Sempre sua Garota [✓]

By ars_amanda

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🏆 OBRA VENCEDORA DO WATTYS 2021🏆 A vida de Lennon Clarke tomou um rumo inesperado ao ser traída por seu fut... More

SEMPRE SUA GAROTA
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prólogo
parte única| sua garota
01| antes | ele
02| agora | não volte
03| antes | nós e mais dois
04| agora | lar doce lar
05| antes | elas
06 | agora | feridas
07 | antes | quase
08 | agora | medos
09 | antes | idiota
10 | agora | em queda
11 | antes | aposte em nós
12 | agora | minta por amor
13 | antes | sem arrependimentos
14 | agora | as coisas que ignoramos
15 | antes | estamos bem
16 | agora | em colisão
17 | antes | estou bem
18 | agora | vida nova
20 | agora | verdades nunca ditas
21 | antes |é melhor assim
22 | agora | últimas palavras

19 | antes | não estou bem

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By ars_amanda

BOSTON, USA
FIM DO VERÃO

Meus olhos passam pela enorme parede branca diante dos meus olhos, analisando cada diploma sem realmente dar a devida atenção. Jamais havia dado a atenção a aqueles títulos, conhecia a doutora Nora, ela tinha feito meu parto e o da Isobel, isso bastava.

Meus dedos ansiosos batucam sem ritmo no braço da confortável cadeira de courino, assim como as pontas dos meus pés que hora tocam o chão quando descruzo minhas pernas, somente para voltar a ter uma das minhas pernas suspensas assim que volto a cruza-las.

A cadeira ao meu lado, um convite para um acompanhante estava vazia. Preferi que Izzie esperasse do lado de fora. Da mesma forma que preferi omitir alguns fatos de Avery, tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos cinco dias não era para ser contado por telefone.

Tampouco iria fazê-lo voltar por algo que nem sabíamos que existia. E já não existia mais.

Curioso como não pensamos no que queremos até perder. Jamais havia pensado em ter filhos, sabia que era uma consequência lógica do casamento, desde que havia me tornado noiva de Todd tinha isso em mente. Mas a ideia de filhos nunca havia se feito presente na minha vida, não até aquela fatídica manhã.

Até a concretização daquela ideia.

— Lennon? — aquele chamado rouba meus pensamentos.

Minhas pálpebras abrem e fecham incontáveis vezes, vislumbrando a figura da mulher na casa dos cinquenta anos, cabelos negros amarrados em um rabo, pele clara, com uma estrutura magra, sentada do outro lado da mesa.

— Sim — balbucio confusa, tendo a certeza de que havia perdido algo.

E os lábios da mulher curvam-se com uma gentileza acolhedora, enquanto seus dedos sustentam algumas folhas de papéis, resultados do meu exame de sangue. Além de um invasivo e desagradável ultrassom. Algo necessário para constatar que nada havia restado do que nem sabia que existia.

Uma criança. Um bebê em desenvolvimento, sem força, sexo, cor ou qualquer outra característica que o pudesse torna-lo marcante. Porém mesmo assim não conseguia torna-lo insignificante no meu interior. Queria não sentir nada, mas o vazio continuava lá, dentro de mim. Fazendo minha mente questionar-se:

E por que sentir algo por alguém que nem sabia que existia?

Um pedaço de mim.

— Andei analisando os resultados dos seus exames — seus lábios balbuciam as palavras sem emoção, em uma postura profissional que não transparece muita coisa que pudesse ler — E os resultados são claros.

Seus olhos negros encontram os meus com facilidade. Suas mãos repousam as folhas sobre o tampo de vidro que separava nossos corpos. Não sei porque, mas quando suas mãos repousam uma sobre a outra, meu corpo se incomoda e remexe-se sobre o assento.

— E — meus lábios ansiosos expelem aquela vogal.

Nora traga a saliva. Meu coração se inquieta. Me fazendo recordar o motivo de não ser adepta a exames de rotinas. Odiava aquilo.

— Seu útero tem uma deformidade — um balde de água frio é jogado contra meu corpo que queima — Ele não se desenvolveu como o esperado para uma mulher da sua idade.

Minhas pálpebras abrem e fecham-se, enquanto minha mente gira vertiginosa, em queda livre, onde meus dedos se estendem em direção a algo, que não aparece para me agarrar.

— E isso significa o que? — aquela pergunta escapa por entre os meus lábios sem um planejamento.

A mulher diante dos meus olhos remexe seu corpo na cadeira de couro. Enquanto meus dedos fincam-se no inanimado braço da cadeira que ainda sustentava meu corpo.

—Lennon — seu corpo reclina-se para frente, juntamente com suas palavras direcionadas a mim — O seu útero é pequeno, como o de uma criança — aquela informação é silabada por seus lábios, como se pudesse me quebrar — Você até pode engravidar, mas as suas gestações nunca chegarão ao fim.

Eu caio.

Meus dedos fincam-se no apoio da cadeira que não me segura.

Minha mente gira e gira.

