Eu sempre gostei de nadar, sentir a água entrando em contato com meu corpo e trazendo um estranhamento inicial, mas depois de um tempo, alívio. Mergulhar, prender a respiração e permanecer embaixo d'água sempre me foi fascinante.
Mas não é isso que sinto agora.
O que sinto é surpresa e desespero. Surpresa porque não esperava que as coisas com Daeshin chegassem ao ponto de nós dois cairmos na água, completamente vestidos e desavisados.
Eu começo a me sentir apreensivo, porque Daeshin não me solta, nem quando nós dois emergimos em busca de ar, as respirações ofegantes. Suas mãos ainda envolvem meu braço, a dor ainda existe e, consequentemente, o desespero por não conseguir me soltar.
- Daeshin, me solta! - é o que digo, tentando a todo custo me afastar de si, até conseguindo em alguns momentos, mas sentindo seu corpo puxar o meu novamente.
- Olhas merdas que você me disse, Jungkook. Quer outro te tocando, é isso? Acha mesmo que outro cara aturaria suas merdas como eu faço?
Não respondo suas provocações, por mais que machuque ouvir tais palavras. Agora, eu me concentro em sair dali, sair de perto de si.
- Repete o que estava falando, hein...
Não presto atenção nos murmúrios que diz, apenas reúno toda minha força para empurrá-lo para longe de mim, fazendo com que seu corpo afaste-se do meu. Ele se surpreende com minha reação, parando de falar besteiras e me encara, respirando profundamente em busca de ar.
Nenhum de nós dois diz nada durante alguns segundos, o único som ecoando no ambiente sendo nossas respirações atrapalhadas tentando se normalizarem. Finalmente, com a voz baixa, mas carregada de seriedade e sinceridade, digo o que não imaginei que diria algum dia:
- Acabou, Daeshin. Não quero mais nada com você.
Preparo-me mentalmente para ouvir seus pedidos de desculpas, suas reclamações e mentiras. Porém, me surpreendendo completamente, não é isso que Daeshin faz. O olhar que ele me lança é carregado de desprezo e indiferença, assim como a risada debochada que solta.
- Quer saber de uma coisa, Jungkook? - cospe as palavras, balançando a cabeça. - Você é só um moleque sem graça que eu encontrei pelo caminho e que eu quis foder. Você faz o que quiser, mas não diga que eu não estou avisando: nenhum outro cara vai aturar suas merdas, nenhum.
Ele começa a se afastar de mim, nadando até a borda da piscina e dando impulso para sair, deixando-me sem reação alguma. Ali, de pé, sorri mais uma vez desse jeito debochado e fala:
- E só para deixar claro: Taeyang fode muito melhor do que você.
É com tais palavras que ele encerra nossa discussão, dando as costas e caminhando para fora dali.
Eu realmente pensei que lidaria com suas falsas promessas e discordâncias, mas não. Só que não é apenas a surpresa que invade meu corpo, mas mágoa por suas palavras. Ele realmente se sente assim? Nosso relacionamento foi apenas uma certeza que ele teria alguém para foder, quando quisesse? Isso que eu sempre fui para ele?
Levo minha mão até meu celular, notando que estragou completamente por conta da água.
- Que merda. - praguejo.
Um tanto letárgico, saio da piscina, notando uma movimentação próxima ao portão. Meus olhos recaem na figura de meu amigo, abrindo o portão rapidamente, olhando-me com pura surpresa.
Eu ando até meu melhor amigo, amigo há dez anos. Paro em sua frente, sentindo as lágrimas saírem de meus olhos e Hoseok lança um sorriso sem força para mim, antes de abrir os braços e me acolher neles.
Não dizemos nada, apenas agarro com força Hoseok, enterrando minha cabeça em seu ombro, sentindo suas mãos acariciarem minhas costas.
Eu estou completamente molhado e ele não se importa em nenhum momento com isso. Permanecemos nesse arranjo por um bom tempo, até que sinto meu choro diminuir e encaro seu rosto, ao dizer:
- Eu consegui, eu terminei com ele.
Hoseok arregala minimamente os olhos, demonstrando sua surpresa, mas rapidamente seu rosto se transforma. Ele abre um de seus sorrisos lindos, em formato de coração e sussurra:
- Sabia que você conseguiria.
Ele sussurra tais palavras para mim durante o trajeto todo até seu quarto, além de dizer que está orgulhoso de mim e que tudo vai ficar bem. Não consigo responder nenhuma de suas palavras, sentindo meu choro aumentar sempre que tento dizer qualquer coisa. Ele parece não se importar, abraçando meu corpo até chegarmos em seu quarto e eu decidir tomar um banho.
