Sinto a minha garganta secar no momento em que rolo os olhos ao longo do enorme prédio à minha frente. É um edifício realmente muito alto.
Por um nanosegundo, cogito a possibilidade de as pessoas dessa cidade terem algum tipo de fetiche por grandes construções que possuem uma quantidade incontável de janelas porque não é possível!
Usando apenas um assovio baixo e mal executado, Ian chama a minha atenção e faz um gesto com a cabeça, apontando em direção à entrada principal do prédio de cor avermelhada.
Ao que tudo indica, aqui será o meu novo lar.
Depois de um suspiro nervoso, que serve para manter a minha pressão estável, caminho no encalço do meu irmão.
Tudo seria mais fácil e menos estressante se eu pudesse morar com meu irmão e seus dois amigos. Contudo, de acordo com Ian Collin Morgan, morar com garotas irá fazer com que eu me enturme mais rápido e, segundo ele, dormir escutando gemidos ecoando por todo o apartamento diariamente não fará bem para a minha sanidade.
Após subir dez andares dentro de um elevador completamente silencioso, o loiro que me acompanha abre a porta do apartamento 1001 sem ao menos tocar a campainha. Ele parece estranhamente confortável no lugar e não faz qualquer tipo de cerimônia ao empurrar as minhas malas para dentro do apto.
Imediatamente, como se esperassem que adentraríamos o lugar, duas belas garotas olham para a porta principal. Só consigo acenar gentilmente em um olá silencioso.
— E aí. — Ian é o primeiro a se manifestar em uma espécie de bom dia. — Essa é a minha irmã, Heaven — diz, parecendo orgulhoso.
Sem esperar por mais um segundo sequer, uma das garotas se aproxima com um grande sorriso no rosto.
— Eu sou Paige. Paige Smith. E ela — Aponta rapidamente para a garota ainda sentada no sofá — é a Summer.
Summer está longe de ser um dia ensolarado, cheio de cores e brisa suave. A garota do outro lado da sala se assemelha mais a um dia nublado, com nuvens escuras e vento frio. Suas roupas escuras, acompanhadas de algumas mexas verdes em seu cabelo preto e do piercing nada discreto em sua sobrancelha esquerda confirmam isso.
Por outro lado, a garota sorridente de pé na minha frente, parece um pote de morangos. Há vermelhos por todos os lados. Em seu seu vestido, gorro e batom. Ela é assustadoramente bonita. Sua pele âmbar, seu cabelo cacheado de tom escuro e seu olhar marcante fazem com que eu perca o fôlego por alguns segundos.
— Prazer, Heaven Morgan. — Sorrio grande para Paige.
Juro que vejo quando, por um milésimo de segundo, a morena ainda sentada do outro lado cômodo revira os seus olhos.
Droga. Ela já me odeia?
— Se fizerem qualquer coisa com ela, eu mato as duas, ok? — Ian ameaça, sério, mesmo que haja um leve, bem leve, toque de brincadeira em seu tom.
Summer, por sua vez, ergue o seu punho e levanta o seu dedo do meio para meu irmão, como se não desse a mínima para o que ele disse. Sem conseguir me controlar, acabo deixando escapar uma risadinha.
Acho que essa é apenas a personalidade dela. Afinal, nem todo mundo sai por aí distribuindo sorrisos a estranhos, não é mesmo?
— Pode deixar, Morgan. Vamos cuidar muito bem dela — afirma Paige, alegre, enquanto masca um chiclete.
Por algum motivo, Collin não possui uma das melhores expressões estampadas em seu rosto ao direcionar seu olhar para a moça. Entretanto, antes que ele continue com suas ameaças infundadas, a presença de alguém rouba completamente a minha atenção ao aparecer na sala.
E, antes que eu consiga evitar, suspendo a minha respiração ao me dar conta de quem se trata.
É o garoto da festa.
Neste momento, sinto que, se o mundo ao nosso redor estivesse desmoronando, eu, ainda assim, teria olhos somente para ele, pois minhas órbitas se encontram presas, completamente amarradas e fixas nos olhos cinzas e maxilar bem delineado que ele possui.
