Eu encontrei minhas roupas limpas na cômoda, e até mesmo meu celular havia sido carregado e deixado sobre a mesa, Rose era o tipo de pessoa que pensava em tudo. Me senti ainda mais aliviada ao ver meu medalhão cuidadosamente guardado junto com as minhas roupas. Eu entrei no banheiro e tomei uma relaxante chuveirada, escovei os dentes e me senti muito satisfeita em vestir minhas próprias roupas. Depois disso peguei meu celular e olhei o histórico de chamadas... a Luísa havia tentado me ligar umas 20 vezes, e ainda havia 5 ligações de Laura e 6 da Susan. Bem... elas pelo menos ligaram. Abri o ícone de mensagens e havia umas 50 mensagens de Luísa, as primeiras eram do tipo, Crys, você está bem? As últimas eram do tipo, dê notícias logo ou vou quebrar a sua cara. Fiz uma careta para o celular, talvez eu deveria ter mandado notícias pelo menos para a Luísa. Escrevi uma mensagem rápida.
Oi Lú, eu estou bem. Só precisei me afastar um pouco para pensar, a gente se vê logo.
Depois disso eu guardei o celular junto com as roupas e fui ver Selena. Fiquei um pouco insegura andando pela casa do Tyler, ela era realmente grande e sofisticada, e dar de cara com Cecília não era uma possibilidade que me deixasse encantada. Eu fiquei muito feliz quando comecei a descer uma escada e avistei o Tyler e a Selena sentados em um sofá.
Desci as escadas e entrei na sala meio sem graça por ter me atrasado.
_... isso vai ser bom. _Tyler comentava.
_O que? _perguntei.
Selena sorriu para mim e respondeu _Está tudo pronto para irem para o acampamento da lua. Vamos a sua casa agora comunicar sua mãe que você foi convidada a uma estadia de verão em um acampamento na Carolina do Norte, e pedir autorização a ela, é claro.
_Ela não percebeu nem que a Crys havia fugido de casa por um bom tempo, depois não ligou dela passar dias na casa de estranhos. Acho que a autorização dela não será problema. _Tyler disse com um ar compenetrado, apesar dele não ter falado isso por mal suas palavras me deixaram meio deprimidas.
Me sentei ao seu lado e falei triste _É, penso que não haverá, ela já ia mesmo me mandar para um lugar do tipo.
_Ia? _Selena perguntou surpresa.
_Ela sabe que eu não sou exatamente adotada. _respondi com simplicidade.
_Mas... pensei que você tinha fugido por conta de ressentimento por sua irmã Ângela, apesar de estarmos cientes que Susan havia encontrado coisas não imaginávamos que ela iria ter tal atitude...
_Ela já estava bolando o plano "se livre da ilegítima". _Tyler respondeu com certa insensibilidade.
Tentei não me estressar com aquilo e me concentrar nas palavras da Selena.
_Nós quem? Quem achou que a Susan não iria se comportar assim?
_Sua avó, ela considerava a Susan bem maleável, nunca pensou que ela poderia ter qualquer atitude agressiva ao saber que você era mais que uma menina escolhida aleatoriamente para adoção, sabíamos que ela havia descoberto coisas, mas nem nos demos ao trabalho de verificar nada, pensávamos que ela como quase mãe estava te dando apoio, pensávamos que sua irmã era um problema isolado.
Avó? Ela se referia a Sr. Jane? Não tive coragem de perguntar, não estava pronta ainda para pensar naquela mulher e o que ela poderia significar para mim.
_Bom trabalho com suas conjecturas. _ Tyler disse ainda meio carrancudo.
Eu olhei para Selena e esclareci triste _Ela pirou ao saber que o Gheorge a havia traído com outra mulher, e eu era filha dele com esta.
A risada que Selena soltou me assustou, o que exatamente ela havia achado graça? Ela vendo minha cara de espanto sorriu e disse ainda rindo _Ágata era o tipo de garota que estraçalharia caras do tipo do Gheorge.
Eu e o Tyler fizemos uma careta de desconforto. Selena percebeu nosso constrangimento.
_Não estraçalhar dessa forma _suspirou ruidosamente _o que tem de errado com as pessoas das suas idades?
_ Pode esclarecer? _Tyler disse com pouca suavidade.
Selena sorriu e explicou _Oh, para ser o cara certo para a Ágata você precisava ser diferenciado.