Em nenhum momento ele me questiona o que aconteceu, o que Daeshin me disse, apenas fica ao meu lado. Intercalo entre ficar quieto, olhando o teto e chorar, agarrado à si. Apenas depois de um bom tempo que eu começo a lhe contar tudo que aconteceu.
- Eu fiquei com uma sensação estranha... Por isso acabei indo lá, Jungkook. Não consegui não aparecer. - Hobi me fala, depois de ouvir meu desabafo sobre tudo: desde o que houve ontem depois que saiu da festa, sobre as traições, as coisas que Daeshin me disse.
- Foi bom você ter ido, no fim das contas. Eu achei que fosse demorar mais tempo para convencer Daeshin a sair dali...
- Ele é bastante instável, Jungkook. Eu não duvido que ele te mande mensagem e tente falar com você. - diz, com pesar na voz.
- Pensei sobre isso, Hobi, mas não sei... Ele parecia cansado, sabe? Não sei se me procura.
- Eu espero que você esteja certo. - seus olhos são preocupados, observando meu rosto demoradamente. - É muito cedo para te perguntar se você está bem em ter terminado com ele?
Suspiro, negando. Eu não sei responder sua pergunta com exatidão, porque não entendo as sensações que invadem meu corpo, mas, mesmo assim, tento ao dizer:
- As palavras dele ainda me machucam. As coisas que ele me disse... Mas eu me sinto calmo, ao mesmo tempo. É estranho.
- Eu acho que você se sentirá assim por algum tempo, até sua mente processar tudo que houve, sabe? - assinto, porque realmente concordo com o que me diz. Sua mão segura a minha com força e um sorriso desenha em seus lábios. - Sabia que eu senti falta disso?
- Disso o que?
- De ficar assim com você... Juntos, sabe? Sei que não é por uma boa causa exatamente, acho que depende muito do ponto de vista. - divaga, acariciando meu cabelo com sua outra mão. - Acho que estou mal acostumado. Passávamos muito tempo juntos na escola e agora não estamos mais na mesma sala... Você tem suas matérias, eu as minhas... É diferente.
- Sabe o que eu sinto falta? - comento, deitando minha cabeça no colo de meu amigo. - De quando saíamos da escola e íamos até aquela lanchonete, lembra? Eu sempre pedia uma porção de batata frita e você pegava um lanche imenso...
- Ah, não era tão grande assim! - resmunga, dando um tapa leve em minha testa. - Você que sempre comeu menos do que eu.
- Você sabe que era grande sim, tinha dois hambúrgueres, Hobi. - falo, sorrindo. - Eu sinto falta desses momentos. - confesso, em um suspiro.
- Acho que qualquer coisa que fazemos juntos é divertida. Sua companhia acaba sendo o que me faz bem, no fim das contas.
Hoseok sempre foi alguém que diz o que sente, sem enrolações e sem jogos. Sua facilidade em se expressar é algo que desde sempre admirei em si, pois não sei me expressar como meu amigo e muito menos me abrir da forma que ele se abre: natural e sinceramente.
Eu o admiro muito.
É assim que passamos o restante do dia, conversando e comendo alguns doces que comprou. Namjoon não chega em nenhum momento e Hobi diz que mandou ele dormir no quarto de Jimin, para ficar sozinho comigo.
Mesmo que tenha a cama de Namjoon a nossa disposição, eu e Hobi nos encolhemos em sua cama, porque não quero ficar sozinho. Meu sono é instável, acordo algumas vezes no meio da noite, sentindo uma vontade imensa de chorar, o que me leva a abraçar meu amigo com mais força e me encolher contra si.
Por isso, quando acordo sinto ainda cansaço, de uma noite mal dormida. Hobi insiste para que eu falte na aula, que preciso descansar e colocar minha cabeça no lugar, repetindo:
- Você não quer dormir ou sei lá... Não precisa ir pra aula, é muito recente tudo o que aconteceu... - diz, quando paramos à frente da minha sala (que ele insistiu em me acompanhar até a porta).
- Hobi. - digo, segurando sua mão e sorrindo minimamente para si. - Eu gosto de ver as aulas, me distrai e é bom para mim, assim como sair fotografando os lugares me ajuda. Está tudo bem.
- Ia te falar para me mandar mensagem caso precisasse de mim, mas agora lembrei que não tem mais celular. - diz, parecendo se lamentar com essa constatação.
Por alguma razão, eu acabo rindo de sua fala e ele se surpreende com minha atitude.
- Você ri de algumas coisas muito estranhas.