O, ainda, desconhecido é dolorosamente bonito e sufocantemente encantador. Tanto que sempre que nossos caminhos se encontram de alguma forma eu, inexplicavelmente, perco o ar por milésimos de segundos que mais parecem milênios para mim.
E esse é apenas o meu primeiro dia oficial em Detroit.
— Perdeu a hora, Blackwell? A noite deve ter sido mesmo muito boa — Summer caçoa com um sorrisinho torto em seus lábios tingidos por um batom escuro.
Blackwell...
Arregalo os olhos quando a minha ficha cai.
Ele é um dos garotos que moram com o meu irmão!
— Vai se foder, Ross. — A voz dele é grossa e completamente tranquila ao pronunciar a frase.
Seu timbre é sexy!
Agora, um sorriso dança nos lábios do meu irmão como se ele quisesse falar algo extremamente inapropriado.
Típico do Ian.
— Essa é a Heaven, irmã do Morgan — Paige declara, com o tom de voz gentil.
— Eu a conheci ontem à noite. — Ele fixa seu olhar em mim. — E aí.
Suas íris de tom gélido fixam-se nas minhas por alguns segundos. Seus olhos carregam uma intensidade indescritível e isso, consequentemente, faz com que o meu coração acelere um pouco mais do que antes.
Contudo, decidida a me manter o mais firme que consigo no momento, apenas retribuo o cumprimento sem muito alarde:
— E aí.
Na noite anterior, ele me saudou exatamente da mesma forma. Todavia, diferente de hoje, eu não consegui responder. Tive a sensação de ter esquecido todas as palavras que costumavam fazer parte do meu vocabulário naquele momento constrangedor.
— Agora, preciso ir, Ven. Ainda tenho que passar em casa — comunica Ian, chamando a minha atenção.
À minha frente, Paige olha para um ponto fixo, aparentemente perdida em seus próprios devaneios, enquanto Blackwell conversa algo com Summer, sem dar atenção ao seu redor.
Ele parece ser bem fechado. É sério.
— Tudo bem. — Lanço um sorrisinho fraco para o loiro.
Meu irmão beija a minha testa e se afasta. Claramente, ele não está muito feliz ao ter que me deixar aqui, o que me deixa um pouco confusa.
Todavia, esse lugar é muito melhor do que os famosos dormitórios.
— Vamos, Declan. Já estamos atrasados — Ian diz com uma sombra de sorrisos no canto da sua boca.
Declan...
Declan Blackwell.
Eu gosto do nome dele. Muito.
O amigo do meu irmão revira os olhos e se levanta, andando rapidamente até Ian logo em seguida. Por fim, os dois saem, batendo a porta atrás de si enquanto murmuram alguma coisa que não consigo ouvir.
Um suspiro inevitável escapa por entre os meus lábios assim que me percebo "sozinha" no local.
— Quer conhecer o seu quarto? — Paige pergunta de repente, fazendo-me desviar a minha atenção para ela.
De imediato, meus olhos fixam-se nela, que mexe em seu longo cabelo cacheado enquanto mastiga seu chiclete de forma descontraída.
— Claro — respondo, animada.
A garota sai andando, esperando que eu faça o mesmo, o que faço minutos depois ao pegar as minhas malas.
Summer parece não se importar com nada ao seu redor. Ela está focada demais com algo em seu celular para ao menos dar boas vindas à pessoa que morará com ela por longos e torturantes anos.
Paige me espera em frente a uma das portas e, ao ver que já estou próxima de si, ela gira a maçaneta de cor dourada com a intenção de empurrar a estrutura de madeira para que eu conheça o meu novo quarto.
O cômodo não é muito grande, mas possui um ótimo tamanho. Ele é totalmente tingido de branco e existe apenas um guarda-roupa encostado em uma das paredes e uma cama de solteiros na parede oposta.
Totalmente sem graça.
Não vejo a hora de poder mudar isso e decorá-lo do meu jeito.
— Nós dividimos as tarefas de casa e o aluguel é pago sempre no dia cinco de cada mês. Summer detesta bagunça e, caso você deixe suas louças sujas, cuidado para ela não te matar enquanto você dorme - Paige informa com tédio em sua voz. - Seja bem-vinda.
