Sunshine

By shamelesskcce

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Esta é uma história dos tempos antigos, quando o mundo dos humanos e não-humanos ainda não era dividido. Os C... More

Introdução
Elenco
Capítulo I - Os Sete Pecados Capitais
Capítulo II - O Pecado da Ira do Dragão, Lauren Jauregui
Capítulo III - A Espada da Paladina
Capítulo IV - O Pecado da Floresta Neblinosa
Capítulo V - Para Onde As Lembranças Levam
Capítulo VI - Mesmo Que Você Morra
Capítulo VII - A Determinação da Princesa
Capítulo VIII - Os Segredos de Morgue
Capítulo IX - A Temível Cavaleira Sagrada
Capítulo X - O Festival de Luta de Mahina
Capítulo XI - Sentimentos Antigos
Capítulo XI - O Sonho de Uma Garotinha
Capítulo XIII - Humana ou Demônio?
Capítulo XIV - Ela não queria que você lutasse, ela queria que você vivesse
Capítulo XV - O Treinamento Sagrado
Capítulo XVI - Apoio de Um Jovem Rei
Capítulo XVII - Aliança Entre Reis
Capítulo XVIII - Mesmo Que Me Custe a Vida
Capítulo XIX - Mestre x Aprendiz
Capítulo XX - Um Demônio, Sacrifício e o Preço da Imortalidade
Capítulo XXI - A Princesa do Sol
Capítulo XXII - Eu, a Lua e Ela
Capítulo XXIII - Rivalidade
Capítulo XXIV - A Forma do Amor
Capítulo XXV - Mudanças Exigem Coragem
Capítulo XXVI - A Ressurreição dos Dez Mandamentos
Capítulo XXVII - Sede de Vingança
Capítulo XXVIII - O Verdadeiro Poder da Rainha das Fadas
Capítulo XXIX - A Luz da Esperança
Capítulo XXX - Promessa a Uma Pessoa Amada
Capítulo XXXI - Aquela que Você Precisa Ser
Capítulo XXXII - A Fênix do Orgulho
Capítulo XXXIII - Equilíbrio
Capítulo XXXIV - Lauren x Dez Mandamentos
Capítulo XXXV - Como uma amiga que jamais te abandonou
Capítulo XXXVI - Disciplina e Ordem
Capítulo XXXVII - Por Téia!
Capítulo XXXVIII - Memórias da Guerra Santa
Capítulo XXXIX - Faça-se a Luz
Capítulo XL - Pecados Capitais, Unam-se
Capítulo XLI - Amaldiçoadas Pela Eternidade
Capítulo XLII - O Ódio Leva ao Sofrimento
Capítulo XLIII - Pela Capitã!
Capítulo XLIV - Brilhando Forte Como o Sol
Capítulo XLV - Tenha Fé
Capítulo XLVII - O Rei dos Reis
Capítulo XLVIII - Britannia em Guerra
Capítulo XLIX - Amor Voraz
Capítulo L - O Feitiço Proibido
Capítulo LI - Rainha das Fadas x Anjo da Morte
Capítulo LII - A Salvação do Sol
Capítulo LIII - Todos Seremos Sua Força
Capítulo LIV - Cavaleiros Lendários
Capítulo LV - A Batalha Final
Capítulo LVI - Por Nosso Futuro!
Capítulo LVII - Um Reino Eterno
Capítulo Final - Herdeiros
Epílogo I - O Renascer da Guerra Santa
Epílogo II - A Paz que Buscamos (fim)

Capítulo XLVI - Um Certo Calor

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By shamelesskcce

Olha quem está de volta??? Eu mesma.

Demorei, mas voltei!

Na mídia o Palácio de Icarus

Um gif do Peter como um bônus:

Boa leitura!


Camila se sentou sobre a sacada do templo dos Monges Shaolins e apreciou a vista do sol naquela tarde. Começou a balançar seus pés, respirando fundo. Tendo somente 13 anos de idade, seus treinamentos não eram pesados e passava a maior parte aproveitando o tempo como uma verdadeira criança.

Ela e sua irmã, Korine, foram criadas com os monges desde que seus pais morreram na guerra quando elas ainda eram crianças. Os dois reis deixaram um palácio celestial divino e muitas riquezas, mas antes de partirem, pediram para os Shaolins tomarem conta de suas filhas, pois eles sabiam que o povo cumpriria aquele pedido.

- Mas o verdadeiro segredo está no centro do doce. – Camila escutou a voz calma de sua mestre e virou o rosto. A monja retirava tortas do forno do fogão de lenha, usando uma espátula de madeira bem grande.

- Sei... – apoiou a cabeça em uma das mãos, totalmente desinteressada.

- A minha antiga técnica de fazer tortas totalmente vegetarianas não é a única coisa que você tem na cabeça, não é, Camila?

- Essa história de Escolhida do Sol... – suspirou, olhando nos olhos de sua mestre. – Será que os monges cometeram um erro?

- O único erro que eles cometeram foi contar a você antes dos seus 16 anos. – se aproximou da menina, ficando ao lado dela. – Mas não podemos nos preocupar com o que houve, e sim, agir com o que há. – mostrou o templo com uma das mãos e Camila sorriu.

- Mas Sra. Jinora, como vou saber se estou pronta?

- Quando você estiver pronta, tudo se revelará a você. – piscou e a menina grunhiu impaciente. – A única coisa que posso lhe dizer agora é que a Divindade Suprema te escolheu para ser a dona da Graça do Sol. – voltou para perto das tortas. – Bom, você vai me ajudar com isso ou não?

- Tudo bem. – sorriu, ficando de pé.

Ambas pegaram as tortas e esperaram até que um grupo de monges aparecesse.

- Um, dois, três. – Jinora contou e fizeram movimentos sincronizados para jogar as sobremesas na cara dos monges. As duas caíram na gargalhada. – A sua mira melhorou muito, minha jovem pupila. – acariciou o topo da cabeça de Camila que fez uma reverência.

Jinora guiou a aluna pelo templo enquanto fazia uma revisão com ela sobre todos os ensinamentos que tem passado nos últimos dias.

- Fale doce, mas fale claro. Fale coisas boas diretamente as pessoas. A vida é movimento, não fique parado. – a menina sorriu ao perceber que todos aqueles estudos e treinamentos para se tornar um arcanjo completo estavam dando frutos.

- Está se saindo muito bem.

Camila seguiu Jinora pelo templo, observando os monges treinarem em todo lugar. Eles tinham um estilo de luta próprio, inspirado nos movimentos de animais. Não demorou muito para ela chegar perto dos outros alunos e se sentar para ouvir a lição daquele dia, a qual os tornaria guerreiros brilhantes no futuro.

- Hoje vamos aprender sobre o TAO, a sabedoria do silêncio interno. – Jinora ficou em frente ao grupo de alunos sentados. - Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi, a sua energia. Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia. Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projetam imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi. Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, melhor não dizer nada. Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita sem condições os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas. Se se identifica com êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fracasso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o Universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.

Camila tinha fechado os olhos e respirava fundo para se concentrar naquela meditação. Sempre se perguntou qual seria o seu destino depois de crescer, já que sempre fora protegida pelos monges junto com sua irmã.

Ficou por um longo tempo naquela lição, antes de voltar até seu quarto para descansar.

Quando não estava aprendendo essas coisas, adorava brincar pelo templo com sua irmã e se esconder no meio das árvores. Os anos se passaram muito rápido e logo se tornara uma mulher forte o suficiente para voltar até Icarus.

- Vou sentir falta desse lugar. – comentou Korine ao fechar sua bolsa e abrir a porta do quarto.

- Eu também. – Camila concordou com a irmã e seguiram até a saída.

Elas se despediram de todos e Jinora deu um abraço apertado em Camila, desejando boa sorte e pedindo que ela viesse visitá-la.

As duas irmãs abriram suas asas brancas e partiram para Icarus. Naquele mesmo dia, Camila fora consagrada um dos membros dos Quatro Arcanjos e recebeu Rhitta de presente. Passou por grandes batalhas ao lados dos parceiros, mas não gostava da forma fria e calculista de Metatron.

- Os Dez Mandamentos têm conquistado grande parte dos territórios de Britannia. – Samael cruzou os braços enquanto esperava Camila se preparar para a próxima batalha. – Estou preocupado.

- Eu quero resolver isso de outra forma, Samael. – vestiu sua armadura celestial. – Chega de tantas mortes sem sentido.

- Sabe que Metatron não vai nem ouvi-la.

- Eu apenas farei a minha parte.

Passou pelo Arcanjo e voou até os céus para ir até o próximo confronto com Samael atrás.

Camila viu os Mandamentos avançarem contra um exército de bárbaros e empunhou Rhitta, saindo de dentro das nuvens. Ela planou, fazendo o exército parar bruscamente e olharem para ela.

Ela viu uma silhueta feminina dentro daquela armadura negra. A mulher estava paralisada apenas a olhando e não movia qualquer músculo.

- Você é a líder dos Mandamentos, certo? – como não obteve resposta, continuou. – Por favor, peço para que cessem esse ataque.

- E desde quando obedecemos as ordens de uma maldita celestial? – perguntou outro Mandamento, todos eles estavam vestidos em suas armaduras.

- Cale-se, Hypnos. – a líder ordenou. – Tudo bem, nós vamos recuar.

- Isso é um absurdo, capitã! – outra mulher se enfureceu.

- O que disse?

- Hella e Heimdall, não permitirei que se oponham. – os outros da equipe ficaram quietos. – Vamos voltar.

- Eu agradeço por isso. – Camila sorriu sem mostrar os dentes e voou mais alto.

A líder não conseguia tirar os olhos dela em nenhum momento, parecia hipnotizada. Nunca tinha visto algo tão bonito em toda a sua vida.

Os Arcanjos se surpreenderam após verem o exército de demônios recuar.

- Lady Camila, o que fez? – Metatron perguntou desacreditado.

