Addison Moore
Canadá — 2016
"Talvez eu esteja buscando algo que não posso ter
Todo mundo sabe sobre minhas transgressões
Ainda assim, em algum lugar no meu coração
Há melodia e harmonia
Para nós dois esta noite (uau)
Eu os ouço chamar meu nome"
Todas as garotas do segundo e do terceiro ano estavam no vestuário feminino, vestindo roupas de ginástica para a aula de educação física. Não acostumava fazer aula com Jazmyn, já que ela é do segundo ano e só participava do time de líderes, que era bem misto. Porém, como no terceiro ano tinham poucas garotas, a professora Beth havia decido que jogaríamos juntas Handebol também.
— Eu simplesmente odeio Handebol — Beatrice resmungou, enquanto calçava o tênis.
— Ah, eu gosto — ajeitei o shortinho no corpo, vendo Angel do outro lado do vestiário me encarando sem ao menos disfarçar.
Não que eu estivesse fazendo um grupinho contra ela ou algo do tipo, mas desde que Angel entrou no colégio eu não havia visto a garota com amizades, principalmente com meninas. Angel andava grudada em Justin e os garotos, mas não acho que gostava tanto assim deles, eu acho. Já que as garotas do time, quais ela sonhava se enturmar simplesmente a detestam. E não era pra menos.
— É melhor do que quando a professora Beth coloca a gente para jogar vôlei. Poxa, eu não sei sacar e muito menos entendo sobre os setes — Abby disse.
— Vocês reclamam demais, pelo menos vamos fazer algo além de alongar — disse para elas.
— Add tem razão — Jeniffer, que é uma garota mais na dela, concordou comigo — A professora Beth está chamando, só falta vocês seis.
Percebi o olhar de Angel ainda em mim, enquanto mexia no armário. Que obcecada!
— Já estamos indo — Grazi respondeu e a menina balançou os ombros, saindo dali.
A maioria das aulas de educação física da professora Beth era de alongamento, algumas de vôlei e raramente outro esporte. A mulher só simplesmente pegava seu celular e ficava mexendo enquanto fazíamos milhares de polichinelos.
— O que foi Jazmyn? — perguntei quando observava a garota quieta demais.
Jazmyn me encarou e depois desviou para Angel, que finalmente saiu do vestiário, fazendo com que sua energia negativa fosse junto com ela, o lugar até ficou menos pesado. Juro!
Suspiro aliviada. Não gostava do jeito que ela me olhava.
— Meu namorado...
— Você namora? — Grazi interrompeu, perguntando surpresa. Nós nunca vimos Jazmyn com ninguém, nem mesmo nas festas ou no boliche onde o colégio todo sempre ia.
— Sim, e ele é do último ano — suspirou — Eu preciso que vocês me prometam que não vão falar nada.
— Nós prometemos, mas fala quem é — eu disse curiosa e as meninas concordaram.
— Por que? Você tá namorando seu irmão? Que nojo! Eu achei que essas coisas de incesto só acontecia em filmes — Beatrice fez uma expressão de nojo e Jazmyn arregalou os olhos castanhos rapidamente.
Não só Jazmyn como eu e todas as meninas olhamos para ela boquiabertas.
— Você é doida? Da onde tirou isso? Que nojo só de pensar — fiz uma careta.
— Desculpa, mas para ser tão escondido assim eu pensei que fosse alguma coisa errada, ou sei lá — encolheu os ombros — E seu irmão é tão gostoso, que eu acho que se fosse irmã dele não iria ligar pra isso.
Odiava o jeito que Beatrice falava de Justin, me incomodava bastante. Se ela achava isso, então ela também é afim dele? Ou ela alguma vez já ficou com ele? Não. Isso ela teria me contado, pois sabia dos meus sentimentos por ele.
Mas, será?
— Deus me livre!
Tentei afastar aqueles pensamentos nada legais.
— Mas quem é então? — perguntei terminando de amarrar meus cabelos, enrolando as pontas e rodando.
— O Nolan — ergui uma sobrancelha.
— E o que tem demais? —Abby perguntou bastante confusa.
Então pensei melhor. Nolan é o melhor amigo de Justin e Jazmyn sua queridinha irmã. Justin sempre foi super protetor com ela, então com certeza era por isso esse namoro secreto.
