Sempre sua Garota [âś“]

By ars_amanda

273K 12.1K 5K

🏆 OBRA VENCEDORA DO WATTYS 2021🏆 A vida de Lennon Clarke tomou um rumo inesperado ao ser traída por seu fut... More

SEMPRE SUA GAROTA
booktrailers
prĂŞmios
prĂłlogo
parte Ăşnica| sua garota
01| antes | ele
02| agora | nĂŁo volte
03| antes | nĂłs e mais dois
04| agora | lar doce lar
05| antes | elas
06 | agora | feridas
07 | antes | quase
08 | agora | medos
09 | antes | idiota
10 | agora | em queda
11 | antes | aposte em nĂłs
12 | agora | minta por amor
13 | antes | sem arrependimentos
14 | agora | as coisas que ignoramos
15 | antes | estamos bem
16 | agora | em colisĂŁo
17 | antes | estou bem
19 | antes | nĂŁo estou bem
20 | agora | verdades nunca ditas
21 | antes |Ă© melhor assim
22 | agora | Ăşltimas palavras

18 | agora | vida nova

2.4K 220 130
By ars_amanda

BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

Há anos atrás me peguei perguntando em que momento sabemos que o que sentimos é amor. E as inúmeras teorias que não são ciência exatas e se aplicam a todos da mesma forma. Hoje eu entendo esse ponto de mudança, não consigo identifica-lo com exatidão, pois com os anos as lembranças começam a se misturar e os sentimentos tornam-se quase que linearmente presentes em todos os momentos passados, como se não existisse Avery antes de Lennon Clarke.

E as vezes me perguntou se existiu um Avery antes daquele dia, em uma cela. E a resposta é simples: não me lembro.

Meus olhos passeiam mais uma vez pelo pedaço de papel que amanheceu no travesseiro ao meu lado, com resquícios de um perfume que nunca tinha saído da minha memória e a ausência da mulher que tinha compartilhado os lençóis comigo no dia anterior.

As palavras eram claras, precisas, mas uma pequena fagulha para o meu coração:

Eu fiquei, Avery. Agora é a sua vez

de cumprir a parte do acordo. Assinar o divórcio.

Lennon

Curvo os lábios diante da ingenuidade das palavras da mulher que ainda era a minha esposa. Meu corpo invade a pequena e estreita caixa de metal, ignorando as demais pessoas que diminuíam o pouco espaço, apenas encaro aquela caligrafia, aquele bilhete e aquelas palavras que certamente ela deveria saber que jamais se cumpririam, pelo simples fato de que após o dia anterior ela deveria saber que não  soltaria com tamanha facilidade de nós.

Sim, ainda éramos nós. Era só questão de tempo para convence-la.

O familiar click anuncia a chegada ao terceiro andar do velho prédio – que antigamente tinha sido uma fábrica de tênis local - , com suas paredes de tijolo maciço e janelas quadriculadas e negras, dando uma privilegiada visão da rua lateral de acesso.

Não tenho pressa naquela manhã, nenhuma, finalmente não sentia mais necessidade de correr, preferindo deixar que a pequena e estreita caixa de chumbo se esvaziasse por completo, antes de impulsionar meu corpo para fora e caminhar entre as fileiras organizadas de mesas, que davam acesso a porta em uma das extremidades, acesso a minha sala.

Meu corpo fincam os pés sobre o velho piso de concreto bruscamente, assim que uma figura morena, com sua característica cabeleira, praticamente para diante de mim.

Billy

Meus lábios tremulam um sorriso amigável, que some com a mesma rapidez, assim que meus olhos apressados encontram os seus vermelhos, não conseguindo ignorar a tensão que seu corpo emanava.

— Precisamos conversar, Avery — seus lábios se antecipam aos meus, que engolem qualquer saudação gentil.

E é a minha vez de sentir meus músculos se enrijecerem e o café preto revirar inapropriadamente no meu estômago, como se meu corpo temesse algo que minha mente ignorasse.

— Claro — murmuro, tentando soar gentil e tranquilo.

De soslaio meus olhos não ignoram seus dedos que balançam agitados, assim como sua cabeça que acena em um movimento singular e brusco, antes de girar os calcanhares, e em uma ordem silenciosa me obrigarem a segui-la. A obedeço em silêncio.

O mesmo silêncio com que passamos por sua sala e adentramos ao pequeno espaço escuro, com bancadas por todos os lados e fotografias penduradas na altura de nossas cabeças. A mulher morena caminha quase para a extremidade da sala, como se precisasse de espaço.

