Estou olhando a paisagem de tirar o fôlego do meu quarto.
Meu quarto...
Eu não posso me esquecer da minha posição... Estou aqui contra a minha vontade... E provavelmente vou ser obrigada a me casar...
Eu começo a rir dessa situação.
Que coisa mais patética, quem é forçada a se casar em pleno século 21?
Eu sei muito bem como acabar com isso, se eu não quiser casar com ele, eu não vou casar. Simples!
Mas algo me diz que Edward precisa da minha ajuda e por algum motivo eu me sinto na obrigação de ajudá-lo... Sinto que ele merece, que é justo.
Começo a me arrumar para o jantar hoje e quando termino fico admirada com como estou bonita.
Seria impossível me achar qualquer coisa próxima de "bonita" antigamente...
Suspiro cansada de ficar admirando minha beleza e bloqueando os pensamentos depressivos da minha adolescência.
Edward abre a porta na hora em que estou admirando minha bela bunda no espelho, os saltos deram uma valorizada.
- UAU... Alguém já te disse o quanto você é gostosa e o quanto sua bunda é deslumbrante? - Ele diz com os olhos brilhantes.
- Claro... Minha bunda já foi bastante vista e elogiada, pra sua informação...
Edward fecha a cara instantaneamente.
- Sinto lhe informar que de agora em diante até a sua morte, só quem vai ver é elogiar sua bunda, sou eu e o meu pau.
Engasgo tentando prender a risada.
- Vamos, Srta. Bunda Bonita. Temos um por do sol pra assistir.
Eu sigo Edward que segura minha mão firmemente.
Reparo em como suas mãos são grandes e cobrem as minhas com facilidade.
Até mesmo usando saltos bem altos, ainda bato em seu ombro.
Ele é bem alto, tem as qualidades de homens que eu gosto tirando sua doença maluca.
A nível de aparência tenho que admitir que prefiro negros, mas Edward não é menos atraente que nenhum dos caras mais lindos que fiquei.
Na verdade é totalmente o oposto, ele é um dos mais lindos.
Ops...
Pensamentos indo por um caminho perigoso, Anne...
Quando chegamos ao solarium fico se fôlego com a paisagem.
Conseguia ser ainda mais bela que a vista do quarto em que estava e o sol parecia umas 20 vezes maior que o normal.
O céu estava todo em tons de laranja rosa e azul.
Uma vista sensacional.
- Pela sua cara, presumo que gostou.
- Presumiu, certo... É... De tirar o fôlego.
- Sim, é mesmo.
Quando o encaro percebo que ele não se referiu a paisagem e sim a mim.
Se eu fosse tímida, já teria corado sem dúvidas.
- Não deveria dar em cima da sua médica.
- Você é minha noiva. - Ele diz entre dentes.
- E voltamos para este assunto? Quer mesmo me obrigar a casar com você? Sério, quais as chances de isso dar certo?
- Anne... - Ele faz uma longa pausa respirando fundo e depois me encara intensamente. - Eu não sei se eu amo você, não sei nem se sou capaz de sentir algo próximo disso... Mas eu sinto algo por você que nunca senti por ninguém. Além desse ponto, tem muitas outras questões que você não sabe. Eu não só quero me casar com você, como preciso.
Como eu suspeitava, ele precisa de ajuda...
Claro que tem a ver com a família dele e principalmente com seu irmão doido.
- Bom, Edward... Acho que podemos fazer um acordo.
Ele me encara meio surpreso e meio confuso.
- Um acordo? - Repete ele.
- Eu posso fingir ser a noiva ou esposa perfeita que você precisa, mas depois que você conseguir o que quer, me deixa ir.
Seus olhos se arregala por alguns segundos e depois de estreitam.
Um esboço de sorriso surge em seus lábios.
- Um acordo, Huh...
- É verdade que não nos amamos e sinceramente, eu também não acho que vamos. Mas, podemos nos usar para conseguirmos o que querermos, podemos ser mais que amigos... Podemos ser parceiros de crime também.
- É uma proposta interessante, Anne. Acho que temos um acordo...
Eu sorrio pra ele.
De todo modo isso foi bem mais fácil do que imaginei.
- Vamos jantar. - Ele diz após o sol desaparecer e tudo ficar mais escuro.
Porém a beleza do lugar não diminuiu nem um pouco, uma grande lua já surgiu no véu e várias estrelas iluminam a noite.
Acho que nunca vi tantas estrelas...
Edward puxa a cadeira para eu me sentar e inicialmente me espanto com tanto cavalheirismo. Confesso que nunca fui tratada dessa forma por nenhum dos caras que fiquei.
- Espero que goste de comida francesa. - Ele diz se sentando de frente pra mim.
- O que temos aqui? - Pergunto empolgada.
- Boeuf bourguignon.
- Que traduzindo é...?
Edward sorri.
- Carne de vaca cozida à exaustão no vinho tinto com legumes. Temos. Pão e purê para acompanhar. Para beber temos vinho Château Giscours Margaux.
O francês dele é impecável... É realmente fascinante vê-lo falar outra língua com tanto domínio. Edward é tão inteligente...
- Nunca ouvi falar desse vinho... Parece chique. - Digo saindo dos meus pensamentos.
- Ele deve custar mais de mil reais, convertendo o euro. Nem de longe é o mais caro que temos.
- Nossa... - Respondo surpresa. - E o que é isso?
Eu digo apontando para algo que parece uma torta.
- Clafoutis. É uma torta de cereja preparada com uma massa leve com leite, açúcar e um creme de farinha. O diferencial é que as cerejas são colocadas inteiras na receita.
- Caramba. Eu não sabia que um assassino com vários problemas mentais sabia tanto sobre comida.
- Antes de eu ser um assassino com vários problemas mentais, eu era o príncipe. Da máfia francesa. Eu tinha que saber tudo isso e muito mais.
- Um príncipe... Cara você tem mesmo, e as vezes se comporta como um... Por que seguiu um caminho muito mais obscuro?
Edward após nos servir começa me. Lança um olhar sombrio e eu fico me. Perguntando se falei algo errado.
- Você quer mesmo saber? A minha história?
Meus olhos brilham de curiosidade e ele percebe.
- Eu nunca contei isso a ninguém... - Ele continua.
- Por favor, Edward. Conte pra mim... Pode confiar em mim, eu prometo.
Ele me olha parecendo decidir se me conta ou não.
Eu prendo a respiração enquanto espero sua resposta, sem desviar os meus os meus olhos dos seus.