- Melhor rir de minhas derrotas do que passar o tempo todo me lamentando. - falo, dando de ombros.
- Não acho que seja uma derrota. - aproxima seu corpo do meu e deposita um selar em minha testa, distanciando-se de mim.
Um sorriso pequeno forma-se em meu rosto e vou para a minha aula, encontrando Han conversando com um rapaz, sorrindo ao me perceber ao seu lado.
- Jungkook! Você não respondeu às minhas mensagens... Chegou vivo depois da festa?
- Meu celular pifou, tenho que comprar outro. Cheguei vivo sim. - respondo, sentando ao lado de Han, percebendo os olhos furtivos que seu colega me lança.
Han aparenta não saber sobre meu término ou sobre a traição de Daeshin, também não comento nada. Eventualmente talvez eu fale algo, mas não sei bem como abordar um assunto desses... "E aí, sabia que meu namorado me traiu? Não apenas uma vez, mas com várias pessoas diferentes". Sei lá, me parece estranho.
- Eu sou Kim Jae. - o rapaz diz, sorrindo para mim. Ele é ridiculamente bonito, com seus olhos passeando pelo meu rosto e seu sorriso de canto.
- Jeon Jungkook. - respondo, sorrindo minimamente.
- Jae é meu colega de quarto. - Han fala. - Só não sei porque está aqui ainda, sendo que sua aula é em outro prédio.
- O que você cursa? - questiono, tirando meu caderno de minha mochila.
- Curso Artes, estou no segundo ano. - responde, sem tirar os olhos de mim. - Mas acho que ficarei aqui e assistirei essa aula com vocês.
- Você assistindo uma aula de Economia? - Han fala, rindo. - Me poupe, Jae, você odeia números e essa é uma aula de Cálculo.
- Achei um bom motivo para ver essa aula.
Não digo nada, pois o professor entra na sala e a aula se inicia. Tento ao máximo manter minha atenção focada no que ele diz, mesmo que às vezes minha mente pregue peças comigo, trazendo os pensamentos sobre a discussão e meu término ontem invadirem meus pensamentos.
Parece que a ficha ainda não caiu. Eu terminei meu relacionamento de dois anos...
O que isso muda em mim? Beleza, agora estou solteiro, mas... O que isso significa? Eu continuo sendo o mesmo ou isso acarreta mudanças?
Estar com Hoseok foi importante e necessário. Sei que posso contar com ele, mas as dúvidas e sentimentos que sinto são estranhos, não consigo definir muito bem. Só, sei lá...
- Ei, tá bem? - ouço a voz de Han e balanço a cabeça, querendo afastar meus pensamentos.
- Estou bem sim. - respondo, olhando ao redor e vendo as pessoas se levantando. - A aula acabou?
- Sim, você parecia estar em um mundo reflexivo aí na sua mente. - Han fala e seu olhar parece um pouco mais preocupado quando diz: - Está tudo bem mesmo?
Assinto, guardando meu caderno, que não foi usado e isso é a prova que algo está muito errado comigo: eu sempre anoto o que o professor diz, sempre.
- Estou sim. Vocês vão comer?
- Eu vou sim, mas Jae está inventando desculpa para não ir.
- Eu já te disse, Han, preciso urgentemente falar com um professor. Se der tempo eu passo lá, quero conhecer seus outros amigos. - sorrindo furtivamente para mim, ele continua: - Se os outros forem bonitos como você, eu estou no lucro.
Isso foi um flerte?
- Está flertando comigo? - meu questionamento sai, sem que eu controle minhas palavras.
- Jungkook namora, Jae, sossega aí. - Han diz, sorrindo de maneira brincalhona.
- Não namoro mais. - me apresso em dizer, porque não quero associar meu nome ao de Daeshin.
Mesmo assim, é estranho dizer em voz alta: eu não namoro mais, não tenho mais namorado. Essa foi uma realidade durante dois anos e agora não é mais. Minha mente é uma bagunça, dúvidas e reflexões passam por ela, até que meus pensamentos são interrompidos.
- Não? Quando terminou com Daeshin? - meu amigo parece surpreso e Jae apenas continua sorrindo.
- Terminei ontem com ele. Por isso eu acabei sumindo também.
- Então, respondendo sua pergunta... - Jae fala, aproximando-se de mim. - Eu estou flertando com você.
É estranho, porque desde que comecei a namorar, alguns caras chegaram em mim, mas como estava quase sempre com Daeshin, isso não era tão frequente. Ainda mais pensando nos lugares que eu frequentava sozinho: parques, livrarias e cafeterias. Definitivamente não era nada comum caras bonitos aleatórios chegarem em mim.
