No Compasso das Estrelas | ⚢

By girlfromcv

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Para uns, Porto Baixo não passava de uma cidadezinha praiana esquecida num canto qualquer da Costa Este e ass... More

Nascer do sol
DREAMCAST
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Especial de Fim de Ano
Tem alguém aí?

Capítulo 20

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By girlfromcv


       Yara observou as letras garrafais e o número de telefone impressos no cartãozinho entre os seus dedos, sob o olhar atento de Leandra que, ao perceber a luta que acontecia em seu interior — notável pela sombra de conflito pairando sobre seu semblante —, resolveu tomar a palavra.

      — Olha, não precisa se decidir agora, sim? É fato que pode ser muito bom pra você ouvir histórias que sejam idênticas à sua, conviver com pessoas que já enfrentaram situações parecidas ou até mesmo se identificam com você na forma como se sentem, mas só deve ir quando se sentir preparada. — calou-se por um momento, cedendo espaço para que ela dissesse algo, mas ela não o fez. — Conheço muitas pessoas que já passaram pelo grupo de apoio e, ao longo do tempo, começaram a ter resultados.

      — Mas...você acha que comigo pode funcionar? — questionou, visivelmente insegura.

      — Acredito fortemente que sim. — afirmou. — É só olhar para trás e lembrar da Yara que entrou por essa porta há cerca de um mês, e agora para a que está aqui na minha frente. Eu sei que a evolução pode parecer pequena, já que ainda tem imensas guerras por vencer aí dentro — apontou para o peito dela. —, mas até o mais alto dos murros, para que seja erguido, deve-se começar por fixar a primeira pedra, não é mesmo?

      — É, isso é verdade.

      — Então. O que fazendo aqui é mais ou menos como o processo de construção de um murro, ou seja, começamos da base e vamos subindo,  pedra sobre pedra. — finalizou elevando gradualmente uma mão. — Só que aqui não temos pressa. Se você se sente pronta, damos um próximo passo. Se não, não pressionamos, até que sinta que pode, e queira tentar. E nesse caso não vai ser diferente. Você só deve ir se sentir que está preparada, sim? Se não se sentir à vontade logo a princípio, pode apenas ir ouvindo as outras pessoas, e só quando se sentir confiante e segura, pode compartilhar a sua história também. Nós duas sabemos que é impossível fugir para sempre e que uma hora você vai ter de se pôr frente a frente com o passado e enfrentá-lo. Porém, também sabemos que, quando o fazemos precipitadamente, os danos podem ser grandes. Seria muito bom pra você se fosse, no entanto, é uma decisão apenas sua. Só saiba que ninguém vai te julgar, pelo contrário, é um lugar de inter-ajuda.

A preta permaneceu pensativa por alguns instantes, encarando um ponto além da janela aberta.

      — Eu dou a minha palavra que vou pensar sobre. — disse, após um suspiro, guardando o pedaço de papel retangular no bolso da saia jeans.

A morena estudou-a em silêncio durante alguns segundos, como que para ter certeza que ela haveria de cumprir o prometido.

      — Certo. Fico contente por isso. — sorriu, voltando a recostar-se na cadeira. — Então agora me fale sobre a relação com o seu pai. Como vão as coisas entre vocês?

       — Bem, eu acho. — sorriu fraco. — Ele me ligou algumas vezes depois daquele domingo e...nos falamos. Só que ainda é meio difícil, sabe? — Leandra fez um gesto de cabeça, incentivando-lhe a prosseguir. — Parece que há uma barreira entre nós que...sei lá. É tudo um pouco estranho ainda, ele parece hesitante e eu também não quero acelerar as coisas e fazer tudo desmoronar, como sempre, até estarmos novamente na estaca zero.

      — Querida — Baptista chamou por si com a voz suave, depositando os braços sobre a mesa; o olhar complacente fixo nela. —, só o fato de vocês terem voltado a se relacionar, já é uma evolução e tanto. Depois de tudo o que aconteceu, você ainda se dispôs a tentar reatar a relação de vocês, então considere isso como algo imenso.

      — Mas, sei lá, eu sinto como se tivéssemos estagnado antes mesmo de dar grandes passos. — terminou com um tom de indagação, como se não tivesse certeza de como descrever a situação. — Eu, na verdade. Como se alguma coisa me impedisse de me abrir mais, de me mostrar um pouco mais, de permitir que ele me conheça, entende?

      — Sim, entendo.

      — E o pior é que eu não sei o que fazer pra não me sentir assim. — passou as mãos pelo rosto, a seguir soltando um suspiro cansado. — Acho que ele percebeu isso, tanto é que ainda não me ligou essa semana, talvez por achar que está pressionando demais. Mas não é isso, o problema sou eu e .

A psicóloga optou pelo silêncio pelos segundos que se seguiram, analisando mentalmente o que ela acabara de dizer, a fim de poder aconselhá-la da melhor forma.

