[Pulsos]

By DehPime

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Essa história não é para ser lida, só vivendo você vai entender. E se um dia seu pai saísse para trabalhar e... More

Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezenove
Vinte
Pulsos II: [Inspire]

Dezoito

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By DehPime

Já eram 14:03 e eu queria realmente que a Megan chegasse e abrisse pra mim e me dissesse: Sinto muito por destruir seus sonhos em ter uma família com o Luke, mas você não está grávida. Mas ela não chegou, e a cada momento eu ficava tentando lutar contra minha vontade de ir lá abrir e resolver isso logo, eu acabaria desistindo de ir novamente se meu consciente não fosse tão perturbador. "Não pode fugir Mand, não dessa vez."

Desliguei a televisão e subi para o meu quarto praticamente correndo, se eu fosse devagar com certeza desistiria e acabaria voltando para o sofá. Abri a porta e encarei o envelope encima da minha cama, esperando para ser aberto. Me ajoelhei no chão ao lado da cama e peguei o envelope na mão, hesitei em abrir igual na carta da Anne e do meu pai. Rompi o lacre e tirei o papel lá de dentro lentamente, fechei os olhos e comecei abrir o papel por completo. Teimei em abrir os olhos, e minha vontade era de amassar aquele papel e jogar pela janela, pena que ela está fechada. Abri os olhos lentamente e fixei na letra miúda.

― Não, não pode ser ― digo a mim mesma.

Eu poderia gritar para minha mãe se eu conseguisse, mas nada saia de minha boca, eu só chorava de forma lenta e dolorosa. Não conseguia ver nada além daquele positivo. Que merda de futuro eu daria a essa criança? Como eu cuidaria dela se eu não sei nem cuidar de mim própria?

Levei minha mão em minha barriga e deixei meu corpo escorregar no chão, e fiquei olhando para o teto forrado do meu quarto, mas com a cabeça totalmente em outro lugar.

― O que vai ser de nós? ― Tentei gritar, mas o máximo que saiu foi uma voz fraca de choro desesperado. As lágrimas caiam no chão, eu não acredito nisso ainda. ― O que vou fazer? ― perguntei esperando que alguém respondesse, mas não havia ninguém aqui além de mim e essa criança, meu filho com o Luke.

― Luke ― sussurrei e chorei mais. Quem é Luke agora? Nada!

Levantei do chão lentamente e fui no meu guarda roupa, peguei minha touca vermelha e um casaco, coloquei umas botas para me proteger do frio e sai do meu quarto lentamente torcendo para que ninguém me ouvisse ou estivesse lá embaixo. Desci as escadas e para minha sorte não havia ninguém, sai porta afora. Coloquei meus fones conectado a meu celular e coloquei em modo aleatório no volume máximo.

Após fechar a porta principal que dava acesso a casa, comecei andar lentamente pela rua fria de Londres. Havia poucas pessoas na rua por conta do frio enorme que fazia, alguns carros passavam rapidamente, provavelmente quem estivesse dentro queria voltar para casa e se esquentar em uma lareira.

Tudo isso me fez lembrar do livro Antes de Tudo Acabar da Mary C. Muller. " Enfim. Foi um agosto, estava frio, foi uma droga. "

É agosto, está frio e realmente está sendo uma droga. Continuei andando enquanto tentava aquecer minhas mãos batendo elas uma na outra. Eu não sabia que rumo tomar, eu pouco me importava para onde eu estava andando, ou para onde essa rua me levaria. Eu queria sumir, só isso. A música Skyscraper da Demi quase estourava meus ouvidos, lágrimas saiam dos meus olhos sem pedir permissão, mas a dor continuava ali.

Por que eu deixei isso acontecer? Agora só era eu, o que faria?

Puxei a manga da minha jaqueta e levei até minhas mãos, e olhei para frente, a música ainda tocava e é como ela diz: " Você tem que fazer como se não restasse nada de mim? " Só conseguia pensar no Luke, em como por um momento fomos felizes, quando éramos só nos dois colados um no outro, sem ninguém para atrapalhar ou fazer eu abrir meus olhos e mostrar que o mundo é cruel.

O caminho que eu percorria acabou me levando a lugar nenhum, apenas passava por casas e mais casas, mas ele me levou a pessoa certa. Lá estava uma garotinha de aparentemente seis, sete anos correndo em seu quintal enquanto havia uma barraca armada, totalmente cor de rosa em seu gramado perfeitamente limpo. É estranho o fato de uma garotinha tão pequena estar em meio a tanto frio, mas ela nem se importava, continuava a brincar sozinha enquanto corria e pegava umas pedras e colocava na barraca, e depois voltava a correr, indo em direção ao resto do montinho de pedras. A porta da casa estava aberta e não demorou muito para uma mulher aparecer.

Eu me mantinha sentada em um pequeno banco de mármore que por algum motivo estava ali, ouvindo o som que já não vinha mais de meus fones que eu havia tirado.

― Filha, chega de acampar por hoje, você vai acabar pegando um resfriado! ― A mulher disse em um tom suficiente para mim ouvir, mesmo distante.

― Eu estou ocupada ― ela disse sorrindo e sem parar de tirar as pedras e pôr na barraca.

― Depois você termina o que está fazendo ― disse tentando convencer a garota a sair do frio, ela podia simplesmente mandar ela para dentro, mas ela não o fez.

― Mãe, elas precisam de mim. ― Ela apontou para a pedra que estava em sua mão, e depois para dentro da barraca.

Eu já não disfarçava mais que a olhava e agradeço por elas não terem me visto, podiam se assustar.

― Por quê? ― a mãe da garota perguntou e a pequena a encarou igual o Niall me encara quando está querendo dizer suas coisas "óbvias".

― Elas estão com frio, e sozinhas ― disse e colocou a pedra que haviam em sua mão na barraca. Naquele momento eu já estava chorando, três vezes mais, eu não sabia ao certo porquê, mas aquilo realmente me tocou.

― Elas são pedras, elas não sentem frio ou se importam em ser sozinha ― a mãe da garota disse, mas ela não se importou, voltou a pegar uma pedra por vês e pôr na barraca.

― Elas só parecem fortes, mas elas não são. Elas precisam de mim, assim como eu preciso de você. Eu também quero que elas fiquem quentinhas e protegidas. Elas também têm sentimentos ― disse e agora não era só eu quem chorava, a sua mãe que a minutos atrás tentava convencer ela a entrar, agora só a observava enquanto deixava lágrimas caírem de seus olhos, ela saiu de casa, e foi até onde a garota estava e a ajudou a levar todas as pedras para dentro da barraca, recebendo um lindo sorriso em troca. A garotinha deu um "tchau" com as pequenas mãozinhas para as pedras e fechou a barraca com ajuda de sua mãe e depois foram juntas para dentro.

Eu fiquei ali, olhando para o nada com as mãos apoiadas no banco gelado, que agora não fazia nenhuma diferença para mim.

É incrível o fato de uma pequena criança ser tão sabia. " Elas precisam de mim" A voz dela soava em meus ouvidos, e eu não conseguia parar de pensar no que havia acontecido ali. E muito menos em pensar em oque aquilo tudo me fez pensar.

­­ ― Ela precisa de mim. ― Coloquei a mão em minha barriga enquanto sussurrava.

Isso é obvio, essa criança que carrego precisa de mim, o meu bebê precisa de mim. Ele não precisa de alguém chorando sem saber o que fazer, sem saber o que pensar em relação a ele, ele precisa de alguém que ame ele, que queira ele, que não se importe se tem 17 anos ou não, que não ligue se sabe ou não como cuidar de alguém, que aprenda junto com ele a cada dia. Eu preciso dele e ele precisa de mim, assim como nós precisamos de ar. Assim como a noite precisa da lua.

Olhei para o meu celular e vi que haviam dez chamadas não atendidas da minha mãe. Ou seja, ela já percebeu que sumi. Me levantei do banco guardando o celular no bolso e indo de volta para casa.

Abri a porta lentamente assim que cheguei, minha mãe estava sentada no sofá olhando para o exame que ainda estaria no meu quarto se ela não tivesse ido lá pegar, lágrimas caiam de seus olhos, eu fiquei na porta sem saber o que fazer. Eu ficaria ali mais tempo, parada, vendo ela chorar e ouvindo minha respiração, mas ela percebeu minha presença e me encarou, ela deu um enorme sorriso e um suspiro de alivio, e depois fez o que qualquer mãe faria, veio correndo até mim e me abraçou, e depois me soltou e gritou, era obvio que ela gritaria.

