merda. Eu posso ir com você nessa exposição, sério...

- Não, Hobi, relaxa, de verdade. - digo, sorrindo fracamente. - Aproveite o rolê com os meninos e para controlar Han e Yoongi,

- Vou precisar, hein, os dois não param de brigar.

Como costuma fazer, Jimin some pelo restante do dia e acabo não conseguindo conversar com si para desmarcar nossa saída amanhã. Mando algumas mensagens, perguntando onde está, mas Jimin não as visualiza. Ao acordar, Jimin não está no quarto e, dado o estado de sua cama, não dormiu aqui. Jimin não arruma sua cama e ela está completamente organizada (como eu arrumei ontem, já que sempre arrumo sua cama).

Pego meu celular, sabendo que o único jeito é mandar mensagem cancelando nossa saída.

Hyung, eu esperei você ontem para lhe dizer, mas como não apareceu, vou falar por aqui mesmo. (10:21)

Meus pais me chamaram para ir em uma exposição e vou precisar ir. (10:21)

Não vou poder sair contigo, desculpa mesmo, Jimin. (10:22)

Espero uma resposta sua, olhando o celular várias vezes ao longo do dia, notando que Jimin visualiza minhas mensagens, mas não responde nada. Ele está bravo comigo?

Esse pensamento não sai de minha mente, mesmo quando estou em meu antigo quarto, olhando-me através do grande espelho. Como era de esperar, meus pais não conversaram comigo acerca da minha última visita, apenas disseram que minha roupa estava em meu quarto e que podia começar a me arrumar.

A roupa escolhida por minha mãe é uma calça social escura, grudada em meu corpo, com uma camisa de mangas longas e de gola alta preta. Segundo minha mãe, eu fico bem de roupas escuras, então normalmente me compra roupas nesse tom.

Analiso minha imagem, sentindo que a calça ficou mais colada do que imaginei, porque sinto ter engordado um pouco desde que comecei na faculdade. Meus cabelos, já secos e bem penteados, deixando minha testa à mostra, emolduram meu rosto maquiado por minha mãe.

- Já vamos. - ouço a voz de meu pai na porta do quarto e levo meu olhar até si, encontrando-o como sempre está: bem vestido e emanando classe.

Jeon Hayun é um homem bonito, elegante e social. Diferente de minha mãe, que mantém uma expressão neutra em seu rosto bonito, meu pai é mais falante, sempre conversando com as pessoas ao seu redor e sendo simpático. Não é à toa que é querido por várias pessoas, mesmo que eu tenha a teoria que, no fundo, os dois lados sabem que estão sendo falsos um com o outro. Minha mãe sempre me disse que, em um relacionamento, temos que ter os dois lados de uma mesma moeda. É importante manter a seriedade como minha mãe faz e também a sociabilidade, que meu pai possui. Para ela, no meu caso e de Daeshin, ele era a pessoa simpática e eu a que deveria manter a impassividade.

Com um de seus usuais ternos, dessa vez sendo azul marinho, meu pai sorri minimamente para mim e diz:

- Como está na faculdade? - sua pergunta me surpreende um pouco, já que imaginei que não gostaria de conversar comigo.

- Ah, está tudo bem. - respondo, um tanto sem jeito.

- Fez novos amigos? - o tom, que facilmente poderia ser confundido por preocupação e afeto por alguém que não conhece meu pai, é a resposta que não sabia que precisava: ele está curioso para saber as pessoas com quem me relaciono, se são do "nível" que considera o ideal.

- Alguns. - é o que me limito a dizer, mas ele não está nada satisfeito, pois continua:

- Como eles são? Deveria nos apresentá-los, Jungkook.

- O que está querendo saber? - minha voz não é brava, apenas pergunto logo de uma vez a fim de acabar com esse interrogatório.

- Eu sei que sua mãe já lhe disse algumas coisas, mas sinto que você não as entendeu. - apoia o quadril no batente da porta, arregaçando suas mangas, calmamente. - Algumas coisas precisam ser reforçadas.

- Não vou voltar com Daeshin, pai. - nervoso, rapidamente confesso.

- Sua mãe não se importa com você gostar de outros homens, para ela isso não é nada demais. Para mim, não é exatamente assim. - os olhos, tão escuros como os meus, olham-me atentamente. - Claro que eu preferia que você estivesse namorando uma mulher, casasse e tivesse filhos, não vou mentir. Eu não vou te deixar de lado por você ser gay, mesmo que isso não me agrade. Mas você está se deixando de lado.

- Pai, Daeshin veio aqui, certo? E mãe disse que ele contou que me traiu, várias vezes. Isso é apenas a ponta do iceberg e já não é motivo de terminar?

- Você precisa entender o lado dele, Jungkook. Essas coisas acontecem, você pode perdoá-lo e tentar mais uma vez. Ele gosta muito de você.

- Entender o lado dele, pai? Eu nunca pensei em traí-lo, nem nada assim. Não confio mais nele. - minha voz sai embargada e forço ao máximo para não chorar, algo que fiz poucas vezes na frente de meus pais.

- Beijar umas pessoas durante uma festa de faculdade? Isso é o de menos, Jungkook. Conhecer um cara que desperte sua atenção durante uma viagem? Algo que pode ser entendido também.

Travo por um instante, pensando no que me disse. Algo não se encaixa em sua fala...

- Mãe não parecia saber que Daeshin me traiu quando viajou no começo do ano. - falo, pausadamente. - Ela só comentou das traições em festas...