Só que agora estou solteiro e não sei bem reagir às suas palavras. Pensar em me envolver com outra pessoa é tão, mas tão estranho.
- Ele terminou ontem, Jae, dá um tempo!
- Se você for paciente, quem sabe, não é? - respondo, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas e eu mesmo me surpreender com minhas palavras.
Eu acabei de flertar de volta? Ah, meu Deus, eu acho que fiz isso.
Ouvir a risada de Jae não ajuda a controlar esse calor que sinto em minhas bochechas, ainda mais quando ele diz:
- Por você vale a pena, bebê.
Saímos juntos da sala, mas aviso Han que não irei com ele comer porque vou para o centro fazer algumas coisas. Ele se oferece para ir comigo, mas opto por ir sozinho, já que quero tirar algumas fotos também.
Passo rapidamente em meu quarto, para pegar a câmera e colocar em minha mochila, além de procurar um iPod antigo que tenho certeza de ter trazido. Assim que o encontro, vou até a entrada do campus, não demorando para achar um táxi para me levar. Nem sei dizer qual a última vez que andei de táxi e aproveito o momento silencioso dentro do carro para colocar algumas músicas de The National, que arrisco dizer ser meu grupo favorito. A que escolho é "Sea of Love" e deito minha cabeça contra o vidro, olhando a paisagem calma do começo da tarde ganhar vida à minha frente.
Eu sempre gostei mais do dia do que da noite, sempre senti que havia muito mais vida e felicidade no sol do que na lua, no escuro. Estar sempre sozinho à noite em casa, já que meus pais estavam trabalhando, contribuiu para que eu não tenha boas memórias do entardecer.
Meus pensamentos se perdem e se encontram conforme o carro avança, mesmo quando a música termina e outra começa. Não sei quanto tempo fico ali, encostado no vidro e apenas deixando a música tocada em meus fones guiar meus pensamentos.
O carro estaciona perto do shopping e eu saio, agradecendo ao motorista que sorri para mim, o que me leva a sorrir de volta, sem força. O shopping está com muitas pessoas circulando e eu vou até a loja de celulares para comprar um novo, sabendo que quero um modelo como o meu anterior.
A compra é rápida, não enrolo em escolher o celular e logo estou indo atrás de um chip novo. Aproveito para dar uma volta pelo shopping, sem compromisso algum. É só quando me canso que vou até a praça de alimentação comer algo e ajeitar meu novo celular.
Felizmente, consegui o mesmo número, então fico um tempo comendo o lanche que comprei e baixando os aplicativos que gosto. Mando uma mensagem para Hoseok e meus olhos correm pela praça de alimentação, reconhecendo imediatamente duas pessoas ali, juntas.
Jimin e Taeyang estão sentados em uma mesa, um pouco distantes de mim, conversando sobre algo. Ver Taeyang é um pouco estranho, mas não porque sinto raiva dele nem nada do tipo. Não acredito que ele tinha consciência que Daeshin namorava quando se relacionou com ele, mas é estranho pensar que eles não apenas se beijaram, como transaram.
Minha atenção é atraída para Jimin, que sorri de algo que Taeyang diz. Os cabelos estão um pouco bagunçados, mas parece ser aquele "bagunçado arrumado", que deixa sua aparência bonita.
Jimin é muito bonito, não consigo deixar de constatar esse fato conforme o observo.
Seus olhos se encontram com os meus e ele parece surpreso. Eu, em contrapartida, me sinto como uma criança pega no flagra e desvio os olhos imediatamente. Só que isso é ridículo, ele já me viu olhando para si, então, quando volto meu olhar para onde estava, noto que Jimin está vindo em minha direção.
- Jungkook, que coincidência. - é o que ele diz, sentando-se à minha frente.
A primeira coisa que noto é que há algo de diferente em seu rosto: Jimin está com um piercing preto no canto de seus lábios cheios, realçando ainda mais essa parte de seu rosto. Não consigo desviar minha atenção de seu piercing, até que ele diz:
- Se eu não tivesse acabado de colocar um piercing, pensaria que você quer me beijar.
Sua fala tira meu foco de seus lábios, direcionando meu olhar até seus olhos, encontrando uma pitada de diversão neles. Pigarreo, um tanto nervoso por ter sido tão óbvio e respondo:
- Quando você colocou?
- Hoje, agora há pouco. Sempre quis colocar um e quando acordei decidi que era o dia. - inclinando seu corpo na cadeira, ele continua: - Você gostou?