— Justin — Jazmyn respondeu, o que eu havia acabado de pensar — Ele nunca aceitaria, mas eu não aguento mais sabe? Estamos juntos há sete meses e ele parece nem um pouco incomodado com isso de esconder. Mas eu já estou de saco cheio, eu quero poder sair com meu namorado sem ser escondido, poder beijar e andar de mãos dadas perto de todos — soltou um suspiro cansado — Mas Nolan parece um capacho de Justin, nunca pode contrariá-lo, e não quer nem sonhar em perder a amizade dele. Eu sei que os dois são amigos, mas e eu? Eu sou a namorada dele e irmã de Justin. Ele vai brigar, mas não pode ficar com raiva da gente para sempre.
Ela falava tudo muito rápido enquanto gesticulava, mexendo com as mãos, como um desabafo. Quando terminou, percebi que ela estava mais leve.
— Vocês se amam? — perguntei e ela assentiu com confiança — Então, vocês tem que enfrentar isso juntos, conversa com ele e o tenta convencer a contar para o Justin. Justin ama vocês, ele não vai conseguir ficar muito tempo com raiva e Nolan te respeita, né? — Jazmyn murmurou um "sim" — Então, não tem o que temer. Vai dar tudo certo. Mas se ele ainda não quiser espera mais um pouco, talvez ele precise de um pouco mais de confiança.
— Não é bem assim — revirei os olhos, já sabendo como Abby é — Você tenta só mais uma vez, se ele não quiser, pula fora. Você não é obrigada a ficar esperando o tempo dele por causa do seu irmão. Se ele te ama mesmo foda-se o Justin. Aposto que seu irmão não está deixando de foder com quem quiser por causa de você ou de Nolan.
Abri e fechei a boca olhando para Abby. A garota me encarou de volta e balançou os ombros, pouco ligando.
— Você é muito oito ou oitenta, Abby, ela vai terminar o namoro por causa disso? — Grazi colocou as mãos na cintura.
— E ela vai ficar namorando escondido por que Nolan é um frouxo? — Abby rebateu certeira.
— Eles são amigos e o Justin é super protetor com Jazmyn, dá para entender — voltei a falar — Mas seu irmão vai aceitar, Jazmyn.
— Ele não tem que aceitar — Abby disse novamente.
— Essa discussão é sobre meu namoro escondido ou só sobre o Justin? Porque Abby, você nem esconde que não gosta dele — Jazmyn bate o armário do vestiário, fechando o mesmo — Porém acho que vou fazer isso mesmo, Abby. Se ele não quer, tem quem queira. E obrigada por me ouvirem, meninas — por fim agradeceu.
— Você sabe que pode contar com a gente — disse e ela sorriu, balançando a cabeça.
•••
Coloquei a mão sobre a testa, como se fosse a aba de um boné, me protegendo do sol. A professora nos fez ficar do lado da quadra onde bate sol. Essa mulher deve nos odiar bastante.
— Eu vou escolher uma capitã para o time azul e uma para o time vermelho, então vocês escolhem quem vai para o time de quem. Entenderam? — a professora Beth perguntou, subindo o olhar sobre os óculos caído sobre o nariz.
Ouvi murmúrios de "sim".
— Angel, time azul — a professora mandou, apontando para o outro lado da quadra.
— Ok, professora — a garota sorriu.
Angel passou por mim, com um sorriso debochado, me fazendo estranhar na hora. Eu ainda não havia entendido o porquê dela me odiar tanto por causa de uma vaga.
Ok, eu sabia que tinha um pouquinho de culpa nisso.
— Espero que esteja preparada para começar a jogar, Alisson — disse baixinho, fazendo com que só eu escutasse. Enruguei a testa confusa.
O que ela vai fazer? E por que está sorrindo feito um palhaço?
— Ela vai aprontar. Está sorrindo como o coringa antes de matar — Abby disse ao meu lado.
— Com certeza! — confirmei.
— Addison, time vermelho — a professora chama, fazendo-me tirar a atenção da loira.
Ótimo, vamos nos enfrentar até no handebol. Bom, pelo menos não iria ficar no mesmo time que ela, que já estava de bom tamanho.
Peguei o colete vermelho e coloquei, parando do outro lado da quadra e infelizmente ainda próxima a Angel.