— Fecha a porta — ordena.

Assim o faço, levando meus dedos até o interruptor capaz de iluminar aquele cômodo.

— Não acenda — suas palavras detêm meus dedos — Por favor — sua suplica me convence.

Acentuando a rigidez em minha musculatura e provocando uma queimação em minha nuca que se estendia até as terminações nervosas da minha cabeça, como se o fantasma de algo que ignorava sussurrasse ameaças em meu ouvido.

— Qual o problema, Billy? — procuro sua figura no ambiente iluminado apenas por uma irritante luz vermelha, que quase não facilitava a minha visão.

Silêncio

Seus lábios não proferem nenhum som, mesmo entre a penumbra, consigo observar seus dedos roçarem um nos outros, antes de seus pés se colocarem a marchar de um lado para o outro no pequeno espaço de um pouco mais de um metro e meio, transmitindo uma ansiedade que não conseguia mais ignorar.

Meus olhos apenas a observavam, enquanto a bílis em meu estomago dava sinal de vida.

— Billy — mesmo receosos, meus lábios insistem.

Meus tímpanos captam uma lufada de ar expelida por ela. Antes de conseguir contemplar um suave aceno da sua cabeça, mas que não impede os seus pés de continuarem a se movimentando.

— Sério Billy — insisto impaciente — Acho que depois de tudo que passamos não precisamos dessa cerimonia.

Finalmente seus pés param. Diminuindo a minha ansiedade. Seus olhos dentro da penumbra encontram os meus.

— Avery — seus lábios suspiram, antes tragar a saliva que mais parecia um caroço de azeitona, suas mãos dançam no ar — Eu juro que não foi proposital. Juro — as palavras saem tremidas por entre seus lábios quase cerrados — E eu não espero nada de você. Absolutamente nada.

Agora é a minha vez de engolir um caroço de azeitona, enquanto meu corpo começava a responder, produzindo suor em partes que não deveriam, queimando minha nuca e revirando meu estômago.

Parte de mim gritava para fugir e ignorar o que ela estava prestes a dizer.

Porém outra parte de mim estava disposta a arrancar o curativo de uma só vez.

— O que houve, Billy? — ouço meus lábios proferirem, ignorando minha discussão interna e dando voz a uma das minhas partes.

Apesar da penumbra, consigo contemplar as pálpebras morenas de Billy se apertarem com força, como se a dor em seu interior fosse enorme.

— Estou grávida — não tenho certeza de ter ouvido o que seus lábios sussurram, ou era uma parte minha entrando em negação.

E como se fosse tragado em uma realidade paralela, em que meus pensamentos fossem roubados, pisco mais vezes do que deveria, maneando meus lábios em silêncio, aumentando a tensão do ambiente.  Uma tensão não ignorada por Billy, que agora me encara ansiosa, como se esperasse uma reação minha, uma reação que não vem. Simplesmente não vem, porque estou em queda livre.

Apenas sinto tudo escapar por entre meus dedos impotentes, como se tentasse segurar água.

— Eu só estive com você nos últimos meses — aquelas palavras ressoam distante — Se quiser não precisa assumir a criança, eu crio ela sozinha — sua fala é ansiosa e atropelada — Só achava que você merecia saber.

Droga

Aceno. Pisco. Passo a mão por entre as minhas madeixas.

Ainda em queda.

Em negação.

Com os pensamentos confusos.

Meus olhos resvalam na figura trêmula – seu lábios tremiam, seu corpo tremia -, seus olhos ansiosos me encaravam em busca de qualquer reação, me fazendo perceber pela primeira vez que ela estava mais nervosa do que eu naquele momento.

Naquele momento em que ainda estava em queda. Em que não podia me segurar, nem me salvar. Muito menos pensar e concluir se aquilo era algo bom ou ruim.

Porra, uma criança.

— Se você preferir eu posso sumir da sua vida — como uma última suplica, a mulher diante de mim, profere.

Sopro o ar por entre meus lábios, como um último suspiro de alguém se afogando.

— Droga, Billy — resmungo mais para mim mesmo do que para ela, antes de quebrar a distância entre nossos corpos e envolve-la entre meus braços.

Ela não retribuiu o contato, permanecendo com seus braços ao lado do seu corpo.

— Vai ficar tudo bem — murmuro, repousando meus lábios contra sua cabeleira — Nós vamos resolver isso juntos, cuidar dessa criança juntos — apenas digo o que parecia certo a ser dito naquele momento, como um texto esquecido em minha mente — Você não precisa ir embora e eu não vou fugir da minha responsabilidade.