Estranhamente, eu gostei. Nunca pensei em colocar um piercing ou fazer uma tatuagem, mas em Jimin ficou tão... Bonito.
- Combina com você. - é o que respondo, um tanto nervoso em responder que sim, eu gostei muito.
Ele ri, provavelmente percebendo meu nervosismo e, com um sorriso no canto de seus lábios, diz:
- Vou me dar satisfeito por essa resposta. Mas... E você, o que faz aqui? Não foi para a aula?
- Eu fui sim, mas meu celular deu problema e vim comprar outro.
- Hoseok comentou que seu celular molhou, não é? - sei que meu amigo não contou sobre minha discussão com Daeshin, mas sei que comentou com nossos amigos que eu estava sem celular.
Jimin não sabe que terminei?
- Eu terminei com Daeshin.
As palavras simplesmente escapam e noto que Jimin não esboça grande surpresa, exceto por um arquear em sua sobrancelha.
- Eu imaginei que algo tinha acontecido. Quando Hoseok disse que Namjoon dormiria em nosso quarto, porque você estaria no quarto deles, eu supus que algo tinha acontecido.
- Pois é. Eu precisava ficar com Hoseok, então desculpa por não ter avisado...
- Ei, eu morei com Namjoon ano passado. Foi bom estar com ele, lembrou dos velhos tempos. - diz, mantendo seu sorriso. Sua postura torna-se um pouco mais séria quando diz: - Você está bem?
- Está perguntando sobre o término? - ele não diz nada e entendo seu silêncio. - Eu estou... Confuso, eu acho. É estranho terminar algo que era certo para mim por dois anos. Ainda mais pensando em tudo que houve...
- Por sinal, Taeyang disse que queria conversar comigo e acabamos vindo juntos. - olha para o rapaz sentado há algumas mesas de distância, mexendo em seu celular. - Ele quis deixar claro que não sabia que Daeshin namorava, pediu desculpas...
- Está tudo bem, não sinto raiva dele nem nada. - digo, sinceramente. - Eu sei que ele não teve culpa.
- Isso é bom...
- Vocês dois estão juntos? - o questionamento me escapa e Jimin demonstra confusão em seu olhar.
- Juntos? Como assim?
- Você e Taeyang, bem... Vocês se envolvem, não? - pergunto, um tanto atrapalhado. Jimin sorri, parecendo entender minha pergunta.
- Sim, Taeyang e eu temos uma espécie de amizade colorida.
- E com Seung também?
Quase dou um tapa em mim mesmo por estar sendo curioso e deixando tais perguntas saírem de meus lábios, mas a curiosidade é maior. Penso na forma que Seung reagiu com Jimin, tão carinhosamente e também na expressão quando viu Taeyang e Jimin juntos.
Jimin passa a língua pelos lábios, levando minha atenção a essa área novamente, deixando escapar um sorriso furtivo.
- Sim, Seung e eu também temos um tipo de amizade colorida. - responde, por fim.
- Então tem várias conquistas pelo campus? - pergunto, num tom brincalhão.
- Se quiser colocar dessa forma. - sorri, inclinando seu corpo ainda mais sobre a mesa, olhando firmemente em meus olhos. - Eu gosto de me relacionar e ter sexo casual, gatinho.
Meu cérebro dá um pane por alguns instantes. Jimin e eu nunca conversamos abertamente sobre relacionamentos, sexo e assuntos nesse teor. Claro que já comentei sobre meu relacionamento com Daeshin, mas foi apenas isso.
Só que não é difícil perceber que Jimin é um cara que arranca suspiros por aí: além de ser muito bonito, é muito sociável.
Mas o que minha mente se foca é em sua última palavra.
- Gatinho? - questiono, quase em um sussurro.
Jimin não se abala ou fica envergonhado com minha pergunta, continua sorrindo para mim e diz:
- Exatamente. Eu já tinha pensado que você parece um gatinho, porque você é mais na sua, observador. Só que, quando eu te vi bêbado, percebi ainda mais similaridades. Você pode ser muito manhoso e não quer tomar banho, como um gatinho.
Sei que estou uma mistura de bochechas coradas por suas palavras e também indignação. Onde já se viu, eu adoro tomar banho.
- Eu estava bêbado! A última coisa que eu queria era tomar banho porque estava cansado, mas eu amo tomar banho.
Jimin gargalha, provavelmente de minhas sobrancelhas franzidas em negação e meu modo auto defesa ativado.
- Ainda assim, você parece um gatinho.
Cruzo os braços em frente ao meu peito, irritado com suas palavras. Eu sempre tento ser calmo e paciente, mas Jimin me tira do sério.