Conheço meu pai desde que eu me entendo por gente e, justamente por isso, é notável algumas peculiaridades suas. Muitas delas dizem que eu também possuo, que herdei dele. Posso não conhecer quem meu pai é como homem, como pessoa, mas seus trejeitos são claros para mim.

Então é óbvio que meu pai esconde algo, cutucando sua bochecha com a língua, hábito seu que faz quando está nervoso que também o faço.

- Como você sabe que ele me traiu durante essa viagem que fez? - a voz embargada que questiono demonstra meu receio pela resposta.

- Ele me contou.

- Quando ele te contou?

- No começo do ano, assim que voltou de viagem. - a frase é dita como se não houvesse nada demais em seu conteúdo e arregalo meus olhos, entendendo seu significado.

- Você sabia desde o começo do ano que Daeshin me traiu? - torço, sinceramente, para ter entendido errado e ser outra interpretação. Sinto meu coração acelerar quando o vejo assentir, cruzando os braços.

- Ele ficou se sentindo mal e veio conversar comigo. Tivemos uma conversa séria e foi isso.

- Foi isso? Pai, por que não me disse nada? Escondeu isso de mim durante todos esses meses como se não fosse nada? - mais magoado que qualquer outra coisa, disparo.

- Jungkook, tente entender: eu e Daeshin sempre conversamos muito, gosto muito dele. Por isso, estranhei o fato de ter demorado a contar sobre o término de vocês. - o que mais me impressiona é a maneira que fala tais coisas: como se não fossem nada para eu reclamar, casualmente contando sobre sua relação com meu ex namorado. - De qualquer forma, conversávamos muito e ele me contou uma vez sobre... A vida sexual de vocês.

De tudo que meu pai poderia me dizer, a última coisa que eu esperava era essa: meu pai e meu ex namorado conversavam sobre sexo?

Minha indignação e confusão é tão óbvia que não consigo dizer nada, permaneço olhando-o em pura negação.

- Ele me contou que você era... Não sou muito familiarizado com os termos, mas passivo, certo? E ele era o ativo.

- P-Por que falaram sobre isso? - com a voz falhando e as bochechas provavelmente estourando em tons vermelhos, pergunto.

- Estávamos bebendo e conversando, perguntei um pouco sobre o relacionamento homossexual, já que não tinha ideia como funcionava. Ele comentou comigo como funcionava entre vocês, mas o que quero realmente dizer é outra coisa. - ele dá alguns passos, parando à minha frente. - É como relacionamentos entre um homem e uma mulher, o homem, quem é o ativo, acaba sentindo mais necessidade, entende?

- Não, não entendo.

- É compreensível que ele tenha te traído, filho, já que ele é o ativo. Ele acaba tendo mais necessidades que você, já que você é o passivo, assim como acontece com as mulheres.

Não, não pode ser. Já não basta ele esconder de mim sobre a traição de Daeshin, agora ele vem dizer isso, justificando a traição dele?

- Ele é tão gay quanto eu, pai. Não é por eu ser o passivo que sou mais gay. - claro que as palavras saem com dificuldade, muito pela vergonha que sinto em falar sobre tais assuntos com meu pai, mas a irritação fala mais alto.

- O que importa realmente é que tudo isso é para você entender o que aconteceu e perdoá-lo. Daeshin te ama, você o ama, pronto, agora pare com essa palhaçada e volte com ele. - a mudança em seu tom de voz é brusco, antes calmo, até mesmo cínico, agora é completamente ríspido e irritado. - Estamos te esperando lá embaixo, não demore.

É com essas palavras que ele me dá as costas, me deixando sozinho em meu quarto, letárgico. Não evito algumas lágrimas caírem de meus olhos, repassando as palavras que me disse.

Ele sabia, sabia que Daeshin tinha me traído e não me disse nada. Como meu próprio pai pode ter sido conivente com uma situação dessas? Como ele pode querer usar o fato de eu gostar de ser passivo para justificar a traição de Daeshin?

Retoco a maquiagem, sabendo que, daqui para frente, vou assumir a posição do Jungkook filho dos Jeon: cabeça levantada, olhar neutro e postura em uma mistura de classe com superioridade. É assim que minha mãe me ensinou a me portar, já que nunca fui muito sociável e extrovertido, então o melhor, segundo ela, é eu ficar mais na minha, observando a tudo e todos.

Mal olho para meus pais quando desço até a sala e os encontro ali, notando rapidamente o vestido branco que minha mãe usa, sempre com a aparência angelical e intimidadora. O trajeto é feito em silêncio e checo algumas vezes meu celular, torcendo para alguma resposta de Jimin, mas não há nada.

A galeria na qual o evento ocorrerá é conhecida pela alta classe de Seul: esbanjando janelas imensas e uma porta principal, dupla e de vidro também, que transparece não apenas o que há ali dentro, mas também classe, alta classe. A entrada simples, mas chamativa, deixa muito claro que não é um evento para qualquer pessoa, claro que não. A delicadeza que a galeria possui é um convite para apenas pessoas de alta classe pisarem ali, já que é frágil demais para que alguém que não entenda seu valor tocá-la.

É bizarro perceber como esse é o pensamento de praticamente todas as pessoas ali, relacionando-se dentro de uma bolha na qual não estão dispostas a sair.

Na entrada, o segurança controla o fluxo de pessoas, conferindo se estas estão na lista de presença. Observando ao redor, reconheço alguns casais que meus pais já me apresentaram e fiz questão de decorar todos os nomes e rostos, para nunca esquecer quem são.