- Eu apenas pedi para que eles fossem embora.

- Você tinha que destruí-los! São feras repugnantes!

- Não vamos ter essa conversa de novo.

Deu as costas para o Arcanjo e voou para longe.

Poucos dias se passaram e a guerra entre os clãs não parecia ter fim. Camila precisava esfriar um pouco a cabeça e conhecia o lugar perfeito para isso.

Entrou na água um pouco fria daquela cachoeira e deu um mergulho. Ela adorava vir para a Floresta de Ashdown depois de qualquer batalha sangrenta contra os exércitos inimigos, o contato que tinha com a natureza sempre era capaz de trazer sua paz e renovar as energias.

Ela emergiu da água, passando a mão por seu rosto e por seus cabelos molhados. Estava satisfeita e feliz por ter conseguido impedir pacificamente o último confronto. Camila apenas pediu para a líder dos Dez Mandamentos, seus piores inimigos, cessar o ataque e irem embora. Ela não contava que a líder iria acatar o seu pedido, se surpreendeu bastante quando aconteceu.

Ficou por mais um tempo tomando um banho relaxante antes de sair totalmente nua para vestir seu vestido branco e suas sandálias celestiais que tinha deixado na margem. Ela se vestiu calmamente, apreciando o vento calmo e o canto dos passarinhos. Amava a floresta por ela simplesmente ser mais afastada dos conflitos e bem escondida, Britannia não era o país mais seguro naquele momento.

Pegou sua cesta repleta de frutas diferentes que tinha apanhado mais cedo e andou pela estrada cheia de folhas caídas, até resolver sentar-se sob uma sombra fresca para ler mais um capítulo do livro que tem a deixado tão entretida. Passou os dedos por seus cabelos molhados, já sentindo eles começarem a secar pelo vento e suspirou. Amava aquele lugar.

Ficou durante um longo tempo lendo e apreciando o céu azul, os passarinhos, animais e até os sons que a floresta fazia. A hora de voltar para o palácio de Icarus não iria demorar a chegar e se tivesse qualquer indício de atraso, sua irmã se preocuparia.

Camila virou a página de seu livro, mas acabou ouvindo um barulho nos arbustos, resolveu ignorar. Deveria ser apenas uma lebre, porém uma cabeleira negra lhe chamou a atenção.

Ela fechou o livro e se pôs de pé para ir ver quem se tratava. Afastou os galhos do arbusto e se surpreendeu ao ver uma silhueta feminina agachada na margem da cachoeira. A mulher limpava o sangue da lâmina de sua espada, fazendo Camila ter a certeza do que a desconhecida tinha feito anteriormente para estar ali.

- Ei. – chamou-a e a mulher se virou rapidamente, entrando em posição de luta. – Eu não quis assustá-la, me desculpe.

- Quem é você? É uma celestial? Responda ou terei que matá-la! – Camila franziu o cenho, permanecendo em silêncio e olhou nos olhos negros da mulher em sua frente.

- Você é um demônio...

- Sou Lauren Jauregui, a líder dos Dez Mandamentos!

- Então é você? Não consegui ver seu rosto naquele dia por causa do elmo. – Lauren abaixou sua espada e ficou olhando para Camila.

- É um dos Quatro Arcanjos, não é? – assentiu. – Por que ainda não estamos tentando nos matar?

- Por que eu faria isso? Não faz nenhum sentido. – curvou os lábios em um pequeno sorriso e se aproximou de Lauren que reagiu, dando alguns passos para trás e apontando a espada para ela. – Eu não quero lutar contra você, pode abaixar isso? – ficou relutante por algum tempo, mas abaixou a arma devagar. – Eu sou Camila, muito prazer, Lauren. E como você disse, sou um dos Quatro Arcanjos, o sol é a minha Graça. – ergueu a mão em um cumprimento.

- Olá... – apertou a mão de Camila, ainda relutante sobre aquele ato.

A princesa celestial achou um pouco fofo o jeito perdido de Lauren, aquilo claramente era uma novidade para ambas.

- Não achei que demônios conhecessem essa floresta.

- Não conhecem. – Lauren deu de ombros, embainhando sua espada. – Eu apenas gosto de sair voando por aí para explorar e acabei a encontrando.

- Então você é a primeira.

O rosto de Lauren permaneceu sério. Camila não conseguiu deixar de notar as roupas de combate da morena, marcas de batalha por toda parte e o olhar analítico do tipo que era preparado para qualquer movimento suspeito. A presença de Lauren era única e nunca baixava sua guarda. Camila tinha certeza de que a mulher em sua frente não confiaria nela tão cedo.

- Bem... – Camila pigarreou. – Essa floresta já se tornou a minha segunda casa, eu posso mostrá-la por inteira se quiser.

- Eu não acho que isso seja correto.

- O quê?

- Nós somos inimigas, o que te faz pensar que vou confiar em você assim tão facilmente? Pode muito bem tentar me matar enquanto me mostra a floresta.

- Se eu quisesse realmente te matar, senhorita Jauregui, já teria o feito quando a vi limpando sua espada minutos atrás. – ela soltou uma risada rápida.

- Como tem tanta certeza de que eu não fui capaz de notá-la antes que se aproximasse? – ficou bem perto de Camila, olhando-a fixamente nos olhos. – Os celestiais são péssimos em estratégias.

- Pense o que quiser então, se me der licença. – deu as costas, caminhando para longe e apenas escutou um barulho de asas se abrindo. Lauren foi embora rapidamente, fazendo Camila negar com a cabeça.

Decidiu pegar seu livro e a cesta antes de partir também. Ao chegar no palácio de Icarus, fora recebida pelos Querubins e alguns servos. Os jardins daquele lugar eram tão belos, assim como sua arquitetura celestial.

- Por onde andou, irmã? – Korine regava algumas flores do jardim. – Pensei que não voltaria a tempo para o jantar.

- Eu apenas fui dar uma volta em Ashdown.

- Você passa mais tempo nessa floresta do que em qualquer lugar daqui, estou começando a achar que tem alguém a esperando lá todos os dias. – brincou e Camila riu um pouco. – Me fala quem é logo.

- Não há ninguém, Kori. Você sabe que eu gosto da paz e da beleza daquele lugar.

- Sei... – a princesa deu um abraço em sua irmã e um beijo na bochecha.

- Vou tomar um banho para o jantar, até depois.

Korine assentiu e Camila correu para entrar no palácio. Ela admirou as estátuas segurando o sol no meio delas e soltou um suspiro pesado, as estátuas dos seus pais sempre a faziam sentir um sentimento de admiração e honra.

- "Eles não abandonaram vocês, mesmo diante da morte". – ela leu a gravura talhada ali e passou a mão por ela. – Eu sinto tanto a falta de vocês, mas eu tenho certeza de que o sol os iluminará aonde quer que estejam.

Benzeu o corpo antes de sair dali para ir se banhar. O jantar foi repleto de risadas de sua irmã, sobre como estava se saindo a tropa na guerra e os planejamentos. Tendo sua irmã como a general facilitava muito as coisas na hora decisiva.

- Então, você não está indo encontrar o Samael na floresta? – Camila franziu o cenho e engoliu o vinho que tomava.

- Não, por que eu iria encontrá-lo? Somos apenas parceiros de equipe.

- Francamente, Cá, Samael é louco por você. – soltou uma risada rápida.

- Até parece, está vendo coisas aonde não tem.

- Todos nós notamos os olhares que ele dá para você, só falta ele babar algumas vezes. – revirou os olhos. – Eu acho que já está na hora de viver um amor.

- Estamos no meio de uma guerra, Kori, isso não é a prioridade no momento.

- Você já parou pra pensar que essa Guerra Santa nunca pode ter fim? Até quando vai se privar em prol do que acontece no mundo ou com as outras pessoas? – Camila soltou um suspiro. – Você também precisa viver e ser feliz, minha irmã.

- Essa guerra irá terminar, eu tenho certeza. Todos os clãs viverão em paz algum dia.

- Eu acho que você bebeu vinho demais. – riu. – Vamos mudar de assunto...

Camila não prestou totalmente atenção em sua irmã, apenas concordava com ela e respondia de forma monossilábica. Provavelmente Korine não notara o quanto Camila estava desatenta.

Ela pensava em tudo sobre o que sua irmã falou e em ter encontrado Lauren na floresta. Não podia sair falando aos quatro ventos que tinha sido gentil e conversado com um demônio, eles eram considerados como animais em seu clã ou até coisas piores.

Após o jantar, ela seguiu para seu quarto e demorou a dormir com todos aqueles pensamentos perturbando sua mente.

No dia seguinte, voltou até Ashdown para tentar pensar com mais clareza e aproveitar o dia. Ficou algum tempo sentada sob a sombra fresca até notar a presença de um poder conhecido. Ela escutou barulhos apressados de passos e se levantou.

- Saíam! – ela viu Lauren atacando as borboletas com sua espada, mas não acertava nenhuma. – O que vocês querem de mim? - Camila ficou apenas escondida, observando tudo aquilo. – Por quanto tempo vai ficar escondida aí?

- Bem, eu não queria... – notou Lauren desviar os olhos negros dela e virar de costas. – Por que estava atacando as borboletas?

- Então esse é o nome dessas coisas odiosas? – falou com desprezo.

- São apenas insetos, Lauren.

- Insetos?

- Não tem insetos no seu reino? – pensou por um momento e acabou negando.

- Eu nunca vi nada parecido com isso, na verdade.

Camila achou estranho demais. Que tipo de coisas deveriam ter no Reino dos Demônios para Lauren nunca ter visto uma borboleta antes?

- Borboletas são inofensivas. – andou para perto de Lauren, erguendo seu dedo indicador. – Veja.

Uma borboleta azul pousou no dedo de Camila e Lauren ficou olhando sem piscar, ela não dizia nenhuma palavra. Estava tão compenetrada e surpresa com aquele ato que não notou a proximidade de Camila

- Elas também cheiram tão maravilhosamente bem assim?

