Sempre sua Garota [✓]

بواسطة ars_amanda

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🏆 OBRA VENCEDORA DO WATTYS 2021🏆 A vida de Lennon Clarke tomou um rumo inesperado ao ser traída por seu fut... المزيد

SEMPRE SUA GAROTA
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prólogo
parte única| sua garota
01| antes | ele
02| agora | não volte
03| antes | nós e mais dois
04| agora | lar doce lar
05| antes | elas
06 | agora | feridas
07 | antes | quase
08 | agora | medos
09 | antes | idiota
10 | agora | em queda
11 | antes | aposte em nós
12 | agora | minta por amor
13 | antes | sem arrependimentos
14 | agora | as coisas que ignoramos
15 | antes | estamos bem
16 | agora | em colisão
17 | antes | estou bem
18 | agora | vida nova
19 | antes | não estou bem
21 | antes |é melhor assim
22 | agora | últimas palavras

20 | agora | verdades nunca ditas

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بواسطة ars_amanda

BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

Os dedos que normalmente me traziam calmaria. Hoje trazem um peso que se aloja em meu peito. Encarro os largos e grossos dedos do homem sentado do outro lado da mesa.

O sorriso gentil e cativante havia sumido dos seus lábios, assim como os dois cafés pedido a minutos atrás estavam esquecidos sobre a madeira encerrada. Seus olhos azuis me encaram profundos e pela primeira vez parecem um mar em que sou capaz de me afogar.

De me perder, mas não de uma maneira agradável.

Mas não é culpa dele. Na verdade é culpa. Uma culpa que me inquieta e perturba. A culpa por ter parado na única cama que não deveria.

Os lábios de Tobias permanecem colados, suas narinas se dilatam de uma forma lenta – que meus olhos não conseguem evitar em capturar -, seus dedos apenas repousam contra a minha pele, sem qualquer movimento semelhante a uma caricia.

Aleatoriamente e despreocupadas, as pessoas transitam ao nosso redor na pequena cafeteria ao lado do hotel em que o homem diante de mim estava hospedado. Uma movimentação que torna o nosso silêncio menos perturbador. Porém ainda não me permitem encarar sem culpa os olhos azuis que também fogem.

— Você foi atrás dele? — é o seu timbre único que reverbera quebrando o silêncio no pequeno espaço entre nossos lábios.

Aceno.

— Fui — suspiro as palavras por entre meus lábios tomados por um latente remorso.

Finalmente meus olhos esbarram nos seus. Não conseguindo mais ignorar as manchas roxas que contornavam suas pálpebras inferiores. As mesmas manchas que tinha escondido pela manhã com maquiagem. As mesmas manchas que surgiam pela manhã após uma noite em claro. Em que havia passado me revirando na minha estreita cama de solteiro, sentindo a culpa se alojar em cada centelha do meu ser, enquanto minhas narinas tentavam ignorar o aroma cítrico impregnado na minha pele, um aroma – que inapropriadamente – amenizava a culpa, como se o que eu tivesse feito fosse certo.

Quando não era.

Pois tinha destruído toda uma redoma de proteção, jogado no lixo quase dois anos de autopreservação, como se não fosse nada, como se aquele homem não pudesse me quebrar. E pior, como se Tobias Pullman não fizesse parte de uma equação de três elementos.

— E você? — aquelas palavras vagas tremulam em seus lábios.

É visível sua dificuldade em tragar a saliva, um tremor que enrijece os músculos sobre a sua camisa cinza e acentua a pulsação da veia exposta na extensão do seu pescoço.

Nervosos, meus dedos arrancam na direção do meu corpo, chocando sua mão contra o tampo de madeira. Seus olhos surpresos correm em direção a cena e os meus correm em direção ao seu olhar. E como se pudesse concertar tudo, retomo nosso contato, mas agora repousando minha mão sobre a sua.

Seu olhar se suaviza e a surpresa se afasta.

— Conversamos — digo a única meia verdade capaz de não causar uma hemorragia no único homem que não queria ver o coração sangrando — Mas esse não é o ponto — apressadamente tento mudar de assunto e chegar aonde precisava.

Sua pele sob a minha torna-se gélida de uma hora para outra, enquanto seus olhos vagam analisando cada detalhe da minha face.

— E qual é o ponto? — seus lábios murmuram as palavras — Você perceber que ainda ama ele?