― Onde você estava? ― gritou novamente.

― Eu fui andar ― digo baixo.

― Eu achei que você tivesse... ― Ela ia completar algo mas não, nem precisaria também, eu já sabia o que era.

― Me matar? ― perguntei, mesmo sabendo que era isso.

― Sim.

― Mãe, não. Ela precisa de mim. ― Sorri e recebi um abraço apertado dela que poderia quebrar minha coluna. Minha mão foi para seu rosto após quebrarmos o abraço, limpei suas lágrimas.

― Estou tão orgulhosa de você ― disse e deixou mais lágrimas cair, mas acho que era de felicidade.

― Obrigada mãe, por nunca ter desistido de mim.

― Eu nunca faria isso. ― Ela me abraçou novamente e só nos soltamos porque o Niall começou a chorar, ele tem um terrível medo de ficar sozinho, provavelmente ele estava dormindo e acordou. Ela se soltou de mim e rimos, depois ela subiu para cima correndo por que o Niall não parava com seu escândalo. Subi logo em seguida mas fui direto pro meu quarto, me taquei na cama, deixando um sorriso surgir nos meus lábios. Eu me sentia tão diferente, era como se o medo estivesse diminuído.

A vida é realmente feita de momentos, a momentos atrás eu estava confusa e admito que até cheguei a pensar em não ter essa criança, e nesse momento eu já não estou tão confusa e ao mesmo tempo em que é horrível saber que alguém depende de mim, é maravilhoso. Ao mesmo tempo em que não sei como cuidarei dela, eu sei que vou aprender.

Sou tirada dos meus pensamentos quando uma maluca invade meu quarto gritando e pulando de felicidade.

― Megan, eu já entendi que você é maluca. ― Ri e ela se deitou comigo na cama.

― Eu vou ser tia. Eu sempre pensei que eu seria tia quando fosse bem mais velha, por conta da idade do Niall, mais ai vem uma coisinha maravilhosa dessa. ― Ela começou a falar sem parar e eu comecei a rir.

― Você é maluca, e além do mais você não será tia dela. Collins. ― Ri e ela me olhou com uma cara de nada preocupada e arqueou uma das sobrancelhas.

― Fica quietinha ai e não estraga o momento. Só não te bato agora por que você está carregando meu sobrinho em sua barriga. ― Ela falou enquanto não parava de sorrir. Já disse que ela é maluca?

― Seu sobrinho? ― Ri. ― Você não é tia dele, e vai que seja uma menininha.

― Olha, eu sou a tia e ponto final, e vai ser um garotinho lindo igual o Luke, geralmente as meninas puxam a mãe, coitada, ela não merece isso. ― Ela riu e eu não achei a menor graça.

― Bela tia ― ironizei, e ficamos em silêncio enquanto eu a encarava. Ela deixava as coisas tão mais simples, seu jeito de sempre achar as coisas melhor na vida, fazia tão bem.

― Falando em Luke, acho que ele vai gostar a ideia ― ela disse e eu me lembrei que não havia conversado com ela sobre isso, e devia conversar.

― Ele talvez fosse gostar. ― Dei uma pausa para respirar. ― Se ele fosse saber ― completei.

― Como assim? ― perguntou como se não tivesse entendido o que falei.

― É assim Megan, eu não vou contar ao Luke sobre o meu filho. Entendeu? Isso quer dizer que você também não vai contar ― digo.

Você só pode estar brincando ― disse rindo. E esperou que eu dissesse que estava, mas como não disse ela começou os sermões. ― Mand, não. Ele é o pai, ele tem que saber, não é algo que se esconda. Sua barriga vai crescer, ele vai ver.

― Deixa ele ver. ― Dei de ombros.

― Hoje você se superou na idiotice ― disse e se sentou na cama enquanto me encarava. ― Você não pode fazer isso.

― Tanto posso, como vou. O filho é meu, quem vai carregar ele na barriga sou eu, então eu acho que pelo menos posso decidir se quero ou não que certa pessoa saiba.

― Não quando essa pessoa é o pai. ― Ela suspirou, e balançou a cabeça. ― E quando você tiver, e essa criança perguntar quem é o pai?

― Tenho muito tempo para pensar nisso ainda. Uma coisa de cada vez.

― Isso não é certo...

― Não estamos discutindo sobre o que é certo ou o que não é. Ele vai se casar Megan, não quero destruir a vida dele.

― E desde quando um filho é destruir a vida de alguém? ― perguntou e me sentei na cama também.

― Desde quando esse alguém já tem uma família. ― Suspirei. ― Agora podemos falar de outra coisa?

― Podemos. Mas eu não vou deixar essa conversa morrer aqui.

― Mas eu vou ― digo, e ficamos em silêncio, um pouco perturbador. Ela estava magoada comigo, eu sabia disso.

― Conta comigo sempre ― disse e me abraçou, retribui o abraço.

― Obrigada. ― Me soltei dela. ― Agora me ajuda a fazer o trabalho de história? ― perguntei e ela riu.

― O que ganho com isso? ― ela perguntou.

― A honra de fazer um trabalho comigo, para mim. ― Ri e ela balançou a cabeça.

― Isso não vale de nada para mim ― disse e a empurrei da cama. Ela pegou meu material e começamos a fazer.

Eu optei por não ir à escola essa semana, as coisas ainda estavam tão loucas na minha cabeça que eu não prestaria atenção em uma palavra que os professores dissessem, mas confesso que um dos maiores motivos era não ter que ver o Luke. Eu estava presa a ele, muito mais do que eu pensava quando eu resolvi terminar, muito mais do que eu poderia imaginar. E não vê-lo me ajudaria muito. Minha mãe concordou mas ela me fez prometer que iria hoje, e aqui estou eu tendo que aturar a aula de química com o professor tentando nos convencer que química é uma matéria importante. Só tentando... Por que eu, e metade da sala, achamos totalmente desnecessária.

Meus enjoos estão bem menores, o que já me deixa tomar um bom achocolatado logo cedo.

Olhei para frente tentando me concentrar no que o professor dizia, mais foi totalmente em vão.

― Carter? ― O professor perguntou vindo até mim.

― Oi? ― pergunto, enquanto me ajeito na carteira.

― Pode me dizer o que acabei de explicar? ― perguntou e eu fiquei pensando na melhor resposta, olhei para o quadro e li o que estava escrito.

― Sobre Movimento Uniforme? ― perguntei e todos começaram a rir, só não entendi o porquê.

― Carter, Movimento Uniforme é de física. Preste mais atenção na aula mocinha. Eu estava falando sobre os reagentes ― disse e voltou para frente voltando a explicar, fingi estar prestando atenção só para ele não me chamar a atenção de novo. Finalmente o sinal de saída tocou, o professor saiu e desejou uma boa segunda feira. Como se segunda feira fosse boa alguma vez nessa vida.

― Mand, o que foi isso? ― Edward perguntou enquanto guardava sua mochila. ― Você não prestou atenção em nenhuma aula, e ainda confundiu física com química. Serio?

― Eu só li lá no quadro, nem me toquei ― digo e comecei a guardar meu material também.

― Você está bem? ― ele perguntou já em pé.

― Eu... estou. Só estou pensando em umas coisas. ― digo e me levanto também, colocando a mochila sobre as costas e fomos indo em direção a saída.

Fomos andando até a escada e vi Megan lá perto e desci na frente do Edward. Mas uma leve tontura me fez desequilibrar e cair rolando a escada toda e cair no chão. Foi tão rápido que uma hora eu me vi em cima e ao piscar o olho eu já estava caída em baixo.

― Mand! ― gritou Edward, e não o vi descendo, minha visão estava embaçada. Senti seus braços fortes me pegar no colo.

― Megan... precisamos de um car... ― Não consegui ouvir o resto direito.

― Mand. ― Uma voz rouca soou alto e vi Luke se aproximando de mim que permanecia no colo do Edward.

― Eu levo ela ― Luke disse e agarrei forte em Edward para não me soltar.

― Ed... ― digo com dificuldade.

― É melhor que eu a leve ― Edward disse e não ouvi e nem vi mais nada.

Acordei em uma cama de hospital, a mesma enfermeira da outra vez estava lá. Ela sorriu ao me ver acordar. Por que eles sorriem sempre? Por um acaso eu tinha morrido e ressuscitei e não sei?