      — Olha, querida, eu acho que, no fundo, você tem medo que aconteça tudo de novo, que ele acabe te magoando como fez anos atrás. — constatou, capturando totalmente a sua atenção. — Você está com medo de se decepcionar com ele uma segunda vez, por isso se mantém na defensiva, evitando se deixar envolver demais, como uma forma de se autopreservar, caso aconteça o mesmo de antes. Eu não te julgo por isso. Não há mal nenhum em querer se proteger.

      — E o que eu faço? — quis saber, aparentando aflição.

      — Apenas dê tempo ao tempo. — encolheu os ombros. — Acredito eu que isso seja uma questão de confiança da sua parte em relação a ele. Então, nesse caso, é ele quem tem que lutar para recuperá-la, pra fazer você acreditar que realmente mudou e não vai cometer os mesmos erros. Você não está errada em ter algum receio nessa reaproximação.

Yara assentiu, embora ainda com suas dúvidas sobre a ausência não ser culpada da barreira que existia entre ela e o pai.

       Na área externa da escola, Lacerda absorvia a vitamina D do sol escaldante que agredia os reles mortais de Porto em plenas dez e vinte da manhã, bem como o ar puro das plantas do jardim a poucos metros do banco onde se encontrava acomodada, à espera que Léia se juntasse a ela.

Sugava sem muita vontade o suco tropical de caixinha, contemplando ao longe alguns alunos mais novos correrem pelo gramado entre risadas, livres de preocupações, apenas aproveitando os minutos fora das salas de aula.

Suspirou pesadamente, querendo, nem que apenas por um instante, ser como eles e, principalmente, viver como eles.

Entretanto, infelizmente as coisas não eram assim tão simples e não davam sinais de que seriam em breve, pois, à medida que avançava na estrada rumo à famigerada idade adulta, a bagagem pesava mais e mais, inversamente proporcional às suas forças para o suportar por demasiado tempo.

Poderia livrar-se de culpas pelos pensamentos um tanto melancólicos para uma quinta-feira que só estava começando — depois de uma prova nada fácil de filosofia —, e simplesmente atirar todas elas à nostalgia de ver os pré-adolescentes brincando felizes, saltitantes e de bem com a vida, como em tempos fora, mas sabia que infelizmente as coisas não funcionavam daquele jeito.

Possuía a plena consciência de que o fato de de repente estar pensativa demais quanto ao futuro e ao que exatamente andava fazendo da sua vida, devia-se à aproximação da data em que, finalmente, diria adeus ao velho para saudar o novo.

Não se lembrava ao certo de quando começara a preocupar-se em níveis quase exacerbados com os horizontes do amanhã, mas ainda lhe era claro como água os seus anseios do ano anterior também e do que o antecedera.

Entretanto, embora abstendo-se de pensar sobre e fracassando em quase todas as tentativas, o pensamento de que naquele ano as coisas seriam bem diferentes e não teria a pessoa mais importante da sua vida ao seu lado não deixava sua mente e pesava mais do que a possível bagagem que os seus dezessete anos trariam consigo.

Balançou a cabeça para os lados, como se assim fosse possível libertar-se daqueles pensamentos. Eles deixavam-na angustiada, e ela não queria sentir-se assim, pelo menos não perto de Léia.

E, como se estivesse apenas à espera que os pensamentos da preta a invocassem, ela praticamente se materializou ao seu lado, fitando-a através dos óculos escuros redondos com um sorrisinho satisfeito no canto dos lábios.

Se bem a conhecia, podia afirmar, com toda a certeza do mundo, que ela aprontava alguma e as tais coisas que dissera que precisava fazer antes de encontrá-la estavam relacionadas.

Contudo, da mesma forma que estava certa de que por trás daquele sorriso havia um mistério oculto ao seu conhecimento, também estava ciente de que se tiver a ver consigo, não saberia tão cedo, até que a própria Léia resolvesse que era a hora certa.

      — Nossa! — exclamou ela, deslizando os óculos para o cimo da cabeça, e oferecendo à preta a visão dos seus olhos verde oliva. — Se eu não derreter nesse calor até o meio-dia, eu juro que vou, sei lá, me mudar pro Saara.

Yara riu, os pensamentos anteriores lentamente se retirando para um cantinho mais escuro da sua mente, enquanto assistia-a dar três goles generosos na garrafa de água gelada que trouxera consigo.

      — Não seja dramática, Léia Ferreira! — revirou os olhos, empurrando levemente o joelho dela com o seu. — Aliás, já deveria estar acostumada.

      — É, mas nenhum ser vivente deveria ser obrigado a sair de casa fazendo trinta e cinco graus, a não ser que seja pra ir à praia ou procurar alguma forma de aliviar o calor. — Yara soltou uma risada divertida. — É sério! Tu não acha não?

      — Hm... — a preta murmurou, pensativa. — Bem, se fizessem uma petição em relação a isso, eu provavelmente assinaria.