- Estou atrapalhando algo? - Taeyang pergunta, aproximando-se da mesa.
Seus cabelos parecem ainda mais vermelhos do que me lembro e seus olhos fixam-se em meu rosto.
- Tudo bem. - respondo e Taeyang senta-se ao lado de Jimin.
- Eu queria te pedir desculpas, Jungkook. Eu não sabia que Daeshin era seu namorado e...
- Ex-namorado. - apresso-me em responder.
- Vocês terminaram? - assinto, acanhado. - Só me desculpe, eu realmente não sabia...
- Está tudo bem, pode ficar tranquilo. - digo, porque é verdade. Taeyang parece mais relaxado, apoiando a cabeça no ombro de Jimin.
- Que bom saber disso.
Um silêncio um pouco desconfortável se instala, mas então Taeyang diz, sorrindo:
- E o que achou do piercing do Jimin, hein?
- Combina com ele. - digo o que respondi para Jimin, ganhando um sorriso de Taeyang em troca.
- Também achei, o único problema é que não pode beijar por um tempo. - um bico se forma em seus lábios e Jimin ri, enquanto um pensamento atravessa minha mente.
Será que foi por isso que Daeshin quis se relacionar com Taeyang? Por ele ser ousado e falar o que pensa?
- Eu tenho que ir. - é o que digo, forçando um sorriso. - Quero passar em alguns lugares.
- Quer companhia? - Jimin pergunta e hesito em responder, mas não porque não quero sua presença, só não sei se estar no mesmo ambiente que Taeyang seja o ideal no momento para mim, mas ele diz:
- Vai com ele sim, Jimin. Eu vou lá... Fazer aquilo. - suas palavras levam Jimin a ficar um pouco mais tenso, mas rapidamente um sorriso de canto surge em seu rosto.
- Certo. Você quer que eu vá? - sua pergunta é direcionada para mim e eu assinto, porque quero estar com ele.
Nos despedimos brevemente de Taeyang, logo saindo do shopping e Jimin diz:
- Onde quer ir?
- Estava pensando em ir ao Parque Namsan. O que acha?
- Vamos lá.
Decidimos ir caminhando e, conforme andamos, tiro algumas fotos da paisagem, porque o céu está realmente bonito. É estranho estar com Jimin em algum lugar fora do campus, mesmo que a gente tenha se conhecido fora dele, desde então nunca saímos para outro lugar.
E não é como se fosse um rolê ou algo do tipo. Estamos apenas juntos, caminhando durante à tarde pelas ruas de Seul e é estranho, mas não ruim.
- Me dá sua câmera. - é o que ele diz, quando chegamos ao parque.
- O que vai fazer? - pergunto, entregando a câmera para si e ajeitando a bolsa que carrego atravessada em meu corpo.
- Ver o que você enxerga por essas lentes. - diz, mirando a câmera para a paisagem do parque.
- Se você quebrar minha câmera, eu acabo com você, Jimin. - digo, sério, mesmo que seja um pouco mentira. Não tanto, eu tenho um apreço muito grande por essa câmera.
- Depois pergunta porque eu te chamo de gatinho.
Tento manter minha expressão séria, mas falha, rindo e revirando os olhos. Noto as lentes da câmera miradas em mim e, um pouco confuso, pergunto:
- Tirou uma foto minha?
- Claro que sim. - diz, sorrindo. - Ficou muito boa.
Hoseok é o único que sempre tentou tirar mais fotos minhas, já que, normalmente, eu quem tiro das pessoas.
Um pouco envergonhado, viro meu corpo para a paisagem à nossa frente, observando as árvores que tomam conta do parque. Jimin senta em um banco e dá algumas batidas na madeira para eu sentar ao seu lado.
- Eu vinha aqui com meus pais quando era mais novo. - Jimin diz, sorrindo de canto para mim. - Normalmente, vínhamos no domingo e ficávamos aqui por um bom tempo.
- O que vocês faziam?
- Minha mãe trazia um livro e ficava lendo, enquanto eu e meu pai ficávamos brincando. Ele tinha muito trabalho para explicar que eu não podia subir nas árvores. - embora ainda mantenha um sorriso em seu rosto, sua expressão vacila, momentaneamente melancólica.
- Seus pais são casados? - questiono, virando meu corpo para o seu.
- São sim. Os seus também são, não?
- Sim. - penso em meus pais e dou de ombros. - Mas é como se não fossem, sei lá. Eles passam mais tempo trabalhando do que fazendo qualquer outra coisa.