― Me... ― Fui dizer algo mais fui impedida.

― Não fale nada ― ela disse preenchendo a prancheta.

― Meu... bebê? ― pergunto assustada. Eu não consegui mais pensar em nada, além daquela criança. Uma das coisas que lembramos é dos filmes, sempre perdem a criança, e pensar nisso doía muito.

― Ele está bem ― disse, mas dessa vez não sorriu, nem um pouquinho se quer. ― Seus familiares e amigos estão lá fora. Posso chama-los? ― perguntou e não hesitei em responder que sim. Mas me arrependei segundos depois quando vi Luke entrando pela porta.

Megan veio até mim assim como Edward. Luke e Will ficaram a distância.

― Você está bem? ― perguntam.

― Estou ― respondo.

― Mand... ― Megan disse e eu seguro sua mão, assim como a do Edward.

― Sua mãe ficou preocupada ― disse Will se aproximando e dando um beijo em minha testa, assim que soltei a mão dos dois. ― Ela queria vir, mas eu pedi a ela que ficasse em casa. ― Concordei com a cabeça, e sorri.

― Ja estou bem e o bebê também ― digo aliviada. Todos ficam em silencio. Um olhando para o outro, como se soubessem algo que eu não sabia. Talvez eles realmente soubessem. ― Não? ― pergunto.

― Precisamos te falar algo... ― disse Will, enquanto todos na sala pareciam desconfortável com a situação.

― Falar o que? ― pergunto nervosa.

― Pode nos deixar a sós? Eu falo pra ela ― disse Luke. E eu encarei ele e balancei a cabeça.

― Eu não quero falar com você.

― Mand, conversa com ele ― disse Megan e eu desvio o olhar e eles saem nos deixando a sós. Sem ao menos me dar tempo de brigar e falar que não, novamente.

― O que está acontecendo? ― pergunto enquanto Luke se aproxima e se senta ao meu lado na cama e me encara. ― Fala Luke ― digo mais alto que queria. Se só sobrou ele, era o jeito.

― Você não iria me contar? ― ele pergunta calmamente e com uma tristeza nos olhos.

― Para que? ― pergunto.

― É meu filho também. ― Fiquei em silencio. ― Mand... ― Ele se aproximou de mim para me beijar, coloquei as mãos em seus peitos impedindo.

― Não Luke... agora me conte, o que está acontecendo?

― É que... a gravidez é de risco, e ele pode não sobreviver. Você está com pré-eclâmpsia. Eu não entendi muito bem o que é isso, mas é grave ― disse rapidamente, o que me fez instantaneamente cair em lágrimas. Por que tudo de mal acontece comigo?

Coloquei as mãos em meus olhos limpando as lágrimas, mas era em vão, cada vez mais lágrimas vinham.

― Não para por ai. Você vai ter que tirar! ― disse de forma um tanto grosseira o que me fez encarar ele confusa.

― Não, você acabou de dizer que ele pode não sobreviver, mas isso não quer dizer que não vai.

― Mand, não foi só ele o afetado. Se você continuar a gravidez... ― Ele deu uma pausa, e seus olhos estavam começando a surgir lágrimas.

― Se eu continuar...?

― Você não resistira. ― Uma lagrima escorreu de seus olhos e eu congelei. Meu coração começou a bater de forma totalmente descontrolada. Já não conseguia controlar as lágrimas.

― É você ou ele Mand... ― Luke disse e mais lágrimas caiam de seus olhos encima de mim. ― Se você tirar agora, você sobrevive, mas se não, pode morrer os dois... Eu não posso te perder amor. ― Ele me abraçou enquanto nos dois chorávamos.

Fiquei em silêncio e várias vezes fechei meus olhos e abri para poder acreditar que isso é real, eu queria tanto acordar em minha cama e ver que é somente um pesadelo, daqueles só para te deixar mais esperta. Ou simplesmente para te fazer acordar assustada. Mas não era. A cada vez que eu abria os olhos eu levava um choque de realidade.

A questão agora não é mais escolher em ter um filho ou não, a questão é escolher entre a minha vida e a dele. Abri meus lábios que estavam encharcados de lágrimas e com a voz embargada sussurrei:

― Eu não vou tirar. ― Aquelas palavras fizeram com que Luke quebrasse o abraço e me encarrasse.

― Não faz isso. Podemos ter muitos outros filhos... ― disse e olhou diretamente em meus olhos, para mim de certa forma sentir o que ele queria dizer com aquilo.

― Luke, não. ― Desviei o olhar do dele, como era difícil.

― Eu que digo não. Amor, e se vocês dois...? ― Ele não completou a palavra, o que deixou tudo mais deprimente. O ar do hospital que já não era agradável, agora está bem pior.

― Pelo menos tentamos ― digo.

― Eu preciso de você ― Ele cola nossos lábios enquanto suas lágrimas caiam sobre minha face.

― Ele também precisa de mim. ― Afastei ele e sussurrei. Era o máximo que saia.

― Não vou deixar isso ― ele disse um pouco alto.

― Não é você que decide isso.

― Mand. Eu não vou deixar essa coisa te matar! ― gritou. E aquilo fez com que toda a dor que eu sentia se tornasse ódio em questão de milésimos.

― Coisa? ― pergunto chorando. ― É o nosso filho Luke ― gritei.

― Eu não quis dizer isso...

― Luke, vai embora. Nos deixe em paz ― gritei novamente. Acho que até quem tivesse na recepção ouviria.

― Eu...

― Sai daqui. ― Empurrei ele chorando. Ele saiu da cama e foi até a porta, e olhou pra mim, seus olhos verdes estavam vermelhos.

― Eu te amo Mand ― disse antes de sair e fechar a porta.

Uma dor enorme, maior que tudo me invadiu. Eu não sei bem, mas eu não vou errar de novo. Ele merece ter uma vida. Assim como eu tive a minha.

Continuei a chorar e ouvi Luke a gritar e socar a parede no lado de fora.

― Eu não vou deixar. Não vou! ― ele gritou sem nem se preocupar se eu ouvia ou não daqui de dentro. Um silencio surgiu. ― Ela não pode fazer isso ― gritou novamente.

Megan entrou após uns segundos, seus olhos estavam com lágrimas, ela fechou a porta e veio correndo até mim e me abraçou.

― Mand... Você prometeu que não me deixaria... ― disse e me apertou forte.

― Não me peça para mata-lo. Você mesma falou que queria ser tia. Não é mesmo? ― Limpei minhas lágrimas e soltei um sorriso.

― Eu...

― Não me peça, Megan ― sussurrei. ― É importante pra mim.

― Tudo bem. ― Ela deitou comigo na cama. E começou a chorar mais.

― Cadê o Edward? ― pergunto quebrando o silêncio, na verdade eu não queria ouvi-la chorar.

― Foi para casa dele. Ele vai passar lá em casa depois ― disse entre soluços.

― E o Luke? ― perguntei sabendo que ela era a pessoa que falava com ele lá fora.

― Não sei. Ele estava bem nervoso ― disse já mais calma.

― Ele não aceita... Eu queria que ele me apoiasse, eu não sei Megan...

― Mand... pense no lado dele. Você é o amor da vida dele.

― Mas o bebe também. Ele é meu filho. Eu não aguentaria saber que deixei ele morrer.

― E nem ele aguenta saber que vocês dois podem morrer. Se os dois morrer Mand? ― perguntou.

― Tentamos...

― Mas e ele fica como? ― Fiquei em silencio, de certa forma ela estava certa. Eu não sei o que fazer...

A enfermeira entrou na sala com um remédio na mão, ela colocou sobre a mesa, provavelmente algo que terei que tomar em casa.

― Adivinha quem sai amanhã? ― ela perguntou.

― Eu ― digo desanimada.

― Animo garota. Tem gente que fica uma semana. E você ja decidiu? ― Ela perguntou enquanto me encarava e olhava para a caixa do remédio para ter certeza que era o correto, suponho.

― Já. Eu não vou desistir dele.

― Mesmo sabendo que vai morrer?

― Mesmo que eu morresse cem vezes. A facadas. ― Sorri. E ela também. Depois suspirou e sorriu novamente.

― Seu bebê tem muita sorte em tê-la como mãe. ― Ficamos em silencio e ela saiu. Megan estava em silêncio olhando para o nada, me ajeitei e fechei os olhos e comecei a pensar.