Camila ficou sem graça e pigarreou, ela sabia que o cheiro não vinha da borboleta, mas sim, dela mesma. Lauren não estava a olhando, porém jazia próxima o suficiente para sentir seu cheiro.

- Não, esse cheiro vem de mim. – se afastou um pouco e Lauren a encarou.

- Eu... - desviou o olhar. – Ora, eu não deveria nem estar aqui.

- Por que você foge tanto, Lauren?

- Porque eu... Ninguém sabe das minhas escapadas para esse lugar, eu sofreria as consequências se descobrissem. – suspirou. – Eu devo ir, Camila.

- Fique mais um pouco, eu quero te mostrar algumas coisas.

- Isso inclui mais borboletas? – Camila riu e concordou.

- Tem várias espécies de borboletas, mas há outros insetos também.

Play: Sun – Sleeping At Last.

Lauren ficou em silêncio e olhou nos olhos castanhos e gentis da mulher em sua frente. Ela não parecia ter más intenções, então cedeu ao pedido dela.

Camila guiou Lauren pela floresta, mostrando as diferentes espécies de árvores, animais e insetos.

- O que é aquilo?! – empunhou sua espada quando ouviu o canto de uma águia.

- É uma águia, apenas uma ave. Não vai te fazer mal.

- Oh... – olhou para o céu.

Camila achava toda aquela demonstração de interesse e curiosidade de Lauren coisas fascinantes, era um fato de que a cavaleira não conhecia o lado bonito do mundo. Se sentaram sob a sombra de uma árvore e os passarinhos voaram para os galhos da árvores próximas. Camila riu baixinho com a cara concentrada de Lauren neles. Uma das aves voou até o ombro da princesa, fazendo a cavaleira ficar ainda mais intrigada.

- Abra a mão. – pediu e Lauren ficou relutante, mas a princesa indicou com a cabeça que estava tudo bem. Ela depositou pequenas sementes de gergelim na palma da mão de Lauren, fazendo os passarinhos voarem até lá.

A cavaleira ficou olhando em total silêncio duas das aves na sua mão, como se fosse a coisa mais rara do mundo. Camila ficou em silêncio, ela sorria abertamente com aquilo.

- Eles são lindos. – Lauren elogiou após as aves partirem de volta para o céu.

- São mesmo.

Um silêncio constrangedor se instalou e o vento soprou. Camila não podia negar que Lauren era muito atraente, nunca poderia imaginar que por trás daquela armadura imponente, havia alguém como ela. Os cabelos negros eram longos, sobrancelhas grossas, pele alva e os olhos negros a deixavam ainda mais bela.

- Você conhece algum livro? – Camila perguntou, quebrando o silêncio.

- Não muitos, só os demoníacos de combate.

- Você nunca leu nada diferente disso? – negou. – Bem, eu trouxe alguns na minha cesta, se quiser olhar...

Lauren apenas soltou um suspiro e continuou no mesmo lugar. Camila resolveu continuar lendo e não demorou muito para a cavaleira ficar curiosa. O Arcanjo leu algumas páginas para Lauren daquele romance proibido, tendo toda a atenção dela para si. Camila não podia negar que tentava ao máximo não gaguejar com aqueles olhos intensos cravados nela, sem qualquer intervalo.

- O sol está se pondo. – Lauren se levantou após Camila fechar o livro. – Obrigada por hoje, eu admito que não foi tão ruim assim passar um tempo com uma celestial.

- Eu digo o mesmo sobre passar um tempo com um demônio. – soltou um risinho e pela primeira vez em horas, viu Lauren curvar os lábios.

- Irei vê-la novamente, Camila?

- Eu sempre estou por aqui, Lauren.

- Certo... – pegou uma das mãos dela, deixando um beijo ali. – Meus agradecimentos. Muito embora eu seja considerada uma fera descontrolada para seu povo, ainda temos educação.

- Eu não acho isso...

- Não precisa tentar me animar. – se afastou. – Até breve, Camila.

- Até, Lauren.

A cavaleira abriu suas asas negras e partiu.

Camila voltou para seu palácio com um sorriso em seus lábios, havia adorado passar aquele tempo com Lauren.

Ela não contava que os encontros iriam ficar ainda mais frequentes naquela floresta, até que já estava levando Lauren até o templo dos monges para ela conhecer. A cavaleira ficou encantada com a beleza daquele lugar e haviam alguns celestiais ali.

- Olá, querida, quem é a sua amiga? – Jinora perguntou após notar Lauren focada em algumas flores.

- Ela se chama Lauren. – a monja sorriu. – Irá se juntar a nós hoje, tem problema?

- Nenhum. Muito prazer, Lauren. – se curvou.

- O prazer é todo meu, senhora...

- Jinora. – fitou os olhos negros e franziu o cenho, olhando para sua discípula. – Preciso falar com Camila só por um momento, fique à vontade. - Lauren assentiu, voltando sua atenção para as flores. – Por que trouxe um demônio para cá?

- Eu sei o que a senhora está pensando, mas Lauren não é igual ao resto deles, tudo bem? Ela não fará nenhum mal. – segurou as mãos da monja. – Dê uma chance a ela, estou pedindo.

Jinora ficou em silêncio por alguns segundos e soltou um suspiro pesado.

- Tudo bem, Camila, eu confio em você. – a princesa sorriu. – Mas peça para ela desativar os poderes demoníacos por esse momento.

- Claro.

A monja deu meia-volta, saindo dali.

- Minha presença a incomoda? – perguntou Lauren.

- Não é isso. – negou. – Pode desativar os seus poderes demoníacos só por algum tempo? É um pedido dela.

- Bem, eu não quero causar problemas aqui.

- Lauren, eu não quero que façam mal a você e nem que te olhem estranho.

- Tudo bem, Camila. – ela fechou os olhos e a princesa sentiu aquela áurea demoníaca deixar o corpo de Lauren. Ela abriu os olhos novamente, mostrando os lindos verdes que haviam neles. – Tudo bem?

- Seus olhos...

- Sem o poder demoníaco ficam dessa cor.

- São tão lindos, parecem até duas esmeraldas. – acariciou a bochecha dela e Lauren pigarreou. – Me desculpe.

- É melhor irmos.

Passou por ela rapidamente. Camila demorou reagir, ainda estava um pouco chocada pelo que tinha acabado de acontecer. Ela correu um pouco até ficar ao lado de Lauren e a guiou até um lindo riacho de cachoeira enorme após o templo. Muitos elfos e duendes estavam por ali para comemorarem um de seus festivais.

- O que é isso? – Lauren perguntou curiosa ao ouvir aquela música animada tocar dos instrumentos dos elfos.

- É um festival para comemorar a proteção do templo após um confronto. – sorriu. – Vem, vou te mostrar tudo.

Segurou a mão de Lauren que não reagiu. Ao sentir a pele quente de Camila e a suavidade da mão dela, sentiu algo aquecer o seu coração. A energia daquele lugar também proporcionava a sensação boa. No começo, a morena ficou um pouco tímida e acuada em relação àquele povo.

- Eu não sou daqui. – coçou a nuca e Camila apertou sua mão de leve.

- Não é daqui? – um elfo arqueou uma sobrancelha e seus amigos riram um pouco. – Qual é, vem beber com a gente. Aliás, prazer em conhecê-la, Lauren.

- Seja bem-vinda.

Ela não acreditava em como poderia existir um lugar lindo como aquele e pessoas se divertindo como nunca. Não havia mortes, brigas e muito menos ordens. Lauren se divertiu muito e bebeu junto com Camila como se não houvesse o amanhã. Adorava estar na companhia dela.

Ouviu as gargalhadas do povo quando a princesa lhe empurrou na água, mas não deixou barato e submergiu para ir atrás de Camila e jogar ela na água também. Ambas riram juntas e a cavaleira ficou observando os castanhos tão intensos e gentis lhe encarar. Ela desviou os olhos, observando todo o local. Não podia negar que aquele lugar lhe dava muita paz e era muito bonito.

Quando o sol estava se pondo, Camila a levou até um campo de dentes de leão. O vento soprou, carregando as folhas junto com ele. Lauren sorriu e Camila puxou-a para correr naquele jardim entre aquelas folhas, mas acabaram tropeçando e caíram.

- Não tem ninguém mais desastrada do que você, Camz. – falou rindo e ajudou a princesa se levantar.

- Camz? – sorriu.

- Eu... É...

- Tudo bem, eu adorei o apelido. – beijou a bochecha dela. – O seu vai ser Lolo.

- Sério? – riu e Camila balançou a cabeça. – Não vou colocar mais medo em ninguém depois disso.

- Vem comigo!

Entrelaçaram seus dedos e abriram suas asas juntas, voando até os céus. Ambas se abraçaram de lado sobre as nuvens e observaram juntas o sol iluminar tudo. O brilho dele fez Camila fechar os olhos. A pele morena fez Lauren umedecer os lábios, apertando ainda mais a cintura da mulher e escostando sua cabeça na dela.

Não souberam por quanto tempo ficaram admirando aquela paisagem, mas quando a lua começou a aparecer, voltaram para o festival. Camila acabou ficando bêbada e Lauren teve que a carregar em suas costas até Icarus. Ela riu muito de Camila enquanto ela falava com a voz arrastada e ria alto, apontando para os vagalumes. Às vezes tirava um cochilo rápido e outras vezes metia o dedo dentro do ouvido de Lauren.

- Está entregue. – a cavaleira deitou Camila na cama dela pós voar até o quarto e entrar pela sacada.

- Obrigada, Lolo. Boa noite. – se cobriu com o lençol branco, pegando no sono imediatamente.

Lauren riu baixinho e ficou observando Camila dormir por algum tempo antes de ir embora.

Dias se passaram e Camila convidou Lauren para ir em um festival. A trégua havia chegado por pouco tempo, devido perdas extraordinárias nas tropas dos exércitos. Cornetas foram assopradas, indicando que a comemoração estava prestes a começar.