O piso completamente branco toma conta de toda a galeria e a sensação que traz é de casualidade, mesmo que aja traços de intimidação em si. Estranho notar que, claramente, a exposição não será feita no salão principal, já que não há nenhum resquício de quadros ou painéis.

- Bem vindos ao futuro onde não há nada do que conhecemos hoje. - uma voz ressoa pelo salão, feminina e robotizada. - Um universo diferente do que conhecemos, renovado e singular. Nem todos entendem seu significado, mas será que temos que entender tudo, o tempo todo? Descubram ao se aventurarem na imensidão que rege esse lugar. Mas lembrem-se: vocês não sairão os mesmos que entraram.

É com esse recado que algo no ambiente parece se modificar, as luzes diminuem e uma porta à frente é iluminada por um verde fluorescente, chamando atenção. Algumas pessoas começam a ir até a porta, mas meu pai diz:

- A filha de Choi está louca? Que porcaria de exposição é essa? - o que mais me assusta é ver que sua expressão é simpática, diferente de suas palavras ácidas.

Tudo pelas aparências, como sempre.

- Vamos entrar logo, Hayun. - com um toque singelo no braço de meu pai, os dois começam a andar, mas fico para trás, procurando por algum garçom.

É fácil achá-lo e não demoro para pegar uma taça de champagne, tomando-o devagar, saboreando o gosto. Procuro por Nari, a filha dos Choi, mas não a encontro. Ela sempre foi muito simpática comigo e até mesmo meio doidinha.

O que me deixa embasbacado, quase fazendo-me derrubar a taça que carrego é encontrar outra pessoa que não imaginei que encontraria.

Seu terno é chamativo e singular, vermelho nas três peças que o compõe: a calça social não tão justa, mas que ainda assim marca seu corpo, a camisa social com o primeiro botão aberto e o blazer finalizando o conjunto que não apenas chama minha atenção, mas de algumas pessoas ao redor. Os cabelos perfeitamente alinhados, deixando sua testa à mostra e seus olhos ainda mais ferinos, observando o ambiente. A taça em suas mãos é levada com leveza até seus lábios e os olhos passeiam pelo salão, como se fosse um caçador procurando sua presa.

Nossos olhos se conectam e um sorriso mínimo nasce em seus lábios, seus passos caminham até mim, sem pressa alguma. Ainda mais perto de si, noto que o piercing em seu lábio apenas contribui para que sua aparência transite entre elegância e descontração.

Não dizemos nada por um instante, meus olhos, arregalados e presos à sua imagem, não apenas entregam minha surpresa e confusão por sua presença, mas também minha admiração por estar tão bonito como agora.

- Tudo bem, gatinho? - é ele quem quebra o silêncio, mantendo seu sorriso de canto, divertindo-se com a situação.

- Jimin... - tentando colocar meus pensamentos em ordem, olho ao redor. - O que está fazendo aqui?

- Eu vi sua mensagem. - calmamente, bebe um gole de champagne e observo seus vários anéis envolvendo seus dedos. - Trombei com Hoseok e ele me explicou que seus pais o chamaram para ir nessa tal exposição, mas que você não queria. Ele me disse então que poderia me colocar dentro da exposição, se eu quisesse.

A família Jung é imensamente influente, não é à toa que meus pais gostam tanto de minha amizade com Hoseok. Não me surpreende em nada que tenha conseguido fazer Jimin entrar nessa exposição.

- E por que você quis? - a dúvida que ronda meus pensamentos é verbalizada e recebo mais um sorriso de Jimin.

- Você gostaria de sair comigo, não? - concordo, incerto sobre onde quer chegar. - Podemos ficar juntos aqui e depois darmos um perdido.

- Um perdido? Quer dizer para fugirmos?

- Não exatamente. - ele aproxima-se de mim, diminuindo o tom de voz. - Mas a gente nunca sabe o que pode acontecer, não?

Não entendo o significado por trás de suas palavras e não é como se Jimin parecesse disposto em me explicar no momento. Levo a taça novamente até meus lábios, finalizando seu conteúdo e observando que algumas pessoas olham Jimin, discretamente.

Provavelmente estão confusas quanto a essa figura chamativa que nunca viram antes, mas também há algumas mulheres fitando-o com malícia no olhar. Franzo o cenho para tais olhares, mas Jimin toma minha atenção novamente quando diz:

- Você está muito bonito, Jungkook.

Meu olhar volta para seu rosto e sinto minhas bochechas corarem. Não é a primeira vez que Jimin me diz algo do tipo, mas elogios sempre me deixam envergonhado.

- Você está muito bonito também, hyung. - confesso, porque seria um pecado não dizer a Jimin o quão estonteante ele está.

- Taehyung me emprestou essa roupa, é de quando ele era um pouco menor, então acabou servindo. - finaliza sua taça de champagne, lambendo os lábios demoradamente. Ele segura a minha taça e coloca ambas em uma mesa próxima a nós, sem tirar os olhos de mim. - Tem só uma coisa que não gostei em você.

- O que?

- Sua maquiagem está cobrindo essa sua pinta aqui. - lentamente sua mão sobe até meu rosto, segurando meu queixo enquanto seu polegar acaricia a pintinha que tenho abaixo de meus lábios.

Prendo a respiração momentaneamente, experienciando uma agitação invadir meu corpo e levar meus olhos a manterem-se fixos aos seus, que não focam em meus olhos, mas sim em seu polegar.