E a sua vez de arrancar sua mão debaixo da minha. Empertigar seu corpo, girando o pescoço ao redor, não a procura de algo ou alguém, mas como se precisasse tomar um ar.

— Tobias — meu tom decrescente é quase uma traição dos meus lábios.

Mas com a mesma velocidade que seus olhos fogem dos meus, ele voltam, em um tom mais suave, que suaviza-se mais ainda com uma singela curvatura dos seus lábios, formando pequenas covinhas em suas bochechas.

— Você podia mentir e dizer que não o ama — não tenho certeza se aquelas palavras são um pedido ou um conselho — Eu juro que vou acreditar.

Uma risada nervosa resfolega em minha garganta, tremulando meus gratos lábios por tanto amor, a mesma medida que meu coração aperta-se com a esmagadora culpa que parecia possuir firmes dedos, revirando o café intacto na xícara em meu estômago vazio.

— Eu sei que vai — e eu sabia, pois era assim que estávamos vivemos nos últimos anos, fingindo — Esse é o ponto — trago a amarga saliva que não ameniza o enjoo atrás das minhas costelas — Esse é o ponto, estamos nos enganado, Tobias — sua cabeça maneia negativamente, mas não dou espaço para seus lábios se expressarem — Fingindo que está tudo bem. Que tudo vai ficar bem. Quando não está — quando esse dia não chega — Você espera que eu o ame e eu desejo todos os dias te amar — não ignorar o inflar da sua camisa na região do tórax, como se seu corpo estivesse represando várias emoções — E eu amo — aquelas palavras o fazem soltar o ar pela primeira vez — Mas não da forma que você merece.

Os lábios de Tobias tremulam o ar que é expelido. Sem antes deixar de tragar a saliva e assumir sua habitual máscara: de que tudo vai ficar bem.

— Eu sou paciente — murmura um fio de esperança.

Curvo os lábios em gratidão por tanto amor, ao mesmo tempo que meu peito é apertado pela cruel culpa.

— Você é perfeito — seus lábios se curvam — Maravilhoso — seus olhos azuis brilham — Mas não para mim — tudo some, seus lábios se comprimem em linha reta, enquanto seus olhos se apagam em um vazio — Eu não posso continuar prendendo você nessa história.

Sua cabeça acena negativamente. Sua mão agarra a minha esquecida sobre o tampo da mesa, seus dedos envolvem o meu com ternura, enquanto seu corpo reclina-se para frente diminuindo nossa distância, seu aroma amadeirado pinica em minha narina.

— E se eu quiser ficar?

É a minha vez de manear negativamente a cabeça.

— Não — enfatizo a palavra em meus lábios e pela segunda vez na vida eu preciso ser cruel — Eu preciso que você não me espere, Tobias — mas a pressão exercida pela culpa começa a diminuir — Eu estou tão cansada, tão presa e eu preciso te liberar para me liberar e quem sabe salvar algo de nós.

— Essa doeu — seus lábios se movimentam o mínimo possível.

Trago a amarga saliva, não conseguindo ignorar o alivio que se alastra em meu interior. Conseguindo expelir o ar pela primeira vez, como se tivesse o segurando por muito tempo, durante todos aquelas anos, após tanto tempo consigo respirar um pouco melhor.

— Desculpa — e não era por ter dito aquelas palavras, mas sim por ter demorado tanto tempo para ter feito aquilo.

—Então você terminou tudo com ele? — a jovem de cabelos castanhos e corpo esguio, questiona, enquanto remexe seu corpo repousado na extremidade sem encosto da cama.

Aceno. Tentando afastar o sabor amargo daquela conversa e manter apenas a sensação de liberdade que permeava em meu interior.

— Sim — murmuro.

Os lábios de Isobel se comprimem, como se algo passassem em sua mente e queimasse em seus lábios.

— E você vai continuar trabalhando para ele?

Assinto. Ajeitando minhas pernas cruzadas sobre a velha e nostálgica colcha rosa estendida sobre a minha estreita cama de solteira.

— Eu vou treinar alguém para ficar no meu lugar — revelo a segunda parte da minha conversa com Tobias, a menos amarga e mais digesta.

O cenho castanho da mulher diante de mim arqueia-se, como se tivesse perdido algo em minhas próprias palavras.

— Então isso significa que você vai voltar para casa? — suas palavras saem cantaroladas e sugestivas, assim como seus olhos arregalados.