O vazio se acentua.

E tudo que eu não sabia que queria, escapa como água por entre meus dedos impotentes. Minhas narinas fungam um soluço, uma ameaça de emoções que começam a emergir do meu interior.

— Então eu não posso ter filhos? — aquelas palavras saem como um questionamento, mas para os meus tímpanos chegam quase como uma informação silenciosa.

E tudo o que eu não sabia que queria, começo a passar a desejar, ansiar, como se minha vida dependesse disso. Era incrível, jamais quis um filho, mas agora que não podia, meu interior sangrava pela criança de cabelos negros ou castanhos, olhos castanhos ou de avelã, menino ou menina, que jamais iria carregar em meu ventre, segurar em meus braços ou vislumbrar correr entre minhas pernas.

— Como eu disse — gentilmente os sonhos, que até aquele momento não tinha, são roubados de mim — Você pode engravidar, mas em algum momento seu corpo vai acabar abortando o feto — as palavras chegam a mim, mas minha mente não consegue processa-las com uma clareza devida — E se por algum milagre a gestação avançar a criança pode nascer prematura e não resistir.

Aceno.

Sem realmente aceitar aqueles fatos.

— Entendo — concordo.

Sem realmente concordar.

— Existem tratamentos — os lábios da médica proferem sem muita credibilidade aquela informação — Mas a eficácia depende de caso a caso.

Finalmente meu corpo choca-se contra algo duro. Não sou de vidro, mas me quebro em mil. Enquanto tudo o que eu não sabia querer me é roubado. Arrancado sem piedade, pela vida, por meu corpo imperfeito que esqueceu de desenvolver uma pequena peça do meu interior.

Meus dedos trêmulos agarram a garrafa de uísque roubada da gaveta da escrivaninha do Avery, despejando o liquido maltado dentro de um copo longo. Enchendo até a metade. Choco o recipiente contra o granito, permitindo livre acesso aos meus dedos que agarram o copo que toca meus lábios sem demora.

Queima.

O liquido queima minhas papilas gustativas. Queima no meu estômago. E torna as falanges dos meus dedos mais firmes e precisas. A única coisa que aquela bebida não queima são os olhos repousando sobre mim do outro lado daquela bancada. Dois pares de olhos castanhos que me censuram sem ressalvas.

— Você falou com o Avery? — finalmente Isobel quebra o silêncio que parecia incomodar os seus lábios.

Mas que fazia os meus tímpanos agradecerem.

Maneio negativamente a cabeça em resposta a sua pergunta. Viro o restante do líquido que não queima mais, apenas afoga tudo que queria ignorar, exceto aquele ponto:

John Avery

Meu marido

Meu amigo

Meu amante

O não pai dos meus filhos

— E dizer o que? — o baque seco do copo contra o granito precede as minhas palavras que saem resvaladas em minha língua — Olha querido, estava grávida — sorrio, enquanto simulo aquele dialogo que jamais teria — Mas não estou mais. E sabe aquela ideia de família feliz? Desculpa não vai rolar porque vim com defeito — o sarcasmo toma meu tom — Mas ficaremos bem.

Ficaremos?

Eu não estava bem.

Eu não queria ter aquela conversa. Não queria ver a felicidade arrancada dos seus olhos. Aquela simples ideia enche meus pulmões de uma tristeza que ameaça transbordar por entre minhas pálpebras. Trago o ar. Tentando secar aquela inapropriada emoção.

— Lennon, você está sendo radical — Izzie me censura.

Meus lábios curvam-se sem humor algum.

— É fácil para você falar, Isobel — balbucio — Não é você, quem vai ter que contar ao seu marido algo assim.

E a ideia. A verdade, entala em minha traqueia. E tentando engolir tudo aquilo, encho o copo novamente, engolindo o liquido que parece tornar mais digestível o fato de que jamais poderia engravidar.

— Ele ama você — a castanho do outro lado insiste.

Por enquanto

Meu pessimismo, ou meu lado realista, não conseguem evitar aquele pensamento que me assombrava a dias. Antes de saber de tudo. No começo, quando sofri o aborto passava a noite me perguntando como Avery reagiria se soubesse que estava grávida, levei algumas noites para me convencer de que rolaríamos felizes pelos ridículos lençóis. Mas naquele momento sentia-me feliz.

Porém agora não queria ser assombrada pelo fato de que a tristeza poderia ruir tudo. Eu conhecia John Avery, a ponto de saber que seus braços acolhedores tomariam meu corpo. Seus lábios certamente beijariam o topo da minha cabeça e em seguida algum lugar do meu rosto. Suas mãos tomariam meu rosto. Seus olhos se fundiriam aos meus. Enquanto seus lábios murmurariam que ficaríamos bem, que eu ficaria bem.

Mas não

Eu não estava bem

E um pesadelo ameaçava minha mente. Uma versão nossa mais velha, mais madura, no mesmo dilema. Nunca tinha vivido aquela história, mas era um filme que já tinha assistido. E pela primeira vez não queria reprises.