Não gosto de quando as pessoas me tocam sem que eu espere, como Jimin está fazendo nesse instante. Não é a primeira vez que Jimin me toca e, curiosamente, seu toque não é repelido por meu corpo. Percebo que, especialmente hoje, a sensação de seu toque, suave e marcante em minha pele, não é incômodo. Nada incômodo.

- Minha mãe não gosta dessa pinta, sempre que faz minha maquiagem acaba cobrindo. - as palavras saem sussurradas.

- Ela está terrivelmente enganada. - os seus olhos sobem aos meus e, por alguns segundos, esqueço acerca de onde estamos, voltando à realidade quando ouço:

- Jungkook, você veio!

Tudo dissipa-se, Jimin retira a mão de meu rosto rapidamente e viro meu corpo para encontrar Nari, sorrindo para mim. Seu vestido verde escuro é longo, com uma fenda deixando sua perna à mostra e a maquiagem carregada contornando seus olhos bonitos, que olham para Jimin com curiosidade.

- Oi, Nari. Esse é Jimin, amigo meu e de Hoseok. - ela se aproxima, estendendo a mão para Jimin, que a segura e lhe deixa um selar suave.

- São amigos de faculdade? - ela pergunta, sem desviar os olhos de Jimin.

- Sim, somos colegas de quarto. - Jimin responde, com as mãos dentro do bolso de sua calça.

- Preciso conhecer seus amigos de faculdade, Jungkook! - ela comenta, sorrindo. - Depois que foi para lá nunca mais te vi.

- Acabei indo poucas vezes para a casa de meus pais, fiquei mais pelo campus mesmo.

- Eu estou ansiosa para me formar no começo do próximo ano. - confessa, mordiscando seu lábio inferior. - Vou mandar convite para vocês quando acontecer. - ela analisa Jimin uma última vez antes de eu me tornar alvo de seu olhar curioso e sorri de canto, ao dizer: - Onde está Hoseok, por sinal? Não o vi até agora. E Daeshin, onde está? Faz tempo que não o vejo também.

A família Choi é grande conhecida na alta classe de Seul, já que possui diversos investimentos espalhados pelo país, inclusive na empresa em que meus pais trabalham e na que os pais de Hoseok são acionistas. Obviamente conhecem os Lee, pais de Daeshin, já que ambos são populares entre essas pessoas. Então é claro que Nari conhece Daeshin, já estivemos juntos, embora não fôssemos amigos verdadeiramente.

Sua indagação me leva a engolir em seco, pois não gosto de falar sobre ele e ter que explicar que terminamos. As indagações passam por meus pensamentos velozmente e logo estou respondendo:

- Hoseok não veio hoje e não sei sobre Daeshin. Não estamos mais juntos.

Sua face adquire surpresa, suas sobrancelhas se franzem e ela fala:

- Como assim não estão juntos? O que aconteceu?

Nari sempre falou o que pensa e não é diferente agora, suas perguntas me deixam um pouco sem jeito, mas não demonstro minha hesitação, permaneço transparecendo tranquilidade.

- Não estava mais dando certo. - é o que respondo, não querendo estender o assunto.

- Meu deus, eu imaginei que iriam ficar juntos para sempre. Pareciam tão apaixonados. - não gosto das lembranças que me tomam quando ouço suas palavras. Sinto-me um pouco menos seguro de meu porte, sabendo que estou entregando em meus gestos meu nervosismo.

- Agora vamos experienciar sua exposição, Nari. - com um sorriso tomando seu rosto bonito, Jimin diz, tocando sutilmente o final de minha costas com sua mão. - Foi um prazer conhecer você.

- Me procurem depois! Eu espero que gostem. - sorrindo, aproxima-se um passo de Jimin, olhando de cima abaixo. - Foi um prazer realmente te conhecer, Jimin. Pede para Jungkook meu número.

Ela se afasta quase saltitando e agradeço Jimin por ter mudado de assunto, em um sussurro. Ele apenas sorri para mim, guiando-me com sua mão em minhas costas, até chegarmos à frente da porta que dá entrada à exposição de Nari.

- Está preparado, Jeon? - seu sorriso divertido relaxa meu corpo e sorrio de canto, tombando a cabeça.

- Sempre estou, Park.

Assim que atravessamos a entrada, a única coisa que consigo enxergar é um ponto de luz mais à frente. Está completamente escuro e, aos poucos, uma música começa a ser tocada, baixa. O som é relaxante, mas há algo curioso em sua melodia: é uma calmaria tão profunda que assusta.

Sinto dedos envolvendo os meus, cuidadosamente e uma voz sussurra:

- Não se perca de mim.

Felizmente Jimin não vê o sorriso mínimo que nasce em meus lábios e aperto com um pouco mais de força seus dedos, nenhum pouco a fim de me perder de Jimin. O trajeto até a luz é feito e entramos em mais uma porta, nos deparando agora com uma grande sala e diversos quadros espalhados pelas paredes, além de um extenso mural localizado no meio do ambiente, com várias pessoas ao redor. Os quadros retratam diferentes situações: alguns deles são feitos com cores vibrantes, transmitindo uma mensagem de ansiedade e medo; já outros são desenhados com cores leves, que contrastam com a iluminação fraca que domina o espaço.

Jimin solta minha mão e concentro minha atenção aos quadros que dominam o ambiente, não querendo pensar em como é estranha a sensação de não sentir seus dedos em contato com os meus.

Honestamente, não entendo nada que Nari quer passar com suas pinturas e me sinto um tanto mal, já que meu melhor amigo é apaixonado por artes e eu não consigo interpretar uma exposição.