É não vou me arrepender disso.

g

Acordei, Megan ja não estava mais ao meu lado. Deve ser umas 4 da tarde. Olho para o sofá que tem no quarto e vejo minha mãe com a cabeça baixa. Me sento na cama e observo ela por uns segundos.

― Mãe ― digo alto o suficiente para ela ouvir, ela levanta sua cabeça, seus olhos estavam inchados.

― Mand, filha. ― Ela se levanta e vem até mim lentamente e se senta ao meu lado.

― Mãe, eu estou com medo ― digo enquanto ela segura minha mão.

― Eu sei que está, você cresceu tanto. ― Lágrimas começaram a cair de seus olhos, dói ver minha mãe chorando. E saber que a culpa é minha, dói mais ainda.

― Eu não queria ter crescido ― digo, e aperto sua mão forte.

― Mas cresceu. ― Ela sorriu e me encarou, depois abriu os lábios e fechou como se fosse falar algo mas procurava as palavras certas. ― Quando você era pequena, com cinco anos. Você dizia que ia surpreender o mundo todo. ― Ela sorriu novamente e fechou os olhos como se tentasse reviver o momento. ― Eu até perguntei se era realmente o mundo todo. E você falou "o mundo todo" mais confiante do que nunca, lembro até do brilho que tinha em seus olhos quando você disse ― suspirou e abriu os olhos.

― Eu falhei ― sussurrei e ela balançou a cabeça em um "não".

― Pode não ter surpreendido a todo o mundo, até por que eles não conhecem a sua história. Mas você surpreendeu cada pessoa que te conhece bem. Você me surpreendeu.

Não sabia o que dizer, então apenas sorri.

― Se eu morrer... promete cuidar do meu filho pra mim? ― perguntei e ela olhou diretamente em meus olhos.

― Você não vai morrer... ― disse. Realmente falar que eu não vou morrer é algo inútil. Eu sei que vou morrer, as chances de eu sobreviver é realmente injusta. Eu sobreviveria por um milagre somente.

― Mas se eu morrer, você cuida dele? ― perguntei novamente.

― Claro que sim. ― Ela sorriu. ― Mas te garanto que quem vai ter que dar mamadeira, dar banho, ficar a noite toda sem dormir é você. ― Ela riu. ― E não pense que é fácil. ― Comecei a rir também.

― É muito fácil, você pega o bebê e leva pro quarto da avó, ai depois você vai pro quarto e dorme.

― Vai sonhando ― disse e riu também.

A enfermeira abriu a porta, e nossas atenções foram voltadas a ela.

― Acabou o tempo de visita, ela precisa fazer uns últimos exames. ― A mulher falou e minha mãe concordou, me deu um beijo na testa e depois de um 'se cuide' saiu porta a fora.

Fiz todos os exames, que pra minha sorte não eram muitos, e voltei para o quarto após um "está tudo bem". Claro que esta, eu vou ter um filho com 17 anos, e o pai dele vai se casar com outra mulher e eu tenho 99% de chance de não sobreviver. Está tudo ocorrendo perfeitamente bem.

Senti um cheiro de comida, não almocei. Tudo bem, eu não almoço, só tomo/como Iogurte. Mas um cheiro de comida invadiu meu quarto e eu fiquei morrendo de vontade.

― Não vão me dar comida? ― pergunto a enfermeira que me encara surpresa.

― Sério? ― ela questiona.

― Não dão comida a gravidas que vão morrer? ― Rio tentando deixar a história menos frustrante.

― Não é isso. Sua mãe disse que você está com muito enjoo e só come iogurte.

― Eu estava, mas senti cheiro de comida agora e eu só quero comer.

― Vou buscar. ― Ela saiu e depois de uns minutos veio com um prato com comida. Me sentei e ela colocou a bancada encima de mim, e colocou o prato.

― Pronto. ― Ela sorriu e comecei a comer.

― Não sei como esse pessoal dizem que comida de hospital é horrível ― digo e coloco colheradas em minha boca.

― Não é tão mal ― a enfermeira disse.

― É ótima. ― Comi mais, ficamos conversando. Eu ja a achava simpática, agora a acho muito mais. Ficamos falando sobre a vida dela, pelo menos eu ficava entretida e esquecia um pouco da minha. Ela se chama Joana, tem 26 anos, mora com sua mãe, não é casada e nem tem filhos. Seu pai separou de sua mãe, mas ela sempre mantinha contato com ele. Ela está namorando a dois anos com um médico e pretendem levar o namoro para algo mais sério.

Terminei de comer e depois de continuarmos conversando por um tempo ela levou as coisas e eu fiquei ouvindo música no meu celular.

g

Acordo com alguém batendo na porta e entrando logo em seguida, era o médico. Esfreguei os olhos pois minha visão ainda estava embaçada.

― Como está minha paciente? ― ele pergunta sorrindo.

― Descabelada e com preguiça. ― Ri.

― Ah então está muito bem, merece uma alta ― disse olhando para mim que já estava sentada nesse exato momento.

― Mereço, e um belo sanduiche também. ― Ri novamente.

― Merecemos ― disse e pegou a caneta e assinou um papel. ― Vou te dar uma alta, mas cuidado mocinha. Tente não cair de escadas. ― Ele falou em um tom brincalhão, comecei a rir.

― Vou tentar. Mas vai ser bem difícil, elas me atraem. ― Dessa vez quem riu foi ele.

― Agora falando sério, ja que você quer continuar a gravidez, tome muito cuidado, você tem 1% de chance, sei que não é muito, mas vamos fazer o máximo para salvar os dois.

― Obrigada! ― agradeço e ele se despede de mim e sai apressado pois tem muitos pacientes para ele olhar.

Deixo meu corpo cair para trás e deito na cama, fico uns bons segundos naquela posição pensando, só saio quando finalmente o Will aparece me chamando. Vou de encontro a ele e ele me leva para casa.

Chego em casa e a primeira coisa que faço é ir direto para o banheiro tomar um bom banho para tirar aquele cheiro horrível de hospital. Não importa o quanto me esfregava, parece que nunca saia. Terminei meu banho, coloquei uma roupa e fui assistir televisão para esperar o almoço. Niall estava no quarto brincando, então preferi não atrapalha-lo, liguei a televisão e me concentrei no programa sobre casas assombradas, de certa forma eu acredito muito nessas coisas de fantasmas, pessoas que não fez a passagem e essas coisas todas, mas eu realmente não acredito nenhum pouquinho nesses "documentários" que são mais farsas do que verdade.

Coloquei a almofada sobre meu colo e peguei meu celular e procurei o número do Boby na agenda, ainda faltava uma semana para ele voltar para Londres, e eu realmente não queria dar essas notícias para ele pelo celular, fechei a tela e deixei o celular cair sobre o sofá.

Boby estava na Itália fazendo um curso de culinária, graças ao seu professor da faculdade que o escolheu dentre vários alunos, o curso durava dois meses somente, para ele não se atrasar em seus estudos. Mas esses dois meses realmente pareciam mais que uma eternidade.

Voltei a me concentrar no documentário que passava, mas não demorou muito para outra coisa tomar minha atenção. Megan abriu a porta de casa e de trás dela veio Edward que sorriu.

— Você veio — disse e ele e Megan entraram.

— Sou um homem de palavra. — Ele riu e Megan também.

— Mentir é feio Edward, eu tive que trazer ele a força. Acredita? — Ela riu. — Brincadeira. Eu vou subir, depois apareço por aqui — ela disse subindo as escadas correndo, olhei para o Edward e sussurrei que ela é maluca assim mesmo.

— Senta aqui. — Apontei para o meu lado, após pedir licença ele se sentou.

— Como você está? — perguntou enquanto ambos nos encarávamos.

— Já estive pior — brinquei. — Mas e você? — pergunto.

— Já estive melhor. — Ele riu. — Você vai mesmo continuar a gravidez? ― perguntou.

— Vou, é o certo. É o que quero. — Ele me abraçou de lado e se concentrou na televisão enquanto se mantinha em silêncio.

— Vai dar tudo certo — sussurrou.

— É, vai. — digo e sorri. Troquei de canal, que nem eu e nem ele estávamos mais aturando aquela mentirada toda, colocamos em um programa de talento. Tem uma garota que sinceramente eu não acredito que ela tem ossos. Ela se entorta tanto que parece que seus ossos foram todos retirados.