- Que festival é esse, Camz? – perguntou a morena após entrarem no vilarejo movimentado e repleto de decorações temáticas da festa.

- O festival do sol da meia-noite. – sorriu. – Esse vilarejo se chama Hélio.

- Sol da meia-noite?

- Isso. O sol por estas partes de Britannia é visível quase que as 24 horas do dia, nas datas próximas ao solstício de verão. O sol permanece abaixo da linha do horizonte durante 51 dias, o que dá origem ao fenômeno da noite polar. A noite chega, mas não na hora em que estamos acostumadas. Mesmo no sul da Britannia, o sol brilha no inverno só umas quatro horas por dia, entretanto, o pôr-do-sol é lento e por isso nunca chega a escurecer facilmente no final da tarde. – explicou sorrindo e Lauren pareceu se impressionar. – Então, os aldeões fazem esse festival para saudar o sol e a beleza que ele proporciona durante esse período.

- É muito lindo. – olhou ao redor as tendas e as flanelinhas bordadas com o sol amarelo. – Eu não conheço muitos festivais.

- Você conhecerá muitos, eu irei te mostrar todos! – falou animada e puxou Lauren para irem mais pra dentro do vilarejo.

Play: Kingdom Dance – Alan Menken.

Camila apontou para o centro do vilarejo, onde um grupo de pessoas tocavam uma música dançante com seus instrumentos. Outros moradores dançavam, bebiam e conversavam animados. Conforme elas caminhavam, o fluxo de pessoas aumentava. Lauren não podia negar que estava adorando aquilo tudo. Ela sentiu a brisa fraca soprar e apreciou o aroma dos girassóis, ainda segurava a mão de Camila.

As diversas tendas vendiam peixes fritos no palito, carnes assadas e cozidas, pães, vários tipos de bebida. Ambas se animaram bastante com aquela energia festiva, mesmo que Camila tenha participado de todos os festivais, ela simplesmente adorava.

O vilarejo estava decorado por muitas flores e recortes de papel que simbolizavam o sol, assim como os desenhos dele estavam nas paredes do local, pintados com um amarelo dourado e um laranja nos contornos das obras de arte. Meninas trançavam os cabelos de várias moças sentadas na beirada de uma fonte que jorrava água cristalina.

Lauren se distraiu um pouco ao ver aquela cena e não notou que algumas pessoas cumprimentavam Camila. O arcanjo do sol era muito bem recebida nessas datas festivas e até reverenciada, mas é claro que Camila não se importava muito para isso. Lauren achou adorável o modo do qual Camila beijou a bochecha de um garotinho após o pai dele tirá-lo de cima de seus ombros apenas para cumprimentá-la, não percebeu que sorria feito uma tonta.

- Vem, Lolo. – falou animada, segurando a mão de Lauren.

Comeram muitos bolinhos e a cavaleira recebeu de presente uma flanelinha roxa bordada com o sol amarelo. Ela amarrou ao redor de sua cabeça e fez um laço no topo. Camila sorriu ao vê-la fazendo aquilo e continuaram a andar.

Algumas crianças desenhavam várias obras de arte no chão de tijolos por aquele parte e o menestrel cantava animado enquanto outro tocava um violino. Camila não perdeu tempo em pedir alguns potinhos de tinta e começou a desenhar também, fazendo as pessoas se aproximarem para olhar o desenho dela.

Lauren não conseguia desviar seus olhos de Camila, o desenho do sol estava realmente fantástico. Após a princesa terminar, as crianças ficaram impressionadas e todas abraçaram a cintura de Camila, falando ao mesmo tempo.

Lauren riu baixinho, vendo a mulher tentar controlar a bagunça, mas escutou uma música animada tocar. As crianças se dispersaram e Camila sorriu, começando a dançar sozinha e a chamar todos os moradores para uma dança em conjunto. Puxou uma mulher para o centro da roda, repetindo o ato mais duas vezes com um rapaz e outra menina.

As pessoas começaram a dançar e Lauren sorriu ainda mais, quase tropeçou quando Camila a puxou na dança também. Começaram a bater palmas sincronizadas e assobiar. Uma roda foi formada com Camila guiando todos e formaram seus pares. A cavaleira tentava dançar com a princesa a todo custo, mas outra pessoa sempre a puxava pelo braço e os pares mudavam outra vez. Os moradores entravam e saíam da roda, formando dois círculos um dentro do outro. Lauren se soltou de uma moça quando percebeu que Camila vinha em sua direção. Ela rodava em círculos de olhos fechados, como se estivesse aproveitando a música. Lauren poderia jurar que nunca tinha a visto tão linda. Os cabelos castanhos balançavam, igualmente ao vestido branco e o corpo repleto de curvas se destacava muito bem naqueles movimentos.

Todos gritaram e aplaudiram quando Lauren tomou Camila em seus braços e a dança foi finalizada, ambas estavam com a respiração ofegante. Sorriram sem graça uma para a outra e se afastaram devagar.

- Você foi incrível. – Lauren elogiou no meio dos aplausos.

- Obrigada... – suas bochechas ficaram vermelhas e desviou o olhar. – Vamos? Quero te mostrar muitas coisas ainda.

Lauren sorriu quando Camila pegou sua mão e voltaram a andar. Leram alguns livros juntas naquela biblioteca, mapas e até sobre as constelações. A princesa gargalhou quando Lauren escorregou em um dos livros, mas a ajudou a se levantar.

A morena de olhos verdes nunca poderia esquecer aquele dia e do tempo que passou com Camila. Adorava ouvir ela tagarelar sem parar sobre vários assuntos, mesmo que às vezes se perdesse nos lábios dela.

- Então está me convidando para um almoço no palácio de Icarus? – perguntou Lauren de forma divertida enquanto dava flores para Camila colocar sobre a água do lago.

- Absolutamente.

- É perigoso, Camz. Eu sou um demônio, é claro que vão sentir a minha presença.

- Eles não precisam saber, é só desativar os seus poderes mágicos.

- Eu não sei...

- Por favor, Lolo. – fez um biquinho e Lauren suspirou. – Eu vou te mostrar os jardins de lá e os pegasus que cuidamos para os druidas. Vou te apresentar para a minha irmã também.

- Tudo bem, Camz.

Ela socou o ar animada e Lauren riu. Ambas voaram juntas de mãos dadas naquele céu alaranjado para irem embora. A despedida sempre era a parte mais difícil, embora Lauren amasse ter uma amizade com Camila, sentia muito a falta dela e temia pelo que pudesse acontecer caso seus povos descobrissem algo. Ficaram por um longo tempo abraçadas, até se despedirem.

No dia seguinte, se encontraram em Ashdown e Camila levou Lauren até Icarus. Ela sabia que Korine estava mais do que ansiosa. Quando a princesa dissera que ia levar alguém, sua irmã surtou dizendo que já suspeitava sobre ser um pretendente, mas Camila negou dizendo que se tratava apenas de uma amiga.

Antes de entrarem pelos portões, Camila esperou pacientemente Lauren vestir as roupas celestiais. Perdeu o fôlego quando a viu tão linda naquele vestido longo branco com decote, as sandálias, olhos verdes brilhantes e o sorriso. Camila estava hipnotizada, vendo Lauren caminhar para perto dela.

- Está tudo bem, Camz?

- Eu...

- Não fiquei legal com as roupas? – a princesa negou de imediato.

- Você está linda, Lauren. – a cavaleira corou um pouco pelo modo de como Camila proferiu aquela frase e pigarreou, agradecendo. – Bem, essa é a minha casa.

- É majestosa. – sorriu ao ver o palácio.

- Broom! – Camila abraçou os Querubins, fazendo Lauren sorrir. Ela tinha uma facilidade tão grande com crianças. Os anjinhos também cumprimentaram Lauren. – Vamos, Lolo.

Subiram as escadas para entrar no palácio e foram até a sala de jantar, onde a enorme mesa já estava posta para o almoço e Korine se aproximava.

- Lo, essa é a minha irmã, Korine de El. – a mulher analisou Lauren de cima abaixo e lançou um olhar para Camila que a repreendeu silenciosamente.

- Olá, Lauren. – ergueu a mão em um cumprimento.

- Olá. – apertou a mão dela. A voz rouca e aveludada fazia Camila se arrepiar.

- Chegaram bem a tempo para o almoço, espero que esteja com fome, Lauren. – sorriu, sentando-se à mesa.

- A comida parece deliciosa. – sentou-se também com Camila ao seu lado e começaram a comer em silêncio.

- De qual reino você é? – perguntou Korine com curiosidade, deixando Lauren tensa.

- Ela vivia com os humanos, irmã. Nos conhecemos em Ashdown. – Camila foi mais rápida e engoliu um pouco de vinho.

- Oh, então é uma camponesa?

- Sou uma cavaleira, na verdade. – Korine sorriu.

- Isso é fantástico. Espero que estejam se saindo muito bem na batalha contra os demônios, aquelas feras são repugnantes. – revirou os olhos, voltando a comer.

Camila segurou a mão de Lauren por baixo da mesa e lhe lançou um olhar reconfortante. A morena apenas moveu os lábios em um "está tudo bem" e voltaram a comer.

Não demorou muito para se retirarem após Camila falar para sua irmã que iria mostrar o palácio e os jardins para Lauren. Korine assentiu, avisando que iria cuidar de algumas coisas.

Camila levou Lauren até seu quarto, precisava pegar uma manta para se sentarem e alguns livros.

- Uau. – a cavaleira sorriu ao ver a beleza daquele quarto. Tudo era talhado em ouro, até a cama dossel com lençóis brancos. – É realmente um lugar incrível.

- Passei a maior parte da minha infância morando com os Monges Shaolins, então estar de volta é realmente incrível. – sorriu enquanto colocava os livros dentro da cesta.

- Eu também moro em um palácio, mas ele não é tão belo quanto esse. – riu um pouco. – Dá arrepios.