— Angel — a professora chamou.
— Vou escolher minha cunhadinha, a Jazmyn — balançou o colete em sua mão, chamando a garota que vinha em nossa direção relutante.
— Abby — minha amiga sorriu e veio até mim.
— Grazi.
Olho para Angel, percebendo que ela estava escolhendo todas que sabia que eu escolheria.
Respirei fundo.
— Bea.
— Ana.
— Yá.
E assim foi, até que as duas equipes estivessem montadas. Nos posicionamos na quadra e a professora apitou, dando início a partida. Peguei a bola de Abby e joguei para Yá, do outro lado da quadra, que manda direto para o gol acertando o mesmo.
Eu sorri fazendo um hai-five com as meninas.
As meninas do outro time pegaram a bola, que são delas já que o gol havia sido nosso. Fernanda pegou a bola de Angel e me passou, me deixando direto para fazer o gol. Desviei de Grazi e quando iria mandar a bola para o gol, eu senti alguém me dar um encontro com o ombro, me fazendo cair de joelhos no chão.
Alguém não. Angel.
— Falta para a equipe vermelha — a professora Beth apitou.
— Merda — resmunguei, sentindo que minha palma ardia um pouco.
— Amiga — escutei a voz de Abby e me virei, sentando no chão e limpando minha mão.
— Eu estou bem — neguei com a cabeça, observando Angel me encarar com superioridade.
— Vem — me estendeu a mão e peguei de bom grado, levantando.
— Valeu — agradeci enquanto batia uma mão na outra.
Suspirei, já cansada do jogo que mal havia começou. Não precisava daquilo, ela podia ter me machucado de verdade e pior, atoa.
Vi Angel vim até mim, deixando um empurrão no meu ombro.
— Você é louca? — me virei, empurrando ela de volta, que caiu no chão — Você está me batendo atoa!
— Opa, não foi minha intenção — tampou a boca com uma mão com cinismo.
Eu ri desacreditada. Como pode ser tão fingida assim? O que eu fiz para merecer essa garota na minha vida?
— Eu sei qual é a sua intenção e como sempre, não é a melhor — dei três passos em sua direção.
— Parem de briga! Já mandei vocês baterem a falta, se demorarem mais um minuto vão as duas para o chuveiro — a senhora Beth entrou no nosso meio, apontando o dedo e com uma voz nada amigável.
Argh. Maldita Angel.
— Não aceita ficar apanhando à toa não — Grazi disse assim que elas se afastaram.
— Eu não quero machucar ela — fui sincera.
— E aí ela que te machuca — revirou os olhos.
Entortei a boca em dúvida.
Será que eu devo mesmo? É errado.
Passei a língua entre os lábios, tentando afastar esses pensamentos para voltar e ficar no jogo. Porém, quando Angel me deu outro tranco, eu não aguentei e esperei a próxima jogada para revidar. Aquilo já estava demais. Ou era ela machucada ou eu. Então tive que optar por ela.
— Aí — gritou, quando eu bati o cotovelo bem no meio da suas costas e ela foi de cara no chão — Sua vaca!
Bom, foi ela quem começou, não?
— Opa, não foi minha intenção — tampei a boca com a mão, igual ela havia feito minutos atrás.
— Você não me engana com essa sua carinha de fofa, amiguinha de todo mundo — rosnou — Você quis me machucar!
— Angel, tenho certeza que a Addison não faria isso por querer — a professora Beth interrompeu.
— Lógico que sim, ela... — eu quem havia interrompido ela agora.
— Vai bater sua falta que daqui a pouco o jogo termina — disse.
Esse jogo só teve falta.
Revirei os olhos.
Peguei a bola de Angel assim que ela bateu a falta. A garota tentou me empurrar, mas tentei manter ao máximo com meu corpo firme. Só que quando eu estava atravessando a linha ela me deu um chute tão forte que eu achei que havia quebrado a canela. Meu corpo bateu no chão e meus olhos automaticamente ficaram marejados.
— Aí. Aí — coloquei a mão no lugar que logo ficou vermelho e inchado.
— ADD! — Minhas amigas gritam e correm até mim, junto com a professora.
Meu Deus, que cena.
— Você está bem? — Abby perguntou preocupada.
— Tá doendo — resmunguei fazendo um bico.
