- Point de vue 》Grace -
- Paris 》France -
- 28, Décembre 》2020 -
__ Desculpa, senhorita! Ninguém pode entrar. __ fui barrada por um enfermeiro, que impediu que eu adentrasse à sala por onde levaram a Michelle.
Frustrada e desesperada, bagunço meus fios de cabelo; sentando-me mais uma vez em um dos bancos.
__ Eu serei forte! Eu sou forte! Dará tudo certo... __ tentei dizer para mim mesma, porém o nó enorme de choro entalado em minha garganta, interrompeu-me. __ Dará tudo certo! __ como todas às vezes, recompus-me rapidamente; vendo logo em frente a doutora Zaia vir em minha direcção apressada.
Levanto-me.
__ Grace! __ parou a minha frente. __ Você está sozinha nessa e precisará ser forte!
Era dessa fase da estória que eu temia... a fase em que eu estaria sozinha; a fase em que teria de tomar decisões difíceis; a fase em que sentiria medo de perder as duas pessoas mais importantes da minha vida... era exatamente dessa fase que eu temia.
__ A sua avó, __ começou, e só com esse trecho acho que meu coração deve ter falhado algumas batidas. O medo é enorme. __ Ela quer ver você. __ soltei um meio suspiro, de alívio. __ Mas, __ revirei levemente os olhos. Tinha de ter um mas. __ Ás condições em que ela se encontra não são nada agradáveis. Você tem de ser forte nisso. __ lágrimas escorreram pelo meu rosto. __ Ela quer fazer um pedido à você. __ assinto me esforçando para segurar o resto das lágrimas.
Em silêncio, segui a médica até a sala isolada em que minha nonna se encontra; mas antes, pediram-me para que vestisse uma roupa mais apropriada, ou seja, bata, luvas, viseira, meias e claramente uma máscara.
Coloquei o primeiro pé para dentro do quarto, atravessando a enorme porta de vidro. Automaticamente minhas lágrimas desceram, ao ver minha avó deitada sob uma maca.
Dona Valentina está completamente debilitada. Sua pele está inflamada e vermelha; é como se o sangue quisesse perfurar sua pele, e quisesse derramar. A ponta dos seus dedos está avermelhada demais. Seu nariz também está inflamado e vermelho - quase roxo. - Aproximo devagar, e aos poucos ela foi notando a minha presença. Olhou para mim, e seus olhos estão assustadoramente vermelhos.
Minha vontade é gritar, chorar, extravasar e explodir.
Ela não merece passar por tudo isso.
Com esse pensamento, soluço pelo choro e seguro sua mão delicadamente.
__ Não pode tocá-la! __ Dra. Zaia avisou, fazendo com que largue a mão da senhora.
__ Nonna... __ desabo em lágrimas, e para não gritar e vandalizar, coloco minhas mãos em frente a boca; inclino levemente para frente.
__ Mi naso de Cenerentola... __ com dificuldades, minha avó falou usando o apelido que atribuiu-me quando criança; na época em que fui Miss Sicilia Mirim. Na época, eu adorava ser modelo - isso até hoje - e mesmo muito nova, já sabia às regras que uma modelo deveria cumprir, e uma delas era ter postura; e de nascença eu tenho um nariz avantajado, por essa razão ela apelidou-me nariz de Cinderela. __ Acho que chegou a minha hora... Eu não posso mais continuar ligada à
estas máquinas, sabendo que chegou o meu momento.
__ Nonna, não fale uma coisa dessas, por favor... __ fui interrompida.
__ Eu já vivi tudo o quê tinha de viver... __ pausou e tossiu. __ Quero que você assine a autorização para doar os meus órgãos.
Dio mio, per favore, não leve a minha nonna.
__ Mas antes, quero que doe o meu rim para a sua irmã.
__ Mas, __ olhei para a médica. __ Não precisa ser compatível?
__ Nós já fizemos o teste, à pedido da sua avó, e o rim é compatível, sim!
__ Você é a mais velha, Grace... cuide da sua irmã; cuidem uma da outra, por mim... eu amo vocês duas. __ a última parte soou como um sussuro, que por mais baixo que tenha sido, conseguiu quebrar completamente o meu coração.
__ É melhor você sair agora. Precisamos examinar o resto dos órfãos.
__ Eu quero ficar aqui, com ela! __ digo vendo médica tentar tirar-me do quarto.
__ Não torne às coisas mais difíceis, Grace... por favor! __ olhou em meus olhos e por fim acabei aceitando. __ Ryan, entregue os papéis da autorização para que ela assine. __ o enfermeiro que se aproximou assentiu.
♥︎
__ Gray! __ virei meu pescoço, vendo uma das minhas melhores amigas se aproximar em passos rápidos.
Levantei-me sentindo uma enorme vontade de abraça-la, porém não será possível.
QUE INFERNO!
__ Gigi! __ falei aliviada por vê-la.
__ Eu só pude vir agora. __ disse lacrimejando e fazendo uma careta por não podermos dar um abraço. __ Conseguiu falar com as meninas?
__ Não! __ respondi me sentando. __ Meu Deus, __ coloquei a mão sob a testa; lembrando-me de algo. __ Eu esqueci-me de avisar o Kylian.
__ Ah, Jesus. Ligue logo! __ disse a loira, apressando-me e o fiz.
Esperei por alguns instantes, e infelizmente ele não atendeu. Fiquei nessa tentativa por mais três vezes, e o resultado foi o mesmo.
Após isso, Gigi deu a ideia de ligar a senhora Mbappé, e foi exatamente o quê fiz.
__ Fayza Lamari Mbappé! Com quem falo? __ atendeu a senhora.
__ Boa noite! Aqui quem fala é a Grace, irmã da Michelle. __ avisei, e por algum tempo a mesma continuou calada. __ Alô?
__ Sim, sim.
__ Então, eu não consigo me comunicar com o Kylian. Será que poderia ajudar-me?! _ prossegui.
__ Meu filho embarcou para Marrocos, agora à pouco.
O quê?
__ Como assim?
Ainda ontem ele está em Paris.
__ Ele está em meio à uma viagem, com os irmãos e alguns amigos. __ era só o quê faltava. __ Para quê precisa tanto falar com o meu filho?
Nesse momento olhei para Gianna, que só pelo olhar já sei que está curiosa.
__ Olha, Fayza, eu preciso que o Kylian saiba que a Michelle está mal e precisando dele.
__ Não estou entendendo.
__ A Michelle está por entrar em uma cirurgia de transplante de rim. Fayza, preciso que você encontre o Kylian e peça que ele volte, por favor! __ praticamente implorei, sentindo o meu corpo tremer por dentro. __ Alô? __ chamei. __ Alô, Fayza! __ tentei mais uma vez e vi no ecrã que a chamada já havia sido cortada.
Não é possível!
Passei minhas mãos em meio aos meus fios escuros de cabelo.
Minha avó morta; minha irmã passando por uma doença; meu namorado longe daqui e o Kylian viajando para Marrocos.
Isso é demais para mim!
Como é que eu irei contar para a Elle que a nonna morreu?