Lauren se aproximou da janela e ficou de costas para Camila, ouvindo os passos dela pelo quarto. Acabou notando pinturas do Arcanjo, e uma em especial chamou a sua atenção.

- É você? – sorriu ao ver Camila em volta de alguns Querubins.

- Sim. – ficou ao lado de Lauren para olhar a pintura. – Estávamos no Jardim do Éden revendo alguns ensinamentos. São crianças incríveis.

- É realmente uma pintura linda.

Ficou olhando por um longo tempo, não queria admitir, mas conseguia enxergar apenas Camila naquele quadro.

- Vamos? – ela estendeu a mão, sorrindo.

- Claro.

Play: Across The Stars – Samuel Kim.

Segurou a mão dela e saíram do quarto para irem até o jardim. Camila estendeu a manta sobre a grama e se sentou junto com Lauren, iniciando uma conversa aleatória com ela. A princesa amava conversar com ela sobre tudo, até sobre estratégias de combates e um pouco sobre o que acontecia no Reino dos Demônios. Estavam se conhecendo cada vez mais. Lauren contou de seus irmãos e tudo sobre sua família. Iria suceder o seu pai no trono, mas não sabia mais se realmente queria aquilo. Contou que sua mestre, Nahemah, estava começando a desconfiar dos sumiços dela e não demoraria a investigar. Também contou de Vitor, um de seus melhores amigos e de quando viu Camila pela primeira vez naquela cachoeira em Ashdown. A princesa se sentou sobre suas panturrilhas para Lauren começar a trançar o cabelo dela e o enfeitar com algumas flores.

- Eu não sei. – disse Camila, sentindo os dedos macios no seu couro cabeludo e fechou os olhos.

- Claro que sabe, só não quer me contar. – Lauren falou risonha.

- Vai usar algum truque demoníaco em mim para me fazer contar? – riu também.

- Só funcionam em mentes fracas.

- Tudo bem... – cedeu e virou o rosto. – Eu tinha 15 anos. Foi quando estava no Jardim do Éden para treinar sem a supervisão dos monges. O nome do garoto era Enoque e a gente estava em um programa legislativo para jovens anjos. Ele era um pouco mais velho do que eu e muito bonito. Tinha cabelos encaracolados, olhos azuis como o mar...

- Tá, já deu pra imaginar. – Camila franziu o cenho, virando rosto para frente, ainda sentindo Lauren mexer em seu cabelo. – O que aconteceu com ele?

- Eu acabei voltando para o templo e ele acabou se envolvendo com política.

- Ele foi um idiota então.

- Parece que você não gosta mesmo de políticos, né?

- Só de alguns, mas ainda não estou muito certa. – riram juntas. –Não acredito que o sistema funcione.

- Como funcionaria para você?

Pensou por um momento antes de responder:

- Precisamos de um sistema onde todos se reúnam, discutam os problemas, elaborem ideias e estratégias sobre o que é melhor para o povo, e então façam.

- Mas é exatamente o que fazem, o problema é que nem sempre as pessoas concordam.

- Elas deveriam ser obrigadas. – Camila se virou para ela, olhando-a com uma expressão confusa.

- Por quem? Quem poderia obrigá-las?

- Eu não sei... Alguém...

- Você?

- Claro que não. – revirou os olhos.

- Então, alguém, certo?

- Alguém que seja sábio.

- Isso está parecendo mais um despotismo ou ditadura.

- Se funcionar...

Camila achava aquela forma de governar absurda e totalmente rudimental. Estava pronta para rebater, mas Lauren começou a sorrir.

- Você está brincando comigo, sua idiota. – deu um tapa nela.

- Eu? Brincar com um dos Quatro Arcanjos e a princesa celestial? Nunca. – Camila também riu e trocaram olhares.

- Eu adorei a trança.

- Está maravilhosa.

- Obrigada, Lolo... – soltou um suspiro. – Você estava me dizendo sobre o seu pai... O que a incomoda?

- Ele age como se fossemos os servos dele. Eu sei que às vezes temos que deixar nosso orgulho de lado e fazer o que nos é exigido, mas não acho certo ele agir assim com a gente.

- Você tem muito potencial, Lo. Seria uma grande líder.

- Meu pai não percebe isso. Eu sei que, apesar de tudo, ele ainda é o meu pai. Mas em alguns aspectos, vários aspectos... Estou acima dele, porém ele acha que sou muito imprevisível, ele não me deixa avançar. É igual a minha mestre.

- Deve ser frustrante.

- É pior! Eles criticam demais, nunca me escutam e não me entendem. Não é justo. – abaixou a cabeça e Camila puxou Lauren para seus braços, começando a afagar os cabelos dela.

- Todos os mentores percebem as nossas falhas muito além do que gostaríamos, desse jeito amadurecemos.

- Eu sei. – suspirou, erguendo o rosto para olhar nos olhos de Camila.

Naquele momento, achou os lábios da princesa tão convidativos e começou a aproximar o rosto do dela. Camila paralisou no lugar, sua mente estava em branco, mas sentia um ímã puxá-la ainda mais para Lauren e apoiou as duas mãos na bochecha dela, porém, se separaram rapidamente quando ouviram um relinchado.

Camila se levantou em um pulo, totalmente sem graça e logo apontou para os pegasus no céu. Lauren sorriu com aqueles lindos cavalos alados e saltou para montar em um, fazendo Camila rir da forma toda atrapalhada dela.

O animal começou a voar pelo jardim e Camila a seguiu. Lauren nunca se acostumaria com a beleza daquele lugar e com aquela distração, acabou caindo de cima do pegasus após ele se assustar. Camila arregalou os olhos ao ver Lauren imóvel no chão e planou até ela.

- Lolo! Você está bem? – se agachou perto dela e Lauren começou a gargalhar. – Idiota!

Lauren segurou a cintura de Camila, fazendo ela se sentar em seus quadris e ficaram se olhando durante um longo tempo, até selarem seus lábios de uma vez por todas.

A princesa sentiu o volume se sobressair no vestido de Lauren e rebolou no colo dela, gemendo baixinho. Lauren segurou a cintura dela e se sentou, tendo Camila em seu colo e os braços dela em volta de seu pescoço. Ficaram se olhando, antes de Lauren subir suas mãos pela cintura da mulher e segurar o pescoço dela, puxando-a para ser beijada mais uma vez.

Camila arfou, puxando os cabelos negros e deixou arranhões leves na pele alva dos braços de Lauren. A cavaleira forçou os quadris de Camila para baixo, fazendo a princesa tombar a cabeça para trás e entreabrir a boca com aquele novo contato. Voltaram a se beijar apaixonadamente, esquecendo totalmente de onde estavam e de tudo.

- Cá, Metatron está aqui para... – Korine abriu a boca em descrença após ver a sua irmã no colo de Lauren e pigarreou, fazendo elas se separarem. Lauren caiu pro lado após Camila a empurrar.

- Irmã! – ajeitou seu vestido branco, suas bochechas estavam vermelhas. – Eu... É...

Korine riu e apoiou uma das mãos na cintura.

- Seu parceiro está te esperando para conversarem sobre novas estratégias e missões.

- Tudo bem, eu já vou.

A mulher deu meia-volta, indo até o palácio e Camila respirou fundo. Sentiu uma das mãos de Lauren em suas costas e a olhou.

- Vou te esperar no seu quarto. – beijou a testa dela.

Ela assentiu e voltaram para o palácio. Camila não concordava nenhum pouco com as ideias absurdas de Metatron sobre aniquilar o clã dos demônios, não entendia o porquê de toda insistência dele em ainda tentar convencê-la disso. A conversa não durou por muito tempo e então no cair da noite, ela voltou para seu quarto.

Camila admirava a noite escura pela sacada, sentindo a brisa calma tocar seu corpo.

- Eu sempre adorei ficar olhando para o céu daqui. – suspirou e Lauren ficou ao seu lado, enconstando-se no pilar. – Principalmente ficar olhando para essa imensidão, voar sobre as nuvens e tentar adivinhar os nomes dos passarinhos que cantam.

- No meu reino é totalmente o oposto. Só há monstros, treinamentos pesados e um monte de regras. – Camila encarou os olhos verdes. – Não é como aqui, onde tudo é suave, tranquilo... – começou a acariciar uma das mãos da princesa com a ponta dos dedos, até subir pelo braço dela em direção as costas desnudas pelo modelo do vestido tomara que caia. Ela subiu e desceu sua mão pelas costas de Camila que fechou os olhos, entreabrindo sua boca.

Lauren se aproximou ainda mais dela e a beijou, segurando-a pela cintura. Camila abraçou o pescoço de Lauren e aprofundou o beijo.

A cavaleira se afastou um pouco para retomar seu fôlego e Camila estava de olhos fechados. Lauren deu beijos lentos no pescoço da princesa, subindo e descendo seu nariz. Escutou os suspiros de Camila e alternou os beijos para o outro lado, até segurar a mandíbula dela com força e voltar a beijá-la devagar. Sentiu a língua dela em sua boca e envolveu a cintura de Camila com seus dois braços, apertando os dedos na pele.

Ela abraçou o pescoço de Lauren e ficaram ainda mais coladas. Tinham plena consciência de que aquilo era muito arriscado e perigoso, porém, nada daquilo importava mais.

- Lauren... – separou o beijo, mas a morena continuou a beijar sua mandíbula, puxando-a ainda mais para seus braços. As mãos pálidas acariciaram as costas dela e adentraram dentro do vestido, antes de começarem a puxá-lo para tirar. – Lauren, pare.

Se afastou, quebrando aquele contato. Mesmo que seu corpo implorasse pelo contrário, sua mente tinha pensamentos incessantes sobre o quão errado seria seguir com aquilo e as punições que teriam.

- Qual o problema?

- Não podemos fazer isso...

- Ninguém precisa saber, Camila. – a puxou outra vez e a princesa ficou com seus punhos fechados no peito dela.