Assim que acaba de proferir as palavras, a garota gira os seus calcanhares e deixa o quarto adentrando a porta que se localiza em ao lado da minha, batendo-a atrás de si em seguida.
Ela estará sempre na porta ao lado da minha. Ótimo!
Suspiro.
Eu, sinceramente, espero que as coisas melhorem por aqui.
As pessoas parecem não se importar comigo quando adentro a sala de aula. Aliás, elas parecem nem se dar conta da minha presença.
E isso é muito bom.
Aparentemente, 99% dos alunos existentes dentro dessa sala são calouros, o que explica o fato de ainda não haver grupos formados ou baderna. Na verdade, eles parecem ainda mais assustados do que eu.
Entrar na faculdade é o mesmo que ser jogado em uma cova de leões.
Que vença o mais forte.
Olho as horas no meu celular e ainda faltam sete minutos para as aulas começarem de fato.
Eu nunca fui muito boa em fazer amizades, então me mantenho calada enquanto, inconscientemente, a minha perna direita balança sem parar, tentando aliviar a grande carga de ansiedade que corre por minhas veias.
— Você é a irmã do Morgan? — Uma voz surge de algum lugar. Do nada.
Franzo a minha sobrancelha e, imediatamente, procuro o autor da pergunta que foi direcionada a mim.
Do meu lado direito, encontro um garoto de olhos e cabelos escuros, que possui um sorriso de canto em seus lábios de traços finos. Seu rosto é magro enquanto o seu cabelo é jogado para o lado esquerdo de um jeito até que sexy.
— Sim. — Reviro os olhos. — Mas pode me chamar de Heaven. — Dou um sorrisinho na sua direção.
Ele, sem pedir qualquer autorização, puxa a sua cadeira ainda mais em direção à minha.
— Eu sou o Tyler.
Sorrio gentilmente.
Tyler claramente está em um pedestal. O qual eu ainda não consegui identificar.
As garotas, incluindo as calouras, passam por ele, olhando-o descaradamente enquanto cochicham entre si.
Alto, com um belo porte físico, que denuncia que ele também é atleta, um sorriso fácil e olhos brilhantes. O garoto é bonito, isso é inegável. Qualquer uma em sã consciência ficaria caidinha por ele com uma facilidade incrível.
Ainda bem que eu nunca estou na minha mais plena consciência.
— Prazer, Tyler. — Estendo a minha mão para ele. — O que um veterano faz nessa turma, huh?
— Como sabe que eu sou veterano? — Arqueia uma sobrancelha no mesmo momento em que cruza os braços ao se aconchegar na cadeira.
— Você não tem cara de calouro. — Dou de ombros.
Ele ri, dando de ombros. o que significa que estou certa.
— Reprovei em "História da Língua Inglesa Através da Literatura" no último semestre. - Revira os olhos.
Arregalo levemente os meus olhos em surpresa.
Mesmo que eu tenha acabado de começar a cursar Língua e Literatura Inglesa, o curso não me parece um bicho de sete cabeças.
— É mesmo? — pergunto, sem conseguir frear a minha boca. — Que merda.
— Pelo menos dessa vez vou ter uma garota bonita ao meu lado pra me dar inspiração. — Há um sorriso dançando em seus lábios.
Arqueio uma das minhas sobrancelhas, não acreditando no que acabei de ouvir, e, logo, dou uma gargalhada.
Isso só pode ser uma piada.
— Ah, pelo amor de Deus, essa é a sua cantada? — pergunto sem conseguir parar de rir.
Ele arregala os olhos claramente surpreso com a minha fala. Entretanto, antes que consiga consertar a sua cantada ruim, uma mulher mais velha adentra a sala de aula, roubando completamente a atenção de todos os presentes.
Ela é alta, loira e parece sadicamente animada quando para perto do quadro, exatamente no centro do lugar, olhando para nós. Seus olhos azuis varrem cada um dos rostos presentes, e, sem mais qualquer cerimônia, a mulher diz:
— Que os jogos comecem.