— Já tá ficando inchado — a professora Beth negou com a cabeça — Olha só o que essa brincadeirinha boba de vocês causou.
— Ela que começou — Angel me acusou, apontando para mim como se fosse uma santa.
A santa de Justin...
— Professora, foi ela quem começou — Abby rebateu, me defendendo.
— Eu não quero saber — disse autoritária — Vocês ajudem a Addison a ir na enfermaria e depois quero todas no banho. Enquanto não aprenderem a se comportarem feito mocinhas educadas todas irão fazer só alongamento.
Escutei alguns resmungos e a professora logo mandou todos calarem a boca.
Mal educada.
•••
Quando o sinal bateu indicando que poderíamos ir embora eu só faltei me ajoelhar e agradecer a Deus. Bom, só não fiz isso por causa da minha canela. Ainda estava doendo e eu mancava como um saci, o que era péssimo, mas eu sobreviveria.
Me sentia mais animada quando lembrava que hoje era o dia que iria embora com Justin para fazer o trabalho. Eu queria fazer na casa dele, mas ele logo negou desesperado. Não entendi muito bem, mas relevei.
— Quer que eu vá com você para casa? — Beatrice perguntou assim que passamos pela porta da sala.
— Não precisa, vou com Justin — mordi os lábios tentando esconder o pequeno sorriso que queria nascer em meus lábios.
— O que? — Grazi sorriu — Vocês vão fazer o trabalho?
— Sim, ele disse que me daria uma carona — balançou os ombros.
— Tudo bem, eu já vou indo — Abby deixou um beijo em meu rosto e me deu um abraço — Você ouviu o que a moça disse? Passe pomada e coloque gelo.
A moça da enfermaria havia me dado um remédio de dor e me indicou passar pomada. Não havia sido nada mais grave.
— Sim, senhora — bati continência.
— Idiota! — revirou os olhos.
— Até amanhã.
— Até meninas — me despedi.
Andei pelo corredor e passei pelo pátio indo até a garagem, encontrei Justin e Angel encostados em seu carro. Bufei, revirando os olhos quando ele levantou a mão e acariciou seu rosto, enquanto beijava seus lábios com vontade.
Por que ele gosta tanto dela? Eu sou tão ruim assim?
— Add.
Tomei um susto pulando e colocando a mão no peito, assustada. Vire a cabeça para o lado e vi Yuri ali, do meu lado.
— Que susto! Você quer me matar, hum? — perguntei o encarando.
— Nunca, linda — acariciou minha bochecha, descendo até meu queixo. Quase parecido com o que Justin havia feito com Angel minutos atrás.
Eu sorri. Yuri é um garoto que eu havia ficado algumas vezes atrás do muro do colégio. Ele é bastante simpático e carinhoso comigo.
— Soube que se machucou no jogo de handebol — apontou para meu tornozelo machucado.
— Sim — levantei o mesmo, entortando a boca — Na verdade, Angel me machucou por querer — contei.
— Todo mundo no colégio já sabe que vocês se odeiam — disse.
— A rádio corredor não para, né?! — revirei os olhos.
— Sim — pausou — Mas você está bem? Fiquei preocupado quando soube.
— Addison! — escutei Justin me chamar e me virei para ele, olhando o mesmo mexer a cabeça indicando o carro.
Angel continuou colada nele, com os braços enroscados em sua cintura.
— Já vou — respondi Justin e me virei para Yuri — Sim, só inchou e dói um pouquinho. — eu fiz o tamanho com os dedos.
— Que bom, mas eu queria falar outra coisa com você — disse e percebi que ele estava ansioso.
— Anda logo, garota — resmungou.
— Então... Eu queria te... — Justin interrompeu novamente.
— Eu vou sem você — ameaçou.
— Que desespero! — disse e dei um rápido abraço em Yuri — Depois você me fala, ok? Preciso ir, o estressadinho ali não pode esperar nem um minuto — eu ri apontando para Justin, que se despedia de Angel. Quando terminou ela saiu de perto do carro.
— Tudo bem, te mando mensagem — Yuri sorriu sem graça.
— Até mais tarde então — retribui.
— Até.
Fui até Justin que me encarou e bufou, entrando no carro.
Que garoto complicado.
Oi, espero que tenham gostado <3
Betagem: Isnandss - Wonderful Designs