Jimin olha com interesse um quadro à nossa frente, parecendo concentrado. Um tanto encabulado por não estar entendendo porcaria nenhuma, acabo por soltar um leve suspiro que, ao contrário do que imagino, ele escuta.

- Não estou entendendo porra nenhuma disso aqui.

Poderiam ser minhas palavras, mas é ele quem diz, sorrindo de canto para mim. Acabo sorrindo, aliviado por não ser o único confuso.

- Nossa, hyung, eu achei que fosse o único. Não estou entendendo nada, é tudo tão...

Não termino a frase, mas poderia usar a palavra que melhor se encaixa para descrever diversos aspectos da minha vida: estranho.

- Sua amiga é talentosa, isso eu posso dizer. Os traços são muito bem feitos, acho que não somos cultos para conseguirmos interpretar a mensagem.

- Tenho que concordar. - com um sorriso no canto de meus lábios, continuo: - Não imaginei que te veria tão formal como agora.

- E o que achou, gostou? - com as mãos descansando nos bolsos de sua calça, ele sorri muito seguro de si e reviro os olhos, embora ainda sorria.

- Eu te disse que está bonito, não?

- Disse sim. - olha ao redor, com curiosidade. - Esse é o tipo de festa que você frequenta?

- Praticamente isso, mas a maioria é muito mais tediosa, te garanto.

- As pessoas aqui são singulares. Todos são muito bem vestidos e alguns possuem sorrisos nos rostos, outros são sérios, dá até medo. - sorrio com sua fala, assentindo.

- Acho que já estou acostumado. - confesso, um pouco preocupado ao pensar se sou assim também. Sou como essas pessoas?

- Estávamos te procurando! Quem é o rapaz? - meu coração gela quando ouço a voz de meu pai atrás de mim, arregalando os olhos.

A última coisa que queria era apresentar Jimin aos meus pais, por inúmeras razões. Jimin não é o tipo de cara que meus pais consideram "uma boa amizade", tanto por sua aparência e personalidade descontraída, quanto por não fazer parte de uma família rica. A mesma apreensão que senti quando fui apresentar Hoseok invade todo o meu corpo e paraliso por milésimos de segundos.

Assim que viro meu corpo, me deparo com meus pais observando atentamente Jimin. O sorriso que meu pai carrega em seu rosto não é nada nenhum pouco sincero, posso dizer. Já minha mãe, como usualmente, não esboça nenhuma reação.

- Park Jimin. - percebendo ou não minha demora, Jimin se curva, respeitosamente. - Sou colega de quarto de Jungkook.

- Eu lembro desse nome! - meu pai sibila, analisando Jimin. - Sou Jeon Hayun, pai de Jungkook. E essa é minha esposa, Jeon Areum.

Novamente Jimin se curva para minha mãe, que lhe recebe com um sorriso pequeno.

- É um prazer conhecê-los. - Jimin diz, sorrindo amplamente, ajeitando sua postura.

- Não sabíamos que viria... Conhece os Choi? - meu pai pergunta, visivelmente interessado.

Minha apreensão cresce por meu pai estar indo justamente para o terreno que gostaria de manter longe de seu alcance. Jimin não aparenta desconforto por sua pergunta e diz:

- Vim acompanhar Hoseok, na realidade.

- Ele está por aqui? Ainda não o vi, Jungkook comentou que ele não viria. - meu pai olha-me rapidamente e não sei verdadeiramente onde Jimin quer chegar, já que Hoseok não está aqui.

- Está sim, ele me chamou e acabei aceitando o convite.

- Os seus pais estão por aqui? - é a vez de minha mãe intervir na conversa e quase reviro os olhos com sua pergunta.

- Não, não estão. Eles não fazem parte desse... Meio. - sem tirar o sorriso de seu rosto, Jimin fala e é perceptível a mudança nos gestos de meus pais. Eles não aparentam gostar nada de sua resposta e o sorriso que meu pai dá é claramente falso.

- Ah, sim, entendo.

- Achei vocês! - para minha total surpresa, Hoseok está ali, vestido de maneira impecável: sua camisa social preta e sua calça também escura deixam-lhe com um ar sério, diferente do Hoseok que estou acostumado na faculdade.

- Hoseok, querido! - minha mãe sorri para meu amigo, que se curva para meus pais, sorrindo. Jimin não estava mentindo então quando disse que ele estava por aqui?

- Achei que não viesse. - meu pai repete, descansando as mãos em seus bolsos da calça.

- Não ia, mas decidi dar uma chance. - meu amigo responde, sorrindo para mim. - Acabei não avisando Jungkook, quis fazer uma surpresa.

- Você precisa ir lá em casa, faz muito tempo. - sem tirar o sorriso de seu belo rosto, minha mãe toca delicadamente a mão de meu amigo enquanto conversa com si. É tão óbvia a diferença de comportamento de meus pais com Jimin e Hoseok que me dá, sinceramente, vergonha.

- Sim, preciso. - o olhar de canto que Hobi me lança é cúmplice e arqueio a sobrancelha, curioso. - Tenho alguns amigos que queria apresentar para Jungkook, aproveitar que estamos por aqui. Posso roubá-lo essa noite?

- Claro, querido! Espero que divirtam-se. - minha mãe é rápida em sua resposta e não demoro para entender as intenções de meu amigo.

- Você quer ir, não quer, Jungkook? - a pergunta de meu pai é quase uma ordem de "Você vai", como se houvesse outra resposta que eu quisesse dar.

- Claro, pai.