- Não é assim que funciona, você sabe disso. – Lauren a soltou, respirando fundo.

- Me desculpe. – Camila não falou nada e voltou a olhar para o céu estrelado. – Preciso voltar, fiquei fora por horas. Tenho certeza que já estão desconfiando.

- Tudo bem, vá.

- Vamos esquecer o que aconteceu no jardim e aqui? – olhou para Lauren e sentiu seu estômago revirar, não queria esquecer.

- É o certo a se fazer...

Lauren desviou o olhar, nunca pensou que tais sentimentos provocavam tanta dor e desconforto. Abraçou Camila mais uma vez, não querendo soltá-la nunca e sentiu o cheiro natural dos cabelos e da pele dela.

- Eu tenho que ir agora... – se afastou bem devagar, ainda segurando a mão dela. – Preciso...

- Por favor...

Ainda muito relutante, Lauren deixou o palácio de Icarus. As lágrimas escorreram por sua bochecha, mas ela as secou rapidamente. Não era mais a mesma Lauren fria, perversa e a líder dos Dez Mandamentos. Seu interior havia mudado completamente e não queria mais voltar a ser como antes. Por mais que tentasse se afastar, não conseguia e isso resultou em uma angústia enorme. Esconder o amor que sentia por uma celestial estava acabando com ela, mas também, não queria destruir o mundo, provocando outra guerra em seus povos.

- Desde o momento em que a vi, nenhum dia se passou sem que eu pensasse em você. – Camila olhou nos verdes intensos, sentindo arrepios pelo seu corpo. Ambas estavam sentadas num sofá de couro em uma das salas do palácio, apenas a lareira iluminava tudo. – Agora que estamos juntas aqui, eu estou angustiada. Quanto mais perto fico de você, mais eu sofro. Só de pensar em não estar com você, não consigo respirar. Sou assombrada pelo beijo que você nunca deveria ter me dado. Meu coração está batendo com a esperança de que aquele beijo não se transforme numa cicatriz. Você está na minha alma, me atormentando. – aproximou mais o rosto dela. – O que eu faço? Farei qualquer coisa que me pedir. Se você está sofrendo como eu estou agora, por favor, me diga.

- Lauren, eu... Nós... Isso é errado. – sentiu os lábios dela em seu rosto. Camila morria de medo de algo ruim acontecer com Lauren por sua causa, ela sabia das consequências como ninguém. – É por causa do meu povo que está com tanta dor, é por causa de todos esses costumes ridículos e diferenças descabidas que não há nada que eu possa fazer.

- Sabe que você fica linda... Com o peso de todo esse mundo nos ombros. – suspirou.

- Não precisa tentar me animar... – sem perder tempo, Lauren a beijou outra vez.

Camila suspirou, tendo sua cintura tomada pelas mãos fortes e macias. Não conseguiam mais se libertar do amor que sentiam uma pela outra, porém, a princesa se afastou mais uma vez.

- Não... Não podemos.

- Qualquer coisa é possível, Camila, me escute. – segurou as mãos dela e se remexeu no sofá.

- Me escute você. – ela se levantou, andando até a lareira. – Vivemos num mundo real, volte pra ele. É a líder dos Dez Mandamentos, vai suceder seu pai no trono e eu sou um dos Quatro Arcanjos. Se resolver apenas seguir os seus pensamentos, isso nos levará a um relacionamento que não pode acontecer. Levando em consideração o que sentimos uma pela outra.

- Então você sente alguma coisa?

- Não vou deixar que sofra as consequências por minha causa. – Lauren se levantou, andando até ela.

- Você está me pedindo para ser racional, eu sei que isso eu não vou conseguir. Acredite em mim, eu gostaria de afastar tais sentimentos, mas não dá. – segurou a cintura dela. – Eu estou apaixonada por você, Camz... Não tenho mais força para ficar longe de você.

- Lauren... – tirou as mãos dela de si. – Eu não vou me render a isso.

- Não precisa ser desse jeito, podemos manter em segredo.

- Então seria uma mentira tão forte que não resistiríamos mesmo se quisessemos. Não posso fazer isso. – Lauren se afastou dela. – Você pode? Conseguiria viver assim?

- Não... Está certa. Nos destruiria. – abriu suas asas e voou, indo embora.

Camila suspirou, passando as mãos por seus cabelos. Não notou que as lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto.

Não conseguiu dormir naquela noite, pois Lauren dominava seus pensamentos. Como poderia admitir para Lauren que a amava se não conseguia nem admitir para si mesma?

No outro dia, com a esperança de que poderia consertar as coisas, Camila voltou até Ashdown. Esperava que Lauren estivesse lá também, tentando fazer o mesmo que ela para entender de uma vez por todas qual caminho deveria seguir, mas estava enganada.

Lauren não apareceu.

Camila esperou por ela durante um longo tempo, mas percebeu logo que ela não viria e então, voltou para Icarus. O aperto que sentiu depois do afastamento da cavaleira era muito mais doloroso do que enfrentar as diferenças entre seus clãs.

- Qual o problema, irmã? – Korine perguntou com uma expressão preocupada após entrar no quarto de Camila. – Você não sai há dias.

- Eu não sei o que esta acontecendo comigo, Kori. – abraçou o travesseiro.

- Me conte o que está sentindo. – sentou-se na cama, puxando a cabeça da irmã para deitar em seu colo.

- Uma angústia horrível, saudade e muito medo.

- É aquela moça de olhos verdes que você estava agarrando aquele dia, né? – começou a fazer cafuné. Camila respirou fundo.

Por mais que fosse arriscado, não aguentava mais guardar aquele sentimento somente para si.

- Eu acho que estou apaixonada, Kori.

- O quê?

- É isso mesmo que você ouviu.

- Camila! – fez a irmã se sentar e deu um enorme sorriso. – Me conte tudo!

- Antes de qualquer coisa, eu peço que entenda e não me crucifique. – a mulher franziu o cenho e Camila começou a contar tudo para ela.

Korine ouviu tudo em silêncio e sua expressão permaneceu indecifrável.

- Ela é um demônio, a líder dos Dez Mandamentos.

- Está brincando comigo, não é?

- Korine...

- Agiu com total falta de juízo, Camila! Como pôde trazer a líder desses monstros para dentro da nossa casa sem me falar nada?! – se alterou, levantando-se da cama. – Faz ideia do risco em que nos colocou? E se Lauren estivesse apenas te usando para descobrir as nossas fraquezas?! Deve haver um exército vindo nos atacar nesse exato momento! Como você é ingênua!

- Você está se ouvindo? Eu passei todo esse tempo com Lauren e a vi mudar totalmente diante dos meus olhos! Você não sabe o que está falando e nem tem o direito de julgar os valores dela!

- Valores? – soltou uma risada rápida. – Camila, eu não-

- Eu pensei que como minha irmã, entenderia o meu lado e o que sinto pela Lauren, mas pelo visto... – riu sarcasticamente e secou as poucas lágrimas que escorriam. – Você é igual a todos eles.

- Você não pode amar um demônio, Camila! Essas feras não amam ninguém.

- Como tem tanta certeza disso se nunca deu uma oportunidade para ver? – cerrou os punhos. – Eu fui uma idiota por negar os meus sentimentos e afastei Lauren de mim. Estou morrendo de saudades e me sentindo culpada!

- Você perdeu completamente a lucidez.

- É você quem está prestes a cometer uma loucura ainda maior entrando cada vez mais fundo nessa guerra sem sentido.

- Camila, aqueles demônios não pensam assim. Nós não os conhecemos! Pode até querer arriscar nossa segurança, mas não vou deixar!

- Por que com a diferença você se sente ameaçada?! – seus rostos ficaram a centímetros de distância.

- Proteja esta família... – falou devagar, encarando os castanhos raivosos em sua frente. – E fique longe deles.

- Eu não quero mais discutir isso com você, saia! – apontou para a porta do quarto.

Korine apenas deu as costas e saiu, deixando Camila sozinha. Ela apertou os punhos e soltou um grito enraivecido, fechando a porta com força.

Naquele mesmo dia, ficou sabendo sobre várias tropas demoníacas retomarem os ataques na Floresta das Fadas e resolveu procurar alguém. Precisava de uma confirmação e um conselho antes de seguir com seus planos. Então, no cair da noite, voou até o lugar em que cresceu.

- Mestre! – acabou encontrando Jinora fazendo alguns movimentos com seu bastão de madeira embaixo de uma árvore, que ficava no topo daquele morro.

- Hum?

Camila planou até lá, notando o lampião pendurado em um dos galhos para iluminar.

- Eu trago más notícias.

- Ai Camila, só existem notícias. Nem boas, nem más.

- A trégua acabou, mestre, as tropas inimigas voltaram a atacar.

- Bom, essa é uma má notícia. – fez uma careta. – Se você não acreditar que juntas, você e Lauren, podem acabar com isso.

Camila arregalou os olhos e pigarreou.

- Mestre, eu e Lauren somos de clãs inimigos. Foi tudo um acidente.

- Não há acidentes, minha querida. – balançou as sobrancelhas, sorrindo.

- A senhora sempre discorda de mim. – cruzou os braços.

- Minha querida, Lauren só cumprirá o destino dela e você o seu, quando você se desprender da ilusão de controle.

- Ilusão?

- Isso. – se aproximou. – Olhe para esta árvore, Camila, eu não posso obrigar ela a florescer quando me dá vontade e nem obrigá-la a dar frutos antes da hora certa. – mostrou a macieira e Camila ficou em silêncio por alguns segundos.

- Mas há muitas coisas que podemos controlar. Posso apanhar uma fruta quando eu quiser e também aonde irei plantar a árvore. Isso não é ilusão, mestre.

- Oh, sim. – sorriu. – Mas não importa o que faça, essa semente se tornará uma macieira. Você pode desejar qualquer outra fruta, mas terá maçãs.