       — Tá vendo? Impressionante como essa cidade consegue ser inferno e paraíso ao mesmo tempo. A propósito, vamos mudar de lugar? — sugeriu, notando que uma parte da pele de Lacerda estava exposta ao sol. — Se não, é tu quem vai derreter mesmo antes do sino bater.

Yara concordou sem pestanejar, realmente um pouco incomodada com a incidência dos raios ultra-violentos na sua pele já abençoada pela melanina, pelo que passaram para o banco ao lado, que ficava mais perto do refeitório, de onde Léia havia saído minutos antes.

      — Mas, enfim, deixando um pouco o calor infernal de Porto de lado, queria saber se tu tá livre no sábado, lá pelo fim da tarde.

A preta não respondeu de imediato, buscando pela lembrança de algum compromisso que eventualmente pudesse ter marcado nesse dia e se esquecido até então, mas nada encontrou.

Embora fosse seu aniversário, até onde sabia, nada fugia da rotina normal de todos os sábados.

      — Eu acho que sim. — disse, ainda pensativa. — É, estou. Por que?

Léia empertigou-se no assento, parecendo satisfeita com a resposta recebida.

      — Então se prepara, porque eu vou te levar a um lugar aqui na cidade que eu tenho quase certeza que tu ainda não conhece. Se quiser, claro. — abriu um sorriso pequeno e sugestivo, atiçando a curiosidade da preta, que logo arqueou uma sobrancelha.

      — E que lugar seria esse? — quis saber, levemente intrigada pelo dia marcado. — E o que tem ele de tão especial? Se é que posso saber.

Vindo dela era, no mínimo, suspeito. Contudo, não pensou muito no assunto, porque, além de em momento algum ter dito nada sobre, tinha certeza que, se ela soubesse, não deixaria o assunto ser esquecido até que a data passasse.

Então chegava à conclusão que tratava-se apenas de uma curiosa e interessante coincidência.

      — Eu lamento, mas não, tu não pode saber. Senão perde a graça. — piscou um olho, fazendo a solarense semicerrar os seus. — Só posso garantir que não vai se arrepender. Ah, e considere como uma comemoração por ter ido bem na prova de Física ontem.

      — Mas eu ainda nem recebi, então não tenho certeza se fui tão bem assim.

      — Do jeito que tu estudou, eu tenho certeza que tu mandou bem. Pensa positivo e relaxa! Já foi.

Realmente foi consideravelmente melhor do que esperava, sem ataques de pânico ou algum branco em meio à resolução. Ficara com a impressão de se ter confundido em alguma questão do primeiro grupo, mas, em relação ao resto, estava confiante que tinha ido bem.

Parte do êxito devia-se ao fato de ter seguido o seu conselho assim que sentiu uma leve alteração na respiração lá pela metade, ao se deparar com uma questão que, a princípio parecia um enigma mas, com um pouco de raciocínio e teoria, a resposta logo estava clara.

Ao agradecê-la no dia anterior, resistiu à enorme vontade de contar que o pensamento feliz que trouxera de volta a sua calmaria havia sido ela. O seu sorriso, a sua voz, os seus olhos, tudo o que a compunha e a inebriava por completo.

      — Tá, tudo bem. — revirou os olhos, reprimindo um sorriso. — Talvez eu não tenha ido tão mal assim.

Assim que Léia abriu a boca para retorquir, o barulho do sino irrompeu por toda a escola, interrompendo a sua fala e o momento de lazer dos restantes alunos.

Ela e Yara cataram os seus pertences sobre o banco de madeira e seguiram para dentro em uma conversa sobre as provas que teriam lugar no dia seguinte e sobre a sugestão de dinâmica na reunião anterior do clube.

A preta, no entanto, não poderia estar mais distante e intrigada — não por falta de vontade ou qualquer coisa do género —, a mente se negando a focar totalmente em outra coisa que não fosse o misterioso passeio que aconteceria em dois dias.

Ainda que tentasse prestar atenção ao que a porto-baixense dizia, e formular uma resposta coerente para que não fizesse parecer que ela falava sozinha, a questão que a rondava impedia que estivesse cem por cento presente.

Desejava ela saber o porquê de todo aquele mistério e, principalmente, para onde iriam no sábado à tarde.

Saudações, queraideees! Tudo bem com vocês? 

Passando para avisar que, depois de ter escrito uma cena de um certo capítulo ontem e ter ligado vários pontos da história - alguns que ainda não conhecem -, e pensado melhor hoje, resolvi que o livro vai passar a se chamar "No Compasso das Estrelas", por, na minha percepção, se adequar mais ao contexto da coisa toda e destacar os acontecimentos mais simbólicos. Talvez possam não entender o sentido ainda, mas de certeza que nos capítulos que aí vêm, vão conseguir relacionar uma coisa com a outra. Espero.

Enfim, era só isso.

Espero que a vossa virada do ano tenha sido ótima e que estejam com as esperanças renovadas para este novo ano!

Até mais!

Roms ♡

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