E a sensação de queda continuava.

Continuava.

Continuava.

E continuava.

O liquido maltado queima em minha garganta, mas não apaga a única verdade que não queria calar em meu interior.

Vou ser pai, de um filho que não era dela.

Bebo

Equilibro meu corpo na estreita banqueta em frente a enorme bancada que circuncidava um considerável espaço do Maurice's. A figura masculina e amigável – quase paternal -  do outro lado apenas me encarava em silêncio, como um ouvinte solitário, que limitava-se a voltar a encher meu copo. Uma e outra dose.

Como se compartilhasse da minha frustração daquele começo de noite em que tudo estava calmo e o ambiente vazio, Don Harper me faz a melhor companhia possível, em um velado silêncio, observa-me tentar afogar uma e outra vez os fantasmas que me acompanhavam naquele dia, ou talvez me acompanhasse desde a partida dela.

Droga

Como um simples fato pode mudar tudo?

Como uma pedra jogada em um lago silencioso pode produzir tantas pequenas ondas que afetam sua vida em algum momento.

Um filho

Passo a mão por meus olhos cansados, como se não me presenteasse com uma noite de sono a dias. Trago a amarga salva com sabor de uísque.

— Ela vai ter um filho, Don — pela primeira vez balbucio algo para a figura de certa idade, cabelos grisalhos e olhar acolhedor do outro lado do balcão — Um filho.

A sonora lufada de ar expelida pelas narinas a certa altura de mim, alcança meus tímpanos, que não ignoram a silenciosa compaixão.

— Imagino que não seja da Lennon — deduz.

Aceno. Apertando a mandíbula, o sabor amargo queima em meu estômago, meus dedos ficam com força em minha nuca, antes de caírem sobre a superfície de madeira encerrada.

Uma risada irônica, quase incrédula escapa por entre meus lábios nada humorados.

— A Billy — resumo a resposta.

Suas pálpebras um pouco enrugadas abrem e se fecham algumas vezes, mas seus olhos claros permanecem estáticos em mim. E contemplam a minha repetida encenação de envolver o copo entre meus dedos e virar o liquido queimante em minha boca. Batendo o vidro contra a madeira em um baque seco, uma ordem silenciosa, que ele não questiona, apenas envolve a longa garrafa e despeja uma quantidade considerável no copo.

— Boa garota — seus lábios balbuciam.

Aceno.

Boa garota

Ótima na verdade. Excelente. A não ser por uma pequena virgula em toda aquela história: Ela não era Lennon Clarke.

A mulher que já estava distante de mim. E agora estaria ausente novamente, inalcançável, quase inexistente. A conhecia. E isso revirava minha cabeça, o fato de conhece-la a ponto de saber que aquela informação a faria correr de volta para longe da minha vida.

Cerro meu punho.

Amaldiçoando tudo. A todos. A mim. Aquela gargalhada que a vida estava dando na minha cara ao enfiar Lennon na minha cama, para tira-la dessa forma da minha vida. E quando deveria estar tentando reconquistar a mulher que ainda era a minha esposa. Ou festejando o fato de ser pai. Eu bebo.

Viro o copo.

Para apagar a maldita sensação de não estar feliz com a existência daquela criança.

Droga. Um filho.

Um ser que não tinha culpa. Que não sabia de nada. Mas que malditamente parte de mim já não o queria.

Aperto minhas pálpebras.

Bebo.

Me repreendendo por aqueles pensamentos, por aquela sensação e a falta de amor.

— Ela vai ser uma ótima mãe — aquela observação me arranca dos demônios que ameaçam me envolver em suas garras.

Encaro a figura – quase paternal – parada diante de mim.

Curvo os lábios melancólicos, não conseguindo discordar daquela afirmação, como se fosse uma corda a que pudesse me agarrar e fugir dos demônios que tornavam tudo ruim, apenas para me permitir ter um vislumbre de uma pequena fração de algo bom nas coisas.

— Ela vai — maneio positivamente a cabeça, deixando que as pontas dos meus dedos roçassem a borda do copo — Ela vai ser uma ótima mãe — suspiro — Quanto a mim?

Divago. Deixo escapar a única certeza.

Seria um péssimo pai

Isso já deveria estar estampado em minha testa e na necessidade dos meus pés em correrem para longe de Billy e daquela criança, em uma autopreservação egoísta, não queria ser o adulto da situação.

Simplesmente queria jogar Lennon em meus ombros e correr para longe. O mais distante possível, até que tudo passasse. Até que talvez meu amor fosse inquestionável para a minha esposa ou até que aquela criança deixasse de existir.