- Mas mestre... Isso é tão perigoso. – passou a mão por seus cabelos. – Nós não podemos fazer isso.

- Talvez possam, se estiverem dispostas a ficarem juntas, se guiarem e acreditarem uma na outra.

- Mas como? Preciso da sua ajuda, mestre.

- Não. – negou. – Você só precisa acreditar. Prometa, Camila, prometa que vai acreditar.

A princesa ficou confusa com as palavras de sua mestre, soavam como se fosse uma despedida. Jinora segurou as mãos dela.

- Eu... Eu vou tentar.

- Ótimo. – se abraçaram. – Você deve continuar a sua jornada sem mim agora.

- M-Mas... Mas eu... – a senhora se soltou de sua aluna e começou a andar para longe. - Mestre, não pode me deixar!

- Precisa acreditar.

- Mestre!

Se curvou para a princesa e seu corpo foi desaparecendo aos poucos, ventava um pouco forte. Camila assentiu devagar, seus olhos estavam marejados e ela observou a imensa quantidade de estrelas no céu. Teria que caminhar por si própria a partir daquele momento.

Os confrontos sangrentos voltaram a acontecer pelo país. Batalhas foram travadas por toda a Britannia, demônios e celestiais eram os principais inimigos na Guerra Santa.

Camila viu Lauren de longe e seus olhares se encontraram. Parecia que aquela batalha não existia mais, apenas as duas e seus sentimentos de carinho, amor e ternura. Ela viu a cavaleira vir em sua direção, retirando o elmo e revelando os lindos olhos verdes. Camila sorriu e ficaram se olhando no meio de toda aquela batalha, fazendo os soldados inimigos estranharem.

- Não tenha medo. – Lauren segurou uma das mãos de Camila.

- Não tenho medo de morrer. – se aproximou mais. – Sinto que estou morrendo aos poucos desde o dia em que você entrou para a minha vida.

- Do que está falando, Camz?

- Eu te amo.

Lauren arregalou os olhos, ficando paralisada. Havia acabado de escutar as palavras que sempre sonhou em ouvir de Camila.

- Você me ama? – ela assentiu, sorrindo. - Eu... Eu achei que tínhamos decidido não nos apaixonar... – desviou o rosto e Camila ficou olhando seu perfil. – Que seríamos forçadas a viver uma mentira, e que isso destruiria as nossas vidas.

- Nossas vidas vão ser destruídas de qualquer jeito. – os rostos foram ficando mais perto. – Só sei... – sussurrou e Lauren fechou os olhos. – Que acima de tudo, eu te amo. Queria que soubesse antes que algo pior acontecesse nessas batalhas que travamos.

- Eu também te amo, meu raio de sol.

Camila sorriu antes de beijar Lauren no meio de toda aquela guerra. Sentiu os braços dela contornarem a sua cintura e o beijo foi ficando mais intenso. Não sabiam o que o destino reservava para elas, mas seja lá qual fosse a punição que teriam, iriam enfrentar juntas.

Os soldados puderam ver uma luz branca sair do corpo de Camila e iluminar tudo, assim como as trevas de Lauren fizeram o mesmo. Os poderes misturados acabaram com aquela batalha e o confronto foi terminado.

Outra trégua foi conquistada e o equilíbrio se rompeu após a grande líder dos Dez Mandamentos trair seu próprio clã. Os demônios perderam sua princesa, o demônio mais poderoso de todos, e não tinham coragem de iniciar um novo ataque.

Distante daquelas terras demoníacas, em Icarus, Lauren colocou a aliança no dedo anelar da mão esquerda de Camila e admirou o vestido branco que ela usava. O sol estava se pondo e várias rosas estavam nos vasos ao redor daquela varanda celestial em frente ao Jardim do Éden. Um padre druida recitava as palavras necessárias para aquela cerimônia, havia apenas os três ali.

Seguraram suas mãos e se beijaram, concretizando de vez aquela união que mudaria o destino de Britannia e de todos os clãs para sempre.

Camila massageou sua testa após aquelas lembranças a atingirem em cheio. A princesa sabia que eram os efeitos da maldição por ela estar próxima de ser ativada. Ela se sentou na beirada da cama e ficou refletindo sobre tudo o que lembrou, tudo que passou ao lado de Lauren e sobre onde tinham chegado após tanto tempo

Play: Padmé's Ruminations – John Williams

Camila observava o pôr-do-sol, massageando sua testa com as lágrimas retidas em seus olhos. A luz laranja da estrela poderosa deixavam os olhos castanhos de Camila ainda mais brilhantes, mas mesmo que antes o sol fora capaz de fazer com que ela se sentisse melhor, nada do que viesse dele dessa vez poderia curar a ferida de seu coração abandonado por Lauren.

Sua amada deixou que as trevas a dominasem e partiu, levando consigo o coração de Camila. A princesa não entendeu como aquilo foi acontecer, sua mulher parecia tão bem e se sentindo melhor em relação à maldição, mas aparentemente Camila estava enganada. Lauren desapareceu na escuridão, a princesa sabia que a verdadeira natureza demoníaca de sua amada uma hora ou outra tomaria conta dela novamente, mesmo com o poder do sol e da luz, Camila não foi capaz de impedir que Lauren retornasse as suas origens como cavaleira das trevas e filha do Rei dos Demônios.

As lágrimas escorreram por sua bochecha devagar, sua expressão continuou séria ao olhar o sol se pôr naquele céu negro dominado pelo poder dos demônios que aos poucos tomavam cada vez mais Britannia. A princesa havia convencido seus amigos de que estava bem e que eles não precisavam se preocupar, mas devido a sua gravidez, não deixavam a princesa sozinha mais do que vinte minutos, ainda mais na ausência de Lauren. Os Sete Pecados Capitais estavam atrás da cavaleira das trevas que comandava o gigantesco exército de demônios em Camelot, mesmo que estivessem devastados por sua capitã tê-los abandonado e principalmente, deixado Camila com um filho dela no ventre.

Continuou olhando pela janela e aos poucos, o céu repleto de trevas, consumiu tudo. Ela suspirou, limpando as lágrimas. Camila ainda tinha esperanças de encontrar a Lauren gentil, bondosa e amável no meio da escuridão e não desistiria, mas ela não contava que Lauren estivesse sofrendo assim como ela. A princesa das trevas olhava seu exército de demônios marchar rumo a saída de Camelot, vestida com seu sobretudo preto, os cabelos negros assim como seus olhos, agora marejados mostravam sua presença como o demônio mais poderoso do clã, a herdeira do trono de seu pai. Mesmo com as lágrimas descendo por sua bochecha, a expressão da mulher era dura e fria, ser a comandante mais cruel do clã demoníaco não supria a saudade que ela sentia de sua noiva, mas ela não podia voltar atrás em sua decisão, pois se tornar a Rainha dos Demônios era o único jeito de quebrar a maldição e salvá-la.

Lauren voltou até a sala do trono, onde Bradarick e Nahemah permaneciam de pé ao lado dele. Não demorou muito para que Christian também chegasse da missão que sua irmã lhe dera e se aproximou.

- Seja bem-vindo de volta, Lorde Christian. – Bradarick o saudou.

- Desculpe, não consegui recuperar nada. – Lauren cruzou os braços. – Fui completamente enganado pela filha de Azazel e Ellaria, mas o maior problema é que os Quatro Arcanjos foram revividos. Não há dúvidas de que o poder mágico era do Metatron.

- Também confirmei a luz de uma aliança vinda de Téia. – disse Lauren e seu irmão franziu o cenho. – Provavelmente Camila e os Sete Pecados Capitais se aliaram aos Quatro Arcanjos. – Christian riu da cara de sua irmã.

- Sua mulher fugiu de você?

- Não importa o que eles façam desde que a gente reúna todos os Mandamentos e eu me torne a Rainha dos Demônios. Aí tudo estará acabado.

Deu as costas para todos ali e seguiu rumo ao quarto, precisava ficar um pouco a sós naquela noite.

Perto de Téia, os Cavaleiros Sagrados haviam erguido um acampamento para se reunirem, treinarem e também discutirem estratégias para a próxima batalha. Luís mexeu nas bebidas após seu pai servir um pouco da comida e sentar-se na mesa de madeira do lado de fora da tenda. Tochas de fogo iluminavam tudo ao redor para que os cavaleiros não jantassem no escuro.

- Então, é verdade que a senhorita Jauregui nos traiu mesmo, pai? – perguntou Luís e se sentou na mesa. Oreius soltou um suspiro pesado.

- Sim, filho. – abriu a garrafa de cerveja, despejando a bebida nos copos. – Não tenho a menor ideia do que fazer sobre o exército nessas batalhas que virão. E como se não bastasse até o Miraz ficou meio maluco.

- Como druida, ele é devoto dos celestiais. Então não tem como evitar. – bebeu um gole da cerveja. – Eu fiquei sabendo que muitos dos Cavaleiros Sagrados foram salvos no campo de batalha por eles.

- Não confio muito neles. Alguns membros do alto escalão dos celestiais fazem lavagem cerebral nos outros. – Luís ficou surpreso e parou de comer. – Isso foi o que Prometheus disse. Ele e eu dividimos algumas lembranças. Ele se sentiu como nós ao ver seus companheiros mortos pelos celestiais. Não é que eu tenha alguma simpatia pelos demônios...

- Tudo bem, pai. Eu entendo você.

Oreius sorriu para o filho e voltaram a beber juntos, aproveitando aquele momento de paz antes das batalhas voltarem.

No outro dia bem cedo, os cavaleiros se levantaram e deram início aos treinamentos. Max montou em seu cavalo e galopou por aquele campo. O céu estava azul e o sol brilhava. Ele treinou com sua espada enquanto cavalgava ao mesmo tempo, e observou Imra junto com os outros paladinos atirarem as flechas nos alvos construídos por Normani conforme Maquiavel dava a ordem.

Selena e Tristan duelavam com suas espadas um pouco distantes dali. Depois de enfrentarem Nahemah, queriam estar mais prontos do que nunca para a Guerra Santa.