Espalmo minhas mãos no granito da bancada da nossa casa. Observo o ambiente que jamais veria uma criança. A ideia sangra em meu interior.

— Ele ama a mulher com quem pode construir um futuro — não encaro a pessoa a minha frente, mas ao ambiente que iria murchar com apenas duas pessoas — Não isso — e por "isso", me referia a mim — Será que ele vai se contentar o resto da vida somente comigo? — busco a resposta nos olhos semelhantes aos meus.

Os ombros de Isobel murcham, não sei se pela falta de resposta ou uma simples reação as minhas palavras.

— Vocês podem adotar — prontamente seus ombros voltam a se inflar, em uma vã esperança que sai por entre seus lábios — Barriga de aluguel. Existem opções.

Uma risada sem humor explode da minha garganta.

— Adotar é difícil — descarto com facilidade as possibilidades, que nem sabia se seriam consideráveis — E barriga de aluguel é caro.

E sinceramente não tinha vontade de discutir aquelas possibilidade com o meu marido. Queria me acovardar. Entrar em um casulo e jamais sair. Apenas para não ter que vislumbrar os dias que um dia chegariam. Eu sabia que cedo ou tarde chegariam.

Como disse, já tinha visto aquela história.

— Nem todos os casais são felizes por que tem filhos — e o entusiasmo remanescente de Isobel ainda resiste — Filho não segura casamento.

Aceno negativamente.

— Mas pode destruir um — garanto — Você não lembra dos nossos pais?

Os pares de olhos femininos se contraem confusos em minha direção, sua cabeça acentua sua ignorância ao manear-se negativamente.

— Não? — procuro ter certeza.

— Não — e é a vez dos seus lábios balbuciarem perdidos.

Eu lembro. Eu vivi. Assisti de camarote.

Uma criança sentada no topo da escada, enquanto seus pais ignoravam sua presença e paravam de fingir que estava tudo bem.

— Após o seu parto, o nosso pai resolveu fazer vasectomia — revelo aos olhos atentos vidrados em mim — Porque o seu parto foi difícil e nossa mãe quase morreu. O médico foi claro em declarar que ela não deveria voltar a engravidar — dou voz aos fragmentos do que me lembrava — Ela ignorou ao médico. E quando você completou dois anos ela decidiu que queria ter outro filho. Nosso pai não podia, nem queria, nem tinha contado para ela do procedimento. E quando contou tudo ruiu e nós — meu dedo dança em sua direção para voltar a chocar-se contra o meu peito — Não fomos mais suficientes para ela, que teimava em querer um terceiro filho.

Os lábios da minha irmã se entreabrem surpresos com aquela informação, que parece queimar em sua mente.

— Nossa — suas mãos penteiam suas madeixas castanhos soltas, mais para movimentar-se do que por necessidade — Não lembrava.

— Você era pequena — não a culpo.

Mas eu não

E a imagem viva do casal que um dia dançava na sala alegremente, foi trocada por uma mulher que chorava sozinha no banheiro e por um homem que bebia sozinho na garagem antes de ir dormir no sofá. Até a mulher deixar o banheiro, deixar o quarto e ir embora, deixando para trás tudo que não era mais suficiente para ela.

Até um dia voltar. Ela voltou, mais por necessidade, por estar doente, do que por amor. Ou talvez fosse amor, nunca tinha perguntado.

— Vocês não são eles — gentilmente ela tenta afastar meus temores.

— Mas podemos ser — mas a melancolia é presente — Ele vai dizer que ficaremos bem, mas ficaremos bem até quando? — trago a amarga saliva com as latentes possibilidade que batiam na porta do meu futuro — Até os amigos dele começarem a ter filhos? Até ele não conseguir ignorar mais a necessidade de ter filhos? — elevo meus ombros impotentes — Até ele perceber que o meu amor não é suficiente, que eu não sou mais suficiente.

— Ele não é a nossa mãe — Izzie tenta resumir meus medos.

Não, mas é humano.

— E nada disso pode vir a acontecer — diante do meu silêncio ela prossegue — E talvez vocês sejam felizes ou achem uma solução.

Aceno, discordando das suas palavras.

— E se isso não acontecer? — não consigo engolir aquela emoção que embarga a minha voz — Como eu vou aguentar Izzie? Como eu vou viver sem ele? — e as lágrimas rolam soltam por minhas pálpebras — Como eu vou sobreviver quando ele não me amar mais? — o soluço é inevitável.

E com os olhos embaçados, não prevejo, nem vejo os finos e pequenos braços que acolhem meu corpo. Afagam minhas madeixas. Na tentativa de afastar toda aquela dor do meu corpo estilhaçado.

— Quando você contar para ele, todos os seus medos vão sumir — ela tenta me consolar.

Esse era o problema, o Avery tentava consertar tudo, achar algo bom em tudo, em todos. Mas aquilo ele não poderia consertar. Ele não poderia me consertar.

E mais porrada. Terça Feira teremos mais um capítulo em rumo ao fim.

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