Uma risada prende-se em minha garganta, provocando apenas a ponta da minha língua que umedece meus lábios secos. Mas minha cabeça maneia negativamente, afastando meu olhar daqueles que eram quase um reflexo, a ponta do meu indicador brinca com um fio solto da barra da minha calça xadrez.

— Não — murmuro, evitando contato visual — Há alguns meses atrás fui aceita em um curso de confeitaria em Paris — revelo, ainda evitando encara-la — Resolvi aceitar.

Silêncio.

Os lábios tagarelas diante de mim guardam suas observações, provocando meus olhos, que teimosamente correm em sua direção, encontrando algo surpreendente: um singelo sorriso. Nada de reprovação, apenas um sorriso, como se me felicitasse sem palavras.

Arqueio meu cenho, empertigando meu tórax, sinto a inquietação do seu silêncio me perturbar.

— Não vai dizer nada? — instigo.

— É bom mudar de ares — finalmente seus lábios proferem em um suspiro, como se estivessem segurando o ar por algum tempo.

Mas com a mesma facilidade com que eles tagarelam eles se selam. E seu olhar cola em mim. Seu tórax infla-se com o ar tragado por entre suas narinas.

— E o Avery? — e o elefante branco parado no meio da sala e que ninguém é mencionar, finalmente é lembrado.

E o Avery?

Inflo minhas bochechas de ar. Dançando meus ombros em uma resposta velada de impotência e confusão. E o Avery? Podia leva-lo comigo e fingir que os últimos anos não haviam acontecido. Podia simplesmente ir embora e não dizer nada, o deixando esperando por mais um longo tempo. Também poderia ficar e continuar e esconder as verdades caladas a anos atrás. Ou contar a dolorosa verdade que queimava em meu interior.

Eram tantas possibilidades. Tantas versões de uma conversa que nunca tivemos e talvez nunca teríamos.

Tantas possibilidades de solucionar um problema sem solução. Sem mencionar a possibilidade de ignorar tudo, fingir viver feliz, até um dia tudo acabar e restar apenas os dias em que fomos felizes para me agarrar. Mesmo que aquilo me matasse.

Depois do dia interior eu queria calar cada centelha do meu ser que gritava uma ignorava impotência de viver sem ele, uma impotência amordaçada a anos atrás. Eu o amava. Mas o amor seria suficiente?

Até que ponto o amor é suficiente?

— Você deveria contar tudo para ele? — aquela voz familiar me arranca dos meus pensamentos.

Meus olhos encontram as íris castanhas que me fitam com uma intensidade perturbadora.

— E dizer o que? — profiro, como se continuasse a divagar em minha mente — Avery, eu fui embora porque descobri que nunca poderei te dar uma família — meu tom soa com algumas pontadas de ironia — Mas está tudo bem, continuo não podendo te dar uma família — minha mão dança no ar, assim como meu ombro — Porém está tudo certo, percebi que não posso viver sem você e quando você se cansar de mim pode me largar e procurar alguém que possa te dar um filho — a última palavra sai estrangulada da minha garganta.

Filho

Aquela menção aperta em meu peito.

Aquele ser que nunca poderia ter ainda deixa seu espaço vazio no meu interior.

— Eu me sinto infantil por ter escondido isso dele — murmuro, não ignorando uma linha acalorada que molha a minha bochecha, mas fugindo do olhar de compaixão que forma-se diante de mim — Mas eu sou covarde demais para encarar as consequências desse fato — dou voz ao que tentava calar nos últimos anos — Eu não sei se suportaria acordar um dia e encontrar um vazio nos seus olhos — outras e outras linhas úmidas e quentes tracejam sobre a pele da minha bochecha — Nada de amor, nada.

Trago o amargo caroço alojado em minha garganta. Esfregando as costas da minha mão em minhas bochechas, mas sem conseguir limpar a tristeza que apertava meu interior.

— Ele ama você — Izzie murmura aquelas palavras, como se fossem uma solução suficiente.

Aceno.

— Por quanto tempo? Por quantos anos? Mesmo que isso destrua os sonhos dele? — as palavras quase engasgam em minha garganta — O amor um dia acaba e o que resta? — e flashes do passado surgem em minha mente apenas para confirmar o que meus lábios davam voz — Nossos pais se destruíram. Simplesmente deixaram de dançar toda noite na sala. Ela deixou de espera-lo para jantar. Ele parou de comprar flores. Até se tornarem fantasmas do que um dia foram e se concretizarem em dois estranhos habitando o mesmo espaço.