- Escuta, Tristan, eu é que não vou me aliar com aqueles Quatro Arcanjos traiçoeiros, só se eu estivesse louca. – desviou de um golpe.

- Não sou eu quem decido, é a vontade dos Cavaleiros Sagrados. – forçaram as lâminas de suas espadas cruzadas, ficando com seus rostos bem próximos. – O poder dos Quatro Arcanjos é real! Não tínhamos chance na guerra contra o clã dos demônios, mas agora a batalha será de igual para igual.

- E você acha que isso é motivo o suficiente pra confiar neles? – se afastaram.

- Mas que droga, relaxa um pouco. – Selena partiu pra cima do parceiro e Tristan a levantou com um pequeno tornado. – Não importa se confiamos ou não neles, se o clã dos demônios é inimigo dos humanos e dos celestiais, então no mínimo, os Arcanjos não são nossos inimigos. Isso é tudo que importa. – fechou seu punho, cessando o seu poder e Selena caiu. – Não importa o que as pessoas dizem, tá bom? Vai, levanta, Sely.

Estendeu a mão para Selena e ajudou ela a se levantar.

- Tristan... – ela sorriu e voltaram a duelar.

A cavaleira não queria admitir, mas tinha se encantado por Korine no momento em que a viu. Selena estava assustada com o que sentia, pois nunca passou por aquilo antes. Achava a mulher um tanto atraente e totalmente diferente de Vivian que apenas nutria uma paixão obsessiva pela cavaleira há muito tempo.

No Chapéu de Jaguar, Ally e Normani dormiram juntas e sentadas numa cadeira. Ambas esperavam Ariana terminar com o tratamento de Harry, mas acabaram pegando no sono e a maga as cobriu com um cobertor.

- Seu corpo está reagindo muito bem aos remédios. – Ariana deu alguns comprimidos para Harry. Ele se sentou na cama e tomou um pouco de água.

- Eu sempre fiquei surpreso com a rapidez que você aprende. Seu potencial sempre foi fantástico desde quando treinamos juntos no reino dos magos. – sorriu. – Eu tenho um favor para te pedir.

- Que tipo de favor? Só não peça o impossível, como um aumento de desempenho.

- Não é nada muito complicado.

- Tudo bem, eu vou ouvir o que você tem a dizer, mas sem garantias.

- Muito obrigado. – ele a chamou com o indicador e Ariana se aproximou para ouvir as palavras sussurradas saírem da boca dele.

A maga ficou pasma e sem acreditar. Ela apenas olhou para Harry que assentiu.

- Você está maluco? Tem certeza que é isso que quer?

- Uhum.

- Isso tem alguma coisa a ver com o que você disse quando estava bêbado naquela noite e sobre acabar com a Guerra Santa?

- Talvez.

Ouviram Normani bocejar e decidiram terminar aquele assunto. Ally se espreguiçou, reclamando da péssima posição do qual dormiram.

- Parece que você está muito melhor, Hazza. – a baixinha sorriu, levantando para abraçá-lo e Normani fez o mesmo.

- O feitiço da Ordem Absoluta foi quebrado. Obrigado por isso, Ariana.

- Sem problema. – ela recolheu seus livros.

- A Dinah e a capitã precisam voltar logo. – falou Normani. – Regina ficou muito preocupada com a irmã.

Escutaram batidas na porta e a menina abriu logo depois. Sua expressão denunciava que tinha acabado de acordar. Normani sorriu e resolveu descer até o bar junto com Ally para prepararem o café da manhã juntas enquanto Peter não voltava.

O pecado do orgulho havia ido cortar lenha para trazer até a taverna na companhia de Edgar. Estava perto do acampamento dos cavaleiros. Ele ergueu o machado e cortou mais madeiras, colocando elas dentro do carrinho de mão. Limpou suas mãos uma na outra e decidiu voltar, empurrando o carrinho.

- Tô falando sério, isso tudo só está acontecendo porque a Lauren e a Camila se amam. – falou a pantera. – Talvez uma conversinha relaxada ia...

- Eu não poderia estar com mais inveja.

- O quê?

- A propósito, Ed, por um acaso você tem alguma ideia do que a Ariana sente por mim?

- Como assim? O que ela sente por você? Ela nunca comentou nada sobre isso. – o pecado suspirou.

- Eu não preciso nem dizer que a maioria das mulheres me acha muito atraente. – Edgar revirou os olhos. – Mas isso não importa se a mulher que eu amo de todo o coração, não sente nada por mim.

- De onde vem toda essa confiança? Você mesmo deveria perguntar pra ela, cara.

- É impossível.

- Por que impossível?

- Seria muito melhor se você perguntasse para ela no meu lugar.

- Você é arrogante até quando pede um favor.

O homem riu e acabaram escutando gritos de comemoração.

- Quanta comoção logo de manhã cedo.

Peter observou vários cavaleiros bêbados ao redor do acampamento. Tinha certeza de que eles tinham comemorado muito após a aliança ter sido feita.

- Minha nossa, não importa a época, os humanos sempre querem beber esse veneno e criar tumulto. – Metatron fez uma careta ao olhar para a cerveja dentro de sua taça.

- Fazer o que, não é? Não sabemos fazer um veneno com um gosto tão bom. – falou Kemuel com a voz arrastada por estar bêbado e deu um longo gole.

Ao redor da mesa deles, várias garrafas estavam espalhadas e alguns cavaleiros cantavam animados, gritavam e riam descontroladamente. Uma verdadeira bebedeira e bagunça.

- Você tá errado. – Korine soluçou. – Isso aqui não é veneno, gente, é álcool. – se debruçou sobre a mesa e Kemuel fez o mesmo. Estavam bêbados demais.

- Vocês dois são patéticos. – Metatron sentiu sua cabeça começar a doer. – Revigorar.- tocou sua testa com aquela luz, se livrando da ressaca completamente. – Estou sentindo uma presença única.

O Arcanjo se levantou, seguindo aquele poder tão conhecido por ele e acabou encontrando Peter junto com Edgar um pouco distantes do acampamento.

- Beleza, já pegamos lenha o suficiente. – disse Edgar enquanto andavam juntos.

- Em relação a àquele favor, eu espero que você cuide disso.

- Eu vou estar lá com você, então confessa o que sente.

- Opa. – parou de andar, soltando o carrinho de mão. – Antes disso parece que temos companhia.

Viram Metatron planar sobre eles com suas enormes asas brancas.

- Vocês dois aí, quem são vocês?

- Ora, ora, se não é aquele Arcanjo metido? – Peter entortou a boca. – Eu acredito que nós nos encontramos ontem a noite.

- Provavelmente sim. – riu.

- Saiba que eu fico irritado quando sou menosprezado por alguém inferior a mim.

- Será mesmo?

- Eu me chamo Peter Blaze, o pecado do orgulho, membro dos Sete Pecados.

- Esse seu poder mágico, por que estava o escondendo?

- Eu não estava escondendo nada.

- Seu poder fica ainda mais poderoso de acordo com as suas emoções, principalmente o orgulho. – Peter riu.

- Já entendi, esse poder amaldiçoado é tão conhecido que até o clã dos celestiais sabe sobre ele.

- Poder amaldiçoado? Não seja tolo. – retirou sua espada da bainha. – De quem você roubou esse poder?

Metatron partiu para cima de Peter.

- Opa! - desviou de todos os ataques rápidos do Arcanjo e bloqueou com as mãos. O pecado deu um salto para trás, se afastando totalmente. – O que você está fazendo? No momento, os humanos e os celestiais são aliados. Não há nenhum motivo para você me atacar assim de repente.

- Responda a minha pergunta!

- Não entendo o motivo da sua pergunta.

- Que jogada suja, paspalhão! – Edgar gritou ao ver Metatron pegar Peter de surpresa, mas o pecado se defendeu.

- Esse poder é uma Graça concedida a um dos Quatro Arcanjos pela Divindade Suprema. – apontou sua espada para o homem. – Entenderia se eu dissesse que é parecido com a forma como os Dez Mandamentos são dados. Minha Graça é o Flash da Luz, de Kemuel é o Oceano, de Camila é o Sol e o do Quarto Arcanjo é o Fogo. A Graça que foi concedida ao meu falecido irmão, Samael dos Quatro Arcanjos. Mesmo Camila que ostenta um poder que começa a aumentar ao amanhecer e ao meio-dia, nem mesmo eu tenho chance contra ela. Mas meu irmão era o único a conseguir chegar um pouco perto do nível dela. Mas há três mil anos, ele foi assassinado por um dos Dez Mandamentos e a Graça dele se perdeu.

- Você está dizendo que meu poder é esta Graça?

- O poder da Graça é um poder divino. Se um humano adquirir, com certeza vai consumir o corpo dele e um dia o destruirá. Você deveria entender isso melhor do que ninguém, coloque-se no seu lugar, humano. Se não deseja morrer, renuncie essa Graça agora mesmo!

- Nada do que você está dizendo me importa! – apontou o dedo. – O poder das chamas da Fênix habita em mim desde o dia do meu nascimento. Seguindo o seu raciocínio, mesmo que isso seja o que você chama de Graça, então essa Graça deve ter me escolhido de alguma forma. Pois eu sou o mais poderoso e reconhecido por todos. – as chamas preencheram seu braço e a espada de Metatron derreteu. – Você deveria agradecer. Enquanto eu for o seu aliado, a sua vitória está certamente garantida.

- É a marra da Fênix. – disse Edgar e Metatron soltou uma risada debochada.

- Eu gosto de você! Quero que dê um jeito de se tornar muito útil para mim. – Peter riu.

- Que arrogante. É melhor você tomar cuidado para não ficar no meu caminho.

Metatron riu mais uma vez e foi embora dali, deixando Peter com seus questionamentos sobre ter sido mesmo presenteado com uma Graça de um dos Quatro Arcanjos.

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