— Mand, o almoço está pronto... — Minha mãe disse vindo em minha direção e ao ver o Edward sorriu. — Ei Edward — ela disse e ele se levantou a cumprimentando. — Vem almoçar com a gente.

— Não, obrigado. Se eu não almoçar em casa minha mãe vai pirar. — Ele riu.

— Só um pouquinho, acho que ela não vai se importar hoje. — Minha mãe disse e eu ri. — Edward, se você não for vou me sentir ofendida. — disse e ele concordou em almoçar com nós.

— Mães, todas iguais — sussurrei em seu ouvido e ele riu.

— Vão se servindo que vou chamar Megan e o Niall. — Clarie disse subindo as escadas, fomos até a cozinha e ele se sentou na cadeira da mesa.

— Gosta de suco de quê? — perguntei.

— Gosto de todos os tipos — ele disse, e eu vi naquilo um desafio.

— Duvido — digo e peguei a jarra da geladeira e coloquei sobre a mesa. — De algum você não deve gostar. Abacaxi? — perguntei.

— Eu gosto de abacaxi. — Ele riu.

— Framboesa, frutas vermelhas, goiaba, laranja, limão, tangerina, acerola, manga...? — Falei a maioria dos nomes que vinha em minha cabeça.

— Nada contra nenhum deles. — Ele falou rindo e fiz uma cara feia.

— Assim não dá, já não sei mais sabor. — Ri e me lembrei de um. — Jaca? — perguntei e ele fez uma cara de nojo e eu comecei fazer minha dancinha louca. — Consegui... — Rodei e ele ficou rindo.

— Não vale, jaca é horrível. Será que alguém gosta disso? — ele questionou e eu dei de ombros, peguei um pacotinho de suco de abacaxi e comecei fazer.

Terminei e coloquei a jarra e os copos sobre a mesa, enquanto Megan, minha mãe e Niall desciam as escadas e se sentavam.

— Ed — Niall disse e sorriu. — Biel? — perguntou desconcertado.

— O Biel ficou em casa, mas depois se a Mand quiser te levar lá para vê-lo, será uma honra — ele disse olhando pra mim que sorri.

— Vamos Mand? — Niall pergunta fazendo beicinho.

— É melhor pedir para ela. — Ri e apontei para minha mãe. Ele olhou, e abaixou a cabeça e ficou em silêncio.

— Pode levar ele Mand — minha mãe disse e Megan riu de como instantaneamente Niall levantou a cabeça e sorriu.

— Ele é bem espertinho — Megan disse o encarando.

— Isso que dá ser irmão de Megan Jan Collins. — Rimos e almoçamos enquanto falávamos de assuntos diversos.

Terminamos e minha mãe foi levar Niall para dormir um pouco para depois irmos na casa do Edward ver o Biel. Megan ficou de lavar louça, então eu e Ed ficamos sentados olhando ela fazer o serviço e rindo de como ela estava revoltada. Edward várias vezes perguntou se ela queria ajuda, mas ela disse que não.

— Não sei por que essa revolta toda ― digo e ela se virou para nós com uma colher cheia de espumas na mão.

— Eu estou revoltada, por que você vai poder ir na casa do Edward e eu não posso ir na do Marcus — ela disse e voltou a lavar.

— Talvez seja por que você passa mais tempo na casa do Marcus do que aqui em casa — digo e ela suspirou forte.

— Vocês são malucas — Edward disse e riu.

— A única maluca aqui é a Megan — digo. — Acredita que uma vez ela foi inventar de lavar roupa e tacou desinfetante nas roupas ao invés de sabão em liquido?

— Eu não tenho culpa os potes são iguais — ela se defendeu.

— Nossa, muito iguais — ironizei. — São tão iguais que em um está escrito "Desinfetante" e o outro 'Sabão".

— Já que é para falar vamos falar. — Ela riu. — Uma vez a Mand acordou meia noite gritando dizendo que estávamos atrasadas. E começou a pegar as coisas para se arrumar.

— Pelo menos eu não estava com os pares de sapatos errados.

— Mas você já tropeçou no próprio pé e caiu de cara no chão.

— E você já ligou para o Marcus achando que era seu pai. — Rimos e olhei para o Edward que nos observava sem dizer nada e depois riu também.

— Vocês duas são malucas, literalmente — disse. Megan terminou e depois de uma votação totalmente injusta, por que no caso ficaram os dois contra mim nós fomos jogar banco imobiliário no chão da sala enquanto ouvíamos os rocks do Edward.

Ele não é o tipo rockeiro, é só um cara "normal" que curte cara loucos gritando músicas que parecem totalmente sem nexo, mas que tem letras incríveis.

— Qual é essa? — pergunto enquanto Megan girava o dado para saber quantas casinhas avançaria.

A letra da música me fazia pensar no Luke. Eu realmente não entendo como uma música pode definir tanto nossa vida.

" Estou sozinho, eu não sei se consigo encarar a noite

Estou em lágrimas e o choro é por sua causa

Eu quero o seu amor, vamos quebrar a parede entre nós

Não dificulte as coisas, eu colocarei meu orgulho de lado"

— Angel do Aerosmith — Edward disse e fechei meus olhos deixando a letra me torturar, abri logo em seguida e Megan estava me encarando.

— Ela vai ficar ouvindo essa música para se torturar mais. — Megan disse e tirou o número 3 e andou as casinhas que para o bem dela era dela mesmo. — Por causa do Luke, sendo que ela que está dificultando as coisas.

— Não, eu só gostei da música e quis saber o nome. E é minha vez. — Girei o dado. Ela me conhece tão bem que chega ser injusto.

— É uma bela música — Edward disse e riu de como eu e Megan sempre discutíamos. — Vocês se conhecem tão bem.

— Bem até demais — digo rindo.

— Eu sou de mais. Vocês estão preparados para perder? — ela perguntou e riu também.

Realmente ela estava certa, perdemos pra ela após duas horas de jogo, eu fui a primeira a perder tudo. Deitamos no chão e ficamos só ouvindo músicas depois da Megan nos zoar muito.

— Vocês vão sentir minha falta? — perguntei.

— Não, não vamos. — Megan falou e eu fiquei em silêncio por um tempo. Edward concordou com ela.

— Achei que sentiriam — sussurrei um pouco magoada. — Eu sentirei a de vocês, eu acho. Se eu sentir algo depois que morrer. — Edward descordou com a cabeça.

— Não sentiremos falta de você, até por que você não vai morrer, vai nos perturbar muito ainda. — Eles riram e eu dei um sorriso.

— Eu achei que era por que não fazia diferença pra vocês ― digo e eles riram mais ainda.

— Você pensa cada besteira, que ás vezes acho que você não tem cérebro — disse Megan.

— Ah cala a boca. — Ri.

Niall desceu as escadas lentamente, por que minha mãe o avisou o quão perigoso era uma escada, eu quem o diga... Ele se deitou com nós colocando os bracinhos por baixo da cabeça.

— Já podemos ir? — perguntou e rimos.

— Depende, você dormiu direitinho? — perguntei e ele assentiu.

— Eu acho que ele merece — disse Edward e Megan concordou.

— Será? — perguntei e ele me olhou com aqueles olhinhos irresistíveis. — Vamos então. — Ri e se levantamos, menos Megan que ficou deitada.

— Isso é injusto — ela disse e eu a encarei.

— Ainda nisso? — perguntei.

— Ainda, porque é injusto — repetiu.

— O que é injusto Megan? — minha mãe perguntou e nem reparei que ela tinha descido as escadas.

— Eu não poder ir na casa do Marcus — disse um pouco brava. Que louca.

— Ordens do seu pai querida, não posso fazer nada.

— Ninguém merece. — Ela fechou os olhos.

— Tem uma coisa...

— O que? — Megan perguntou e minha mãe sorriu.

— Ele te proibiu ir lá, mas não de o Marcus vir aqui... — Quando minha mãe falou instantaneamente Megan abriu os olhos e se sentou.

— Isso é verdade — disse. — Vou chama-lo. — Ela se levantou e foi correndo para as escadas. — Tchau para vocês ai.

Minha mãe riu, e Niall e Edward ficaram um olhando para o outro sem entender nada.

— Mulheres — Edward disse para o Niall que riu. Se despedimos da minha mãe e fomos pra fora.

— Seus pais não vão se importar? — perguntei.