- Vamos então, eles já estão esperando. - Hobi segura o braço de Jimin e o meu, puxando-nos sem muita delicadeza. - Prometo que irei à casa de vocês.

- Iremos cobrar. - para minha surpresa, minha mãe me dá um beijo na bochecha. - Cuidem-se.

Hoseok continua praticamente arrastando nós dois e Jimin apenas acena para meus pais. O silêncio nos rodeia até o momento que pisamos para fora da galeria e penso se não deveria me despedir de Nari, mas saio de meus pensamentos com a voz de Hobi:

- Pronto, agora vão!

- Se eu entendi bem, você fez isso para que eu e Jimin pudéssemos sair juntos sem meus pais encherem o saco, certo? - verbalizo meus pensamentos, apenas para ter certeza.

- Exatamente. Seus pais não iriam aceitar você fugir no meio dessa exposição se não fosse comigo. - embora mantenha um sorriso em seu rosto, é fácil notar o tom melancólico que Hobi diz tais coisas.

- Obrigado, Hobi. - é o que digo, abraçando meu amigo.

Quando solto seu corpo e volto meu olhar para Jimin, a ficha cai: estamos prestes a sairmos juntos, seja lá para onde Jimin queria me levar. Mas ele ainda quer sair comigo? Ele sabia que Hoseok apareceria, certo?

- Valeu. - Jimin diz, sorrindo. - Demorou um pouco mais do que imaginei, apenas.

- Eu vim rápido, nem vem! Aliás, vou agora me encontrar com os meninos. Se quiserem colar com a gente depois.

- Mandamos mensagem. - digo, mordendo meu lábio pela inquietação que sinto ao saber que sairei apenas com Jimin.

Meu amigo lança um beijo no ar para nós dois, dando as costas e nos deixando sozinhos. Meu olhar cai sobre Jimin e ele já está me olhando, daquele jeito que me deixa acanhado.

- Você combinou com ele isso?

- Eu disse para você que podíamos dar um perdido, certo? - sorrio, concordando. - Mas isso se quiser ainda sair comigo...

- Claro que quero, hyung! - apresso-me em dizer. - Quero sim.

- Então vamos, já estamos atrasados. - ele toca meu pulso, puxando-me.

- Para onde estamos indo? Vamos no mesmo lugar que você queria me levar?

- Vamos, mas não falarei. Ainda é surpresa. - ele sorri de canto e quase faço um bico com meus lábios, porque realmente queria saber para onde estamos indo.

Eu sou curioso demais, não posso fazer nada.

- Mas, para você ficar feliz, vamos pedir um carro, pode ser? - reviro os olhos, sorrindo minimamente e ele parece satisfeito.

O endereço que Jimin dá ao motorista é desconhecido por mim, então não tenho pista alguma de onde ele está me levando. Ansioso, é Jimin quem conversa com o motorista, transmitindo uma calmaria que invejo. O bairro que estamos é mais afastado dos que costumo frequentar, mas há diversos estabelecimentos frequentados por jovens, desde bares e lanchonetes, até boliches e cinemas.

É, nitidamente, um lugar menos glamuroso do que os lugares que meus pais normalmente me levam ou onde já estive com Hobi e seus amigos. Independente disso, eu observo a rua maravilhado, ansioso por estar indo em um ambiente diferente do que fui acostumado a frequentar.

- É aqui. Vem, Jungkook. - Jimin corta meu fluxo de pensamentos, mas não reclamo. Sorrio para si, saindo do carro e sendo recebido pela brisa refrescante que a noite traz. Jimin vem até mim e imediatamente arregalo os olhos.

- Jimin, nossas roupas não estão sem noção? Estamos muito formais. - comento, sentindo-me estranho com meu terno sob medida.

- Sim, mas ninguém se importa com isso aqui. - diz, relaxado. - Não precisa ficar encucado, gatinho.

Seu jeito de falar exatamente tais palavras ajudam a deixar um sorriso mínimo nascer em meu rosto e fazer eu me sentir, verdadeiramente, mais tranquilo. Decido, neste momento, não deixar nenhuma insegurança ou preocupação atrapalhar meu tempo com Jimin. Observo ao redor, tentando entender onde Jimin está querendo me levar e, percebendo ou não, ele diz:

- Vem, vamos andar um pouco.

Aproveito o momento para continuar observando a rua tão notável que é esta: há casais homossexuais se beijando abertamente pelas ruas e ninguém demonstra inquietude ou incômodo. Essa não é uma atitude comum pelas ruas de Seul, muito pelo contrário, casais homossexuais não têm a mínima liberdade de se beijarem livremente onde quiserem e, caso o façam, recebem olhares e comentários maldosos.

- Chegamos.

Jimin aponta o estabelecimento ao seu lado e não contenho um sorriso de nascer em meus lábios, um sorriso grande e sincero. É inusitado como Jimin aparenta um pouco de timidez, observando meu rosto com cuidado, como se analisasse minha reação.

- É sério isso, hyung?

Analiso encantado o letreiro vermelho que diz "A Hora do Pesadelo", "Sexta Feira 13" e "Halloween, A Noite do Terror", imitando os letreiros dos cinemas antigos. Há algumas pessoas ali à frente, fumando cigarros e conversando. Volto minha atenção para Jimin, deparando-me com um sorriso em seu rosto que faz meu coração falhar uma batida.

- Esse é o Casablanca, um cinema que passa apenas filmes antigos. - ele diz, apontando o cinema à nossa frente.

- Apenas filmes antigos? - ele assente e sorrio, admirado.