As narinas da mulher diante de mim se inflam. Seu corpo empertiga-se imponente e impaciente.

— Vocês não são eles — e o velho argumento decorado pinica na língua da mulher diante de mim.

Maneio negativamente.

— Somos humanos e seres humanos são uma constância.

Impacientes os lábios de Izzie sopram o ar, que não chegam até mim.

— Você é cabeça dura — ela murmura, apoiando-se sobre os joelhos, permitindo que seus pés tocassem o chão, somente para seu corpo aproximar-se de mim, suas mãos agarrarem minhas bochechas e seus lábios depositarem um beijo em minhas madeixas — Mas eu amo você, mesmo assim — suas mãos reclinam minhas cabeça para que nossos olhares possam se encontrar — Eu quero que você seja feliz, sorria plenamente novamente e se sinta amada. Só pensa.

Concordo com um aceno.

— Preciso ir dormir — Isobel murmura, afastando-se — Boa noite.

— Boa noite — murmuro, a observando deixar o pequeno espaço maior com sua ausência.

Observo as paredes que foram cenários para a minha infância e adolescência. Me fazendo perceber pela primeira vez que a única coisa que tinha mudado naquele espaço era, eu. Apesar de ainda ser a mesma menina insegura e medrosa, tinha crescido, voado para longe, e voltado para o ponto de partida.

Um suave barulho invade minha nostalgia. Estreito os olhos, concentrando toda minha na minha audição que começava a questionar se realmente tinha ouvido algo. Mas o barulho se repete, duas vezes no intervalo de cinco segundos.

Em um salto, meus pés tocam o revestimento do piso, aproximando-se de onde parecia vir o barulho: a janela. O barulho se repete, me fazendo ter certeza de que era algo tocando no vidro. Aproximo-me em passadas receosas. Mas meus dedos curiosos tocam a cortina, afastando minimamente o tecido sobre o vidro.

O barulho se repete, quase fazendo meus pés se recuarem. Mas minha mão é ligeira em afastar o tecido quase como reflexo do barulho inesperado. Permitindo que meus olhos esbarrassem em uma figura masculina parada sobre o perfeito gramado do meu pai. Estreito meus olhos, não demorando para identificar a figura de cabeleira escura, jaqueta de couro preta.

Avery

Por um impulso, destravo a janela com uma facilidade absurda, permitindo que o gélido ar do outono de Boston invadisse o meu nostálgico ambiente.

— Lennon — não tenho certeza se ouço meu nome, mas tenho certeza que seus lábios murmuram algo, meus olhos sabem.

— Avery, o que você está fazendo aqui? — não sei se o interrompo, mas meus lábios são mais ligeiros.

Mas meus olhos contempla o movimento de sua mão direita, em um convite que é acentuado por seus lábios que muxoxam apenas uma palavra:

— Desce.

O pedido é sem muita emoção, mais com ansiedade. Estreito meus olhos em sua direção, não conseguindo ignorar o cenário que o cercava, uma profunda e gélida noite. E por mais que cada centelha do meu ser já estivesse no jardim daquela velha casa, nos braços do único homem que desejava, meus lábios são mais ágeis e manter-se arredios e seguros no segundo andar da residência da minha infância.

— Está tarde — reclamo, não muito convicta das minhas palavras.

Sua mão outrora dançante, afunda-se no bolso da frente da sua calça, empertigando seus ombros e inflando seus pulmões. Seus lábios se comprimem em linha reta, revirando o bolo de carne que havia jantado.

— Por favor — seus lábios suplicam.

E por mais que parte de mim quisesse manter tanto meu corpo como meus sentimentos seguros no segundo andar daquela construção edílica. Meu corpo me trai e minha cabeça acena positivamente.

— Vai na porta dos fundos — ordeno, ciente da privacidade que teríamos.

Sim, queria privacidade.

Tomo apenas alguns segundos para envolver meu corpo em um velho casaco tricotado de lã, a única peça mais aquecida sobre o meu ridículo pijama xadrez. E antes que pudesse me dar conta, meu corpo estava passando pelo vão entre a porta e o batente. Acometido pelo gélido ar, que começo a ignorar, assim que meus olhos esbarram na imponente figura parada em frente aos degraus do caminho em minha direção.