— Eles adoram crianças — disse e fomos para casa dele, ele abriu a porta e Biel estava deitado em uma almofada própria para cachorro e ao nos ver se levantou e começou a latir pulando. Niall correu até ele e eles começaram a rolar no piso brincando.

— Isso que é amizade verdadeira. — Sorri.

— Verdade. Vem, vou te apresentar para minha mãe — disse e eu neguei.

— Está ótimo aqui. — Ri.

— Vamos logo. — Ele me puxou e fomos para a cozinha que diferente da minha casa não era embutida com a sala.

— Mãe — Edward disse e uma senhora que estava lavando louça se virou para nós.

— Por que não veio almoçar... — disse e me olhou. — Quem é a moça bonita?

— Essa é a Mand, minha amiga. Almocei com ela. — disse e eu fiquei parada igual uma estátua morrendo de vergonha.

— Claro, a Mand — ela disse vindo até mim após secar as mãos e me cumprimentou. — Sou a Jane. Ele fala muito bem de você.

— Prazer. — Sorri.

— O pai está? — perguntou e sua mãe negou com a cabeça.

— Ele foi conversar com uns clientes.

— O pequeno veio? — Jane perguntou olhando pra mim e foi ai que percebi que realmente o Edward falou sobre mim a ela.

— Veio, ele está na sala com o cachorrinho.

— Estou fazendo umas bolachas, será que ele gosta? — ela questionou.

— Ele adora bolacha. — Dei uma pausa. — É melhor ver o que o Niall está fazendo. Ele costuma ser bem bagunceiro. — Me virei para o Edward e ele concordou e fomos pra sala após sua mãe voltar lavar louça.

— Que calunia, ele está quietinho. — Ele riu e eu olhei para ele.

— Milagres acontecem. E isso com certeza é um.

Ele me puxou para se sentarmos no sofá, era um sofá de três lugares e totalmente confortável. O que fez meu corpo relaxar instantaneamente.

— Bem bonita sua casa — digo observando a decoração bege com branca. A casa era totalmente organizada e não havia nada que não combinasse.

— Minha mãe gosta de decorar, ela passa horas pensando em que tipo ela vai querer para cada nova casa. É meio maluco de certa forma, não podemos trocar a cortina da sala, ou por um tapete que não seja da cor do resto que ela ja pira — suspirou. — Manias. — Riu.

— Qual sua mania? — questionei.

— É muito louca, conforme as pessoas dizem. Você também acharia. — Ele riu.

— Quem não tem um pouco de loucura?

— Isso é verdade. — Ele sorriu. — Eu tenho manias por porta-retratos.

— Legal. — Ri.

— Eu falei que você acharia louco. — Ele me encarou.

— Não é que eu ache louco, achei interessante. Você põe fotos suas? De bandas? Ou o que?

Ele ficou em silêncio e depois riu, de uma forma um tanto desconcertada. E depois de uns longos segundos ele falou em um tom baixo:

— Eu não coloco nada, eu deixo como comprei. Com fotos que veem.

Naquele momento eu comecei a rir e ele me deu um leve empurrão em meu ombro.

— Idiota.

— Por que você faz isso? — perguntei.

— Por que eu gosto das pessoas nas fotos, elas estão felizes.

— E por que não põe fotos da sua família? — questionei.

— Quando eu comecei a coleção eu não tinha família.

Ele falou e eu fiquei tentando entender, mas de certa forma nada vinha em minha cabeça.

— Não entendi — digo.

— Mand, eu sou adotado — disse e me arrependi de ter rido. — Eu fiquei até os treze anos de idade no orfanato.

— Então você colecionava retratos com fotos de famílias felizes imaginando que seria a sua?

— Exatamente.

— Mas agora você tem uma família. Devia colocar fotos deles.

— Mas e os outros? Por que ninguém pensa nos outros?

— Que outros?

— Vou te mostrar. — Ele levantou do sofá e levantei junto com ele. — Mãe vou mostrar uma coisa pra Mand, olha o Niall? — gritou e sua mãe apareceu na porta e concordou, chamou o Niall para comer as bolachas e ele foi correndo.

Andei atrás do Edward por um pequeno corredor, onde nos levou a várias portas, entramos em uma.

— Esse é o meu quarto. — disse e entrei. O quarto era azul escuro, com uma cama box de casal no centro, uma mesa de computador e uma prateleira. Cheia de portas retratos. Observei cada canto.

— Ali estão. — Ele apontou para a prateleira e fomos até lá perto. Havia uns 15 ou mais porta-retratos com aquelas fotos que vem, de pessoas totalmente desconhecidas.

— Esse é meu tio Jake. — Ele apontou para um dos retratos com um homem com um peixe na mão. — Ele gosta de pescar, e me levava com ele. — Meu avô e minha avó, eles moram no interior em um local bem agradável para passar uns dias, mas não para morar.

Ele riu.

Olhei todos eles e ouvi atentamente tudo que ele falava, desde seus primos chatos, até os legais. Desde suas primas simpáticas até as rabugentas. Tentei imaginar como ele se sentia em um orfanato, onde criava ilusões que pessoas desconhecidas eram da sua família, para não se sentir tão sozinho. E de como ele dava características únicas que parecem tão reais.

— Você sabe que eles não são sua família, não sabe? — Encarei ele.

— Eu sei. Mas o meu eu pequeno não. Eu pegava esses retratos e viajava para um mundo onde eu tinha uma família, eu ia passear com eles, fazíamos surpresas em aniversários, íamos assistir um filme e até mesmo uma partida de futebol. Eles. — Ele apontou para os porta-retratos. — Estiveram comigo quando ninguém estava.

Encarei ele por uns segundos e fiquei escolhendo as palavras certas, mas só saiu um sinto muito e depois uma pergunta estupida.

— Você conheceu alguém da sua família?

— Não, ninguém. Não sei nem se estão vivos ou se só me largaram mesmo. Não sei nem o sobrenome que eu iria ter caso estivessem com meus pais que me colocaram no mundo. Eu me sentia tão sozinho. — Ele fechou os olhos provavelmente relembrando como era.

Assim como eu ele se sentiu sozinho, mas o dele era bem pior. E eu conseguia entender um pouco de sua dor.

Fui pra perto dele em um movimento rápido e o abracei apertado. Meus braços envolvendo seu corpo e minha cabeça ao lado da dele.

Ele levou seus braços envolta de mim também.

— Agora você tem uma família. — sussurrei.

— Agora eu tenho você também — disse o que fez com que um sorriso surgisse em meus lábios.

A porta de seu quarto é aberta, só consigo ouvir o barulho.

Nos soltamos e me virei, estava lá nos encarando uma garota, com seu cabelo preto longo, lábios rosados por conta de seu batom, e nenhum sorriso. Abaixei a cabeça desconcertada.

— Amor — Edward foi até a porta e deu um abraço nela, mas ela recuou no beijo. — Essa é minha amiga, a Mand. — Ele apontou pra mim.

— Você é a namorada dele né? Prazer em conhece-la. — Sorri. — É mais bonita do que ele me descreveu.

Ela só me olhou e colocou os braços por cima do ombro dele.

— Eu vim te ver, meu pai acabou tendo que vir e eu pedi para vir com ele.

— Ainda bem. Eu estava com saudades — disse e beijou ela.

Fiquei olhando para qualquer canto, lá estava eu segurando vela e não dava de sair pois os dois estavam na porta. Que ótimo!

— Eu vou ver o Niall — disse andando em direção a eles. Eles se soltaram e Edward olhou pra mim.

— Vamos lá. — Ele falou e os dois saíram em direção ao corredor e fomos todos pra cozinha. Niall estava sentado no chão comendo ao lado do cão que comia sua ração.

— Está terminando? — perguntei ao Niall que agora virava um copo de plástico com suco na boca.

— Estou — disse após deixar o copo no chão e se concentrar na bolacha que parecia deliciosa.

— Querem comer? — Jade perguntou e Edward e sua namorada se sentaram e começaram a comer. — E você Mand? — perguntou olhando pra mim.

— Não, obrigada. Eu só estou esperando o Niall terminar para irmos para casa.

— Está cedo — disse Edward após mastigar o que tinha em sua boca. — Logo agora que a Brice chegou. Vocês vão se dar bem.

A sua namorada ou Brice sei lá o que o encarou e depois deu um sorriso falso pra mim.

— Seria uma honra — digo. — Mas infelizmente eu tenho compromisso — menti.