_Mas ela pareceu gostar do meu pai. _falei confusa.
Selena fez cara de obviedade e começou a falar _Mas ele não...
_Realmente isso não é das nossas contas, certo Selena?
Cecília apareceu na sala usando uma saia risca de giz e um terninho cinza formidável, seu semblante e voz pétrea totalmente insondáveis, cabelos presos sobre a cabeça de forma elegante.
Selena deu de ombros _Bem, creio que tenha razão. _ela não pareceu se abalar com a presença imponente de Cecília.
Eu queria respostas agora, comecei a protestar _Mas...
Cecília me interrompeu _Mas terá quem te explique as coisas, não nós certamente, é deselegante se intrometer em assuntos que não fazem parte da nossa alçada, interferir em questões familiares certamente não faz. _Cecília respondeu de forma fria.
Sabia que protestar não iria ser de grande ajuda por isso me calei.
***
O volvo negro de Tyler parou suavemente em frente a suntuosa casa de Susan Halle, Tyler estava dirigindo o carro, Selena me fazia companhia no banco de trás. Enfiei a mão no bolso do meu jeans, peguei o medalhão da minha mãe e o coloquei ao redor do meu pescoço.
_Está bem?
_Estou. _menti.
Não estava, entrar na minha até pouco tempo casa era de certa forma mais assustador do que ter um vazio sobre mim pronto a dilacerar meu pescoço, contra um vazio você podia lutar, poderia enfiar uma adaga no peito deles, mesmo que depois você entrasse em choque. Ali nem ao menos o choque era prudente, como entrar em choque diante de uma verdade sempre presente, afinal eu sempre havia tido consciência de que não pertencia ali, mas a pergunta era: aonde pertenço então? A um mundo desconhecido e inóspito do qual eu aparentemente descendia ou a minha família não tão família?
Apertei minha mão com força sobre o medalhão. Não vou ser mais a garota idiota e pálida de sempre, irei ser a garota forte que minha mãe esperava que eu fosse. Se for para escolher aonde pertenço, prefiro a primeira opção.
Abri a porta esquerda do volvo e sai ao mesmo tempo que Selena e Tyler, caminhamos silenciosamente até a porta de entrada, apertei a campainha, ali não era minha casa para entrar livremente.
Marge abriu a porta e arregalou os olhos em uma expressão de alívio quando me viu.
_Menina! _enlaçou seus braços ao meu redor.
_Oi. _a voz que saiu de mim era desconhecida, segura, sem hesitação.
_Estava preocupada, Sra. Susan ia atrás de você hoje, te trazer para casa já que parecia que queria manter residência fixa na casa de sua amiga.
_Sei que iria atrás de mim. _disse sem emoção alguma, simplesmente disse.
Marge se deu conta de Selena e Tyler as minhas costas.
_Entre todos. _segui para o interior da casa seguida pelos outros. _Você deve ser o Tyler, o amiguinho da Crys. _disse ao mesmo tempo que indicava para que sentassem.
_Sou. _Tyler deu uma resposta curta mais ao mesmo tempo cheio de educação.
_E você? _perguntou para Selena docemente.
_Selena Pontes, professora de história dos garotos.
Ah, ela estava na sua casa! Prazer em conhece-los. _Marge tentou sanar sua falta de sutileza nas palavras.
_O prazer é nosso. _ Selena respondeu, Tyler se limitou a um menear de cabeça. _Você deve ser a Marge.
_Sim, desculpe por não me apresentar, é que fiquei meio atrapalhada, estava preocupada com a Crystal, vê-la foi um alívio.
_Onde está a Susan? _perguntei friamente.
_Sua mãe está lá em cima no seu escritório. _deu ênfase quando disse sua mãe.
Selena disse de forma gentil _A chame por favor, quero conversar sobre um assunto com ela.
_Com licença. _Marge se apressou em direção as escadas.
Tyler se postava sentado no sofá despreocupadamente, Selena olhava ao redor da maneira natural que avaliamos a casa dos outros quando ninguém está vendo, eu raspava uma unha na outra como se isso fosse acelerar o tempo. Por fim Susan Halle apareceu na sala, usava um vestido bege e uma sapatilha preta que não descredenciava o requinte do seu cabelo castanho escuro preso em um coque sutil no alto da cabeça.