- Eles trabalham com o que? - não é fácil olhar para Jimin e não focar no piercing em seus lábios, por isso, lanço apenas algumas olhadas para seu rosto, focando mais no parque.
- Os dois trabalham em uma empresa de tecnologia, se conheceram nela, por sinal. Eles estão há muito tempo lá.
- Bem diferente dos meus pais. - comenta e não me contenho, olhando para seu rosto tão bem desenhado. - Os meus são donos de uma cafeteria aqui no centro e se conheceram na escola.
- Estão há bastante tempo juntos também, não é? - ele assente e suspiro. - Também imaginei que eu e Daeshin fossemos ficar por muito tempo juntos.
Não sei porque comento tal coisa, me arrependendo por trazer tal assunto à tona. Mas Jimin não parece incomodado e diz:
- Ele foi o único cara que você namorou?
- Sim, meu primeiro namorado. Antes dele eu nunca tinha estado sério realmente com alguém. - penso nos casinhos que tive antes de Daeshin e, bem, nenhum deles foi para frente. - Você nunca namorou?
Jimin nega, apoiando o braço no encosto do banco, preguiçosamente.
- Teve um cara na escola que eu me envolvi um pouco mais sério, mas não era um namoro. Essas coisas de namoro não são para mim.
- Por que não? - me é confuso tal pensamento, já que sempre gostei da ideia de um relacionamento.
- É difícil eu me conectar com alguém dessa maneira, a ponto de construir um relacionamento sério. Eu gosto de sentir minha liberdade, sabe?
- Então você seria adepto a um relacionamento aberto?
- Não digo liberdade no sentido de me relacionar com outras pessoas, mas sim de mim. Sei lá, estar em um namoro acaba sendo uma maneira muito fácil de você se perder em você mesmo e não gosto disso. - responde, analisando meu rosto cuidadosamente. - Mas sobre a questão de relacionamento aberto, não sei. Eu gosto de ficar sem compromisso com as pessoas.
Lembro do que Jimin me disse no shopping de gostar de sexo casual e ficar com as pessoas, como com Seung e Taeyang.
- Eu não sei se isso é para mim. - confesso, sinceramente. - Eu já, bem... Já tive alguns casos mais casuais e foram bons, mas aconteceu também de eu começar a confundir as coisas.
- Você é mais monogâmico então? - assinto e Jimin sorri, fechando os olhos. - É, acho que condiz mais com sua personalidade mesmo.
- Por que acha isso?
- Bem, você parece gostar de um relacionamento mais seguro, mais estável, não? - assinto. - Então, a monogamia parece se relacionar mais com sua ideia de relacionamento.
- Acho que por isso alguns casos meus acabaram. - confesso, sorrindo de canto. - Eu fiquei algumas vezes com um primo de Hoseok, que mora em Busan. Sempre que ele vinha para cá, a gente saía e ficava.
- Esse foi um dos casos que você confundiu as coisas?
- Exatamente. - a lembrança é fresca em minha mente, mas não me causa tristeza e sim nostalgia. - Então ele acabou tudo comigo, dizendo que eu queria algo mais sério que ele estava disposto a me dar. Mas ele foi meu primeiro beijo, claro que eu me apeguei fácil...
- Então você já tomou muitos foras? - seu tom é brincalhão, assim como o sorriso em seu rosto.
- Alguns. - digo, sorrindo também. Claro que na época fiquei triste e chorei, mas hoje é até engraçado lembrar. - Muitas vezes por esse mesmo motivo, eu me apegava e eles não queriam nada sério. E os foras que eu dei foram por diversos motivos... Principalmente não estar conseguindo mais me conectar com a pessoa, sabe? Aí eu parava de ficar.
- Então você passava o rodo, quando mais novo? - brinca e acabo rindo, negando.
- Claro que não, foram poucos, na verdade. Você deve ter uma lista bem mais extensa que a minha.
Jimin parece pensativo e diz:
- Confesso que sempre fiquei com muitos caras, então, não há como negar. - ele morde seu lábio, levando minha atenção imediatamente para essa área de seu corpo, sem desviar o olhar de seu piercing. - Pensa em ficar com outros caras ou ainda é muito cedo?
- Muito cedo. - digo, rapidamente, voltando a olhar em seus olhos. - Não consigo pensar nisso agora, é muito estranho. Conheci hoje o colega de quarto de Han e ele deu em cima de mim, foi bem... Sei lá, fazia um tempo que isso não acontecia, sabe? Principalmente alguém flertar comigo e eu estar solteiro.
- O que você respondeu para ele? - questiona, parecendo estar curioso.
- Eu acabei flertando de volta, Jimin! - digo, desesperado. - Eu nem sei porque fiz isso, as palavras apenas saíram da minha boca.