Eu não tinha compromisso nenhum só que não estava afim de aturar a namorada dele me encarando como se eu fosse uma amante do Edward.

Niall terminou e me despedi deles e Edward foi com nós até a porta.

— Amanhã passo lá pra irmos pra aula. Tudo bem?

— Claro — respondi e eu e Niall voltamos pra casa.

Megan estava deitada no sofá com a cabeça sobre o colo do Marcus. Niall foi correndo até eles e começou a contar sobre como a casa do Edward era incrível, eles ouviam cada palavra e o respondia como: "Sério?" " O cachorrinho é como? "

Dei um 'Oi' para eles e subi para o meu quarto. Ele estava exatamente como deixei, com uma pequena enorme diferença: a janela estava aberta. O que fez com que meu quarto passa-se de sauna para um freezer. Fechei a janela e deitei na cama puxando o cobertor para me cobrir. O livro sobre romance gótico que por um acaso é da Megan ainda estava sobre a escrivaninha ao lado da minha cama na página 64. Eu realmente estou com sérios problemas. O livro tem 245 páginas e esse tempo todo só li 64. O que me leva a perguntar se o livro é bom.

Ignoro meus pensamentos loucos, pego o livro e voltou a ler. Eu havia parado na parte em que o amor que era lindo e perfeito se transformava em um drama total. Isso sim era interessante.

Após uma hora e pouco eu terminei de ler o livro, deixei o livro escorregar de minhas mãos e cair fechado em cima do meu corpo.

— Eu não acredito que ele terminou assim — sussurrei para mim mesma.

Por fora eu só pareço uma pessoa normal que acaba de terminar de ler um livro e não acredita que ele terminou daquele jeito. Mas por dentro eu estava louca, eu não posso admitir que o final seja assim, ainda mais com a frase: Um livro é a realidade escrita.

Foda-se essa realidade toda, eu queria a merda de um final feliz para todos, onde eles terminam juntos deitados na grama fazendo planos para um futuro que nunca irá existir, mas que para eles iria.

Isso é tão injusto.

Peguei o livro Lacy: A Realidade Escrita e comecei a olha-lo. Precisa ter uma continuação ou algo do tipo que diga: Depois de 2 meses eles se reencontraram em um café e estão juntos até hoje.

Mas nada. Nem uma letra, aquele era o fim. Fechei o livro e coloquei sobre a escrivaninha. E fiquei pensando em como algo que era para dar tão certo acabou um de um lado e outro do outro.

Será que eu e o Luke vamos acabar assim? Igual estamos agora? Ele em um lado, planejando o casamento com sua noiva e eu do outro, cuidando do nosso filho? Ou talvez morta? Isso parece tão mais injusto do que o final de um livro de romance gótico.

g

Estava terminando de tomar café com Megan, minha mãe e Niall quando alguém tocou a campainha, terminei de virar o achocolatado da xícara em minha boca e fui abrir a porta.

— Estão prontas? — Edward perguntou, encarei ele de cima a baixo e sorri.

— Se estivéssemos prontas não seria nós. — Ri e puxei ele para dentro. Minha mãe assim como Megan o cumprimentou, Niall estava entretido com seu pão e nem prestou atenção em nada. Subi as escadas, escovei meus dentes e peguei minha mochila, nem me importando se eu tinha posto ou não o livro do dia. Desci e Megan já estava com a sua nas costas conversando com o Edward. Demos um tchau para minha mãe e Niall e seguimos para a escola.

Não sei se era impressão minha, loucura da minha cabeça ou algo do tipo, mas Edward estava estranho, ele não olhou em meus olhos em nenhum momento enquanto conversamos indo em direção ao colégio, e não pronunciava palavras mais grandes do que 3 letras, era sim e não. Parece que de uma hora para outra esqueceu todas as letras que aprendeu na 2ª série.

Chegamos e subimos a escada e fomos para nossa sala, dessa vez Megan não foi se agarrar com o Marcus. Sentamos juntos no final da sala, mas não falamos nada, tipo nada mesmo. Olhei para a Liv que já estava no seu lugar, fiquei a encarando alguns segundos enquanto pensava se uma pessoa pode mudar assim do nada.

Não é como mudar o trajeto de chegar em casa, ou de como mudar sua cor favorita em questão de segundos. É algo que leva tempo, e o dela foi tão instantaneamente que me pegou de surpresa. E a pergunta é: Será que ela realmente mudou? É como me disseram uma vez, a pessoa se acostuma a ser de um jeito. E acho que por mais que tenha sido para chamar a atenção dos pais, ela se acostumou ser assim. Acho que essa mudança repentina dela pegou todos de surpresa menos Megan que a observava e sorria.

— Por que não vai lá logo? — digo em um tom totalmente baixo para ninguém além de nós duas e o Edward escutar.

Ela ficou um bom tempo olhando para a Liv e não me respondeu. Não acredito que essa vadia está me ignorando.

— Megan! — Dessa vez falei alto, ela só virou a cabeça em direção a mim.

— O que foi? — ela perguntou, como se eu já não tivesse falado.

— Por que não vai lá? — perguntei novamente e dessa vez ela finalmente escutou.

— Lá onde maluca?

— Na Liv. — Puxei o caderno dela ao ver que estava aberta na matéria de física e tinha uma atividade que eu não fiz. Comecei a olhar onde começava e onde terminava para ver se dava tempo de copiar, antes do professor Oliveira entrar pela sala e pedir á atividade em questão que vale meio ponto. Cada milésimo em atividade é importante, acredite. Isso por que ninguém consegue tirar mais que dois na sua prova, isso os nerd, imagine as pessoas como eu. Mas também tem as pessoas que tiram quatro, isso por que elas têm uma habilidade incrível de colar.

— Liv? — Megan pergunta totalmente perdida.

— É Megan. Liviane Madson. Aquela que é irmã da Eduarda Madson, que por um acaso vai casar com o Luke daqui uns meses, Ficou mais claro para você? — perguntei e percebi que acabei exagerando um pouco. Isso não foi pelo simples fato de a minha melhor amiga estar olhando para sua antiga melhor amiga, eu estava assim por causa do Luke e a minha frustração dele casar com outra.

Eu não superei isso.

Eu não vou superar isso.

Eu amo o Luke Winchester.

Fechei os olhos por uns segundos enquanto Megan pensava em uma resposta.

Por que eu amo tanto ele? Mesmo ele sendo um completo idiota? Mesmo ele chamando nosso filho de "coisa"? Mesmo ele não me amando, é ele não me ama, se ele realmente me amasse ele ia contra os pais dele, ia contra tudo para estar comigo, mas não.

Eu sei que a culpa é minha, que eu que briguei com ele e mandei ele sumir da minha vida, mas poxa, eu realmente tentei aguentar tudo isso, eu aguentei um mês inteirinho vendo ele com outra, mas chegou em uma hora que não dava mais. Que o meu coração não aguentava mais. Eu só queria que ele chegasse em mim e dissesse que aquilo tudo acabou e que finalmente chegou a parte do viver feliz para sempre.

Mas ele não disse. Na verdade ele não disse nada.

— Ir lá fazer o que? — ela perguntou me tirando dos meus pensamentos perturbadores.

— Ir lá dizer tudo que está ai dentro. —Apontei para seu coração. E comecei a copiar a atividade que para minha sorte era pequena. E pra minha sorte maior ainda, o professor se atrasou, provavelmente no transito ou sei lá o que, isso não importa. O importante é que tenho mais tempo.

— E o que tem aqui dentro? — ela perguntou.

— O coração de uma menina medrosa, patricinha, fresca e totalmente apaixonável, e que consegue perdoar alguém como ninguém. — Megan riu de como defini seu coração e depois ficou em silêncio. Olhei para ela e depois para o Edward. Ele parecia estar em um outro mundo, ele nem se quer prestou atenção em nossa conversa, estava olhando para o nada.

Se concentra Mand.

Voltei a copiar a atividade e ignorei todo e qualquer coisa que pudesse tirar minha concentração nesse exato momento, ou seja, tudo.

O professor entrou na sala e pediu desculpas pelo atraso. Merdaaaa. Ainda falta 3 questões. Comecei copiar descontroladamente rápido e a minha letra passou de péssima para indecifrável e horrível.