— Oi — seus lábios trêmulos balbuciam, esboçando um suave sorriso.

Obrigo meus lábios a se manterem firmes em uma linha reta.

— O que você está fazendo aqui? — questiono prontamente, tentando ignorar a possibilidade daquilo se tornar algo corriqueiro ou até romantizar o fato do homem que amava estar jogando pedras na minha janela no meio da noite — Está tarde — observo.

Eu me aproximo. Ele se aproxima. Seu aroma cítrico invade minhas narinas, aquece meu coração e desperta lembranças da noite passada em minha mente. O bolo de carne volta a se revirar em meu estômago, enquanto meus pés anseiam por diminuir a distância e atirar meu corpo em seus braços, como uma adolescente apaixonada.

— Senti saudades — seus pés ficam-se a dois passos de distância do meu.

Meus olhos passeiam por suas avelãs. E eram as mesmas írises, o mesmo olhar, mas tinha algo diferente, uma pontada diferente, algo profundo, algo perturbador que arrancar o ar dos meus pulmões.

— Aconteceu alguma coisa, Avery? — e ultrapassando todos os questionamentos gentis e fugindo do nosso tango, prefiro ser direta.

Seus ombros se tencionam. Mas não tenho tempo de analisar qualquer novo gesto do seu corpo, pois suas mãos são mais ágeis em agarrar meu rosto. Provocando uma corrente que percorre meu corpo, uma eletricidade que não se resume a atração, mas a algo que conhecia, a algo que jamais tinha visto ou sentido com Avery.

A algo, a uma sensação de que ele estava escondendo algo de mim.

— Eu só queria te olhar — seus lábios balbuciam, seu polegar acaricia minha bochecha, assim que sua testa se apoia na minha — Só me olha assim. Nunca deixe de me olhar assim.

A bílis em meu estômago fazem um caminho de ida e volta até a minha garganta. Mas é o caroço que se aloja em minha garganta que mais incomoda ao seu tragado junto com uma amarga saliva.

Quero me afastar, retroceder, nunca ter saído por aquela porta, mas não consigo, ele não permite, suas mãos firmes em meu rosto mantem os meus pés estáticos sobre o piso de tijolos.

— Avery — balbucio seu nome, quase em uma suplica — O que aconteceu?

Seus lábios tremulam um sorriso nervoso.

— Eu amo você — Avery ignora a minha pergunta.

A necessidade de fugir aumenta. Finalmente consigo retroceder em três passos. Deixando as mãos do homem que tanto amava suspensas no ar. Queria voltar e permanecer nelas, mas não devia.

— O que está acontecendo, Avery? — disparo.

Suas narinas se inflam ao inalar ao ar. E suas mãos suspensas no ar caminham em direção as suas madeixas, as alisando, acentuando seu nervosismo. Nunca tinha visto Avery assim. E era a minha vez de começar a me sentir nervosa.

— Droga, Lennon— seus lábios murmuram, enquanto seus passos andam em círculos dentro do mesmo metro quadrado — Por que você foi embora? — seus olhos se fincam no meu, assim que seus lábios concluem a pergunta — Por que?

Um calor se espalha no meu corpo, enquanto meu miocárdio bate aceleradamente, descompassadamente, dificultando as funções habituais dos meus pulmões, que por umas frações de segundo se esquecem de tragar e liberar o ar. Apenas fitando aquela figura desesperada e ansiosa diante dos meus olhos.

Dou mais dois passos para trás. E somente não recuo mais, porque meu corpo é escorado pela porta que separava os ambientes.

— Por que? — ele insiste em um tom perturbadoramente gentil.

Maneio negativamente a cabeça. Ele acena positivamente, não sei se aceitando minha recusa ou se como já a esperasse.

— Lennon, você é o amor da minha vida — seus lábios tremulam um sorriso, como se aquela ideia o fizesse feliz — Eu queria ter te esperado mais. Eu deveria. Deveria — suas mãos espalmadas alisam seu rosto.

A ponta dos meus dedos nervosos fincam-se na madeira que apoia meu corpo.

— O que aconteceu haveria? — aquela pergunta quase entala em minhas cordas vocais.

Seus olhos fixam-se nos meus.

— Você me ama? — seu peito infla.

Não consigo ignorar a ardência em minhas narinas e em meus olhos.