Aperto novamente as pálpebras.

Você é um monstro, Avery.

— Avery — aquele chamado de uma voz experiente me resgata novamente dos meus fantasmas. Meus olhos se chocam com os de Don, tão calmos, tranquilos e centrados que até me sinto seguro por uma fração de segundos e todas aquelas necessidades vão embora — É normal sentir medo — e como se lesse minha mente, seus lábios sábios balbuciam — Quando a mãe da Harper me contou que estava grávida, subi na minha moto e fui para o mais longe que pude — revela com uma naturalidade assustadora — É normal.

Assinto.

Normal

Nada era normal:

Uma esposa que não me queria

Uma mulher grávida que não era minha esposa

E um bebê que eu ainda não queria.

Faço a única coisa que posso.

Bebo.

— Não é normal, Don — dou voz aos meus pensamentos — A Billy merecia um cara que quisesse ser pai — maneio negativamente a cabeça, para acentuar minhas palavras — Essa criança merecia alguém que quisesse ser o pai dela — bufo minha frustração — Eu quero estar com outra mulher, eu quero filhos com outra, é o que eu quero — as palavras saem aceleradas por entre meus lábios — Então não é normal.

Viro o restante do liquido maltado.

Don não volta a encher o copo de forma automática como anteriormente.

— Não é certo — meu tom aumenta algumas oitavas, enquanto minha língua resvala em meus dentes — Não é, uma mulher que não é minha esposa estar grávida de mim.

Digo em voz alta tudo que tentava afogar em meu interior.

— O que? — aquele questionamento atinge minha nuca como um tapa.

Reclino minha cabeça para frente, quase como um reflexo, a dor não se aloja somente na parte de trás do meu pescoço, mas por todo o meu corpo. E mesmo meus neurônios não trabalhando com exatidão, consigo reconhecer aquele tom de voz.

Lisbon

— Você engravidou outra? — não sei se propositalmente ou não, a mulher que se aproxima de mim silaba as palavras, acentuando um tom ameaçador, que faz todo meu corpo tremer.

E o medo não se afasta, quando seu pequeno corpo esguio se aloja ao lado do meu. Mesmo pequena e quase na minha altura, devido ao fato de estar sentado, a presença de Lisbon Taner é uma velada ameaça. Um singela ameaça de uma história chegar prematuramente aos ouvidos de quem não deveria, de quem não poderia, Lennon.

— Outra dose, Don — ordeno, batucando a ponta do meu dedo contra a borda transparente do copo.

Sem conseguir ignorar o par de olhos castanhos que queimava em minha direção.

— Então, Avery — seus lábios são precisos.

Enquanto meus dedos trêmulos agarram o copo, o elevam no ar – sugerindo um brinde solitário – antes de tocar os meus lábios. Como se aquele liquido forte fosse um remédio para todos os meus problemas.

— Billy — murmuro amargamente, antes de repousar o recipiente de vidro na bancada de madeira — Está grávida — giro meu pescoço para encontrar seus olhos castanhos cheio de censura — E acredite, isso não é uma comemoração.

Curvo os lábios, no meu melhor farsante sorriso.

— Que droga, Avery.

Assinto.

— Que droga — concordo, encontrando alguns lampejos de compaixão em seu olhar — Só — murmuro sem vontade — Deixa eu contar para ela.

Os olhos da advogada me encaram estáticos, como se sua mente processasse tudo. Finalmente sua cabeça maneia positivamente, permitindo que meus pulmões retomassem a ingrata função de respirar.

— É justo — ela profere.

VOLTEIII
Fiquem atentos que sexta feira tem capítulo novo.
Estamos a quatro capítulos do fim.

me encontre nas redes sociais

Continue Reading

You'll Also Like

9.5K 974 11
[EM ANDAMENTO] Katsuki é um ômega misterioso que vive com dificuldade presos em traumas antigos. Enferma por uma causa até então desconhecida, ele lu...
199K 18.2K 172
Sussurros do Meu Outro Eu é uma coletânea de poesia, textos e pensamentos aleatórios, escritos em diversos momentos da minha vida como forma de refúg...
2.6M 234K 66
Anelise tem uma paixão platônica desde muito tempo por Theo e decide que irá conquista-lo. Passando o tempo mirabolando planos para sua conquista, a...
1.2K 101 5
Momo adora desafios e Dahyun sabe como instigá-la. Elas darão início à um jogo perigosamente tentador, onde nenhuma das duas estará disposta a perder...