- Essa é uma semana especial de filmes de terror, por isso a programação como você pode ver. - aponta o letreiro indicando os três filmes.

- Eu não imaginei que teria um cinema assim aqui em Seul. - confesso, mordendo meu lábio.

- Eu venho bastante aqui. - responde, bagunçando seus cabelos antes perfeitamente alinhados. - Soube que teria essa sessão com filmes de terror clássicos e quis te chamar, já que gosta.

- Nossa, hyung, eu adorei. - não hesito em verbalizar meus sentimentos, recebendo um olhar sério seu, profundo. - Mas não quero perder mais nenhum filme! Temos que ir...

- Vamos então, mas eu pago. - avisa e encaro seu rosto, ultrajado.

- Eu pago o meu, hyung, deixa disso.

- Eu quem te convidei, deixa eu te pagar pelo menos o cinema. - algo em seus olhos me levam a aceitar, assentindo calmamente, mesmo que não goste muito da ideia, já que tenho dinheiro para arcar com meu ingresso.

A sala não está nada lotada e escolhemos dois lugares no meio, pois não gosto de sentar muito para trás, porque me sinto muito distante da tela e Jimin não gosta de sentar na frente, diz que a tela fica muito grande.

Está no começo de Sexta Feira 13 e depois de alguns minutos, Jimin me diz que logo volta e me deixa sozinho, assistindo ansiosamente cada cena, mesmo que já tenha visto outras vezes. Não sei quanto tempo Jimin demora, mas ele senta ao meu lado, entregando para mim um balde de pipoca e colocando um refrigerante grande entre nós.

- Não acredito que não me deixou comprar a comida. - reclamo, com um bico em meus lábios.

- Depois você me compra algo. - sussurra, pegando um pouco de pipoca que fez questão de deixar em meu colo.

Uma das coisas que eu mais curto em filmes de terror é como eles têm a capacidade de te trazer sentimentos tão únicos em noventas minutos de filme. Ele traz uma realidade medonha que, embora não queira viver em minha vida, é interessante ver na tela do cinema.

Então não consigo desviar minha atenção da tela e dos acontecimentos que nela são espelhados, deixando as emoções fluírem de acordo com as cenas retratadas ali. Todavia, minha atenção muda de foco instantaneamente assim que a voz rouca e sussurrada de Jimin entra em contato com minha orelha, inquietando meu corpo:

- Eu comprei chocolate também, se quiser.

Não há nada demais em suas palavras, mas, por alguma razão desconhecida por mim, não consigo responder verbalmente, apenas assinto, sem desviar meus olhos da tela e sabendo de sua proximidade. Sua respiração ricocheteia contra minha orelha e aperto com um pouco mais de força o balde de pipoca, agradecendo quando Jimin se afasta, encostando o corpo em seu assento.

Depois disso, é um pouco mais difícil me concentrar completamente no filme, olhando de canto para Jimin em alguns momentos, mas rapidamente voltando meu olhar para a tela. É só quando o filme acaba que consigo respirar aliviado e as luzes se acendem, iluminando toda a sala e o rosto de Jimin, ao meu lado.

- Temos agora alguns minutos de pausa antes de começar o próximo filme. - ele comenta, olhando o balde de pipoca. - Vamos comprar mais pipoca também.

Pela união da paixão que tenho por pipoca e o nervosismo que Jimin me fez sentir, eu praticamente acabei com o balde de pipoca sozinho e fico um pouco envergonhado, sabendo que Jimin mal tocou nele.

- Mas dessa vez eu pago.

Ele não nega meu pedido e fico na fila para comprar mais pipoca enquanto Jimin vai ao banheiro. Algo dentro de mim mesmo ressoa, algo que parece novo e diferente do que já senti, mas não consigo entender o que é.

Mesmo depois de pegar a pipoca e esperar Jimin sair do banheiro, esses pensamentos permanecem dentro de mim, mas se dissolvem no mesmo momento que Jimin sorri, parando ao meu lado.

- Vem, vamos entrar.

Eu o sigo, aproveitando para comer algumas pipocas e, com um sorriso que não sai de seu rosto, ele diz assim que nos sentamos novamente em nossos lugares:

- Seus pais são muito interessantes. - não entendo onde ele quer chegar com esse assunto e, notando minha confusão ou não, ele continua: - Mas acho que não gostaram muito de mim.

- Meus pais... - hesito, suspirando. - São complicados, Jimin.

- Você não parecia muito confortável perto deles.

- Meu pai me disse umas coisas estranhas hoje. - confesso, mesmo que seja meia verdade. As reflexões que meu pai teve e resolveu compartilhar comigo hoje me trouxeram sentimentos ruins à tona, mas não é apenas isso que me deixou nervoso durante a galeria, como também a possibilidade de meus pais constrangerem Jimin ao perceberem que ele não é alguém com influência como eles normalmente aprovam. - Mas não vamos falar disso agora, por favor? Não quero falar de coisas ruins.

- Você quem manda. - Jimin cruza as pernas e solto uma risada, que lhe faz levantar a sobrancelha. - Do que está rindo, hein?

- É muito estranho estar em um cinema com essa roupa... - aponto para meu terno e depois para o seu. - E com alguém com essa roupa.

- Eu acho que somos estilosos. - ele joga os cabelos para trás e sorrio com seu gesto, encostando a cabeça no assento. - Acho que Hoseok e Taehyung vão namorar.

- Eu também estou achando, mas, ao mesmo tempo, fico indeciso. Hoseok nunca namorou antes.