— O que aconteceu ? — cada centelha do meu corpo grita, como se soubessem de algo que ignorava, mas era o desconhecido, aquela sua postura desconhecida que me assustava.

Meus lábios em círculo cospem o ar. Seus pés diminuem a nossa distância em dois pés.

— A Billy — seus lábios balbuciam, quase sem emoção algo, em choque — A mulher com quem eu estava me envolvendo — o choque chega a mim — Está grávida.

Sou tragada. Destroçada. O chão some de sob os meus pés. Cada centelha do meu corpo se desfaz, assim como meu coração que se estilhaça em inúmeros pedados. Minha cabeça gira e gira e por algumas frações de segundo deixo de ver o homem parado diante dos meus olhos.

Grávida?

Uma mulher grávida dele. John Avery seria pai. Teria um filho. Uma família. Tudo o que havia tinha me impedido de dar a ele, outra estava presenteado. A vida é traiçoeira tira e dá na mesma proporção. Cria e destrói.

Um par de mãos tocando meus bíceps me arrancam do meu estado de choque. Apenas para cruzar o meu olhar com aquelas avelãs que agora faziam meu interior sangrar. Não ignoro a expectativa em seu olhar. As perguntas silenciosas e as respostas para as perguntas não ditas em voz alta.

— Vo — as palavras entalam em minha garganta.

Eu pigarreio, limpando minhas cordas vocais. Seus dedos afundam-se contra o meu bíceps.

— Você vai ser um ótimo pai — e arrancando forças profiro, profiro as palavras ensaiadas ao longo dos anos — Parabéns.

Suas avelãs nublam-se com uma confusão que ignoro. Enquanto debato meu corpo, não conseguindo me desvencilhar do seu toque. Todo meu corpo tremula, mas não pelo frio, era culpa das emoções acumuladas ao longo dos anos.

— Me deixa ir — ordeno, fugindo de suas avelãs, preferindo encarar os dedos que prendam meu corpo.

— Não — a palavra de três letras sae por entre seus lábios com uma emoção detectável por meus tímpanos.

Maneio negativamente a cabeça. Permitindo que a fúria fervilhasse em meu interior. Um ódio, uma raiva e a traição que queimava abaixo das minhas costelas e sangrava em meu peito, quase roubando o ar.

Sentia-me traída. Porém a raiva presente e sem alvo especifico parecia maior, uma raiva que pendia entre mim e ele. O odiava, mesmo não devendo, era incapaz de controlar meus sentimentos naquele momento. E me odiava.

Eu um movimento audacioso, o homem abalado diante de mim gira nossos corpos em uma dança silenciosa, plantando seu corpo como uma barreira de carne diante do refúgio para o qual ansiava correr. Lançando-me para uma imensidão de possibilidades de fugas que mais pareciam um precipício.

— Eu não vou deixar você fugir — a ansiedade é quase palpável em seus lábios — Nós vamos ficar aqui e resolver isso como um casal.

Um casal ?

Arfo o ar entre meus lábios entreabertos. Passos a mão pelo meu rosto, tentando desnublar minha visão e afastar alguns teimosos fios que pinicavam em minha pele. Minha cabeça balança, não em resposta, mas em protesto.

— Não — encontrando forças de algum lugar desconhecido disparo, mais firme do que esperava.

Não conseguia ignorar as salientes marcas de expressão em torno dos olhos de Avery, mais acentuadas, evidenciando uma dor aguda ofuscada por sua irritante determinação em resolver tudo.

— Essa criança não muda nada — o protesto dos seus lábios, acompanha seus pés que caminham em minha direção.

Por sua vez, os meus pés recuam, o fazendo parar – felizmente entendendo a minha necessidade de distância – e apaziguando a minha necessidade de autoflagelação e/ou agressão ao homem diante de mim.

Seus largos ombros se empertigam, mas seu tórax infla com a lufada de ar impaciente jogada por seus lábios.

— Eu amo você, Lennon — aquelas palavras só fazem meu interior sangrar e a ardência em minha narina aumentar.

Transbordando a água represada por minhas pálpebras. Uma gota de água que percorrer velozmente minha bochecha e se perde no piso sob os meus pés. Sem diminuir a sensação de que alguém havia cortado meu peito da traqueia até as costelas.