Sou agraciado com sua risada gostosa e não contenho uma risada minha.
- Ele é bonito?
- Sim, muito bonito, mas não quero ficar com ele, não agora, pelo menos. - meu tom torna-se um pouco mais melancólico. - Você acha que, um dia, eu vou conseguir?
Jimin aparenta perceber a mudança de atmosfera, lançando um olhar cuidadoso em minha direção.
- Conseguir beijar outras pessoas?
- Sim... E me apaixonar novamente.
Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas nos olhando e penso que devo ter falado alguma besteira. Antes que eu possa dizer algo por cima e desviar o assunto, ele diz:
- Claro que sim, gatinho. Pode não ser hoje, nem amanhã, mas isso vai acontecer.
Aceito suas palavras, assim como aceito seu tom cuidadoso, que sempre tem comigo. Para minha sorte, Jimin muda de assunto e voltamos a um clima descontraído, arrancando gargalhadas e reviradas de olhos da minha parte.
A volta para o campus é feita por meio de um carro que chamamos, apenas depois que disse para Jimin mil vezes que era muito mais rápido, já que ele insistia para voltarmos de ônibus.
Eu nunca andei de ônibus na minha vida. Por isso, não quis pegar um, porque tenho até um pouco de receio, não sei dizer. E sei que dizer isso é passar um atestado de "Sou playboy" e, por algum motivo, não quero que Jimin me veja dessa maneira.
Durante o jantar com nossos amigos, Han diz, me levando a quase engasgar com meu pedaço de lasanha:
- Jae quer conhecer mais você, Jungkook. Pediu seu número.
- Quem é Jae? - Seokjin pergunta, franzindo as sobrancelhas.
- Meu colega de quarto. - Han responde, sorrindo. - Ele conheceu Jungkook hoje e ficou interessado.
É fácil notar o olhar divertido que Jimin me lança, assim como sei que minhas bochechas estão vermelhas. Ele, de braços cruzados, analisa meu rosto calmamente e estranho o fato de não ter ainda tocado em sua comida, intacta em seu prato.
- Pode passar para ele meu número. - é o que consigo responder, comendo mais um pedaço de lasanha para ficar com a boca cheia e não precisar dizer mais nada.
A esse ponto, tenho certeza que Han deve ter comentado com os meninos acerca de meu término, mas não me importo. Eles não me dizem nada, embora às vezes perceba Taehyung e Seokjin lançando olhares curiosos e preocupados em minha direção. Yoongi é o único que não esboça nada, com um óculos escuros no rosto, me surpreendendo já que é de noite.
Minha surpresa se mantém quando eu e Jimin entramos em nosso quarto, ao olhar para a parede de sua cama.
Há alguns pôsteres colados ali, alguns deles de Juventude Transviada, estampando o rosto de James Dean. O que chama mais minha atenção é notar que ele tem alguns pôsteres de Foster the People.
- É seu grupo favorito? - questiona e ele parece levar uns segundos para entender do que estou falando.
- Ah, são sim. Eu gosto muito deles. - confessa, olhando para sua parede e sorrindo. - Eu colei eles ontem, com a ajuda de Namjoon. Gostou?
Assinto minimamente, observando que tais colagens tornaram o quarto muito mais pessoal e não tão neutro como antes. Talvez eu pense em colar algo na minha parte também.
Meus pensamentos são interrompidos quando noto um filete de sangue escorrendo do nariz de Jimin e logo digo, aproximando meu corpo do seu:
- Seu nariz está sangrando...
Ele não parece muito surpreso, tocando seu nariz, mas parece um tanto desconcertado.
- Ah, eu vou lá limpar. - diz, saindo do quarto e indo até o banheiro.
Mesmo depois que ele sai e brinca, dizendo que deve ter sido o clima quente que fez seu nariz sangrar, alguma coisa martela em minha mente.
Por mais que, muitas vezes, seja involuntário, eu me abro razoavelmente com Jimin. Conto meus pensamentos e minhas sensações, ele sempre escuta e me aconselha. Só que, em contrapartida, não sei muito de si. A conversa de hoje foi a mais íntima que tivemos e descobri algumas coisas de sua vida e de sua personalidade, mas parece tão pouco. Eu quero conhecê-lo mais, quero entender quem ele é.
Porque acho que não conheço Jimin.
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Eai, como vocês estão?
Espero que tenham gostado do capítulo, digam o que acharam!
E nosso Jungkook finalmente está solteiro... rs
Votem e comentem, me ajuda demaissss! Até a próxima :)