Parece que quanto mais estamos com pressa, mais as coisas dão errada. A merda da lapiseira acabou as pontas. Abri minha bolsa rapidamente atrás das pontas 0.7 e finalmente achei ela jogada no bolso maior, onde definitivamente ela não devia estar. Voltei a copiar, dando uma olhada no que o professor fazia. Ele ainda estava tirando suas coisas da bolsa e pegando o "diário".

Finalmente terminei.

Soltei a lapiseira sobre o caderno e respirei.

Ele acabou corrigindo e ganhei meu meio ponto e começou a explicar sobre Calorimetria, fiquei prestando atenção.

As aulas foram bem legais até, mas não mais legal que o sinal da saída. Esse era divino. Levantei da carteira e guardei minhas coisas na mochila.

— Eu vou pra casa do Marcus — Megan disse enquanto ja estava com a mochila nas costas.

— E seu pai já deixou?

— Por vier das dúvidas estou na casa da Cris fazendo o trabalho em dupla. — Ela olhou para a porta e depois para mim novamente. — Entendeu?

— Entendido. E por vier das dúvidas eu não sei que você vai pra casa do Marcus.

Ambas concordamos e ela saiu. Edward ainda estava olhando para o nada e com a caneta na mão, apoiada sobre o caderno.

— Edward — chamei e ele me olhou e após perceber que só tinha nós na sala, riu.

Pegou sua mochila e guardou as coisas e depois fomos em direção a escada, ele me segurou até chegar no último degrau. Ele disse ser precaução.

Fomos pra fora, olhei por puro reflexo o local onde fica o carro do Luke. Mas ele não estava ali.

Abaixei a cabeça tentando esquecer um pouco de todas as vezes em que nos beijamos ali.

Olhei para o Edward, ambos andávamos pensativos e sem falar nada. Esse silêncio todo dele já está sendo chato.

— O que foi? — perguntei.

Ele olhou para mim e balançou a cabeça.

— Nada. Só estou um pouco pensativo — disse e ficamos em silêncio enquanto observava a rua.

Chegamos em frente de casa, dei um leve empurrão em seu ombro.

— Tchau. E seja lá o que for que você tanto pensa, espero que pense logo. É tão estranho estar assim contigo.

Ele assentiu.

Fui andando até a porta de casa e abri.

— Mand! — Edward chamou e eu olhei para trás. — Podemos conversar?

— Agora? — perguntei.

— Só se você poder.

— Posso. — Sorri e ele se aproximou de mim que ainda estava segurando a maçaneta da porta. — Entra. — Abri a porta mais.

— Se importa de conversarmos aqui?

— Não.

Fechei a porta e o encarei. Está tão estranho, ele não conversou comigo direito hoje, estava estranho e agora quer conversar.

— Então eu quero te falar que... — Ele deu uma pausa, e desviou o olhar do meu. — Isso é tão difícil.

— O que é difícil? ― perguntei.

Ele olhou em meus olhos e ficou me encarando.

— Eu não consigo. ― Ele abaixou a cabeça. Levantei ela pelo queixo dele.

—Fala de uma vez ― sussurrei enquanto dessa vez eu que encarava seus olhos azuis que transmitiam tristeza. É fácil perceber, ainda mais quando vem do Edward. Um cara sempre com aquele brilho encantador, mas nesse exato momento o brilho havia desaparecido. E eu não gostava do que estava vendo. Será que ele está com algum problema familiar?

— Mand, é que... ― Novamente ele parou antes de dizer. ― É tão difícil dizer quando estou olhando em seus olhos. ― Ele desviou o olhar do meu e sussurrou:

— A minha namorada...

Aquilo era suficiente, não precisava mais dele dizer algo, ou de eu perguntar o que tem ela, estava obvio. Por que não pensei nisso antes?

Eu não posso acreditar nisso.

— Eu entendo ― digo tentando parecer de boa com a situação, mas eu não estava.

Eu queria chorar, eu queria gritar, eu queria xingar ele e o chamar de idiota. Mas eu não fiz nada disso.

— Mand, me desculpa. Não podemos ser mais amigos. ― Ele tentou levar sua mão em me cabelo mas eu me afastei. ― Está sendo difícil para mim fazer isso. Mas ela não aceita que sejamos amigos.

Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, mas eu não as deixava cair, eu não faria mais isso. Eu não deixaria ele ver eu chorando. Eu não choraria por ele.

— Tudo bem. ― Respirei fundo e sorri como se aquilo não tivesse me afetado. Mas por dentro meu coração estava despedaçado.

— Me desculpe ― pediu novamente.

— Não precisa pedir, eu preciso ir ― digo abrindo a porta novamente.

— Eu achei que poderíamos ficar conversando por hoje.

— Achou errado. ― Dei uma pausa entre minha respiração para não deixar as lágrimas caírem. ― Adeus! ― Abri a porta por completo e entrei em casa e fechei, sem olhar para trás. Subi correndo para o meu quarto e bati a porta enquanto deitava na minha cama e agarrava meu travesseiro que cheirava ao meu perfume.

Está tudo bem. E se não estiver, vai ficar.

É a decisão dele.

E se eu disser que não tenho mágoa dele nesse momento, eu estaria mentindo.

Eu não estou nem ai para ela, ou sua insegurança. Eu não estou nem ai. Mas eu esperava mais dele, eu realmente esperava mais dele, droga.

Ele era meu amigo.

Ele que falou que estaria comigo sempre.

E cadê ele nesse exato momento? Cadê ele?

Ele não está aqui. E parece que toda a nossa amizade nesse pouco tempo, não importa nada.

E a pergunta é: Será que um dia importou?

— Estou bem ― sussurrei para mim mesma.

Uma coisa que não estava nesse momento era bem. E aquela merda toda de amigos? Onde fica a merda de amizade que ele falou que nós tínhamos? Que eu achei que tínhamos? Onde fica aquele "agora eu tenho você"? Por que isso?

É estranho tentar entender que o fim de uma amizade talvez nem seja mesmo o fim, afinal, talvez nunca começou. Tive grandes pessoas que passei inúmeros momentos e que hoje nem olham mais na minha cara ― talvez haja uma explicação, fico procurando-a.... as vezes eu me culpo as vezes os culpo, mas nunca chego a uma conclusão.

E eu realmente não quero que o Edward seja mais uma dessas pessoas, eu não posso acreditar que ele vá se tornar algumas dessas pessoas.

Eu não acredito nisso.

Eu não posso acreditar nisso.

É a namorada dele, é quem ele ama. Eu entendo. Mas droga, eu não acho isso certo, porque não é certo. Como alguém acaba uma amizade por que a namorada não aceita? Eu não consigo aceitar que ele está acabando a nossa amizade. Eu não posso aceitar que eu não signifique nada pra ele. Eu iria contra o Luke por ele, eu nunca deixaria um amigo por um amor. E não estou dizendo isso da boca pra fora, ou por que não passei por essa situação.

Eu realmente não seria capaz disso.

E naquele momento em que eu falei a mim mesma que não derramaria nenhuma lágrima por ele, eu menti. Aqui estou eu em lágrimas novamente, chorando por mais uma das decepções da minha vida. Chorando por mais uma pessoa que entrou, me fez se sentir especial e saiu. Chorando mais uma vez por uma dor que não dava de explicar.

― Mand? ― Uma voz familiar fala enquanto eu ouvia os passos se aproximando. Soltei meu travesseiro e levantei minha cabeça, limpando as lágrimas, antes de minha mãe chegar e ver.

― O que foi mãe? ― perguntei ao ver a maçaneta ser girada e a figura feminina da minha mãe aparecer na minha frente.

― Você está bem? ― ela perguntou e eu abaixei a cabeça e respirei fundo enquanto lutava contra as lágrimas.

― Sim, um pouco de dor de cabeça, mas daqui a pouco passa. Como sempre ― digo e ela me encarou como se não tivesse acreditado.

― Você estava chorando? ― Ela se aproximou de mim e naquele instante já não conseguia mais segurar as lágrimas. ― O Luke novamente? ― perguntou enquanto levantou minha cabeça e limpava minhas lágrimas.

― Não ― sussurrei. ― Eu só queria, que pelo menos uma vez, só uma. ― Dei uma pausa enquanto deixava as lágrimas caírem. ― As pessoas não me abandonassem.

Minha mãe abaixou a cabeça, eu havia afetado ela com isso. Mesmo sem intenção. Depois ela me puxou para um abraço.

― Essas pessoas que te abandonaram. ― Ela me apertou forte. ― Não sabem o que perderam.

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