— Amor — balbucio, deixando algo além das minhas lágrimas transbordarem, algo mais perigoso, as minhas emoções. — Amor? — rindo sem humor, dançando meu dolorido abdômen, diante dos olhos passiveis. — Nós não podemos nós amar, Avery. Somos opostos, queremos coisas opostas, necessitamos de coisas diferentes. O amor não é para nós, sabe o porquê?

Não espero uma resposta que não vem.

— Porque o amor acaba — em algumas oitavas mais altas e lutando contra o nó nas minhas cordas vocais, reclino meu corpo para frente, em uma reação para acentuar minhas palavras — É simples assim. O amor acaba. É uma ficção. Felizes para sempre não existe. Principalmente quando um dos dois é

As palavras morrem em meus lábios entreabertos. Provocando um lampejo de curiosidade nos olhos que me fitavam com atenção. Meus punhos cerram-se ao lado do meu corpo. E o ar que minhas narinas não tragam, não fazem falta para os meus pulmões feridos.

— É o que, Lennon? — a pergunta vem acompanhada do seu corpo que se aproxima.

E dessa vez o meu não recua. Apenas empino meu queixo, sentindo a ansiedade crescente de feri-lo em meu interior.

— Você não pode consertar tudo, Avery — disparo, roçando a ponta dos dedos abaixo dos meus olhos, secando a água residual — Não podemos ignorar essa criança e continuar um casamento sem futuro.

Seu queixo enrije-se. Assim como seus olhos que queimam, ignorando o ar gélido que envolve nossos corpos, e conduzem uma dança em suas madeixas.

— Lennon — ele balbucia.

O interrompo, interpondo minha mão espalmada diante da sua figura pronta a me fazer mudar de ideia.

Afinal esse era o Avery. Aquele que acreditava que tudo era possível.

— Você quer um filho? — questiono — Não esse filho, mas um filho?

A resposta não vem dos seus lábios, mas sim da sua cabeça que balança timidamente e positivamente.

— Eu quero um filho com você — seus lábios ensaiam um sorriso que morre no tremular, com seus olhos brilhando, como se em algum momento tivesse sonhado com aquilo.

E sabia que o tinha feito.

— Eu não posso engravidar, Avery — seca e duras as palavras saem por entre meus lábios — E quando eu descobri isso preferi cuidar da única coisa importante que me restava, a minha carreira. Eu não quis lutar por você, pelo nosso casamento, nem esperar você consertar tudo — ele não respira, nem eu, seus globos oculares correm dentro das orbes tentando processar tudo — Essa é a verdade, que você sempre quis saber.

Seus lábios maneiam confusos, produzindo um grunhido que me provoca satisfação, não por sua confusão, mas por ter conseguido feri-lo. Pelo menos era o que eu esperava. Era como se tivesse despejado um peso nas costas dele.

Ele teria filhos. Eu jamais teria filhos. Ele não me teria. Eu não o teria. Era o fim.

Mas não ficaria ali tempo o suficiente para saber. Aproveitando da sua confusão, passo velozmente por seu corpo, que não consegue me deter. Giro a maçaneta e enfio meu corpo para dentro do meu porto seguro. Fecho a porta, fugindo – como sempre – feito uma covarde, que não ficaria para assistir o final daquela história. 

— Lennon — meus tímpanos não ignoram o chamado do outro lado.

Colo meus lábios. Linhas úmidas molham minhas bochechas. Meu peito oscila em um soluço.

— Lennon — o chamado vem acompanhado de uma suave batida, que ignoro — Você não pode jogar isso em cima de mim e fugir.

Posso sim !

Recostando minhas costas na madeira que nos separava, deslizo meu corpo até minhas nadegas se chocarem contra o gélido piso da cozinha. Minhas pernas se encolhem em direção ao meu corpo, as envolvo com força.

Finalmente tinha dito tudo. Mas aquilo não estava me fazendo sentir melhor e livre.

— Lennon — continuo ignorando o insistente chamado.

Aperto minhas pálpebras.

Mas o que me surpreende são os braços que acolhem o meu corpo, pequenos braços dono de um aroma familiar. Meus nublados olhos encontram a figura de Izzie ajoelhada diante de mim, desfazendo toda a minha proteção.

— Eu estou aqui — e sua voz é a corda que sustenta.

— Ele vai ter um filho — aquelas palavras tremulam em meus lábios — E já sabe que eu não posso ter um.

WELL. WELL. WELL. Mais dois capítulos e chegaremos ao fim.

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