- Sério? - assinto, comendo mais pipoca. - Eu jurava que ele era o tipo que curtia namorar, sabe?

- Ele já se envolveu com alguns caras, mas namorar sério, nunca. Taehyung já namorou?

- Já, algumas vezes. - ele parece se divertir com alguma lembrança, sorrindo. - Tae é alguém que se apaixona muito facilmente.

- Eu espero que dê certo entre os dois, sei que Hobi gosta bastante de Tae.

- E eu sei que Tae gosta bastante de Hobi. - Jimin pega uma barra de chocolate de seu bolso e abre, começando a comer em seguida. - Quer?

- Vou comer a pipoca primeiro. Sou muito mais salgado do que doce.

- Nossa, acho que sou ao contrário. Eu gosto dos dois, mas doce para mim é essencial.

- Sempre que eu como doce, tenho vontade de comer algo salgado em seguida. - comento, pegando mais pipoca em minha mão. - Não consigo fugir do salgado nem que eu queira.

- E eu sempre gosto de comer algo doce assim que acabo uma refeição. - pondera, dando de ombros em seguida. - Acho que nos completamos então, Jungkook.

Claro que quase me engasgo com a pipoca e Jimin arregala os olhos, me oferecendo o refrigerante. Ao passarem alguns segundos (que podem ser minutos), sinto meu rosto voltar a coloração normal, enquanto ouço Jimin falar o quão perigoso é comer pipoca.

- Juro, Jungkook, eu já vi casos de pessoas que morreram engasgadas com pipoca.

- Sabe que me dizer isso logo depois de eu ter engasgado não é muito bom para o meu mental, certo?

- Estou te avisando, gatinho, é para seu bem!

Não temos chance de continuar nossa discussão, já que as luzes se apagam indicando que o próximo filme vai começar. Reviro os olhos para os resmungos de Jimin, ajeitando meu corpo no assento, observando atentamente ao que acontece na grande tela de cinema.

É no filme que minha atenção se concentra nas próximas horas, vibrando a cada momento que as personagens conseguem despistar o assassino e fazendo caretas sempre que ele faz mais uma vítima, mesmo que já tenha visto Halloween várias vezes. Em algum momento, aceito um pedaço de chocolate (já que Jimin não para de insistir, sussurrando o tempo todo para eu comer) e, assim que o filme acaba e as luzes se acendem mais uma vez, um sorriso cresce em meu rosto, incontrolavelmente.

- Eu adoro Halloween, juro, é um dos filmes de terror que eu mais gosto! Sério, Michael Myers é um dos assassinos que eu mais tenho medo.

- Ele é medonho mesmo, aquela máscara é horrível. - diz, catando nossa sujeira para jogarmos na lixeira. - Fico pensando o que eu faria caso acontecesse algo assim, sabe? Estivesse de boa, tipo lá no nosso quarto e do nada alguém entrasse querendo me matar.

- Ah, Jimin, que coisa mais horrível! - resmungo, dando um tapa em seu braço. - Não diz essas coisas.

- Você nunca se imaginou no lugar das personagens? - questiona enquanto descemos as escadas, nos encaminhando até a saída com o fluxo de pessoas ao nosso redor.

- Sim, mas, sei lá, hyung... Vou ficar com medo quando estiver sozinho em nosso quarto.

- Olha seu tamanho, Jungkook, você quebra o Michael Myers na porrada fácil.

Uma risada escapa de meus lábios e sorrio para si, balançando a cabeça.

- Duvido, hyung.

Nossos olhares não se desviam, assim como um sorriso mínimo não sai de seus lábios, como sei não sair dos meus. Os seus cabelos já não estão mais alinhados como estavam na festa, mas sim despojados e mais parecidos com o Jimin que conheço. Ele olha para algo atrás de mim e seu sorriso se expande ao dizer:

- A última coisa que comeu foi o chocolate, certo? - assinto, um pouco perdido. - Então venha comigo.

Ele toca delicadamente meu pulso, como tem mania de fazer, guiando-me até onde quer. A rua continua lotada de pessoas, sejam elas em portas de bares, caminhando pela calçada e simplesmente aproveitando a brisa fresca que o mês de maio traz. Paramos à frente de uma lanchonete e, com um sorriso nos lábios, ele diz:

- Vou te comprar uma porção de batata frita.

Só de ouvir falar em batata frita, meu estômago ronca, porque, sério, eu curto demais. Nem hesito em assentir freneticamente, arrancando uma risada de Jimin.

- Então vamos, hyung. Deixa eu só ver se meus pais mandaram alguma coisa...

Pego meu celular, desbloqueando rapidamente e suspirando aliviado ao perceber que eles não mandaram nada. Atento-me a horário, quase meia noite e pondero como o tempo ao lado de Jimin passa rápido.

- Vamos? - ele questiona, assim que guardo meu celular e olho para seu rosto. Assinto, ansioso para passar mais tempo com si como nunca fizemos antes fora de nosso quarto.

Os passos que damos até a lanchonete são recheados com minha intuição, que parece cada vez mais aflorada nos últimos meses, me dizendo que essa noite está apenas começando. 

📷


Eai, amores, como estão?

Tive que cortar esse capítulo em dois, porque estava ficando muito grande, então no próximo temos o final do primeiro date dos Jikook rs

Mais um capítulo grande para vocês, o maior até agora. Me digam o que estão achando e se estão curtindo! Quero saber a opinião de vocês

Não esqueçam de votar e comentar, é muito importante! Até a próxima, pessoal :)

Continua llegint

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